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Por Exemplo, Com O Recente Caso - Visão Judaica

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2<br />

editorial<br />

VISÃO JUDAICA • março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Publicação mensal independente da<br />

EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />

JUDAICA LTDA.<br />

Redação, Administração e Publicidade<br />

visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Curitiba PR Brasil<br />

Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />

Dir. de Operações e Marketing<br />

SHEILLA FIGLARZ<br />

Dir. Administrativa e Financeira<br />

HANA KLEINER<br />

Diretor de Redação<br />

SZYJA B. LORBER<br />

Publicidade<br />

DEBORAH FIGLARZ<br />

Arte e Diagramação<br />

SONIA OLESKOVICZ<br />

Webmaster<br />

RAFFAEL FIGLARZ<br />

Colaboram nesta edição:<br />

Andrew Klavan, Aristide Brodeschi,<br />

Breno Lerner, Bruce S. Ticker, Daniel<br />

Pipes, Edda Bergmann, Gustavo<br />

Erlichman, Jacob Dolinger, Joseph<br />

Eskenazi Pernidji, Pilar Rahola, Sérgio<br />

Feldman, Shelomo Alfassa, Ted Feder,<br />

Tila Dubrawsky, Tom Gross e Yossi<br />

Groisseoign<br />

Esta publicação pode conter termos sagrados.<br />

<strong>Por</strong>tanto, trate-a com respeito.<br />

Os artigos assinados não representam<br />

necessariamente a opinião do jornal,<br />

mas a dos autores e colaboradores<br />

www.visaojudaica.com.br<br />

as últimas semanas assistimos<br />

sistematicamente a uma inversão<br />

de valores, em que o relativismo<br />

moral, claudica e engoda<br />

muita gente. Assim foi,<br />

por exemplo, com o recente caso<br />

do filme palestino Paradise Now (Paraíso<br />

Agora), concorrente ao Oscar<br />

de 2006 como melhor filme estrangeiro,<br />

e que [felizmente] não levou<br />

a cobiçada estatueta. É certo que se<br />

pressionou para que o filme fosse<br />

excluído pela Academia de Hollywood.<br />

Houve até um abaixo-assinado<br />

com 32 mil assinaturas recolhidas,<br />

mas a Academia, que nunca<br />

retirou um filme indicado (à exceção<br />

de um único caso, por fraude na<br />

inscrição), preferiu deixá-lo disputar<br />

e não levar nada. O mais provável<br />

é que os que elegem os filmes tenham<br />

feito um exame de consciência, ana-<br />

Inversão de valores e o engodo<br />

Nossa capa<br />

lisando os aspectos nocivos da película,<br />

que relata a trajetória de dois<br />

jovens palestinos cooptados para se<br />

tornarem homens-bomba até a cena<br />

final quando embarcam num ônibus<br />

cheio de crianças que irão explodir.<br />

Nesse caso, prevaleceu o bom senso<br />

e não se chancelou com o Oscar a<br />

“obra de arte” que glorifica o terrorismo<br />

e a morte.<br />

Outro exemplo é que mesmo sem<br />

ter nada a ver com a crise das charges,<br />

o povo judeu foi escolhido<br />

pelo Irã para “ser culpado” pelas<br />

caricaturas supostamente difamatórias<br />

publicadas na Dinamarca. O<br />

Irã decidiu promover um concurso<br />

com ilustrações que neguem ou minimizem<br />

o Holocausto. Para surpresa<br />

geral, na emissora BandNews, de<br />

São Paulo, dia 7/2, às 6h32, o<br />

apresentador da rádio disse que a<br />

iniciativa iraniana era uma “resposta<br />

adequada às provocações européias”.<br />

Uma estranha fusão de ignorância<br />

e anti-semitismo! E para<br />

não perder o costume de culpar os<br />

judeus por todos os males da humanidade,<br />

a Síria distribuiu notícia<br />

afirmando que Israel é o responsável<br />

pela gripe aviária! E tem mais:<br />

O verborrágico Mahmoud Ahmadinejad,<br />

presidente do Irã culpa quem<br />

pela destruição da mesquita xiita do<br />

domo dourado no Iraque? Israel e<br />

os Estados Unidos! Já o aiatolá Ali<br />

Khamenei, detentor da última palavra<br />

em todas as questões relativas<br />

ao Estado do Irã, fez um apelo aos<br />

xiitas para que eles não se vinguem<br />

nos muçulmanos sunitas [que efetivamente<br />

a destruíram] pelo ataque<br />

à mesquita, mas nos “criminosos<br />

sionistas, americanos e ociden-<br />

A capa reproduz a obra de arte cujo título é “Rainha Esther” com raashan (reco-reco), elaborada<br />

com a técnica pastel seco em uma tela de dimensões 65 X 50 cm, criação de Aristide Brodeschi.<br />

O autor nasceu em Bucareste, Romênia, é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde<br />

1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />

Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por<br />

vários países e tem no judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas do<br />

jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />

Datas importantes<br />

11 de março<br />

13 de março<br />

14 de março<br />

15 de março<br />

18 de março<br />

25 de março<br />

1º de abril<br />

8 de abril<br />

Shabat / Parashá<br />

Tetasavê Zachor<br />

Jejum de Esther<br />

Purim<br />

Shushan Purim<br />

Shabat / Parashá Ki<br />

Tissá Pará<br />

Shabat Mevarechim /<br />

Parashá Vayak’el /<br />

Pecudê Hachodesh<br />

Shabat/Parashá Vayicrá<br />

Shabat Hagadol /<br />

Parashá Tsav<br />

Mudança de horários na Sinagoga do CIP<br />

(Curitiba) para as orações em abril:<br />

MATUTINAS (Tefilá Shacharit) dia 13 (1º de Pêssach)<br />

— 7h30; dia 14 (2º de Pêssach) 9h30;<br />

dia 15 (Shabat de Pêssach) 9h30; dia 20 (8º<br />

dia de Pêssach) 9h30 e Izkor 11h; dia 21 (Isru<br />

Chag) 8h30.<br />

VESPERTINAS (Tefilá Minchá) do dia 1º ao dia<br />

14 — 18h e Cabalat Shabat 19h30; dia 15 —<br />

17h30; do dia 16 ao dia 30 —17h45.<br />

Acendimento das<br />

velas em Curitiba<br />

março / abril 06<br />

Véspera de Shabat<br />

DATA HORA<br />

10/3 18h20<br />

17/3 18h12<br />

24/3 18h05<br />

31/3 17h58<br />

7/4 17h50<br />

alecimento<br />

Dia 6/3/2006 (6 de<br />

Adar) – Malka<br />

Racaela Kolber<br />

Mantelmacher, aos<br />

80 anos. Sepultada<br />

no Cemitério Israelita<br />

do Umbará.<br />

tais”! Aí, é preciso que se diga, o<br />

engodo se sobrepõe a tudo mais…<br />

Outro exemplo recente dessa distorção<br />

de valores nos é apresentado<br />

pela jornalista Pilar Rahola, num artigo<br />

que está nesta edição do VJ.<br />

Conta ela que Javier Solana, político<br />

espanhol e representante da Política<br />

Externa e da Segurança <strong>Com</strong>um<br />

da União Européia pediu ao governo<br />

de seu país a equiparação dos<br />

atos de islamofobia — um tipo de<br />

racismo, esclarece Rahola — aos<br />

delitos de anti-semitismo — que é<br />

algo muito mais complexo, acrescenta<br />

ela, explicando em detalhes por<br />

que ambos não são iguais. Equipará-los,<br />

é “rebaixar o Holocausto a<br />

uma pura intolerância, uma banalização<br />

do horror”. VJ convida todos<br />

a lerem seu corajoso texto.<br />

Humor Judaico<br />

A Redação<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Os privilegiados<br />

Em Moscou se espalha a notícia de que a cidade<br />

seria abastecida de carne. Imediatamente se<br />

forma uma enorme fila diante do açougue central,<br />

e a multidão passa toda a noite à espera de<br />

que no dia seguinte, o açougue abra.<br />

De manhãzinha, apresenta-se um funcionário<br />

do governo, e adverte:<br />

— Os que forem judeus podem ir embora, porque<br />

a carne não será vendida para os judeus.<br />

A terça parte dos presentes sai das filas e<br />

volta para suas casas.<br />

Três horas depois, o estabelecimento ainda<br />

está fechado. Apresenta-se novamente o funcionário<br />

e anuncia:<br />

— Só há carne para os membros do Partido<br />

<strong>Com</strong>unista. Quem não tiver suas carteiras do partido<br />

pode ir embora.<br />

Boa parte dos presentes se retira. Ficam só os<br />

antigos membros do PC, ainda numerosos.<br />

Mais três horas, com o açougue fechado, o<br />

funcionário reaparece, e diz:<br />

— Camaradas, agora que estamos só nós do<br />

Partido, devo dizer-lhes com franqueza que não<br />

temos carne.<br />

Ouve-se, então, no fim da fila, uma voz que<br />

protesta:<br />

— Esses judeus são sempre favorecidos!<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


Sérgio Feldman *<br />

erusalém está presente em<br />

toda a religião judaica, desde<br />

as orações, passando<br />

pelo ciclo da vida e pelas<br />

festas, até no sonho do Milênio:<br />

o messianismo judaico. Em tudo se<br />

vê e em todo o Judaísmo se insere Jerusalém.<br />

Não há Judaísmo sem Jerusalém.<br />

Vejamos alguns exemplos. A liturgia judaica<br />

é complexa; vamos explicá-la sucintamente,<br />

sem complicar muito e tentar<br />

inserir a Cidade Sagrada nela.<br />

Há mais de dois mil anos os judeus<br />

repetem inúmeras orações e oram a<br />

D-us, através de uma coletânea de orações<br />

denominada Sidur. O Sidur (vem<br />

da palavra Seder = ordem; pois há uma<br />

ordem nas orações), foi sendo ordenado<br />

de maneira lenta e gradual através<br />

dos séculos, com acréscimos diversos<br />

durante o desenrolar da História. Há<br />

costumes diferentes entre judeus europeus<br />

e judeus africanos ou asiáticos.<br />

Os judeus de origem ibérica (sefaradim<br />

= a de Sefarad ou Espanha, de onde<br />

vieram e de onde migraram à África do<br />

Norte e ao Oriente Médio) têm orações<br />

e ordem de leituras, ligeiramente diferente<br />

das orações dos judeus de origem<br />

germânica ou européia ocidental<br />

(ashkenazim = de Ashkenaz ou Alemanha,<br />

que é o ponto de origem dos judeus<br />

da Europa Oriental, que migraram<br />

à Polônia e Rússia na Idade Média). Não<br />

são diferenças agudas, mas detalhes e<br />

algumas orações adicionais, poesias<br />

(piutim), ou hinos sacros ao lado de<br />

orações criadas por sábios e poetas medievais<br />

ou modernos. No núcleo dos sidurim<br />

há trechos que são universais aos<br />

livros de orações judaicos, de todas as<br />

origens: a matbeia shel tefilá (carimbo<br />

ou moeda da oração = espécie de esqueleto<br />

do corpo de orações) equivale<br />

à parte central das orações. Esta não<br />

muda e não há variações sensíveis. A<br />

oração principal se denomina “Grande<br />

Oração” ou Amidá (de pé = é feita parada,<br />

de pé) ou também Shemone Esre<br />

(que significa dezoito, pois tinha dezoito<br />

bênçãos na sua versão original).<br />

Esta oração foi criada no Cativeiro da<br />

Babilônia ou no início do Período do Segundo<br />

Templo.<br />

Em todos os trechos do Sidur, a presença<br />

de Jerusalém é constante.<br />

O espaço e tempo de Jerusalém são<br />

absolutos no Sidur. O corpo e a alma<br />

da cidade permeiam o texto da oração.<br />

Alguns exemplos para ilustrar. Na<br />

metade da Grande Oração / Amidá ou<br />

Shemone Esre há um trecho que roga a<br />

D-us que: “volte a Jerusalém e que nela<br />

habite” (simbolicamente significa que<br />

reconstrua o Templo), e que reúna os<br />

filhos de Israel e traga-os “dos quatro<br />

cantos da terra” e “reúna os dispersos<br />

do Teu povo Israel”. É surpreendente ver<br />

que o amor a Sion (relativo à Jerusalém,<br />

pois um de seus nomes vem do<br />

monte Sion, de onde os peregrinos viam<br />

a cidade) ou sionismo, permeia todo o<br />

(Uma viagem ao imaginário judaico - parte dois)<br />

Se eu me esquecer de ti,<br />

ó Jerusalém...(II)<br />

Judaísmo. Na seqüência, a oração exalta<br />

a justiça divina e conclui dizendo da tristeza<br />

e do luto do povo “em luto por<br />

ela”... (ela = Jerusalém). Um luto milenar<br />

pela cidade amada e que está em<br />

ruínas. Na conclusão da benção, afirma<br />

de maneira simbólica e dentro de<br />

uma expectativa messiânica: “Louvado<br />

sejas Tu, ó Eterno, que reconstrói Jerusalém”.<br />

Esta oração é proferida todos os<br />

dias da semana, sendo levemente alterada<br />

nos sábados (Shabat) e nas Festas<br />

(Chaguim). Ou seja: há dois milênios os<br />

judeus rogam a D-us que reconstrua Jerusalém,<br />

por três vezes ao dia, sem cessar,<br />

em suas orações. Mas isso não ocorre<br />

somente na Grande Oração.<br />

Na celebração do casamento judaico<br />

há algumas etapas. A principal seria<br />

celebrada sob a cobertura da Chupá (pálio<br />

nupcial ou uma espécie de “pequena<br />

tenda” sob a qual é celebrada a<br />

união). Esta cerimônia pode ser feita<br />

até a céu aberto desde que se tenha o<br />

pálio nupcial cobrindo o espaço onde<br />

estejam os noivos. A última das etapas<br />

desta cerimônia é a quebra do copo,<br />

pelo noivo. Há diversas versões sobre o<br />

significado deste gesto: a mais aceita<br />

é que o copo relembra a destruição de<br />

Jerusalém e o fato que ainda esteja em<br />

ruínas. Ainda que a cidade esteja reconstruída,<br />

deve se lembrar que os judeus<br />

só retomaram a sua posse em<br />

1948. <strong>Por</strong> milênios a desejaram e sonharam<br />

com a sua reconstrução. Em<br />

meio à alegria do casamento os judeus<br />

recordam da sua cidade sagrada e abandonada,<br />

que segue em ruínas. Vale frisar<br />

que Jacob Lauterbach, na década<br />

de 20 do século XX, em artigo polêmico<br />

questionou esta interpretação do símbolo.<br />

<strong>Por</strong>ém, para nosso objetivo, vale<br />

a tendência predominante.<br />

Outra recordação de Jerusalém, de<br />

sua sacralidade e da “nostalgia judaica”<br />

pela cidade destruída e abandonada,<br />

está em alguns salmos. O mais famoso<br />

e repetido é o conhecido: “Se eu<br />

me esquecer de ti ó Jerusalém, que<br />

minha destra perca a sua destreza”.<br />

Inúmeros salmos a recordam e exaltam.<br />

Muitos são inseridos nas rezas diárias<br />

ou em festas. Assim sendo, a relação<br />

entre orações, Judaísmo e Jerusalém é<br />

absoluta. Há dezenas de exemplos que<br />

declinamos de citar para não nos tornarmos<br />

exaustivos.<br />

Um destes Salmos é repetido diariamente<br />

nas orações em ação de graças<br />

após as refeições (Bircat Hamazon): relata<br />

o retorno a Sion (Shivat Tzion), ou<br />

seja, a volta do Exílio da Babilônia e a<br />

alegria de rever e reerguer a Cidade<br />

Sagrada e o projeto de reconstrução do<br />

Templo (que viria a ser o Segundo Templo).<br />

A consecução do sonho messiânico.<br />

Na consciência e na memória judaica,<br />

fica o conceito de que “se foi possível<br />

no passado”, pode e deve ser possível<br />

novamente num “futuro próximo”.<br />

O retorno citado nas rezas é o primeiro<br />

retorno dos judeus à sua pátria<br />

ancestral (ocorrido no século VI antes<br />

da Era <strong>Com</strong>um, perto de 530 a.E.C.) no<br />

qual liderados por Zerubavel (descendente<br />

da Casa de David) e o sacerdote<br />

Josué (Yeoshua), um grupo de pioneiros<br />

retornou do Exílio da Babilônia<br />

(ocorrido entre c. 586 e 536 a.E.C.) a<br />

Jerusalém. Esta experiência histórica<br />

e esta “primeira reconstrução” da cidade<br />

Sacra moldam a “história do futuro”,<br />

ou seja, dá o modelo do que<br />

virá a ser o retorno a Jerusalém, no<br />

imaginário judaico.<br />

Passados alguns séculos do retorno<br />

a Sion (Shivat Tzion), os judeus expulsos<br />

de sua terra a partir das revoltas<br />

contra Roma e da destruição do Segundo<br />

Templo por Tito em 70 d.E.C., terão<br />

a esperança contida nos escritos proféticos<br />

e o sonho messiânico alentando-os<br />

que “voltariam a Sion”, tal como<br />

no retorno a Sion, e reconstruiriam sua<br />

cidade amada. Some-se esta descrição,<br />

às profecias messiânicas de retorno e<br />

de reconstrução e temos uma rica e<br />

sensível inspiração para os sonhos de<br />

retorno. Ter o privilégio de retornar a<br />

Sion e ser um dos que receberia o Messias<br />

no pátio do Templo, era um sonho<br />

de gerações. Durante a prolongada<br />

Diáspora (Golá ou Galut), que se prolongou<br />

por quase dois mil anos, os judeus<br />

anelaram o sonho de voltar a Jerusalém.<br />

Muitos anciões migravam para<br />

Israel, para serem sepultados no Monte<br />

das Oliveiras e estar “in loco”, na<br />

hora da reencarnação dos “ossos secos”<br />

(Ezequiel 37).<br />

No Seder de Pessach (ceia festiva<br />

da Páscoa <strong>Judaica</strong>) se conclui a leitura<br />

da Hagadá (narrativa tradicional do<br />

Êxodo através de leituras, canções e<br />

trechos rabínicos) entoando: “O ano que<br />

vem em Jerusalém” (Leshaná habaá bi<br />

Ierushalaim). O Messias virá em breve<br />

e no ano próximo seremos plenamente<br />

livres e viveremos em Jerusalém. Já em<br />

9 de Av (Tishá be Av) os judeus portavam<br />

(alguns ainda o fazem) inúmeros<br />

sinais de luto. Trata-se de uma data<br />

trágica. Nas sinagogas em 9 de Av se<br />

repetem gestos de luto, orações de<br />

pesar e se jejua pela destruição da Cidade<br />

Sagrada duas vezes: em 586 a.E.<br />

C. e em 70 d.E.C. Dois mil anos de luto<br />

e a ritualização de um dia de jejum<br />

durante todos este tempo pranteando<br />

a Cidade Sagrada. Trata-se de uma tristeza<br />

milenar e de um respeito imenso.<br />

Um sonho de “reencontro” que nenhum<br />

povo, religião ou grupo teve em qualquer<br />

época da História, por nenhuma<br />

cidade. Orar e chorar por uma cidade<br />

destruída há dois mil anos.<br />

Em minha opinião, quem melhor retrata<br />

esta paixão do povo judeu por sua<br />

Jerusalém é o poeta e filósofo sefaradi<br />

Iehudá Halevi. Viveu em Al Andaluz, (na<br />

Espanha atual) no século XI d.E.C., em<br />

Toledo. Cristãos e muçulmanos se digladiavam<br />

na Península Ibérica e em<br />

seguida na Terra Santa, nas Cruzadas.<br />

Iehudá escreve um poema sacro dedicado<br />

a Sion (relativo à Jerusalém). Exalta<br />

a cidade sagrada e diz de suas “sau-<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

A Jerusalém dourada, cantada em salmos e orações, está intrinsecamente<br />

ligada ao povo judeu<br />

dades por Sion”. Nunca a havia visto e<br />

constrói uma imagem baseada no imaginário<br />

judaico medieval: ruínas, ervas<br />

daninhas, e uma dor milenar. Um vazio<br />

e um abandono total. Iehudá sonha com<br />

a cidade a almeja vê-la. No final de<br />

sua vida vai ao Egito e de lá, ascende a<br />

Jerusalém (o termo hebraico Aliá = subida,<br />

significa sair da diáspora e migrar<br />

para Israel). Sobe espiritualmente<br />

e fisicamente.<br />

A parte final do relato biográfico é<br />

uma mescla de um pouco de história e<br />

muita lenda. Ao contemplar a cidade é<br />

morto por um cavaleiro árabe (ou cristão)<br />

envolvido numa das guerras ou cruzadas<br />

que ocorreram nesse período.<br />

Jerusalém está presente em inúmeras<br />

obras e trechos de obras até nos<br />

séculos XIX e XX. Alguns autores judeus<br />

se inspiraram em sua magia e em seu<br />

simbolismo para desenvolver o nacionalismo<br />

judaico: o Sionismo. O Sionismo<br />

é uma síntese do novo (nacionalismo<br />

europeu) e do velho (Judaísmo e<br />

Messianismo), sob um pano de fundo<br />

laico e contemporâneo. Não há como<br />

separar Jerusalém do Judaísmo e nem<br />

negar que Sionismo e Judaísmo sejam<br />

no fundo, a mesma coisa.<br />

Ainda que possa haver judeus que<br />

neguem o Sionismo e não se identifiquem<br />

com Israel. São opções judaicas<br />

válidas a nível individual, até mesmo<br />

se assimilar e deixar de ser judeu ou viver<br />

uma vida judaica alijada de Israel.<br />

Ainda que seja legítimo que se critiquem<br />

as políticas do Estado judaico: o governo<br />

de Israel pode errar como erra qualquer<br />

governo. Isso é na esfera da política.<br />

Os críticos de Israel não po-<br />

dem separar os judeus de sua cidade<br />

e o Judaísmo de seu amor<br />

a Sion. Trata-se de um todo.<br />

Separar os judeus de Jerusalém<br />

é retirar destes a<br />

sua alma, a cidade que inspirou<br />

sua História, seus ideais<br />

e seus valores.<br />

“Se eu me esquecer de ti,<br />

ó Jerusalém, que minha destra<br />

perca a sua destreza”.<br />

3<br />

(Este artigo é dedicado<br />

ao meu dileto amigo<br />

Antonio Carlos<br />

Coelho, tal como na<br />

primeira parte. Desta<br />

vez, amplio a<br />

dedicatória aos meus<br />

filhos André, Ariel e<br />

Marina e à minha<br />

esposa Iara. Os quatro<br />

aprenderam junto<br />

comigo a “paixão” por<br />

Jerusalém).<br />

* Sérgio Feldman<br />

é doutor em História pela<br />

UFPR e professor de<br />

História Antiga e Medieval<br />

na Universidade Federal<br />

do Espírito Santo. Exprofessor<br />

adjunto de<br />

História Antiga do Curso<br />

de História da<br />

Universidade Tuiuti<br />

do Paraná.


