Por Exemplo, Com O Recente Caso - Visão Judaica
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2<br />
editorial<br />
VISÃO JUDAICA • março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Publicação mensal independente da<br />
EMPRESA JORNALÍSTICA VISÃO<br />
JUDAICA LTDA.<br />
Redação, Administração e Publicidade<br />
visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Curitiba PR Brasil<br />
Fone/fax: 55 41 3018-8018<br />
Dir. de Operações e Marketing<br />
SHEILLA FIGLARZ<br />
Dir. Administrativa e Financeira<br />
HANA KLEINER<br />
Diretor de Redação<br />
SZYJA B. LORBER<br />
Publicidade<br />
DEBORAH FIGLARZ<br />
Arte e Diagramação<br />
SONIA OLESKOVICZ<br />
Webmaster<br />
RAFFAEL FIGLARZ<br />
Colaboram nesta edição:<br />
Andrew Klavan, Aristide Brodeschi,<br />
Breno Lerner, Bruce S. Ticker, Daniel<br />
Pipes, Edda Bergmann, Gustavo<br />
Erlichman, Jacob Dolinger, Joseph<br />
Eskenazi Pernidji, Pilar Rahola, Sérgio<br />
Feldman, Shelomo Alfassa, Ted Feder,<br />
Tila Dubrawsky, Tom Gross e Yossi<br />
Groisseoign<br />
Esta publicação pode conter termos sagrados.<br />
<strong>Por</strong>tanto, trate-a com respeito.<br />
Os artigos assinados não representam<br />
necessariamente a opinião do jornal,<br />
mas a dos autores e colaboradores<br />
www.visaojudaica.com.br<br />
as últimas semanas assistimos<br />
sistematicamente a uma inversão<br />
de valores, em que o relativismo<br />
moral, claudica e engoda<br />
muita gente. Assim foi,<br />
por exemplo, com o recente caso<br />
do filme palestino Paradise Now (Paraíso<br />
Agora), concorrente ao Oscar<br />
de 2006 como melhor filme estrangeiro,<br />
e que [felizmente] não levou<br />
a cobiçada estatueta. É certo que se<br />
pressionou para que o filme fosse<br />
excluído pela Academia de Hollywood.<br />
Houve até um abaixo-assinado<br />
com 32 mil assinaturas recolhidas,<br />
mas a Academia, que nunca<br />
retirou um filme indicado (à exceção<br />
de um único caso, por fraude na<br />
inscrição), preferiu deixá-lo disputar<br />
e não levar nada. O mais provável<br />
é que os que elegem os filmes tenham<br />
feito um exame de consciência, ana-<br />
Inversão de valores e o engodo<br />
Nossa capa<br />
lisando os aspectos nocivos da película,<br />
que relata a trajetória de dois<br />
jovens palestinos cooptados para se<br />
tornarem homens-bomba até a cena<br />
final quando embarcam num ônibus<br />
cheio de crianças que irão explodir.<br />
Nesse caso, prevaleceu o bom senso<br />
e não se chancelou com o Oscar a<br />
“obra de arte” que glorifica o terrorismo<br />
e a morte.<br />
Outro exemplo é que mesmo sem<br />
ter nada a ver com a crise das charges,<br />
o povo judeu foi escolhido<br />
pelo Irã para “ser culpado” pelas<br />
caricaturas supostamente difamatórias<br />
publicadas na Dinamarca. O<br />
Irã decidiu promover um concurso<br />
com ilustrações que neguem ou minimizem<br />
o Holocausto. Para surpresa<br />
geral, na emissora BandNews, de<br />
São Paulo, dia 7/2, às 6h32, o<br />
apresentador da rádio disse que a<br />
iniciativa iraniana era uma “resposta<br />
adequada às provocações européias”.<br />
Uma estranha fusão de ignorância<br />
e anti-semitismo! E para<br />
não perder o costume de culpar os<br />
judeus por todos os males da humanidade,<br />
a Síria distribuiu notícia<br />
afirmando que Israel é o responsável<br />
pela gripe aviária! E tem mais:<br />
O verborrágico Mahmoud Ahmadinejad,<br />
presidente do Irã culpa quem<br />
pela destruição da mesquita xiita do<br />
domo dourado no Iraque? Israel e<br />
os Estados Unidos! Já o aiatolá Ali<br />
Khamenei, detentor da última palavra<br />
em todas as questões relativas<br />
ao Estado do Irã, fez um apelo aos<br />
xiitas para que eles não se vinguem<br />
nos muçulmanos sunitas [que efetivamente<br />
a destruíram] pelo ataque<br />
à mesquita, mas nos “criminosos<br />
sionistas, americanos e ociden-<br />
A capa reproduz a obra de arte cujo título é “Rainha Esther” com raashan (reco-reco), elaborada<br />
com a técnica pastel seco em uma tela de dimensões 65 X 50 cm, criação de Aristide Brodeschi.<br />
O autor nasceu em Bucareste, Romênia, é arquiteto e artista plástico, e vive em Curitiba desde<br />
1978. Já desenvolveu trabalhos em várias técnicas, dentre elas pintura, gravura e tapeçaria.<br />
Recebeu premiações por seus trabalhos no Brasil e nos EUA. Suas obras estão espalhadas por<br />
vários países e tem no judaísmo, uma das principais fontes de inspiração. É o autor das capas do<br />
jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>. (Para conhecer mais sobre ele, visite o site www.brodeschi.com.br).<br />
Datas importantes<br />
11 de março<br />
13 de março<br />
14 de março<br />
15 de março<br />
18 de março<br />
25 de março<br />
1º de abril<br />
8 de abril<br />
Shabat / Parashá<br />
Tetasavê Zachor<br />
Jejum de Esther<br />
Purim<br />
Shushan Purim<br />
Shabat / Parashá Ki<br />
Tissá Pará<br />
Shabat Mevarechim /<br />
Parashá Vayak’el /<br />
Pecudê Hachodesh<br />
Shabat/Parashá Vayicrá<br />
Shabat Hagadol /<br />
Parashá Tsav<br />
Mudança de horários na Sinagoga do CIP<br />
(Curitiba) para as orações em abril:<br />
MATUTINAS (Tefilá Shacharit) dia 13 (1º de Pêssach)<br />
— 7h30; dia 14 (2º de Pêssach) 9h30;<br />
dia 15 (Shabat de Pêssach) 9h30; dia 20 (8º<br />
dia de Pêssach) 9h30 e Izkor 11h; dia 21 (Isru<br />
Chag) 8h30.<br />
VESPERTINAS (Tefilá Minchá) do dia 1º ao dia<br />
14 — 18h e Cabalat Shabat 19h30; dia 15 —<br />
17h30; do dia 16 ao dia 30 —17h45.<br />
Acendimento das<br />
velas em Curitiba<br />
março / abril 06<br />
Véspera de Shabat<br />
DATA HORA<br />
10/3 18h20<br />
17/3 18h12<br />
24/3 18h05<br />
31/3 17h58<br />
7/4 17h50<br />
alecimento<br />
Dia 6/3/2006 (6 de<br />
Adar) – Malka<br />
Racaela Kolber<br />
Mantelmacher, aos<br />
80 anos. Sepultada<br />
no Cemitério Israelita<br />
do Umbará.<br />
tais”! Aí, é preciso que se diga, o<br />
engodo se sobrepõe a tudo mais…<br />
Outro exemplo recente dessa distorção<br />
de valores nos é apresentado<br />
pela jornalista Pilar Rahola, num artigo<br />
que está nesta edição do VJ.<br />
Conta ela que Javier Solana, político<br />
espanhol e representante da Política<br />
Externa e da Segurança <strong>Com</strong>um<br />
da União Européia pediu ao governo<br />
de seu país a equiparação dos<br />
atos de islamofobia — um tipo de<br />
racismo, esclarece Rahola — aos<br />
delitos de anti-semitismo — que é<br />
algo muito mais complexo, acrescenta<br />
ela, explicando em detalhes por<br />
que ambos não são iguais. Equipará-los,<br />
é “rebaixar o Holocausto a<br />
uma pura intolerância, uma banalização<br />
do horror”. VJ convida todos<br />
a lerem seu corajoso texto.<br />
Humor Judaico<br />
A Redação<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Os privilegiados<br />
Em Moscou se espalha a notícia de que a cidade<br />
seria abastecida de carne. Imediatamente se<br />
forma uma enorme fila diante do açougue central,<br />
e a multidão passa toda a noite à espera de<br />
que no dia seguinte, o açougue abra.<br />
De manhãzinha, apresenta-se um funcionário<br />
do governo, e adverte:<br />
— Os que forem judeus podem ir embora, porque<br />
a carne não será vendida para os judeus.<br />
A terça parte dos presentes sai das filas e<br />
volta para suas casas.<br />
Três horas depois, o estabelecimento ainda<br />
está fechado. Apresenta-se novamente o funcionário<br />
e anuncia:<br />
— Só há carne para os membros do Partido<br />
<strong>Com</strong>unista. Quem não tiver suas carteiras do partido<br />
pode ir embora.<br />
Boa parte dos presentes se retira. Ficam só os<br />
antigos membros do PC, ainda numerosos.<br />
Mais três horas, com o açougue fechado, o<br />
funcionário reaparece, e diz:<br />
— Camaradas, agora que estamos só nós do<br />
Partido, devo dizer-lhes com franqueza que não<br />
temos carne.<br />
Ouve-se, então, no fim da fila, uma voz que<br />
protesta:<br />
— Esses judeus são sempre favorecidos!<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Sérgio Feldman *<br />
erusalém está presente em<br />
toda a religião judaica, desde<br />
as orações, passando<br />
pelo ciclo da vida e pelas<br />
festas, até no sonho do Milênio:<br />
o messianismo judaico. Em tudo se<br />
vê e em todo o Judaísmo se insere Jerusalém.<br />
Não há Judaísmo sem Jerusalém.<br />
Vejamos alguns exemplos. A liturgia judaica<br />
é complexa; vamos explicá-la sucintamente,<br />
sem complicar muito e tentar<br />
inserir a Cidade Sagrada nela.<br />
Há mais de dois mil anos os judeus<br />
repetem inúmeras orações e oram a<br />
D-us, através de uma coletânea de orações<br />
denominada Sidur. O Sidur (vem<br />
da palavra Seder = ordem; pois há uma<br />
ordem nas orações), foi sendo ordenado<br />
de maneira lenta e gradual através<br />
dos séculos, com acréscimos diversos<br />
durante o desenrolar da História. Há<br />
costumes diferentes entre judeus europeus<br />
e judeus africanos ou asiáticos.<br />
Os judeus de origem ibérica (sefaradim<br />
= a de Sefarad ou Espanha, de onde<br />
vieram e de onde migraram à África do<br />
Norte e ao Oriente Médio) têm orações<br />
e ordem de leituras, ligeiramente diferente<br />
das orações dos judeus de origem<br />
germânica ou européia ocidental<br />
(ashkenazim = de Ashkenaz ou Alemanha,<br />
que é o ponto de origem dos judeus<br />
da Europa Oriental, que migraram<br />
à Polônia e Rússia na Idade Média). Não<br />
são diferenças agudas, mas detalhes e<br />
algumas orações adicionais, poesias<br />
(piutim), ou hinos sacros ao lado de<br />
orações criadas por sábios e poetas medievais<br />
ou modernos. No núcleo dos sidurim<br />
há trechos que são universais aos<br />
livros de orações judaicos, de todas as<br />
origens: a matbeia shel tefilá (carimbo<br />
ou moeda da oração = espécie de esqueleto<br />
do corpo de orações) equivale<br />
à parte central das orações. Esta não<br />
muda e não há variações sensíveis. A<br />
oração principal se denomina “Grande<br />
Oração” ou Amidá (de pé = é feita parada,<br />
de pé) ou também Shemone Esre<br />
(que significa dezoito, pois tinha dezoito<br />
bênçãos na sua versão original).<br />
Esta oração foi criada no Cativeiro da<br />
Babilônia ou no início do Período do Segundo<br />
Templo.<br />
Em todos os trechos do Sidur, a presença<br />
de Jerusalém é constante.<br />
O espaço e tempo de Jerusalém são<br />
absolutos no Sidur. O corpo e a alma<br />
da cidade permeiam o texto da oração.<br />
Alguns exemplos para ilustrar. Na<br />
metade da Grande Oração / Amidá ou<br />
Shemone Esre há um trecho que roga a<br />
D-us que: “volte a Jerusalém e que nela<br />
habite” (simbolicamente significa que<br />
reconstrua o Templo), e que reúna os<br />
filhos de Israel e traga-os “dos quatro<br />
cantos da terra” e “reúna os dispersos<br />
do Teu povo Israel”. É surpreendente ver<br />
que o amor a Sion (relativo à Jerusalém,<br />
pois um de seus nomes vem do<br />
monte Sion, de onde os peregrinos viam<br />
a cidade) ou sionismo, permeia todo o<br />
(Uma viagem ao imaginário judaico - parte dois)<br />
Se eu me esquecer de ti,<br />
ó Jerusalém...(II)<br />
Judaísmo. Na seqüência, a oração exalta<br />
a justiça divina e conclui dizendo da tristeza<br />
e do luto do povo “em luto por<br />
ela”... (ela = Jerusalém). Um luto milenar<br />
pela cidade amada e que está em<br />
ruínas. Na conclusão da benção, afirma<br />
de maneira simbólica e dentro de<br />
uma expectativa messiânica: “Louvado<br />
sejas Tu, ó Eterno, que reconstrói Jerusalém”.<br />
Esta oração é proferida todos os<br />
dias da semana, sendo levemente alterada<br />
nos sábados (Shabat) e nas Festas<br />
(Chaguim). Ou seja: há dois milênios os<br />
judeus rogam a D-us que reconstrua Jerusalém,<br />
por três vezes ao dia, sem cessar,<br />
em suas orações. Mas isso não ocorre<br />
somente na Grande Oração.<br />
Na celebração do casamento judaico<br />
há algumas etapas. A principal seria<br />
celebrada sob a cobertura da Chupá (pálio<br />
nupcial ou uma espécie de “pequena<br />
tenda” sob a qual é celebrada a<br />
união). Esta cerimônia pode ser feita<br />
até a céu aberto desde que se tenha o<br />
pálio nupcial cobrindo o espaço onde<br />
estejam os noivos. A última das etapas<br />
desta cerimônia é a quebra do copo,<br />
pelo noivo. Há diversas versões sobre o<br />
significado deste gesto: a mais aceita<br />
é que o copo relembra a destruição de<br />
Jerusalém e o fato que ainda esteja em<br />
ruínas. Ainda que a cidade esteja reconstruída,<br />
deve se lembrar que os judeus<br />
só retomaram a sua posse em<br />
1948. <strong>Por</strong> milênios a desejaram e sonharam<br />
com a sua reconstrução. Em<br />
meio à alegria do casamento os judeus<br />
recordam da sua cidade sagrada e abandonada,<br />
que segue em ruínas. Vale frisar<br />
que Jacob Lauterbach, na década<br />
