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de Itajaí – uma redução de 20%. A importação de camarão argentino era proibida no Brasil até dezembro do ano passado, quando uma nova Análise de Risco à Importação (ARI) para a espécie pleoticus muelleri, conhecido como camarão vermelho, abriu espaço para a entrada do produto. Por enquanto, os requisitos sanitários ainda estão em análise. Mas a previsão é de que o volume de importação chegue a 5 mil toneladas por ano – algo que, na avaliação do governo brasileiro, não deve impactar a produção nacional, que é de 100 mil toneladas anuais. O que preocupa o setor é o fato de a taxa tributária do camarão que virá da Argentina permitir a venda, no Brasil, por preços inferiores aos do produto nacional. O presidente do Sindipi, Giovani Monteiro, cita como exemplo a comparação entre valores como o do óleo diesel usado nos barcos, vendido a R$ 1,70 o litro em Santa Catarina – já com subsídio estadual – e a R$ 1 na Argentina. – Essa situação levará à falência produtores de camarão no Sudeste e Sul do Brasil e dos carcinicultores do Nordeste – afirma. Desistência - Somente em Santa Catarina há cerca de 20 mil profissionais ligados à pesca, a maior parte deles na região de Itajaí. Armador especializado na captura de camarão, Sandro Pinheiro diz que já pensa em abrir mão das seis embarcações que opera, e nas quais emprega 35 pessoas. – Gosto da pesca, mas não tenho como competir com mercadoria estrangeira. A previsão é que os argentinos mandem camarão a US$ 10, já limpo. Vendo o meu a R$ 25, sem limpar, e estou pagando para trabalhar – afirma Sandro. A crise internacional e o pacto de cooperação econômica do MERCOSUL estão entre as 20 - P&M Janeiro Fevereiro 2013 justificativas do Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA) para a abertura de mercado ao camarão argentino. Ainda não há data para o início das importações. Risco de contaminação é descartado por especialistas - Além do impacto socioeconômico da chegada do camarão argentino, o Sindicato dos Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e Região (Sindipi) alerta para o risco de contaminação. A entidade afirma que pesquisas indicaram a presença de um vírus da chamada mancha branca nos crustáceos vindos da Argentina. A enfermidade, que também atinge siris, lagostas e caranguejos, poderia causar uma epidemia no Brasil caso houvesse contato com o camarão vermelho, na opinião da entidade. – Mesmo que o camarão chegue congelado, o vírus sobrevive – alerta Giovani, presidente do Sindipi. Pós-doutor em Ecologia e Recursos Naturais, o professor Joaquim Olinto Branco, da Univali, afirma desconhecer estudos que comprovem a incidência de mancha branca no camarão argentino. – A espécie pleoticus muelleri já ocorre no Brasil, do Rio Grande do Sul a São Paulo, e costuma vir com a corrente fria das Malvinas. Ele já convive por aqui com camarões sete barbas, rosa e branco. O Ministério da Pesca e Aquicultura informou que o camarão não oferecerá riscos à biodiversidade nacional. Uma visita técnica à Argentina foi feita no dia 10 de janeiro, e o MPA está estabelecendo os condicionantes à importação. No mercado, preferência é nacional - A presença do pescado importado não é novidade no Brasil. Salmão, lula e congro estão entre os mais populares – mas são os filés, feitos de peixes como panga e polaca do Alaska, vindos de países como China e Vietnã, que incomodam os produtores. Com preços mais baixos do que os similares nacionais, como a corvina, os filés importados estão entre os mais procurados por restaurantes, diz Telma Canellas, comerciante do Mercado do Peixe. Mas entre os clientes que procuram peixe para preparar em casa o nacional é o preferido, até porque o importado vem congelado. – A maioria das pessoas prefere o peixe fresco. Acho que os armadores não deveriam se preocupar com a entrada dos importados porque o nacional

tem muita qualidade e, quando é época de safra, tem um preço muito bom – afirma Telma. Edson Mendes, administrador de 42 anos que costuma fazer compras no Mercado do Peixe, concorda com Telma. Segundo ele, não há comparação entre o peixe nacional e o importado: – Já comprei o importado e não gostei. O sabor é forte e o gosto não é igual ao do nacional. Se o que se espera é qualidade, o melhor é o peixe daqui. MiNiStro e CoMitivA De téCNiCoS eM SANiDADe viSitAM fáBriCAS De “lANGoStiNo” NA ArGeNtiNA Com o intuito de dar continuidade ao acordo, celebrado entre Brasil e Argentina, que prevê a exportação do “langostino” para o Brasil, o ministro Marcelo Crivella, da Pesca e Aquicultura, visitou no dia 10 de janeiro três fábricas do pescado na Província de Chubut, Sul do País. “Esta viagem é um dos passos para a importação do “langostino” argentino para o Brasil. Nossa comitiva é composta por técnicos em sanidade aquícola e pesqueira, que verificaram como a espécie é pescada, processada, e exportada. Eles apresentarão os relatórios que mostrarão se há padrões aceitáveis de tecnologia e sanidade”, afirmou o ministro Crivella. Acompanharam o ministro: os técnicos em sanidade pesqueira do MPA, Eduardo Cunha e Marina Delphino, que analisaram também os processos de garantias do serviço veterinário oficial argentino e inclusive em relação à rastreabilidade Saiba mais - Da espécie pleoticus muelleri, o camarão vermelho argentino, também chamado de langostino, que será importado para o Brasil, virá congelado e será em tamanho grande. O Brasil vai restringir a importação a crustáceos provenientes da pesca extrativa. Embora o setor produtivo acredite em baixo preço, comparado ao camarão brasileiro, o Ministério da Pesca e Aquicultura afirma que o valor deve ser mais elevado do que o do produto nacional. do langostino; o ministro da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina, Norberto Yaguar; o subsecretário argentino de Pesca e Aquicultura, Nestor Bustamante; o conselheiro agrícola da Embaixada Argentina em Brasília, Fernando Luis Urbani; e da parte do Brasil, os secretários do MPA, Eloy de Souza (Infraestrutura e Fomento) e Maria Fernanda Nince Ferreira (Planejamento e Ordenamento da Aquicultura) e a assessora internacional, Lúcia Maierá. Em dezembro, o MPA finalizou a Análise de Risco de Importação do “langostino”, que avaliou a possibilidade da introdução e de disseminação de doenças em animais aquáticos do Brasil por meio da importação da espécie da pesca extrativa. O estudo técnico foi revisado e validado por epidemiologistas veterinários da Universidade de São Paulo. Após essa análise foi constatado que o “langostino” argentino não oferece riscos sanitários à biodiversidade nacional e à carcinicultura brasileira. Janeiro Fevereiro 2013 - P&M - 21

