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Antologia Definição de Esquizofrenias

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<strong>Antologia</strong><br />

<strong>Definição</strong> <strong>de</strong> <strong>Esquizofrenias</strong><br />

(texto obtido por cópia do livro original anotado pelo professor Barahona Fernan<strong>de</strong>s, os<br />

negritos estão sublinhados no original, num tipo <strong>de</strong> letra diferente as emendas do professor)<br />

As esquizofrenias são psicoses. Perturbações psíquicas, que nunca se caracterizaram quanto à<br />

natureza e gravida<strong>de</strong> como psicoses, não <strong>de</strong>vem ser <strong>de</strong> nominadas esquizofrenias, mesmo quando<br />

suspeitemos que elas sejam aparentadas à esquizofrenia (conceito <strong>de</strong> psicose, veja pág. 80 e<br />

seguintes). As esquizofrenias são frequentes: cerca <strong>de</strong> 1 % dos recém-nascidos, que não morrem<br />

antes da ida<strong>de</strong> <strong>de</strong> 40 a 50 anos, irá adoecer pelo menos uma vez na vida <strong>de</strong> esquizofrenia.<br />

Não foram encontradas causas orgânicas das esquizofrenias. Ao contrário, um papel importante na<br />

sua génese <strong>de</strong>sempenha experiências <strong>de</strong> vida oprimentes, especialmente perturbações do relaciona<br />

mento com as pessoas. Naturalmente que no nosso estado actual <strong>de</strong> conhecimentos uma<br />

psicogénese simples num sentido similar das doenças psicogénicas é altamente improvável. Além<br />

das causas psicotraumáticas <strong>de</strong>vemos postular ainda outras. Mais prováveis são disponibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong>sfavoráveis herdadas. Até ao ponto em que conseguimos esclarecer a génese<br />

das esquizofrenias hoje em dia, trata-se <strong>de</strong> acção e reacção <strong>de</strong> uma natureza pessoal difícil e um<br />

meio ambiente difícil.<br />

A sintomatologia psicopatológica das esquizofrenias caracteriza-se pelo facto <strong>de</strong> que uma vida<br />

psíquica sadia continua ao lado e atrás da vida psicótica. Exactamente por isso é que se<br />

diferenciam até as psicoses esquizofrénicas crónicas graves das psicoses <strong>de</strong> vidas à atrofia<br />

cerebral. Sintomas amnésicos verda<strong>de</strong>iros são estranhos ao esquizofrénico.<br />

Entre os sintomas básicos da esquizofrenia <strong>de</strong>vemos arrolar: 1. uma perturbação do pensamento<br />

<strong>de</strong>nominada <strong>de</strong>sagregação, na qual os caminhos usuais do pensamento se tornam soltos, na<br />

qual o significado dos conceitos se <strong>de</strong>sloca <strong>de</strong> um modo pouco claro e na qual muitas vezes os<br />

símbolos são confundidos com o que é simbolizado; 2. uma perturbação da afectivida<strong>de</strong>, que<br />

muitas vezes se expressa externamente como embotamento paralelo com uma<br />

irritabilida<strong>de</strong> ocasional imprevisível, falta da capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> modulação da vida afectiva,<br />

contradição entre afecto e expressão do afecto (paramimia) e falta <strong>de</strong> contacto afectivo; tais<br />

sintomas estão em relação com a dissociação interna da vida afectiva, com a impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

unir tonalida<strong>de</strong>s afectivas ambivalentes; 3. a vivência subjectiva da <strong>de</strong>spersonalização nas suas<br />

formas mais variadas (<strong>de</strong>sorientação relativa à própria pessoa, transitivismo, apersonalização,<br />

acção automática, ouvir pensamentos, etc.).<br />

O afastamento do mundo, a negligência da realida<strong>de</strong>, a preocupação excessiva com os seus<br />

processos internos e com suas necessida<strong>de</strong>s caracteriza como o autismo esquizofrénico.<br />

Aos sintomas acessórios pertencem: variadas ilusões dos sentidos (especialmente "vozes" e<br />

sensações somáticas esquisitas), variadas i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>lirantes (especialmente <strong>de</strong>lírio <strong>de</strong> referência e<br />

persecutório), ilusões e alucinações da memória e os sintomas catatónicos (catalepsia, estupor,<br />

raptus, hipercinésia, estereotipias, maneirismos, negativismo, manifestações <strong>de</strong> eco e<br />

automatismos).


Costumam-se dividir as esquizofrenias <strong>de</strong> acordo com os sintomas que sobressaem no quadro<br />

clínico: se são i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong>lirantes, falamos <strong>de</strong> esquizofrenia paranói<strong>de</strong>, se são sintomas catatónicos,<br />

<strong>de</strong> esquizofrenia catatónica, e se são sintomas afectivos, <strong>de</strong> esquizofrenia hebefrénica. Na<br />

esquizofrenia simples estão em primeiro plano a indiferença crescente em relação ao mundo real e<br />

a confusão e falta <strong>de</strong> clareza do pensamento.<br />

De acordo com a evolução po<strong>de</strong>mos distinguir: evolução directa — aguda ou crónica — evolução <strong>de</strong><br />

estados leves ou graves crónicos e evoluções cíclicas que se transformam em cura ou em estados<br />

leves ou crónicos graves. As evoluções fásico-cíclicas são mais frequentes do que as directas.<br />

Cerca <strong>de</strong> um terço dos que já adoeceram ainda apresenta <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> mui tos anos fortes oscilações<br />