de 20 do século XX, em artigo polêmico<br />
questionou esta interpretação do símbolo.<br />
<strong>Por</strong>ém, para nosso objetivo, vale<br />
a tendência predominante.<br />
Outra recordação de Jerusalém, de<br />
sua sacralidade e da “nostalgia judaica”<br />
pela cidade destruída e abandonada,<br />
está em alguns salmos. O mais famoso<br />
e repetido é o conhecido: “Se eu<br />
me esquecer de ti ó Jerusalém, que<br />
minha destra perca a sua destreza”.<br />
Inúmeros salmos a recordam e exaltam.<br />
Muitos são inseridos nas rezas diárias<br />
ou em festas. Assim sendo, a relação<br />
entre orações, Judaísmo e Jerusalém é<br />
absoluta. Há dezenas de exemplos que<br />
declinamos de citar para não nos tornarmos<br />
exaustivos.<br />
Um destes Salmos é repetido diariamente<br />
nas orações em ação de graças<br />
após as refeições (Bircat Hamazon): relata<br />
o retorno a Sion (Shivat Tzion), ou<br />
seja, a volta do Exílio da Babilônia e a<br />
alegria de rever e reerguer a Cidade<br />
Sagrada e o projeto de reconstrução do<br />
Templo (que viria a ser o Segundo Templo).<br />
A consecução do sonho messiânico.<br />
Na consciência e na memória judaica,<br />
fica o conceito de que “se foi possível<br />
no passado”, pode e deve ser possível<br />
novamente num “futuro próximo”.<br />
O retorno citado nas rezas é o primeiro<br />
retorno dos judeus à sua pátria<br />
ancestral (ocorrido no século VI antes<br />
da Era <strong>Com</strong>um, perto de 530 a.E.C.) no<br />
qual liderados por Zerubavel (descendente<br />
da Casa de David) e o sacerdote<br />
Josué (Yeoshua), um grupo de pioneiros<br />
retornou do Exílio da Babilônia<br />
(ocorrido entre c. 586 e 536 a.E.C.) a<br />
Jerusalém. Esta experiência histórica<br />
e esta “primeira reconstrução” da cidade<br />
Sacra moldam a “história do futuro”,<br />
ou seja, dá o modelo do que<br />
virá a ser o retorno a Jerusalém, no<br />
imaginário judaico.<br />
Passados alguns séculos do retorno<br />
a Sion (Shivat Tzion), os judeus expulsos<br />
de sua terra a partir das revoltas<br />
contra Roma e da destruição do Segundo<br />
Templo por Tito em 70 d.E.C., terão<br />
a esperança contida nos escritos proféticos<br />
e o sonho messiânico alentando-os<br />
que “voltariam a Sion”, tal como<br />
no retorno a Sion, e reconstruiriam sua<br />
cidade amada. Some-se esta descrição,<br />
às profecias messiânicas de retorno e<br />
de reconstrução e temos uma rica e<br />
sensível inspiração para os sonhos de<br />
retorno. Ter o privilégio de retornar a<br />
Sion e ser um dos que receberia o Messias<br />
no pátio do Templo, era um sonho<br />
de gerações. Durante a prolongada<br />
Diáspora (Golá ou Galut), que se prolongou<br />
por quase dois mil anos, os judeus<br />
anelaram o sonho de voltar a Jerusalém.<br />
Muitos anciões migravam para<br />
Israel, para serem sepultados no Monte<br />
das Oliveiras e estar “in loco”, na<br />
hora da reencarnação dos “ossos secos”<br />
(Ezequiel 37).<br />
No Seder de Pessach (ceia festiva<br />
da Páscoa <strong>Judaica</strong>) se conclui a leitura<br />
da Hagadá (narrativa tradicional do<br />
Êxodo através de leituras, canções e<br />
trechos rabínicos) entoando: “O ano que<br />
vem em Jerusalém” (Leshaná habaá bi<br />
Ierushalaim). O Messias virá em breve<br />
e no ano próximo seremos plenamente<br />
livres e viveremos em Jerusalém. Já em<br />
9 de Av (Tishá be Av) os judeus portavam<br />
(alguns ainda o fazem) inúmeros<br />
sinais de luto. Trata-se de uma data<br />
trágica. Nas sinagogas em 9 de Av se<br />
repetem gestos de luto, orações de<br />
pesar e se jejua pela destruição da Cidade<br />
Sagrada duas vezes: em 586 a.E.<br />
C. e em 70 d.E.C. Dois mil anos de luto<br />
e a ritualização de um dia de jejum<br />
durante todos este tempo pranteando<br />
a Cidade Sagrada. Trata-se de uma tristeza<br />
milenar e de um respeito imenso.<br />
Um sonho de “reencontro” que nenhum<br />
povo, religião ou grupo teve em qualquer<br />
época da História, por nenhuma<br />
cidade. Orar e chorar por uma cidade<br />
destruída há dois mil anos.<br />
Em minha opinião, quem melhor retrata<br />
esta paixão do povo judeu por sua<br />
Jerusalém é o poeta e filósofo sefaradi<br />
Iehudá Halevi. Viveu em Al Andaluz, (na<br />
Espanha atual) no século XI d.E.C., em<br />
Toledo. Cristãos e muçulmanos se digladiavam<br />
na Península Ibérica e em<br />
seguida na Terra Santa, nas Cruzadas.<br />
Iehudá escreve um poema sacro dedicado<br />
a Sion (relativo à Jerusalém). Exalta<br />
a cidade sagrada e diz de suas “sau-<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
A Jerusalém dourada, cantada em salmos e orações, está intrinsecamente<br />
ligada ao povo judeu<br />
dades por Sion”. Nunca a havia visto e<br />
constrói uma imagem baseada no imaginário<br />
judaico medieval: ruínas, ervas<br />
daninhas, e uma dor milenar. Um vazio<br />
e um abandono total. Iehudá sonha com<br />
a cidade a almeja vê-la. No final de<br />
sua vida vai ao Egito e de lá, ascende a<br />
Jerusalém (o termo hebraico Aliá = subida,<br />
significa sair da diáspora e migrar<br />
para Israel). Sobe espiritualmente<br />
e fisicamente.<br />
A parte final do relato biográfico é<br />
uma mescla de um pouco de história e<br />
muita lenda. Ao contemplar a cidade é<br />
morto por um cavaleiro árabe (ou cristão)<br />
envolvido numa das guerras ou cruzadas<br />
que ocorreram nesse período.<br />
Jerusalém está presente em inúmeras<br />
obras e trechos de obras até nos<br />
séculos XIX e XX. Alguns autores judeus<br />
se inspiraram em sua magia e em seu<br />
simbolismo para desenvolver o nacionalismo<br />
judaico: o Sionismo. O Sionismo<br />
é uma síntese do novo (nacionalismo<br />
europeu) e do velho (Judaísmo e<br />
Messianismo), sob um pano de fundo<br />
laico e contemporâneo. Não há como<br />
separar Jerusalém do Judaísmo e nem<br />
negar que Sionismo e Judaísmo sejam<br />
no fundo, a mesma coisa.<br />
Ainda que possa haver judeus que<br />
neguem o Sionismo e não se identifiquem<br />
com Israel. São opções judaicas<br />
válidas a nível individual, até mesmo<br />
se assimilar e deixar de ser judeu ou viver<br />
uma vida judaica alijada de Israel.<br />
Ainda que seja legítimo que se critiquem<br />
as políticas do Estado judaico: o governo<br />
de Israel pode errar como erra qualquer<br />
governo. Isso é na esfera da política.<br />
Os críticos de Israel não po-<br />
dem separar os judeus de sua cidade<br />
e o Judaísmo de seu amor<br />
a Sion. Trata-se de um todo.<br />
Separar os judeus de Jerusalém<br />
é retirar destes a<br />
sua alma, a cidade que inspirou<br />
sua História, seus ideais<br />
e seus valores.<br />
“Se eu me esquecer de ti,<br />
ó Jerusalém, que minha destra<br />
perca a sua destreza”.<br />
3<br />
(Este artigo é dedicado<br />
ao meu dileto amigo<br />
Antonio Carlos<br />
Coelho, tal como na<br />
primeira parte. Desta<br />
vez, amplio a<br />
dedicatória aos meus<br />
filhos André, Ariel e<br />
Marina e à minha<br />
esposa Iara. Os quatro<br />
aprenderam junto<br />
comigo a “paixão” por<br />
Jerusalém).<br />
* Sérgio Feldman<br />
é doutor em História pela<br />
UFPR e professor de<br />
História Antiga e Medieval<br />
na Universidade Federal<br />
do Espírito Santo. Exprofessor<br />
adjunto de<br />
História Antiga do Curso<br />
de História da<br />
Universidade Tuiuti<br />
do Paraná.
4<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
O KKL chega aos 104 anos<br />
m 29 de dezembro de<br />
2005, o KKL - Keren Kayemet<br />
LeIsrael (Fundo Ambiental<br />
de Israel) festejou<br />
104 anos de atividade incessante<br />
em prol do povo judeu<br />
e da Terra de Israel. Foi em 19<br />
de Tevet de 5766, o aniversário judaico<br />
do KKL que a instituição celebrou<br />
o tradicional Dia do Primeiro<br />
Sulco, em honra do primeiro sulco<br />
lavrado nas terras da colônia agrícola<br />
judaica mais antiga, Petach Tikva.<br />
O presidente mundial do KKL,<br />
Yehiel Leket, declarou a propósito da<br />
celebração do 104° aniversário:<br />
“Olhamos para trás com orgulho pelas<br />
conquistas do KKL, e colocamos<br />
nossas vistas adiante, dispostos a<br />
assumir os desafios que nos esperam:<br />
colaborar com projetos nacionais e<br />
desenvolver novos projetos verdes:<br />
reflorestamento,preservação<br />
de<br />
espaços<br />
abertos e<br />
meio ambiente<br />
em<br />
geral, projetos<br />
azuis<br />
relacionados<br />
com a<br />
água e projetosmarronsrelacionados<br />
com o solo”.<br />
Nos últimos<br />
anos<br />
cresceu a<br />
necessidade<br />
de preservar<br />
e melhorar a qualidade do<br />
meio ambiente em Israel, e de proteger<br />
os bosques e espaços abertos<br />
diante de um desenvolvimento descontrolado.<br />
O KKL assumiu o desafio<br />
das tarefas tradicionais de florestamento,<br />
preparação dos solos<br />
para a agricultura, novas populações<br />
e construção de reservatórios de<br />
água. Além disso, investiram-se<br />
grandes esforços no desenvolvimento<br />
de parques, áreas de piqueniques,<br />
pontos de observação e trilhas para<br />
caminhadas, prestando particular<br />
atenção a sua adaptação às necessidades<br />
especiais de determinados<br />
setores da população e baseando<br />
seu trabalho numa ação sustentável.<br />
Este trabalho é o que de fato<br />
converteu o KKL na maior organização<br />
verde do país.<br />
Em sua mensagem, o presidente<br />
do KKL ainda expressou seu agradecimento<br />
aos amigos do mundo inteiro,<br />
que ajudam o Keren Kayemet<br />
LeIsrael em sua nobre tarefa de desenvolver<br />
o país.<br />
“Faço chegar à grande família que<br />
trabalha no KKL, e a todos nossos<br />
colaboradores e amigos em Israel,<br />
meus melhores desejos de que possam<br />
prosseguir com sua maravilhosa<br />
tarefa para o bem das nossas crianças<br />
e da próxima geração de Israel”,<br />
observou Leket.<br />
Em seu centésimo quarto ano, o<br />
KKL continua sendo uma organização<br />
relevante e ativa que cumpre com<br />
abnegação e eficiência as missões<br />
nacionais que lhe atribuem. Um relatório<br />
sobre os projetos relacionados<br />
com o desenvolvimento de solos<br />
na década anterior, recentemente<br />
entregue ao diretor geral do KKL,<br />
Yitzhak Eliashiv, e aos membros do<br />
Diretório, descreve uma ampla gama<br />
de atividades em todo o país. E assinala<br />
que nos dez últimos anos<br />
(1996–2005), a Divisão de Desenvolvimento<br />
de Solos investiu cerca<br />
de US$ 700 milhões, dos quais US$<br />
428 milhões foram com fundos do<br />
KKL; em outras palavras, quase US$<br />
43 milhões de fundos do KKL cada<br />
ano. Na década passada dedicou-se<br />
grandiosos orçamentos ao desenvolvimento<br />
e melhoria de:<br />
1. Projetos de preservação da<br />
natureza e paisagismo; 2. Parques e<br />
sítios turísticos e de recreação; 3.<br />
Estradas e caminhos (sobretudo, estradas<br />
de segurança e rotas paisagísticas);<br />
4. Reservatórios; 5. Projetos<br />
de educação ecológica e sionista<br />
em Israel e no exterior.<br />
Os resultados destes grandes investimentos<br />
se percebem em todo o<br />
país, tanto na melhoria da qualidade<br />
de vida de seus habitantes como<br />
no meio ambiente.<br />
O KKL trabalha com a ajuda de<br />
seus amigos e colaboradores no mundo<br />
inteiro.<br />
Esta é a situação real no presente,<br />
quando se enfatiza o desenvolvimento<br />
e promoção do Neguev.<br />
As seguintes citações são só algumas<br />
das idéias expressadas por<br />
quem viu esta atividade conjunta<br />
ao longo do país e em cada acontecimento<br />
importante:<br />
Horst Koehler, presidente da Alemanha:<br />
“A árvore é um símbolo da<br />
vida e esperança, e por isso me sinto<br />
honrado e gratificado por ser o<br />
primeiro hóspede estrangeiro que<br />
planta um broto no Bosque das Nações”<br />
(plantando uma árvore no Bosque<br />
das Nações, fevereiro de 2005).<br />
Irina Yarmushan, jovem soldada<br />
da base militar de Shomera: “Fiz aliá<br />
do Casaquistão faz três anos, e me<br />
sinto orgulhosa de prestar serviço no<br />
exército. É muito emocionante encontrar<br />
gente que não nos conhece,<br />
mas que se preocupa conosco através<br />
do KKL. Sinto-me muito ligada<br />
com os judeus da diáspora e sinto<br />
como se eles estivessem aqui, conosco”<br />
(No ato de dedicação de uma<br />
área para os soldados e seus pais no<br />
norte de Israel, doada pelos Amigos<br />
do KKL no Canadá).<br />
Lyle Oberg, ministro da Infra-Estrutura<br />
de Alberta, Canadá: “O que<br />
temos visto durante nossa visita<br />
pode ser definido como um ato de<br />
magia no âmbito da agricultura e da<br />
pesquisa agrícola. Foi quase utópico<br />
ver os hortos e campos que dão<br />
frutos no deserto. Existe uma grande<br />
sinergia entre Alberta e Israel.<br />
Estou muito impressionado por tudo<br />
o que vocês fizeram em Israel através<br />
