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Cartilha Algas Nocivas - Laboratório de Pesquisa e Monitoramento ...

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ALGAS NOCIVAS<br />

Conceitos, Métodos e Análises


Introdução<br />

<strong>Algas</strong> nocivas:<br />

O que são?<br />

Os organismos microscópicos<br />

fotossintéticos que vivem nas águas,<br />

<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> microalgas, são<br />

importantes sob vários aspectos. Eles<br />

representam a base da ca<strong>de</strong>ia trófica,<br />

pois servem <strong>de</strong> alimento para os animais<br />

aquáticos. Além disto, <strong>de</strong>stacam-se na<br />

manutenção do equilíbrio do ambiente<br />

aquático pois participam dos ciclos<br />

biogeoquímicos, especialmente nos do<br />

carbono, oxigênio, nitrogênio, fósforo<br />

e silício. No entanto, em <strong>de</strong>terminadas<br />

condições, a presença e proliferação <strong>de</strong><br />

certas espécies po<strong>de</strong>m ser nocivas ao<br />

homem ou ao ambiente.<br />

Microalgas do plâncton


O problema<br />

Nos últimos anos, a atenção das<br />

autorida<strong>de</strong>s e cientistas ao problema<br />

das microalgas nocivas aumentou<br />

consi<strong>de</strong>ravelmente, visto a expansão<br />

da incidência <strong>de</strong> casos em todo o<br />

mundo. Os fatores que po<strong>de</strong>m estar<br />

contribuindo para esta situação<br />

incluem a poluição dos ecossistemas<br />

aquáticos, a introdução <strong>de</strong> espécies<br />

originárias <strong>de</strong> outras regiões, a<br />

expansão na ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aqüicultura e<br />

outros fenômenos globais.<br />

Floração <strong>de</strong> Mesodinium rubrum (não-nociva) na Praia <strong>de</strong> Cabeçudas,<br />

Itajaí (SC), agosto <strong>de</strong> 2001.


Floração <strong>de</strong> Mesodinium rubrum no Porto <strong>de</strong> Itajaí (SC), agosto <strong>de</strong> 2001.<br />

Os danos causados pelas microalgas nocivas<br />

po<strong>de</strong>m ser econômicos, ambientais ou <strong>de</strong><br />

saú<strong>de</strong> pública. Por exemplo, as microalgas<br />

po<strong>de</strong>m causar a morte <strong>de</strong> organismos<br />

no ambiente ou daqueles cultivados na<br />

aqüicultura. Substâncias tóxicas produzidas<br />

pelas microalgas, chamadas <strong>de</strong> ficotoxinas,<br />

po<strong>de</strong>m chegar ao homem por via direta ou<br />

indireta.<br />

O exemplo mais comum <strong>de</strong> intoxicação humana<br />

por ficotoxinas ocorre pelo consumo <strong>de</strong><br />

frutos do mar contaminados. Moluscos como<br />

mexilhões e ostras, por exemplo, retiram seu<br />

alimento das partículas em suspensão na água.<br />

Se alguma microalga tóxica estiver presente,<br />

ela po<strong>de</strong> ser acumulada nos tecidos <strong>de</strong>sses<br />

animais e intoxicar seus consumidores como o<br />

homem.


Em certas regiões do mundo os mexilhões, e outros filtradores estão constantemente com alto<br />

teor <strong>de</strong> ficotoxinas e, por isto, são impróprios para o consumo humano. Em algumas regiões on<strong>de</strong><br />

a incidência <strong>de</strong> microalgas tóxicas é bastante freqüente, evita-se que os produtos impróprios<br />

cheguem aos consumidores através da execução <strong>de</strong> programas <strong>de</strong> monitoramento em conjunto<br />

com setores governamentais responsáveis pela qualida<strong>de</strong> dos produtos comercializados e<br />

saú<strong>de</strong> pública. Por outro lado, em muitas regiões a incidência, tanto em freqüência como<br />

intensida<strong>de</strong> <strong>de</strong> contaminação, é baixa, e os casos <strong>de</strong> intoxicação passam <strong>de</strong>sapercebidos.<br />

Porém, conforme observado, esta situação po<strong>de</strong> mudar rapidamente <strong>de</strong> uma hora para outra.


