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CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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No começo até alguns vinham descalços. Gente que hoje é advogado,<br />

médico. Eles diziam: Dona Zulcema, nós fomos na aula, mas de repente<br />

nós ficamos com uma vergonha porque não tínhamos sapato. Eu dizia:<br />

deixa de ser bobo meu filho. Depois é que eles falaram. Agora tu vês, não<br />

havia rivalidade, eu tinha bastante gente que não podia pagar. E se<br />

pudesse pagar, no fim do mês, eu tinha pena de receber. Dizia: Não precisa<br />

pagar não. Dá esse dinheiro pra tua mãe. Eu sempre fui assim. 51<br />

Da mesma forma, a professora constantemente frisa, nas entrevistas, que<br />

ela própria, muitas vezes, incumbia-se de comprar ou encontrar um patrocinador<br />

para os sapatos daqueles alunos mais carentes de recursos financeiros. Assim,<br />

recorda uma ocasião em que conversava com um diretor do Plano do Carvão e o<br />

fazia reconhecer a necessidade de todas as crianças andarem devidamente<br />

calçadas e, para isso, usou como exemplo, os próprios filhos dessa pessoa.<br />

Eu me lembro quando eu exigi o sapato. Um que era diretor do Plano do<br />

Carvão, disse: Dona Zulcema como é que a senhora vai exigir sapato. Onde<br />

é que se viu. Eu disse: - Olha pro pé do teu filho. Olha pro pé do outro, vê<br />

que coisa mais linda. Ele pegou e começou a rir. E os que não podem? Os<br />

que não podem não podem, mas eles vão ter um sapatinho também. 52<br />

A postura assumida pela professora nos permite fazer algumas reflexões.<br />

Em primeiro lugar, devemos pensar a escola, antes de tudo, como um espaço<br />

privilegiado para os filhos das elites locais, mesmo observando a presença de<br />

crianças pobres, o que nos indica que a presença dessas crianças mais carentes<br />

revela a exceção e não a regra. Tratava-se de uma escola privada e que cobrava<br />

mensalidade dos alunos que ali se matriculavam para estudar.<br />

Em segundo lugar, havia, incrustado na formação da professora e da<br />

classe média em geral, uma necessidade de ajudar os mais necessitados. Nesse<br />

sentido, vale lembrar que a professora participava ativamente das atividades<br />

realizadas pela Igreja, além de participar de campanhas de arrecadação e<br />

agremiações beneficentes, como era o caso do Clube da Lady, do Baú dos Pobres,<br />

do Clube das Hortênsias, do Rotary, entre outros.<br />

Em terceiro lugar, mas não menos importante, devemos assinalar o<br />

interesse da escola em, constantemente, estabelecer certa distinção naquela<br />

sociedade que se tornava cada vez mais urbana e industrial, dado o seu processo<br />

de modernização. Isto pode ser percebido nas mais diversas ações realizadas pela<br />

escola e que procuravam dar ao <strong>Curso</strong> Particular um status condizente ao seu perfil.<br />

51 Idem<br />

52 Idem

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