4<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

O KKL chega aos 104 anos<br />

m 29 de dezembro de<br />

2005, o KKL - Keren Kayemet<br />

LeIsrael (Fundo Ambiental<br />

de Israel) festejou<br />

104 anos de atividade incessante<br />

em prol do povo judeu<br />

e da Terra de Israel. Foi em 19<br />

de Tevet de 5766, o aniversário judaico<br />

do KKL que a instituição celebrou<br />

o tradicional Dia do Primeiro<br />

Sulco, em honra do primeiro sulco<br />

lavrado nas terras da colônia agrícola<br />

judaica mais antiga, Petach Tikva.<br />

O presidente mundial do KKL,<br />

Yehiel Leket, declarou a propósito da<br />

celebração do 104° aniversário:<br />

“Olhamos para trás com orgulho pelas<br />

conquistas do KKL, e colocamos<br />

nossas vistas adiante, dispostos a<br />

assumir os desafios que nos esperam:<br />

colaborar com projetos nacionais e<br />

desenvolver novos projetos verdes:<br />

reflorestamento,preservação<br />

de<br />

espaços<br />

abertos e<br />

meio ambiente<br />

em<br />

geral, projetos<br />

azuis<br />

relacionados<br />

com a<br />

água e projetosmarronsrelacionados<br />

com o solo”.<br />

Nos últimos<br />

anos<br />

cresceu a<br />

necessidade<br />

de preservar<br />

e melhorar a qualidade do<br />

meio ambiente em Israel, e de proteger<br />

os bosques e espaços abertos<br />

diante de um desenvolvimento descontrolado.<br />

O KKL assumiu o desafio<br />

das tarefas tradicionais de florestamento,<br />

preparação dos solos<br />

para a agricultura, novas populações<br />

e construção de reservatórios de<br />

água. Além disso, investiram-se<br />

grandes esforços no desenvolvimento<br />

de parques, áreas de piqueniques,<br />

pontos de observação e trilhas para<br />

caminhadas, prestando particular<br />

atenção a sua adaptação às necessidades<br />

especiais de determinados<br />

setores da população e baseando<br />

seu trabalho numa ação sustentável.<br />

Este trabalho é o que de fato<br />

converteu o KKL na maior organização<br />

verde do país.<br />

Em sua mensagem, o presidente<br />

do KKL ainda expressou seu agradecimento<br />

aos amigos do mundo inteiro,<br />

que ajudam o Keren Kayemet<br />

LeIsrael em sua nobre tarefa de desenvolver<br />

o país.<br />

“Faço chegar à grande família que<br />

trabalha no KKL, e a todos nossos<br />

colaboradores e amigos em Israel,<br />

meus melhores desejos de que possam<br />

prosseguir com sua maravilhosa<br />

tarefa para o bem das nossas crianças<br />

e da próxima geração de Israel”,<br />

observou Leket.<br />

Em seu centésimo quarto ano, o<br />

KKL continua sendo uma organização<br />

relevante e ativa que cumpre com<br />

abnegação e eficiência as missões<br />

nacionais que lhe atribuem. Um relatório<br />

sobre os projetos relacionados<br />

com o desenvolvimento de solos<br />

na década anterior, recentemente<br />

entregue ao diretor geral do KKL,<br />

Yitzhak Eliashiv, e aos membros do<br />

Diretório, descreve uma ampla gama<br />

de atividades em todo o país. E assinala<br />

que nos dez últimos anos<br />

(1996–2005), a Divisão de Desenvolvimento<br />

de Solos investiu cerca<br />

de US$ 700 milhões, dos quais US$<br />

428 milhões foram com fundos do<br />

KKL; em outras palavras, quase US$<br />

43 milhões de fundos do KKL cada<br />

ano. Na década passada dedicou-se<br />

grandiosos orçamentos ao desenvolvimento<br />

e melhoria de:<br />

1. Projetos de preservação da<br />

natureza e paisagismo; 2. Parques e<br />

sítios turísticos e de recreação; 3.<br />

Estradas e caminhos (sobretudo, estradas<br />

de segurança e rotas paisagísticas);<br />

4. Reservatórios; 5. Projetos<br />

de educação ecológica e sionista<br />

em Israel e no exterior.<br />

Os resultados destes grandes investimentos<br />

se percebem em todo o<br />

país, tanto na melhoria da qualidade<br />

de vida de seus habitantes como<br />

no meio ambiente.<br />

O KKL trabalha com a ajuda de<br />

seus amigos e colaboradores no mundo<br />

inteiro.<br />

Esta é a situação real no presente,<br />

quando se enfatiza o desenvolvimento<br />

e promoção do Neguev.<br />

As seguintes citações são só algumas<br />

das idéias expressadas por<br />

quem viu esta atividade conjunta<br />

ao longo do país e em cada acontecimento<br />

importante:<br />

Horst Koehler, presidente da Alemanha:<br />

“A árvore é um símbolo da<br />

vida e esperança, e por isso me sinto<br />

honrado e gratificado por ser o<br />

primeiro hóspede estrangeiro que<br />

planta um broto no Bosque das Nações”<br />

(plantando uma árvore no Bosque<br />

das Nações, fevereiro de 2005).<br />

Irina Yarmushan, jovem soldada<br />

da base militar de Shomera: “Fiz aliá<br />

do Casaquistão faz três anos, e me<br />

sinto orgulhosa de prestar serviço no<br />

exército. É muito emocionante encontrar<br />

gente que não nos conhece,<br />

mas que se preocupa conosco através<br />

do KKL. Sinto-me muito ligada<br />

com os judeus da diáspora e sinto<br />

como se eles estivessem aqui, conosco”<br />

(No ato de dedicação de uma<br />

área para os soldados e seus pais no<br />

norte de Israel, doada pelos Amigos<br />

do KKL no Canadá).<br />

Lyle Oberg, ministro da Infra-Estrutura<br />

de Alberta, Canadá: “O que<br />

temos visto durante nossa visita<br />

pode ser definido como um ato de<br />

magia no âmbito da agricultura e da<br />

pesquisa agrícola. Foi quase utópico<br />

ver os hortos e campos que dão<br />

frutos no deserto. Existe uma grande<br />

sinergia entre Alberta e Israel.<br />

Estou muito impressionado por tudo<br />

o que vocês fizeram em Israel através<br />

do KKL” (durante um passeio organizado<br />

para uma delegação do Canadá,<br />

para a cooperação com o KKL<br />

em projetos ecológicos).<br />

Miri Golan, presidente do Centro<br />

Israelense de Origami: “Uma das características<br />

mais definidoras do origami<br />

é que não se desecarta nem se<br />

desperdiça papel. O KKL, em seu caráter<br />

de organização verde líder em<br />

Israel, foi o associado natural para<br />

esta atividade, porque a ausência de<br />

desperdícios constitui uma mensagem<br />

ecológica importante. O KKL<br />

desenvolveu jogos de pássaros de<br />

origami para que as famílias possam<br />

usufruir criando passarinhos de papel”.<br />

(Atividade para famílias no Vale<br />

de Hula, Sucot, 2005).<br />

Bat El Rokach, 12 anos, de Nissanit.<br />

“Foi muito divertido. Saímos<br />

em excursão e os guias nos explicaram<br />

as coisas especiais que há aqui,<br />

como o manancial e os animais.<br />

Aprendemos sobre a tarefa do KKL e<br />

foi realmente interessante. Aqui podemos<br />

sair das casas quando caem<br />

os projéteis Kassam”. (Num acampamento<br />

de verão do KKL, especialmente<br />

destinado a crianças de localidades<br />

na linha de fogo).<br />

Kjell Magne Bondevik, primeiro<br />

ministro da Noruega: “Plantar uma<br />

árvore é um investimento para o futuro;<br />

espero que as relações entre<br />

Noruega e Israel continuem se desenvolvendo<br />

e gerando novas ramificações,<br />

como esta árvore” (plantando<br />

um medronho (arbutus andrachne)<br />

no Bosque das Nações).<br />

Yossi Dulah, presidente da Câmara<br />

Municipal de Kfar Tabor: “O parque<br />

é como um diamante incrustado<br />

no coração de nossa comunidade, a<br />

cujo serviço estamos dia-a-dia. Quero<br />

expressar minha gratidão ao KKL<br />

da América do Norte e a vocês, queridos<br />

amigos em Israel. <strong>Com</strong> vossa<br />

ajuda somos co-participes da construção<br />

de Israel e da criação de um<br />

futuro para todos nós”. (A uma delegação<br />

do “Espírito israelense” na<br />

dedicação de un parque doado pelo<br />

KKL da América do Norte).<br />

Ute Lehmann, de Frankfurt: “O<br />

que se vê aqui (o lago Hula), e em<br />

especial o que o KKL tem construído<br />

e desenvolvido para os visitantes<br />

nesta área durante o ano passado,<br />

é realmente impressionante. O desenvolvimento<br />

deste lugar é ótimo.<br />

Até agora, nesta viagem vi umas 120<br />

espécies diferentes de pássaros.<br />

Amo este país e a sua gente muito<br />

profundamente, e isso é o que importa<br />

verdadeiramente”. (Giro de observadores<br />

de pássaros de Israel para<br />

uma delegação de Amigos do KKL<br />

da Alemanha).<br />

Chen Yung Long, embaixador da<br />

República Popular da China em Israel:<br />

“Esta é minha primeira visita, e<br />

me causou uma grande impressão.<br />

Simplesmente, aqui fizeram milagres<br />

no deserto; nós, na China, podemos<br />

aprender muito de vocês e certamente<br />

podemos gerar projetos conjuntos.<br />

Depois de tudo, temos grandes<br />

extensões desérticas”. (Dia aberto no<br />

Aravá, na Estação de Pesquisa e Desenvolvimento<br />

do KKL).<br />

Meir Huss, instrutor na Associação<br />

dos Deficientes Visuais de Haifa:<br />

“Em qualquer momento em que<br />

nossos membros deixam suas quatro<br />

paredes, trata-se de uma experiência<br />

singular para eles, em especial as<br />

saídas para a natureza, e em particular<br />

num dia tão claro de inverno”.<br />

Amos Ben-Eliezer, de Kiriat Haim:<br />

“Sinto-me aqui como um peixe na<br />

água. Para mim, um passeio como<br />

este é um sonho; estas são coisas<br />

que conheço, e tudo é fascinante. A<br />

descrição do trabalho cotidiano na<br />

creche Lavi do KKL, e as variedades<br />

de árvores e arbustos escolhidos<br />

para plantá-los me falam diretamente<br />

ao coração. Estou planejando um<br />

jardim modelo próximo da Sociedade<br />

para Cegos em Haifa, para que os<br />

deficientes visuais possam tocar,<br />

cheirar e saborear uma variedade de<br />

plantas usadas para diversos fins,<br />

como nos lugares especiais do KKL”.<br />

(Tu Bishvat para um grupo de deficientes<br />

visuais num local do KKL no<br />

norte do país).<br />

Shmulik Rifman, presidente do<br />

conselho regional de Ramat Hanéguev:<br />

“Nesta região há 23 granjas.<br />

Vêm visitantes de todas partes, para<br />

conhecer o vinho, os queijos, o azeite<br />

de oliva e as hospedagens junto<br />

a paisagens esplêndidas. Sentimos<br />

que o desenvolvimento e o turismo<br />

ocupam um lugar mais destacado na<br />

vida cotidiana dos habitantes da<br />

região. Sem o KKL, o desenvolvimento<br />

das granjas particulares e a agricultura<br />

regional estariam paradas há<br />

muito tempo”. (Visita às granjas no<br />

Neguev, dezembro de 2005).


ministro de Justiça da<br />

França, Pascal Clément,<br />

confirmou que a juíza de<br />

instrução que investiga o<br />

seqüestro, a tortura e o<br />

assassinato de Ilan Halimi, um jovem<br />

judeu, comerciante de móveis<br />

por um bando armado, considerou “o<br />

anti-semitismo” como “causa agravante”<br />

do crime.<br />

A mãe de Ilan, o judeu de 23 anos<br />

assassinado em Paris, declarou dia 20/<br />

2 ao jornal israelense Haaretz: “Se o<br />

meu filho não fosse judeu, não teria<br />

sido assassinado”. Um dos assassinos<br />

de Ilan reconheceu diante da Justiça<br />

que “decidiram atacar Ilan porque ele<br />

era judeu, e os judeus são ricos”, declarou<br />

Clément num encontro com o<br />

Conselho de Representantes das Instituições<br />

<strong>Judaica</strong>s da França (CRIF). O<br />

grupo se fazia chamar “os bárbaros”,<br />

e era integrado por jovens de um subúrbio<br />

ao norte de Paris, a maioria de<br />

confissão muçulmana.<br />

Youssef Fofana, originário da Costa<br />

do Marfim, 25 anos e chefe do grupo<br />

criminoso, foi detido na Costa do Marfim,<br />

na África, para onde fugiu após a<br />

repercussão do crime. Ele está sendo<br />

extraditado para a França. Interrogado,<br />

Fofana negou ter agido por antisemitismo,<br />

ainda que seu grupo tenha<br />

tentado seqüestrar desde dezembro pelo<br />

menos outras seis pessoas, das quais<br />

quatro eram judeus. Policiais viajaram<br />

a Abidjan para prendê-lo, pois tratavase<br />

de pegar o homem mais procurado<br />

da França, em meio ao impacto que<br />

provocou o caso na opinião pública.<br />

Vários jornais franceses noticiaram o<br />

assassinato em suas capas e prosseguiram<br />

com as últimas revelações do<br />

caso. O Libération deu a manchete: “A<br />

pista anti-semita”, enquanto Le Parisien<br />

destaca “a grande inquietude da comunidade<br />

judaica”.<br />

O primeiro-ministro, Dominique de<br />

Villepin, assegurou aos dirigentes do<br />

CRIF que se saberá de “toda a verdade”<br />

sobre o assassinato de Ilan. Villepin<br />

recordou que a luta contra o<br />

anti-semitismo é “um dever moral” e<br />

uma “prioridade absoluta”. O chefe<br />

do Governo acrescentou que as agressões<br />

anti-semitas caíram na França<br />

47% em 2005, após a onda de ataques<br />

contra interesses e pessoas judias<br />

em 2003 e 2004.<br />

O corpo de Ilan foi descoberto na<br />

periferia de Paris em 13 de fevereiro,<br />

amarrado e com uma venda nos olhos,<br />

com sinais de violência e queimaduras<br />

em 80 por cento de seu corpo. O jovem<br />

faleceu a caminho do hospital.<br />

A mãe da vítima, Ruth Halimi, disse<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Assassinato de jovem francês<br />

teve motivação anti-semita<br />

que a Polícia escondeu uma possível<br />

motivação anti-semita do crime “porque<br />

temia reavivar a confrontação com<br />

os muçulmanos”. “Dissemos aos policiais<br />

que houve outras três tentativas<br />

de seqüestro de jovens judeus, mas<br />

eles insistiam em considerar que o<br />

móvel era puramente criminoso”, queixou-se<br />

Ruth Halimi.<br />

Os familiares não pagaram nenhum<br />

valor a pedido da polícia francesa: “Cinco<br />

dias antes de encontrar Ilan, a polícia<br />

nos disse para que não respondêssemos<br />

às mensagens. Ilan talvez não<br />

tivesse sido assassinado se tivéssemos<br />

respondido”, declarou Ruth Halimi ao<br />

jornal Haaretz.<br />

A quadrilha atraiu Ilan por meio de<br />

uma garota atraente que o fez crer que<br />

estava interessada nele, numa visita à<br />

loja de móveis onde trabalhava, no centro<br />

de Paris. Ao aceder ao encontro<br />

marcado com ela, aconteceu o seqüestro.<br />

O seqüestro, a tortura e o assassinato<br />

de Ilan Halimi, levou a Polícia Judiciária<br />

de Paris a pedir, na semana<br />

seguinte, aos comerciantes que “desconfiem”<br />

de “garotos e garotas jovens<br />

e bonitos” que tentassem elogiá-los.<br />

Cerimônia<br />

O presidente francês, Jacques Chirac,<br />

e o primeiro-ministro, Dominique<br />

de Villepin, assistiram à cerimônia religiosa<br />

numa sinagoga de Paris em homenagem<br />

ao jovem judeu torturado e<br />

assassinado. Cerca de 1.500 pessoas<br />

lotaram as dependências da Sinagoga<br />

da Vitória, e centenas delas se amontoaram<br />

na entrada diante da impossibilidade<br />

de ter acesso ao interior do<br />

centro religioso.<br />

Vários membros do Governo, assim<br />

como o líder do Partido Socialista, François<br />

Hollande, confortaram a comunidade<br />

judaica francesa, abalada pelo<br />

crime. Chirac consolou a mãe de Halimi<br />

logo após entrar na Sinagoga, na<br />

qual o rabino leu uma mensagem antes<br />

que o ato religioso acabasse com<br />

um canto de paz.<br />

O crime brutal revelou a conexão<br />

existente entre a criminalidade comum<br />

e a ideologia anti-semita estimulada por<br />

setores islâmicos, nos explosivos subúrbios<br />

parisienses, onde a violência procura<br />

justificar a delinqüência dos imigrantes<br />

excluídos da sociedade. Seqüestrado,<br />

Halimi foi levado para Bagneux,<br />

subúrbio do sul de Paris. Entre seus captores,<br />

incluíam-se muçulmanos “politizados”<br />

(um deles, filho de um jornalista<br />

egípcio, correspondente estrangeiro na<br />

França). Lá o rapaz ficou três semanas<br />

trancado no porão de um imóvel.<br />

A gangue telefonou várias vezes para<br />

a família de Halimi pedindo um resgate<br />

de 500 mil euros (cerca de R$ 1,2<br />

milhão), depois abaixado para 200 mil<br />

euros (R$ 500 mil); fazia-a ouvir versos<br />

do Corão enquanto, ao fundo, Ilan gritava<br />

submetido às mutilações. Enviaram<br />

fotos do seqüestrado, sempre com<br />

os olhos vendados. Em suas mensagens,<br />

diziam: “Os euros ou preparem as pompas<br />

fúnebres”.<br />

Culminando o horror, parentes e<br />

vizinhos dos seqüestradores, ao saberem<br />

da existência de um refém judeu<br />

nas redondezas, ofereceram colaboração,<br />

tomando parte nas torturas.<br />

Quando a gangue percebeu que<br />

a família, de classe média baixa não<br />

poderia pagar o resgate exigido, incendiou<br />

o corpo da vítima e abandonou-a<br />

agonizante no dia 13 de fevereiro. Halimi<br />

foi encontrado perto dos trilhos do<br />

trem da estação Sainte-Genevieve-des-<br />

Bois, fora de Paris, amarrado a uma<br />

árvore. Estava nu, amordaçado, manietado,<br />

faminto, com queimaduras e cortes<br />

em 80% de seu corpo. A caminho<br />

do hospital, Ilan morreu por causa dos<br />

ferimentos.<br />

Segundo a polícia, a gangue “manteve-o<br />

nu e amarrado por semanas. Cortaram<br />

pedaços de sua carne, dedos e<br />

orelhas, e no final jogaram um líquido<br />

inflamável em seu corpo e o incendiaram.<br />

Foi um dos assassinatos mais cruéis<br />

que já vimos”, disseram os policiais. Um<br />

dos jovens torturadores detido confessou<br />

que seus cúmplices revezavam-se<br />

para apagar cigarros na testa da vítima<br />

dizendo que odiavam judeus.<br />

A polícia encontrou com um dos suspeitos<br />

folhetos do <strong>Com</strong>itê de Caridade<br />

Palestino (associado ao Hamas), e descobriu<br />

que a gangue já havia tentado<br />

VJ INDICA<br />

Paisagens da memória<br />

Ruth Klüger<br />

Editora 34<br />

raptar outro judeu antes,<br />

ferido um judeu de 50<br />

anos que teve de ser hospitalizado,<br />

e jogado uma<br />

granada de mão contra<br />

um médico judeu.<br />

O ministro do Interior<br />

Nicolas Sarkozy, declarou<br />

à Assembléia Nacional<br />

que a gangue visava judeus,<br />

convencida de que<br />

“judeus têm dinheiro”. O<br />

primeiro-ministro Dominique<br />

de Villepin chamou a<br />

polícia à responsabilidade<br />

por ter recusado inicialmente<br />

as motivações antisemitas<br />

do seqüestro.<br />

A Justiça já implicou Ilan Halimi<br />

17 pessoas na morte de<br />

Halimi, das quais 14 foram<br />

presas e acusadas pela circunstância<br />

agravante de crime cometido devido<br />

à religião da vítima. Entre os presos<br />

estão os seqüestradores, o porteiro do<br />

imóvel onde a vítima foi torturada, membros<br />

do bando, e três mulheres utilizadas<br />

como iscas nesta e outras tentativas<br />

de seqüestro, além de um suposto<br />

“braço direito” do grupo, suspeito de<br />

crimes de extorsão.<br />

No dia 26 de fevereiro, em protesto<br />

a esse crime hediondo, o CRIF, a Associação<br />

SOS-Racismo e a Liga Contra o<br />

Racismo e o Anti-semitismo (Licra) organizaram<br />

uma passeata: entre 200 mil<br />

(cálculos dos organizadores) e 33 mil<br />

pessoas (cálculos da polícia), incluindo<br />

políticos como o ministro Sarkozy e o<br />

ex-premiê Lionel Jospin, artistas e intelectuais,<br />

participaram do protesto<br />

contra o racismo e o anti-semitismo na<br />

capital parisiense.<br />

LIVRO<br />

Viena 1938. Uma menina de sete anos ouve gritos daqueles que celebram a<br />

anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Vivendo no interior da comunidade<br />

judaica, Ruth Klüger viu sua cidade natal ser convertida gradualmente<br />

em uma espécie de prisão. Deportada em 1942 junto com sua mãe para o<br />

campo de Terezin, foi transportada num trem de carga em 1944, aos doze<br />

anos de idade, para Auschwitz-Birkenau. De lá escapa no último minuto, ao ser<br />

escolhida para compor um grupo de trabalhos forçados em Christianstadt. É um relato autobiográfico<br />

inesquecível e um acerto de contas exemplar com o acontecimento histórico mais terrível<br />

do século XX.<br />

5


6<br />

O revisionista David<br />

Irving: oscilação em negar<br />

o Holocausto<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Tribunal Regional de Viena<br />

condenou dia 20/2 o<br />

revisionista britânico David<br />

Irving a três anos de prisão<br />

sem condicional por negar<br />

o Holocausto e a política<br />

de extermínio nazista durante a<br />

Segunda Guerra Mundial.<br />

Diante do tribunal, Irving se declarou<br />

culpado de negar o Holocausto -<br />

crime previsto no código penal austríaco<br />

-, o que deu ao historiador popularidade<br />

nos círculos revisionistas<br />

de extrema direita, especialmente<br />

neonazistas, racistas e<br />

até entre radicais islâmicos.<br />

A condenação, por unanimidade,<br />

por parte dos oito membros<br />

do júri se baseia em dois<br />

discursos públicos feitos na<br />

Áustria em 1989, quando Irving<br />

negou a existência de câmaras<br />

de gás em Auschwitz e disse<br />

que a “Noite dos Cristais”, a primeira<br />

grande perseguição violenta<br />

contra os judeus da Alemanha<br />

em 1938, não foi cometida<br />

pelos nazistas.<br />

Ao dar o veredicto, o juiz Peter Liebetreu<br />

disse que “a confissão (prévia<br />

de Irving) não pareceu um ato de arrependimento,<br />

e por isso não se levou<br />

em conta no peso da condenação”.<br />

Revisionista condenado a três anos<br />

de prisão por negar o Holocausto<br />

David Irving se declara culpado, mas depois volta a negar o genocídio dos judeus<br />

“Estou comovido, muito comovido”,<br />

disse Irving à imprensa após o veredicto,<br />

na saída do edifício, onde estavam<br />

partidários do historiador revisionista<br />

para mostrar apoio.<br />

A acusação contra Irving prevê punição<br />

de até 10 anos de prisão, mas<br />

muitos analistas previam que com a<br />

aceitação das acusações e a contrição<br />

pública do acusado, declarandose<br />

culpado, a condenação seria de<br />

apenas alguns meses, por isso a decisão<br />

final supera amplamente as suposições<br />

iniciais.<br />

Condenado, volta a negar<br />

O britânico David Irving, entretanto,<br />

reiterou na quinta-feira 2/3, os comentários<br />

que negam a existência do<br />

Holocausto, uma semana depois de ter<br />

sido condenado a três anos de prisão<br />

pelo tribunal austríaco por ter negado<br />

a morte de seis milhões de judeus durante<br />

a Segunda Guerra Mundial.<br />

“Não há evidência de um extermínio<br />

organizado em massa”, declarou<br />

Irving, de 67 anos, numa entrevista à<br />

Agência de Imprensa Austríaca, concedida<br />

na prisão de Viena onde está encarcerado.<br />

E negou a existência de “um<br />

programa contra os judeus” durante o<br />

Terceiro Reich alemão, ao mesmo tempo<br />

que destacou que “não foi contra<br />

todos os judeus, ex professo”.<br />

“Se tivesse existido um programa,<br />

200.000 judeus não poderiam ter emigrado<br />

entre 1933 e 1939”, declarou.<br />

“Teria sido melhor se o líder nazista,<br />

Adolf Hitler, e o chefe das SS, Heinrich<br />

Himmler, tivessem trocado judeus por<br />

moeda estrangeira”.<br />

“Devemos reagir. Ninguém pode ignorar<br />

isto”, afirmou a promotoria britânica<br />

depois de uma série de comentários<br />

semelhantes feitos na quarta-feira<br />

1º/3, por Irving em uma entrevista concedida<br />

à BBC.<br />

Irving se declarou culpado no começo<br />

do julgamento, em fevereiro, de<br />

ter negado o Holocausto em 1989, mas<br />

garantiu que havia mudado de opinião<br />

e que reconhecia a existência das câmaras<br />

de gás em Auschwitz.<br />

Na quinta-feira 2/3, o historiador<br />

criticou a lei pela qual foi condenado,<br />

qualificando a mesma de ridícula<br />

e absurda, além de comparar o comportamento<br />

da Áustria com o da Alemanha<br />

nazista.<br />

“Estou preso aqui, apesar de apenas<br />

ter utilizado a minha liberdade de<br />

expressão. Deveriam se vingar com<br />

seus próprios cidadãos, não com os estrangeiros”,<br />

disse.<br />

Em suas primeiras declarações, Irving<br />

se dissera culpado das acusações contra<br />

ele, de acordo com seu advogado, Elmar<br />

Kresbach, ao entrar no tribunal.<br />

Em seu discurso de abertura, durante<br />

o julgamento, o promotor Michael<br />

Klackl afirmou que Irving “é tudo menos<br />

um historiador, é um ambicioso falsificador<br />

da história”.<br />

O promotor acusou o polêmico britânico<br />

de tentar difundir uma versão<br />

falsa da história da Segunda Guerra<br />

Mundial, segunda a qual “não houve<br />

câmaras de gás, nem nenhum assassinato<br />

sistemático de massas organizado<br />

pelos nazistas”.<br />

Michael Klackl lembrou que, por diversas<br />

vezes, Irving se referiu publicamente<br />

às câmaras de gás dos campos<br />

de concentração e ao extermínio promovido<br />

pelos nazistas como um conto<br />

de fadas e uma mentira. O promotor<br />

também disse que o britânico já negou<br />

o assassinato de milhões de pessoas.<br />

Na versão de Irving, houve crimes<br />

isolados durante o nazismo, mas relativamente<br />

poucos. Ao fazer um resumo<br />

das teses defendidas nos livros do acusado,<br />

o promotor destacou que ele afirma<br />

que a maioria das vítimas dos campos<br />

de concentração morreu de causa<br />

natural, como epidemias.


egundo o Sêfer<br />

Yetzirá, cada<br />

mês do ano judaico<br />

tem uma<br />

letra do alfabeto<br />

hebraico, um signo do<br />

Zodíaco, uma das doze<br />

tribos de Israel, um sentido e um<br />

membro controlador do corpo que<br />

correspondem a ele.<br />

Adar é o décimo segundo mês do<br />

Calendário Judaico.<br />

A palavra Adar é cognata ao hebraico<br />

Adir, que significa “força”.<br />

Adar é o mês da boa sorte para o<br />

povo judeu. Nossos Sábios dizem a<br />

respeito de Adar: “Sua mazal [sorte]<br />

é forte”.<br />

Purim, o dia festivo de Adar, este<br />

ano nos dias 13 e 14/3, comemora a<br />

“metamorfose” da aparente má sorte<br />

dos judeus (como pensava Haman)<br />

para boa. “Quando chega Adar, nós<br />

intensificamos em júbilo”. A Festa de<br />

Purim assinala o ponto alto na alegria<br />

do ano inteiro. O ano judaico<br />

começa com o júbilo da redenção de<br />

Pêssach e termina com a alegria da<br />

redenção de Purim. “O júbilo quebra<br />

todas as barreiras”.<br />

O júbilo de Adar é o que faz deste<br />

mês o mês “grávido” do ano (i.e.,<br />

sete dos dezenove anos no ciclo do<br />

calendário judaico são “anos embolísmicos”<br />

– “grávidos” com um mês<br />

de Adar adicional).<br />

Quando há dois Adars, Purim é<br />

celebrado no segundo Adar, para conectar<br />

a redenção de Purim com a<br />

redenção de Pêssach. Assim, vemos<br />

que o segredo de Adar e Purim é “o<br />

fim está cunhado no início”.<br />

Letra: kuf<br />

A letra kuf significa “macaco”<br />

(kof), o símbolo do riso no mês de<br />

Adar. Segundo a expressão “como um<br />

macaco no rosto do homem”, o kuf<br />

também simboliza a fantasia, um costume<br />

aceito em Purim. Antes do milagre<br />

de Purim, o próprio D-us “ocultava<br />

Sua face” de seus filhos Israel<br />

(em toda a história de Purim, como<br />

está relatada no Livro de Ester, Seu<br />

nome não aparece uma vez sequer).<br />

Ao esconder inicialmente a própria<br />

identidade, fingindo ser outra pessoa,<br />

a essência interior do verdadeiro<br />

“eu” da pessoa torna-se revelado. Em<br />

Purim, atingimos o nível da “cabeça<br />

desconhecida” (“a cabeça que não<br />

se conhece nem é conhecida dos<br />

outros”), o estado de total ocultação<br />

existencial do ser pelo ser, pelo<br />

mérito de “dar à luz” um supremo<br />

novo ser.<br />

A palavra kuf também significa<br />

“buraco da agulha”. Nossos Sábios<br />

ensinam que nem mesmo no sonho<br />

mais irracional pode-se ver um elefante<br />

passando pelo buraco de uma<br />

agulha. Mesmo assim, em Purim<br />

vive-se esta grande maravilha que,<br />

na Cabalá e Chassidut, simboliza a<br />

verdadeira essência infinita da luz<br />

transcendente de D-us entrando no<br />

contexto finito da realidade física<br />

e revelando-se por completo à<br />

alma judaica.<br />

Mazal: dagim (Peixes)<br />

Peixes são criaturas do “mundo<br />

oculto” (o mar). Assim também são<br />

as almas de Israel, “peixes” que nadam<br />

nas águas da Torá. A verdadeira<br />

identidade e sorte de Israel é invisível<br />

neste mundo. A revelação de Purim,<br />

a revelação da verdadeira identidade<br />

de Israel, reflete a revelação<br />

do Mundo Vindouro (o milagre de<br />

Purim é entendido para refletir neste<br />

mundo o supremo milagre: a ressurreição<br />

no Mundo Vindouro).<br />

A palavra “dag” (singular de “dagim”)<br />

é interpretada para representar<br />

o “tikun” (retificação) de da’ag<br />

– “preocupar-se”. Na Torá, a palavra<br />

para peixe – dag – na verdade aparece<br />

escrita uma vez como da’ag: na<br />

época de Nechemia, alguns judeus<br />

não observantes profanaram a santidade<br />

do Shabat vendendo peixe no<br />

mercado de Jerusalém. Seu “peixe”<br />

tinha se transformado em excessiva<br />

“preocupação” pelo ganho do próprio<br />

sustento. Na direção oposta, o<br />

peixe do júbilo de Purim, a forte<br />

(embora inicialmente oculta, como<br />

peixe) mazal de Adar, converte toda<br />

a preocupação na alma do homem na<br />

suprema alegria da redenção com o<br />

novo nascimento do ser, da “cabeça<br />

desconhecida”.<br />

Tribo Naftali<br />

Na Cabalá, o nome Naftali é lido<br />

como duas palavras: nofet li, “doçura<br />

é para mim”. A mitsvá em Purim, de<br />

atingir o nível da “cabeça desconhe-<br />

cida” ao beber vinho, etc., é expresso,<br />

nas palavras de Nossos Sábios,<br />

como: “A pessoa em Purim é<br />

obrigada a tornar-se doce, até que<br />

seja incapaz de diferenciar entre<br />

‘maldito seja Haman’ e ‘abençoado<br />

seja Mordechai’”.<br />

Esta é a expressão de júbilo e<br />

riso ao nível de Naftali – nofet li.<br />

Nosso Patriarca Yaacov abençoou<br />

seu filho Naftali: “Naftali é um cervo<br />

enviado [mensageiro], que dá<br />

[expressa] palavras eloqüentes”.As<br />

“palavras eloqüentes” de Naftali provocam<br />

júbilo e riso aos ouvidos de<br />

todos que escutam. Ao final da Torá,<br />

Moshê abençoou Naftali: “A vontade<br />

de Naftali está satisfeita…” Na<br />

Chassidut é explicado que “vontade<br />

satisfeita” (seva ratzon) refere-se ao<br />

nível da vontade na dimensão interior<br />

de keter, onde toda experiência<br />

é puro deleite, o estado de ser<br />

no qual a pessoa não deseja nada<br />

além de si mesma.<br />

As três letras que compõem o<br />

nome Haman possui seis permutações.<br />

Haman = 95; 6 x 95 = 570 =<br />

rasha (perverso), razão pela qual Haman<br />

é chamado “Haman, o perverso”.<br />

570 (também) Naftali, que leva<br />

alegria e risos ao jogar o jogo de<br />

seis permutações de Haman. Na Cabalá,<br />

está explicado que a “eloqüência”<br />

de Naftali reflete sua sabedoria<br />

para permutar palavras em geral<br />

(bem como examinar gematriot, tais<br />

como arur Haman [“maldito seja<br />

Haman”] = 502 = baruch Mordechai<br />

[“bendito seja Mordechai”], o “jogo<br />

mais prazeroso” (sha’ashu’a) do estudo<br />

de Torá).<br />

<strong>Com</strong>o foi explicado previamente,<br />

os meses de Tishrei e Cheshvan correspondem<br />

(segundo o Arizal) às duas<br />

tribos de Ephraim e Menashe, os dois<br />

filhos de Yossef. Yaacov abençoou<br />

seus dois netos Ephraim e Menashe<br />

para serem como peixes: “E eles serão<br />

como peixes no meio da terra”.<br />

Estas duas tribos (o início do ano a<br />

partir de Tishrei) refletem-se em Adar<br />

e Naftali (o final do ano a partir de<br />

Nissan), pois Adar divide-se em dois<br />

(assim como Yossef se divide em dois)<br />

peixes (Ephraim e Menashe). O apoio<br />

numérico para isso é que quando<br />

Ephraim (331) e Menashe (395) se<br />

combinam com Naftali (570): 331<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