Dinophysis caudata<br />

em divisão<br />

Dinophysis acuminata<br />

Dinophysis cf. tripus<br />

em divisão celular<br />

As toxinas<br />

No Brasil ainda se conhece pouco sobre<br />

este problema, no entanto, sabe-se<br />

que diferentes toxinas produzidas por<br />

microalgas po<strong>de</strong>m ser acumuladas em<br />

mexilhões que crescem em nosso litoral<br />

e representam, portanto, um perigo<br />

potencial.<br />

Toxinas diarréicas (DSP):<br />

Como o nome diz, as toxinas diarréicas<br />

afetam o sistema digestivo, porém,<br />

não se limitam a isto. Causam dor <strong>de</strong><br />

cabeça, náusea, vômito e, em casos<br />

<strong>de</strong> exposição prolongada, estão<br />

relacionadas à incidência <strong>de</strong> câncer no<br />

sistema digestivo.<br />

Natureza das toxinas:<br />

Poliéteres ácido ocadáico e<br />

dinofisistoxinas.<br />

Organismos produtores <strong>de</strong> DSP:<br />

Algumas espécies <strong>de</strong> dinoflagelados dos<br />

gêneros Prorocentrum e Dinophysis.


Toxinas amnésicas (ASP):<br />

As toxinas amnésicas atuam no mesmo<br />

sítio do ácido glutâmico, um mediador<br />

químico encontrado no cérebro. A<br />

exposição à baixa concentração provoca<br />

náusea, vômito e dor <strong>de</strong> cabeça. Em<br />

casos agudos <strong>de</strong> intoxicação, po<strong>de</strong><br />

ocorrer a perda da memória recente,<br />

inclusive levando a morte <strong>de</strong> pessoas.<br />

Natureza das toxinas:<br />

Aminoácidos como o ácido domóico e<br />

análogos.<br />

Organismos produtores <strong>de</strong> ASP:<br />

Algumas espécies <strong>de</strong> diatomáceas do<br />

gênero Pseudo-nitzschia.<br />

Exemplo: Pseudo-nitzschia multiseries.<br />

Pseudo-nitzschia sp.<br />

Ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Pseudo-nitzschia.


Toxinas paralisantes (PSP):<br />

As toxinas paralisantes, por sua ação por<br />

vezes fulminante, são as mais conhecidas.<br />

Essas toxinas bloqueiam canais <strong>de</strong> sódio nas<br />

células e impe<strong>de</strong>m a transmissão <strong>de</strong> impulsos<br />

nos músculos <strong>de</strong> seres humanos e outros<br />

vertebrados. Pequenas quantida<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m<br />

causar a perda <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> na ponta dos<br />

<strong>de</strong>dos e da língua. Em casos extremos, causam<br />

a parada respiratória levando à morte da<br />

pessoa.<br />

Natureza das toxinas:<br />

Alcalói<strong>de</strong>s análogos a saxitoxina, solúveis em<br />

água, havendo mais <strong>de</strong> 20 tipos.<br />

Organismos produtores <strong>de</strong> PSP:<br />

Várias espécies <strong>de</strong> dinofl agelados,<br />

principalmente dos gêneros Alexandrium e<br />

Gymnodinium.<br />

Ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> Gymnodinium catenatum<br />

Alexandrium tamarense Cisto <strong>de</strong> Alexandrium tamarense<br />

Gymnodinium catenatum


Legislação:<br />

A preocupação com a ocorrência <strong>de</strong> toxinas em moluscos cultivados, levou a Secretaria<br />