de Itajaí – uma redução de 20%. A importação<br />

de camarão argentino era proibida no Brasil até<br />

dezembro do ano passado, quando uma nova Análise<br />

de Risco à Importação (ARI) para a espécie pleoticus<br />

muelleri, conhecido como camarão vermelho, abriu<br />

espaço para a entrada do produto.<br />

Por enquanto, os requisitos sanitários ainda estão<br />

em análise. Mas a previsão é de que o volume de<br />

importação chegue a 5 mil toneladas por ano – algo<br />

que, na avaliação do governo brasileiro, não deve<br />

impactar a produção nacional, que é de 100 mil<br />

toneladas anuais.<br />

O que preocupa o setor é o fato de a taxa tributária<br />

do camarão que virá da Argentina permitir a venda,<br />

no Brasil, por preços inferiores aos do produto<br />

nacional. O presidente do Sindipi, Giovani Monteiro,<br />

cita como exemplo a comparação entre valores como<br />

o do óleo diesel usado nos barcos, vendido a R$ 1,70<br />

o litro em Santa Catarina – já com subsídio estadual<br />

– e a R$ 1 na Argentina.<br />

– Essa situação levará à falência produtores<br />

de camarão no Sudeste e Sul do Brasil e dos<br />

carcinicultores do Nordeste – afirma.<br />

Desistência - Somente em Santa Catarina há<br />

cerca de 20 mil profissionais ligados à pesca, a maior<br />

parte deles na região de Itajaí. Armador especializado<br />

na captura de camarão, Sandro Pinheiro diz que já<br />

pensa em abrir mão das seis embarcações que opera,<br />

e nas quais emprega 35 pessoas.<br />

– Gosto da pesca, mas não tenho como competir<br />

com mercadoria estrangeira. A previsão é que os<br />

argentinos mandem camarão a US$ 10, já limpo.<br />

Vendo o meu a R$ 25, sem limpar, e estou pagando<br />

para trabalhar – afirma Sandro.<br />

A crise internacional e o pacto de cooperação<br />

econômica do MERCOSUL estão entre as<br />

20 - P&M Janeiro Fevereiro 2013<br />

justificativas do Ministério da Pesca e Aquicultura<br />

(MPA) para a abertura de mercado ao camarão<br />

argentino. Ainda não há data para o início das<br />

importações.<br />

Risco de contaminação é descartado por<br />

especialistas - Além do impacto socioeconômico<br />

da chegada do camarão argentino, o Sindicato dos<br />

Armadores e das Indústrias de Pesca de Itajaí e<br />

Região (Sindipi) alerta para o risco de contaminação.<br />

A entidade afirma que pesquisas indicaram a<br />

presença de um vírus da chamada mancha branca<br />

nos crustáceos vindos da Argentina.<br />

A enfermidade, que também atinge siris, lagostas<br />

e caranguejos, poderia causar uma epidemia no Brasil<br />

caso houvesse contato com o camarão vermelho, na<br />

opinião da entidade.<br />

– Mesmo que o camarão chegue congelado, o vírus<br />

sobrevive – alerta Giovani, presidente do Sindipi.<br />

Pós-doutor em Ecologia e Recursos Naturais, o<br />

professor Joaquim Olinto Branco, da Univali, afirma<br />

desconhecer estudos que comprovem a incidência<br />

de mancha branca no camarão argentino.<br />

– A espécie pleoticus muelleri já ocorre no Brasil,<br />

do Rio Grande do Sul a São Paulo, e costuma vir<br />

com a corrente fria das Malvinas. Ele já convive<br />

por aqui com camarões sete barbas, rosa e branco.<br />

O Ministério da Pesca e Aquicultura informou que<br />

o camarão não oferecerá riscos à biodiversidade<br />

nacional.<br />

Uma visita técnica à Argentina foi feita no<br />

dia 10 de janeiro, e o MPA está estabelecendo os<br />

condicionantes à importação.<br />

No mercado, preferência é nacional - A presença<br />

do pescado importado não é novidade no Brasil.<br />

Salmão, lula e congro estão entre os mais populares –<br />

mas são os filés, feitos de peixes como panga e polaca<br />

do Alaska, vindos de países como China e Vietnã,<br />

que incomodam os produtores. Com preços mais<br />

baixos do que os similares nacionais, como a corvina,<br />

os filés importados estão entre os mais procurados<br />

por restaurantes, diz Telma Canellas, comerciante do<br />

Mercado do Peixe.<br />

Mas entre os clientes que procuram peixe para<br />

preparar em casa o nacional é o preferido, até porque<br />

o importado vem congelado.<br />

– A maioria das pessoas prefere o peixe fresco.<br />

Acho que os armadores não deveriam se preocupar<br />

com a entrada dos importados porque o nacional

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