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No Canadá, o peixe torna-se uma commodity global no<br />

momento em que sai da água (e, em alguns casos, antes<br />

mesmo de ser pescado). Ele entra direto na cadeia global<br />

de fornecimento de frutos do mar. Os preços são baixos<br />

e, para compensar, é preciso de grandes quantidades<br />

de pescado. Os especialistas dão um nome para isso: a<br />

maldição das commodities.<br />

Os compradores e vendedores ao longo da cadeia de<br />

fornecimento de informação não estão no mesmo barco.<br />

Os pescadores e armadores raramente sabem o preço que<br />

o consumidor final vai pagar pelo seu produto. Assim fica<br />

difícil um preço justo. E pior: os preços locais são definidos<br />

com referência a preços internacionais.<br />

Mudar a forma de compra e venda de peixe – aqui,<br />

na África, no Canadá - no momento é quase impossível.<br />

As cartas já estão marcadas.<br />

Consumo e peixe barato – Poucos armadores e<br />

pescadores sabem que o consumo per capita brasileiro é<br />

hoje quase metade da média global, e que o potencial de<br />

crescimento desperta interesse das empresas, que apostam<br />

no aumento da produção, para baratear o pescado, e em<br />

novos produtos, como alimentos semiprontos.<br />

Com um litoral de cerca de 8 mil quilômetros e<br />

alguns dos maiores rios do mundo, o Brasil poderia<br />

ser um dos maiores consumidores de peixe do mundo.<br />

Mas não é: o consumo per capita nacional, de 9,7 kg por<br />

ano, é quase metade da média global, de 17 kg anuais<br />

por habitante. Agora, as empresas nacionais do setor<br />

investem para tentar mudar esse quadro.<br />

É importante citar aqui a reportagem de Marina<br />

Gazzoni, publicada no jornal “O Estado de S. Paulo”.<br />

A M.Cassab, uma empresa focada principalmente<br />

na distribuição de produtos importados, entrou neste<br />

negócio em 2010, de olho nesse potencial de crescimento<br />

do consumo. A empresa começou a cultivar tilápias em<br />

26 tanques-rede na represa Jaguará, no Rio Grande, no<br />

Estado de São Paulo. Como o peixe leva quase um ano<br />

para crescer, o produto chegou ao varejo no ano passado.<br />

Hoje, a empresa produz 200 toneladas de peixe por<br />

mês (cerca de 2,5 mil toneladas por ano), mas pretende<br />

dobrar o volume no ano que vem. “O projeto total<br />

prevê uma produção de 1,6 mil toneladas de peixe por<br />

mês”, disse Silvio Romero Coelho, diretor comercial da<br />

M.Foods, divisão de alimentos da M.Cassab.<br />

Neste momento, a empresa vende apenas a carne in<br />

natura. No ano que vem, construirá um frigorífico em<br />

Rifaina (SP) e entrará no ramo de alimentos prontos, como<br />

hambúrguer e nugget de peixe. “Queremos aproveitar o<br />

máximo possível do produto. Só 30% do peixe é filé”, disse<br />

24 - P&M Janeiro Fevereiro 2013<br />

Coelho. A estratégia permitirá uma redução dos preços do<br />

pescado. “O brasileiro come pouco peixe porque o produto<br />

é caro no País”, afirmou.<br />

No Brasil, os pescados representam 8% das proteínas<br />

consumidas, menos do que aves (40%), bovinos (39%)<br />

e suínos (13%). “É mais fácil comprar e preparar<br />

produtos de carne bovina e de frango no País”, disse<br />

Rosana Diniz, gerente de marketing da Nativ Pescados,<br />

criada em 2008 por Pedro Furlan, um bisneto de Atílio<br />

Fontana, fundador da Sadia. A Nativ tenta mudar esta<br />

regra com a oferta de pescados prontos para o consumo.<br />

“O consumidor não quer ter de limpar o peixe. Quer o<br />

produto pronto para colocar no forno”, disse Rosana.<br />

A empresa investiu R$ 100 milhões para construir<br />

tanques em uma fazenda em Sorriso (MT), que hoje<br />

produz entre 5 mil e 6,4 mil toneladas por ano de<br />

pescado. Neste ano, a Nativ deve faturar R$ 43 milhões,<br />

cerca de 40% mais do que no ano anterior. “Existe uma<br />

tendência do consumidor de procurar alimentos mais<br />

saudáveis. Isso deve elevar o consumo de peixes”, disse<br />

a executiva da Nativ.<br />

O brasileiro consumiu 1,86 milhão de toneladas de<br />

pescados em 2010, um crescimento de 8% em relação ao<br />

ano anterior, segundo os últimos dados disponíveis do<br />

Ministério da Pesca e Aquicultura.<br />

A Gomes da Costa, que está há 60 anos no mercado<br />

de enlatados e fatura R$ 800 milhões, lançou neste ano<br />

uma linha de pizzas e lasanhas de pescados, com sabores<br />

atum, sardinha e salmão, por exemplo. “Queremos lançar<br />

produtos inovadores e aproveitar a tradição da marca<br />

no ramo de pescados”, disse o gerente de marketing<br />

corporativo da empresa, Luis Manglano.<br />

A catarinense Leardini segue estratégia semelhante.<br />

“O peixe in natura é commodity. É uma briga de preço. O<br />

nosso diferencial será nos produtos processados”, disse a<br />

gerente de marketing da empresa, Flávia Di Celio.<br />

A Leardini, fundada em 1988, começou a vender<br />

empanados de peixe em 2001 e lançou em 2010 sua linha<br />

de pratos prontos. “Algumas receitas não deram certo e<br />

reformulamos todo o portfólio neste ano. Das 26 opções,<br />

19 são novas”, disse Flávia.<br />

Rocambole de peixe com molho de laranja não<br />

vendeu bem, por exemplo. Pratos com salmão e<br />

camarão têm uma aceitação melhor entre o consumidor<br />

brasileiro, segundo ela.<br />

Voltando à vaca fria (ou ao peixe frio). Será que o<br />

armador e o pescador do Rio de Janeiro sabem como<br />

entrar nesse jogo e vender seu peixe a preço justo?<br />

Peixes, Preços, Especulação – Paulo Guimarães, em sua

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