CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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pressupostos da Escola Nova foram estabelecidos por meio de um Decreto-Lei, 55 ou seja, todo aquele conjunto de idéias que buscou renovar a pedagogia do ensino no Estado, como resultante do movimento, foi colocado em prática de cima para baixo, utilizando-se de um mecanismo autoritário e centralizador (FIORI, 1991, p. 126). A pesquisa revelou que a educação das elites acabou por não absorver totalmente o ideário da Escola Nova, como não o foi pela maioria das escolas públicas também. Fiori (1991, p. 26), ao argumentar sobre a imposição do escolanovismo pelo governo em Santa Catarina, observou que “como conseqüência ocorreu que, muitas vezes, a renovação educacional se desse apenas na lei”, faltando, assim, uma avaliação mais detalhada e realista de toda a situação do ensino no Estado. Desse modo, encontramos, na escola da professora Zulcema, indícios da contradição colocada diante da expansão e da consolidação do capitalismo industrial, juntamente com modernização e urbanização da cidade. O escolanovismo, que mais atenderia aos interesses da classe média urbana, não foi totalmente absorvido no processo de escolarização pelas elites urbanas. Aliás, percebemos que o escolanovismo esteve presente no discurso, mas predominava o modo mais conservador e tradicional, facilmente identificado nas diversas atividades propostas pelas professoras da escola, que podem ser confirmadas através de uma análise atenta dos cadernos dos alunos que lá estudaram. Tal idéia é reforçada não só pelos cadernos, mas por atitudes e práticas comuns – assinaladas nos depoimentos – relacionadas às promoções, aos castigos e à autoridade do professor, entre outros, como observaremos no próximo capítulo. 55 Decreto n. 2.991 de abril de 1944.

4 PRÁTICAS E SABERES ESCOLARES: A PERCEPÇÃO DE CLASSE A escola primária Curso Particular Póvoas Carneiro foi concebida pela professora Zulcema, que teve praticamente toda sua educação escolarizada e, principalmente, sua formação profissional como normalista, na década de 1930. Mesmo com os debates em torno do Manifesto dos Pioneiros e as discussões da Escola Nova, prevaleceu, ou ao menos esteve muito presente em sua formação, o modelo de escola tradicional. Talvez por isso a pesquisa tenha detectado nas práticas escolares do “Póvoas Carneiro” a presença de uma rígida disciplina que, ao mesmo tempo, mostrava sinais de um relativo liberalismo, ou seja, parece ter havido certa combinação entre o formato tradicional da educação formal com a abertura política refletida na educação nos anos de existência da escola. Nela também encontramos, além desse caráter disciplinador, a constância de castigos que não vinham necessariamente sob o formato de agressões físicas. Mas na forma de humilhação e da prolongação do tempo de permanência na escola. Sem falar na prática de distribuição de prêmios que, ao mesmo tempo, qualificava e rotulava os alunos. 4.1 Disciplina, Castigos e Promoções: reproduzindo a sociedade Existiam também as premiações, que consistiam na entrega de notas e menções honrosas e atendiam aqueles alunos que demonstrassem empenho e bom desempenho. Kátia Carneiro Crippa e Zurene Póvoas Carneiro, filhas de Zulcema, lembram a dificuldade que era serem alunas daquela escola e, ao mesmo tempo, filhas da proprietária, professora e diretora da escola. A mãe-professora/diretora exigia que suas filhas-alunas dessem exemplo para os demais, como forma de demonstrar que as mesmas não teriam privilégios por serem “da casa”.

4 PRÁTICAS E SABERES ESCOLARES: A PERCEPÇÃO DE CLASSE<br />

A escola primária <strong>Curso</strong> Particular Póvoas Carneiro foi concebida pela<br />

professora Zulcema, que teve praticamente toda sua educação escolarizada e,<br />

principalmente, sua formação profissional como normalista, na década de 1930.<br />

Mesmo com os debates em torno do Manifesto dos Pioneiros e as discussões da<br />

Escola Nova, prevaleceu, ou ao menos esteve muito presente em sua formação, o<br />

modelo de escola tradicional.<br />

Talvez por isso a pesquisa tenha detectado nas práticas escolares do<br />

“Póvoas Carneiro” a presença de uma rígida disciplina que, ao mesmo tempo,<br />

mostrava sinais de um relativo liberalismo, ou seja, parece ter havido certa<br />

combinação entre o formato tradicional da educação formal com a abertura política<br />

refletida na educação nos anos de existência da escola. Nela também encontramos,<br />

além desse caráter disciplinador, a constância de castigos que não vinham<br />

necessariamente sob o formato de agressões físicas. Mas na forma de humilhação e<br />

da prolongação do tempo de permanência na escola. Sem falar na prática de<br />

distribuição de prêmios que, ao mesmo tempo, qualificava e rotulava os alunos.<br />

4.1 Disciplina, Castigos e Promoções: reproduzindo a sociedade<br />

Existiam também as premiações, que consistiam na entrega de notas e<br />

menções honrosas e atendiam aqueles alunos que demonstrassem empenho e bom<br />

desempenho.<br />

Kátia Carneiro Crippa e Zurene Póvoas Carneiro, filhas de Zulcema,<br />

lembram a dificuldade que era serem alunas daquela escola e, ao mesmo tempo,<br />

filhas da proprietária, professora e diretora da escola. A mãe-professora/diretora<br />

exigia que suas filhas-alunas dessem exemplo para os demais, como forma de<br />

demonstrar que as mesmas não teriam privilégios por serem “da casa”.

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