CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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terreno, que não era muito grande, ficou ainda menor, depois da construção das salas de aula, pois, até então, a professora Zulcema ministrava suas aulas ocupando os cômodos de sua própria casa. Kátia Carneiro Crippa, filha da professora Zulcema e de Mário Carneiro, faz uma descrição do espaço física da escola dizendo: “Era assim, a nossa casa era numa esquina e era um terreno grande. Então a parte da frente era a nossa casa. Tinha um pátio todo cimentado com bancos em volta. Esse pátio dava para o escritório” 85 . O escritório a que ela se refere é o do Plano Nacional do Carvão, atual Departamento Nacional de Pesquisa Mineral (DNPM), e sua descrição nos remete a um espaço limitado, fazendo com que os alunos buscassem fora dos muros da escola os lugares mais adequados para o exercício das brincadeiras. Nesse caso, o pátio do próprio DNPM servia como espaço para praticarem as brincadeiras, principalmente o futebol e os jogos com bolinhas de gude, pois o pátio da escola era revestido com cimento, o que impedia a confecção das búricas. 86 Aliás, de acordo com Jorge Miraglia, uma brincadeira muito comum entre os meninos era o jogo de bolinhas de gude, jogado no chão, desde que esse fosse de terra, onde as crianças faziam a marcação do triângulo e, até mesmo, as já mencionadas búricas. Segundo Miraglia, “Bolinha de gude era no chão. Bolinha a gente jogava no fundo da praça, ao redor da praça inteira. (...) Nós jogávamos triângulo. Nós botávamos as bolinhas em cima e fazia um risco na quadra [na mesa, mostra como jogava]”. Jorge Henrique Frydberg relata que aquele espaço era apropriado pelos alunos do Póvoas Carneiro, principalmente para a realização de jogos de futebol, embora chame a atenção para o fato de que aquele também não era o espaço mais adequado para a realização das “peladas”, esclarecendo que “(...) era no intervalo de aula. Quando jogava futebol mesmo, era na praça, na frente”. 87 Jorge Frydberg conta que praticamente metade do espaço atualmente ocupado pela Praça do Congresso era um campo de futebol, enquanto Newton Barata reforça dizendo: “O assunto futebol entre nós era um tanto ‘suspeito’, pois morávamos próximos à Praça do Congresso, onde praticávamos o esporte”. Zurene Póvoas Carneiro, irmã de Kátia, lembra que seu marido, quando foi matriculado na escola particular, demonstrou uma grande decepção quando se 85 CRIPPA, Kátia Carneiro – Entrevista concedida em 16.05.2006. 86 As “buricas” eram pequenas cavidades em forma de círculo que eram feitas no chão de terra para a prática do jogo com bolinhas de gude. 87 FRYDBERG, Jorge Henrique – Entrevista concedida em 26.05. 2006.

deparou com o pátio que, segundo ele, não oferecia as condições necessárias para a prática do futebol: E era grande, mas o meu marido que foi aluno da minha mãe, ele disse que quando chegou lá, porque ele gosta, ele troca tudo por uma bola. Quando ele chegou lá, ele se decepcionou. (...) Ele disse: meu deus! Não tem um campo de futebol, uma escola particular? Ele diz isso, mas é porque ele é exagerado da bola. De certo, assim como ele, alguns... (...) Era um pátio grande. Não ficava todo mundo aglomerado, mas a ponto de jogar uma bola ali dentro, não dava. 88 As considerações anteriores servem para mostrar como as crianças daquela época e naquela escola encontravam alternativas diante das condições objetivas. Assim, mesmo o pátio da escola não sendo considerado muito grande, as crianças que freqüentavam o “Póvoas Carneiro” não deixavam de brincar e ocupar os espaços disponíveis para praticar atividades diversas, como atestam os próprios ex-alunos. As narrativas de Antônio Adalberto Canarin fazem coro com aquelas que apontam o pátio da escola como sendo pequeno e, ao mesmo tempo, indicam as alternativas encontradas pelas crianças que estudavam no Póvoas Carneiro para a prática do esporte que, naquela época, já era mania. No caso desse ex-aluno, a indicação é de que o pátio da escola era pequeno mas que, mesmo assim, encontravam formas de praticar a brincadeira preferida, o futebol. Tinha. Não muito grande, mas era um pátio suficiente pra nós, meninos. Às vezes até alguma mistura com as meninas. Nós fazíamos no intervalo do recreio, nós jogávamos o futebol, com bolinhas de meia e quando não agüentava, porque era areia, nós botávamos lata de salsicha, lata de sardinha vazia e era nossa bola. Nós jogávamos futebol pra valer! Suava, e vinha pra casa rasgado ou com as canelas quebradas, tudo marcada das latas. Porque dava um chute, levantava um pouquinho a bola, vinha na canela da gente, arrebentava as canela. 89 Kátia Carneiro Crippa, que, além de ter sido aluna da escola, também era filha de dona Zulcema, relata que nunca saía de dentro da escola e que se relacionava com todas as crianças, brincando de roda, amarelinha, perna de pau, entre outras tantas brincadeiras que praticava ou observava os brincantes. Entre as brincadeiras, Kátia e sua irmã Zurene Póvoas Carneiro fazem referência aos patins, que atesta uma condição social elevada e própria das camadas médias urbanas da sociedade que se formara em Criciúma a partir da década de 1940. 88 PÓVOAS CARNEIRO, Zurene – Entrevista concedida em 16.05.2006. 89 CANARIN, Antônio Adalberto – Entrevista concedida em 25.05.2006.

terreno, que não era muito grande, ficou ainda menor, depois da construção das<br />

salas de aula, pois, até então, a professora Zulcema ministrava suas aulas<br />

ocupando os cômodos de sua própria casa. Kátia Carneiro Crippa, filha da<br />

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O escritório a que ela se refere é o do Plano Nacional do Carvão, atual<br />

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principalmente o futebol e os jogos com bolinhas de gude, pois o pátio da escola era<br />

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Miraglia, “Bolinha de gude era no chão. Bolinha a gente jogava no fundo da praça,<br />

ao redor da praça inteira. (...) Nós jogávamos triângulo. Nós botávamos as bolinhas<br />

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Jorge Henrique Frydberg relata que aquele espaço era apropriado pelos<br />

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embora chame a atenção para o fato de que aquele também não era o espaço mais<br />

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CRIPPA, Kátia Carneiro – Entrevista concedida em 16.05.2006.<br />

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FRYDBERG, Jorge Henrique – Entrevista concedida em 26.05. 2006.

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