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lembrar que, à medida que a cidade crescia, cresciam também as contradições inerentes ao processo de desenvolvimento capitalista adotado pelos empresários locais. Ao analisarem a formação socioeconômica de Criciúma no período que coincide com o recorte temporal de nossa pesquisa, Miranda e Selau (2003, p. 23) apontam para a composição de grupos socialmente divergentes. De um lado, a classe média urbana que compõe a elite local, e, “no outro extremo da sociedade, observa-se a formação de uma população pobre, dependente da atividade mineradora, na qual nem todos conseguem empregos”. Ao analisar a estrada de ferro Dona Teresa Cristina no Sul do Estado, também vinculada à cultura do carvão, Nascimento (2004) assinala que a mesma cumpria um papel significativo como um dos principais elementos que caracterizavam o processo de modernização da cidade e, ao mesmo tempo, indica a estação do trem como o principal local de entrada e saída de produtos e pessoas. E é justamente na estação que se observa um fluxo maior de pessoas que se deslocam em busca de novidades. No entanto, a estação também atraía crianças e adolescentes pobres, em busca de uma renda extra. Eram os vendedores de alimentos e prestadores de pequenos serviços informais. Nascimento (2004, p. 118-119) lembra que: Esses meninos e meninas moravam nos bairros operários da cidade e, principalmente, em espaços socialmente marginalizados, como as ocupações da área de domínio da estrada de ferro no centro e no bairro Pinheirinho, as chamadas casas da beira do trilho, e no bairro Paraíso, popularmente conhecido como Baixadinha. Eles vinham para a estação do trem a pé ou, quando possível, penduravam-se sorrateiramente em algum veículo, para vencer a distância até o centro da cidade. (...) A volta para casa dependia, muitas vezes, do momento em que acabava aquela quantidade de produtos que haviam trazido ou, então, quando juntavam uma boa quantidade de dinheiro que pudesse ser apresentada aos pais. Encontramos, aqui, o primeiro contraste marcado pela condição heterogênea daquelas crianças que tiveram a oportunidade de brincar e estudar, e as que, desde muito cedo, precisaram tomar as ruas como forma de sobrevivência, pois, como afirma Nascimento (2004, p. 114):

O trabalho infantil era fundamental na estratégia de sobrevivência dos grupos sociais populares em toda área de mineração. As crianças e os adolescentes, desde muito cedo, trabalhavam, ajudando na complementação da renda familiar. Os trabalhos mais comuns eram pequenas tarefas nas superfícies das minas, especialmente na escolha do carvão, levando almoço para os trabalhadores mineiros ou prestando pequenos serviços pela cidade e na estação, como engraxate, maleiro e vendedor de comestíveis. O que chama a atenção na análise feita por Nascimento é a relação que o autor estabelece entre o processo de modernização da cidade – que clama por melhorias compatíveis com o status assumido em decorrência do desenvolvimento econômico alcançado, principalmente, pela produção de carvão – e a necessidade do estabelecimento de mecanismos de controle social, na medida em que a população crescia em decorrência do número de migrantes. De acordo com Nascimento (2004, p. 122), “o processo modernizador de Criciúma, do qual a nova estação fez parte, implicou a busca do controle sobre o modo de vida e os movimentos das camadas populares”. Essas crianças e adolescentes que circulavam pelas ruas das proximidades do centro da cidade e, em especial, da estação ferroviária de passageiros, também eram alvo nos jornais de circulação regional como constatamos na matéria publicada no jornal A Imprensa, em 1942, e intitulada “Molecagem em Cresciuma”. Vale a pena chamar a atenção da Polícia de Cresciuma para a molecagem que se aglomera na estação na chegada dos trens, invade os carros de passageiros à procura de malas, ou de bagagens. Uma verdadeira chusma de malandros penetra carro a dentro, impossibilitando o desembarque dos passageiros e até mesmo cometendo desordens. Ainda semana passada, ao chegarmos a Cresciuma, fomos, dentro do carro, assaltados por mais de 20 rapazes, os quais atropelados pelo agente da estação, estouraram em direção aos passageiros que procuravam desembarcar, resultando o machucamento de diversas pessoas, inclusive de uma senhora e uma criança. Convém que o sr. Delegado de Polícia de Cresciuma tome as necessárias providências contra semelhante abuso. 81 Manifestações como essa, que expressam toda a preocupação das elites locais com o crescimento do número de crianças e adolescentes que ganhavam as ruas, fizeram com que algumas melhorias fossem realizadas, visando dar à cidade um aspecto de modernização e, ao mesmo tempo, assegurando o mínimo de controle sobre os transeuntes. Ou seja, a construção de um muro ao longo da rua 81 Fonte: Jornal A Imprensa 18.04.1942 p.1 n. 381, ano IX.

lembrar que, à medida que a cidade crescia, cresciam também as contradições<br />

inerentes ao processo de desenvolvimento capitalista adotado pelos empresários<br />

locais.<br />

Ao analisarem a formação socioeconômica de Criciúma no período que<br />

coincide com o recorte temporal de nossa pesquisa, Miranda e Selau (2003, p. 23)<br />

apontam para a composição de grupos socialmente divergentes. De um lado, a<br />

classe média urbana que compõe a elite local, e, “no outro extremo da sociedade,<br />

observa-se a formação de uma população pobre, dependente da atividade<br />

mineradora, na qual nem todos conseguem empregos”.<br />

Ao analisar a estrada de ferro Dona Teresa Cristina no Sul do Estado,<br />

também vinculada à cultura do carvão, Nascimento (2004) assinala que a mesma<br />

cumpria um papel significativo como um dos principais elementos que<br />

caracterizavam o processo de modernização da cidade e, ao mesmo tempo, indica a<br />

estação do trem como o principal local de entrada e saída de produtos e pessoas. E<br />

é justamente na estação que se observa um fluxo maior de pessoas que se<br />

deslocam em busca de novidades. No entanto, a estação também atraía crianças e<br />

adolescentes pobres, em busca de uma renda extra. Eram os vendedores de<br />

alimentos e prestadores de pequenos serviços informais.<br />

Nascimento (2004, p. 118-119) lembra que:<br />

Esses meninos e meninas moravam nos bairros operários da cidade e,<br />

principalmente, em espaços socialmente marginalizados, como as ocupações<br />

da área de domínio da estrada de ferro no centro e no bairro Pinheirinho, as<br />

chamadas casas da beira do trilho, e no bairro Paraíso, popularmente<br />

conhecido como Baixadinha. Eles vinham para a estação do trem a pé ou,<br />

quando possível, penduravam-se sorrateiramente em algum veículo, para<br />

vencer a distância até o centro da cidade. (...) A volta para casa dependia,<br />

muitas vezes, do momento em que acabava aquela quantidade de produtos<br />

que haviam trazido ou, então, quando juntavam uma boa quantidade de<br />

dinheiro que pudesse ser apresentada aos pais.<br />

Encontramos, aqui, o primeiro contraste marcado pela condição<br />

heterogênea daquelas crianças que tiveram a oportunidade de brincar e estudar, e<br />

as que, desde muito cedo, precisaram tomar as ruas como forma de sobrevivência,<br />

pois, como afirma Nascimento (2004, p. 114):

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