do KKL” (durante um passeio organizado<br />
para uma delegação do Canadá,<br />
para a cooperação com o KKL<br />
em projetos ecológicos).<br />
Miri Golan, presidente do Centro<br />
Israelense de Origami: “Uma das características<br />
mais definidoras do origami<br />
é que não se desecarta nem se<br />
desperdiça papel. O KKL, em seu caráter<br />
de organização verde líder em<br />
Israel, foi o associado natural para<br />
esta atividade, porque a ausência de<br />
desperdícios constitui uma mensagem<br />
ecológica importante. O KKL<br />
desenvolveu jogos de pássaros de<br />
origami para que as famílias possam<br />
usufruir criando passarinhos de papel”.<br />
(Atividade para famílias no Vale<br />
de Hula, Sucot, 2005).<br />
Bat El Rokach, 12 anos, de Nissanit.<br />
“Foi muito divertido. Saímos<br />
em excursão e os guias nos explicaram<br />
as coisas especiais que há aqui,<br />
como o manancial e os animais.<br />
Aprendemos sobre a tarefa do KKL e<br />
foi realmente interessante. Aqui podemos<br />
sair das casas quando caem<br />
os projéteis Kassam”. (Num acampamento<br />
de verão do KKL, especialmente<br />
destinado a crianças de localidades<br />
na linha de fogo).<br />
Kjell Magne Bondevik, primeiro<br />
ministro da Noruega: “Plantar uma<br />
árvore é um investimento para o futuro;<br />
espero que as relações entre<br />
Noruega e Israel continuem se desenvolvendo<br />
e gerando novas ramificações,<br />
como esta árvore” (plantando<br />
um medronho (arbutus andrachne)<br />
no Bosque das Nações).<br />
Yossi Dulah, presidente da Câmara<br />
Municipal de Kfar Tabor: “O parque<br />
é como um diamante incrustado<br />
no coração de nossa comunidade, a<br />
cujo serviço estamos dia-a-dia. Quero<br />
expressar minha gratidão ao KKL<br />
da América do Norte e a vocês, queridos<br />
amigos em Israel. <strong>Com</strong> vossa<br />
ajuda somos co-participes da construção<br />
de Israel e da criação de um<br />
futuro para todos nós”. (A uma delegação<br />
do “Espírito israelense” na<br />
dedicação de un parque doado pelo<br />
KKL da América do Norte).<br />
Ute Lehmann, de Frankfurt: “O<br />
que se vê aqui (o lago Hula), e em<br />
especial o que o KKL tem construído<br />
e desenvolvido para os visitantes<br />
nesta área durante o ano passado,<br />
é realmente impressionante. O desenvolvimento<br />
deste lugar é ótimo.<br />
Até agora, nesta viagem vi umas 120<br />
espécies diferentes de pássaros.<br />
Amo este país e a sua gente muito<br />
profundamente, e isso é o que importa<br />
verdadeiramente”. (Giro de observadores<br />
de pássaros de Israel para<br />
uma delegação de Amigos do KKL<br />
da Alemanha).<br />
Chen Yung Long, embaixador da<br />
República Popular da China em Israel:<br />
“Esta é minha primeira visita, e<br />
me causou uma grande impressão.<br />
Simplesmente, aqui fizeram milagres<br />
no deserto; nós, na China, podemos<br />
aprender muito de vocês e certamente<br />
podemos gerar projetos conjuntos.<br />
Depois de tudo, temos grandes<br />
extensões desérticas”. (Dia aberto no<br />
Aravá, na Estação de Pesquisa e Desenvolvimento<br />
do KKL).<br />
Meir Huss, instrutor na Associação<br />
dos Deficientes Visuais de Haifa:<br />
“Em qualquer momento em que<br />
nossos membros deixam suas quatro<br />
paredes, trata-se de uma experiência<br />
singular para eles, em especial as<br />
saídas para a natureza, e em particular<br />
num dia tão claro de inverno”.<br />
Amos Ben-Eliezer, de Kiriat Haim:<br />
“Sinto-me aqui como um peixe na<br />
água. Para mim, um passeio como<br />
este é um sonho; estas são coisas<br />
que conheço, e tudo é fascinante. A<br />
descrição do trabalho cotidiano na<br />
creche Lavi do KKL, e as variedades<br />
de árvores e arbustos escolhidos<br />
para plantá-los me falam diretamente<br />
ao coração. Estou planejando um<br />
jardim modelo próximo da Sociedade<br />
para Cegos em Haifa, para que os<br />
deficientes visuais possam tocar,<br />
cheirar e saborear uma variedade de<br />
plantas usadas para diversos fins,<br />
como nos lugares especiais do KKL”.<br />
(Tu Bishvat para um grupo de deficientes<br />
visuais num local do KKL no<br />
norte do país).<br />
Shmulik Rifman, presidente do<br />
conselho regional de Ramat Hanéguev:<br />
“Nesta região há 23 granjas.<br />
Vêm visitantes de todas partes, para<br />
conhecer o vinho, os queijos, o azeite<br />
de oliva e as hospedagens junto<br />
a paisagens esplêndidas. Sentimos<br />
que o desenvolvimento e o turismo<br />
ocupam um lugar mais destacado na<br />
vida cotidiana dos habitantes da<br />
região. Sem o KKL, o desenvolvimento<br />
das granjas particulares e a agricultura<br />
regional estariam paradas há<br />
muito tempo”. (Visita às granjas no<br />
Neguev, dezembro de 2005).
ministro de Justiça da<br />
França, Pascal Clément,<br />
confirmou que a juíza de<br />
instrução que investiga o<br />
seqüestro, a tortura e o<br />
assassinato de Ilan Halimi, um jovem<br />
judeu, comerciante de móveis<br />
por um bando armado, considerou “o<br />
anti-semitismo” como “causa agravante”<br />
do crime.<br />
A mãe de Ilan, o judeu de 23 anos<br />
assassinado em Paris, declarou dia 20/<br />
2 ao jornal israelense Haaretz: “Se o<br />
meu filho não fosse judeu, não teria<br />
sido assassinado”. Um dos assassinos<br />
de Ilan reconheceu diante da Justiça<br />
que “decidiram atacar Ilan porque ele<br />
era judeu, e os judeus são ricos”, declarou<br />
Clément num encontro com o<br />
Conselho de Representantes das Instituições<br />
<strong>Judaica</strong>s da França (CRIF). O<br />
grupo se fazia chamar “os bárbaros”,<br />
e era integrado por jovens de um subúrbio<br />
ao norte de Paris, a maioria de<br />
confissão muçulmana.<br />
Youssef Fofana, originário da Costa<br />
do Marfim, 25 anos e chefe do grupo<br />
criminoso, foi detido na Costa do Marfim,<br />
na África, para onde fugiu após a<br />
repercussão do crime. Ele está sendo<br />
extraditado para a França. Interrogado,<br />
Fofana negou ter agido por antisemitismo,<br />
ainda que seu grupo tenha<br />
tentado seqüestrar desde dezembro pelo<br />
menos outras seis pessoas, das quais<br />
quatro eram judeus. Policiais viajaram<br />
a Abidjan para prendê-lo, pois tratavase<br />
de pegar o homem mais procurado<br />
da França, em meio ao impacto que<br />
provocou o caso na opinião pública.<br />
Vários jornais franceses noticiaram o<br />
assassinato em suas capas e prosseguiram<br />
com as últimas revelações do<br />
caso. O Libération deu a manchete: “A<br />
pista anti-semita”, enquanto Le Parisien<br />
destaca “a grande inquietude da comunidade<br />
judaica”.<br />
O primeiro-ministro, Dominique de<br />
Villepin, assegurou aos dirigentes do<br />
CRIF que se saberá de “toda a verdade”<br />
sobre o assassinato de Ilan. Villepin<br />
recordou que a luta contra o<br />
anti-semitismo é “um dever moral” e<br />
uma “prioridade absoluta”. O chefe<br />
do Governo acrescentou que as agressões<br />
anti-semitas caíram na França<br />
47% em 2005, após a onda de ataques<br />
contra interesses e pessoas judias<br />
em 2003 e 2004.<br />
O corpo de Ilan foi descoberto na<br />
periferia de Paris em 13 de fevereiro,<br />
amarrado e com uma venda nos olhos,<br />
com sinais de violência e queimaduras<br />
em 80 por cento de seu corpo. O jovem<br />
faleceu a caminho do hospital.<br />
A mãe da vítima, Ruth Halimi, disse<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Assassinato de jovem francês<br />
teve motivação anti-semita<br />
que a Polícia escondeu uma possível<br />
motivação anti-semita do crime “porque<br />
temia reavivar a confrontação com<br />
os muçulmanos”. “Dissemos aos policiais<br />
que houve outras três tentativas<br />
de seqüestro de jovens judeus, mas<br />
eles insistiam em considerar que o<br />
móvel era puramente criminoso”, queixou-se<br />
Ruth Halimi.<br />
Os familiares não pagaram nenhum<br />
valor a pedido da polícia francesa: “Cinco<br />
dias antes de encontrar Ilan, a polícia<br />
nos disse para que não respondêssemos<br />
às mensagens. Ilan talvez não<br />
tivesse sido assassinado se tivéssemos<br />
respondido”, declarou Ruth Halimi ao<br />
jornal Haaretz.<br />
A quadrilha atraiu Ilan por meio de<br />
uma garota atraente que o fez crer que<br />
estava interessada nele, numa visita à<br />
loja de móveis onde trabalhava, no centro<br />
de Paris. Ao aceder ao encontro<br />
marcado com ela, aconteceu o seqüestro.<br />
O seqüestro, a tortura e o assassinato<br />
de Ilan Halimi, levou a Polícia Judiciária<br />
de Paris a pedir, na semana<br />
seguinte, aos comerciantes que “desconfiem”<br />
de “garotos e garotas jovens<br />
e bonitos” que tentassem elogiá-los.<br />
Cerimônia<br />
O presidente francês, Jacques Chirac,<br />
e o primeiro-ministro, Dominique<br />
de Villepin, assistiram à cerimônia religiosa<br />
numa sinagoga de Paris em homenagem<br />
ao jovem judeu torturado e<br />
assassinado. Cerca de 1.500 pessoas<br />
lotaram as dependências da Sinagoga<br />
da Vitória, e centenas delas se amontoaram<br />
na entrada diante da impossibilidade<br />
de ter acesso ao interior do<br />
centro religioso.<br />
Vários membros do Governo, assim<br />
como o líder do Partido Socialista, François<br />
Hollande, confortaram a comunidade<br />
judaica francesa, abalada pelo<br />
crime. Chirac consolou a mãe de Halimi<br />
logo após entrar na Sinagoga, na<br />
qual o rabino leu uma mensagem antes<br />
que o ato religioso acabasse com<br />
um canto de paz.<br />
O crime brutal revelou a conexão<br />
existente entre a criminalidade comum<br />
e a ideologia anti-semita estimulada por<br />
setores islâmicos, nos explosivos subúrbios<br />
parisienses, onde a violência procura<br />
justificar a delinqüência dos imigrantes<br />
excluídos da sociedade. Seqüestrado,<br />
Halimi foi levado para Bagneux,<br />
subúrbio do sul de Paris. Entre seus captores,<br />
incluíam-se muçulmanos “politizados”<br />
(um deles, filho de um jornalista<br />
egípcio, correspondente estrangeiro na<br />
França). Lá o rapaz ficou três semanas<br />
trancado no porão de um imóvel.<br />
A gangue telefonou várias vezes para<br />
a família de Halimi pedindo um resgate<br />
de 500 mil euros (cerca de R$ 1,2<br />
milhão), depois abaixado para 200 mil<br />
euros (R$ 500 mil); fazia-a ouvir versos<br />
do Corão enquanto, ao fundo, Ilan gritava<br />
submetido às mutilações. Enviaram<br />
fotos do seqüestrado, sempre com<br />
os olhos vendados. Em suas mensagens,<br />
diziam: “Os euros ou preparem as pompas<br />
fúnebres”.<br />
Culminando o horror, parentes e<br />
vizinhos dos seqüestradores, ao saberem<br />
da existência de um refém judeu<br />
nas redondezas, ofereceram colaboração,<br />
tomando parte nas torturas.<br />
Quando a gangue percebeu que<br />
a família, de classe média baixa não<br />
poderia pagar o resgate exigido, incendiou<br />
o corpo da vítima e abandonou-a<br />
agonizante no dia 13 de fevereiro. Halimi<br />
foi encontrado perto dos trilhos do<br />
trem da estação Sainte-Genevieve-des-<br />
Bois, fora de Paris, amarrado a uma<br />
árvore. Estava nu, amordaçado, manietado,<br />
faminto, com queimaduras e cortes<br />
em 80% de seu corpo. A caminho<br />
do hospital, Ilan morreu por causa dos<br />
ferimentos.<br />
Segundo a polícia, a gangue “manteve-o<br />
nu e amarrado por semanas. Cortaram<br />
pedaços de sua carne, dedos e<br />
orelhas, e no final jogaram um líquido<br />
inflamável em seu corpo e o incendiaram.<br />
Foi um dos assassinatos mais cruéis<br />
que já vimos”, disseram os policiais. Um<br />
dos jovens torturadores detido confessou<br />
que seus cúmplices revezavam-se<br />
para apagar cigarros na testa da vítima<br />
dizendo que odiavam judeus.<br />
A polícia encontrou com um dos suspeitos<br />
folhetos do <strong>Com</strong>itê de Caridade<br />
Palestino (associado ao Hamas), e descobriu<br />
que a gangue já havia tentado<br />
VJ INDICA<br />
Paisagens da memória<br />
Ruth Klüger<br />
Editora 34<br />
raptar outro judeu antes,<br />
ferido um judeu de 50<br />
anos que teve de ser hospitalizado,<br />
e jogado uma<br />
granada de mão contra<br />
um médico judeu.<br />
O ministro do Interior<br />
Nicolas Sarkozy, declarou<br />
à Assembléia Nacional<br />
que a gangue visava judeus,<br />
convencida de que<br />
“judeus têm dinheiro”. O<br />
primeiro-ministro Dominique<br />
de Villepin chamou a<br />
polícia à responsabilidade<br />
por ter recusado inicialmente<br />
as motivações antisemitas<br />
do seqüestro.<br />
A Justiça já implicou Ilan Halimi<br />
17 pessoas na morte de<br />
Halimi, das quais 14 foram<br />
presas e acusadas pela circunstância<br />
agravante de crime cometido devido<br />
à religião da vítima. Entre os presos<br />
estão os seqüestradores, o porteiro do<br />
imóvel onde a vítima foi torturada, membros<br />
do bando, e três mulheres utilizadas<br />
