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embates entre “pioneiros” 5 e conservadores. A segunda fase (Estado Novo – 1937 a 1942) é marcada pela instituição do regime totalitário. No entanto, é nesse período que se dá a implantação da indústria pesada e a participação do Estado como grande empreendedor industrial. No campo da educação é o período da decretação das Leis Orgânicas do Ensino. A escolarização passou a ser entendida com maior ênfase como fator de desenvolvimento, ainda que na prática ocorresse de forma inconsistente. A última fase, que interessa a esse estudo (1946 a 1961), estende-se da aprovação da Constituição de 1946, restabelecendo o regime democrático, até a aprovação da Lei 4.024/1961, fixando as diretrizes e bases da educação nacional. Vale mencionar que, em Santa Catarina, o ensino privado não diferia do público no que diz respeito a concepção, conteúdo e método de aplicação. Desse modo, observamos que o Estado catarinense passou por três reformas importantes no período que cerca o objeto dessa pesquisa. A primeira grande reforma do Ensino Público de Santa Catarina, que se refletiu também nas escolas particulares, foi iniciada em 1910, no governo de Vidal José de Oliveira Ramos Júnior, quando o Estado importou o modelo paulista de ensino, pautado na linha pedagógica norte-americana 6 e o seguiu até aproximadamente 1940. Segundo Fiori (1991, p. 119), a política educacional implantada por Orestes Guimarães 7 no governo de Vidal Ramos manter-se-ia até a década de 1940, mesmo passando por significativas mudanças como a Reforma Trindade, de 1935. A segunda deu-se no ano de 1935, pelo professor Luiz Sanchez Bezerra da Trindade – Reforma Trindade, no governo do interventor federal Aristiliano 5 De acordo com Aranha (1996, p. 198) o Manifesto dos Pioneiros (1932) defendia uma educação obrigatória, pública, leiga e gratuita, como um dever do Estado e sob a forma de um programa nacional. Dessa forma, colocava-se criticamente diante do sistema dual e reivindicava a escola básica única. Assim, o manifesto representava a tomada de consciência da defasagem entre a educação e as exigências do desenvolvimento. 6 Este modelo baseava-se no método intuitivo e seguia a sistemática de lições curtas e adequadas à idade, alternadas com cantos, marchas, exercícios ginásticos, trabalhos manuais de torno ou de modelagem. Procurava-se explorar a curiosidade natural da criança e dar-se, como ambiente de estudo, prédio e móveis adequados à sua idade e ao ensino. Para aprofundar a questão, ver: FIORI, Neide Almeida. Aspectos da evolução do ensino público: ensino público e política de assimilação cultural no Estado de Santa Catarina nos períodos imperial e republicano. Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1991. 7 Professor paulista contratado no Governo de Vidal Ramos, Orestes Guimarães foi o mentor da reforma do ensino público de Santa Catarina iniciada em 1911 que estabeleceu um sistema educacional baseado no modelo paulista que seguia a linha pedagógica norte-americana.

Ramos que, segundo a autora, não passou de uma redistribuição dos currículos escolares e uma remodelação da superestrutura educacional. Fiori (1991, p. 119) assinala que essa reforma “foi fruto do contexto político e educacional gerado pela revolução de 1930, endossando nova política de assimilação cultural mediante a ação da escola”. É nesse contexto que surge em Santa Catarina a discussão em torno da Escola Nova que, por decreto, deveria ser posta em prática em todo o território a partir de 1944. Por fim, em 1946, no governo do interventor federal Udo Deeke, Santa Catarina presenciou a Reforma Elpídio Barbosa, que manteve as diretrizes traçadas por Orestes Guimarães, embora proporcionasse a adaptação necessária da legislação educacional do Estado, dentro do contexto de abertura, redemocratização e flexibilização colocadas em prática no País com a queda do Estado Novo. Foi nesse contexto de efervescência política, econômica e social que surgiu em Criciúma a primeira escola primária particular. O Curso Particular Póvoas Carneiro foi criado no início da década de 1940, com a chegada à cidade da professora normalista recém-formada Zulcema Póvoas. Vinda da capital, trazendo consigo, além de idéias consideradas inovadoras para o modus vivendi na cidade, a capacidade de perceber a existência de um espaço favorável à implantação de uma escola primária que atendesse a uma determinada classe social, capaz de pagar pelos serviços prestados à educação de seus filhos. A professora Zulcema Póvoas chegou a Criciúma no mesmo contexto em que chegaram várias famílias e profissionais – atraídos pelo trabalho nas empresas carboníferas, estimuladas pelo processo de desenvolvimento iniciado com mais ênfase nos anos 40. Pouco tempo depois, a referida professora casou-se com o Sr. Mário da Cunha Carneiro, homem ligado a uma família de posses, que viabilizou o projeto da escola. Inicialmente a professora ministrava aulas na sala de sua própria casa, mas, no começo da década de 1950, construiu, nos fundos de sua residência, em frente à atual Praça do Congresso, o prédio que sediou a primeira escola primária particular de Criciúma, funcionando ali até encerrar suas atividades, no ano de 1962. Durante sua existência, a escola acolheu os filhos da nascente classe média, vinculada à indústria do carvão e a atividades estimuladas por esta, e os