O Mês de Adar<br />

– de 1º a 29 de março<br />

Purim, a festa da sorte e da alegria<br />

mais 395 mais 570 = 1296 = 36 ao<br />

quadrado = 6 para o quarto poder.<br />

Sentido: Riso (tzchoc)<br />

O riso é a expressão da alegria<br />

desenfreada, que resulta de testemunhar<br />

a luz saindo da escuridão – “a<br />

vantagem da luz sobre as trevas” –<br />

como é o caso do milagre de Purim. O<br />

epítome do riso na Torá é o caso de<br />

Sara no nascimento de Yitschac (cujo<br />

nome deriva da palavra tzchok): “D-us<br />

fez-me rir, quem quer que<br />

me escute rirá comigo”.<br />

Dar à luz aos 90 anos<br />

(e Avraham aos 100),<br />

após ser estéril e fisicamente<br />

incapaz<br />

de ter filhos é testemunhar<br />

a Divina<br />

Luz e o milagre emergindo<br />

da total escuridão.<br />

A palavra em hebraico<br />

para “estéril” é composta das<br />

mesmas letras (na mesma ordem)<br />

que a palavra para “trevas”.<br />

Purim vem da palavra pru,<br />

“crescei e multiplicai-vos”. Sobre<br />

Yitschac, a personificação do riso na<br />

Torá, diz-se que “o temor [fonte de<br />

reverência, i.e., D-us] de Yitschac”.<br />

Esta expressão também pode ser lida<br />

como “o temor rirá” – a essência do<br />

medo se metamorfoseará na essência<br />

do riso. Quanto a Purim, o temor<br />

de (o decreto de) Haman se transforma<br />

no riso exuberante da Festa<br />

de Purim.<br />

Controlador: o baço<br />

Nossos Sábios declaram explicitamente<br />

que “o baço ri”. À primeira<br />

vista, isso parece paradoxal, pois o<br />

baço é considerado o local do “humor<br />

negro”, a fonte de todos os estados<br />

de depressão e desespero. Assim<br />

como descrevemos acima, todos<br />

os fenômenos de Adar e Purim são<br />

essencialmente paradoxais, pois todos<br />

eles derivam da “cabeça desconhecida”,<br />

e todos eles representam<br />

estados de transformação existencial<br />

e metamorfose. A “metodologia”<br />

na Torá que “modela” estes fenômenos<br />

é a sabedoria da permutação,<br />

como foi descrito acima. No que diz<br />

respeito ao “humor negro” – “mará<br />

shechorá” – suas próprias letras<br />

permutam-se para grafar “hirhur sameach”<br />

– “um pensamento feliz!”.<br />

(www.chabad.org.br).<br />

7


8<br />

Elias Canetti<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

* Joseph Eskenazi<br />

Pernidji é advogado e<br />

escritor. Livros publicados:<br />

pela Imago Editora: “Girassóis<br />

de Van Gogh – As flores do sol”<br />

(crônicas); “Das Fogueiras da Inquisição<br />

às Terras do Brasil – a viagem de 500 anos<br />

de uma família judia”; “Homens e Mulheres<br />

na Guerra do Paraguai”; “A Saga dos<br />

Cristãos-Novos” pela Editora Relume<br />

Dumará :“Tribunal da História -<br />

Julgando as Controvérsias<br />

da História <strong>Judaica</strong>”<br />

(co-autoria com<br />

diversos autores).<br />

Um olhar sobre Elias Canetti<br />

Joseph Eskenazi Pernidji*<br />

ilho de judeus sefaradim,<br />

Elias Canetti, prêmio Nobel<br />

de Literatura em 1981,<br />

nasceu em Ruschuk, na<br />

Bulgária. Filho de um Canetti<br />

e de uma Arditi, teve, na sua primeira<br />

infância, a vida típica das famílias<br />

de judeus balcânicos de origem<br />

hispânica. Sua língua materna<br />

foi o ladino1 , na qual se expressavam<br />

não só seus pais como toda a<br />

sua parentela.<br />

No início do<br />

século XX, dada a<br />

proximidade com<br />

o império austro-húngaro,sobretudo<br />

os judeus<br />

gregos e<br />

búlgaros tinham<br />

uma grande atração<br />

pela cultura<br />

alemã (austríaca).<br />

Viena com<br />

seus doutores e<br />

suas universidades<br />

era tida por<br />

eles como centro<br />

cultural da Europa.<br />

Canetti, ironicamente,<br />

em<br />

um de seus ensaios,<br />

escreveu<br />

que em Viena, em<br />

cada duas pessoas, uma era “doutor”.<br />

Ao receber o prêmio Nobel, no<br />

discurso de recepção que foi proferido<br />

pelo Dr. Johannes Edfelt, este<br />

lhe atribuiu como pátria a língua<br />

alemã. Se entendermos que a língua<br />

é um dos elementos marcantes da<br />

nacionalidade, sem dúvida, Elias<br />

Canetti é um autor alemão, pois neste<br />

idioma escreveu toda a sua obra.<br />

Embora fosse um crítico mordaz<br />

das famílias sefaradim por se atribuírem<br />

as mesmas um halo de<br />

nobreza por conta da<br />

sua descendência<br />

espanhola, não<br />

esqueceu o ladino<br />

de sua infância<br />

na qual<br />

emitiu as suas<br />

primeiras palavras.<br />

O alemão<br />

herdado<br />

de sua mãe<br />

foi a sua grande<br />

paixão.<br />

As obras seminais<br />

de Canetti<br />

são o romance<br />

“Auto-da-fé” e “Massa e Poder”. São<br />

produções de eminente caráter psicossocial,<br />

escritas no mais puro alemão<br />

literário e constituem o que hoje<br />

o público chamaria de uma leitura<br />

difícil. Os seus mais honestos tradutores<br />

confessam que o leitor não poderá<br />

apreender inteiramente o pensamento<br />

introspectivo de Canetti se<br />

não conhecer os originais. Sua linguagem<br />

o aproxime de Joyce e de<br />

Musil2 . Filho espiritual de Karl Klaus3 ,<br />

foi considerado por Thomas Mann um<br />

autor adiante do seu tempo. A sua<br />

incursão na dramaturgia teatral revelou<br />

o “teatro do absurdo”, linha<br />

mais tarde seguida por Ionescu. Se<br />

os críticos literários esmiuçaram a<br />

sua obra e dela tiraram as mais diversas<br />

conclusões, para entender<br />

Canetti é preciso ler a sua autobiografia<br />

escrita por volta dos anos 60,<br />

muito após a publicação dos livros<br />

que o tornaram famoso. Trata-se de<br />

uma trilogia iniciada com “Die gerettete<br />

Zunge Geschichte einer Jugend”<br />

(“A Língua Absolvida”), passando<br />

por “Die Fackel im Obr Lebengeschichte,<br />

1921-1931” (“Uma Luz<br />

em Meu Ouvido”), e terminando com<br />

“Das Augenspiel Lebengeschicht:<br />

1931-1937” (“O Jogo dos Olhos”).<br />

Seu romance “Die Blendung”, cuja<br />

tradução literal seria O Cegamento,<br />

ao passar para o inglês, o francês e<br />

os idiomas latinos em geral, foi traduzido<br />

como “Auto-de-Fé”. Isto porque<br />

o personagem Kien se confunde<br />

com a sua biblioteca, ao ponto de<br />

perguntar-nos se a figura principal<br />

do romance não seria a própria biblioteca.<br />

São livros que falam, que<br />

discutem entre si e com o seu dono.<br />

Depois de muitas peripécias, o romance<br />

termina num verdadeiro holocausto<br />

em que, entre labaredas de<br />

fogo, se queimam os livros e seu proprietário.<br />

As letras saem dos livros<br />

implorando por sua vida. Tudo termina<br />

como se fora um grande autode-fé,<br />

com Kien soltando entre as<br />

chamas uma gargalhada tão estrepitosa<br />

como nunca havia soltado em<br />

toda a sua vida.<br />

Na sua juventude, passou por<br />

Manchester, Zurique, Frankfurt, Berlim,<br />

fixando-se, na maior parte do<br />

tempo, em Viena. Nas vésperas da<br />

invasão da Áustria por Hitler, mudouse<br />

para a Inglaterra onde terminou<br />

seus dias em 1984. Embora tenha<br />

passado mais de 40 anos de sua vida<br />

na Inglaterra, não se nota em sua<br />

obra reflexos da sua “vida inglesa”.<br />

Diferentemente de outros refugiados<br />

do nazismo, que encontraram guarida<br />

na Inglaterra e nos Estados Unidos,<br />

Canetti se revelou passivo durante<br />

a Segunda Guerra Mundial.<br />

Dedicou um tempo enorme à sua<br />

guerra particular contra o grande<br />

poeta T.S. Elliot.<br />

Sejam quais forem as influências<br />

que exerceram sobre ele essas cidades,<br />

foi, na verdade, um vienense sob<br />

todos os aspectos. Caráter introspectivo,<br />

desde muito cedo revelou seu<br />

talento, sua genialidade e, sobretudo,<br />

sua ânsia de saber. Do saber, no<br />

seu mais profundo sentido, numa<br />

sede inesgotável de aprender cada<br />

vez mais sobre todos os assuntos que<br />

explorava a sua mente inquiridora.<br />

Não se rendeu às teorias de Freud<br />

e ironizava o chamado “ato falho”<br />

que, segundo ele, passou a ser moda<br />

vienense. Na verdade, entretanto,<br />

viveu um típico drama freudiano nas<br />

relações com sua mãe. Mulher voluntariosa,<br />

bela e profundamente culta,<br />

influiu poderosamente na educação<br />

de Canetti, mantendo com o mesmo<br />

diálogos altamente eruditos, discutindo<br />

os clássicos e os autores da<br />

época. Paixão e ódio conturbaram<br />

esse relacionamento. Considerandose<br />

ligado à mãe por um elo que o<br />

escravizava, lutou para libertar-se de<br />

sua influência, luta esta que terminou<br />

num afastamento definitivo.<br />

Freqüentador dos círculos mais<br />

intelectualizados de Viena, mantinha<br />

visitas constantes aos famosos “cafés”<br />

da cidade onde, em longas conversas,<br />

escolhia os seus interlocutores,<br />

pois não tolerava tagarelices de<br />

autores ou personagens menores dentro<br />

da sua ótica cáustica de julgamento.<br />

Arrasava sem piedade ícones<br />

da literatura aceitos pelo grande público,<br />

levando ao ridículo autores<br />

como Stephan Zweig e Emil Ludwig.<br />

Desprezou Heine e, quando em Berlim,<br />

recebeu com frieza a “Threepenny<br />

Opera”, de Bertolt Brecht.<br />

Canetti era um grande conversador.<br />

A discussão de qualquer assunto<br />

assumia em sua mente o caráter<br />

de uma batalha. E na batalha<br />

haveria, obrigatoriamente, vencedores<br />

e perdedores.<br />

Seu desprezo pelo dinheiro em si e<br />

por todos aqueles que constituíam o que<br />

ele chamava a burguesia dos comerciantes,<br />

industriais e banqueiros, cortava-lhe<br />

a própria carne, pois era nessa<br />

classe que se situava a sua família.<br />

Não hesitou em apontar tipos avarentos<br />

e homens de negócio de ori-<br />

gem sefaradi conhecidos de sua família,<br />

descrevendo-os como verdadeiros<br />

monstros. Uma das figuras era<br />

de tal modo miserável que, apesar de<br />

milionário, vestia-se de mendigo<br />

para pedir esmolas, e na sua velhice<br />

carcomida, queimava cédulas para<br />

não deixá-las para seus herdeiros,<br />

personagem este que coabitava com<br />

aquela que viria a ser a sua primeira<br />

mulher, Veza, também de uma família<br />

tradicional sefaradi, os Calderón.<br />

Ao traçar o perfil do Harpagão, que<br />

vivia achando que lhe roubavam o<br />

dinheiro, valeu-se, como em outras<br />

ocasiões, do ladino para caracterizar<br />

tipos e pessoas de origem sefaradi:<br />

“Me arrovaron las parás” (Me roubaram<br />

o dinheiro).<br />

Essas tiradas em ladino aparecem<br />

de vez em quando, aqui e ali, na sua<br />

autobiografia. Sempre considerou o<br />

ladino, embora o usasse freqüentemente<br />

com seus parentes, uma língua<br />

de cozinha, e demonstrou sua<br />

enorme surpresa quando, ainda jovem,<br />

em férias na sua cidade natal, encontrou<br />

uma enorme efervescência em<br />

torno da imigração para Israel e um<br />

intenso proselitismo sionista. O que<br />

lhe chamou atenção foi um primo seu<br />

que fazia fervorosos discursos em ladino.<br />

Pela primeira vez, percebeu que<br />

o ladino também poderia ser usado<br />

não só para atrair as massas como em<br />

produções literárias.<br />

<strong>Por</strong> mais que se vasculhe a obra<br />

de Canetti, não encontraremos nela<br />

qualquer influência da cultura judaica<br />

mesmo nas maiores introspecções<br />

filosóficas ou quando desnuda o seu<br />

próprio eu na sua autobiografia. Ao<br />

contar a sua vida nos anos 30, o<br />

nome de Hitler passa de raspão em<br />

uma das páginas da trilogia.<br />

Quando escreveu, entretanto,<br />

“Massa e Poder”, muito antes da autobiografia,<br />

analisou o nacional-socialismo<br />

de Hitler, determinando que<br />

só foi possível ao povo alemão segui-lo<br />

pelo que ele considera o centro<br />

da alma germânica, isto é, a adoração<br />

e o respeito pelo exército, a<br />

massa do poder.<br />

Na sua percepção, ainda que pareça<br />

estranho, atribuiu como causa<br />

do holocausto, da passividade ou<br />

mesmo do apoio dado pelo povo alemão,<br />

a monstruosa inflação que se<br />

apoderou da Alemanha depois da<br />

Primeira Guerra Mundial. Considerando<br />

o dinheiro o centro da atenção<br />

do homem, a sua desvalorização, o<br />

seu valor reduzido a nada, criaria uma<br />

sensação de vazio, fazendo com que


as mentes passassem a não dar importância<br />

à âncora em que se haviam<br />

agarrado durante toda a vida.<br />

Essa sensação de rejeição a um dinheiro<br />

que nada valia e que fora<br />

o sustentáculo de uma nação, deteriorou<br />

os espíritos. <strong>Com</strong> a propaganda<br />

de que os judeus eram<br />

os “donos do dinheiro”, a massa<br />

da população foi induzida a crer<br />

que a destruição dos judeus era<br />

tão descartável como o dinheiro<br />

sem valor. Do mesmo modo que se<br />

queimavam em protesto as cédulas<br />

em praça pública, a fim de extirpar<br />

o mal, também se poderia<br />

queimar e destruir os judeus.<br />

Esta percepção ilustra bem<br />

como funcionava a mente de Canetti.<br />

Um dos seus críticos chegou<br />

à conclusão que o cerne do<br />

seu pensamento foi o eterno “combate<br />

do homem contra a morte”. É<br />

esse combate que garante a sobrevivência<br />

da espécie.<br />

Judeus como Walter Benjamin<br />

e Stephan Zweig se suicidaram por<br />

não terem suportado a perda de<br />

suas raízes alemãs e austríacas. O<br />

fato de Canetti ter nascido numa<br />

família sefaradi, adotando-lhe costumes<br />

e culinária, falando sua língua,<br />

não deixou de impregnar-lhe<br />

um sentido de vida que pode ser<br />

traduzido em raízes que não perdeu.<br />

Talvez isto explique, juntamente<br />

com o seu perene “combate<br />

à morte”, não ter ele apelado para<br />

o suicídio, apesar de seu “mundo”<br />

ter ruído diante dos próprios olhos.<br />

O LEITOR<br />

ESCREVE<br />

Pesar por Ilan Halimi<br />

Prezados Amigos:<br />

Queremos expressar o nosso profundo<br />

pesar pela morte trágica de<br />

Ilan Halimi, em Paris. Os nossos corações<br />

se sensibilizam com sua família,<br />

os amigos e a <strong>Com</strong>unidade <strong>Judaica</strong>.<br />

Gostaríamos que vocês soubessem<br />

que compartilhamos essa dor e<br />

pesar com vocês, e nesses dias lembramo-nos<br />

de vocês em nossas orações<br />

com amor. Tais atos de terrorismo<br />

não podem ser tolerados pela comunidade<br />

mundial, e nós já enviamos<br />

uma carta à Embaixada da França<br />

em Brasília, e para o Cônsul Geral<br />

da França em São Paulo, solicitando<br />

que sejam tomadas providências da<br />

parte das autoridades francesas contra<br />

o crescente número de atos de<br />

Canetti, quando enfadado,<br />

costumava cortar abruptamente as<br />

conversas. Em sua mente vinhalhe<br />

a lembrança de seu avô que<br />

quando achava que as crianças,<br />

com suas brincadeiras, haviam<br />

passado do limite, gritava em ladino:<br />

“Ya basta!”<br />

Ficou-lhe na memória o perfume<br />

das famosas rosas búlgaras e<br />

quando esteve junto ao leito de<br />

morte de sua mãe, levou-lhe rosas<br />

que a inebriavam, fazendo-lhe recordar<br />

os aromas dos jardins de<br />

sua terra natal. Os gritos e as correrias<br />

das crianças entre os irmãos<br />

e primos voltavam-lhe à mente e<br />

nesse fugidio momento respirava<br />

a melodia do ladino. Mas, na verdade,<br />

tudo não passava de um<br />

pequeno traço da pátria búlgara<br />

e de sua origem sefaradi. Navegou<br />

para o porto das celebridades<br />

através de uma pátria adotiva que<br />

foi a língua alemã.<br />

É em “Uma Luz em Meu Ouvido”,<br />

que Canetti cria a fantasia<br />

das “máscaras acústicas”. Era possível<br />

ouvir luzes e imagens e através<br />

dessa audição construir perfis<br />

de seres humanos sem a necessidade<br />

de vê-los ou tocá-los. A<br />

sensibilidade do poeta parnasiano<br />

é também capaz de dar asas à<br />

profundidade do amor, que lhe<br />

chega aos ouvidos como as luzes<br />

de Canetti. A lira de Olavo Bilac<br />

ouviu estrelas:<br />

violência na França. Unidos com vocês<br />

em sua dor.<br />

Irmãs Adola e Nechama<br />

Irmandade Evangélica de Maria no<br />

Brasil Curitiba - PR<br />

Ótima impressão<br />

Senhores editores:<br />

Adorei a seção “Receitas de Griffe”.<br />

Tomei a liberdade de salvar as<br />

que eu não conhecia nos Meus Documentos<br />

do computador. Tive uma ótima<br />

impressão do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />

Parabéns.<br />

Fani Grün Kaufmann <strong>Por</strong> e-mail<br />

Nota da Redação: Que bom que<br />

gostou. Só que agora, após<br />

quatro anos, a seção “Receitas<br />

com Griffe” foi substituída pela<br />

coluna “Papo de Cozinha”,<br />

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo<br />

Perdeste o senso!”...<br />

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!<br />

Pois só quem ama pode ter ouvido<br />

Capaz de ouvir e de entender estrelas”.<br />

Assim é que um conceito eminentemente<br />

filosófico encontra<br />

sua expressão na sensibilidade da<br />

veia poética. Em outras palavras,<br />

podemos também inverter a proposição,<br />

isto é, a filosofia da linguagem<br />

tem também a sensibilidade<br />

da poesia. Canetti foi um<br />

gênio. Tudo o que escreveu o fez<br />

com elegância de palavras. Seu<br />

jogo com as palavras é inimitável.<br />

Alguns de seus textos são tão<br />

luminosos e sonoros, que foram<br />

usados como poesia pura em libretos<br />

de composições musicais.<br />

O sefardismo e o ladino podem<br />

não ter importância em sua obra,<br />

mas deixaram marcas inolvidáveis<br />

no homem.<br />

Notas:<br />

1 Língua usada pelos judeus sefaradim,<br />

baseada em quase sua<br />

totalidade, no espanhol da Idade<br />

Média.<br />

2 Autor austríaco de “O Homem Sem<br />

Qualidades”.<br />

3 Grande polemista austríaco das<br />

primeiras décadas do século XX,<br />

autor de “Os Últimos Dias da Humanidade”<br />

e diretor e redator do<br />

jornal satírico “A Tocha”.<br />

assinada pelo gourmand Breno<br />

Lerner.<br />

Anti-semitismo<br />

Amigos:<br />

É com espanto que vejo surgir em<br />

pleno século 21 um arremedo de Hitler,<br />

o “presidente” do Irã, Mahmoud<br />

Ahmadinejad, sem que o mundo lhe<br />

dê um basta. A toda hora surge com<br />

seu anti-semitismo, suas ameaças de<br />

exterminar Israel e o seu povo judeu.<br />

E continua a desafiar o Ocidente com<br />

seu projeto diabólico de obter armas<br />

nucleares, querendo enganar a todos<br />

com a “estória da carochinha” de que<br />

se trata de energia para fins pacíficos.<br />

Desde quando um dos maiores produtores<br />

de petróleo precisa de outra<br />

fonte de energia?<br />

Manoel Cardoso Telles São Paulo – SP<br />

Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta passar um fax pelo telefone 0**41 3018-8018<br />

ou um e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Calendário de Eventos<br />

Keilá do Paraná<br />

Março/06<br />

9<br />

Obs: Todos os eventos desta programação, à exceção<br />

do dia 26/3, serão realizados no CIP, na Travessa<br />

Agostinho Macedo, 248.<br />

Sexta-feira e sábado - Dias 10 e 11<br />

SEMANA DA MULHER JUDIA<br />

Um final de semana preparado especialmente para as<br />

associadas, com Cabalat Shabat, palestras, tarde de<br />

beleza, café colonial, aula de yoga e a primeira edição<br />

do Prêmio Golda Meir.<br />

Segunda-feira - Dia 13 - 19h<br />

GRANDE COMEMORAÇÃO DE PURIM<br />

Traga seus filhos fantasiados e divirta-se! Leitura da<br />

Meguilá na sinagoga do CIP, comidas típicas e muita<br />

alegria.<br />

Terça-feira - Dia 14<br />

LEITURA DA MEGUILÁ NA EIBSG<br />

Purim na Escola Israelita Brasileira Salomão Guelmann<br />

Leitura da Meguilá de manhã e o tradicional baile à<br />

fantasia infantil à tarde.<br />

Domingo - Dia 19 - 15h30 e 16h<br />

IDADE DO OURO<br />

Início das atividades. Venha saber a programação super<br />

especial que o grupo da terceira Idade terá em 2006.<br />

Inauguração do Painel da Wizo – conheça a história da<br />

Wizo no Paraná.<br />

Quarta-feira - Dia 22 – 20h<br />

ISRAELI DEGREE<br />

Viver, estudar e se formar em Israel. Conheça tudo sobre<br />

graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado em<br />

Israel, em uma noite de sfihas promovida pela Agência<br />

<strong>Judaica</strong> e pela Hagashmá.<br />

Sábado - Dia 25 – 20h<br />

FESTA GREGA<br />

Divirta-se em uma festa temática com muita comida,<br />

música e diversão!<br />

Local: Cip - Trav. Agostinho Macedo, 248.<br />

Domingo - Dia 26 – 16h30<br />

INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO ICJBS<br />

Conheça a sede do Instituto Cultural Judaico-Brasileiro<br />

Bernardo Schulman e saiba mais sobre o trabalho<br />

dessa instituição.<br />

Local: Rua Cruz Machado, 126.


10<br />

Uma declaração de guerra<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

povo palestino declarou guerra a Israel.<br />

Eles iniciaram formalmente um estado<br />

de guerra ao eleger os candidatos<br />

do Hamas para a maioria dos assentos<br />

no Parlamento dos territórios palestinos,<br />

ao mesmo tempo em que expulsaram assim<br />

do poder o Fatah. Não só deram um voto de<br />

confiança ao Estatuto do Hamas para a destruição<br />

de Israel, como porta-vozes do Hamas disseram que<br />

não haverá nenhuma mudança ele. Nem o Hamas<br />

se desarmará, declarou outro líder do Hamas à agência<br />

Associated Press.<br />

O que poderia ser mais claro?<br />

A menos que o Hamas sofra uma mudança fundamental<br />

de filosofia, qualquer semelhança com um<br />

processo de paz terminou e os palestinos provavelmente<br />

podem esquecer do progresso econômico.<br />

A eleição do Hamas é um retrocesso para representar<br />

qualquer mudança fundamental; nunca<br />

foi um processo crível de paz. Os palestinos cometeram<br />

mais que meia-dúzia de atos de guerra<br />

contra Israel desde que os líderes de Israel e da<br />

Autoridade Palestina aceitaram fazer uma trégua<br />

há quase um ano.<br />

Não foi nenhuma surpresa que alguns repórteres,<br />

políticos e outros observadores ficaram chocados<br />

com os resultados da eleição. Eles freqüentemente<br />

têm isso como erros nos desdobramentos do<br />

Oriente Médio. Está claro que um grande segmento<br />

do mundo árabe ainda se opõe mesma à existência<br />

de Israel e está atolado num sistema tribal que<br />

inclusive se previne da democracia. Esse é não o<br />

lugar comum das atitudes de todos os indivíduos<br />

árabes. Não há dúvida que palestinos comuns tenham<br />

se inteirado sobre a corrupção do partido<br />

Fatah, que liderou a Autoridade Palestina, primeiro<br />

sob o despotismo de Yasser Arafat e depois com a<br />

ineficácia de Mahmoud Abbas. Mas é preciso saber<br />

quantos apoiadores do Hamas compartilham com<br />

sua hostilidade para com Israel.<br />

As lideranças israelenses já disseram que não<br />

negociarão com o Hamas enquanto este permanecer<br />

comprometido com a destruição de Israel. Este<br />

curso da ação eleva-se a um nível de sensibilidade<br />

que é óbvio e evidente. O governo palestino também<br />

poderia perder anualmente até US$ 1 bilhão<br />

em rendas dos Estados Unidos, Israel e das nações<br />

européias por causa da posição do Hamas com re-<br />

Bruce S. Ticker*<br />

lação a Israel, mas eles poderiam ser compensados<br />

pelo Irã, pela Arábia Saudita e caridade islâmica,<br />

de acordo com reportagens.<br />

As chances de o Hamas vir a tornar-se um parceiro<br />

para a paz são ínfimas. Reportagens contam<br />

que o Hamas realizou quase 60 atentados a bomba<br />

fatais ao longo dos últimos cinco anos. Uma mulher<br />

foi eleita em virtude da morte de três de seus filhos,<br />

que foram mortos em ataques a israelenses.<br />

Após a eleição ela disse que sacrificaria seus filhos<br />

remanescentes se for necessário.<br />

O Hamas também venceu em quarto dos seis distritos<br />

com assentos que representam Jerusalém Oriental,<br />

o que significa que tem muitos simpatizantes no que<br />

agora é considerada parte integrante de Israel.<br />

Se o Hamas consolidar o controle, há razões<br />

para temer que eles lancem ataques de Gaza a Israel<br />

e em assentamentos na Margem Ocidental. O<br />

registro da violência do Hamas salienta a desconfiança<br />

que se tem em superar e até mesmo revisar<br />

seus planos e políticas para relações mais amigáveis<br />

com Israel. Os líderes do Hamas podem até<br />

agir de um modo num nível diplomático, mas poderiam<br />

estar simultaneamente atrás de atos de violência<br />

contra Israel.<br />

Enquanto isso, o Hamas parece ser ido a uma<br />

guerra civil com os partidários do Fatah que não<br />

querem participação do Hamas.<br />

O resultado de eleição não deveria ser nenhuma<br />

surpresa para qualquer um que siga os eventos<br />

do Oriente Médio nos últimos cinco anos, até mesmo<br />

como um acaso. Os palestinos rejeitaram uma<br />

oferta que lhes teria dado a maior parte do que<br />

agora eles exigem; lançaram uma guerra que deixou<br />

mortos 1.000 israelenses, além de 2.500 mortos<br />

entre os seus próprios; e desde a última trégua<br />

em fevereiro, israelenses foram assassinados em<br />

seis atentados e em um ataque a tiros.<br />

Abbas, o presidente da Autoridade Palestina,<br />

pode ter sido perfeitamente sincero em procurar<br />

estabelecer a paz com Israel, mas por alguma razão<br />

ele não controlou terrorismo em seu meio.<br />

Até o mês passado, era impossível quantificar<br />

quantos palestinos desejam a destruição de Israel,<br />

mas no dia 25 de janeiro, uma maioria esmagadora<br />

de palestinos votou em uma força que demonstra<br />

claro como um cristal que Israel deve ser demolido.<br />

Agora isso é uma declaração de guerra.<br />

* Bruce S. Ticker é comentarista e publica a coluna “Crisis: Israel”. É editor comunitário do The<br />

Philadelphia Jewish Voice (www.pjvoice.com). Este artigo foi originalmente publicado, em inglês,<br />

no dia 9 de fevereiro de 2006.<br />

O mundo inteiro<br />

amalucou<br />

Já por várias vezes na história<br />

mundial, países e regiões, reinados<br />

ou vassalagens amalucaram e<br />

destruíram tudo o que existia das<br />

civilizações anteriores.<br />

Hoje estamos atravessando um<br />

período desses, não passível de<br />

análise e nem muito menos de discernimento.<br />

Há poucos anos atrás Gorbachev<br />

teve que sair correndo do Afeganistão<br />

e jogar a União Soviética<br />

esfacelada para o lado acidental<br />

para não perder o trem.<br />

O que vinha acontecendo, inclusive<br />

com a ajuda do Papa, a<br />

União das Repúblicas Socialistas<br />

Soviéticas se desmantelou e foi<br />

para o Ocidente.<br />

No Afeganistão existiam estátuas<br />

enormes esculpidas em pedra,<br />

de civilizações anteriores,<br />

antagonizadas pelo “Taleban” e<br />

pelos muçulmanos fanáticos, integralistas<br />

e desconhecidos de<br />

tudo o que não era islâmico ou<br />

muçulmano e olhe lá.<br />

Tinha se formado no país um<br />

interesse de desestabilização<br />

nacional e de conseqüências imprevisíveis<br />

em relação às estátuas,<br />

pois representavam várias<br />

divindades diferentes e diferenciadas,<br />

cultos diversos e contraditórios<br />

em relação oficial ao<br />

“Taleban”, aquele que não podia<br />

ser posto em dúvida ou sofrer<br />

classificações.<br />

Era certo e se acabou, aquelas<br />

estátuas gigantes, imponentes que<br />

desafiavam o tempo e o espaço,<br />

os séculos e os milênios impunha<br />

no ar sua presença e com o tempo<br />

sua posição.<br />

Suas origens não eram tão definidas<br />

assim, sua grandiosidade<br />

era acima em espaço e amplitude<br />

cultural e amplexos humanos, algo<br />

muito especial.<br />

Muito foi falado, muito foi<br />

escrito, muito se discutiu, e o<br />

governo do país não aceitou de<br />

forma alguma que aquelas estátuas<br />

fizessem parte de sua cultura,<br />

de seu repertório cultural e<br />

acompanhassem seu desenvolvimento<br />

ou atraso.<br />

Eram coisas atrasadas mentais,<br />

não faziam parte de suas origens<br />

religiosas, definidas muçulmanas,<br />

Edda Bergmann*<br />

islâmicas, fechadas, sem abertura<br />

para o mundo.<br />

Não podiam e não deveria pertencer<br />

a ninguém, a nenhuma outra<br />

cultura, pois lá ninguém pode<br />

nem deve aparecer.<br />

Quando existem muçulmanos,<br />

o mando é deles, foi o que ficou<br />

definido pelo governo, intransigente,<br />

incoerente, incapaz de<br />

análises ou de avaliações, incapaz<br />

de entender ou se esforçar<br />

para tentar entender o mundo,<br />

mesmo que em pequena parte, e<br />

em pequena escala.<br />

As estátuas foram destruídas<br />

e a duras penas, inclusive apesar<br />

de sua solidez, foram demolidas.<br />

O mundo assim chamado civilizado<br />

reclamou, foram precisos<br />

vários dias, mas a história acabou.<br />

Todos os jornais do mundo<br />

noticiaram, mas o islamismo, o<br />

“Taleban” e o Afeganistão foram<br />

implacáveis.<br />

Estátuas de outras civilizações<br />

“aqui não”, aqui só existimos nós<br />

e somos os únicos que conhecem<br />

as verdadeiras leis, verdadeiros<br />

caminhos e verdadeiros meios pelos<br />

quais se conhece a verdade.<br />

A verdade é uma e única, e é a<br />

nossa.<br />

A nossa verdade é a que vence<br />

os séculos.<br />

Em seus sonhos, em seus ideais,<br />

em suas imposições pelas quais<br />

todos devem pensar da mesma forma,<br />

todos devem sonhar e ter atitudes<br />

iguais.<br />

O islamismo não pergunta, decreta,<br />

não define, dita regras e estabelece<br />

preceitos. Até aí, tudo<br />

bem, mas não tolera civilizações<br />

diferentes e diferenciadas como<br />

os buracos enormes das estátuas<br />

que foram de outras civilizações<br />

no Afeganistão.<br />

Enormes buracos vazios e destruídos.<br />

Ninguém reclamou?<br />

No mundo ninguém achou que<br />

aquilo era conhecimento ou o poder<br />

dos séculos.<br />

Dois pesos e duas medidas.<br />

Mas o mundo foge por que as<br />

civilizações se digladiam e se<br />

olham a si mesmas apenas através<br />

de um vidro prateado, ou melhor,<br />

de um espelho.<br />

* Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.