como iscas nesta e outras tentativas<br />
de seqüestro, além de um suposto<br />
“braço direito” do grupo, suspeito de<br />
crimes de extorsão.<br />
No dia 26 de fevereiro, em protesto<br />
a esse crime hediondo, o CRIF, a Associação<br />
SOS-Racismo e a Liga Contra o<br />
Racismo e o Anti-semitismo (Licra) organizaram<br />
uma passeata: entre 200 mil<br />
(cálculos dos organizadores) e 33 mil<br />
pessoas (cálculos da polícia), incluindo<br />
políticos como o ministro Sarkozy e o<br />
ex-premiê Lionel Jospin, artistas e intelectuais,<br />
participaram do protesto<br />
contra o racismo e o anti-semitismo na<br />
capital parisiense.<br />
LIVRO<br />
Viena 1938. Uma menina de sete anos ouve gritos daqueles que celebram a<br />
anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Vivendo no interior da comunidade<br />
judaica, Ruth Klüger viu sua cidade natal ser convertida gradualmente<br />
em uma espécie de prisão. Deportada em 1942 junto com sua mãe para o<br />
campo de Terezin, foi transportada num trem de carga em 1944, aos doze<br />
anos de idade, para Auschwitz-Birkenau. De lá escapa no último minuto, ao ser<br />
escolhida para compor um grupo de trabalhos forçados em Christianstadt. É um relato autobiográfico<br />
inesquecível e um acerto de contas exemplar com o acontecimento histórico mais terrível<br />
do século XX.<br />
5
6<br />
O revisionista David<br />
Irving: oscilação em negar<br />
o Holocausto<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Tribunal Regional de Viena<br />
condenou dia 20/2 o<br />
revisionista britânico David<br />
Irving a três anos de prisão<br />
sem condicional por negar<br />
o Holocausto e a política<br />
de extermínio nazista durante a<br />
Segunda Guerra Mundial.<br />
Diante do tribunal, Irving se declarou<br />
culpado de negar o Holocausto -<br />
crime previsto no código penal austríaco<br />
-, o que deu ao historiador popularidade<br />
nos círculos revisionistas<br />
de extrema direita, especialmente<br />
neonazistas, racistas e<br />
até entre radicais islâmicos.<br />
A condenação, por unanimidade,<br />
por parte dos oito membros<br />
do júri se baseia em dois<br />
discursos públicos feitos na<br />
Áustria em 1989, quando Irving<br />
negou a existência de câmaras<br />
de gás em Auschwitz e disse<br />
que a “Noite dos Cristais”, a primeira<br />
grande perseguição violenta<br />
contra os judeus da Alemanha<br />
em 1938, não foi cometida<br />
pelos nazistas.<br />
Ao dar o veredicto, o juiz Peter Liebetreu<br />
disse que “a confissão (prévia<br />
de Irving) não pareceu um ato de arrependimento,<br />
e por isso não se levou<br />
em conta no peso da condenação”.<br />
Revisionista condenado a três anos<br />
de prisão por negar o Holocausto<br />
David Irving se declara culpado, mas depois volta a negar o genocídio dos judeus<br />
“Estou comovido, muito comovido”,<br />
disse Irving à imprensa após o veredicto,<br />
na saída do edifício, onde estavam<br />
partidários do historiador revisionista<br />
para mostrar apoio.<br />
A acusação contra Irving prevê punição<br />
de até 10 anos de prisão, mas<br />
muitos analistas previam que com a<br />
aceitação das acusações e a contrição<br />
pública do acusado, declarandose<br />
culpado, a condenação seria de<br />
apenas alguns meses, por isso a decisão<br />
final supera amplamente as suposições<br />
iniciais.<br />
Condenado, volta a negar<br />
O britânico David Irving, entretanto,<br />
reiterou na quinta-feira 2/3, os comentários<br />
que negam a existência do<br />
Holocausto, uma semana depois de ter<br />
sido condenado a três anos de prisão<br />
pelo tribunal austríaco por ter negado<br />
a morte de seis milhões de judeus durante<br />
a Segunda Guerra Mundial.<br />
“Não há evidência de um extermínio<br />
organizado em massa”, declarou<br />
Irving, de 67 anos, numa entrevista à<br />
Agência de Imprensa Austríaca, concedida<br />
na prisão de Viena onde está encarcerado.<br />
E negou a existência de “um<br />
programa contra os judeus” durante o<br />
Terceiro Reich alemão, ao mesmo tempo<br />
que destacou que “não foi contra<br />
todos os judeus, ex professo”.<br />
“Se tivesse existido um programa,<br />
200.000 judeus não poderiam ter emigrado<br />
entre 1933 e 1939”, declarou.<br />
“Teria sido melhor se o líder nazista,<br />
Adolf Hitler, e o chefe das SS, Heinrich<br />
Himmler, tivessem trocado judeus por<br />
moeda estrangeira”.<br />
“Devemos reagir. Ninguém pode ignorar<br />
isto”, afirmou a promotoria britânica<br />
depois de uma série de comentários<br />
semelhantes feitos na quarta-feira<br />
1º/3, por Irving em uma entrevista concedida<br />
à BBC.<br />
Irving se declarou culpado no começo<br />
do julgamento, em fevereiro, de<br />
ter negado o Holocausto em 1989, mas<br />
garantiu que havia mudado de opinião<br />
e que reconhecia a existência das câmaras<br />
de gás em Auschwitz.<br />
Na quinta-feira 2/3, o historiador<br />
criticou a lei pela qual foi condenado,<br />
qualificando a mesma de ridícula<br />
e absurda, além de comparar o comportamento<br />
da Áustria com o da Alemanha<br />
nazista.<br />
“Estou preso aqui, apesar de apenas<br />
ter utilizado a minha liberdade de<br />
expressão. Deveriam se vingar com<br />
seus próprios cidadãos, não com os estrangeiros”,<br />
disse.<br />
Em suas primeiras declarações, Irving<br />
se dissera culpado das acusações contra<br />
ele, de acordo com seu advogado, Elmar<br />
Kresbach, ao entrar no tribunal.<br />
Em seu discurso de abertura, durante<br />
o julgamento, o promotor Michael<br />
Klackl afirmou que Irving “é tudo menos<br />
um historiador, é um ambicioso falsificador<br />
da história”.<br />
O promotor acusou o polêmico britânico<br />
de tentar difundir uma versão<br />
falsa da história da Segunda Guerra<br />
Mundial, segunda a qual “não houve<br />
câmaras de gás, nem nenhum assassinato<br />
sistemático de massas organizado<br />
pelos nazistas”.<br />
Michael Klackl lembrou que, por diversas<br />
vezes, Irving se referiu publicamente<br />
às câmaras de gás dos campos<br />
de concentração e ao extermínio promovido<br />
pelos nazistas como um conto<br />
de fadas e uma mentira. O promotor<br />
também disse que o britânico já negou<br />
o assassinato de milhões de pessoas.<br />
Na versão de Irving, houve crimes<br />
isolados durante o nazismo, mas relativamente<br />
poucos. Ao fazer um resumo<br />
das teses defendidas nos livros do acusado,<br />
o promotor destacou que ele afirma<br />
que a maioria das vítimas dos campos<br />
de concentração morreu de causa<br />
natural, como epidemias.
egundo o Sêfer<br />
Yetzirá, cada<br />
mês do ano judaico<br />
tem uma<br />
letra do alfabeto<br />
hebraico, um signo do<br />
Zodíaco, uma das doze<br />
tribos de Israel, um sentido e um<br />
membro controlador do corpo que<br />
correspondem a ele.<br />
Adar é o décimo segundo mês do<br />
Calendário Judaico.<br />
A palavra Adar é cognata ao hebraico<br />
Adir, que significa “força”.<br />
Adar é o mês da boa sorte para o<br />
povo judeu. Nossos Sábios dizem a<br />
respeito de Adar: “Sua mazal [sorte]<br />
é forte”.<br />
Purim, o dia festivo de Adar, este<br />
ano nos dias 13 e 14/3, comemora a<br />
“metamorfose” da aparente má sorte<br />
dos judeus (como pensava Haman)<br />
para boa. “Quando chega Adar, nós<br />
intensificamos em júbilo”. A Festa de<br />
Purim assinala o ponto alto na alegria<br />
do ano inteiro. O ano judaico<br />
começa com o júbilo da redenção de<br />
Pêssach e termina com a alegria da<br />
redenção de Purim. “O júbilo quebra<br />
todas as barreiras”.<br />
O júbilo de Adar é o que faz deste<br />
mês o mês “grávido” do ano (i.e.,<br />
sete dos dezenove anos no ciclo do<br />
calendário judaico são “anos embolísmicos”<br />
– “grávidos” com um mês<br />
de Adar adicional).<br />
Quando há dois Adars, Purim é<br />
celebrado no segundo Adar, para conectar<br />
a redenção de Purim com a<br />
redenção de Pêssach. Assim, vemos<br />
que o segredo de Adar e Purim é “o<br />
fim está cunhado no início”.<br />
Letra: kuf<br />
A letra kuf significa “macaco”<br />
(kof), o símbolo do riso no mês de<br />
Adar. Segundo a expressão “como um<br />
macaco no rosto do homem”, o kuf<br />
também simboliza a fantasia, um costume<br />
aceito em Purim. Antes do milagre<br />
de Purim, o próprio D-us “ocultava<br />
Sua face” de seus filhos Israel<br />
(em toda a história de Purim, como<br />
está relatada no Livro de Ester, Seu<br />
nome não aparece uma vez sequer).<br />
Ao esconder inicialmente a própria<br />
identidade, fingindo ser outra pessoa,<br />
a essência interior do verdadeiro<br />
“eu” da pessoa torna-se revelado. Em<br />
Purim, atingimos o nível da “cabeça<br />
desconhecida” (“a cabeça que não<br />
se conhece nem é conhecida dos<br />
outros”), o estado de total ocultação<br />
existencial do ser pelo ser, pelo<br />
mérito de “dar à luz” um supremo<br />
novo ser.<br />
A palavra kuf também significa<br />
“buraco da agulha”. Nossos Sábios<br />
ensinam que nem mesmo no sonho<br />
mais irracional pode-se ver um elefante<br />
passando pelo buraco de uma<br />
agulha. Mesmo assim, em Purim<br />
vive-se esta grande maravilha que,<br />
na Cabalá e Chassidut, simboliza a<br />
verdadeira essência infinita da luz<br />
transcendente de D-us entrando no<br />
contexto finito da realidade física<br />
e revelando-se por completo à<br />
alma judaica.<br />
Mazal: dagim (Peixes)<br />
Peixes são criaturas do “mundo<br />
oculto” (o mar). Assim também são<br />
as almas de Israel, “peixes” que nadam<br />
nas águas da Torá. A verdadeira<br />
identidade e sorte de Israel é invisível<br />
neste mundo. A revelação de Purim,<br />
a revelação da verdadeira identidade<br />
de Israel, reflete a revelação<br />
do Mundo Vindouro (o milagre de<br />
Purim é entendido para refletir neste<br />
mundo o supremo milagre: a ressurreição<br />
no Mundo Vindouro).<br />
A palavra “dag” (singular de “dagim”)<br />
é interpretada para representar<br />
o “tikun” (retificação) de da’ag<br />
– “preocupar-se”. Na Torá, a palavra<br />
para peixe – dag – na verdade aparece<br />
escrita uma vez como da’ag: na<br />
época de Nechemia, alguns judeus<br />
não observantes profanaram a santidade<br />
do Shabat vendendo peixe no<br />
mercado de Jerusalém. Seu “peixe”<br />
tinha se transformado em excessiva<br />
“preocupação” pelo ganho do próprio<br />
sustento. Na direção oposta, o<br />
peixe do júbilo de Purim, a forte<br />
(embora inicialmente oculta, como<br />
peixe) mazal de Adar, converte toda<br />
a preocupação na alma do homem na<br />
suprema alegria da redenção com o<br />
novo nascimento do ser, da “cabeça<br />
desconhecida”.<br />
Tribo Naftali<br />
Na Cabalá, o nome Naftali é lido<br />
como duas palavras: nofet li, “doçura<br />
é para mim”. A mitsvá em Purim, de<br />
atingir o nível da “cabeça desconhe-<br />
cida” ao beber vinho, etc., é expresso,<br />
nas palavras de Nossos Sábios,<br />
como: “A pessoa em Purim é<br />
obrigada a tornar-se doce, até que<br />
seja incapaz de diferenciar entre<br />
‘maldito seja Haman’ e ‘abençoado<br />
seja Mordechai’”.<br />
Esta é a expressão de júbilo e<br />
riso ao nível de Naftali – nofet li.<br />
Nosso Patriarca Yaacov abençoou<br />
seu filho Naftali: “Naftali é um cervo<br />
enviado [mensageiro], que dá<br />
[expressa] palavras eloqüentes”.As<br />
“palavras eloqüentes” de Naftali provocam<br />
júbilo e riso aos ouvidos de<br />
todos que escutam. Ao final da Torá,<br />
Moshê abençoou Naftali: “A vontade<br />
de Naftali está satisfeita…” Na<br />
Chassidut é explicado que “vontade<br />
satisfeita” (seva ratzon) refere-se ao<br />
nível da vontade na dimensão interior<br />
de keter, onde toda experiência<br />
é puro deleite, o estado de ser<br />
no qual a pessoa não deseja nada<br />
além de si mesma.<br />
As três letras que compõem o<br />
nome Haman possui seis permutações.<br />
Haman = 95; 6 x 95 = 570 =<br />
rasha (perverso), razão pela qual Haman<br />
é chamado “Haman, o perverso”.<br />
570 (também) Naftali, que leva<br />
alegria e risos ao jogar o jogo de<br />
seis permutações de Haman. Na Cabalá,<br />
está explicado que a “eloqüência”<br />
de Naftali reflete sua sabedoria<br />
para permutar palavras em geral<br />
(bem como examinar gematriot, tais<br />
como arur Haman [“maldito seja<br />
Haman”] = 502 = baruch Mordechai<br />
[“bendito seja Mordechai”], o “jogo<br />
mais prazeroso” (sha’ashu’a) do estudo<br />
de Torá).<br />
<strong>Com</strong>o foi explicado previamente,<br />
os meses de Tishrei e Cheshvan correspondem<br />
(segundo o Arizal) às duas<br />
tribos de Ephraim e Menashe, os dois<br />
filhos de Yossef. Yaacov abençoou<br />
seus dois netos Ephraim e Menashe<br />
para serem como peixes: “E eles serão<br />
como peixes no meio da terra”.<br />
Estas duas tribos (o início do ano a<br />
partir de Tishrei) refletem-se em Adar<br />