<strong>de</strong> estado, a maioria <strong>de</strong>stes são curados por longos períodos. Cerca <strong>de</strong> dois terços dos doentes<br />

alcançam um estado relativamente estável <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> vários anos. Num terço <strong>de</strong>stes últimos tratase<br />

<strong>de</strong> uma cura duradoura no resto <strong>de</strong> psicoses crónicas <strong>de</strong> gravida<strong>de</strong> diversa. Estas últimas têm<br />

sido <strong>de</strong>nominadas <strong>de</strong>terioração (<strong>de</strong>mências), mas diferenciam-se nitidamente das<br />

imbecializações da atrofia cerebral grave: nestes "estados terminais" das esquizofrenias ainda se<br />

encontram sempre sinais <strong>de</strong> que existe uma vida intelectual e afectiva sadia. Além disso, entre<br />

esquizo f rénicos "<strong>de</strong>menciais" ocorrem, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> <strong>de</strong>cénios <strong>de</strong> doença, frequentemente ligeiras<br />

melhoras e às vezes até melhoras profundas, que se parecem com uma cura.<br />

Um prognóstico favorável relaciona-se com um início agudo, episódios <strong>de</strong> cura na história<br />

pregressa, estados mórbidos com forte excitação, mudanças <strong>de</strong> humor, confusão e obnubilação da<br />

consciência, uma personalida<strong>de</strong> pré-psicótica sadia; prognosticamente <strong>de</strong>sfavoráveis são um início<br />

insidioso, uma sintomatologia esquizofrénica nítida em estados circunspectos com humor<br />

indiferente e uma personalida<strong>de</strong> pré-psicótica doentia.<br />

Do ponto <strong>de</strong> vista anátomo e fisiológico-patológico não se encontra nada que fosse característico<br />

das esquizofrenias ou que tivesse um significado causal essencial. Todavia, as funções orgânicas<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da excitação emocional do doente e estão subordinadas a variadas peculiarida<strong>de</strong>s.<br />

Psicologicamente as i<strong>de</strong>ias dos doentes e muitas oscilações da evolução po<strong>de</strong>m ser relacionadas<br />

fácil mente com suas experiências <strong>de</strong> vida, seus anseios e suas preocupações. Subjectivamente o<br />

doente vivencia a sua modificação em parte como consequência necessária <strong>de</strong> experiências vitais<br />

insuportáveis.<br />

Antes da eclosão da psicose muitos esquizofrénicos apresentam uma natureza esquizói<strong>de</strong> ou<br />

"difícil". Do ponto <strong>de</strong> vista da constituição trata-se muitas vezes <strong>de</strong> asténicos, atléticos ou<br />

displásicos. Entre os parentes dos esquizofrénicos ocorrem muito mais esquizofrénicos e<br />

esquizói<strong>de</strong>s do que na população como um todo.<br />

O tratamento dos esquizofrénicos é uma tarefa médica importante: <strong>de</strong>ve-se fazer tudo para<br />

manter o doente numa comunida<strong>de</strong> humana activa ou incorporá-lo a ela. Os seus talentos, os seus<br />

interesses, as suas necessida<strong>de</strong>s vitais sadias <strong>de</strong>vem ter oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolver. A estes<br />

fins terapêuticos servem uma activida<strong>de</strong> a<strong>de</strong>quada, uma ocupação a<strong>de</strong>quada das horas <strong>de</strong> lazer e a<br />

maneira <strong>de</strong> tratá-los no dia-a-dia: apesar <strong>de</strong> todas as dificulda<strong>de</strong>s o doente <strong>de</strong>ve ser sempre<br />

tratado como uma pessoa sadia, da qual se espera que compreenda, sinta e pense como nós<br />

mesmos. -Nas fases a<strong>de</strong>quadas da doença este cuidado paciente social, pedagógico e<br />

psicoterapêutico po<strong>de</strong> ser interrompido, com êxito, por meio <strong>de</strong> um tratamento <strong>de</strong> surpresas e<br />

abalos. (Como tais, actuam entre outros: transferências inesperadas, altas precoces da clínica, um<br />

acumulo repentino <strong>de</strong> responsabilida<strong>de</strong>s, interpretação repentina da linguagem simbólica, as<br />

terapias somáticas <strong>de</strong> choque.) — Em muitos casos — especialmente quando os doentes estão


tensos e excitados — indica-se uma tranquilização medicamentosa com drogas neurolépticas. Esta<br />

não <strong>de</strong>ve ser levada a ponto <strong>de</strong> tornar os doentes apáticos e inabordáveis pela terapia social a<br />

longo prazo. Em muitas doenças <strong>de</strong> evolução fásica a medicação neuroléptica imepe<strong>de</strong> recaídas<br />

<strong>de</strong>pois da melhora ou da cura. E importante levar em consi<strong>de</strong>ração o perigo da ocorrência <strong>de</strong><br />

discinesias tardias.<br />

Referência: BLEULER, Eugen. Pt. especial B. As <strong>de</strong>sor<strong>de</strong>ns mentais “endógenas”, cap. 1. As<br />

esquizofrenias, k) tratamento, Resumo do capítulo. In Psiquiatria. 15.ª ed. revista e actualizada.<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro : Guanabara Koogan, c1985, p. 319-321 (exemplar que foi do Professor Brahona<br />

Fernan<strong>de</strong>s, proprieda<strong>de</strong> da Biblioteca do CHPL)

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