Atos anti-semitas no Paraguai<br />

e na Argentina geram protestos<br />

umerosas pichações<br />

anti-semitas apareceram<br />

em Assunção, no<br />

Paraguai, gerando reações<br />

imediatas do governo<br />

e da B’nai B’rith paraguaia junto à<br />

comunidade judaica.<br />

Entre os dias 10 e 11 de fevereiro<br />

várias suásticas, figuras de Hitler e inscrições<br />

anti-semitas foram pintadas em<br />

diversas partes de Assunção, incluindo<br />

a casa do diretor do jornal mais importante<br />

do país, o ABC Color. O governo<br />

apoiou imediatamente a iniciativa da<br />

B’nai B’rith paraguaia e da comunidade<br />

judaica, anunciando uma profunda investigação<br />

e condenando o vandalismo<br />

dos grupos nazistas, enquanto que a<br />

B’nai B’rith e a comunidade judaica publicaram<br />

um comunicado no qual se<br />

exorta o Governo para que o Paraguai<br />

aprove o quanto antes uma lei antidiscriminatória<br />

que proteja todos os cidadãos<br />

contra a discriminação e a xenofobia<br />

e toda a forma de racismo.<br />

O Diário ABC Color publicou que o<br />

governo repudia as pichações anti-semita<br />

e quer saber quem está por trás<br />

delas, conforme assinalou o ministro do<br />

Interior, Rogelio Benitez. Anunciou que<br />

policiais ficarão em postos chaves da<br />

cidade nos horários noturnos para identificar<br />

os responsáveis e pediu também<br />

aos cidadãos que denunciem se tiverem<br />

informação a respeito.<br />

“Vemos com profunda preocupação<br />

a proliferação destas imagens (como a<br />

suástica e cara de Hitler), que perturbam<br />

a sociedade paraguaia e a comunidade<br />

judaica residente no país”, expressou<br />

o ministro Benitez no Palácio<br />

de Lopez. Disse que o governo não tem<br />

indícios de que no Paraguai exista um<br />

grupo organizado que simpatize com as<br />

idéias anti-semitas, mas igualmente<br />

repudia e rechaça este tipo de manifestações<br />

aparentemente isoladas.<br />

Indicou que é preocupante esta campanha<br />

nazista e antijudaica “justo agora<br />

no momento político atual (eleições<br />

internas coloradas) e a reivindicação que<br />

pudessem estar havendo alguns movimentos<br />

para sistemas de governo que<br />

entendemos totalmente anulados como<br />

os totalitários, que estão na contramão<br />

do governo democrático”.<br />

Esclareceu que o governo não recebeu<br />

nenhuma queixa pela aparição dos<br />

símbolos anti-semitas pintados em portões<br />

e muros de alguns setores da capital. Expressou<br />

que a sociedade paraguaia nunca<br />

rechaçou uma comunidade por motivos religiosos,<br />

políticos e econômicos.<br />

“Em solidariedade com o povo e a<br />

comunidade judaica rejeitamos a aparição<br />

símbolos e solicitamos à população<br />

que denuncie”, se tem conhecimento de<br />

quem realiza as pichações, comentou.<br />

Após conversar com o presidente<br />

Nicanor Duarte Frutos, Benítez convo-<br />

cou os jornalistas acreditados no Palácio<br />

de Lopez para informar também que<br />

ordenou aumentar a presença policial<br />

em horários noturnos em determinados<br />

setores da cidade para tentar identificar<br />

os responsáveis por estas pichações.<br />

“Acompanhamos a inquietude da<br />

comunidade judaica” no Paraguai que,<br />

seguramente, se sente preocupada por<br />

este tipo de manifestações que vão na<br />

contramão da história”, disse.<br />

Nota da B’nai B’rith do Paraguai<br />

As entidades abaixo assinadas,<br />

diante da aparição de agressões com<br />

símbolos nazistas e antijudaicos, ocorridos<br />

recentemente, resolve:<br />

1. Condenar os atos vandálicos de antisemitismo,<br />

racismo, e discriminação,<br />

que encerram as agressões a<br />

edifícios públicos e privados por<br />

parte de extremistas que pintaram<br />

cruzes gamadas e outros símbolos<br />

altamente antijudaicos de uma das<br />

maiores ideologias do ódio da história:<br />

o nazismo.<br />

2. Expressar nossa solidariedade com<br />

todas as pessoas, instituições, e<br />

empresas que foram agredidas por<br />

aqueles que crêem no ódio e na intolerância.<br />

3. Sendo que no Paraguai sempre conviveram<br />

em perfeita harmonia um<br />

cadinho de culturas, religiões e etnias;<br />

e sendo este um país amante<br />

da paz; em nossa condição de paraguaios,<br />

nos unimos a todas as pessoas<br />

de bem, pluralistas e democráticas<br />

para enfrentar e rejeitar estas<br />

manifestações contrárias ao sentimento<br />

majoritário de nossa pátria.<br />

4. Respaldar a decisão do Governo Nacional<br />

de tomar todas as medidas<br />

dentro do marco legal que rege a<br />

República para que os culpados destes<br />

atentados vandálicos sejam identificados<br />

e levados diante da Justiça<br />

e caia sobre eles todo o peso da lei.<br />

5. Assim mesmo, exortamos às autoridades,<br />

Poder Executivo e o Poder<br />

Legislativo, que em nosso país se<br />

dê no menor prazo possível uma legislação<br />

antidiscriminatória que permita<br />

enfrentar com instrumentos<br />

legais apropriados todas as manifestações<br />

de incitação ao ódio, discriminação<br />

religiosa, racismo, xenofobia<br />

e anti-semitismo.<br />

Assunção 13 de fevereiro de 2006<br />

B’nai B’rith do Paraguai, União Hebraica<br />

oo Paraguai, Aliança Israelita do<br />

Paraguai e Damas Israelitas do Paraguai.<br />

Na Argentina<br />

Na manhã de 16 de fevereiro de<br />

2006, o Centro Cultural Israelita I. L.<br />

Peretz (Icuf – Idisher Cultur Frarband),<br />

localizado na Rua O‘Higgins, 2061, em<br />

Lanus, Província de Buenos Aires, foi<br />

novamente agredido com a pichação de<br />

uma suástica na porta de seu edifício.<br />

Do ataque anterior aa instituição até<br />

este, passaram-se só dez meses, mas<br />

desta vez foi à luz do dia, como que<br />

desafiando a instituição e satisfeitos<br />

com a impunidade com que contam, já<br />

que nunca são surpreendidos em flagrante,<br />

nem presos ou condenados.<br />

Este atentado é parte de uma sucessão<br />

de atos de cunho anti-semita<br />

que vem se repetindo no país. Foi o<br />

quinto ataque de características antisemitas<br />

no transcurso dos últimos doze<br />

meses que recebem as instituições culturais<br />

judaicas do Icuf.<br />

Após o quarto atentado a Federação<br />

das Entidades Culturais <strong>Judaica</strong>s da<br />

Argentina solicitou audiência com o<br />

ministro do Interior, Aníbal Fernández,<br />

mas a instituição ainda está à espera<br />

que se marque a audiência.<br />

As entidades estão preocupadas<br />

com a facilidade e a leviandade com<br />

que se realizam os atos anti-semitas<br />

e perguntam ao governo porque este<br />

não pode ainda desarticular os grupos<br />

neonazistas?<br />

É imprescindível buscar as causas<br />

profundas da permanente reaparição<br />

deste tipo de grupos ou organizações,<br />

assim como seus mentores ideológicos,<br />

seus inspiradores locais, seus responsáveis<br />

e suas fontes de financiamento,<br />

destaca a Federação.<br />

Numa nota oficial assinada pelo<br />

presidente e pelo secretário geral da<br />

Federação das Entidades Culturais <strong>Judaica</strong>s<br />

da Argentina, respectivamente,<br />

Daniel Silber e Marcelo Horestein, a<br />

entidade afirma que “esses grupos não<br />

serão erradicados da sociedade, se a<br />

própria sociedade não promover ações<br />

enérgicas de todo caráter (legal, jurídico,<br />

político, social, educativo e cultural)<br />

para desentranhar de seu seio<br />

este tipo de questões”.<br />

“É imprescindível que o Estado —<br />

através de todos os seus instrumentos<br />

— opere rapidamente, realizando todas<br />

as gestões derivadas de suas obrigações,<br />

uma vez que detém o poder de<br />

Justiça”, prossegue a nota.<br />

“Repudiamos energicamente todas as<br />

expressões discriminatórias de qualquer<br />

natureza”, prossegue a nota observando<br />

ainda que “não conseguirão que baixemos<br />

nossos braços, pelo contrário nos<br />

fortalecem a seguir lutando contra todo<br />

tipo de discriminação, para alcançar um<br />

mundo mais justo que mereça ser vivido<br />

por todos, respeitando as diferenças e<br />

diversidade de opiniões”.<br />

<strong>Por</strong> fim, a nota diz: “Exigimos das<br />

autoridades nacionais e provinciais a<br />

maior celeridade na investigação e esclarecimento<br />

deste novo episódio de<br />

uma velha história”.<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Dez sites nota 10!<br />

Gustavo Erlichman*<br />

11<br />

- Guy Shachar adora viajar, explorar e observar.<br />

Após voltar de sua primeira viagem para a Ásia ele<br />

decidiu trazer o Oriente distante para todos. Em seu<br />

site você pode fazer um tour por diversas sinagogas<br />

e bairros judaicos espalhados pelo mundo, ou ainda,<br />

conhecer as mais belas paisagens de Israel. Visite:<br />

www.guyshachar.com<br />

- Que tal ouvir as rádios israelenses sem precisar<br />

entrar nos sites das emissoras? Agora isso já é possível!<br />

Basta visitar o site http://israelradio.lihi.co.il<br />

e fazer o download do programa. <strong>Com</strong> apenas um<br />

clique, você poderá ouvir qualquer rádio de Israel.<br />

Experimente!<br />

- Um novo site do museu “Casa de Anne Frank”<br />

foi lançado com o apoio da atriz britânica Emma<br />

Thompson, que estava promovendo seu filme em...<br />

Amsterdã. O site possui uma réplica da árvore que<br />

Anne viu de onde estava escondida, no qual os visitantes<br />

podem deixar seu nome em uma das folhas<br />

ou adicionar uma história, ou um poema sobre o<br />

que Anne significa para cada um deles. “A Árvore de<br />

Anne Frank” é o terceiro site produzido pelo museu,<br />

e pode ser acessado em www.annefranktree.com<br />

- O site IsraelMall.net tem como missão criar uma<br />

ligação social e econômica entre os amigos de Israel<br />

e seus familiares e amigos que moram no país.<br />

- No site Hebrew Verbs você poderá aprender<br />

gratuitamente a conjugação de mais de 300 verbos<br />

hebraicos em todos os tempos. O site, disponível em<br />

inglês e hebraico, pode ser visitado em www.hebrewverbs.co.il<br />

- Que tal aprender o idioma aramaico via internet?<br />

Muito parecido com o hebraico, o curso tem seu<br />

ponto forte na alfabetização. Veja em:<br />

www.assyrianlanguage.com<br />

- O “Free Muslim Coalition” é uma organização<br />

sem fins lucrativos composta por muçulmanos e árabes<br />

americanos que promovem uma interpretação<br />

moderna do Islã. Além disso acreditam na democracia,<br />

nos direitos da mulher e no combate ao terrorismo<br />

e ao anti-semitismo. Veja o site da organização<br />

em www.freemuslims.org<br />

- Diretamente de Israel, uma grande relação de<br />

rádios e podcasts com notícias sobre Israel, judaísmo,<br />

Torá, aliah e comentários do criador do site,<br />

Marty Roberts. Visite: www.israelnewsradio.net<br />

- Que tal ler o Tanach diretamente na tela do<br />

seu computador? No TanakhML.org isso é possível.<br />

Basta ter as fontes hebraicas instaladas no seu computador!<br />

Visite o site em: www.tanakhml.org<br />

- Alfie Kaye é um comediante canadense especialista<br />

em humor judaico. Em seu site você poderá<br />

ter acesso ao seu acervo de piadas em inglês e iídiche.<br />

Veja mais em: www.alfiekaye.com<br />

*Gustavo Erlichman é consultor de internet e<br />

criador do site judaico PLETZ.com


12<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

<strong>Com</strong>o a<br />

mídia árabe<br />

retrata os<br />

judeus Al-Watan,<br />

A reação extremada pela publicação das caricaturas<br />

do profeta Maomé na imprensa européia conduziu a<br />

ameaças de morte, revoltas e ataques às embaixadas<br />

dinamarquesas e outras instituições européias ao longo<br />

do mundo muçulmano.<br />

Ao mesmo tempo, alguns jornais muçulmanos e árabes<br />

e sites na Web têm aumentado suas publicações<br />

de caricaturas virulentamente anti-semitas e temas<br />

antiisraelenses:<br />

O site da Web da Liga Árabe-Européia publicou várias<br />

caricaturas estridentemente antijudaicas —<br />

incluindo uma mostrando Anne Frank, que descreveu o<br />

Holocausto, na cama com Hitler — supostamente numa<br />

tentativa para mostrar aos europeus sobre o que pode<br />

acontecer quando a liberdade de imprensa em suas sociedades<br />

é levada muito longe.<br />

Um jornal do Bahrein publicou uma caricatura com<br />

um queijo dinamarquês amoldado como uma Estrela<br />

de David numa tentativa de culpar a controvérsia<br />

das charges a uma “denominada penetração sionista”<br />

na Dinamarca.<br />

O jornal diário Hamshahri, de grande circulação em<br />

Teerã, anunciou deliberadamente uma competição inflamatória<br />

para encontrar e publicar as 12 “melhores”<br />

caricaturas sobre o Holocausto.<br />

Anti-semitismo na imprensa muçulmana e árabe praticamente<br />

não é um fenômeno novo. Em jornais ao longo<br />

do mundo muçulmano, os judeus são descritos habitualmente<br />

em caricaturas controlando assassinos manipuladores<br />

que trabalham para arruinar o mundo islâmico<br />

e matar os árabes. As caricaturas mostram judeus como<br />

nazistas, narizes em forma de ganchos, e vestidos de<br />

forma estereotipada com chapéus pretos e barbas.<br />

As seguintes caricaturas são exemplos do anti-semitismo<br />

na imprensa muçulmana e árabe, incluindo caricaturas<br />

que apareceram tanto antes como durante a<br />

recente controvérsia.<br />

Website da Liga Árabe Européia, em 2 de<br />

fevereiro de 2006. Tradução: "Escreva isto<br />

no seu diário, Anne!"<br />

Qatar, 6 de janeiro de 2006<br />

Ar-Rai, Jordânia, em 5 de novembro de 2005<br />

Al-Yawm, Arábia Saudita, 1º de dezembro de 2005 Al-Watan, Arábia Saudita, em 11 de fevereiro de 2006. Tradução: "A<br />

mídia ocidental"<br />

Al-Watan, de Omã, em 3 de fevereiro de 2004. Tradução: "À<br />

esquerda, no alto - Festa do Sacrifício"<br />

Al-Ittihad, Emirados Árabes Unidos, em 24 de janeiro de<br />

2006. Tradução: Ao alto - O roubo; sobre a arma - O<br />

Holocausto<br />

Al-Wifaq, Irã, em 6 de fevereiro de 2006. Tradução: O<br />

demônio judaico/israelense diz: "Eu não admito para a<br />

liberdade de expressão, exceto o Holocausto"<br />

Al-Bayan, Emirados Árabes Unidos, 22 de dezembro de 2005<br />

Akhbar al-Khalij, Bahrein, em 29 de janeiro de 2006. Tradução:<br />

Bandeira no queijo - Boicote produtos dinamarqueses. À direita -<br />

A penetração do Sionismo na Dinamarca<br />

Tishrin, Síria, em 21 de abril de 2002. Explicação: O livro na mão esquerda<br />

do estereótipo judeu é a Torá


sta foi a reação típica da<br />

maioria dos iranianos um<br />

dia após do primeiro turno<br />

das eleições presidenciais<br />

no Irã, quando ouviram<br />

que os dois candidatos<br />

que se enfrentariam no segundo turno<br />

eram o veterano político aiatolá Ali-<br />

Akbar Hashemi Rafsanjani e o até então<br />

pouco conhecido prefeito ultra-extremista<br />

de Teerã, Mahmoud Ahmadinejad.<br />

A surpresa foi toda esquecida pelo<br />

choque maior após as eleições, quando<br />

Ahmadinejad derrotou o ex-presidente,<br />

uma espécie de figura ícone na teocracia<br />

governante numa vitória que desmoronou<br />

o poder que estava consolidador<br />

nas mãos dos clérigos islâmicos.<br />

<strong>Com</strong> refletores agora apontados<br />

para a figura pequena e barbuda, num<br />

surrado terno cinza, como uma marca<br />

registrada, o passado obscuro de Ahmadinejad<br />

está causando profunda ansiedade<br />

exterior, e no Irã crescente preocupação<br />

por causa das políticas e<br />

orientação do novo presidente.<br />

Nascido no deserto, no lugarejo de<br />

Garmsar, a leste de Teerã, em 1956,<br />

Ahmadinejad é o quarto filho de uma<br />

família de proletários, de um total de<br />

sete crianças. Seu pai, um ferreiro, mudou-se<br />

com a família para Teerã quando<br />

Ahmadinejad tinha apenas um ano<br />

de idade. Ele viveu nos bairros toscos<br />

do sul de Teerã, que eram um coquetel<br />

de pobreza, frustração e xenofobia no<br />

auge do regime elitista do xá, um chão<br />

muito fértil para o crescimento do fundamentalismo<br />

islâmico.<br />

Depois de concluir a escola secundária,<br />

Ahmadinejad foi para Universidade<br />

Elm-o Sanaat em 1975 para estudar<br />

engenharia. Logo, o vendaval de<br />

revolução islâmica conduzido pelo aiatolá<br />

Ruhollah Khomeini varreu-o da sala<br />

de aula para a mesquita e ele juntouse<br />

a uma geração de fundamentalistas<br />

muçulmanos dedicados à causa da revolução<br />

mundial islâmica.<br />

Estudantes ativistas da Universidade<br />

Elm-o Sanaat na época da revolução<br />

iraniana foram dominados por ra-<br />

Ahmadinejad? Quem é ele?<br />

dicais islâmicos ultra-conservadores.<br />

Ahmadinejad logo tornou-se um de seus<br />

líderes e fundou a associação dos estudantes<br />

islâmicos naquela universidade<br />

após a queda do regime do xá.<br />

Em 1979 ele se tornou o representante<br />

dos estudantes da Elm-o Sanaat<br />

junto ao Departamento para Fortalecer a<br />

Unidade entre Universidades e Seminários<br />

Teológicos, que depois ficou conhecido<br />

como OSU. O OSU foi idealizado pelo<br />

aiatolá Mohammad Beheshti que era na<br />

ocasião o maior confidente de Khomeini<br />

e uma figura chave na liderança clerical.<br />

Beheshti queria que o OSU organizasse<br />

os estudantes islâmicos para se contraporem<br />

rapidamente à influência ascendente<br />

da Oposição Mojahedin-e Khalq<br />

(MeK) entre estudantes universitários.<br />

O OSU teve um papel central no ataque<br />

desvairado à embaixada dos Estados<br />

Unidos em Teerã, em novembro de 1979.<br />

Membros do conselho central do OSU, que<br />

incluíam Ahmadinejad e também Ibrahim<br />

Asgharzadeh, Mohsen (Mahmoud) Mirdamadi,<br />

Mohsen Kadivar, Mohsen Aghajari,<br />

e Abbas Abdi, eram recebidos regularmente<br />

pelo próprio Khomeini.<br />

De acordo com outros membros do<br />

OSU, quando a idéia de atacar violentamente<br />

a embaixada norte-americana em<br />

Teerã foi levada ao comitê central do<br />

OSU por Mirdamadi e Abdi, Ahmadinejad<br />

sugeriu que se atacasse violentamente<br />

a embaixada soviética ao mesmo tempo.<br />

Uma década depois, a maioria dos<br />

líderes do OSU reagrupou-se em torno<br />

de Khatami, mas Ahmadinejad permaneceu<br />

leal aos ultra-extremistas.<br />

Durante a turbulência nas universidades<br />

em 1980, à qual Khomeini chamou<br />

de “Revolução Cultural Islâmica”,<br />

Ahmadinejad e o OSU tiveram um papel<br />

crítico na remoção de professores<br />

e estudantes dissidentes, muitos dos<br />

quais foram presos e mais tarde executados.<br />

As universidades permaneceram<br />

fechadas por três anos e Ahmadinejad<br />

juntou-se aos Guardas Revolucionários.<br />

No início dos anos 80, Ahmadinejad<br />

trabalhou na “Segurança Interna”<br />

do departamento do CGRI (Corpo da<br />

Guarda Revolucionária do Irã) e ganhou<br />

notoriedade como interrogador cruel e<br />

torturador. De acordo com o website estatal<br />

Baztab, os aliados do presidente<br />

Mohammad Khatami, que estava deixando<br />

o poder, revelaram que Ahmadinejad<br />

trabalhou durante algum tempo<br />

como executor na conhecida Prisão de<br />

Evin, onde foram executados milhares<br />

de prisioneiros políticos nas punições<br />

sangrentas dos anos oitenta.<br />

Em 1986 Ahmadinejad tornou oficial<br />

graduado da Brigada Especial dos<br />

Guardas Revolucionários e foi locado na<br />

Guarnição de Ramazan, perto de Kermanshah,<br />

no Irã ocidental. A Guarnição<br />

de Ramazan era a sede das “operações<br />

extraterritoriais” dos Guardas Revolucionários,<br />

um eufemismo para ataques de<br />

terrorista além das fronteiras do Irã.<br />

Em Kermanshah, Ahmadinejad envolveu-se<br />

nas operações terroristas estrangeiras<br />

do regime clerical e conduziu<br />

muitas operações extraterritoriais<br />

do CGRI. Ahmadinejad tornou-se depois<br />

um dos mais altos chefes das forças do<br />

CGRI. Ele foi o autor inteligência dominante<br />

numa série de assassinatos no<br />

Oriente Médio e na Europa, intelectual<br />

do assassinato do líder curdo iraniano<br />

Abdorrahman Qassemlou que foi morto<br />

a tiros por oficiais dos Guardas Revolucionários<br />

em um apartamento de Viena,<br />

julho de 1989. Ahmadinejad foi<br />

quem planejou o ataque, de acordo com<br />

fontes dos Guardas Revolucionários.<br />

Ahmadinejad serviu durante quatro<br />

anos como prefeito das cidades de Maku<br />

e Khoy no noroeste do Irã. Em 1993<br />

ele foi designado pelo ministro de Cultura<br />

islâmica e Orientação Ali Larijani,<br />

um oficial da mesma categoria dos Guardas<br />

Revolucionários, como o seu conselheiro<br />

cultural. Meses depois, ele foi<br />

designado como governador da então<br />

recém-criada província de Ardebil.<br />

Em 1997 a administração de Khatami<br />

recém-instalada, removeu Ahmadinejad<br />

de seu posto e o devolveu à Universidade<br />

de Elm-o Sanaat para lecionar,<br />

mas sua atividade principal foi organizar<br />

a Ansar-e Hezbollah, um grupo radi-<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