e Naftali (o final do ano a partir de<br />
Nissan), pois Adar divide-se em dois<br />
(assim como Yossef se divide em dois)<br />
peixes (Ephraim e Menashe). O apoio<br />
numérico para isso é que quando<br />
Ephraim (331) e Menashe (395) se<br />
combinam com Naftali (570): 331<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
O Mês de Adar<br />
– de 1º a 29 de março<br />
Purim, a festa da sorte e da alegria<br />
mais 395 mais 570 = 1296 = 36 ao<br />
quadrado = 6 para o quarto poder.<br />
Sentido: Riso (tzchoc)<br />
O riso é a expressão da alegria<br />
desenfreada, que resulta de testemunhar<br />
a luz saindo da escuridão – “a<br />
vantagem da luz sobre as trevas” –<br />
como é o caso do milagre de Purim. O<br />
epítome do riso na Torá é o caso de<br />
Sara no nascimento de Yitschac (cujo<br />
nome deriva da palavra tzchok): “D-us<br />
fez-me rir, quem quer que<br />
me escute rirá comigo”.<br />
Dar à luz aos 90 anos<br />
(e Avraham aos 100),<br />
após ser estéril e fisicamente<br />
incapaz<br />
de ter filhos é testemunhar<br />
a Divina<br />
Luz e o milagre emergindo<br />
da total escuridão.<br />
A palavra em hebraico<br />
para “estéril” é composta das<br />
mesmas letras (na mesma ordem)<br />
que a palavra para “trevas”.<br />
Purim vem da palavra pru,<br />
“crescei e multiplicai-vos”. Sobre<br />
Yitschac, a personificação do riso na<br />
Torá, diz-se que “o temor [fonte de<br />
reverência, i.e., D-us] de Yitschac”.<br />
Esta expressão também pode ser lida<br />
como “o temor rirá” – a essência do<br />
medo se metamorfoseará na essência<br />
do riso. Quanto a Purim, o temor<br />
de (o decreto de) Haman se transforma<br />
no riso exuberante da Festa<br />
de Purim.<br />
Controlador: o baço<br />
Nossos Sábios declaram explicitamente<br />
que “o baço ri”. À primeira<br />
vista, isso parece paradoxal, pois o<br />
baço é considerado o local do “humor<br />
negro”, a fonte de todos os estados<br />
de depressão e desespero. Assim<br />
como descrevemos acima, todos<br />
os fenômenos de Adar e Purim são<br />
essencialmente paradoxais, pois todos<br />
eles derivam da “cabeça desconhecida”,<br />
e todos eles representam<br />
estados de transformação existencial<br />
e metamorfose. A “metodologia”<br />
na Torá que “modela” estes fenômenos<br />
é a sabedoria da permutação,<br />
como foi descrito acima. No que diz<br />
respeito ao “humor negro” – “mará<br />
shechorá” – suas próprias letras<br />
permutam-se para grafar “hirhur sameach”<br />
– “um pensamento feliz!”.<br />
(www.chabad.org.br).<br />
7
8<br />
Elias Canetti<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
* Joseph Eskenazi<br />
Pernidji é advogado e<br />
escritor. Livros publicados:<br />
pela Imago Editora: “Girassóis<br />
de Van Gogh – As flores do sol”<br />
(crônicas); “Das Fogueiras da Inquisição<br />
às Terras do Brasil – a viagem de 500 anos<br />
de uma família judia”; “Homens e Mulheres<br />
na Guerra do Paraguai”; “A Saga dos<br />
Cristãos-Novos” pela Editora Relume<br />
Dumará :“Tribunal da História -<br />
Julgando as Controvérsias<br />
da História <strong>Judaica</strong>”<br />
(co-autoria com<br />
diversos autores).<br />
Um olhar sobre Elias Canetti<br />
Joseph Eskenazi Pernidji*<br />
ilho de judeus sefaradim,<br />
Elias Canetti, prêmio Nobel<br />
de Literatura em 1981,<br />
nasceu em Ruschuk, na<br />
Bulgária. Filho de um Canetti<br />
e de uma Arditi, teve, na sua primeira<br />
infância, a vida típica das famílias<br />
de judeus balcânicos de origem<br />
hispânica. Sua língua materna<br />
foi o ladino1 , na qual se expressavam<br />
não só seus pais como toda a<br />
sua parentela.<br />
No início do<br />
século XX, dada a<br />
proximidade com<br />
o império austro-húngaro,sobretudo<br />
os judeus<br />
gregos e<br />
búlgaros tinham<br />
uma grande atração<br />
pela cultura<br />
alemã (austríaca).<br />
Viena com<br />
seus doutores e<br />
suas universidades<br />
era tida por<br />
eles como centro<br />
cultural da Europa.<br />
Canetti, ironicamente,<br />
em<br />
um de seus ensaios,<br />
escreveu<br />
que em Viena, em<br />
cada duas pessoas, uma era “doutor”.<br />
Ao receber o prêmio Nobel, no<br />
discurso de recepção que foi proferido<br />
pelo Dr. Johannes Edfelt, este<br />
lhe atribuiu como pátria a língua<br />
alemã. Se entendermos que a língua<br />
é um dos elementos marcantes da<br />
nacionalidade, sem dúvida, Elias<br />
Canetti é um autor alemão, pois neste<br />
idioma escreveu toda a sua obra.<br />
Embora fosse um crítico mordaz<br />
das famílias sefaradim por se atribuírem<br />
as mesmas um halo de<br />
nobreza por conta da<br />
sua descendência<br />
espanhola, não<br />
esqueceu o ladino<br />
de sua infância<br />
na qual<br />
emitiu as suas<br />
primeiras palavras.<br />
O alemão<br />
herdado<br />
de sua mãe<br />
foi a sua grande<br />
paixão.<br />
As obras seminais<br />
de Canetti<br />
são o romance<br />
“Auto-da-fé” e “Massa e Poder”. São<br />
produções de eminente caráter psicossocial,<br />
escritas no mais puro alemão<br />
literário e constituem o que hoje<br />
o público chamaria de uma leitura<br />
difícil. Os seus mais honestos tradutores<br />
confessam que o leitor não poderá<br />
apreender inteiramente o pensamento<br />
introspectivo de Canetti se<br />
não conhecer os originais. Sua linguagem<br />
o aproxime de Joyce e de<br />
Musil2 . Filho espiritual de Karl Klaus3 ,<br />
foi considerado por Thomas Mann um<br />
autor adiante do seu tempo. A sua<br />
incursão na dramaturgia teatral revelou<br />
o “teatro do absurdo”, linha<br />
mais tarde seguida por Ionescu. Se<br />
os críticos literários esmiuçaram a<br />
sua obra e dela tiraram as mais diversas<br />
conclusões, para entender<br />
Canetti é preciso ler a sua autobiografia<br />
escrita por volta dos anos 60,<br />
muito após a publicação dos livros<br />
que o tornaram famoso. Trata-se de<br />
uma trilogia iniciada com “Die gerettete<br />
Zunge Geschichte einer Jugend”<br />
(“A Língua Absolvida”), passando<br />
por “Die Fackel im Obr Lebengeschichte,<br />
1921-1931” (“Uma Luz<br />
em Meu Ouvido”), e terminando com<br />
“Das Augenspiel Lebengeschicht:<br />
1931-1937” (“O Jogo dos Olhos”).<br />
Seu romance “Die Blendung”, cuja<br />
tradução literal seria O Cegamento,<br />
ao passar para o inglês, o francês e<br />
os idiomas latinos em geral, foi traduzido<br />
como “Auto-de-Fé”. Isto porque<br />
o personagem Kien se confunde<br />
com a sua biblioteca, ao ponto de<br />
perguntar-nos se a figura principal<br />
do romance não seria a própria biblioteca.<br />
São livros que falam, que<br />
discutem entre si e com o seu dono.<br />
Depois de muitas peripécias, o romance<br />
termina num verdadeiro holocausto<br />
em que, entre labaredas de<br />
fogo, se queimam os livros e seu proprietário.<br />
As letras saem dos livros<br />
implorando por sua vida. Tudo termina<br />
como se fora um grande autode-fé,<br />
com Kien soltando entre as<br />
chamas uma gargalhada tão estrepitosa<br />
como nunca havia soltado em<br />
toda a sua vida.<br />
Na sua juventude, passou por<br />
Manchester, Zurique, Frankfurt, Berlim,<br />
fixando-se, na maior parte do<br />
tempo, em Viena. Nas vésperas da<br />
invasão da Áustria por Hitler, mudouse<br />
para a Inglaterra onde terminou<br />
seus dias em 1984. Embora tenha<br />
passado mais de 40 anos de sua vida<br />
na Inglaterra, não se nota em sua<br />
obra reflexos da sua “vida inglesa”.<br />
Diferentemente de outros refugiados<br />
do nazismo, que encontraram guarida<br />
na Inglaterra e nos Estados Unidos,<br />
Canetti se revelou passivo durante<br />
a Segunda Guerra Mundial.<br />
Dedicou um tempo enorme à sua<br />
guerra particular contra o grande<br />
poeta T.S. Elliot.<br />
Sejam quais forem as influências<br />
que exerceram sobre ele essas cidades,<br />
foi, na verdade, um vienense sob<br />
todos os aspectos. Caráter introspectivo,<br />
desde muito cedo revelou seu<br />
talento, sua genialidade e, sobretudo,<br />
sua ânsia de saber. Do saber, no<br />
seu mais profundo sentido, numa<br />
sede inesgotável de aprender cada<br />
vez mais sobre todos os assuntos que<br />
explorava a sua mente inquiridora.<br />
Não se rendeu às teorias de Freud<br />
e ironizava o chamado “ato falho”<br />
que, segundo ele, passou a ser moda<br />
vienense. Na verdade, entretanto,<br />
viveu um típico drama freudiano nas<br />
relações com sua mãe. Mulher voluntariosa,<br />
bela e profundamente culta,<br />
influiu poderosamente na educação<br />
de Canetti, mantendo com o mesmo<br />
diálogos altamente eruditos, discutindo<br />
os clássicos e os autores da<br />
época. Paixão e ódio conturbaram<br />
esse relacionamento. Considerandose<br />
ligado à mãe por um elo que o<br />
escravizava, lutou para libertar-se de<br />
sua influência, luta esta que terminou<br />
num afastamento definitivo.<br />
Freqüentador dos círculos mais<br />
intelectualizados de Viena, mantinha<br />
visitas constantes aos famosos “cafés”<br />
da cidade onde, em longas conversas,<br />
escolhia os seus interlocutores,<br />
pois não tolerava tagarelices de<br />
autores ou personagens menores dentro<br />
da sua ótica cáustica de julgamento.<br />
Arrasava sem piedade ícones<br />
da literatura aceitos pelo grande público,<br />
levando ao ridículo autores<br />
como Stephan Zweig e Emil Ludwig.<br />
Desprezou Heine e, quando em Berlim,<br />
recebeu com frieza a “Threepenny<br />
Opera”, de Bertolt Brecht.<br />
Canetti era um grande conversador.<br />
A discussão de qualquer assunto<br />
assumia em sua mente o caráter<br />
de uma batalha. E na batalha<br />
haveria, obrigatoriamente, vencedores<br />
e perdedores.<br />
Seu desprezo pelo dinheiro em si e<br />
por todos aqueles que constituíam o que<br />
ele chamava a burguesia dos comerciantes,<br />
industriais e banqueiros, cortava-lhe<br />
a própria carne, pois era nessa<br />
classe que se situava a sua família.<br />
Não hesitou em apontar tipos avarentos<br />
e homens de negócio de ori-<br />
gem sefaradi conhecidos de sua família,<br />
descrevendo-os como verdadeiros<br />
monstros. Uma das figuras era<br />
de tal modo miserável que, apesar de<br />
milionário, vestia-se de mendigo<br />
para pedir esmolas, e na sua velhice<br />
carcomida, queimava cédulas para<br />
não deixá-las para seus herdeiros,<br />
personagem este que coabitava com<br />
aquela que viria a ser a sua primeira<br />
mulher, Veza, também de uma família<br />
tradicional sefaradi, os Calderón.<br />
Ao traçar o perfil do Harpagão, que<br />
vivia achando que lhe roubavam o<br />
dinheiro, valeu-se, como em outras<br />
ocasiões, do ladino para caracterizar<br />
tipos e pessoas de origem sefaradi:<br />
“Me arrovaron las parás” (Me roubaram<br />
o dinheiro).<br />
Essas tiradas em ladino aparecem<br />
de vez em quando, aqui e ali, na sua<br />
autobiografia. Sempre considerou o<br />
ladino, embora o usasse freqüentemente<br />
com seus parentes, uma língua<br />
de cozinha, e demonstrou sua<br />
enorme surpresa quando, ainda jovem,<br />
em férias na sua cidade natal, encontrou<br />
uma enorme efervescência em<br />
torno da imigração para Israel e um<br />
intenso proselitismo sionista. O que<br />
lhe chamou atenção foi um primo seu<br />
que fazia fervorosos discursos em ladino.<br />
Pela primeira vez, percebeu que<br />
o ladino também poderia ser usado<br />
não só para atrair as massas como em<br />
produções literárias.<br />
<strong>Por</strong> mais que se vasculhe a obra<br />
de Canetti, não encontraremos nela<br />
qualquer influência da cultura judaica<br />
mesmo nas maiores introspecções<br />
filosóficas ou quando desnuda o seu<br />
próprio eu na sua autobiografia. Ao<br />
contar a sua vida nos anos 30, o<br />
nome de Hitler passa de raspão em<br />
uma das páginas da trilogia.<br />
Quando escreveu, entretanto,<br />
“Massa e Poder”, muito antes da autobiografia,<br />
analisou o nacional-socialismo<br />
de Hitler, determinando que<br />
só foi possível ao povo alemão segui-lo<br />
pelo que ele considera o centro<br />
da alma germânica, isto é, a adoração<br />
e o respeito pelo exército, a<br />
massa do poder.<br />
Na sua percepção, ainda que pareça<br />
estranho, atribuiu como causa<br />
do holocausto, da passividade ou<br />
mesmo do apoio dado pelo povo alemão,<br />
a monstruosa inflação que se<br />
apoderou da Alemanha depois da<br />
Primeira Guerra Mundial. Considerando<br />
o dinheiro o centro da atenção<br />
do homem, a sua desvalorização, o<br />
seu valor reduzido a nada, criaria uma<br />
sensação de vazio, fazendo com que
as mentes passassem a não dar importância<br />
à âncora em que se haviam<br />
agarrado durante toda a vida.<br />
Essa sensação de rejeição a um dinheiro<br />
que nada valia e que fora<br />
o sustentáculo de uma nação, deteriorou<br />
os espíritos. <strong>Com</strong> a propaganda<br />
de que os judeus eram<br />