embates entre “pioneiros” 5 e conservadores. A segunda fase (Estado Novo – 1937 a<br />

1942) é marcada pela instituição do regime totalitário. No entanto, é nesse período<br />

que se dá a implantação da indústria pesada e a participação do Estado como<br />

grande empreendedor industrial. No campo da educação é o período da decretação<br />

das Leis Orgânicas do Ensino. A escolarização passou a ser entendida com maior<br />

ênfase como fator de desenvolvimento, ainda que na prática ocorresse de forma<br />

inconsistente. A última fase, que interessa a esse estudo (1946 a 1961), estende-se<br />

da aprovação da Constituição de 1946, restabelecendo o regime democrático, até a<br />

aprovação da Lei 4.024/1961, fixando as diretrizes e bases da educação nacional.<br />

Vale mencionar que, em Santa Catarina, o ensino privado não diferia do<br />

público no que diz respeito a concepção, conteúdo e método de aplicação. Desse<br />

modo, observamos que o Estado catarinense passou por três reformas importantes<br />

no período que cerca o objeto dessa pesquisa.<br />

A primeira grande reforma do Ensino Público de Santa Catarina, que se<br />

refletiu também nas escolas particulares, foi iniciada em 1910, no governo de Vidal<br />

José de Oliveira Ramos Júnior, quando o Estado importou o modelo paulista de<br />

ensino, pautado na linha pedagógica norte-americana 6 e o seguiu até<br />

aproximadamente 1940. Segundo Fiori (1991, p. 119), a política educacional<br />

implantada por Orestes Guimarães 7 no governo de Vidal Ramos manter-se-ia até a<br />

década de 1940, mesmo passando por significativas mudanças como a Reforma<br />

Trindade, de 1935.<br />

A segunda deu-se no ano de 1935, pelo professor Luiz Sanchez Bezerra<br />

da Trindade – Reforma Trindade, no governo do interventor federal Aristiliano<br />

5 De acordo com Aranha (1996, p. 198) o Manifesto dos Pioneiros (1932) defendia uma educação<br />

obrigatória, pública, leiga e gratuita, como um dever do Estado e sob a forma de um programa<br />

nacional.<br />

Dessa forma, colocava-se criticamente diante do sistema dual e reivindicava a escola básica única.<br />

Assim, o manifesto representava a tomada de consciência da defasagem entre a educação e as<br />

exigências do desenvolvimento.<br />

6 Este modelo baseava-se no método intuitivo e seguia a sistemática de lições curtas e adequadas à<br />

idade, alternadas com cantos, marchas, exercícios ginásticos, trabalhos manuais de torno ou de<br />

modelagem. Procurava-se explorar a curiosidade natural da criança e dar-se, como ambiente de<br />

estudo, prédio e móveis adequados à sua idade e ao ensino. Para aprofundar a questão, ver: FIORI,<br />

Neide Almeida. Aspectos da evolução do ensino público: ensino público e política de<br />

assimilação cultural no Estado de Santa Catarina nos períodos imperial e republicano.<br />

Florianópolis: Ed. Da UFSC, 1991.<br />

7 Professor paulista contratado no Governo de Vidal Ramos, Orestes Guimarães foi o mentor da<br />

reforma do ensino público de Santa Catarina iniciada em 1911 que estabeleceu um sistema<br />

educacional baseado no modelo paulista que seguia a linha pedagógica norte-americana.

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