cal de vigilantes islâmicos violentos.<br />

Desde que se tornou prefeito de<br />

Teerã em abril de 2003, Ahmadinejad<br />

usou sua posição para construir uma<br />

forte rede forte de radicais islâmicos,<br />

organizando-os como “Abadgaran-e<br />

Iran-e Islami” (literalmente, Fomentadores<br />

de um Irã islâmico). Trabalhando<br />

em colaboração íntima com a Guarda<br />

Revolucionária, o Abadgaran pôde<br />

ganhar as eleições municipais em<br />

2003 e a eleição parlamentar<br />

em 2004.<br />

Eles devem suas vitórias<br />

mais à multidão<br />

pobre e à desilusão<br />

geral com a facção<br />

“moderada” do<br />

regime, do que à sua<br />

bem-lubrificada máquina<br />

política e militar.<br />

O Abadgaran vende<br />

a imagem de um<br />

grupo fundamentalista<br />

neo-islâmico cujos jovens membros<br />

querem reavivar os ideais e as políticas<br />

do fundador da República islâmica,<br />

aiatolá Khomeini. Foi um dos vários<br />

grupos ultra-extremistas cujas organizações<br />

estavam às ordens do aiatolá<br />

Khamenei para derrotar a facção<br />

do presidente Mohammad Khatami em<br />

fim de mandato, após as eleições parlamentares<br />

em fevereiro de 2000.<br />

O registro de Ahmadinejad é típico<br />

dos homens escolhidos pela “entourage”<br />

de Khamenei para colocar<br />

uma nova face nova à identidade extremista<br />

da elite clerical. Mas além<br />

da fachada superficial poucos duvidam<br />

que a república islâmica sob seu novo<br />

presidente se mova com maior velocidade<br />

e determinação ao longo do caminho<br />

das políticas radicais que incluam<br />

mais abusos de direitos humanos,<br />

enquanto continuar patrocínio do<br />

terrorismo, e os passos para obter<br />

armas nucleares. (Agência Iran Focus.<br />

Este artigo pode ser lido no original,<br />

em inglês, no website http://<br />

www.iranfocus.com/modules/news/<br />

article.php?storyid=2605).<br />

13<br />

Mahmoud Ahmadinejad<br />

O passado sujo de<br />

Ahmadinejad (no círculo):<br />

prisão, torturas e morte<br />

de inimigos do regime


14<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

* Daniel Pipes é diretor<br />

do Fórum do Oriente Médio e<br />

colunista premiado dos jornais<br />

New York Sun e The Jerusalem<br />

Post. O presente artigo foi<br />

publicado no New York Sun em<br />

7 de fevereiro de 2006 e traduzido<br />

por Márcia Leal. Título original em<br />

inglês: Cartoons and Islamic<br />

Imperialism. O texto em português<br />

desse artigo encontra-se em<br />

http://pt.danielpipes.org/<br />

article/3402<br />

Caricaturas e imperialismo islâmico<br />

Daniel Pipes*<br />

este o ponto principal na<br />

polêmica das doze caricaturas<br />

dinamarquesas do<br />

profeta Maomé: o Ocidente<br />

defenderá seus costumes<br />

e valores, entre eles a<br />

liberdade de expressão, ou os muçulmanos<br />

conseguirão impor seu estilo<br />

de vida aos ocidentais? Em última<br />

análise, não há transigência possível:<br />

ou o Ocidente conserva sua<br />

civilização, inclusive o direito de<br />

insultar e blasfemar, ou não.<br />

Para ser mais claro, os ocidentais<br />

consentirão na duplicidade<br />

moral que libera os muçulmanos<br />

para insultarem o Judaísmo, o Cristianismo,<br />

o Hinduísmo, e o Budismo,<br />

enquanto Maomé, o Islã e seus<br />

fiéis se mantêm imunes a injúrias?<br />

Os muçulmanos publicam regularmente<br />

charges muito mais ofensivas<br />

que as dinamarquesas. Eles terão<br />

o direito de despejar insultos<br />

enquanto se preservam de indignidades<br />

semelhantes?<br />

O alemão Die Welt tocou nesse<br />

ponto em um editorial: “Os protestos<br />

dos muçulmanos seriam levados<br />

mais a sério se fossem menos hipócritas.<br />

Quando a televisão síria exibiu<br />

em horário nobre documentários<br />

dramatizados que mostravam rabinos<br />

como canibais, os imãs guardaram<br />

silêncio”. Aliás, os imãs sequer<br />

esboçaram um protesto quando<br />

muçulmanos pisotearam a cruz<br />

do Cristianismo que figura na bandeira<br />

da Dinamarca.<br />

O âmago da questão, porém, não<br />

é a hipocrisia muçulmana, mas o supremacismo<br />

islâmico. O editor dinamarquês<br />

responsável pela publicação<br />

das charges, Flemming Rose, explicou<br />

que, se os muçulmanos insistem<br />

em “que eu, um não-muçulmano, tenho<br />

de me submeter aos seus tabus<br />

(...), eles estão exigindo minha<br />

submissão”.<br />

Precisamente. <strong>Com</strong><br />

razão Robert Spencer<br />

encorajou o<br />

mundo livre a dar<br />

apoio “irrestrito à<br />

Dinamarca”. Para<br />

o informativo<br />

Brussels Journal,<br />

“agora somos todosdinamarqueses”.<br />

Alguns governos<br />

concordam:<br />

Noruega: “Não nos<br />

desculparemos porque em um país<br />

como a Noruega, que garante a liberdade<br />

de expressão, não podemos<br />

pedir desculpas pelo que os jornais<br />

publicam”, comentou o primeiro-ministro<br />

Jens Stoltenberg.<br />

Alemanha: “<strong>Por</strong> que o governo alemão<br />

deveria se desculpar [pela publicação<br />

dos cartuns em jornais alemães]?<br />

Essa é uma expressão da liberdade<br />

de imprensa”, disse o ministro<br />

do Interior Wolfgang Schauble.<br />

França: “Caricaturas de cunho<br />

político são excessivas por natureza.<br />

E eu prefiro o excesso da caricatura<br />

política ao excesso da censura<br />

de opinião”, observou o ministro do<br />

Interior Nicolas Sarkozy.<br />

Outros governos apresentaram<br />

desculpas injustificadas:<br />

Polônia: “Os limites da liberdade<br />

de expressão, tal como ela deve ser<br />

compreendida, foram ultrapassados”,<br />

afirmou o primeiro-ministro Kazimierz<br />

Marcinkiewicz.<br />

Reino Unido: “A republicação dos<br />

cartuns foi desnecessária, inoportuna,<br />

desrespeitosa e incorreta”, declarou<br />

o ministro do Exterior Jack Straw.<br />

Nova Zelândia: “Uma ofensa gratuita”,<br />

foi como o ministro do <strong>Com</strong>ércio<br />

Jim Sutton definiu as caricaturas.<br />

Estados Unidos: “Incitar o ódio<br />

religioso ou étnico dessa maneira<br />

não é aceitável”, disse Janelle Hironimus,<br />

uma assessora de imprensa do<br />

Departamento de Estado.<br />

Estranhamente, no momento em<br />

que a “Velha Europa” reencontra sua<br />

espinha dorsal, a Anglosfera hesita.<br />

Foi tão deplorável a reação do governo<br />

americano, que ganhou o<br />

apoio da organização islamista mais<br />

importante do país, o Council on<br />

American-Islamic Relations. Mas nisso<br />

não há surpresa nenhuma, pois<br />

Washington sempre deu tratamento<br />

preferencial ao Islã e por duas outras<br />

vezes igualmente vacilou em<br />

casos de insultos a Maomé.<br />

Em 1989, Salman Rushdie recebeu<br />

um decreto de morte do aiatolá<br />

Khomeini por satirizar Maomé em seu<br />

livro “Os Versos Satânicos”, um romance<br />

na tradição do realismo mágico.<br />

Em vez de sair na defesa do<br />

romancista, o presidente George H.<br />

W. Bush equiparou “Os Versos Satânicos”<br />

ao decreto, considerando<br />

ambos “ofensivos”. O então secretário<br />

de Estado, James A. Baker III,<br />

qualificou a sentença de morte com<br />

um simples “lamentável”.<br />

Para piorar, em 1997, quando<br />

uma israelense distribuiu um cartaz<br />

de Maomé retratado como um porco,<br />

o governo americano abandonou<br />

vergonhosamente o princípio da liberdade<br />

de expressão. Em nome do<br />

presidente Bill Clinton, o porta-voz<br />

do Departamento de Estado Nicholas<br />

Burns disse que a mulher em questão<br />

era “ou doente, ou (...) perversa”<br />

e afirmou que ela merecia “ser<br />

levada à Justiça por esses ataques<br />

ultrajantes ao Islã”. Então o Departamento<br />

de Estado é favorável a que<br />

se processe criminalmente o direito<br />

à liberdade de expressão? Ainda mais<br />

absurdo foi o contexto dessa declaração<br />

indignada. <strong>Com</strong>o observei na<br />

ocasião, depois de vasculhar várias<br />

Reação judaica<br />

ao concurso de<br />

charges do Irã<br />

<strong>Com</strong>eçaram a<br />

surgir em alguns<br />

sites judaicos<br />

charges bem<br />

humoradas fazendo<br />

piadas a respeito do<br />

concurso de charges<br />

que um jornal do Irã<br />

lançou para negar o<br />

Holocausto. Eis aqui<br />

dois exemplos<br />

dessas caricaturas<br />

muito engraçadas.<br />

semanas de informes emitidos pelo<br />

Departamento de Estado, “nada encontrei<br />

que se aproximasse desses<br />

vitupérios em referência aos horrores<br />

praticados em Ruanda, onde centenas<br />

de milhares de pessoas perderam<br />

a vida. Ao contrário, Burns foi cauteloso<br />

e diplomático todo o tempo”.<br />

Os governos ocidentais deveriam<br />

fazer um curso intensivo em legislação<br />

islâmica e a historicamente<br />

ininterrupta compulsão muçulmana<br />

de subjugar os não-muçulmanos.<br />

Eles poderiam começar pela leitura<br />

do livro de Efraim Karsh, Islamic Imperialism:<br />

A History (Yale), a ser lançado<br />

em breve.<br />

Os povos que desejam continuar<br />

livres devem apoiar a Dinamarca<br />

sem reservas.


xiste uma forte razão<br />

para dizer que as charges<br />

dinamarquesas sobre<br />

Maomé, que têm causado<br />

um alarido tão estrondoso,<br />

são comentários justos. Certamente,<br />

aqueles que não viram essas charges<br />

podem ficar certos de que elas são relativamente<br />

suaves, se comparadas às<br />

charges sobre outros temas que aparecem<br />

com regularidade na imprensa européia.<br />

Ainda assim, os não muçulmanos<br />

teriam mais simpatia com os muçulmanos<br />

que as acham ofensivas, se<br />

não fosse pelo impressionante padrão<br />

duplo e a hipocrisia do mundo muçulmano,<br />

quando se trata de aceitar e de<br />

aplaudir ofensas horríveis contra os judeus,<br />

e, em um grau menor, extensivo<br />

também aos cristãos.<br />

Os argumentos dos muçulmanos –<br />

porém não a forma fanática e violenta<br />

de muitos dos seus protestos – seriam<br />

certamente levados mais a sério se eles<br />

também fizessem objeções à forma<br />

como a televisão da Síria descreve os<br />

rabinos como canibais. Ou se no sábado<br />

passado, o Semanário Muçulmano Britânico<br />

não tivesse publicado a caricatura<br />

de um Ehud Olmert com o nariz em<br />

forma de anzol.<br />

Ou se o “Vale dos Lobos”, o filme<br />

mais caro já feito na Turquia, não tivesse<br />

sido lançado com uma grande aclamação<br />

local. No filme, soldados americanos<br />

no Iraque irrompem em uma boda<br />

e metem chumbo em um menino diante<br />

de sua mãe, matam aleatoriamente dezenas<br />

de pessoas inocentes com o fogo<br />

de suas metralhadoras, baleiam o noivo<br />

na cabeça e arrastam os sobreviventes<br />

para a cadeia, onde um médico judeu<br />

corta os seus órgãos e os vende para<br />

pessoas ricas em Nova Iorque, Londres<br />

e Tel-Aviv. Ou se um grupo muçulmano<br />

belga e holandês não tivesse colocado<br />

no seu site na Internet fotografias de<br />

Anne Frank na cama com Hitler. Ou se,<br />

na Arábia Saudita, não fosse ilegal a<br />

simples exibição de uma cruz ou de uma<br />

estrela de David. E quando se trata de<br />

charges em jornais – o motivo da atual<br />

inquietação – os países muçulmanos são<br />

os líderes mundiais em incentivar o ódio,<br />

sem sequer um mínimo de protesto em<br />

outras partes, além do incêndio de edifícios,<br />

ameaças de degolar turistas europeus,<br />

e a queima da bandeira dinamarquesa<br />

(a qual, coincidentemente,<br />

mostra um símbolo cristão, a cruz). Chega<br />

de respeito religioso. As charges publicadas<br />

em setembro passado em<br />

Jyllands Posten, um jornal sobre o qual<br />

dificilmente alguém de fora da Dinamarca,<br />

um dos menores países da Europa,<br />

sequer ouviu falar, são suaves se comparadas<br />

às charges rotineiramente produzidas<br />

sobre os judeus nos países onde<br />

alguns dos piores protestos contra a Dinamarca<br />

estão agora sendo encenados.<br />

Os árabes que atormentam judeus<br />

não se limitam – como os inimigos de<br />

Israel no Ocidente tratam de argumentar<br />

- apenas a ataques políticos ao Sionismo.<br />

Eles estão direcionados contra<br />

os judeus em geral, e são tão horríveis<br />

e desumanos quanto os que foram produzidos<br />

sob o domínio nazista.<br />

Poderíamos esperar tais imagens<br />

demoníacas de um país governado por<br />

alguém que nega o Holocausto, como<br />

o é o Irã, ou um regime sem princípios<br />

como a Síria. Mas estas imagens vis<br />

podem ser encontradas nos meios de<br />

comunicação de países supostamente<br />

moderados pró-ocidentais, como Jordânia,<br />

Catar, Arábia Saudita, Omã,<br />

Bahrain e Egito.<br />

Al-Watan (Oman) publicou caricaturas<br />

do tipo nazista de judeus com nariz<br />

em forma de gancho e costas curvadas,<br />

que não usam sapatos e que<br />

suam profusamente.<br />

Akhbar Al-Khalij (Bahrain) tem mostrado<br />

caricaturas anti-semitas de judeus<br />

de chapéus pretos e suando, enquanto<br />

manipulam os EUA a fazer a<br />

aposta que eles desejam.<br />

Al Ahram, um dos principais jornais<br />

diários do Egito, tem publicado charges<br />

de judeus rindo enquanto ficam bebendo<br />

sangue (o Senado americano aprovou<br />

US$ 1,84 bilhões para um pacote<br />

de ajuda para o Egito para 2006, o segundo<br />

mais alto do mundo).<br />

O cartunista oficial da Autoridade<br />

Palestina tem retratado os judeus em forma<br />

de cobras, historicamente uma maneira<br />

anti-semita da Europa Medieval.<br />

O site na Internet da Autoridade<br />

Palestina tem publicado repetidamente<br />

charges de judeus assassinando crianças<br />

não judias.<br />

Algumas das charges não apenas se<br />

parecem àquelas publicadas pelos nazistas.<br />

Elas são literalmente copiadas<br />

dos originais nazistas. <strong>Por</strong> exemplo, uma<br />

charge do Arab News (um jornal diário<br />

da Arábia Saudita, publicado em inglês<br />

e considerado como uma das publicações<br />

mais moderadas do mundo árabe),<br />

mostra ratos usando estrelas de<br />

David e solidéus, penetrando furtivamente<br />

para frente e para trás, através<br />

dos buracos na parede de um edifício<br />

chamado de “Casa Palestina”. As imagens<br />

usadas são praticamente idênticas<br />

às do conhecido filme nazista “Jew<br />

Süss” — uma cena na qual os judeus<br />

são mostrados como vermes que devem<br />

ser erradicados pelo extermínio em<br />

massa. Em outras ocasiões os judeus<br />

são os nazistas. O jornal jordaniano Ad-<br />

Dustur, por exemplo, publicou uma charge<br />

mostrando as estradas de ferro que<br />

levavam ao campo de extermínio em<br />

Auschwitz-Birkenau — mas ao invés das<br />

bandeiras nazistas, aparecem as bandeiras<br />

israelenses, e uma placa onde<br />

se lê: “Campo israelense de extermínio”.<br />

Supostamente, a Jordânia é um<br />

país moderado, em paz com Israel.<br />

Para marcar a designação do dia<br />

27 de janeiro como o “Dia da Memória<br />

do Holocausto”, o cartunista do Al-Yawm<br />

(da Arábia Saudita) superpôs a suástica<br />

nazista sobre a estrela de David.<br />

O judaísmo tampouco é poupado. O<br />

Daily Star em Beirute publicou uma tira<br />

mostrando um grande Talmud com uma<br />

baioneta sendo disparada contra um<br />

homem idoso com turbante árabe, saindo<br />

dele em seguida um jato de sangue.<br />

Outras tiras cômicas árabes têm mostrado<br />

judeus com sacos de dinheiro, espalhando<br />

morte, terror e doenças. As<br />

charges dinamarquesas relativamente<br />

suaves têm sido republicadas em vários<br />

jornais europeus de tal modo que<br />

os leitores possam descobrir o motivo<br />

de todo o alvoroço (é difícil para os<br />

leitores julgar a história sem ter visto<br />

as caricaturas). Mas não em jornais na<br />

Inglaterra ou em qualquer outro grande<br />

jornal dos EUA, países que aparentemente<br />

estão agora intimidados demais<br />

para correr os riscos que poderão<br />

advir dessas reproduções.<br />

Além disso, editores do The Guardian<br />

e do The Independent em Londres, por<br />

exemplo, apareceram na BBC dizendo<br />

que eles jamais sonhariam em publicar<br />

caricaturas que os muçulmanos considerassem<br />

ofensivas, mas esses mesmos<br />

jornais não hesitaram em publicar charges<br />

ofensivas aos judeus (sangue árabe<br />

sendo espalhado sobre o Muro das<br />

Lamentações no The Guardian, a carne<br />

de criancinhas árabes sendo comidas<br />

por Ariel Sharon no The Independent, e<br />

assim por diante).<br />

O The New York Times apressou-se em<br />

elogiar a frívola peça encenada na Broadway<br />

que mostra Jesus tendo sexo homossexual<br />

com Judas, mas não ousou reproduzir<br />

a caricatura dinamarquesa mostrando<br />

um ponto sério que é o do mau uso<br />

feito pelos terroristas islâmicos dos ensinamentos<br />

do profeta Maomé.<br />

<strong>Com</strong> gente protestando nas ruas de<br />

Londres, cantando em uníssono “Europa<br />

você vai pagar, o seu 11 de Setembro<br />

está a caminho” e segurando cartazes<br />

“Cortem as cabeças daqueles que<br />

insultam o Islã” e “Preparem-se para o<br />

verdadeiro Holocausto” talvez não seja<br />

surpresa que os fracos espíritos do Oci-<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Simpatia pelos que desenham<br />

Anne rank na cama com Hitler?<br />

Tom Gross*<br />

dente estejam se acovardando.<br />

Entretanto, este é um assunto<br />

que extrapola muito as caricaturas,<br />

e se desejam que as liberdades ocidentais<br />

sobrevivam, muçulmanos e<br />

não muçulmanos moderados devem<br />

parar de ceder às ameaças. Mark<br />

Steyn, da Jewish World Review, lembrou-nos<br />

das palavras mais conhecidas<br />

de um famoso personagem de ficção<br />

dinamarquês: “Ser ou não ser, eis a<br />

questão”. Exatamente.<br />

15<br />

* Tom Gross é<br />

correspondente<br />

no Oriente Médio do<br />

Jewish World Review.<br />

Tradução: Mina Seinfeld<br />

de Carakushansky e<br />

enviado por Luiz<br />

Nazário.<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

Palestinos disfarçados<br />

de soldados israelenses<br />

assaltam em Nablus<br />

Zaher Hamouz acordou a 1h30 da manhã ao som de uma<br />

batida forte na porta da frente de sua casa. Olhou pela<br />

janela e viu dois soldados israelenses. Ou pelo menos, assim<br />

pensou. Os pistoleiros mascarados vestiam fardas completas<br />

do exército de Israel, amarraram-no e esvaziaram<br />

sua casa, enquanto faziam de Hamouz a quarta vítima de<br />

uma gangue de ladrões que tiram proveito do conflito para<br />

roubar casas. A vítima disse que os homens falavam um<br />

hebraico com acento pesado, misturado com árabe e exigiram<br />

entrar na casa. Os “soldados” disseram que tinham informação<br />

sobre um homem procurado ali dentro. Quando<br />

Hamouz os deixou entrar eles o vendaram e amarraram suas<br />

mãos e de seu filho de 12 anos. Então ameaçaram sua esposa<br />

a entregar pertences valiosos da casa. A mulher disse<br />

que passou a suspeitar deles quando um dos homens começou<br />

a ler um jornal árabe que estava sobre a mesa.<br />

“Eu disse: ‘<strong>Com</strong>o você sabe ler árabe, mas não fala?”’,<br />

contou ela. “E então ele apontou a arma dele para mim e<br />

disse: ‘cale-se’. “Foi quando eu soube que eles não eram<br />

israelenses, mas sim ladrões”, concluiu ela.<br />

Hind Al-Masri, a mulher de Hamouz, disse os homens<br />

levaram cerca de 1000 NIS (New Israeli Shekalim) e uma<br />

parte de suas jóias. Quando a família foi registrar queixa na<br />

polícia, descobriu que eles não eram os únicos.<br />

“Isto aconteceu três vezes antes — pessoas com uniformes<br />

de soldados israelenses e dizendo que são israelenses”,<br />

disse Said Abu Ali, o administrador de Nablus.<br />

“É uma desgraça que algo assim aconteça aqui num<br />

um tempo difícil para nós. Os palestinos precisam ajudar<br />

uns aos outros”.<br />

A polícia estaria investigando os casos e prometeu levar<br />

os responsáveis à justiça, disse Ali. Entretanto, ainda não<br />

há nenhuma pista direta das identidades dos ladrões, e nenhuma<br />

idéia de como eles conseguiram obter os uniformes.<br />

As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que não<br />

tiveram nenhum conhecimento dos casos.<br />

Al-Masri disse estar preocupada com o fato de que as notícias<br />

das artimanhas de ladrões levarão muitos a resistir aos<br />

soldados israelenses no futuro, o que poderia conduzir à violência.<br />

“<strong>Com</strong>o se pode saber se são israelenses ou ladrões? O<br />

que acontece se israelenses reais vêm e nós não os deixamos<br />

entrar?”, ela disse. “Nós não sabemos quem são os soldados e<br />

quem não são. É um problema.” (Haaretz).<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


16 (com<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

VISÃO<br />

Político português quer medidas drásticas<br />

Ribeiro e Castro, político em <strong>Por</strong>tugal, propõe<br />

que o embaixador do Irã em Lisboa<br />

seja considerado persona non grata. O líder<br />

do CDS-PP pediu dia 18/2 ao Governo<br />

que expulse o embaixador do Irã em <strong>Por</strong>tugal<br />

na seqüência das declarações que fez<br />

sobre o Holocausto. “Nós tomamos nota<br />

da reação do Governo português e do Ministério<br />

dos Negócios Estrangeiros, mas não<br />

nos parece suficiente. Achamos que o Embaixador<br />

do Irã deve ser considerado persona<br />

non grata e deve ser reenviado para<br />

o seu país”. A posição de José Ribeiro e<br />

Castro foi assumida depois de ter visitado<br />

a Sinagoga de Lisboa, onde teve um encontro<br />

com responsáveis da comunidade judaica<br />

em <strong>Por</strong>tugal. No dia 16/2, o embaixador<br />

foi chamado ao Palácio das Necessidades<br />

por Freitas do Amaral, depois de ter questionado<br />

o número de vítimas do Holocausto<br />

ao afirmar que para incinerar seis milhões<br />

de pessoas seriam necessários 15 anos. (Israel<br />

Blajberg-Rio de Janeiro).<br />

Ciganos contra negação do Holocausto<br />

Líderes ciganos da Alemanha enviaram<br />

carta de protesto à embaixada do Irã em<br />

Berlim, por causa das declarações do presidente<br />

Ahmadinejad, que considerou o<br />

Holocausto “um mito” e se pronunciou a<br />

favor da extinção de Israel. O presidente<br />

do conselho central de ciganos, Romani<br />

Rose, disse na carta que manifestações<br />

como essa constituem “uma propaganda de<br />

ódio”. Rose considerou em sua mensagem<br />

que o Holocausto, durante a Segunda Guerra<br />

Mundial, consumado pelo nazismo, provocou<br />

a morte de 500 mil ciganos em campos<br />

de concentração, além de 6 milhões de<br />

judeus. “O governo de Teerã deve respeitar<br />

a verdade histórica se quer fazer parte da<br />

comunidade internacional”, escreveu na<br />

carta ao embaixador iraniano na Alemanha,<br />

Seyed Shamseddin Jaregani. Na Europa vivem<br />

cerca de 10 milhões de ciganos, muitos<br />

deles de religião muçulmana. (ANSA).<br />

Árvore em homenagem a padre<br />

panorâmica<br />

Em memória do padre Andrea Santoro, assassinado<br />

em 5/2 na Turquia, o Fundo Kerem<br />

Kaiemet LeIsrael (KKL) da Itália, plantou<br />

uma árvore em Jerusalém. A iniciativa<br />

foi de Emanuele Pacifici, membro da comunidade<br />

judaica de Roma e presidente<br />

da Associação Amigos do Yad Vashem, que,<br />

ao receber a notícia do assassinato do sacerdote<br />

contatou o KKL e escreveu uma<br />

carta de solidariedade ao cardeal Camillo<br />

Ruini, bispo vigário para a diocese de<br />

Roma. Em entrevista, Pacifici disse que<br />

experimentou uma imensa dor pelo que<br />

sucedeu ao padre Andrea Santoro, morto<br />

enquanto rezava, exatamente como sucedeu<br />

ao seu pai, rabino-chefe de Gênova,<br />

que foi preso enquanto rezava, torturado<br />

e deportado a Auschwitz, de onde nunca<br />

mais regressou. Pacifici, que quando era<br />

menino salvou-se da perseguição nazista<br />

graças às religiosas de Santa Marta em Settignano<br />

(Florença), explica que na tradi-<br />

informações das agências AP, Reuters,<br />

AP, EE, jornais Alef na internet, Jerusalem<br />

Post, Haaretz e IG)<br />

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• Yossi Groisseoign<br />

ção religiosa de Israel a árvore é símbolo<br />

da vida. Em memória dos que arriscaram a<br />

vida para salvar judeus desde 1962 se planta<br />

uma árvore na Avenida dos Justos, junto<br />

ao Yad Vashem, em Jerusalém.<br />

(Catholic.net).<br />

Hagadá de 600 anos salva por<br />

muçulmanos e católicos<br />

Réplicas de uma Hagadá (que conta a história<br />

da saída do povo judeu da escravidão<br />

no Egito) escrita há 600 anos, e que<br />

está hoje em Saravejo, na Bósnia, foram<br />

colocadas à venda. A Hagadá sobreviveu à<br />

Inquisição espanhola, à guerra da Bósnia<br />

e aos estragos do tempo. Jacob Finci, presidente<br />

da comunidade judaica local disse<br />

que decidiu imprimir 613 réplicas porque<br />

são 613 as mitzvót (preceitos) que cada<br />

judeu deve cumprir. “Serão usadas para o<br />

próximo Pêssach, (a Páscoa judaica). O original<br />

está exposto no Museu Nacional de<br />

Sarajevo, junto com manuscritos sagrados<br />

de outras religiões da Bósnia, o islã, o<br />

cristianismo ortodoxo e o catolicismo romano.<br />

Em 1492, um judeu refugiado da<br />

Espanha levou o livro à Itália, de onde<br />

chegou à Bósnia pelas mãos de um rabino,<br />

até que um descendente, Joseph Kohen,<br />

vendeu-a ao Museu Nacional em 1894.<br />

Durante a 2ª Guerra Mundial, um católico.<br />

diretor do museu e seu colega muçulmano,<br />

salvaram a Hagadá de um oficial nazista.<br />

Ficou escondida numa aldeia nas<br />

montanhas, sob do piso numa mesquita até<br />

o final da guerra. (Associated Press).<br />

Reconhecimento à igreja búlgara<br />

O livro ‘The Power of Civil Society in a Time<br />

of Genocide: Proceedings of the Holy Synod<br />

of the Bulgarian Orthodox Church on the Rescue<br />

of the Jews in Bulgaria 1940-1944’ [‘O<br />

Poder de Sociedade Civil no Tempo de Genocídio:<br />

Procedimentos do Sínodo Santo da<br />

Igreja Ortodoxa Búlgara no Salvamento dos<br />

judeus na Bulgária 1940-1944’] um projeto<br />

de Centro de Estudos Judaicos da Universidade<br />

de Sofia, apoiado pela B'nai B'rith Internacional,<br />

foi apresentado na reunião da<br />

Conferência de Presidentes das Maiores<br />

Organizações <strong>Judaica</strong>s, na Bulgária. A obra<br />

conta como toda a comunidade judaica daquele<br />

país, composta por 50 mil pessoas<br />

foi salva do nazismo graças à intervenção<br />

dos líderes da igreja, de parlamentares,<br />

intelectuais e dos cidadãos comuns. Lideranças<br />

judaicas norte-americanas que estiveram<br />

em contato com autoridades na Bulgária<br />

e na Romênia ficaram impressionados<br />

com o renascimento da vida judaica<br />

nestes países. (B'nai B'rith Internacional).<br />

Auschwitz em quadrinhos<br />

Maus, reeditado pela <strong>Com</strong>panhia das Letras,<br />

com tradução de Antonio de Macedo<br />

Soares, é a história de Vladek Spiegelman,<br />

judeu polonês que sobreviveu ao campo de<br />

concentração de Auschwitz, narrada por ele<br />

próprio ao filho Art. “Rato” em alemão,<br />

Maus, é considerado um clássico contem-<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

porâneo das histórias em quadrinhos. Foi<br />

publicado em duas partes, a primeira em<br />

1986 e a segunda em 1991. Em 1992, o<br />

livro ganhou o Prêmio Pulitzer de literatura.<br />

Na nova tradução, a obra foi relançada<br />

com as duas partes reunidas num só volume.<br />

Nas tiras, os judeus são desenhados<br />

como ratos e os nazistas têm feições de<br />

gatos; poloneses são porcos e americanos,<br />

cachorros. Esse recurso, aliado à ausência<br />

de cor dos quadrinhos, reflete o espírito<br />

do livro: trata-se de um relato incisivo e<br />

perturbador, que evidencia a brutalidade<br />

da catástrofe do Holocausto. As ilustrações<br />

de Art Spiegelman, porém, evitam o<br />

sentimentalismo e interrompem algumas<br />

vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas<br />

e inquietações. De vários pontos de<br />

vista, uma obra sem equivalente no universo<br />

dos quadrinhos e um relato histórico<br />

de valor inestimável. (PublishNews).<br />

Eliminada bitributação entre Brasil e Israel<br />

O presidente Lula assinou o decreto nº<br />

5.576, datado de 8/11/2005, promulgando<br />

a Convenção entre o Governo da República<br />

Federativa do Brasil e o Governo do<br />

Estado de Israel que visa evitar a dupla<br />

tributação e prevenir a evasão fiscal em<br />

relação ao imposto sobre a renda. A convenção<br />

foi celebrada em 12 de dezembro<br />

de 2002 e evitará que companhias israelenses<br />

que atuam no Brasil sejam obrigadas<br />

a pagar Imposto de Renda duas vezes;<br />

assim como as empresas barsileiras que<br />

prestam serviços não deverão pagar este<br />

mesmo imposto em Israel. Antiga reivindicação,<br />

sua promulgação por decreto será<br />

benéfica e trará resultados no incremento<br />

do intercâmbio comercial entre os dois países.<br />

(Câmara de <strong>Com</strong>ércio Brasil-Israel).<br />

China pede ajuda de<br />

Israel às Olimpíadas<br />

O comandante da Polícia Nacional israelense,<br />

Moshé Karadi, viajou a Beijing (Pequim)<br />

para colaborar com os preparativos para os<br />

jogos de 2008, que serão realizados naquele<br />

país. O governo chinês solicitou a ajuda dos<br />

especialistas de Israel para a prevenção e<br />

luta contra o terrorismo, os distúrbios e as<br />

desordens. Karadi se entrevistou em Shanghai<br />

com os principais diretores da segurança<br />

chinesa, os quais lhe solicitaram informações<br />

sobre os métodos e técnicas utilizadas<br />

em Israel. (La Tercera de Chile).<br />

Prefeito de Londres punido<br />

O prefeito de Londres, Ken Livingstone, foi<br />

punido dia 3/3 com quatro semanas de suspensão<br />

do cargo por haver comparado um<br />

jornalista judeu com um guarda de um campo<br />

de concentração nazista. O <strong>Com</strong>itê de<br />

Normas de Conduta da Inglaterra, comissão<br />

disciplinar que averiguou o caso, impôs<br />

o castigo ao concluir que Livingstone<br />

atuou de forma “ofensiva” e “insensível”<br />

e, assim, manchou a reputação da Prefeitura.<br />

O advogado do prefeito, Tony Child,<br />

tachou a decisão de “muito decepcionante”<br />

e adiantou que pretende recorrer ao<br />

Tribunal Superior. O fato aconteceu em<br />

fevereiro do ano passado, quando Livingstone<br />

foi abordado pelo repórter Oliver Finegold,<br />

do vespertino londrino Evening<br />

Standard, na saída de um evento. Ao in-<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

vés de responder ás perguntas do repórter,<br />

que depois se verificou ser judeu, o<br />

prefeito se incomodou a tal ponto que comparou<br />

Finegold com um “criminoso de guerra”<br />

e “um guarda de um campo de concentração”<br />

nazista. (Agência EFE).<br />

Prefeito de Londres II<br />

Conhecido por sua personalidade obstinada,<br />

Livingstone se recusou a apresentar<br />

desculpas apesar dos pedidos de diversos<br />

correligionários, entre eles o primeiro-ministro,<br />

Tony Blair, e dos líderes da comunidade<br />

judaica. Livingstone insistiu nos comentários<br />

que comparavam o trabalho do<br />

jornalista com o de um guarda de um campo<br />

de concentração, apesar de ter sido<br />

informado que o jornalista era judeu e considerava<br />

ofensivo que lhe perguntassem se<br />

era um criminoso de guerra alemão e argumentou<br />

que só expressou sua opinião<br />

sobre o Associated Newspapers, grupo<br />

editorial dono do Evening Standard. A diretora<br />

do Evening Standard, Veronica Wadley,<br />

celebrou a decisão do <strong>Com</strong>itê de Normas<br />

de Conduta da Inglaterra, e ressaltou<br />

que o repórter se comportou “de maneira<br />

impecável”. O Fórum Judeu de Londres também<br />

expressou sua satisfação com o veredicto.<br />

(Agencia EFE}.<br />

Vice de Chavez: recebe Hamas 'com prazer'<br />

O vice-presidente venezuelano, José Vicente<br />

Rangel, declarou que seu país receberia<br />

“com prazer” os líderes do Hamas, organização<br />

que venceu as eleições palestinas.<br />

“Qual é o problema?”, perguntou Rangel.<br />

“Eles acabam de vencer uma eleição”,<br />

disse. Os EUA, a União Européia e as Nações<br />

Unidas têm declarado que não dialogarão<br />

com o Hamas se o grupo não renunciar<br />

à violência e reconhecer a existência<br />

de Israel. A carta de fundação do Hamas<br />

prega a destruição do Estado judeu e o<br />

Hamas é considerado oficialmente uma organização<br />

terrorista pelos EUA e pela Europa,<br />

razão pela qual paira sobre os palestinos<br />

a ameaça de ser cortada a ajuda<br />

financeira internacional. O American<br />

Jewish Congress, sediado em Nova York,<br />

pediu aos países latino-americanos que não<br />

recebam o Hamas, justificando que uma<br />

recepção “prematura” não seria conveniente<br />

para a paz. (Uol).<br />

antasias nazistas levam à prisão<br />

No domingo e na segunda-feira de Carnaval,<br />

em duas ações diferentes, a Polícia<br />

Militar prendeu 47 pessoas, usando fantasias<br />

que divulgavam o nazismo, nos bairros<br />

de Bento Ribeiro e Marechal Hermes, no<br />

Rio de Janeiro. No domingo foram presas<br />

36 pessoas com fantasias contendo desenhos<br />

de Hitler de perfil, águia nazista com<br />

suástica e cruzes gamadas. Na segunda-feira<br />

foram presas outras 11 pessoas, entre elas<br />

5 menores de idade usando coletes com o<br />

desenho de Hitler de frente segurando um<br />

fuzil AK-47 e uma enorme suástica nas costas.<br />

Em outro caso não relacionado, no<br />

mesmo dia, foram apreendidos diversos<br />

porretes e cassetetes com outros grupos. O<br />

caso está sendo acompanhado pela Federação<br />

Israelita do Estado do Rio de Janeiro e<br />

pelo Secretário de Segurança, Marcelo Zaturansky<br />

Itagiba. (FIERJ).