os “donos do dinheiro”, a massa<br />
da população foi induzida a crer<br />
que a destruição dos judeus era<br />
tão descartável como o dinheiro<br />
sem valor. Do mesmo modo que se<br />
queimavam em protesto as cédulas<br />
em praça pública, a fim de extirpar<br />
o mal, também se poderia<br />
queimar e destruir os judeus.<br />
Esta percepção ilustra bem<br />
como funcionava a mente de Canetti.<br />
Um dos seus críticos chegou<br />
à conclusão que o cerne do<br />
seu pensamento foi o eterno “combate<br />
do homem contra a morte”. É<br />
esse combate que garante a sobrevivência<br />
da espécie.<br />
Judeus como Walter Benjamin<br />
e Stephan Zweig se suicidaram por<br />
não terem suportado a perda de<br />
suas raízes alemãs e austríacas. O<br />
fato de Canetti ter nascido numa<br />
família sefaradi, adotando-lhe costumes<br />
e culinária, falando sua língua,<br />
não deixou de impregnar-lhe<br />
um sentido de vida que pode ser<br />
traduzido em raízes que não perdeu.<br />
Talvez isto explique, juntamente<br />
com o seu perene “combate<br />
à morte”, não ter ele apelado para<br />
o suicídio, apesar de seu “mundo”<br />
ter ruído diante dos próprios olhos.<br />
O LEITOR<br />
ESCREVE<br />
Pesar por Ilan Halimi<br />
Prezados Amigos:<br />
Queremos expressar o nosso profundo<br />
pesar pela morte trágica de<br />
Ilan Halimi, em Paris. Os nossos corações<br />
se sensibilizam com sua família,<br />
os amigos e a <strong>Com</strong>unidade <strong>Judaica</strong>.<br />
Gostaríamos que vocês soubessem<br />
que compartilhamos essa dor e<br />
pesar com vocês, e nesses dias lembramo-nos<br />
de vocês em nossas orações<br />
com amor. Tais atos de terrorismo<br />
não podem ser tolerados pela comunidade<br />
mundial, e nós já enviamos<br />
uma carta à Embaixada da França<br />
em Brasília, e para o Cônsul Geral<br />
da França em São Paulo, solicitando<br />
que sejam tomadas providências da<br />
parte das autoridades francesas contra<br />
o crescente número de atos de<br />
Canetti, quando enfadado,<br />
costumava cortar abruptamente as<br />
conversas. Em sua mente vinhalhe<br />
a lembrança de seu avô que<br />
quando achava que as crianças,<br />
com suas brincadeiras, haviam<br />
passado do limite, gritava em ladino:<br />
“Ya basta!”<br />
Ficou-lhe na memória o perfume<br />
das famosas rosas búlgaras e<br />
quando esteve junto ao leito de<br />
morte de sua mãe, levou-lhe rosas<br />
que a inebriavam, fazendo-lhe recordar<br />
os aromas dos jardins de<br />
sua terra natal. Os gritos e as correrias<br />
das crianças entre os irmãos<br />
e primos voltavam-lhe à mente e<br />
nesse fugidio momento respirava<br />
a melodia do ladino. Mas, na verdade,<br />
tudo não passava de um<br />
pequeno traço da pátria búlgara<br />
e de sua origem sefaradi. Navegou<br />
para o porto das celebridades<br />
através de uma pátria adotiva que<br />
foi a língua alemã.<br />
É em “Uma Luz em Meu Ouvido”,<br />
que Canetti cria a fantasia<br />
das “máscaras acústicas”. Era possível<br />
ouvir luzes e imagens e através<br />
dessa audição construir perfis<br />
de seres humanos sem a necessidade<br />
de vê-los ou tocá-los. A<br />
sensibilidade do poeta parnasiano<br />
é também capaz de dar asas à<br />
profundidade do amor, que lhe<br />
chega aos ouvidos como as luzes<br />
de Canetti. A lira de Olavo Bilac<br />
ouviu estrelas:<br />
violência na França. Unidos com vocês<br />
em sua dor.<br />
Irmãs Adola e Nechama<br />
Irmandade Evangélica de Maria no<br />
Brasil Curitiba - PR<br />
Ótima impressão<br />
Senhores editores:<br />
Adorei a seção “Receitas de Griffe”.<br />
Tomei a liberdade de salvar as<br />
que eu não conhecia nos Meus Documentos<br />
do computador. Tive uma ótima<br />
impressão do jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong>.<br />
Parabéns.<br />
Fani Grün Kaufmann <strong>Por</strong> e-mail<br />
Nota da Redação: Que bom que<br />
gostou. Só que agora, após<br />
quatro anos, a seção “Receitas<br />
com Griffe” foi substituída pela<br />
coluna “Papo de Cozinha”,<br />
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo<br />
Perdeste o senso!”...<br />
E eu vos direi: “Amai para entendê-las!<br />
Pois só quem ama pode ter ouvido<br />
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.<br />
Assim é que um conceito eminentemente<br />
filosófico encontra<br />
sua expressão na sensibilidade da<br />
veia poética. Em outras palavras,<br />
podemos também inverter a proposição,<br />
isto é, a filosofia da linguagem<br />
tem também a sensibilidade<br />
da poesia. Canetti foi um<br />
gênio. Tudo o que escreveu o fez<br />
com elegância de palavras. Seu<br />
jogo com as palavras é inimitável.<br />
Alguns de seus textos são tão<br />
luminosos e sonoros, que foram<br />
usados como poesia pura em libretos<br />
de composições musicais.<br />
O sefardismo e o ladino podem<br />
não ter importância em sua obra,<br />
mas deixaram marcas inolvidáveis<br />
no homem.<br />
Notas:<br />
1 Língua usada pelos judeus sefaradim,<br />
baseada em quase sua<br />
totalidade, no espanhol da Idade<br />
Média.<br />
2 Autor austríaco de “O Homem Sem<br />
Qualidades”.<br />
3 Grande polemista austríaco das<br />
primeiras décadas do século XX,<br />
autor de “Os Últimos Dias da Humanidade”<br />
e diretor e redator do<br />
jornal satírico “A Tocha”.<br />
assinada pelo gourmand Breno<br />
Lerner.<br />
Anti-semitismo<br />
Amigos:<br />
É com espanto que vejo surgir em<br />
pleno século 21 um arremedo de Hitler,<br />
o “presidente” do Irã, Mahmoud<br />
Ahmadinejad, sem que o mundo lhe<br />
dê um basta. A toda hora surge com<br />
seu anti-semitismo, suas ameaças de<br />
exterminar Israel e o seu povo judeu.<br />
E continua a desafiar o Ocidente com<br />
seu projeto diabólico de obter armas<br />
nucleares, querendo enganar a todos<br />
com a “estória da carochinha” de que<br />
se trata de energia para fins pacíficos.<br />
Desde quando um dos maiores produtores<br />
de petróleo precisa de outra<br />
fonte de energia?<br />
Manoel Cardoso Telles São Paulo – SP<br />
Para escrever ao jornal <strong>Visão</strong> <strong>Judaica</strong> basta passar um fax pelo telefone 0**41 3018-8018<br />
ou um e-mail para visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Calendário de Eventos<br />
Keilá do Paraná<br />
Março/06<br />
9<br />
Obs: Todos os eventos desta programação, à exceção<br />
do dia 26/3, serão realizados no CIP, na Travessa<br />
Agostinho Macedo, 248.<br />
Sexta-feira e sábado - Dias 10 e 11<br />
SEMANA DA MULHER JUDIA<br />
Um final de semana preparado especialmente para as<br />
associadas, com Cabalat Shabat, palestras, tarde de<br />
beleza, café colonial, aula de yoga e a primeira edição<br />
do Prêmio Golda Meir.<br />
Segunda-feira - Dia 13 - 19h<br />
GRANDE COMEMORAÇÃO DE PURIM<br />
Traga seus filhos fantasiados e divirta-se! Leitura da<br />
Meguilá na sinagoga do CIP, comidas típicas e muita<br />
alegria.<br />
Terça-feira - Dia 14<br />
LEITURA DA MEGUILÁ NA EIBSG<br />
Purim na Escola Israelita Brasileira Salomão Guelmann<br />
Leitura da Meguilá de manhã e o tradicional baile à<br />
fantasia infantil à tarde.<br />
Domingo - Dia 19 - 15h30 e 16h<br />
IDADE DO OURO<br />
Início das atividades. Venha saber a programação super<br />
especial que o grupo da terceira Idade terá em 2006.<br />
Inauguração do Painel da Wizo – conheça a história da<br />
Wizo no Paraná.<br />
Quarta-feira - Dia 22 – 20h<br />
ISRAELI DEGREE<br />
Viver, estudar e se formar em Israel. Conheça tudo sobre<br />
graduação, pós-graduação, mestrado e doutorado em<br />
Israel, em uma noite de sfihas promovida pela Agência<br />
<strong>Judaica</strong> e pela Hagashmá.<br />
Sábado - Dia 25 – 20h<br />
FESTA GREGA<br />
Divirta-se em uma festa temática com muita comida,<br />
música e diversão!<br />
Local: Cip - Trav. Agostinho Macedo, 248.<br />
Domingo - Dia 26 – 16h30<br />
INAUGURAÇÃO DA NOVA SEDE DO ICJBS<br />
Conheça a sede do Instituto Cultural Judaico-Brasileiro<br />
Bernardo Schulman e saiba mais sobre o trabalho<br />
dessa instituição.<br />
Local: Rua Cruz Machado, 126.
10<br />
Uma declaração de guerra<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
povo palestino declarou guerra a Israel.<br />
Eles iniciaram formalmente um estado<br />
de guerra ao eleger os candidatos<br />
do Hamas para a maioria dos assentos<br />
no Parlamento dos territórios palestinos,<br />
ao mesmo tempo em que expulsaram assim<br />
do poder o Fatah. Não só deram um voto de<br />
confiança ao Estatuto do Hamas para a destruição<br />
de Israel, como porta-vozes do Hamas disseram que<br />
não haverá nenhuma mudança ele. Nem o Hamas<br />
se desarmará, declarou outro líder do Hamas à agência<br />
Associated Press.<br />
O que poderia ser mais claro?<br />
A menos que o Hamas sofra uma mudança fundamental<br />
de filosofia, qualquer semelhança com um<br />
processo de paz terminou e os palestinos provavelmente<br />
podem esquecer do progresso econômico.<br />
A eleição do Hamas é um retrocesso para representar<br />
qualquer mudança fundamental; nunca<br />
foi um processo crível de paz. Os palestinos cometeram<br />
mais que meia-dúzia de atos de guerra<br />
contra Israel desde que os líderes de Israel e da<br />
Autoridade Palestina aceitaram fazer uma trégua<br />
há quase um ano.<br />
Não foi nenhuma surpresa que alguns repórteres,<br />
políticos e outros observadores ficaram chocados<br />
com os resultados da eleição. Eles freqüentemente<br />
têm isso como erros nos desdobramentos do<br />
Oriente Médio. Está claro que um grande segmento<br />
do mundo árabe ainda se opõe mesma à existência<br />
de Israel e está atolado num sistema tribal que<br />
inclusive se previne da democracia. Esse é não o<br />
lugar comum das atitudes de todos os indivíduos<br />
árabes. Não há dúvida que palestinos comuns tenham<br />
se inteirado sobre a corrupção do partido<br />
Fatah, que liderou a Autoridade Palestina, primeiro<br />
sob o despotismo de Yasser Arafat e depois com a<br />
ineficácia de Mahmoud Abbas. Mas é preciso saber<br />
quantos apoiadores do Hamas compartilham com<br />
sua hostilidade para com Israel.<br />
As lideranças israelenses já disseram que não<br />
negociarão com o Hamas enquanto este permanecer<br />
comprometido com a destruição de Israel. Este<br />
curso da ação eleva-se a um nível de sensibilidade<br />
que é óbvio e evidente. O governo palestino também<br />
poderia perder anualmente até US$ 1 bilhão<br />
em rendas dos Estados Unidos, Israel e das nações<br />
européias por causa da posição do Hamas com re-<br />
Bruce S. Ticker*<br />
lação a Israel, mas eles poderiam ser compensados<br />
pelo Irã, pela Arábia Saudita e caridade islâmica,<br />
de acordo com reportagens.<br />
As chances de o Hamas vir a tornar-se um parceiro<br />
para a paz são ínfimas. Reportagens contam<br />
que o Hamas realizou quase 60 atentados a bomba<br />
fatais ao longo dos últimos cinco anos. Uma mulher<br />
foi eleita em virtude da morte de três de seus filhos,<br />
que foram mortos em ataques a israelenses.<br />
Após a eleição ela disse que sacrificaria seus filhos<br />
remanescentes se for necessário.<br />
O Hamas também venceu em quarto dos seis distritos<br />
com assentos que representam Jerusalém Oriental,<br />
o que significa que tem muitos simpatizantes no que<br />
agora é considerada parte integrante de Israel.<br />
Se o Hamas consolidar o controle, há razões<br />
para temer que eles lancem ataques de Gaza a Israel<br />
e em assentamentos na Margem Ocidental. O<br />
registro da violência do Hamas salienta a desconfiança<br />
que se tem em superar e até mesmo revisar<br />
seus planos e políticas para relações mais amigáveis<br />
com Israel. Os líderes do Hamas podem até<br />
agir de um modo num nível diplomático, mas poderiam<br />
estar simultaneamente atrás de atos de violência<br />
contra Israel.<br />
Enquanto isso, o Hamas parece ser ido a uma<br />
guerra civil com os partidários do Fatah que não<br />
querem participação do Hamas.<br />
O resultado de eleição não deveria ser nenhuma<br />
surpresa para qualquer um que siga os eventos<br />
do Oriente Médio nos últimos cinco anos, até mesmo<br />
como um acaso. Os palestinos rejeitaram uma<br />
oferta que lhes teria dado a maior parte do que<br />
agora eles exigem; lançaram uma guerra que deixou<br />
mortos 1.000 israelenses, além de 2.500 mortos<br />
entre os seus próprios; e desde a última trégua<br />
em fevereiro, israelenses foram assassinados em<br />
seis atentados e em um ataque a tiros.<br />
Abbas, o presidente da Autoridade Palestina,<br />
pode ter sido perfeitamente sincero em procurar<br />
estabelecer a paz com Israel, mas por alguma razão<br />
ele não controlou terrorismo em seu meio.<br />
Até o mês passado, era impossível quantificar<br />
quantos palestinos desejam a destruição de Israel,<br />
mas no dia 25 de janeiro, uma maioria esmagadora<br />
