CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc
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Lapagesse. Isso porque, mesmo sendo uma escola pública estadual, situava-se no<br />
centro da cidade e, por não haver alternativa próxima, tornou-se uma escola<br />
diferenciada no município, que até aquele momento atendia os filhos dos<br />
comerciantes e dos políticos, além dos filhos de proprietários de terras e minas de<br />
carvão. Nesse sentido, apresentava-se como a escola que, até então, atendia<br />
também a elite da cidade e, portanto, apresentava-se como uma escola de<br />
qualidade.<br />
Eu só faço uma observação, que o ensino público, no caso o Lapagesse,<br />
era um..., vamos dizer assim, dentro do que eu poderia assim, hoje de<br />
longe, era um bom ensino. (...) Agora o que eu posso dizer é o seguinte, (...)<br />
não havia nem tu tinha percepção, (...), por exemplo, que a gente considera<br />
de mais pobre ou menos pobre ou pessoas de cor, quer dizer, no Colégio<br />
(Lapagesse) (...) você não tinha problema (...). Agora, na medida em que a<br />
coisa foi subindo, eu acho, que já entrando pro da Dona Zulcema, já<br />
elitizava um pouquinho. 48<br />
A professora Zulcema precisava criar uma escola que se diferenciasse<br />
das demais, pois entendemos que, pelo fato de cobrar mensalidades e atender a<br />
“nata” da sociedade, não poderia confundir-se com as demais. Desse modo, a<br />
professora registra que “a responsabilidade era muito grande, um curso particular,<br />
era mensalidade. Era paga pelos pais.” 49<br />
No entanto, a professora faz questão de salientar que em sua escola não<br />
estudavam apenas os alunos mais abastados. Ali, segundo ela, estudaram diversas<br />
crianças pobres, embora a maioria deles conseguisse manter-se com bolsas de<br />
estudos fornecidas, muitas vezes, pelas empresas em que seus pais trabalhavam e,<br />
em alguns casos, cedidas pela própria escola.<br />
Eu tinha alunos bem pobres que até de alguns eu nem recebia. Não<br />
cobrava. Eles eram tratados igualmente tanto pelos professores como pelos<br />
colegas. Isso aí, nunca houve um aborrecimento por causa disso. Depois eu<br />
inventei de nas festas botar um sapato preto. Tinha que mandar fazer.<br />
Aqueles que não podiam, eu sabia que não podiam. Eu dava um jeito. 50<br />
De fato, a escola tinha alguns alunos pobres, mas a grande maioria era<br />
mesmo formada por crianças cujos pais podiam pagar as mensalidades. No entanto,<br />
ao mesmo tempo em que ela diz não ter havido nenhum tipo de constrangimento,<br />
afirma também que, recentemente, alguns daqueles alunos, hoje profissionais<br />
formados, confirmam que ficavam envergonhados diante dos colegas calçados.<br />
48 BORGES, Antônio Sérgio - Entrevista concedida em 28/04/2006.<br />
49 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006.<br />
50 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 26/04/2006.