Relativismo moral<br />

e Holocausto<br />

Pilar Rahola*<br />

Dois fatos, próximos no tempo e espírito,<br />

devolveram à primeira linha a questão<br />

do Holocausto: por um lado, as imprecações<br />

filonazistas do presidente do Irã, obcecado<br />

por sua judeufobia; de outro, a condenação<br />

à prisão do grande teórico do negacionismo, o<br />

pretendido historiador David Irving. No meio, numa confusão<br />

de valores própria destes tempos de pensamento débil,<br />

a petição de Javier Solana para equiparar o delito de antisemitismo,<br />

tipificado em muitos países democráticos, com<br />

a islamofobia. E, na atmosfera deste relativismo moral que<br />

impregna o pensamento do politicamente correto europeu,<br />

a convicção de que o código penal protege a religião<br />

judaica sobre as outras. Assim se expressava, não faz muito,<br />

o presidente do Conselho Islâmico da França, e são<br />

muitos os jornalistas que o analisam nestes termos. Dessa<br />

perspectiva, o ignominioso concurso iraniano de caricaturas<br />

do Holocausto, seria equiparável ao escândalo das<br />

caricaturas dinamarquesas.<br />

<strong>Por</strong> que não é assim? E dito em linguagem mais combativa,<br />

por que significa uma autêntica banalidade imoral<br />

a petição de Javier Solana? De início porque o crime<br />

de anti-semitismo não protege uma religião, nem fornece<br />

blindagem para os golpes da liberdade de expressão, mas<br />

ataca o ódio atávico que conduziu ao intento do extermínio<br />

de todo um povo. A tipificação do delito de antisemitismo<br />

não protege o D-us judeu, porém a memória de<br />

seis milhões de vítimas, assassinadas por sua condição<br />

de identidade, com independência de suas crenças religiosas.<br />

Recordemos que em Auschwitz os judeus morriam<br />

mesmo se eram crentes ou se eram ateus, anciãos, jovens<br />

ou crianças, revolucionários ou conservadores, nascidos<br />

na Grécia ou fugidos dos progroms russos. Era igual. Eram<br />

judeus, e essa era a culpa que os condenava à morte.<br />

Específico e sem comparação, o ódio contra os judeus<br />

representou a única indústria de extermínio que o ser<br />

humano jamais conhecera. Quando Ahmadinejad escarnece<br />

do Holocausto e professa sua fé negacionista, não<br />

está atacando uma crença religiosa. Está glorificando uma<br />

brutal e planejada matança. O assassinato de dois terços<br />

da população judaica européia. Ou seja: glorifica o horror.<br />

<strong>Por</strong> isso o anti-semitismo é crime nos países que mantêm<br />

uma mínima decência com a memória. E por isso mesmo,<br />

as ditaduras indecentes fazem apologia do esquecimento,<br />

a zombaria ou a negação.<br />

Quando Javier Solana, em viagem a uma ditadura teocrática<br />

islâmica como é a Arábia Saudita, pede a equiparação<br />

da islamofobia — que é uma forma de racismo — com<br />

o anti-semitismo — que tem sido uma arma mortífera de<br />

enorme eficácia —, demonstra até que ponto tem misturado<br />

os valores. E demonstra também, como, sob a pressão<br />

violenta do Islã radical, estamos dispostos a fazer concessões<br />

morais. Faria melhor Solana em falar dos direitos humanos<br />

na Arábia Saudita. Longe disso, converte o fundamentalismo<br />

em interlocutor, cai na chantagem que nos estabelece<br />

o integrismo e, rebaixando o Holocausto a uma<br />

pura intolerância, banaliza o horror. Está, pois, dentro do<br />

politicamente correto. <strong>Com</strong>o tal, é um exemplo a mais da<br />

derrota moral das sociedades livres. Puro, lamentável e<br />

perigoso relativismo moral.<br />

* Pilar Rahola é jornalista, escritora e tem programa na<br />

televisão espanhola. Foi vice-prefeita de Barcelona,<br />

deputada no Parlamento Europeu e deputada no<br />

Parlamento espanhol. Publicado na Revista El Temps,<br />

de Barcelona. Tradução: Szyja Lorber<br />

Tila Dubrawsky*<br />

este mês destaca-se a<br />

festa alegre de Purim<br />

com sua heroína, a<br />

Rainha Esther. Tanto o<br />

dia de jejum que antecede<br />

a festa (Taanit Esther)<br />

quanto a história escrita em pergaminho<br />

(Meguilat Esther) testemunham<br />

o papel vital que esta<br />

mulher singular teve no desenrolar<br />

do milagre de Purim.<br />

O Talmud pergunta, onde encontramos<br />

menção da Rainha Esther<br />

na Torá? (Deuteronômio<br />

31:18) “Veanochi hasteir astir panai<br />

bayom hahu” – “Esconderei<br />

minha face naquele dia” - nos<br />

dias de Esther terá ocultamento<br />

da face Divina.<br />

A história de Purim aconteceu<br />

após a destruição do primeiro<br />

Templo Sagrado, quando a era da<br />

profecia estava se fechando. Quando<br />

as pessoas não mais viam milagres<br />

abertos. Era uma época de<br />

encobrimento da luz Divina. O<br />

nome de D-us nem sequer aparece<br />

uma vez na Meguilá e é possível a<br />

gente concluir que todo o drama<br />

e seu final feliz foram orquestrados<br />

por seres humanos e suas escolhas,<br />

coincidências extraordinárias<br />

e a sorte de ter uma rainha<br />

judia no palácio.<br />

Nossos sábios nos ensinam que<br />

a queda de uma folha da árvore é<br />

coreografada, o sopro do vento é<br />

controlado e o vôo de um mos-<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Purim<br />

e a força da mulher<br />

quito é traçado pelo Mestre do<br />

Universo. Nada é acidental ou<br />

coincidência na vida. Todas as<br />

atividades e acontecimentos são<br />

dirigidos pela própria mão de D-us.<br />

Quanto mais quando um poder<br />

mundial como Rei Achashverosh<br />

da época, aprova um decreto sugerido<br />

pelo seu primeiro ministro,<br />

Haman, que incitado por um ódio<br />

fervoroso contra Mordechai é determinado<br />

a exterminar todo o<br />

povo judeu em um dia só.<br />

O desafio está em nós conseguirmos<br />

revelar a intenção e a<br />

mão Divina em cada evento e em<br />

cada momento da nossa vida<br />

mesmo quando não vemos mares<br />

se abrindo, ou arbustos queimando<br />

ou pragas atingindo os<br />

nossos inimigos.<br />

Meguilá - o nome do rolo de<br />

Purim vem da palavra gilui, revelação,<br />

pois foi a nossa heroína Esther<br />

que conseguiu desvendar a<br />

máscara Divina. Ela compreendeu<br />

que D-us a colocara em posição<br />

de proeminência e influência social<br />

para poder servir ao seu povo.<br />

No momento mais crucial, Esther<br />

não vacilou. Ela arriscou a sua<br />

própria vida, pois a continuidade<br />

do seu povo era mais preciosa,<br />

acima de tudo para ela.<br />

A Rainha Esther compreendeu<br />

que o decreto de Haman não havia<br />

começado aqui no plano físico<br />

e, sim, que o Mestre do mundo<br />

em cujo controle está o coração<br />

de todos os reis e ministros<br />

17<br />

estava querendo impulsionar o<br />

povo judeu a um nível espiritualmente<br />

superior. Então, primeiramente,<br />

teriam de estreitar os laços<br />

com o Rei dos Reis, O Todo<br />

Poderoso. Ela concordou em<br />

enfrentar o rei, com a condição<br />

que o povo se unisse e voltasse a<br />

D-us em oração e jejum tornando<br />

se desta forma merecedores da<br />

salvação Divina. Foi a Rainha Esther<br />

que conduziu o povo a uma<br />

notável elevação espiritual e a<br />

conseqüente redenção.<br />

Hakorei et hameguila lemafreia<br />

lo yotsei. (Shulchan Aruch) Se ao<br />

ler a Meguilá de Esther nós pensarmos<br />

que estas milagrosas coincidências<br />

só fazem parte do nosso<br />

passado e não dizem nada a<br />

respeito da nossa vida atual - não<br />

cumprimos com o nosso dever. A<br />

essência da Meguilá de Esther é<br />

aprender a olhar cada evento do<br />

nosso cotidiano com cuidadosa<br />

consideração e constantemente<br />

procurar a intenção divina em<br />

todos os momentos.<br />

Igual a heroína de Purim, nós<br />

mulheres judias temos a força de<br />

infundir o nosso lar, a nossa comunidade<br />

e o nosso mundo com<br />

a luz das nossas mitsvot e trazer<br />

esperança, salvação e redenção.<br />

Faço votos que assim como em<br />

Purim houve luz, alegria, regozijo<br />

e honra para todos os judeus, que<br />

assim seja para conosco, em breve,<br />

com a vinda de Mashiach.<br />

* Tila Dubrawsky é esposa do Rabino Yossef Dubrawsky, diretor do Beit Chabad de Curitiba, mãe, avó,<br />

coordenadora de programas educacionais e culturais, orientadora de pureza e harmonia familiar para<br />

noivas e mulheres de todas as idades.


18<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

“JEST, The Jewish, Earnest<br />

Way to Stop Tobacco<br />

Smoking” é o título do livro<br />

escrito por Abraham Bohadana<br />

com ilustrações de<br />

David Szjanbrum Bohadana.<br />

“Usando um pouco de humor,<br />

o livro explora de que<br />

modo princípios judaicos<br />

tradicionais podem ajudar fumantes a parar<br />

de fumar e evitar recaídas. Em resumo, ‘JEST’<br />

(que significa “Piada”, em inglês) conta as aventuras<br />

de um casal de judeus não-religiosos lutando<br />

para deixar o cigarro. Aos poucos, uma<br />

abordagem não-moralizante aparece, suscetível<br />

de agradar fumantes em geral, religiosos<br />

ou não.” O livro é vendido apenas pela internet<br />

http://jestonline.com.<br />

Para quem não se lembra, a família Bohadana<br />

morou 2 anos em Curitiba, e hoje reside em<br />

Nancy, França. Abraham trabalha hoje no Hospital<br />

da Universidade de Nancy e é Diretor de<br />

Pesquisa no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa<br />

Médica (INSERM em francês). Segundo<br />

ele: “Moramos 2 anos em Curitiba, foi curto,<br />

mas marcante a ponto de passarmos uma parte<br />

de nossas férias aí”.<br />

A Escola Israelita Brasileira “Salomão Guelmann”<br />

começa no dia 13/3 a vender produtos<br />

para a ocasião. A ‘lojinha” estará funcionando<br />

na entrada do CIP, das 14 às 18h de segunda<br />

a sexta-feira até o dia 11/4.<br />

A Wizo vai inaugurar seu painel “Memória Wizo”<br />

dia 19/3 às 16h no CIP (Travessa Agostinho<br />

Macedo, 248) e convida toda a comunidade<br />

párea prestigiar o evento.<br />

O Instituto Cultural Judaico-Brasileiro “Bernardo<br />

Schulman” está convidando a comunidade<br />

para a inauguração de sua nova sede,<br />

Rua Cruz Machado, 126, local da Sinagoga<br />

Francisco Frischmann. Será dia 26/3 às 16h30.<br />

Nos dias 4 e 5 de abril, às 20h30, no miniauditório<br />

do Teatro Guaira, o Grupo Apoio reapresentará<br />

a peça teatral humorística “Na era<br />

da válvula”, que foi sucesso na temporada<br />

passada. Os espetáculos serão em benefício<br />

das entidades filantrópicas Wizo e Pioneiras.<br />

O ingresso custará R$10,00 e uma lata de leite<br />

em pó por casal.<br />

Para conscientizar, esclarecer e debater o<br />

Terrorismo Internacional e a Importação<br />

do Anti-Semitismo para a América Latina,<br />

a B’nai B’rith de São Paulo, promove duas<br />

palestras com convidados internacionais.<br />

Que tal seguirmos o exemplo?<br />

15 de março, às 20h30 - ”Internacionalização<br />

do terrorismo” - Palestrante: Ely<br />

Karmon - Ph.D em Ciências Políticas pela<br />

Universidade de Haifa, Pesquisador Senior<br />

do Instituto contra Terrorismo de<br />

Israel, Autor do livro: “Coalizões entre<br />

Organizações Terroristas: Revolucionários,<br />

Nacionalistas e Islâmicos” (2005).<br />

6 de abril, às 20h3: ”Importação do antisemitismo”<br />

- Palestrante: Fábio Landa -<br />

Doutor em psicanálise pela Université Paris<br />

VII-Jussieu - Pós-doutor por Paris IV-<br />

Sorbonne - Pós-doutor pela Ecole de Hautes<br />

Etudes en Sciences Sociales-Paris. Local:<br />

Sede da B´nai B´rith do Brasil - Rua<br />

Caçapava, 105. São Paulo.<br />

<strong>Por</strong> conta da forte procura de visitantes,<br />

o governo de Israel anunciou que<br />

abrirá o seu primeiro escritório de Turismo<br />

da América Latina no Brasil. O anúncio<br />

é uma resposta à alta demanda de<br />

turistas brasileiros em peregrinação à<br />

Terra Santa. Somente no ano passado,<br />

19.764 pessoas visitaram o país, o que<br />

representou um aumento de 73% se comparado<br />

a 2004.<br />

Ainda não foi definido um local para<br />

sediar o escritório. Segundo o governo<br />

israelense, duas cidades apontadas foram<br />

São Paulo e Rio de Janeiro, esta<br />

com maiores possibilidades de receber<br />

as instalações. A abertura de um escritório<br />

de representação no Brasil coincidirá<br />

com a de outro em Atlanta, nos<br />

Estados Unidos.<br />

Marcus Moraes, jornalista, correspondente<br />

da Jewish Telegraphic Agency<br />

(JTA) no Brasil e colaborador do ALEF,<br />

em janeiro representou o Brasil no<br />

Young Jewish Leadership Diplomatic Seminar<br />

(Seminário Diplomático de Jovens<br />

Lideranças <strong>Judaica</strong>s), junto com<br />

Abrahão Kano (Rio) e Fabio Szperling<br />

(São Paulo). Sediado no luxuoso novo<br />

prédio do Ministério de Relações Exteriores<br />

de Israel (Mizrad HaChutz), o<br />

evento foi realizado em Jerusalém. Ao<br />

longo de palestras, conferências,<br />

workshops, o grupo de 25 jovens ativistas<br />

judeus da América Latina, Estados<br />

Unidos e Europa puderam trocar experiências<br />

vividas em nossas comunidades,<br />

além de aprender e debater exaustivamente<br />

diversas questões judaicas<br />

com diplomatas, políticos, historiadores,<br />

sociólogos, antropólogos etc.<br />

Duas pitadas bem brasileiras rechearam<br />

o seminário: o jornalista Marcos Losekann,<br />

da TV Globo, e o porta-voz do<br />

Departamento de Informação israelense<br />

Ilan Sztulman. Losekann apresentou sua<br />

visão com correspondente latino-americano<br />

não-judeu em Jerusalém, enaltecendo<br />

a ampla liberdade profissional que<br />

goza no Estado Judeu, cuja prosperidade<br />

comparou à da Europa. Já Sztulman<br />

palestrou sobre a “guerra” travada entre<br />

Israel e a imprensa tendenciosa. Diversos<br />

outros temas foram abordados<br />

pelos demais conferencistas, incluindo<br />

o aumento do anti-semitismo em todo<br />

o mundo e a atual situação política no<br />

Oriente Médio.<br />

Apesar do clima conturbado com o afastamento<br />

do primeiro-ministro Ariel Sharon<br />

e a liderança interina de Ehud Olmert,<br />

as eleições palestinas e a vitória<br />

do Hamas, a expectativa das novas eleições<br />

israelenses e o atentado terrorista<br />

em Tel-Aviv, a agenda ainda teve espaço<br />

para a posse da nova chanceler Tzipi<br />

Livni, visitar as instalações de uma fábrica<br />

israelense de high-tech, entrevistar<br />

militares que patrulham a fronteira<br />

de Israel com o Líbano, conhecer alguns<br />

locais sagrados cristãos (Igreja do Santo<br />

Sepulcro, Via Dolorosa e Sinagoga de<br />

Caphernaum), dialogar com um diplomata<br />

israelense druso, bem como o novo<br />

prédio do Yad Vashem.<br />

De 13 de março a 13 de abril, a Unicenp<br />

realiza a Expo Einstein: Nem tudo é relativo.<br />

O evento tem o apoio do Instituto<br />

Cultural Judaico-Brasileiro “Bernardo<br />

Schulman” e estará instalado na Sala de<br />

Eventos do Centro Universitário Positivo,<br />

na Rua Professor Pedro Viriato Parigot<br />

de Souza, 5.300, com entrada franca.<br />

Funcionará de segunda a sexta-feira,<br />

das 10 ás 18h e aos sábados, domingos<br />

e feriados das 11 ás 13h.<br />

Colabore com notas para a coluna. Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail: visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />

Prof. Israel Blajberg, veterano Rubens<br />

Andrade (Presidente da Associação<br />

dos Ex-<strong>Com</strong>batentes), tenente Luise<br />

Betty Burdman e o veterano Sérgio<br />

Pereira (herói de Monte Castelo<br />

condecorado com a Bronze Star)<br />

Membros da comunidade israelita foram<br />

agraciados com a Medalha Jubileu<br />

de Ouro da Vitória na Segunda<br />

Guerra Mundial. A tenente dentista<br />

dra. Luise Betty Burdman, da Odontoclinica<br />

Central do Exército, e o professor<br />

Israel Blajberg, do Instituto<br />

de Geografia e Historia Militar do<br />

Brasil, foram agraciados com a Medalha<br />

Jubileu de Ouro da Associação<br />

dos Ex-<strong>Com</strong>batentes do Brasil, durante<br />

solenidade realizada em 23 de<br />

fevereiro. A tenente Luise Betty<br />

Burdman foi agraciada em reconhecimento<br />

aos bons serviços prestados<br />

no atendimento aos veteranos e seus<br />

familiares na Odontoclinica Central<br />

do Exercito, e o professor Israel Blajberg<br />

em razão do trabalho desenvolvido<br />

na preservação da memória<br />

dos Ex-combatentes.<br />

Esteve presente à solenidade o Veterano<br />

da Marinha do Brasil Melquisedec<br />

Affonso de Carvalho, Diretor<br />

Cultural da Associação, o qual integrou<br />

inúmeros comboios no Atlântico<br />

Sul durante o conflito, tendo sido<br />

um dos homenageados em 2005 na<br />

solenidade Heróis Brasileiros Judeus<br />

da 2ª Guerra Mundial, no Grande Templo<br />

Israelita.<br />

Em 14 de fevereiro, mais de<br />

30 jovens de diferentes cidades<br />

brasileiras embarcaram<br />

para Israel, a fim de participar<br />

do Programa das Classes<br />

Brasileiras de Ayanot, mantido<br />

por Na’amat Pioneiras-<br />

Brasil. Os planos eram muitos,<br />

e diziam respeito a cres-<br />

O grupo de brasileiros que embarcou este ano cimento pessoal, a aprofun-<br />

para as classes de Ayanot<br />

damento de estudos, aprendizado<br />

de novas línguas, aumento<br />

do círculo de amizades, possibilidade de uma maior aproximação<br />

com sua cultura e tradição, entre outros. Todos os alunos foram unânimes<br />

em afirmar que este seria um ano de muito aprendizado, descobertas e<br />

crescimento. Mais informações em www.naamat.org.br/


grupo radical islâmico<br />

Hamas, que tem praticado<br />

atentados terroristas<br />

em Israel, assumiu como<br />

partido majoritário no Parlamento<br />

palestino e rapidamente rejeitou<br />

o pedido do presidente Mahmoud<br />

Abbas para procurar esforços na pacificação<br />

com o Israel.<br />

A posse no parlamento, eleito em<br />

janeiro, garantiu ao Hamas a formação<br />

de um governo que está em rota de<br />

colisão potencial com Abbas e delineia<br />

um boicote das potências mundiais a<br />

menos que renuncie à violência e seu<br />

objetivo de destruir Israel.<br />

Israel está considerando restrições<br />

mais duras aos palestinos para aplicar<br />

pressão no Hamas. Fontes israelenses<br />

confiáveis disseram que se o novo governo<br />

não reconhecer Israel, parar a<br />

violência e aceitar os acordos de paz,<br />

seria visto como uma “entidade hostil”.<br />

Falando na abertura da sessão do<br />

Parlamento, Abbas disse que o novo<br />

governo deve reconhecer os tratados de<br />

paz já assinados com Israel e procurar<br />

ele próprio por um status de conversações,<br />

mas ele não fixou condições para<br />

formar um gabinete.<br />

“A presidência e o governo continuarão<br />

respeitando nosso compromisso às<br />

Para Eid, a crise interna do Fatah<br />

foi uma das razões para a vitória do<br />

grupo extremista nas eleições palestinas.<br />

Mas a principal foi que, nos últimos<br />

anos, nós, palestinos, temos ouvido<br />

da Autoridade Nacional Palestina<br />

tantas promessas, inclusive de combate<br />

a corrupção, e nada aconteceu.<br />

Os palestinos ficaram cheios dessa situação<br />

- explicou.<br />

Segundo o diretor do órgão, muitos<br />

cidadãos de “mente aberta”, democráticos,<br />

votaram no Hamas porque acreditaram<br />

que o movimento é o único capaz<br />

de realizar mudanças. Entretanto,<br />

o povo palestino ainda não teria entendido<br />

que levar o Hamas ao poder “é um<br />

negociações como uma escolha política<br />

estratégica”, pragmática, disse Abbas.<br />

“Nós fomos eleitos numa agenda<br />

política diferente”, disse para o líder<br />

do Hamas, Ismail Haniyeh, que se tornou<br />

primeiro-ministro numa sessão<br />

transmitida por TV unindo por vídeo a<br />

Margem Ocidental e a Faixa de Gaza,<br />

suspendendo as orações muçulmanas.<br />

O Hamas ganhou o controle do Conselho<br />

Legislativo palestino nas eleições<br />

parlamentares de 25 de janeiro batendo<br />

a longa dominação do Fatah de Abbas<br />

que foi amplamente acusado de corrupção<br />

e malversação. O Hamas obteve 74<br />

cadeiras no parlamento de 132 membros.<br />

Representantes do Hamas disseram<br />

que o grupo apresentará logo um projeto<br />

ao Parlamento, incluindo uma proposta<br />

para uma trégua de longo prazo com<br />

Israel se este se retirar das terras conquistadas<br />

na guerra de 1967. Israel,<br />

entretanto já rejeitou essa proposta porque<br />

espera primeiro o reconhecimento e<br />

a cessão da violência e dos atentados.<br />

O grupo tem repetidamente dito<br />

que não rescindirá sua chamada para<br />

a destruição de Israel ou reconhecerá<br />

o estado judeu. O Hamas, que aderiu<br />

em grande parte a uma trégua durante<br />

os últimos anos recusou abandonar<br />

suas armas.<br />

desastre”. Para exemplificar, Eid citou<br />

uma história pessoal:<br />

- Um amigo israelense que conheci<br />

há pouco, disse-me estar muito satisfeito<br />

com o resultado das eleições. Ele<br />

disse que vamos levar o Hamas e eles,<br />

israelenses, vão levar o Likud para um<br />

novo conflito sangrento e, daqui a uns<br />

cinco anos, estaremos mais aptos a nos<br />

comprometer e procurar uma solução<br />

para o Oriente Médio. E é isso mesmo.<br />

Eid afirmou ainda ter certeza que,<br />

no próximo mês, os membros da segurança<br />

palestina vão lutar pelos seus<br />

salários. “A ANP precisa, todo mês, de<br />

40 milhões de dólares. Quem vai pagar<br />

por isso se de acordo com as leis da<br />

Europa ou dos Estados Unidos, eles não<br />

podem apoiar o Hamas? De onde vão<br />

tirar o dinheiro?”, indagou.<br />

Eid apontou o povo palestino como<br />

único culpado dessa situação. Para ele,<br />

a falta de estratégia da população é<br />

uma das razões para o “caos”.<br />

“Temos que entender que as pessoas<br />

estão insatisfeitas. <strong>Com</strong> certeza,<br />

a sociedade civil, os acadêmicos.<br />

Mas parece que nós (sociedade civil e<br />

acadêmicos) somos considerados a<br />

Trégua é trapaça<br />

O Exército descobriu um lançador<br />

de morteiro de 60 milímetros com oito<br />

mísseis que apontavam para Giló, bairro<br />

de Jerusalém, segundo fontes que<br />

citaram o dretor do Shin Bet (Agência<br />

de Segurança Interna Israelense) Yuval<br />

Diskin, dia 19 de fevereiro.<br />

Diskin, que falou ao <strong>Com</strong>itê de Defesa<br />

e Relações Exteriores da Knesset<br />

disse aos parlamentares que é a primeira<br />

vez que se descobre uma arma<br />

balística apontada para Jerusalém. O<br />

morteiro havia sido roubado de uma<br />

base do Exército israelense. O diretor<br />

do Shin Bet disse que a chamada trégua<br />

(hudna) que oferece o Hamas por<br />

10 anos, é uma trapaça ao dizer que<br />

apesar de vários indícios de moderação,<br />

o Hamas é uma ameaça estratégica<br />

para Israel.<br />

O objetivo da organização terrorista,<br />

enfatizou Diskin, é a total destruição<br />

de Israel. Se permitirmos que o<br />

estado do Hamas se levante, predigo<br />

que será uma atração para as organizações<br />

de Jihad internacionais.<br />

O Conselho das <strong>Com</strong>unidades da<br />

Judéia e Samária disse que os comentários<br />

do diretor do Shin Bet reforçam<br />

a certeza de que o estabelecimento de<br />

um estado palestino é uma verdadeira<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Hamas assume o governo, mas<br />

