CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc

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em que registra seu olhar sobre a cidade quando aqui chegou em 1º de maio de 1944. E Criciúma, em termos de desenvolvimento urbano, embora pomposamente cognominada “Capital do Carvão”, era ainda cidadezinha tímida, modesta, acanhada mesmo. Não se projetavam seus lindes urbanos, em qualquer sentido, para mais de um quilômetro da Praça Nereu Ramos, que assim já se chamava seu logradouro central. (...) Era a Criciúma bem provinciana, das poucas ruas pavimentadas a macadame, esburacadas quase todas e empoçadas em dias de chuva. Nas relações vicinais, estradas estreitas, sinuosas e quase impérvias, empoeiradas ou lodacentas, perlongavam ao infinito as sedes dos distritos e os municípios vizinhos. (ZACHARIAS, 1997, p. 11). A cidade começa a clamar por melhorias na infra-estrutura, que ainda se apresentava de forma precária, incompatível com a crescente importância econômica da cidade. O médico complementa em suas memórias que, em Criciúma: Tudo lhe minguava, a começar pelo saneamento básico. Não possuía água canalizada nem rede de esgotos. Ocos e fossas sépticas supriam-lhe as necessidades. Gerava a energia elétrica, de forma deficiente e precária, uma usina (...). Não raro emperrava o velho locomóvel dessa usina, deixando a cidade às escuras, noites a fio, para gáudio de alguns poucos casais de moradores, que ladrões e assaltantes ainda os não havia. (ZACHARIAS, 1997, p. 11-12) Aliás, a manifestação do médico não era a única que reforçava o grau de precariedade da cidade, que, naquele momento, não conseguia compatibilizar o crescimento econômico e populacional com a infra-estrutura necessária e desejada por aquelas pessoas que migraram e estavam habituadas a um padrão urbano mais elevado. A própria professora Zulcema, por exemplo, veio de Florianópolis e sentiu- se no “fim do mundo”, reclamando da falta de luz, de calçamentos, de água, e, até mesmo, de frutas. Que aquilo era uma coisa, eu pensava que estava no fim do mundo. Não havia luz, tinha lá um gerador lá do engenheiro, Dr. Pete, que quando escurecia, eles ligavam o gerador e até as 10 horas da noite. Então eu ia deitar antes das 10 para não ficar no escuro. (...) A água era difícil, não havia calçamento, não havia fruta, não havia nada. Eu parecia que estava, realmente, no fim do mundo. 18 Também surgiram manifestações impressas como as escritas pelo correspondente em Criciúma do jornal A Imprensa, de Tubarão, que apelava às autoridades para que as mesmas intercedessem a favor das carências de infra- estrutura do município. Nesse artigo, especificamente, foram lembrados os 18 PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema – entrevista concedida em 19.01.2006.

problemas do abastecimento de água, da necessidade de construir uma caixa para o embarque do carvão, e ainda, a melhoria dos salários daqueles que trabalhavam na estrada de ferro. Precisa nossa cidade que o benemérito Governo do Estado volte suas vistas para o sério problema da água à população. Poucas residências gozam do encanamento de uma reserva de águas vindas do morro e, mesmo essas, não são tratadas, conduzindo por isso detritos e impurezas. (...) É bom lembrar que, se por infelicidade a água do morro diminuir, como já tem acontecido, o Grupo Escolar ficará privado do essencial elemento e isso prejudicará o ensino dos exercícios físicos além de concorrer para causas mais graves, como é natural deduzir. (...) E já que falamos do que Cresciuma precisa, cumpre lembrar o Sr Superintendente da Estrada de Ferro Dona Tereza Cristina a necessidade de ser construída, no quadro da estação, uma caixa para o embarque do carvão que sai pelo principal escoadouro do município. O desenvolvimento da exportação não comporta mais o dejeto do carvão no chão para depois sobre novo trabalho de carregamento e por isso se impõe a construção de um depósito que receba todo o carvão das minas adjacentes e que demandam a Estação para o seu despacho. E, ainda justo será pedir ao digno representante do governo federal junto aos interesses de transportes terrestres e marítimos Dr. Norberto Paes para que interceda ou mande construir uma nova estação em Cresciuma que reflita a importância que representa como uma das que mais contribuem na receita da estrada. 19 Essa matéria do jornal A Imprensa mostra como a cidade e sua classe dirigente clamavam por investimentos compatíveis com o crescimento da cidade com vistas ao desenvolvimento de sua economia, baseada na extração do carvão mineral. O texto indica que a imagem de município agrícola deveria ceder espaço para uma nova construção calcada na indústria e tudo o que ela representava dentro do mundo moderno. Era necessário construir uma cidade “nova” no espaço até então ocupado pela cidade “velha” e que remetia às atividades agrícolas. A necessidade do abastecimento de água vinculava-se a uma questão que passava, necessariamente, pela saúde pública. Quando se referem à caixa de embarque, preocupam-se com a limpeza das áreas de livre circulação do público. Nesse caso, trata-se de um espaço privilegiado, pois, a estação do trem era também um lugar de encontros, de busca por novidades, de negócios, etc. O apelo dirigido aos representantes do governo e da estrada de ferro, respectivamente, realçam a contribuição deste município para a receita da estrada, sugerindo, inclusive, a construção de uma nova estação. 19 A Imprensa. Tubarão, 18.10.1941, n. 384, p.1.

