CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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(...) eu fui para Criciúma pelo seguinte, nós não estávamos numa situação financeira satisfatória, nove filhos, só tinha um casado, a família toda em casa, e eu tinha o concurso, sabia o resultado. Mas não podia ficar com o diploma engavetado, tinha que ir em busca de uma ajuda familiar. Fui, então, para Criciúma. Fui como professora interina, porque quando, antes da formatura, várias pessoas que já tinham uma média para passar, já fizeram o ingresso para o concurso do magistério, mas eu não fiz porque meu pai não deixaria eu sair. Já tinha dito mesmo que não ia sair, mas ele morreu, eu fui obrigada, senti que devia ajudar não é? Aí fui para Criciúma lecionar. Comecei no Lapagesse, não é? Consegui. 27 A citação acima deixa claro que a normalista tinha conhecimento das vagas para o exercício do magistério na cidade de Criciúma, indicando a possibilidade de uma colocação profissional em uma cidade do interior, em processo de expansão e crescimento econômico e populacional. A professora Zulcema faz questão de enfatizar que sua transferência para Criciúma sempre esteve vinculada ao seu desejo de poder cursar Medicina e, ao mesmo tempo, proporcionar à sua família algum suporte financeiro, dado o abalo resultante da morte de seu pai. Olha, eu fiz todo o meu estudo, mas acontece que eu fui pra Criciúma querendo estudar Medicina, mas não foi possível porque na época, aqui não havia Medicina, aliás, a Faculdade aqui foi inaugurada em 1960 e eu terminei o Normal em 40 (...). 28 Nota-se que ela vem de uma família cuja figura paterna deveria expressar centralidade, poder e respeito. Lugar de onde as relações deveriam partir e para onde elas deveriam retornar. Embora os avanços femininos demonstrados no ímpeto da própria professora Zulcema, aquela sociedade das décadas de 1920 e 1930, na qual ela foi formada e educada, ainda apresentava as marcas de uma carga cultural muito forte, segundo a qual a mulher deveria restringir-se ao âmbito do lar ou o mais próximo dele. No entanto, a morte de seu pai abriu caminho para que ela viesse para Criciúma e, de certo modo, passasse a ajudar na manutenção de sua família que havia ficado em Florianópolis. Segundo ela própria, transfere-se para Criciúma em 15 de fevereiro de 1941, “chegando à cidade às 6 horas da tarde, quando o sino da matriz estava batendo a ave-maria”. 29 Em Criciúma, a professora normalista 27 Idem 28 Idem 29 Idem

conheceu Mário da Cunha Carneiro, 30 filho de um industrial e pecuarista, com quem noivou ainda naquele ano e casou-se no primeiro dia do mês de julho do ano seguinte, 1942. Quando a professora Zulcema faz alguma referência ao seu marido, faz questão de caracterizá-lo como uma pessoa boa, bem colocado socialmente e, de certo modo, bastante “liberal”, por deixá-la trabalhar para ajudar sua família que havia ficado na capital. Ou seja, o marido acabou sendo para ela o que o pai, talvez, jamais seria. E nesse mesmo ano (1941) eu noivei. No ano seguinte eu casei, mas não deixando de ajudar a minha família, de maneira alguma. Eu continuei ajudando. Meu marido era uma pessoa excelente, exemplar e ele nunca me proibiu de trabalhar. Não para nós, mas para ajudar os meus. E assim eu fiz. Casei no ano seguinte, e lá fiquei. 31 Inicialmente moraram na casa dos pais de seu marido por um período aproximado de 30 dias, no endereço da rua Seis de Janeiro, esquina com a rua Conselheiro João Zanette, na praça Dr. Nereu Ramos. Logo depois, em 1º de agosto daquele mesmo ano, mudaram-se para a casa construída especialmente para o casal, onde teve início a escola particular Póvoas Carneiro e, mais tarde, a construção de um prédio próprio para o estabelecimento de ensino no mesmo terreno (fundos da casa). Em Criciúma, Zulcema ingressa no magistério público estadual como professora normalista interina do Grupo Escolar Professor Lapagesse 32 e, mais tarde, participou de concursos públicos chegando a atuar como diretora de escola, inspetora escolar e inspetora regional. Como diretora escolar, atuou em escolas públicas estaduais como Grupo Escolar Humberto de Campos, Grupo Escolar Heriberto Hülse e o próprio Professor Lapagesse. Mais tarde, presta concurso para inspetora escolar e assume como inspetora de Criciúma, mas, logo em seguida, foi convidada para ser inspetora regional de seis municípios da região: Içara, Nova Veneza, Morro da Fumaça, Urussanga, Siderópolis e Criciúma. 30 Mário da Cunha Carneiro possuía formação técnica em contabilidade e desempenhou suas funções na “Sociedade Carbonífera Próspera S.A.”, primeiramente, e depois, na “Construtora Cresciumense Ltda.” como diretor-administrativo. Além disso, participou também como membro do Lions Club de Criciúma. (ZACHARIAS. 2000, p. 468). 31 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006. 32 Resolução n. 9.481 da Secretaria do Interior e Justiça: “Nomeando a normalista Zulcema Póvoas, para exercer, interinamente, o cargo de professora do Grupo Escolar Professor Lapagesse, de Cresciuma”.