não quer abandonar o terrorismo<br />

O diretor do Grupo Palestino<br />

de Monitoramento dos Direitos<br />

Humanos, Bassem Eid, entrevistado<br />

pelo Globo Online, disse que um<br />

“terremoto político” atingiu os<br />

territórios palestinos, referindo-se<br />

à vitória do Hamas nas eleições<br />

promovidas pela Autoridade<br />

Palestina. “Acho que o próprio<br />

Hamas ficou chocado e surpreso de<br />

como eles conseguiram um número<br />

tão grande de votos”, disse.<br />

Bassem Eid: vitória do Hamas é<br />

como um ‘terremoto político’<br />

minoria dos palestinos. Pensei que<br />

fôssemos a maioria, mas eu acho que<br />

estava errado”.<br />

Bassem Eid ressaltou que vai levar<br />

tempo até que a população palestina<br />

perceba o desastre que trouxe para si.<br />

Em algumas semanas, um novo cenário<br />

deve surgir, com a transferência de<br />

ameaça para a existência de Israel.<br />

Enquanto os serviços de segurança<br />

informavam que há ao menos 73<br />

alertas de possíveis ataques terroristas<br />

e que a Jihad Islâmica se ocupa<br />

pouco a pouco do vazio deixado pelo<br />

Hamas desde sua assunção ao parlamento<br />

palestino.<br />

O Exército continua com operações<br />

de grande escala na área de Schem para<br />

encontrar terroristas da Jihad Islâmica.<br />

Um de seus comandantes foi morto<br />

num fogo cruzado recentemente. (El<br />

Reloj.com e Jerusalem Post).<br />

poder do Fatah para o Hamas. Para Eid,<br />

não há a menor possibilidade de ambos<br />

os movimentos trabalharem juntos.<br />

“Eles são inimigos e você nunca trabalha<br />

com seu inimigo. Hamas e Fatah<br />

são dois maiores inimigos do Oriente<br />

Médio. Nunca veria os dois cooperando<br />

um com o outro”, completou.<br />

19<br />

Atentado com suicida-bomba em um ônibus de israel, reivindicado pelo Hamas


20<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

...Temperado com sal puro e santo<br />

- Êxodo 30:35<br />

A história e a trajetória<br />

do sal antecedem a<br />

história do homem<br />

Breno Lerner*<br />

Evidências históricas e as observações<br />

de animais até hoje mostram<br />

que os animais pré-históricos já procuravam<br />

sal mineral para lamber, mantendo<br />

assim o equilíbrio sódio x<br />

potássio, fundamental para a vida.<br />

É razoavelmente provável que o homem,<br />

desprovido de instintos, aprendeu<br />

a consumir sal com os animais.<br />

Fato é que o sal é o mais antigo<br />

tempero e preservante que o homem<br />

conhece em sua história.<br />

No ano 2700 a.C., portanto 4700<br />

anos atrás, o primeiro tratado de farmacologia<br />

conhecido, foi escrito por<br />

Tzao-Kan-Mu, na China, e já descrevia<br />

40 tipos diferentes de sal e pelo<br />

menos dois diferentes métodos de<br />

extração e refino do sal.<br />

<strong>Por</strong> sua importância para a vida<br />

humana, o sal é objeto de diversas<br />

histórias, fábulas, contos e lendas.<br />

Seus significados e simbolismos são<br />

incontáveis em religiões e mitos de<br />

todos os povos do planeta.<br />

O homem precisa repor entre 5 e<br />

10g de sal todo dia, para manter<br />

seu equilíbrio fisiológico. Isto representa<br />

1,8 a 3,6 kg por ano, ou<br />

seja, a humanidade consome, ao<br />

menos, entre 11 e 22 milhões de<br />

toneladas de sal ao ano.<br />

Obviamente este consumo todo<br />

não é unicamente<br />

do sal in natura.<br />

Obtemos reposição<br />

de sal nos alimentos<br />

que ingerimos,<br />

a carne, por<br />

exemplo, é uma<br />

boa fonte de sal.<br />

<strong>Por</strong> outro lado falamos<br />

da reposição<br />

mínima necessária,<br />

o consumo total<br />

é bastante superior,<br />

seja pelo<br />

uso como tempero,<br />

seja com ingrediente<br />

e uso industrial.<br />

A produção<br />

mundial é es-<br />

timada em 225 milhões de toneladas<br />

métricas. Apenas nos Estados Unidos,<br />

15 milhões de toneladas de sal<br />

são utilizadas anualmente para degelo<br />

e controle de neve e rodovias.<br />

O sal foi elemento importante na<br />

economia mundial, prova disto são<br />

a via Salaria, entre Roma e Ascolli, a<br />

route du Sel na Provence, a via Salarium<br />

na Turquia, a ruta do Sal no país<br />

Basco, a cidade de As-Salt (depois<br />

conhecida como Saltus) na Jordânia,<br />

Salzburg e suas quatro minas de sal<br />

na Áustria, a cidade de Tulz (sal em<br />

turco) na fronteira da Eslovênia com<br />

a Croácia, as tristemente famosas minas<br />

de sal da Sibéria, todas nominadas<br />

por sua importância no fabrico<br />

e comércio do sal. Um registro histórico<br />

da route du Sel aponta que,<br />

apenas no ano de 1776, saíram de<br />

Nice 35.000 mulas carregadas de sal,<br />

para outras cidades.<br />

Na Grécia, a troca de sal por escravos,<br />

gerou a frase “não vale o sal<br />

que come...”. Os romanos tinham especial<br />

preocupação com suas minas<br />

de sal e algumas delas estão em atividade<br />

até hoje, como por exemplo,<br />

a mina de Wieliczka na Polônia, com<br />

seus 300 km de túneis a 150 m abaixo<br />

da terra e sua surpreendente catedral<br />

de sal, um dos pontos que mais<br />

atrai turistas no país. Herodes manteve<br />

o monopólio do sal retirado das<br />

minas do Mar Morto e construiu o<br />

porto de Cesárea para, principalmente<br />

exportar o sal para ou outros domínios<br />

romanos.<br />

A expressão Salarium, que todo<br />

mundo atribui ao pagamento dos legionários<br />

em sal, hoje é questionada<br />

por alguns historiadores, que preferem<br />

entender que vem do entendimento<br />

que este pagamento era para<br />

repor as necessidades básicas do<br />

soldado, principalmente o sal.<br />

Os egípcios foram o primeiro<br />

povo a registrar uso culinário e como<br />

conservante do sal. Pinturas de 1450<br />

a.C registram o fabrico de sal. Receitas<br />

da época já levavam sal e seu<br />

uso em conservas e panificação, conhecido.<br />

Era utilizado também na<br />

mumificação. Uma receita antiqüíssima<br />

de dentifrício misturava berinjela<br />

tostada em pó e sal.<br />

Economicamente, como vimos<br />

acima, o sal movimentou legiões e<br />

povos para que povos tivessem meios<br />

de produção e comércio do sal.<br />

Na Etiópia, o sal foi usado como<br />

padrão monetário por quase mil anos,<br />

até 1935. Uma cotação do século XVI<br />

da Guela ou Hew – barra de sal usada<br />

como padrão – valia 16 kg de trigo.<br />

Na Bíblia encontramos mais de<br />

trinta citações ao sal, a mais famosa<br />

e conhecida, em Gen 19:26, onde a<br />

mulher de Lot transforma-se em uma<br />

coluna de sal.<br />

Homero chamou-o de divino, Platão<br />

de substância dos deuses.<br />

Shakespeare menciona o sal 37 vezes<br />

em suas obras. Suas características<br />

divinas são refletidas nas diversas<br />

superstições sobre azar ao derramar-se<br />

sal, não passar o saleiro de<br />

mão em mão, etc<br />

Curiosamente, Leonardo da Vinci<br />

coloca um saleiro derramado na<br />

frente de Judas, em sua Última Ceia.<br />

Entre os judeus, derrubar sal na mesa<br />

para nele passar a Challá, é uma forma de<br />

lembrar da destruição do templo.<br />

Cervantes, pela boca de Dom Quixote,<br />

dizia que um homem tem que<br />

comer uma pitada de sal com seus<br />

amigos para depois conhecê-los.<br />

Cícero recomendava não confiar<br />

em um homem a não ser que já tivesse<br />

partilhado sal com ele.<br />

Pitágoras afirmava que o sal era<br />

filho da pureza de seus pais, o sol<br />

e o mar.<br />

Archestratus, o grande cozinheiro<br />

grego ensinava que a melhor<br />

forma de contentar um homem<br />

faminto era colocar em sua frente<br />

um bom pedaço de assado de carne,<br />

temperada unicamente com sal,<br />

qualquer outra comida ou tempero<br />

seriam supérfluos.<br />

A adição de iodo ao sal praticamente<br />

eliminou da sociedade moderna<br />

(ou pelo menos dos países que<br />

adotaram esta medida) as síndromes<br />

decorrentes de sua falta, entre elas<br />

o bócio (que era endêmico, por<br />

exemplo, no Brasil) e tendência a<br />

retardo mental.<br />

Apresentada esta rápida história,<br />

uma receita com sal, muito sal:<br />

Pargo no sal grosso<br />

1 pargo com 2 a 3 quilos (pode<br />

ser substituído por enchova ou<br />

vermelho)<br />

2 limões cortados em fatias finíssimas<br />

3 a 4 quilos de sal grosso<br />

Um punhado de ervas para peixe<br />

(coentro, salsinha, endro, tomilho)<br />

bem batidas<br />

Claras de 2 ovos<br />

Peça ao peixeiro para limpar e<br />

destripar o peixe, abrindo-o também<br />

pelas costas. Recheie o peixe com<br />

as rodelas de limão. Numa assadeira<br />

faça um berço de sal grosso de 2 cm<br />

de altura. Coloque o peixe, verticalmente<br />

(“de pé”) sobre o sal. Misture<br />

o restante do sal com as claras e as<br />

ervas. Cubra o peixe, construindo<br />

paredes de sal ao seu redor. Não deixe<br />

nem um pedacinho descoberto.<br />

Asse em forno alto por 40 minutos.<br />

Leve a assadeira à mesa. <strong>Com</strong> um martelinho<br />

quebre a crosta de sal que sairá<br />

com a pele do peixe. Sirva os files ou<br />

pedaços, com azeites aromatizados<br />

que você pode fazer em casa.<br />

Coloque azeite em garrafas bonitas<br />

e aromatize-os com:<br />

1- Tomilho e endro (um amarrado<br />

com dois ou três ramos de<br />

cada).<br />

2- 2 colheres de sopa de alho torrado<br />

bem picado (pipoca de alho).<br />

3- 2 pimentas dedo de moça ou<br />

de cheiro (faça uns furinhos nas<br />

pimentas).<br />

Deixe as garrafas em local que receba<br />

sol por dois dias, depois guarde-as<br />

num armário por mais uma semana<br />

antes de servir.<br />

Para acompanhar, grossas fatias de<br />

tomate (o Momotaro é excelente para<br />

assar), berinjela (pré-grelhadas) e<br />

cebola roxa (faça uma pilha começando<br />

pela berinjela grelhada, depois<br />

tomate e a cebola por cima) assadas<br />

com bastante azeite e manjericão.<br />

Um vinho branco do Loire vem<br />

bem a calhar. Se não, um dos excelentes<br />

espumantes secos que o Brasil<br />

já anda fabricando.<br />

* Breno Lerner é editor e gourmand, especializado em culinária judaica. Escreve para revistas, sites e jornais. Dá regularmente cursos e workshops. Tem<br />

três livros publicados, dois deles sobre culinária judaica.


ilme que glorifica o terrorismo<br />

fica sem a estatueta do Oscar<br />

ontrariando a opinião<br />

de toda a mídia<br />

simpatizante e a<br />

crítica internacional<br />

(a maioria da esquerda),<br />

que previa a conquista da estatueta<br />

de melhor filme estrangeiro<br />

para Paradise Now, o Oscar 2006,<br />

que aconteceu no domingo 5/3 premiou,<br />

na categoria, um filme sulafricano,<br />

“Tsotsi”, derrubando assim<br />

as pretensões de abrandar a<br />

imagem do terrorismo e convertêlo<br />

num símbolo de luta legítima<br />

(!?). Um grupo de israelenses que<br />

teve filhos mortos em atentados<br />

a bomba praticados por palestinos<br />

havia apelado à Academia de<br />

Artes e Ciências Cinematográficas<br />

de Hollywood para que desclassificasse<br />

da disputa de filme<br />

estrangeiro o longa palestino Paradise<br />

Now, que aborda as motivações<br />

dos atentados a partir dos<br />

personagens de dois terroristas.<br />

O pedido à Academia de Hollywood<br />

baseou-se no fato de o<br />

filme explorar os ataques terroristas<br />

contra Israel.<br />

Em entrevista coletiva, Yossi<br />

Mendelvich, Yossi Zur e Ron Ker-<br />

32 mil assinaturas pediram desqualificação da<br />

película palestina Paradise Now<br />

Desabafo de um pai<br />

Após ganhar o prêmio Globo de Ouro, veio o<br />

desabafo de Yossi Tzur, pai de um filho assassinado<br />

num atentado num ônibus, diante de um filme<br />

que glorifica o terrorismo.<br />

O filme Paradise Now (O Paraíso Agora) mostra<br />

o caminho que dois jovens palestinos tomam<br />

para se tornar suicidas-bomba, até o momento<br />

que eles sobem a bordo um ônibus cheio de crianças,<br />

em Tel Aviv.<br />

O filme parece profissional. Foi feito com grande<br />

atenção aos detalhes, mas é extremamente<br />

perigoso — não só para o Oriente Médio, mas<br />

para o mundo inteiro.<br />

Meu filho Asaf, de quase 17 anos de idade, era<br />

um estudante da escola secundária que freqüentava<br />

o décimo primeiro grau e amava informática.<br />

Um dia após a escola ele embarcou num ônibus<br />

para voltar para casa, como sempre fazia. No caminho,<br />

um homem-bomba se explodiu no ônibus.<br />

Foram mortas 17 pessoas, 9 delas escolares<br />

com 18 anos de idade ou menos. Meu filho Asaf foi<br />

morto na explosão.<br />

Eu assisti ao filme Paradise Now tentando entender<br />

o que estava tentando dizer, que mensagem<br />

trazia?<br />

Que o assassino é humano? Ele não é.<br />

Que ele tem dúvidas? Ele não tem nenhuma.<br />

Afinal de contas, ele está disposto a se matar junto<br />

com as suas vítimas.<br />

Que os israelenses são culpados por esta matança<br />

brutal? São os israelenses culpados pelas<br />

Torres Gêmeas em Nova York, o night club da Indonésia,<br />

o hotel no Egito, a loja na Turquia, o restaurante<br />

no Marrocos ou em Tunis, o hotel na Jor-<br />

man, três dos pais de vítimas, reuniram<br />

32 mil assinaturas numa petição<br />

on-line contrária à indicação<br />

do filme. Paradise Now, cujos protagonistas<br />

são habitantes da<br />

Cisjordânia recrutados para um<br />

atentado suicida em Tel Aviv, é o<br />

primeiro longa palestino a ser indicado<br />

ao Oscar (até recentemente,<br />

a Academia não considerava a<br />

Palestina um país; em 2003, a inscrição<br />

de Intervenção divina, de<br />

Elia Suleiman, na categoria filme<br />

estrangeiro, foi recusada exclusivamente<br />

por causa disso).<br />

Hany Abu-Assad, o diretor de<br />

Paradise Now, é um israelense de<br />

origem árabe (nascido em 1961,<br />

em Nazaré), bem como os atores<br />

principais, Ali Suliman e Kais Nashef.<br />

As filmagens ocorreram nos<br />

territórios da Autoridade Palestina,<br />

com equipe técnica de lá. O<br />

produtor é um judeu israelense e<br />

a produção foi basicamente bancada<br />

por recursos europeus.<br />

Yossi Zur, cujo filho adolescente<br />

Asaf foi morto na explosão de<br />

um ônibus, acusou o filme de apresentar<br />

de forma favorável os métodos<br />

violentos adotados por gru-<br />

pos radicais palestinos para chamar<br />

atenção para sua causa.<br />

Nunca na história recente do<br />

Oscar uma indicação já concedida<br />

foi revogada a pedido de alguém.<br />

Isso aconteceu apenas nos primeiros<br />

anos da premiação, geralmente<br />

a pedido do próprio estúdio. Um<br />

precedente em 1993 ocorreu por<br />

violação de regras.<br />

As maiores cadeias exibidoras<br />

de Israel, inicialmente, evitaram<br />

mostrar Paradise Now, por medo<br />

de sofrerem boicotes na porta dos<br />

cinemas ou simplesmente de perderem<br />

dinheiro. O filme, apesar<br />

da controvérsia, era o favorito<br />

para o Oscar da categoria, ou pelo<br />

menos assim se dizia.<br />

O israelense Yossi Zur, cujo<br />

filho adolescente morreu na explosão<br />

de um ônibus, acusa o filme<br />

de fazer um retrato simpático<br />

da tática usada por alguns palestinos<br />

há mais de cinco anos. “O<br />

que eles chamam de Paradise Now,<br />

nós chamamos de 'inferno agora',<br />

todos os dias”, declarou. “É a<br />

missão de um mundo livre não premiar<br />

filmes como esses.”<br />

dânia, as estações subterrâneas em Londres, e a<br />

de trem na Espanha? E a lista segue sem parar.<br />

O que faz este filme merecedor de um prêmio?<br />

Será que as pessoas que premiaram este<br />

filme com o Globo de Ouro, fariam o mesmo se o<br />

filme fosse sobre jovens de Arábia Saudita que<br />

aprendem como pilotar aviões nos EUA e então<br />

usar rituais islâmicos para se prepararem para<br />

sua missão sagrada, e então colidir seus aviões<br />

com as Torres Gêmeas na cidade de Nova York?<br />

Este filme ganharia um prêmio então?<br />

Este filme tenta dizer que o assassinato suicida<br />

é legítimo quando você sente que esgotou todos<br />

os outros meios. Um assassino suicida sobe<br />

a bordo um ônibus e mata 15 ou 20 pessoas inocentes,<br />

então o que dizer de um assassino suicida<br />

que entra numa cidade com uma bomba biológica<br />

e mata 10.000 pessoas ou 100.000 pessoas?<br />

Isso ainda é legítimo? De onde alguém extrai essa<br />

linha de pensamento?<br />

Eu acredito que o mundo deveria recusar essa<br />

linha de uma pessoa. Até mesmo matança de uma<br />

só pessoa não é legítima. Meu filho tinha quase 17<br />

anos, ele amava surfar e amava música alta. Mas<br />

agora ele se foi porque um assassino suicida decidiu<br />

que é legítimo explodir-se em um ônibus<br />

abarrotado de gente.<br />

Conceder um prêmio a este tipo de filme dá<br />

aos diretores um selo de aprovação para que possam<br />

esconder-se atrás dele. Agora eles podem<br />

dizer que o mundo vê as implicações suicidas<br />

desta mensagem, essa que escolheram para premiar<br />

este filme com um prêmio que passa a fazer<br />

parte da maléfica cadeia de terror e cúmplice dos<br />

próximos assassinatos suicidas, ainda que matem<br />

17 pessoas ou 17.000 pessoas.<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Ministro da Educação em Israel<br />

O ministro da Educação, Fernando<br />

Haddad, esteve em Israel dia<br />

1º/3, no terceiro dia de uma viagem<br />

a três países da Oriente Médio.<br />

O objetivo foi discutir acordos<br />

de cooperação e parcerias,<br />

principalmente na área de ensino<br />

superior. O roteiro começou<br />

dia 27/2 em Beirute, no Líbano.<br />

No dia seguinte, 28/2, Haddad<br />

passou por Damasco, na Síria,<br />

onde manteve reunião de trabalho<br />

com o ministro da Educação<br />

do país para discutir, entre outras<br />

questões, formas de estimular<br />

o estudo do árabe em universidades<br />

brasileiras e do português<br />

em universidades sírias. Já<br />

existe um acordo cultural e educacional<br />

entre os dois países sobre<br />

este e outros temas firmado<br />

em 3 de dezembro de 2003 e que<br />

entrou em vigor em 1º de janeiro<br />

do ano seguinte (2004).<br />

(Agência Brasil).<br />

Ministro da Educação II<br />

Na quarta-feira, dia 1º/3, o ministro<br />

brasileiro teve compromissos<br />

com autoridades israelenses<br />

dos ministérios da Educação e das<br />

Relações Exteriores, em Jerusalém.<br />

No dia 2/3, pela de manhã,<br />

no Monte Scopus, ele se reuniu<br />

com o reitor da Universidade Hebraica<br />

de Jerusalém. Depois seguiu<br />

para Tel-Aviv, onde foi se<br />

encontrar com dirigentes do Ministério<br />

da Educação, Cultura e<br />

Esportes. Durante a viagem ao<br />

Oriente Médio, além das parcerias<br />

na área de ensino superior,<br />

Fernando Haddad discutiu acordos<br />

em educação a distância e<br />

ensino técnico e profissional. (Da<br />

Agência Brasil).<br />

Israel pesquisa contra<br />

a gripe aviária<br />

Estão sendo realizados em Israel<br />

testes com sangue e saliva de 13<br />

aves mortas encontradas em Gaza<br />

e entregues pela Autoridade Palestina.<br />

Se for confirmada, a<br />

gripe aviária poderá afetar a saúde<br />

e as finanças não apenas dos<br />

palestinos em Gaza, mas também<br />

em Israel, conforme alertam as<br />

autoridades. Uri Madar, chefe da<br />

Divisão de Agricultura do Escritório<br />

do Distrito de Erez disse que<br />

“é interesse de Israel assegurar<br />

que o padrão agrícola de Gaza seja<br />

mantido”. Ao ser notificado pelos<br />

palestinos da morte das aves, e<br />

preocupado, pediu que elas fossem<br />

enviadas para laboratórios<br />

veterinários israelenses. No entanto,<br />

as autoridades ainda não<br />

sabem se com o novo governo do<br />

21<br />

OLHAR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

HIGH-TECH<br />

○ ○<br />

Hamas o estreito contato com os<br />

palestinos sobre assuntos deste<br />

tipo terá continuidade. (Jerusalem<br />

Post).<br />

Internet em Israel<br />

Em Israel 47% da população está<br />

conectada à Internet e desse percentual<br />

cerca de 88% dos navegadores<br />

dispõem de conexão de<br />

banda larga, de acordo com a<br />

empresa TNS de telepesquisa. No<br />

total, são 3,4 milhões de pessoas<br />

que navegam na Internet diariamente.<br />

A mesma empresa informa<br />

que o uso mais comum é<br />

para busca de informações<br />

(93,5%), para busca de informações<br />

sobre turismo e viagens<br />

(59%) e para para leitura de notícias<br />

(74%). (Arutz 7).<br />

Grapefruit baixa o colesterol<br />

Uma variedade híbrida da fruta<br />

grapefruit, desenvolvida em Israel<br />

baixa o nível de colesterol<br />

oferecendo menos riscos de ataque<br />

de coração. Um grapefruit por<br />

dia — particularmente a variedade<br />

vermelha — pode ajudar<br />

manter o controle das doenças<br />

do coração, de acordo com um<br />

novo estudo de pesquisadores israelenses<br />

da Universidade Hebraica<br />

de Jerusalém. Doenças cardíacas<br />

são as que mais matam<br />

mulheres nos Estados Unidos, e<br />

o mês de fevereiro foi designado<br />

como o mês americano do coração.<br />

A equipe de pesquisadores<br />

conduzida pela doutora Sheila<br />

Gorinstein, da Universidade Hebraica,<br />

descobriu que pacientes<br />

que comem o equivalente a um<br />

grapefruit por dia tinham níveis<br />

de colesterol mais baixos do que<br />

os que não comiam — devido às<br />

propriedades antioxidantes da<br />

fruta. O elevado nível de colesterol<br />

do sangue é o principal fator<br />

de risco para doenças do coração.<br />

(Israel21c).<br />

Esperança contra câncer<br />

Roger Oscrason, da Suécia, sofre<br />

de câncer e está sendo tratado<br />

com um novo medicamento desenvolvido<br />

com base na descoberta<br />

dos Prêmios Nobel Hershko e<br />

Chernobar, de Israel. O medicamento<br />

chama-se Velcadea. Roger<br />

tem um tipo de leucemia muito<br />

difícil de ser tratada e este, segundo<br />

ele, é o primeiro medicamento<br />

que realmente funciona<br />

sem ter muitos efeitos colaterais.<br />

Roger iniciou o primeiro tratamento<br />

há um ano. E quando a leucemia<br />

voltou, um ano depois, passou<br />

a tomar o Velcadea num novo<br />

tratamento que vai durar até abril.<br />

(Da internet).


22<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

* Jacob Dolinger é doutor em<br />

Direito Privado e professor titular<br />

de Direito Internacional Privado<br />

na UERJ e professor visitante de<br />

várias escolas de Direito nos<br />

Estados Unidos e da Academia de<br />

Direito Internacional. Fonte:<br />

Artigo publicado no Boletim ASA<br />

– n o 71 – julho/agosto de 2001<br />

p.3.<br />

VJ INDICA<br />

Jacob Dolinger *<br />

o Pentateuco não há distinção<br />

entre regras de natureza<br />

legal e de natureza moral;<br />

ambas são apresentadas via<br />

revelação e se equiparam no que tange<br />

à sua autoridade. A forma imperativa<br />

é igualmente empregada à<br />

proibição contra o homicídio e o roubo<br />

e à ordem de amar o semelhante.<br />

Um sistema unificado de lei e moral,<br />

apesar de se reconhecer coercibilidade<br />

para um e não para o outro.<br />

Na visão profética de Isaías, Amós<br />

e Miquéias, a perda da soberania e o<br />

exílio se dão devido a corrupção social,<br />

pecados de natureza social, econômica<br />

e política, a violação de normas<br />

jurídico-morais de comportamento,<br />

sem referência a questões de<br />

culto ou ao pecado da idolatria.<br />

No período talmúdico se reconhece<br />

claramente que não há um regime<br />

de coerção para garantir determinadas<br />

formas comportamentais desejadas.<br />

Tanto na Mishná como na Tossefta<br />

— os dois códigos editados<br />

no final do século II<br />

da era atual, sobre os<br />

quais foram subseqüentemente<br />

elaborados e<br />

editados o Talmud de<br />

Jerusalém e o Talmud<br />

da Babilônia —, encontram-sereferências<br />

a certas situações<br />

em que, apesar de<br />

justificado, uma parte<br />

não tem recurso legal contra<br />

a outra parte, só lhe res-<br />

ILME<br />

Modigliani - Paixão pela Vida<br />

Título original: Modigliani<br />

EUA, 2004, 128 minutos<br />

Direção: Mick Davis<br />

Atores: Andy Garcia, Elsa Zylberstein e Omid Djalili<br />

Distribuição: Universal, drama, DVD, colorido.<br />

A Ética no Judaísmo<br />

tando taromet, ressentimento contra<br />

quem prejudicou.<br />

Os sábios talmudistas invocaram<br />

freqüentemente o conceito de<br />

v’assissá haiashar v’hatov — e farás o<br />

que é justo e bom —, encontrado<br />

no Deuteronômio 6, 18, para fundamentar<br />

uma série de normas de comportamento<br />

nas relações humanas,<br />

introduzindo coercibilidade em algumas<br />

delas. Destacam-se as regras<br />

sobre o preço excessivo, a ona’á, que<br />

faculta ao comprador reivindicar a<br />

anulação da transação pela qual o<br />

vendedor cobrou mais de um sexto<br />

acima do preço do mercado. Outra<br />

regra criada com base no ideal do<br />

justo e do bom é o direito do proprietário<br />

da terra executada por dívidas<br />

de reavê-la mais tarde, mediante<br />

o pagamento do valor de sua<br />

dívida. A angústia de quem perde sua<br />

terra ou sua casa inspirou a inovação<br />

talmúdica.<br />

Os juízes da época talmúdica, e<br />

todos que se seguiram àquela era,<br />

se esforçavam para estimular as partes<br />

que compareciam perante as cortes<br />

a ir além da estrita obrigação<br />

legal e isto se traduziu em diversas<br />

máximas. Uma delas é aquela que diz<br />

que a parte está isenta, de acordo<br />

com as leis do homem, mas obrigada,<br />

de acordo com as leis do Céu<br />

(dinei shamaim), significando que,<br />

apesar de o tribunal não ter como<br />

coagir a parte a cumprir com o iashar<br />

v’tov, mesmo assim exercia alguma<br />

pressão verbal para induzi-la a cumprir<br />

com o que é justo e bom.<br />

SINOPSE<br />

A história se passa na Paris dos anos 1920, a cidade mítica por onde circulavam artistas como Pablo Picasso,<br />

Gertrude Stein, Ernest Hemingway, Diego Rivera e Amedeo Modigliani – pintor judeu de origem italiana<br />

interpretado por Andy Garcia. O filme mostra os dramáticos últimos anos da vida do artista, período em que<br />

pintou as suas telas mais famosas e da sua paixão doentia por Jeanne Hebuterne – musa retratada em vários<br />

trabalhos. Filmado na França, Reino Unido, Alemanha, Romênia e Itália. Legendas em <strong>Por</strong>tuguês.<br />