problemas do abastecimento de água, da necessidade de construir uma caixa para o<br />

embarque do carvão, e ainda, a melhoria dos salários daqueles que trabalhavam na<br />

estrada de ferro.<br />

Precisa nossa cidade que o benemérito Governo do Estado volte suas<br />

vistas para o sério problema da água à população. Poucas residências<br />

gozam do encanamento de uma reserva de águas vindas do morro e,<br />

mesmo essas, não são tratadas, conduzindo por isso detritos e impurezas.<br />

(...) É bom lembrar que, se por infelicidade a água do morro diminuir, como<br />

já tem acontecido, o Grupo Escolar ficará privado do essencial elemento e<br />

isso prejudicará o ensino dos exercícios físicos além de concorrer para<br />

causas mais graves, como é natural deduzir. (...) E já que falamos do que<br />

Cresciuma precisa, cumpre lembrar o Sr Superintendente da Estrada de<br />

Ferro Dona Tereza Cristina a necessidade de ser construída, no quadro da<br />

estação, uma caixa para o embarque do carvão que sai pelo principal<br />

escoadouro do município. O desenvolvimento da exportação não comporta<br />

mais o dejeto do carvão no chão para depois sobre novo trabalho de<br />

carregamento e por isso se impõe a construção de um depósito que receba<br />

todo o carvão das minas adjacentes e que demandam a Estação para o seu<br />

despacho. E, ainda justo será pedir ao digno representante do governo<br />

federal junto aos interesses de transportes terrestres e marítimos Dr.<br />

Norberto Paes para que interceda ou mande construir uma nova estação<br />

em Cresciuma que reflita a importância que representa como uma das que<br />

mais contribuem na receita da estrada. 19<br />

Essa matéria do jornal A Imprensa mostra como a cidade e sua classe<br />

dirigente clamavam por investimentos compatíveis com o crescimento da cidade<br />

com vistas ao desenvolvimento de sua economia, baseada na extração do carvão<br />

mineral. O texto indica que a imagem de município agrícola deveria ceder espaço<br />

para uma nova construção calcada na indústria e tudo o que ela representava dentro<br />

do mundo moderno. Era necessário construir uma cidade “nova” no espaço até<br />

então ocupado pela cidade “velha” e que remetia às atividades agrícolas. A<br />

necessidade do abastecimento de água vinculava-se a uma questão que passava,<br />

necessariamente, pela saúde pública. Quando se referem à caixa de embarque,<br />

preocupam-se com a limpeza das áreas de livre circulação do público. Nesse caso,<br />

trata-se de um espaço privilegiado, pois, a estação do trem era também um lugar de<br />

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representantes do governo e da estrada de ferro, respectivamente, realçam a<br />

contribuição deste município para a receita da estrada, sugerindo, inclusive, a<br />

construção de uma nova estação.<br />

19 A Imprensa. Tubarão, 18.10.1941, n. 384, p.1.

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