de palestinos votou em uma força que demonstra<br />
claro como um cristal que Israel deve ser demolido.<br />
Agora isso é uma declaração de guerra.<br />
* Bruce S. Ticker é comentarista e publica a coluna “Crisis: Israel”. É editor comunitário do The<br />
Philadelphia Jewish Voice (www.pjvoice.com). Este artigo foi originalmente publicado, em inglês,<br />
no dia 9 de fevereiro de 2006.<br />
O mundo inteiro<br />
amalucou<br />
Já por várias vezes na história<br />
mundial, países e regiões, reinados<br />
ou vassalagens amalucaram e<br />
destruíram tudo o que existia das<br />
civilizações anteriores.<br />
Hoje estamos atravessando um<br />
período desses, não passível de<br />
análise e nem muito menos de discernimento.<br />
Há poucos anos atrás Gorbachev<br />
teve que sair correndo do Afeganistão<br />
e jogar a União Soviética<br />
esfacelada para o lado acidental<br />
para não perder o trem.<br />
O que vinha acontecendo, inclusive<br />
com a ajuda do Papa, a<br />
União das Repúblicas Socialistas<br />
Soviéticas se desmantelou e foi<br />
para o Ocidente.<br />
No Afeganistão existiam estátuas<br />
enormes esculpidas em pedra,<br />
de civilizações anteriores,<br />
antagonizadas pelo “Taleban” e<br />
pelos muçulmanos fanáticos, integralistas<br />
e desconhecidos de<br />
tudo o que não era islâmico ou<br />
muçulmano e olhe lá.<br />
Tinha se formado no país um<br />
interesse de desestabilização<br />
nacional e de conseqüências imprevisíveis<br />
em relação às estátuas,<br />
pois representavam várias<br />
divindades diferentes e diferenciadas,<br />
cultos diversos e contraditórios<br />
em relação oficial ao<br />
“Taleban”, aquele que não podia<br />
ser posto em dúvida ou sofrer<br />
classificações.<br />
Era certo e se acabou, aquelas<br />
estátuas gigantes, imponentes que<br />
desafiavam o tempo e o espaço,<br />
os séculos e os milênios impunha<br />
no ar sua presença e com o tempo<br />
sua posição.<br />
Suas origens não eram tão definidas<br />
assim, sua grandiosidade<br />
era acima em espaço e amplitude<br />
cultural e amplexos humanos, algo<br />
muito especial.<br />
Muito foi falado, muito foi<br />
escrito, muito se discutiu, e o<br />
governo do país não aceitou de<br />
forma alguma que aquelas estátuas<br />
fizessem parte de sua cultura,<br />
de seu repertório cultural e<br />
acompanhassem seu desenvolvimento<br />
ou atraso.<br />
Eram coisas atrasadas mentais,<br />
não faziam parte de suas origens<br />
religiosas, definidas muçulmanas,<br />
Edda Bergmann*<br />
islâmicas, fechadas, sem abertura<br />
para o mundo.<br />
Não podiam e não deveria pertencer<br />
a ninguém, a nenhuma outra<br />
cultura, pois lá ninguém pode<br />
nem deve aparecer.<br />
Quando existem muçulmanos,<br />
o mando é deles, foi o que ficou<br />
definido pelo governo, intransigente,<br />
incoerente, incapaz de<br />
análises ou de avaliações, incapaz<br />
de entender ou se esforçar<br />
para tentar entender o mundo,<br />
mesmo que em pequena parte, e<br />
em pequena escala.<br />
As estátuas foram destruídas<br />
e a duras penas, inclusive apesar<br />
de sua solidez, foram demolidas.<br />
O mundo assim chamado civilizado<br />
reclamou, foram precisos<br />
vários dias, mas a história acabou.<br />
Todos os jornais do mundo<br />
noticiaram, mas o islamismo, o<br />
“Taleban” e o Afeganistão foram<br />
implacáveis.<br />
Estátuas de outras civilizações<br />
“aqui não”, aqui só existimos nós<br />
e somos os únicos que conhecem<br />
as verdadeiras leis, verdadeiros<br />
caminhos e verdadeiros meios pelos<br />
quais se conhece a verdade.<br />
A verdade é uma e única, e é a<br />
nossa.<br />
A nossa verdade é a que vence<br />
os séculos.<br />
Em seus sonhos, em seus ideais,<br />
em suas imposições pelas quais<br />
todos devem pensar da mesma forma,<br />
todos devem sonhar e ter atitudes<br />
iguais.<br />
O islamismo não pergunta, decreta,<br />
não define, dita regras e estabelece<br />
preceitos. Até aí, tudo<br />
bem, mas não tolera civilizações<br />
diferentes e diferenciadas como<br />
os buracos enormes das estátuas<br />
que foram de outras civilizações<br />
no Afeganistão.<br />
Enormes buracos vazios e destruídos.<br />
Ninguém reclamou?<br />
No mundo ninguém achou que<br />
aquilo era conhecimento ou o poder<br />
dos séculos.<br />
Dois pesos e duas medidas.<br />
Mas o mundo foge por que as<br />
civilizações se digladiam e se<br />
olham a si mesmas apenas através<br />
de um vidro prateado, ou melhor,<br />
de um espelho.<br />
* Edda Bergmann é vice-presidente Internacional da B’nai B’rith.
Atos anti-semitas no Paraguai<br />
e na Argentina geram protestos<br />
umerosas pichações<br />
anti-semitas apareceram<br />
em Assunção, no<br />
Paraguai, gerando reações<br />
imediatas do governo<br />
e da B’nai B’rith paraguaia junto à<br />
comunidade judaica.<br />
Entre os dias 10 e 11 de fevereiro<br />
várias suásticas, figuras de Hitler e inscrições<br />
anti-semitas foram pintadas em<br />
diversas partes de Assunção, incluindo<br />
a casa do diretor do jornal mais importante<br />
do país, o ABC Color. O governo<br />
apoiou imediatamente a iniciativa da<br />
B’nai B’rith paraguaia e da comunidade<br />
judaica, anunciando uma profunda investigação<br />
e condenando o vandalismo<br />
dos grupos nazistas, enquanto que a<br />
B’nai B’rith e a comunidade judaica publicaram<br />
um comunicado no qual se<br />
exorta o Governo para que o Paraguai<br />
aprove o quanto antes uma lei antidiscriminatória<br />
que proteja todos os cidadãos<br />
contra a discriminação e a xenofobia<br />
e toda a forma de racismo.<br />
O Diário ABC Color publicou que o<br />
governo repudia as pichações anti-semita<br />
e quer saber quem está por trás<br />
delas, conforme assinalou o ministro do<br />
Interior, Rogelio Benitez. Anunciou que<br />
policiais ficarão em postos chaves da<br />
cidade nos horários noturnos para identificar<br />
os responsáveis e pediu também<br />
aos cidadãos que denunciem se tiverem<br />
informação a respeito.<br />
“Vemos com profunda preocupação<br />
a proliferação destas imagens (como a<br />
suástica e cara de Hitler), que perturbam<br />
a sociedade paraguaia e a comunidade<br />
judaica residente no país”, expressou<br />
o ministro Benitez no Palácio<br />
de Lopez. Disse que o governo não tem<br />
indícios de que no Paraguai exista um<br />
grupo organizado que simpatize com as<br />
idéias anti-semitas, mas igualmente<br />
repudia e rechaça este tipo de manifestações<br />
aparentemente isoladas.<br />
Indicou que é preocupante esta campanha<br />
nazista e antijudaica “justo agora<br />
no momento político atual (eleições<br />
internas coloradas) e a reivindicação que<br />
pudessem estar havendo alguns movimentos<br />
para sistemas de governo que<br />
entendemos totalmente anulados como<br />
os totalitários, que estão na contramão<br />
do governo democrático”.<br />
Esclareceu que o governo não recebeu<br />
nenhuma queixa pela aparição dos<br />
símbolos anti-semitas pintados em portões<br />
e muros de alguns setores da capital. Expressou<br />
que a sociedade paraguaia nunca<br />
rechaçou uma comunidade por motivos religiosos,<br />
políticos e econômicos.<br />
“Em solidariedade com o povo e a<br />
comunidade judaica rejeitamos a aparição<br />
símbolos e solicitamos à população<br />
que denuncie”, se tem conhecimento de<br />
quem realiza as pichações, comentou.<br />
Após conversar com o presidente<br />
Nicanor Duarte Frutos, Benítez convo-<br />
cou os jornalistas acreditados no Palácio<br />
de Lopez para informar também que<br />
ordenou aumentar a presença policial<br />
em horários noturnos em determinados<br />
setores da cidade para tentar identificar<br />
os responsáveis por estas pichações.<br />
“Acompanhamos a inquietude da<br />
comunidade judaica” no Paraguai que,<br />
seguramente, se sente preocupada por<br />
este tipo de manifestações que vão na<br />
contramão da história”, disse.<br />
Nota da B’nai B’rith do Paraguai<br />
As entidades abaixo assinadas,<br />
diante da aparição de agressões com<br />
símbolos nazistas e antijudaicos, ocorridos<br />
recentemente, resolve:<br />
1. Condenar os atos vandálicos de antisemitismo,<br />
racismo, e discriminação,<br />
que encerram as agressões a<br />
edifícios públicos e privados por<br />
parte de extremistas que pintaram<br />
cruzes gamadas e outros símbolos<br />
altamente antijudaicos de uma das<br />
maiores ideologias do ódio da história:<br />
o nazismo.<br />
2. Expressar nossa solidariedade com<br />
todas as pessoas, instituições, e<br />
empresas que foram agredidas por<br />
aqueles que crêem no ódio e na intolerância.<br />
3. Sendo que no Paraguai sempre conviveram<br />
em perfeita harmonia um<br />
cadinho de culturas, religiões e etnias;<br />
e sendo este um país amante<br />
da paz; em nossa condição de paraguaios,<br />
nos unimos a todas as pessoas<br />
de bem, pluralistas e democráticas<br />
para enfrentar e rejeitar estas<br />
manifestações contrárias ao sentimento<br />
majoritário de nossa pátria.<br />
4. Respaldar a decisão do Governo Nacional<br />
de tomar todas as medidas<br />
dentro do marco legal que rege a<br />
República para que os culpados destes<br />
atentados vandálicos sejam identificados<br />
e levados diante da Justiça<br />
e caia sobre eles todo o peso da lei.<br />
5. Assim mesmo, exortamos às autoridades,<br />
Poder Executivo e o Poder<br />
Legislativo, que em nosso país se<br />
dê no menor prazo possível uma legislação<br />
antidiscriminatória que permita<br />
enfrentar com instrumentos<br />
legais apropriados todas as manifestações<br />
de incitação ao ódio, discriminação<br />
religiosa, racismo, xenofobia<br />
e anti-semitismo.<br />
Assunção 13 de fevereiro de 2006<br />
B’nai B’rith do Paraguai, União Hebraica<br />
oo Paraguai, Aliança Israelita do<br />
Paraguai e Damas Israelitas do Paraguai.<br />
Na Argentina<br />
Na manhã de 16 de fevereiro de<br />
2006, o Centro Cultural Israelita I. L.<br />
Peretz (Icuf – Idisher Cultur Frarband),<br />
localizado na Rua O‘Higgins, 2061, em<br />
Lanus, Província de Buenos Aires, foi<br />
novamente agredido com a pichação de<br />
uma suástica na porta de seu edifício.<br />
Do ataque anterior aa instituição até<br />
este, passaram-se só dez meses, mas<br />
desta vez foi à luz do dia, como que<br />
desafiando a instituição e satisfeitos<br />
com a impunidade com que contam, já<br />
que nunca são surpreendidos em flagrante,<br />
nem presos ou condenados.<br />
Este atentado é parte de uma sucessão<br />
de atos de cunho anti-semita<br />
que vem se repetindo no país. Foi o<br />
quinto ataque de características antisemitas<br />
no transcurso dos últimos doze<br />
meses que recebem as instituições culturais<br />
judaicas do Icuf.<br />
Após o quarto atentado a Federação<br />
das Entidades Culturais <strong>Judaica</strong>s da<br />
Argentina solicitou audiência com o<br />
ministro do Interior, Aníbal Fernández,<br />
mas a instituição ainda está à espera<br />
que se marque a audiência.<br />
As entidades estão preocupadas<br />
com a facilidade e a leviandade com<br />
que se realizam os atos anti-semitas<br />
e perguntam ao governo porque este<br />
não pode ainda desarticular os grupos<br />
neonazistas?<br />
É imprescindível buscar as causas<br />
profundas da permanente reaparição<br />
deste tipo de grupos ou organizações,<br />
assim como seus mentores ideológicos,<br />
seus inspiradores locais, seus responsáveis<br />
e suas fontes de financiamento,<br />
destaca a Federação.<br />
Numa nota oficial assinada pelo<br />
presidente e pelo secretário geral da<br />
Federação das Entidades Culturais <strong>Judaica</strong>s<br />
da Argentina, respectivamente,<br />
Daniel Silber e Marcelo Horestein, a<br />
entidade afirma que “esses grupos não<br />
serão erradicados da sociedade, se a<br />
própria sociedade não promover ações<br />
enérgicas de todo caráter (legal, jurídico,<br />
político, social, educativo e cultural)<br />
para desentranhar de seu seio<br />
este tipo de questões”.<br />
“É imprescindível que o Estado —<br />
através de todos os seus instrumentos<br />
— opere rapidamente, realizando todas<br />
as gestões derivadas de suas obrigações,<br />
uma vez que detém o poder de<br />
Justiça”, prossegue a nota.<br />
“Repudiamos energicamente todas as<br />
expressões discriminatórias de qualquer<br />
natureza”, prossegue a nota observando<br />
ainda que “não conseguirão que baixemos<br />
nossos braços, pelo contrário nos<br />
fortalecem a seguir lutando contra todo<br />
tipo de discriminação, para alcançar um<br />
mundo mais justo que mereça ser vivido<br />
por todos, respeitando as diferenças e<br />
diversidade de opiniões”.<br />
<strong>Por</strong> fim, a nota diz: “Exigimos das<br />
autoridades nacionais e provinciais a<br />
maior celeridade na investigação e esclarecimento<br />
