Revista SAPERJ 143.indd
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saBEMOs PEscar,<br />
Mas ainda nãO<br />
saBEMOs vEndEr<br />
PolÊMica<br />
O barco sai do cais, provisório há 22 anos, para pescar em alto mar. São 20 dias de<br />
trabalho. Os pescadores estão felizes porque os porões estão cheios de peixes. Mas<br />
na volta a alegria começa a virar preocupação. Será que vai ter mercado? Quanto<br />
vão valer essas toneladas de peixes no porão? O armador, em terra, também se<br />
preocupa com a boa notícia. Mas valeu a pena gastar uma grana alta nesta viagem?<br />
Estas toneladas de mercadoria que estão chegando vão dar lucro ou prejuízo?<br />
Ele vai conseguir vender a produção a preço justo ou vai ter que negociar tudo a<br />
preço de banana para depois ver o seu peixe vendido com 500% de aumento nos<br />
supermercados e nas peixarias? Porque uma coisa é certa: nós sabemos pescar, mas<br />
não sabemos vender. Será que, no futuro, armadores e pescadores saberão vender seu<br />
peixe? Ou, pelo menos, terão uma vaga ideia de que seu peixe faz parte da bolsa de<br />
mercadoria global e que tem gente explorando sua produção e seu trabalho?<br />
Na pesca, o pescador não sabe que, no idioma<br />
inglês, commodity signifi ca mercadoria. Esse é um<br />
termo de referência de produtos de base em estado<br />
bruto, considerados “matéria-prima”. Além do nível de<br />
matéria-prima, é aquele produto que apresenta grau<br />
mínimo de industrialização.<br />
Em geral, as commodities são produzidas em<br />
grandes quantidades por vários produtores. São<br />
produtos “in natura” provenientes de cultivo ou de<br />
extração. Por serem mercadorias de nível primário,<br />
propensas à transformação em etapas de produção,<br />
apresentam nível de negociação global.<br />
Elas sofrem altos e baixos nas cotações de mercado,<br />
em virtude de perdas e ganhos nos fl uxos fi nanceiros<br />
no mundo. São negociadas no mercado físico, seja para<br />
exportação ou para mercado interno, e nos mercados<br />
derivativos das Bolsas de Valores e contratos futuros.<br />
Na lista dos dez maiores exportadores deste tipo de<br />
produto, o Brasil está em terceiro lugar, atrás dos EUA<br />
e da União Europeia. Segundo a FUNCEX (Fundação<br />
Centro de Estudos do Comércio Exterior), as principais<br />
commodities exportadas pelo Brasil são minérios de<br />
ferro, petróleo bruto, carne de frango, café em grão,<br />
carne bovina, soja e milho. E o peixe.<br />
Segundo especialistas, o peixe é agora o produto<br />
animal mais negociado no planeta, com cerca de 100<br />
milhões de toneladas. De repente a Europa se tornou o<br />
maior mercado mundial de pescado, no valor de mais de<br />
14 bilhões de euros, ou cerca de US$ 22 bilhões por ano.<br />
O apetite da Europa tem crescido à medida que seus<br />
estoques de peixes nativos têm diminuído, de forma<br />
que a Europa precisa importar 60 por cento do peixe<br />
vendido na região.<br />
Todo mundo sabe que a pesca do bacalhau caiu muito<br />
na Europa. Isso levou, como nos velhos tempos, os europeus<br />
para a África. Com isso, aconteceu o desaparecimento de<br />
proteína de peixe de subsistência para os africanos, e o<br />
aumento do preço do peixe em Londres.<br />
Janeiro Fevereiro 2013 - P&M - 23