CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc
CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc
CUIDANDO DOS BEM-NASCIDOS: O Curso ... - Acervo - Unesc
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
coisas. Depois, no 21 de abril, a morte de Tiradentes, eu fiz também a morte<br />
do Tiradentes. Foi tudo apresentado, tudo apresentado na praça, na praça.<br />
Acontece que o cavalo que... Onde estava o Adalberto, o cavalo era surdo.<br />
Eu fui arranjar lá na Operária, com o Heriberto Hülse. Ele que mandou da<br />
fazenda dele o cavalo surdo, porque com os toques de tambor, o cavalo<br />
poderia se assustar e acontecer alguma coisa, mas o cavalo era surdo, não<br />
podia acontecer nada. [risos] 111<br />
O ex-aluno Antônio Adalberto Canarin, protagonista da performance,<br />
lembra com orgulho, satisfação e riqueza de detalhes por ter sido escolhido para<br />
representar e, ao mesmo tempo, por ter conseguido dar conta da tarefa que lhe foi<br />
atribuída pela própria professora Zulcema. Embora longa, optamos por reproduzir a<br />
fala do próprio entrevistado, para expor esse fato.<br />
A dona Zulcema me preparou um tempo antes, uns 15, 20 dias, um mês, não<br />
lembro. Antes. Foi feita uma roupa e eu fui fazer o papel de D. Pedro.<br />
Fizeram uma roupa, não sei onde é que buscaram na época, malha. Fizeram<br />
uma calça branca de malha, um jaleco de cetim preto com bordados. Todo<br />
bordado a mão. Levaram tempo. Todo bordado a mão em amarelo, com<br />
várias medalhas. (...). Com vários medalhões, uma espada muito bonita que o<br />
seu Max trouxe emprestada da Loja Maçônica pra fazer uso. Lá de dentro da<br />
maçonaria não saía nada, mas o seu Max Finster emprestou duas coisas. A<br />
espada, pro D. Pedro fazer uso, e a cabeleira, que na época o seu Max tinha<br />
a Loja Brasileira. Tinha um manequim na vitrine. Ele tirou a peruca do<br />
manequim pra emprestar. (...) Era a peruca do manequim, com um chapéu<br />
feito, também em preto, muito bonito, com os laços das cores de Portugal,<br />
fixadas. No dia do desfile, a dona Zulcema me deu, ela preparou um papel<br />
pra eu ler, pra eu decorar. Depois ela veio reduzir, porque era arriscado. Era<br />
a primeira vez que tava saindo uma alegoria, um guri que ia representar, quer<br />
dizer tudo podia dar errado. (...) Eu por incrível que pareça, hoje eu estou<br />
com 65 anos, e eu não me esqueci do discurso. (...) Eu estava com o Dr.<br />
José Pimentel 112 quando eu cheguei com o cavalo que era da C.B.C.A. 113 (...)<br />
Ele viu na hora que foi hasteada a Bandeira do Brasil, na cerimônia, que o<br />
cavalo não queria chegar perto. (...) O Dr. Pimentel veio, pegou o buçal do<br />
cavalo, puxou, levou até onde pôde levar mais próximo ao pavilhão. Aí<br />
chegou o Marcos Rovaris, (...) o Marcos tinha sido requisitado pra ser o<br />
mensageiro. Na oportunidade, eu estou no cavalo e ele chegou. O Marcos<br />
veio furando pelo meio do pessoal, me cumprimentou. Eu montado. Entregou<br />
um cartucho, uma missiva. Eu abri aquilo ali, li e fiz aquele gesto de que tava<br />
lendo, e comecei a fazer cara feia. Ler e não ficar contente com o que estava<br />
acontecendo. Olhei, larguei a correspondência, a missiva. Deixei de lado e<br />
olhando pro povo tentei passar o recado. Aí era o meu discurso. Dizia assim:<br />
Leopoldina e José Bonifácio comunicam que fora criado um novo Ministério<br />
para o Brasil. Não. Não aceito! Arranquei o chapéu fora e disse: soldados,<br />
laço fora. Arrancando o laço e jogando no chão, puxei a espada e dei o grito<br />
da independência. Independência ou morte! Os companheiros de escola,<br />
111<br />
PÓVOAS CARNEIRO, Zulcema – Entrevista concedida em19/01/2006.<br />
112<br />
Dr. José Pimentel era advogado e político. Foi o fundador do Jornal Tribuna Criciumense e<br />
escreveu sobre a história da cidade de Criciúma.<br />
113<br />
O cavalo pertencia à CBCA - Companhia Brasileira Carbonífera Araranguá e era utilizado para<br />
fazer as compras da casa de hóspedes da Companhia. O cavalo costumava ficar em um potreiro na<br />
atual Rua Araranguá, próximo de onde morava, também, o Dr. Sebastião Neto Campos.