<strong>de</strong> Agricultura do Estado <strong>de</strong> Santa Catarina a incluir as toxinas DSP e PSP, como <strong>de</strong><br />

notifi cação obrigatória na Portaria nº 021/GABS/SDA, <strong>de</strong> 1º <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2002, que<br />

trata do Projeto <strong>de</strong> Sanida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Moluscos no Estado.<br />

Qual o procedimento para assegurar que o<br />

produto comercializado seja <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e<br />

livre <strong>de</strong> ficotoxinas?<br />

O melhor procedimento para garantir a qualida<strong>de</strong> do produto é o<br />

monitoramento da região <strong>de</strong> cultivo ou <strong>de</strong> extração <strong>de</strong> mariscos.<br />

A freqüência e as variávies a serem monitorados variam <strong>de</strong> acordo<br />

com a região. O plano <strong>de</strong> monitoramento po<strong>de</strong> ser elaborado<br />

com um número <strong>de</strong> pontos e freqüência variável, <strong>de</strong> acordo com a<br />

<strong>de</strong>tecção da presença <strong>de</strong> espécies tóxicas na água ou <strong>de</strong> fi cotoxinas<br />

em moluscos.<br />

Em todos os casos, faz-se necessário um acompanhamento<br />

constante das microalgas presentes na água das regiões <strong>de</strong><br />

produção (extração ou cultivo <strong>de</strong> mariscos).<br />

A i<strong>de</strong>ntifi cação das espécies tóxicas é feita com auxílio <strong>de</strong><br />

microscópio ótico e bibliografi a especializada, requerendo um<br />

treinamento nesta área <strong>de</strong> conhecimento.


No caso da presença <strong>de</strong> espécies tóxicas,<br />

os mariscos <strong>de</strong>vem ser analisados para<br />

verifi car se estão próprios ou não para o<br />

consumo humano. Os métodos empregados<br />

po<strong>de</strong>m ser analíticos ou <strong>de</strong> bioensaio,<br />

geralmente com o uso <strong>de</strong> camundongos.<br />

Uma boa notícia é que, mesmo<br />

contaminados, os mariscos<br />

geralmente não são afetados<br />

e, uma vez a água estando livre<br />

da(s) espécie(s) tóxica(s), eles<br />

se <strong>de</strong>puram naturalmente,<br />

tornando-se novamente<br />

próprios para o consumo<br />

humano.


Coleta e análise<br />

em microscópio<br />

Coleta<br />

Bal<strong>de</strong><br />

A coleta da água com bal<strong>de</strong> é muito<br />

utilizada pela simplicida<strong>de</strong> e baixo<br />

custo apresentados. A principal<br />

<strong>de</strong>svantagem é coletar apenas um<br />

estrato, o superficial, que po<strong>de</strong> não<br />

ser representativo da riqueza e da<br />

abundância das microalgas no local.<br />

Utilização da<br />

mangueira para a<br />

coleta <strong>de</strong> fitoplâncton.<br />

Mangueira<br />

Uma mangueira <strong>de</strong> plástico (diâmetro <strong>de</strong> 3-5 cm,<br />

comprimento até 10 m) é um instrumento simples que<br />

po<strong>de</strong> ser utilizado para coletar água <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a superfície<br />

até aproximadamente 5 metros <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma<br />

integrada. A mangueira, aberta nas duas extremida<strong>de</strong>s,<br />

com um pequeno peso em sua parte inferior, é introduzida<br />

verticalmente na água. Após, fecha-se a parte superior<br />

com uma válvula adaptada para trazer a mangueira até<br />

a superfície; <strong>de</strong>speja-se o seu conteúdo em um bal<strong>de</strong><br />

ou recipiente plástico. Para evitar a contaminação da<br />

amostra, recomenda-se utilizar uma mangueira <strong>de</strong> plástico<br />

transparente, para facilitar a limpeza no seu interior.


