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em, faz sentido. Essa premissa é compatível com a função original do especulador nos mercados – assumir os riscos do produtor. O problema é que a especulação cresce muito mais rápido do que o hedge. A principal justificativa para esta discrepância é a aleatoriedade, a imprevisibilidade de ocorrências que possam causar danos. Este fator em especial aguça assustadoramente o apetite pelo jogo, tornando-o, de certa forma, mais fácil e lucrativo. É a velha história da profecia autorrealizável. Outros elementos que reforçam o mantra da escassez são a demanda crescente por terras agriculturáveis para biocombustíveis e a massificação do consumo de carne em nações populosas, como China e Índia. O quadro alarmista resulta em um substancial agravamento da volatilidade. O New England Complex Systems Institute (NECSI) desenvolveu um modelo quantitativo, que vem antecipando corretamente a trajetória do Índice dos Preços de Alimentos (FPI). O modelo projeta 26 - P&M Janeiro Fevereiro 2013 “uma nova bolha especulativa, formada a partir do final de 2012, que levará os preços dos alimentos a superarem os recentes picos.” De acordo com o NECSI, isto ocorreria, principalmente, devido à excessiva atividade especulativa. O Banco Mundial, ao seu modo, endossa este diagnóstico. Em seu relatório de novembro sobre o tema (Food Price Watch), a entidade alerta que “preços de alimentos altos e voláteis são a nova norma.” Só que, como bem observa Jomo Sundaram, diretor-assistente da FAO, em um planeta no qual cerca de um bilhão de pessoas – em uma estimativa conservadora – já passam fome, esta nova norma pode ser fatal. Já Kharunya Paramaguru, da Time Magazine, ressalta que em países como o Cazaquistão, a população chega a consumir 80% da sua renda com alimentação. Voltando ao peixe frio. Será que, no futuro, armadores e pescadores saberão vender seu peixe? Ou, pelo menos, terão uma vaga ideia de que seu peixe faz parte da bolsa de mercadoria global e que tem gente explorando sua produção e seu trabalho?
pESca dE atum continua um Enigma SEm Solução O jornal O GLOBO, de 23/01/13, publicou a matéria “Ambientalistas denunciam pesca predatória em Cabo Frio”. Diz a matéria: “Pescadores artesanais, ambientalistas e turistas voltaram a denunciar nesta quarta-feira a pesca predatória na área marinha do Parque Estadual da Costa do Sol, em Cabo Frio. Cinco barcos atuneiros (equipados para a pesca do atum) estão pescando sardinha (usada como isca) e jogando óleo no mar desde sexta-feira na enseada da Praia do Peró, junto ao Morro do Vigia, que divide o Peró da Praia das Conchas. Segundo donos de quiosques da Praia do Peró, manchas de óleo já podem ser vistas na areia”. E continua: “A ação dos atuneiros acontece a poucos metros da Praia das Conchas, onde biólogos descobriram várias espécies raras de animais marinhos. A pesca de arrasto está sendo isca viva A pesca de atum com vara e isca-viva no Brasil é praticada há mais de trinta anos em nosso litoral, com uma frota oceânica de 45 embarcações distribuídas ao longo do litoral sudeste e sul do país. Produz cerca de 30.000 toneladas de bonito listrado, abastecendo uma indústria de enlatados representada por diversas marcas do produto, que é consumido no mercado interno e de exportação. Esta atividade representa um importante papel no cenário econômico e social do setor pesqueiro, garantindo milhares de empregos diretos, recolhimento de impostos e divisas para o país. Mas continua sendo um enigma até para ambientalistas. feita em área de preservação ambiental. Apesar disso, de acordo com moradores, nenhum fiscal esteve no local para reprimir a infração. Cinco barcos foram vistos, e três deles seriam de Santa Catarina”. A matéria não diz em nenhum momento que a pesca de isca-viva é permitida por lei. E se precipita ao acusar as embarcações por derramamento de óleo. Turistas podem não entender de pesca. Mas ambientalistas não têm esse direito. A visão (ou falta de) de ambientalistas e de pessoas ligadas à pesca artesanal é a de que qualquer “barco grande” é predador. Poluição, esgoto in natura, derramamento de óleo, aquecimento global, nada disso é levado em conta. A culpa é sempre do “barco grande”. A seguir a resposta enviada à redação do jornal Janeiro Fevereiro 2013 - P&M - 27
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em, faz sentido. Essa premissa é compatível com a função<br />
original do especulador nos mercados – assumir os riscos<br />
do produtor. O problema é que a especulação cresce muito<br />
mais rápido do que o hedge.<br />
A principal justificativa para esta discrepância é a<br />
aleatoriedade, a imprevisibilidade de ocorrências que<br />
possam causar danos. Este fator em especial aguça<br />
assustadoramente o apetite pelo jogo, tornando-o, de<br />
certa forma, mais fácil e lucrativo. É a velha história<br />
da profecia autorrealizável. Outros elementos que<br />
reforçam o mantra da escassez são a demanda crescente<br />
por terras agriculturáveis para biocombustíveis e<br />
a massificação do consumo de carne em nações<br />
populosas, como China e Índia.<br />
O quadro alarmista resulta em um substancial<br />
agravamento da volatilidade. O New England Complex<br />
Systems Institute (NECSI) desenvolveu um modelo<br />
quantitativo, que vem antecipando corretamente a trajetória<br />
do Índice dos Preços de Alimentos (FPI). O modelo projeta<br />
26 - P&M Janeiro Fevereiro 2013<br />
“uma nova bolha especulativa, formada a partir do final de<br />
2012, que levará os preços dos alimentos a superarem os<br />
recentes picos.” De acordo com o NECSI, isto ocorreria,<br />
principalmente, devido à excessiva atividade especulativa.<br />
O Banco Mundial, ao seu modo, endossa este diagnóstico.<br />
Em seu relatório de novembro sobre o tema (Food Price<br />
Watch), a entidade alerta que “preços de alimentos altos<br />
e voláteis são a nova norma.” Só que, como bem observa<br />
Jomo Sundaram, diretor-assistente da FAO, em um planeta<br />
no qual cerca de um bilhão de pessoas – em uma estimativa<br />
conservadora – já passam fome, esta nova norma pode ser<br />
fatal. Já Kharunya Paramaguru, da Time Magazine, ressalta<br />
que em países como o Cazaquistão, a população chega a<br />
consumir 80% da sua renda com alimentação.<br />
Voltando ao peixe frio. Será que, no futuro, armadores<br />
e pescadores saberão vender seu peixe? Ou, pelo menos,<br />
terão uma vaga ideia de que seu peixe faz parte da bolsa<br />
de mercadoria global e que tem gente explorando sua<br />
produção e seu trabalho?