conheceu Mário da Cunha Carneiro, 30 filho de um industrial e pecuarista, com quem<br />

noivou ainda naquele ano e casou-se no primeiro dia do mês de julho do ano<br />

seguinte, 1942.<br />

Quando a professora Zulcema faz alguma referência ao seu marido, faz<br />

questão de caracterizá-lo como uma pessoa boa, bem colocado socialmente e, de<br />

certo modo, bastante “liberal”, por deixá-la trabalhar para ajudar sua família que<br />

havia ficado na capital. Ou seja, o marido acabou sendo para ela o que o pai, talvez,<br />

jamais seria.<br />

E nesse mesmo ano (1941) eu noivei. No ano seguinte eu casei, mas não<br />

deixando de ajudar a minha família, de maneira alguma. Eu continuei<br />

ajudando. Meu marido era uma pessoa excelente, exemplar e ele nunca me<br />

proibiu de trabalhar. Não para nós, mas para ajudar os meus. E assim eu<br />

fiz. Casei no ano seguinte, e lá fiquei. 31<br />

Inicialmente moraram na casa dos pais de seu marido por um período<br />

aproximado de 30 dias, no endereço da rua Seis de Janeiro, esquina com a rua<br />

Conselheiro João Zanette, na praça Dr. Nereu Ramos. Logo depois, em 1º de agosto<br />

daquele mesmo ano, mudaram-se para a casa construída especialmente para o<br />

casal, onde teve início a escola particular Póvoas Carneiro e, mais tarde, a<br />

construção de um prédio próprio para o estabelecimento de ensino no mesmo<br />

terreno (fundos da casa).<br />

Em Criciúma, Zulcema ingressa no magistério público estadual como<br />

professora normalista interina do Grupo Escolar Professor Lapagesse 32 e, mais<br />

tarde, participou de concursos públicos chegando a atuar como diretora de escola,<br />

inspetora escolar e inspetora regional. Como diretora escolar, atuou em escolas<br />

públicas estaduais como Grupo Escolar Humberto de Campos, Grupo Escolar<br />

Heriberto Hülse e o próprio Professor Lapagesse. Mais tarde, presta concurso para<br />

inspetora escolar e assume como inspetora de Criciúma, mas, logo em seguida, foi<br />

convidada para ser inspetora regional de seis municípios da região: Içara, Nova<br />

Veneza, Morro da Fumaça, Urussanga, Siderópolis e Criciúma.<br />

30 Mário da Cunha Carneiro possuía formação técnica em contabilidade e desempenhou suas<br />

funções na “Sociedade Carbonífera Próspera S.A.”, primeiramente, e depois, na “Construtora<br />

Cresciumense Ltda.” como diretor-administrativo. Além disso, participou também como membro do<br />

Lions Club de Criciúma. (ZACHARIAS. 2000, p. 468).<br />

31 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema - Entrevista concedida em 19/01/2006.<br />

32 Resolução n. 9.481 da Secretaria do Interior e Justiça: “Nomeando a normalista Zulcema Póvoas,<br />

para exercer, interinamente, o cargo de professora do Grupo Escolar Professor Lapagesse, de<br />

Cresciuma”.

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