Garrafa <strong>de</strong> Niskin.<br />

Garrafa especial<br />

Garrafas <strong>de</strong> coleta para obter amostras<br />

<strong>de</strong> profundida<strong>de</strong>s são utilizadas em<br />

estudos mais <strong>de</strong>talhados. As mais indicadas<br />

são as garrafas <strong>de</strong> material não tóxico<br />

(ex. plástico), pois algumas espécies <strong>de</strong><br />

microalgas são sensíveis à metais. Entre os<br />

tipos <strong>de</strong> garrafa, <strong>de</strong>stacam-se as <strong>de</strong> “Van<br />

Dorn” e “Niskin”, ambas com sistema <strong>de</strong><br />

fechamento na profundida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sejada.<br />

Foto mostrando a<br />

utilização da re<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> fitoplâncton.<br />

Re<strong>de</strong> <strong>de</strong> plâncton<br />

As re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> plâncton são recomendadas para<br />

obter amostras concentradas. Entretanto, <strong>de</strong>vese<br />

consi<strong>de</strong>rar que organismos menores do que<br />

a abertura da malha da re<strong>de</strong> não são capturados<br />

quantitativamente. Para a captura <strong>de</strong> microalgas<br />

planctônicas, as malhas mais utilizadas tem<br />

abertura em torno <strong>de</strong> 20 µm a 50 µm. A forma da<br />

re<strong>de</strong>, sua dimensão, abertura, área <strong>de</strong> filtração e<br />

tamanho da abertura vão influenciar a eficiência<br />

<strong>de</strong> filtração. As coletas são feitas em arrastos<br />

horizontais, verticais ou oblíquos.


Análise das microalgas<br />

As microalgas vivas po<strong>de</strong>m ser<br />

observadas ao microscópio ótico<br />

após a coleta, ou então po<strong>de</strong>m ser<br />

fi xadas com formol a 4% ou solução<br />

<strong>de</strong> io<strong>de</strong>to (lugol) e armazenadas em<br />

frascos. A análise é realizada entre<br />

lâmina e lamínula, em aumentos <strong>de</strong><br />

100 a 1.000 vezes, observando-se<br />

as características diagnósticas <strong>de</strong><br />

cada grupo e espécie encontrada.<br />

A quantifi cação po<strong>de</strong> ser feita em<br />

câmaras <strong>de</strong> sedimentação ou mesmo<br />

<strong>de</strong> contagem <strong>de</strong> células.


Variáveis ambientais<br />

adicionais ao monitoramento<br />

além das espécies <strong>de</strong> algas:<br />

Salinida<strong>de</strong> da água<br />

Temperatura da água<br />

Transparência da água<br />

Nutrientes dissolvidos<br />

Biomassa do fi toplâncton (clorofi la a)<br />

Aspectos da hidrodinâmica local (correntes,<br />

estratifi cação térmica ou halina, etc.)<br />

Toxinas em moluscos


Esta cartilha foi elaborada com base nos trabalhos realizados na Universida<strong>de</strong> do<br />

Vale do Itajaí - UNIVALI e Fundação Universida<strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Rio Gran<strong>de</strong> – FURG, com participação<br />

<strong>de</strong> Luis Antonio <strong>de</strong> Oliveira Proença*, Clarisse O<strong>de</strong>brecht**, Márcio da Silva Tamanaha*, Renata<br />

S. Fonseca*, Luiz L. Mafra Jr.* e Joana Flor Tavares**, com apoio do CNPq e Proppec/UNIVALI.<br />

Outras informações po<strong>de</strong>m ser obtidas na página: www.cttmar.univali.br/algas.<br />

Projeto gráfico e ilustrações: Claudio Guerra<br />

CG Núcleo <strong>de</strong> Criação - www.claudioguerra.com.br<br />

* CTTMar - Rua Uruguai 458, Itajaí (SC) - CEP: 88302-202.<br />

** Depto. <strong>de</strong> Oceanografia - Av. Itália - Rio Gran<strong>de</strong> (RS) - CEP: 96201-900. Caixa Postal 474<br />

Janeiro <strong>de</strong> 2004

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