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perfis da mulher na literatura brasileira: uma leitura ... - Itaporanga.net

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do tal secretário tinham <strong>uma</strong> expressão mais especial, cáli<strong>da</strong> e suplicante.” ( Capítulo<br />

dos chapéus )<br />

“ Um dos convivas, o Leandrinho , autor do brinde, dizia com<br />

os olhos, _ não com a boca,_ e dizia-o de um modo austucioso, que o mellhor doce<br />

eram as faces de Eulália, doce moreno, corado {... } ( D. Benedita )<br />

E assim foi que machado de Assis foi construindo seu<br />

imaginário feminino, tanto nos contos como nos romances, como podemos perceber em:<br />

Memórias póst<strong>uma</strong>s de Brás Cubas, Dom Casmurro e Quincas Borba:<br />

“ Não basta ver <strong>uma</strong> <strong>mulher</strong> para a conhecer, é preciso ouvi-la<br />

também; ain<strong>da</strong> que muitas vezes baste ouvi-la para não a conhecer jamais.” (<br />

Memórias Póst<strong>uma</strong>s de Brás Cubas )<br />

“ Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. È o que me dá idéia <strong>da</strong>quela<br />

feição nova. Trazia um não sei que fluido misterioso e enérgico, <strong>uma</strong> força que<br />

arrastava para dentro, como a vaga que se retira <strong>da</strong> praia, nos dias de ressaca.” (<br />

Dom Casmurro)<br />

Vejamos agora o perfil feminino de Capitu: Bentinho mostravase<br />

ingênuo em relação à esperteza de Capitu, deixando-se levar por ela. “ Capitu<br />

refletia. A reflexão não era cousa rara nela, e conheciam-se as ocasiões pelo apertado<br />

do olhos” ( cap. XVIII, p. 93); “{...} aos catorze anos tinha idéias já atrevi<strong>da</strong>s” (cap.<br />

XVIII, p. 94); “ Capitu era Capitu, isto é, <strong>uma</strong> criatura mui particular, mais <strong>mulher</strong> do<br />

que eu era homem” ( cap. XXXI, p. 111), “ A cabeça <strong>da</strong> minha amiga sabia pensar<br />

claro e depressa” ( cap.XLVIII, p. 138), ou a melhor <strong>da</strong>s definições:“ Olhos de ciga<strong>na</strong><br />

oblíqua e dissimula<strong>da</strong>”, bem como “olhos de ressaca”. Bentinho viu neles “um fluído<br />

misterioso e energético, <strong>uma</strong> força que arrastava para dentro como a vaga que se retira<br />

<strong>da</strong>s praias nos dias de ressaca.” (cap. XXXII, p. 114)<br />

Machado de Assis construiu Capitu como <strong>uma</strong> peque<strong>na</strong> burguesa<br />

inteligente, ambiciosa, delica<strong>da</strong> e sedutora, porém acrescentou-lhe um perfil feminino<br />

complicado, graças aos seguintes caracteres: curiosi<strong>da</strong>de intelectual, gosto pela<br />

aritmética, talento fi<strong>na</strong>nceiro e capaci<strong>da</strong>de de abstração. Portanto, quali<strong>da</strong>des essas<br />

convencio<strong>na</strong>lmente associa<strong>da</strong>s à mente masculi<strong>na</strong>, e não quali<strong>da</strong>des aquiescentemente<br />

femini<strong>na</strong>s. Capitu, além de apresentar um comportamento incerto e ambíguo, de quem<br />

tem sempre o álibi inquietante <strong>da</strong> dúvi<strong>da</strong>, oferecia também ao interlocutor, um perfil<br />

marcado pela dissimulação: Capitu levantou o olhar, sem levantar os olhos.” ( cap.<br />

CXXI. p.223)<br />

Bibliografia:<br />

ALENCAR, José de. Senhora. Ed. Moder<strong>na</strong>, São Paulo, 1997<br />

BAGNO, Marcos, Machado de Assis para principiantes, Ed. Ática, São Paulo,<br />

1998.<br />

CANDIDO, Antonio. Literatura e socie<strong>da</strong>de: estudos de teoria e história literária..<br />

7ª São Paulo: Ed. Nacio<strong>na</strong>l, 1985<br />

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Ed. Moder<strong>na</strong>, São Paulo, 1997<br />

MELO, Hildete Pereira de & LASTRES, hele<strong>na</strong> M. Martins, “Brasil – Gênero,<br />

Tecnologia e Inovação – Um olhar feminino”, Rio de Janeiro, UNESCO,2003, mimeo.<br />

COELHO, Nelly Novais. 500 anos de presença <strong>da</strong> <strong>mulher</strong> <strong>na</strong> <strong>literatura</strong>, em<br />

Portugal e no Brasil _ A <strong>literatura</strong> como memória e cultura. São Paulo: Petrópolis, 2000.

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