CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

bib.unesc.net
from bib.unesc.net More from this publisher
18.04.2013 Views

Figura 2 - Vista panorâmica da área central da cidade de Criciúma na primeira metade da década de 1940. No detalhe, podemos observar a casa e escola da professora Zulcema. No lado esquerdo, o espaço da Praça do Congresso. Fonte - Acervo particular do autor, (Fotógrafo: Faustino Zappelini). Ao indicar a localização da escola, a professora relata da seguinte forma o início de suas atividades como professora particular: As primeiras aulas foram na minha sala, mas depois o meu marido construiu a minha escola com três salas grandes, boas, o gabinete do diretor, instalação que precisava sanitária, essa coisa toda. (...) Que ficava na rua Santo Antônio, nos fundos da minha casa, em que eu morava, porque o terreno naquele tempo era grande. Depois, os Cechinel fizeram atrás, mas o meu terreno era bem grande, e ali ele construiu a minha escola. (...) E ali eu adorava lecionar. 47 Desde o início, a professora Zulcema deixa claro que estava criando uma escola que seria, em grande medida, freqüentada por crianças que pertenciam a uma elite urbana, estabelecendo certa distinção entre a sua escola e as demais. Aliás, nos parece que havia uma única exceção, que era o Grupo Escolar Professor 47 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006.

Lapagesse. Isso porque, mesmo sendo uma escola pública estadual, situava-se no centro da cidade e, por não haver alternativa próxima, tornou-se uma escola diferenciada no município, que até aquele momento atendia os filhos dos comerciantes e dos políticos, além dos filhos de proprietários de terras e minas de carvão. Nesse sentido, apresentava-se como a escola que, até então, atendia também a elite da cidade e, portanto, apresentava-se como uma escola de qualidade. Eu só faço uma observação, que o ensino público, no caso o Lapagesse, era um..., vamos dizer assim, dentro do que eu poderia assim, hoje de longe, era um bom ensino. (...) Agora o que eu posso dizer é o seguinte, (...) não havia nem tu tinha percepção, (...), por exemplo, que a gente considera de mais pobre ou menos pobre ou pessoas de cor, quer dizer, no Colégio (Lapagesse) (...) você não tinha problema (...). Agora, na medida em que a coisa foi subindo, eu acho, que já entrando pro da Dona Zulcema, já elitizava um pouquinho. 48 A professora Zulcema precisava criar uma escola que se diferenciasse das demais, pois entendemos que, pelo fato de cobrar mensalidades e atender a “nata” da sociedade, não poderia confundir-se com as demais. Desse modo, a professora registra que “a responsabilidade era muito grande, um curso particular, era mensalidade. Era paga pelos pais.” 49 No entanto, a professora faz questão de salientar que em sua escola não estudavam apenas os alunos mais abastados. Ali, segundo ela, estudaram diversas crianças pobres, embora a maioria deles conseguisse manter-se com bolsas de estudos fornecidas, muitas vezes, pelas empresas em que seus pais trabalhavam e, em alguns casos, cedidas pela própria escola. Eu tinha alunos bem pobres que até de alguns eu nem recebia. Não cobrava. Eles eram tratados igualmente tanto pelos professores como pelos colegas. Isso aí, nunca houve um aborrecimento por causa disso. Depois eu inventei de nas festas botar um sapato preto. Tinha que mandar fazer. Aqueles que não podiam, eu sabia que não podiam. Eu dava um jeito. 50 De fato, a escola tinha alguns alunos pobres, mas a grande maioria era mesmo formada por crianças cujos pais podiam pagar as mensalidades. No entanto, ao mesmo tempo em que ela diz não ter havido nenhum tipo de constrangimento, afirma também que, recentemente, alguns daqueles alunos, hoje profissionais formados, confirmam que ficavam envergonhados diante dos colegas calçados. 48 BORGES, Antônio Sérgio - Entrevista concedida em 28/04/2006. 49 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006. 50 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 26/04/2006.

Figura 2 - Vista panorâmica da área central da cidade de Criciúma na primeira<br />

metade da década de 1940. No detalhe, podemos observar a casa e escola da<br />

professora Zulcema. No lado esquerdo, o espaço da Praça do Congresso.<br />

Fonte - <strong>Acervo</strong> particular do autor, (Fotógrafo: Faustino Zappelini).<br />

Ao indicar a localização da escola, a professora relata da seguinte forma<br />

o início de suas atividades como professora particular:<br />

As primeiras aulas foram na minha sala, mas depois o meu marido construiu<br />

a minha escola com três salas grandes, boas, o gabinete do diretor,<br />

instalação que precisava sanitária, essa coisa toda. (...) Que ficava na rua<br />

Santo Antônio, nos fundos da minha casa, em que eu morava, porque o<br />

terreno naquele tempo era grande. Depois, os Cechinel fizeram atrás, mas o<br />

meu terreno era bem grande, e ali ele construiu a minha escola. (...) E ali eu<br />

adorava lecionar. 47<br />

Desde o início, a professora Zulcema deixa claro que estava criando uma<br />

escola que seria, em grande medida, freqüentada por crianças que pertenciam a<br />

uma elite urbana, estabelecendo certa distinção entre a sua escola e as demais.<br />

Aliás, nos parece que havia uma única exceção, que era o Grupo Escolar Professor<br />

47 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!