Outra fórmula muito empregada<br />

em mais de dois mil anos de jurisprudência<br />

judaica é a famosa máxima<br />

lifnim meshurat hadin – além da<br />

obrigação legal -, significando que,<br />

apesar de não haver base jurídica para<br />

forçar-me a uma determinada atitude<br />

ou omissão, se eu quero me comportar<br />

além da estrita letra da lei,<br />

preocupando-me com o nível moral<br />

de meu comportamento, devo agir<br />

de determinada forma para com o<br />

nível moral de meu comportamento,<br />

devo agir de determinada forma para<br />

com meu co-contratante, meu vizinho,<br />

ou a pessoa que nem conheço<br />

e cujo objeto perdido eu achei, levando-me<br />

até a indenizar a pessoa<br />

que teve prejuízo por um conselho<br />

que lhe dei (nenhuma relação com a<br />

malpratice profissional, eis que o Talmud<br />

trata aqui de conselho gratuito<br />

[BM 24b e 30b e BK 99b]).<br />

Uma análise terminológica comparativa<br />

dos conceitos de tsedek e<br />

chessed torna mais fácil compreender<br />

a distinção entre o din (a lei) e o<br />

lifnim meshurat hadin (além da obrigação<br />

legal). Tsedek significa justiça,<br />

o ato correto, paralelo a emet,<br />

verdade. Tsedek e/ou emet representam<br />

os atos verdadeiros e corretos<br />

que cada um está obrigado a cumprir,<br />

equivalendo ao din, à lei.<br />

Chessed representa o ato caridoso,<br />

paralelo a hen — graça ou favor<br />

— e a rachamim —misericórdia. Chessed<br />

e/ou rachamim (apesar de, numa<br />

análise mais profunda, serem distintos)<br />

representam atos benevolentes,<br />

são expressões da boa vontade e de<br />

amor (“E amarás teu semelhante...”),<br />

e materializam o lifnim meshurat hadin,<br />

atos que vão além da estrita<br />

observância da lei, do din.<br />

Consequentemente, o tsadik é o<br />

homem justo que cumpre a lei, de<br />

acordo com os princípios emanados<br />

do tsedek-emet, já o chassid (o chassid<br />

mencionado no Talmud, não o<br />

judeu pertencente a um dos grupos<br />

chassídicos, oriundos do movimento<br />

do Baal Shem Tov, do século XVIII)<br />

é a pessoa que age com chessed-rachamim,<br />

uma pessoa bondosa, rápida<br />

para fazer um favor, uma pessoa<br />

que vai além das exigências da lei,<br />

agindo lifnim meshurat hadin.<br />

Moisés é o homem da lei, e seu<br />

irmão, Aaron, o homem que amava a<br />

paz, perseguia a paz, e reconciliava<br />

as pessoas umas com as outras por<br />

meio de concessões e de renúncias<br />

além da exigência da lei. Aaron<br />

acrescentava seu chessed ao din do<br />

irmão Moisés.<br />

No campo das transações comerciais,<br />

não tendo fundamento legal<br />

para forçar o inadimplente a cumprir<br />

seu compromisso, a corte endereça<br />

uma censura-maldição a<br />

quem não honra a palavra empenhada<br />

(mi shepara). Em circunstâncias<br />

menos graves a censura se materializa<br />

cognominando o faltante<br />

como mechussar emuná (destituído<br />

de lealdade). Uma censura mais<br />

branda é a que proclama que determinado<br />

comportamento da pessoa<br />

envolvida “não é do agrado dos<br />

sábios de Israel”. <strong>Por</strong> outro lado,<br />

aquele que paga uma dívida já prescrita<br />

(pela shmitá que ocorria a<br />

cada sete anos) executa um ato que<br />

“agrada aos sábios de Israel”.<br />

A punição pelo uso de pesos e<br />

medidas adulterados é mais grave do<br />

que por relações sexuais vedadas,<br />

pois o comerciante nunca mais saberá<br />

a quem locupletou para fazer a<br />

restituição. O Talmud diz que no julgamento<br />

final a primeira pergunta<br />

que se faz à alma é se ela conduziu<br />

seus negócios com boa fé.<br />

Finalmente, qualquer palavra<br />

que possa induzir outra pessoa a<br />

uma impressão errônea sobre qualquer<br />

situação é proibida (onaat devarim),<br />

mesmo sem acarretar prejuízo<br />

monetário.<br />

Uma clássica regra da moral judaica,<br />

contida no Pirkei Avot — a<br />

Ética dos Pais — é citar a autoria de<br />

tudo que se diz e escreve. <strong>Com</strong>o todos<br />

os conceitos aqui expostos derivam<br />

do Talmud faz-se tão somente<br />

uma referência às obras consultadas<br />

para elaborar uma concisa apresentação<br />

do tema: Menachem Elon<br />

(ed.), The Principles of Jewish Law;<br />

Saul Berman, Law and Morality, verbete<br />

na obra pré-citada; Aaron Kirschenbaum,<br />

Equity in Jewish Law;<br />

Boaz Cohen, Jewish na Roman Law –<br />

A <strong>Com</strong>parative Study; Moshe Silberg,<br />

Law and Morals in Jewish Jurisprudence<br />

(Harvard Law Review, 1961);<br />

Itzhak Halevi Herzog, Moral Rights<br />

and Duties in Jewish Law, Studies in<br />

Jewish Jurisprudence; Nahum Rakover,<br />

Ethics in the Market Place.


centenária mesquita de<br />

domo dourado foi destruída<br />

por terroristas e<br />

milhares de artigos são<br />

escritos sobre o infame ato.<br />

Ao mesmo tempo, um governo sobrerano<br />

— não criminosos — destrói uma<br />

centenária sinagoga no Tadjiquistão para<br />

erguer no local o “palácio” presidencial<br />

e ninguém nem ouviu falar sobre isto.<br />

Onde está a indignação judaica?<br />

Declaração Especial do International<br />

Sephardic Leadership Council (Conselho<br />

das Lideranças Sefaraditas Internacionais):<br />

Pessoas decentes em todo o mundo<br />

ficaram horrorizadas com a destruição<br />

da mesquita de domo dourado semanas<br />

atrás, mas no mesmo dia, a destruição<br />

de uma sinagoga ativa por um<br />

governo progressista, supostamente<br />

baseado em leis civis, não foi notada.<br />

Em 22 de fevereiro de 2006, uma<br />

mesquita ativa, muito adorada por sua<br />

congregação muçulmana, foi destruída<br />

depois que uma poderosa bomba explodiu<br />

dentro dela, demolindo o domo<br />

dourado em seu teto. Este era um dos<br />

mais famosos santuários religiosos do<br />

Iraque. Os terroristas detonaram poderosos<br />

explosivos, destruindo a maior<br />

parte do edifício, e levando milhares<br />

de pessoas a entupir as ruas por todo o<br />

país em protesto. (Este ataque, 95 quilômetros<br />

ao norte de Bagdá, causou<br />

enorme indignação internacional).<br />

Em 22 de fevereiro de 2006, uma<br />

sinagoga ativa, muito amada por sua<br />

comunidade judaica, foi destruída depois<br />

que pesados equipamentos de demolição<br />

e construção rasgaram seu teto,<br />

e esmagando paredes de concreto jogadas<br />

em seu santuário. Esta era a única<br />

sinagoga ativa no Tadjiquistão, um país<br />

situado ao norte do Afeganistão e ao<br />

Sul da Rússia.<br />

A sinagoga foi destruída para que<br />

o governo possa construir um grande<br />

palácio para o seu presidente. “Se os<br />

judeus querem ter [reconstruir] a sinagoga,<br />

deixe-os pagar por isso com<br />

seus próprios fundos”, disse Shamsuddin<br />

Nuriddinov, diretor do Departamento<br />

de Assuntos Religiosos da Cidade<br />

de Dushanbe, (Este ataque, 450 quilômetros<br />

ao norte de Kabul, Afeganistão,<br />

NÃO causou nenhuma indignação<br />

internacional).<br />

De acordo com o Google News, 2.930<br />

artigos apareceram pela mesquita destruída,<br />

enquanto somente seis existem<br />

sobre a sinagoga destruída e esses seis<br />

são realmente só um resumo mencionado<br />

que foi repetido através da distribuição<br />

de matérias por agência de notícias<br />

aos jornais americanos.<br />

<strong>Com</strong> referência à mesquita destruída,<br />

declarações foram emitidas por líderes<br />

através do mundo. O presidente<br />

Bush disse: “Estendo minhas profundas<br />

condolências ao povo do Iraque pela<br />

brutal bombardeio da Mesquita Dourada<br />

em Samarra... O povo americano se<br />

empenha em trabalhar com o povo do<br />

Iraque para reconstruir e restaurar a<br />

Mesquita Dourada de Samarra para sua<br />

antiga glória”. Ele acrescentou: “Os Estados<br />

Unidos estão prontos a fazer tudo<br />

a seu alcance para ajudar o Governo do<br />

Iraque a identificar e levar à Justiça<br />

aqueles responsáveis por esse terrível<br />

ato”. Há cerca de 150 judeus no Tadjiquistão,<br />

a maioria idosos judeus de<br />

Bukhara. Quando as notícias sobre a<br />

destruição da sinagoga do Tadjiquistão<br />

chegaram à comunidade de Bukhara nos<br />

Estados Unidos, encontrou-a chocada;<br />

pessoas cujos filhos cresceram naquela<br />

sinagoga reagiram com lágrimas.<br />

Membros da comunidade de Bukhara<br />

em Atlanta, Georgia, contaram de<br />

sua preocupação com os cemitérios judaicos<br />

que estão próximos à sinagoga<br />

e o que acontecerá a eles.<br />

<strong>Com</strong> referência à sinagoga destruída,<br />

nenhuma declaração foi feita por<br />

qualquer governo de qualquer país ao<br />

redor do mundo.<br />

A única organização judaica a falar<br />

sobre isso foi o International Sephardic<br />

Leadership Council, do qual o autor deste<br />

texto é seu diretor executivo.<br />

Enquanto a mídia cobria cerca de<br />

mil torcedores israelenses de um time<br />

de basquete de Tel Aviv manifestandose<br />

no sábado à noite contra a demolição<br />

da quadra histórica do time, ninguém<br />

na grande mídia protestou contra<br />

a destruição do centro da vida judaica<br />

no Tadjiquistão.<br />

Primeiro o governo destruiu a mikvê<br />

(o banho ritual), depois o açougue kosher<br />

e agora a sinagoga inteira.<br />

Enquanto o Iraque é 97% islâmico,<br />

o Tadjiquistão chega a ser 85% islâmico<br />

e está crescendo. E enquanto os<br />

muçulmanos iraquianos reclamam dizendo<br />

que a comunidade próxima da mesquita<br />

do domo dourado está lá há 1000<br />

anos, a comunidade judaica em torno<br />

do Tadjiquistão tem estado lá por 2000<br />

anos. E enquanto a mesquita do domo<br />

dourado no Iraque foi construída em<br />

1905, a sinagoga no Tadjiquistão foi<br />

construída 100 anos antes também.<br />

Todavia todos estão quietos sobre<br />

isso. Incluindo organizações judaicas.<br />

A destruição da sinagoga do Tadjiquistão<br />

é o mais ignominioso ato cometido<br />

por um estado soberano contra sua população<br />

judaica desde o final da Segunda<br />

Guerra Mundial. A União Soviética<br />

e seus Estados sucessores podem ter<br />

oprimido e perseguido suas comunida-<br />

des judaicas, mas mesmo na culminância<br />

dos expurgos anti-semitas de Stalin<br />

eles não procuraram apagar nenhum<br />

elemento da existência judaica como faz<br />

o governo do Tadjiquistão.<br />

É uma mensagem sinistra para a<br />

comunidade judaica, essa de viver sob<br />

um governo que tenta reconstruir sua<br />

imagem política, econômica e social,<br />

destruindo a única sinagoga do país.<br />

Onde está a indignação!?<br />

Há uma coisa boa a respeito do anti-semitismo:<br />

Ele deixa saber quem são os maus sujeitos.<br />

Direita, esquerda, preto, branco, esquisito ou correto,<br />

no minuto em que alguém começa a papagaiar<br />

sobre a maldade dos judeus, você sabe que<br />

seu trem foi arrastado até a Estação do Indivíduo<br />

Desagradável.<br />

Toda intolerância está errada, é claro, mas<br />

há algo sobre esta forma particular de preconceito<br />

que é estranhamente seguro como um sinal<br />

de maldade mais profunda. Talvez seja porque os<br />

judeus tenham contribuíram tanto para o código<br />

de ética moral da humanidade, que isso de odiálos<br />

como grupo étnico seja menosprezar as restrições<br />

da própria moralidade.<br />

Qualquer que seja a razão, verdade, o antisemitismo<br />

virulento é um bom indicador da presença<br />

do mal, e sou tentado a acreditar que<br />

quando D-us fez dos judeus Seu povo eleito, é<br />

para isto que Ele os escolheu: ser uma espécie<br />

de Sistema de Detecção Precoce de Vilania para<br />

todo o mundo.<br />

Infelizmente, em Seu infinito amor por Sua criação,<br />

suspeito que o Grande Amigo possa ter superestimado<br />

nossa inteligência. Talvez pensasse que<br />

depois de Hitler nós teríamos, você sabe, entendido.<br />

Ao invés disso, nós ainda vemos pessoas aparentemente<br />

inteligentes acalmando, pedindo desculpas<br />

para e até mesmo abraçando tipos repugnantes<br />

que deveriam disparar o Grande Alarme.<br />

É por isso que eu acho que o sistema poderia<br />

usar mais sinos e apitos — um barulho de buzina<br />

estridente talvez, ou até mesmo um circuito fechado<br />

para os moralmente prejudicados. Desse<br />

modo, quando o presidente iraniano Mahmoud<br />

Ahmadinejad diz que o Holocausto é um “mito”<br />

ou que Israel deve “ser riscado do mapa”, você<br />

ouviria uma buzina estridente e palavras apareceriam<br />

no ar sob sua cara: “Oi, eu sou um louco<br />

malvado... <strong>Por</strong> favor, deixe de negociar comigo<br />

agora e aja para inutilizar minha capacidade nuclear<br />

por qualquer meio necessário”.<br />

Ou o que você acha sobre quando o líder venezuelano<br />

— e aliado antiamericano do Irã —<br />

Hugo Chavez adverte que os “descendentes desses<br />

que crucificaram Cristo… arrebataram para<br />

si as riquezas de todo o mundo”? Buzinaço. A<br />

legenda dele: “Oi, eu sei que vocês esquerdistas<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Sem protestos, sinagoga é destruída<br />

Shelomo Alfassa *<br />

* Shelomo Alfassa, é Diretor Execurtivo<br />

do International Sephardic Leadership Council<br />

Forty Five John Street / Suite 711 New York, NY 10038 USA<br />

347-350-7695<br />

http://www.sephardiccouncil.org<br />

23<br />

O International Sephardic Leadership Council está baseada no coração<br />

da vibrante comunidade sefaradita do Oriente Médio em Nova York,<br />

uma comunidade altamente comprometida com o judaísmo, integrada<br />

por mais de 75.000 judeus sírios, egípcios, libaneses, turcos e norteafricanos;<br />

uma das maiores, mais fortes e de crescimento mais rápido<br />

entre as comunidades sefaraditas do mundo.<br />

Tradução: Szyja Lorber<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />

<strong>Por</strong> que D-us escolheu os judeus<br />

Andrew Klavan*<br />

ainda estão encantados com as idéias do socialismo<br />

— muito bem. Mas pessoalmente, sou um<br />

grosseirão e um amigo da tirania. Oh, e o Sr.<br />

Belafonte? Vá para casa antes que você faça um<br />

asno de si próprio”.<br />

Agora eu entendo que a situação no Oriente<br />

Médio é moral e politicamente complexa, como<br />

é a situação na América do Sul. Eu sei que pessoas<br />

honradas podem manter opiniões contraditórias<br />

sobre os assuntos nestes lugares. Mas<br />

quando a miséria entrincheirada de uma área<br />

quase tão grande quanto os Estados Unidos é<br />

culpada regularmante de 5 milhões de pessoas<br />

num país do tamanho de uma caixa de sapatos,<br />

ou quando as doenças do mundo estiverem recaindo<br />

sobre menos que 1% de sua população,<br />

começo a tornar-me suspeito.<br />

Se fosse só uma questão de odiar os judeus,<br />

nós poderíamos dizer: “Sinta-se livre, odeie todo<br />

mundo, bata você mesmo”. O problema é o sofrimento,<br />

a matança de inocentes e realmente a<br />

destruição de nações inteiras que parecem seguir<br />

inevitavelmente quando o anti-semitismo tem<br />

permissão para expandir-se além do esgoto da<br />

mente que o contém. A história também está<br />

cheia de pessoas desprezíveis que pensaram que<br />

todos os seus problemas seriam resolvidos se eles<br />

pudessem matar bastante judeus - ou assassinos<br />

como Pôncio Pilatos, que pensou que isso era<br />

apenas uma questão de matar o judeu certo —<br />

sem que percebecessemos que suas Soluções Finais<br />

não são finais e nem são nenhuma solução.<br />

Eles são, freqüentemente, a primeira, e às vezes<br />

a última, placa da estrada que indica o caminho<br />

para um inferno terrestre.<br />

Então, eis aqui um plano. Da próxima vez<br />

que você expressar uma opinião sobre o que está<br />

errado com o mundo, dê uma olhada em volta<br />

para ver quem está assentindo com a cabeça. Se<br />

é algum palhaço que pensa que o Estado judeu<br />

deveria ser empurrado para o mar, ou que os<br />

judeus mataram Cristo, ou estão conspirando para<br />

subverter a economia mundial, ou o governo, ou<br />

a mídia, eu lhe peço que considere que você pode<br />

estar errado. Não há nenhuma vergonha em mudar<br />

sua opinião. Entrar no passo dos tolos mal<br />

intencionados — isso é vergonhoso, e também é<br />

perigoso. D-us lhe deu um sistema de detecção<br />

antecipada. Use-o.<br />

* Andrew Klavan é escritor especializado em novelas sobre crimes e pode ser lido em<br />

www.andrewklavan.com<br />

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○


24<br />

Haddad-Adel, presidente<br />

do parlamento iraniano<br />

VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />

Irã quer apoio do Brasil ao seu projeto nuclear<br />

Aldo Rebelo: “todas as nações têm direito à energia atômica para fins pacíficos”<br />

presidente do parlamento iraniano,<br />

Gholam Ali Haddad-<br />

Adel, esteve em Brasilia nos<br />

dias 21 e 22 de fevereiro buscando<br />

apoio do governo brasileiro para<br />

seu programa nuclear. Neste sentido<br />

sua vinda foi inócua, pois o Brasil apóia<br />

a decisão de encaminhar o caso ao Conselho<br />

de Segurança das Nações Unidas<br />

para eventual aplicação de sanções.<br />

Segundo a agência de notícias iraniana<br />

Irna, o presidente do Parlamento<br />

do Irã, Gholamali Haddad Adel, manteve<br />

conversa com o deputado Aldo<br />

Rebelo (PCdoB), presidente da Câmara<br />

Federal, a quem afirmou que a República<br />

Islâmica do Irã crê que o “governo<br />

brasileiro é independente, justo<br />

e contrário ao unilateralismo e espera<br />

dele que esta postura se reflita<br />

em sua atitude para com o projeto<br />

nuclear iraniano”.<br />

Haddad Adel fez referência, em<br />

seguida, à posição que o Irã mantém<br />

ao reclamar seus direitos de possuir<br />

um programa nuclear “com fins pacíficos”,<br />

explicando que “ao parecer, Irã<br />

e Brasil compartilham pontos de vista<br />

no debate da exploração pacífica da<br />

energia atômica, e nós esperamos que<br />

isso se reflita no voto do Brasil nos<br />

foros internacionais”.<br />

No dia 18 de fevereiro, o grupo terrorista<br />

Hamas, cuja Carta de fundação prega a destruição<br />

do Estado de Israel e o assassinato<br />

dos judeus, assumiu como partido da maioria<br />

a legislatura da nova Autoridade Palestina.<br />

Ismail Haniyeh foi escolhido como o<br />

primeiro-ministro da nova Autoridade Palestina.<br />

Boa parte da mídia tem descrito<br />

este líder terrorista como “pragmático”<br />

ou “moderado”.<br />

O jornal The Washington Post apresentou<br />

este perfil de Haniyeh:<br />

Nascido no campo de refugiados de Shati,<br />

em Gaza, Haniyeh formou-se na Universidade<br />

Islâmica da Cidade de Gaza em 1987<br />

com grau em literatura árabe, e tornou-se<br />

um associado próximo do fundador do Hamas,<br />

xeque Ahmed Yassin.<br />

Haniyeh foi expulso por Israel para o<br />

sul do Líbano em 1992, voltou a Gaza um<br />

ano depois e tornou-se o decano da Universidade<br />

Islâmica. Em 1998, ele se encarregou<br />

do escritório de Yassin.<br />

<strong>Com</strong>o pragmático, ele serviu de ligação<br />

entre o Hamas e a Autoridade Palestina,<br />

estabelecida em 1994 e dominada pelo movimento<br />

rival Fatah.<br />

O The New York Times o descreve como<br />

"considerado menos radical que outros, ele<br />

Durante sua visita à Câmara Federal<br />

em Brasília, Haddad Adel fez alusão<br />

às já centenárias relações bilaterais,<br />

que considerou como “um capital<br />

adequado para impulsionar a cooperação<br />

e fortalecer as relações bilaterais”.<br />

<strong>Por</strong> sua vez, Aldo Rebelo, declarou<br />

aludindo ao interesse de Brasília em fortalecer<br />

as relações com Teerã: “Exaltamos<br />

a civilização persa como uma civilização<br />

clássica e sobressalente, e admiramos<br />

a luta que tem mantido o povo<br />

iraniano pela independência e a liberdade.<br />

Irã e Brasil têm múltiplas capacidades<br />

para impulsionar as relações<br />

nas diferentes dimensões políticas, econômicas<br />

e culturais”.<br />

Rebelo disse o seguinte sobre os<br />

princípios de seu país na política externa:<br />

“Cremos que todos os povos do<br />

mundo têm direito à independência<br />

como uma das facetas dos direitos humanos<br />

e que todas as nações têm direito<br />

por igual ao desenvolvimento econômico,<br />

social, cultural, tecnológico e<br />

científico e que ferir esse direito significa<br />

a inobservância de uma das dimensões<br />

dos direitos humanos”.<br />

<strong>Com</strong> referência à postura nuclear do<br />

Brasil, Aldo Rebelo, ainda segundo a<br />

Irna, disse: “Brasília se opõe às armas<br />

atômicas, mas utiliza esta ciência para<br />

usos pacíficos já que é da opinião que<br />

as atividades pacíficas no âmbito da<br />

Agência Internacional de Energia atômica<br />

é um direito de todas as nações”.<br />

Haddad Adel convidou seu colega<br />

brasileiro a viajar ao Irã e participar da<br />

conferencia internacional para a defesa<br />

do povo palestino que acontecerá em<br />

Teerã em abril. A conversa entre Haddad<br />

Adel e Rebelo teve lugar sem a presença<br />

da imprensa.<br />

Durante sua visita, Haddad Adel foi<br />

ao estúdio da TV Câmara, onde, num<br />

programa falou dos posicionamentos do<br />

Irã no cenário internacional e falou sobre<br />

as relações entre Brasília e Teerã.<br />

Confronto na Universidade de<br />

Brasília<br />

Segundo noticiou o jornal “Correio<br />

Brasiliense”, de 22 de fevereiro, “Sem<br />

apoio das autoridades, o visitante aproveitou<br />

uma palestra proferida na Universidade<br />

de Brasília-UNB para conquistar<br />

a simpatia dos estudantes”, no que<br />

também não teve êxito pleno segundo<br />

o próprio artigo do jornal (“A reação<br />

dos estudantes indica que a operação<br />

teve êxito apenas parcial”).<br />

O representante iraniano falou para<br />

cerca de 100 pessoas presentes no auditório<br />

da reitoria da UNB, boa parte<br />

O “pragmático” do Hamas<br />

detém várias altas posições administrativas na<br />

Universidade Islâmica da Cidade de Gaza”.<br />

A BBC diz: “Mas ele é considerado um moderado<br />

no ranking do movimento cuja posição<br />

na lista teve a intenção de popularizá-lo para<br />

atrair os votos dos eleitores palestinos...”.<br />

A Associated Press e a Reuters descrevem-no<br />

de forma semelhante como um “pragmático”<br />

com um background administrativo.<br />

Quem é Ismail Haniyeh?<br />

Haniyeh foi um dos líderes mais antigos<br />

do Hamas em Gaza durante mais de<br />

dez anos. Ele serviu como chefe do escritório<br />

do líder do Hamas, xeque Ahmed Yassin,<br />

mas buscou uma posição de liderança<br />

mais alta ainda após a morte<br />

de Yassin. Ele foi várias<br />

vezes preso e deportado<br />

para o Líbano por suas atividades<br />

terroristas.<br />

Em 2003 o Hamas assumiu<br />

um horrível atentado a<br />

bomba em um ônibus, no<br />

qual foram mortos 23 israelenses.<br />

Em resposta, Haniyeh<br />

foi colocado na lista<br />

dos mais procurados por Israel.<br />

<strong>Por</strong> muito pouco escapou<br />

de um ataque israelen-<br />

Ismail Hanyeh, o novo<br />

primeiro-ministro palestino<br />

escolhido pelo Hamas<br />

se quando estava reunido com Yassin e outros<br />

líderes terroristas.<br />

De acordo com a Jewish Virtual Library<br />

(Biblioteca Virtual <strong>Judaica</strong> –<br />

www.jewishvirtuallibrary.org) Haniyeh sempre<br />

privilegiou a violência ao invés da diplomacia,<br />

e disse que a vitória do Hamas nas eleições<br />

municipais em 2005 era a prova de que<br />

a maioria dos palestinos apóia o terrorismo<br />

contra o Israel.<br />

O Estatuto do Hamas<br />

Não há nenhuma indicação de que Haniyeh<br />

esteja interessado em mudar o Estatuto<br />

da organização que ele tinha ajudado a<br />

conduzir por muitos anos.<br />

<strong>Com</strong>o a Reuters informou: Eles<br />

(os Estados Unidos e outros na<br />

comunidade internacional) estão<br />

ameaçando cortar a ajuda a qualquer<br />

governo que passe pelo Hamas,<br />

a menos que o grupo renuncie<br />

à violência e abandone seu<br />

compromisso estatutário da destruição<br />

de Israel. “Estas exigências<br />

são injustas aos palestinos”,<br />

declarou Haniyeh.<br />

Terrorismo<br />

Também não há nenhuma indicação<br />

de que Haniyeh pense<br />

delas árabes do corpo diplomático, e<br />

diplomatas e embaixadores da Rússia,<br />

România, e Áustria, e alguns poucos<br />

professores. A tônica de sua apresentação<br />

foi a de que o Irã e o Brasil possuem<br />

fortes elementos em comum, como<br />

a preocupação com a questão ambiental,<br />

a consolidação de uma democracia<br />

real, e a hegemonia norte-americana.<br />

Ele evitou falar sobre as controversas<br />

declarações de seu presidente sobre<br />

Israel, mas, ao afirmar que o Irã, como<br />

a China, Grécia [sic] e Índia, têm uma<br />

cultura ininterrupta de 7.000 anos, foi<br />

questionado por membro da comunidade<br />

israelita local que o lembrou que Ciro, o<br />

Grande, rei da Pérsia, havia libertado os<br />

judeus persas e os ajudado a retornar a<br />

Israel e a reconstruir o Templo em Jerusalém,<br />

ao contrário do atual presidente<br />

iraniano islâmico Ahmadinejad que declarou<br />

que Israel deve ser varrido do mapa.<br />

Duas senhoras da <strong>Com</strong>unidade <strong>Judaica</strong><br />

de Brasília ergueram cartazes<br />

onde se lia “Israel tem o direito de existir<br />

em paz”, o que tomou o apresentador<br />

de surpresa, e que o fez dizer que<br />

o "Irã nada tem contra os judeus, mas<br />

que ao longo de 37 anos (sic) tem sido<br />

vítima (vivido sob o receio) de Israel".<br />

que o Hamas deveria abandonar o terrorismo.<br />

Pelo contrário, após a retirada israelense<br />

de Gaza foi perguntado ele se o Hamas<br />

deixaria a luta armada. Haniyeh disse<br />

o seguinte:<br />

“Estas armas libertaram a terra, e por<br />

estas armas nós continuaremos o ‘processo<br />

de libertação’”.<br />

Respeitando acordos<br />

Tanto os Acordos de Oslo como o Mapa<br />

da Estrada do Médio exigem que os palestinos<br />

reconheçam Israel e renunciem ao terror.<br />

Há os que dizem que Haniyeh aceitará<br />

estes acordos uma vez que eles foram assinados<br />

pela Autoridade Palestina. <strong>Por</strong>ém,<br />

tudo o que ele tem dito sobre isso é:<br />

“Acordos que prejudicam nossa gente nós<br />

os deixaremos de fora. Acordos que servem<br />

o interesse de nosso povo, nós manteremos”.<br />

Hoje, não há nenhuma evidência que indique<br />

que Haniyeh esteja a favor de mudar<br />

Estatuto do Hamas sobre rejeitar a violência,<br />

ou reconhecer Israel. Sem estes passos<br />

básicos, é difícil ver como alguém pode defini-lo<br />

com precisão como “pragmático”.<br />

Se os jornais ou a mídia local descrever<br />

Haniyeh como “pragmático” ou “moderado”<br />

pergunte-lhes por carta, ou por e-mail, com<br />

que base eles estão afirmando isso.

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