deste novo episódio de<br />
uma velha história”.<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Dez sites nota 10!<br />
Gustavo Erlichman*<br />
11<br />
- Guy Shachar adora viajar, explorar e observar.<br />
Após voltar de sua primeira viagem para a Ásia ele<br />
decidiu trazer o Oriente distante para todos. Em seu<br />
site você pode fazer um tour por diversas sinagogas<br />
e bairros judaicos espalhados pelo mundo, ou ainda,<br />
conhecer as mais belas paisagens de Israel. Visite:<br />
www.guyshachar.com<br />
- Que tal ouvir as rádios israelenses sem precisar<br />
entrar nos sites das emissoras? Agora isso já é possível!<br />
Basta visitar o site http://israelradio.lihi.co.il<br />
e fazer o download do programa. <strong>Com</strong> apenas um<br />
clique, você poderá ouvir qualquer rádio de Israel.<br />
Experimente!<br />
- Um novo site do museu “Casa de Anne Frank”<br />
foi lançado com o apoio da atriz britânica Emma<br />
Thompson, que estava promovendo seu filme em...<br />
Amsterdã. O site possui uma réplica da árvore que<br />
Anne viu de onde estava escondida, no qual os visitantes<br />
podem deixar seu nome em uma das folhas<br />
ou adicionar uma história, ou um poema sobre o<br />
que Anne significa para cada um deles. “A Árvore de<br />
Anne Frank” é o terceiro site produzido pelo museu,<br />
e pode ser acessado em www.annefranktree.com<br />
- O site IsraelMall.net tem como missão criar uma<br />
ligação social e econômica entre os amigos de Israel<br />
e seus familiares e amigos que moram no país.<br />
- No site Hebrew Verbs você poderá aprender<br />
gratuitamente a conjugação de mais de 300 verbos<br />
hebraicos em todos os tempos. O site, disponível em<br />
inglês e hebraico, pode ser visitado em www.hebrewverbs.co.il<br />
- Que tal aprender o idioma aramaico via internet?<br />
Muito parecido com o hebraico, o curso tem seu<br />
ponto forte na alfabetização. Veja em:<br />
www.assyrianlanguage.com<br />
- O “Free Muslim Coalition” é uma organização<br />
sem fins lucrativos composta por muçulmanos e árabes<br />
americanos que promovem uma interpretação<br />
moderna do Islã. Além disso acreditam na democracia,<br />
nos direitos da mulher e no combate ao terrorismo<br />
e ao anti-semitismo. Veja o site da organização<br />
em www.freemuslims.org<br />
- Diretamente de Israel, uma grande relação de<br />
rádios e podcasts com notícias sobre Israel, judaísmo,<br />
Torá, aliah e comentários do criador do site,<br />
Marty Roberts. Visite: www.israelnewsradio.net<br />
- Que tal ler o Tanach diretamente na tela do<br />
seu computador? No TanakhML.org isso é possível.<br />
Basta ter as fontes hebraicas instaladas no seu computador!<br />
Visite o site em: www.tanakhml.org<br />
- Alfie Kaye é um comediante canadense especialista<br />
em humor judaico. Em seu site você poderá<br />
ter acesso ao seu acervo de piadas em inglês e iídiche.<br />
Veja mais em: www.alfiekaye.com<br />
*Gustavo Erlichman é consultor de internet e<br />
criador do site judaico PLETZ.com
12<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
<strong>Com</strong>o a<br />
mídia árabe<br />
retrata os<br />
judeus Al-Watan,<br />
A reação extremada pela publicação das caricaturas<br />
do profeta Maomé na imprensa européia conduziu a<br />
ameaças de morte, revoltas e ataques às embaixadas<br />
dinamarquesas e outras instituições européias ao longo<br />
do mundo muçulmano.<br />
Ao mesmo tempo, alguns jornais muçulmanos e árabes<br />
e sites na Web têm aumentado suas publicações<br />
de caricaturas virulentamente anti-semitas e temas<br />
antiisraelenses:<br />
O site da Web da Liga Árabe-Européia publicou várias<br />
caricaturas estridentemente antijudaicas —<br />
incluindo uma mostrando Anne Frank, que descreveu o<br />
Holocausto, na cama com Hitler — supostamente numa<br />
tentativa para mostrar aos europeus sobre o que pode<br />
acontecer quando a liberdade de imprensa em suas sociedades<br />
é levada muito longe.<br />
Um jornal do Bahrein publicou uma caricatura com<br />
um queijo dinamarquês amoldado como uma Estrela<br />
de David numa tentativa de culpar a controvérsia<br />
das charges a uma “denominada penetração sionista”<br />
na Dinamarca.<br />
O jornal diário Hamshahri, de grande circulação em<br />
Teerã, anunciou deliberadamente uma competição inflamatória<br />
para encontrar e publicar as 12 “melhores”<br />
caricaturas sobre o Holocausto.<br />
Anti-semitismo na imprensa muçulmana e árabe praticamente<br />
não é um fenômeno novo. Em jornais ao longo<br />
do mundo muçulmano, os judeus são descritos habitualmente<br />
em caricaturas controlando assassinos manipuladores<br />
que trabalham para arruinar o mundo islâmico<br />
e matar os árabes. As caricaturas mostram judeus como<br />
nazistas, narizes em forma de ganchos, e vestidos de<br />
forma estereotipada com chapéus pretos e barbas.<br />
As seguintes caricaturas são exemplos do anti-semitismo<br />
na imprensa muçulmana e árabe, incluindo caricaturas<br />
que apareceram tanto antes como durante a<br />
recente controvérsia.<br />
Website da Liga Árabe Européia, em 2 de<br />
fevereiro de 2006. Tradução: "Escreva isto<br />
no seu diário, Anne!"<br />
Qatar, 6 de janeiro de 2006<br />
Ar-Rai, Jordânia, em 5 de novembro de 2005<br />
Al-Yawm, Arábia Saudita, 1º de dezembro de 2005 Al-Watan, Arábia Saudita, em 11 de fevereiro de 2006. Tradução: "A<br />
mídia ocidental"<br />
Al-Watan, de Omã, em 3 de fevereiro de 2004. Tradução: "À<br />
esquerda, no alto - Festa do Sacrifício"<br />
Al-Ittihad, Emirados Árabes Unidos, em 24 de janeiro de<br />
2006. Tradução: Ao alto - O roubo; sobre a arma - O<br />
Holocausto<br />
Al-Wifaq, Irã, em 6 de fevereiro de 2006. Tradução: O<br />
demônio judaico/israelense diz: "Eu não admito para a<br />
liberdade de expressão, exceto o Holocausto"<br />
Al-Bayan, Emirados Árabes Unidos, 22 de dezembro de 2005<br />
Akhbar al-Khalij, Bahrein, em 29 de janeiro de 2006. Tradução:<br />
Bandeira no queijo - Boicote produtos dinamarqueses. À direita -<br />
A penetração do Sionismo na Dinamarca<br />
Tishrin, Síria, em 21 de abril de 2002. Explicação: O livro na mão esquerda<br />
do estereótipo judeu é a Torá
sta foi a reação típica da<br />
maioria dos iranianos um<br />
dia após do primeiro turno<br />
das eleições presidenciais<br />
no Irã, quando ouviram<br />
que os dois candidatos<br />
que se enfrentariam no segundo turno<br />
eram o veterano político aiatolá Ali-<br />
Akbar Hashemi Rafsanjani e o até então<br />
pouco conhecido prefeito ultra-extremista<br />
de Teerã, Mahmoud Ahmadinejad.<br />
A surpresa foi toda esquecida pelo<br />
choque maior após as eleições, quando<br />
Ahmadinejad derrotou o ex-presidente,<br />
uma espécie de figura ícone na teocracia<br />
governante numa vitória que desmoronou<br />
o poder que estava consolidador<br />
nas mãos dos clérigos islâmicos.<br />
<strong>Com</strong> refletores agora apontados<br />
para a figura pequena e barbuda, num<br />
surrado terno cinza, como uma marca<br />
registrada, o passado obscuro de Ahmadinejad<br />
está causando profunda ansiedade<br />
exterior, e no Irã crescente preocupação<br />
por causa das políticas e<br />
orientação do novo presidente.<br />
Nascido no deserto, no lugarejo de<br />
Garmsar, a leste de Teerã, em 1956,<br />
Ahmadinejad é o quarto filho de uma<br />
família de proletários, de um total de<br />
sete crianças. Seu pai, um ferreiro, mudou-se<br />
com a família para Teerã quando<br />
Ahmadinejad tinha apenas um ano<br />
de idade. Ele viveu nos bairros toscos<br />
do sul de Teerã, que eram um coquetel<br />
de pobreza, frustração e xenofobia no<br />
auge do regime elitista do xá, um chão<br />
muito fértil para o crescimento do fundamentalismo<br />
islâmico.<br />
Depois de concluir a escola secundária,<br />
Ahmadinejad foi para Universidade<br />
Elm-o Sanaat em 1975 para estudar<br />
engenharia. Logo, o vendaval de<br />
revolução islâmica conduzido pelo aiatolá<br />
Ruhollah Khomeini varreu-o da sala<br />
de aula para a mesquita e ele juntouse<br />
a uma geração de fundamentalistas<br />
muçulmanos dedicados à causa da revolução<br />
mundial islâmica.<br />
Estudantes ativistas da Universidade<br />
Elm-o Sanaat na época da revolução<br />
iraniana foram dominados por ra-<br />
Ahmadinejad? Quem é ele?<br />
dicais islâmicos ultra-conservadores.<br />
Ahmadinejad logo tornou-se um de seus<br />
líderes e fundou a associação dos estudantes<br />
islâmicos naquela universidade<br />
após a queda do regime do xá.<br />
Em 1979 ele se tornou o representante<br />
dos estudantes da Elm-o Sanaat<br />
junto ao Departamento para Fortalecer a<br />
Unidade entre Universidades e Seminários<br />
Teológicos, que depois ficou conhecido<br />
como OSU. O OSU foi idealizado pelo<br />
aiatolá Mohammad Beheshti que era na<br />
ocasião o maior confidente de Khomeini<br />
e uma figura chave na liderança clerical.<br />
Beheshti queria que o OSU organizasse<br />
os estudantes islâmicos para se contraporem<br />
rapidamente à influência ascendente<br />
da Oposição Mojahedin-e Khalq<br />
(MeK) entre estudantes universitários.<br />
O OSU teve um papel central no ataque<br />
desvairado à embaixada dos Estados<br />
Unidos em Teerã, em novembro de 1979.<br />
Membros do conselho central do OSU, que<br />
incluíam Ahmadinejad e também Ibrahim<br />
Asgharzadeh, Mohsen (Mahmoud) Mirdamadi,<br />
Mohsen Kadivar, Mohsen Aghajari,<br />
e Abbas Abdi, eram recebidos regularmente<br />
pelo próprio Khomeini.<br />
De acordo com outros membros do<br />
OSU, quando a idéia de atacar violentamente<br />
a embaixada norte-americana em<br />
Teerã foi levada ao comitê central do<br />
OSU por Mirdamadi e Abdi, Ahmadinejad<br />
sugeriu que se atacasse violentamente<br />
a embaixada soviética ao mesmo tempo.<br />
Uma década depois, a maioria dos<br />
líderes do OSU reagrupou-se em torno<br />
de Khatami, mas Ahmadinejad permaneceu<br />
leal aos ultra-extremistas.<br />
Durante a turbulência nas universidades<br />
em 1980, à qual Khomeini chamou<br />
de “Revolução Cultural Islâmica”,<br />
Ahmadinejad e o OSU tiveram um papel<br />
crítico na remoção de professores<br />
e estudantes dissidentes, muitos dos<br />
quais foram presos e mais tarde executados.<br />
As universidades permaneceram<br />
fechadas por três anos e Ahmadinejad<br />
juntou-se aos Guardas Revolucionários.<br />
No início dos anos 80, Ahmadinejad<br />
trabalhou na “Segurança Interna”<br />
do departamento do CGRI (Corpo da<br />
Guarda Revolucionária do Irã) e ganhou<br />
notoriedade como interrogador cruel e<br />
torturador. De acordo com o website estatal<br />
Baztab, os aliados do presidente<br />
Mohammad Khatami, que estava deixando<br />
o poder, revelaram que Ahmadinejad<br />
trabalhou durante algum tempo<br />
como executor na conhecida Prisão de<br />
Evin, onde foram executados milhares<br />
de prisioneiros políticos nas punições<br />
sangrentas dos anos oitenta.<br />
Em 1986 Ahmadinejad tornou oficial<br />
graduado da Brigada Especial dos<br />
Guardas Revolucionários e foi locado na<br />
Guarnição de Ramazan, perto de Kermanshah,<br />
no Irã ocidental. A Guarnição<br />
de Ramazan era a sede das “operações<br />
extraterritoriais” dos Guardas Revolucionários,<br />
um eufemismo para ataques de<br />
terrorista além das fronteiras do Irã.<br />
Em Kermanshah, Ahmadinejad envolveu-se<br />
nas operações terroristas estrangeiras<br />
do regime clerical e conduziu<br />
muitas operações extraterritoriais<br />
do CGRI. Ahmadinejad tornou-se depois<br />
um dos mais altos chefes das forças do<br />
CGRI. Ele foi o autor inteligência dominante<br />
numa série de assassinatos no<br />
Oriente Médio e na Europa, intelectual<br />
do assassinato do líder curdo iraniano<br />
Abdorrahman Qassemlou que foi morto<br />
a tiros por oficiais dos Guardas Revolucionários<br />
em um apartamento de Viena,<br />
julho de 1989. Ahmadinejad foi<br />
quem planejou o ataque, de acordo com<br />
fontes dos Guardas Revolucionários.<br />
Ahmadinejad serviu durante quatro<br />
anos como prefeito das cidades de Maku<br />
e Khoy no noroeste do Irã. Em 1993<br />
ele foi designado pelo ministro de Cultura<br />
islâmica e Orientação Ali Larijani,<br />
um oficial da mesma categoria dos Guardas<br />
Revolucionários, como o seu conselheiro<br />
cultural. Meses depois, ele foi<br />
designado como governador da então<br />
recém-criada província de Ardebil.<br />
Em 1997 a administração de Khatami<br />
recém-instalada, removeu Ahmadinejad<br />
de seu posto e o devolveu à Universidade<br />
de Elm-o Sanaat para lecionar,<br />
mas sua atividade principal foi organizar<br />
a Ansar-e Hezbollah, um grupo radi-<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
cal de vigilantes islâmicos violentos.<br />
Desde que se tornou prefeito de<br />
Teerã em abril de 2003, Ahmadinejad<br />
usou sua posição para construir uma<br />
forte rede forte de radicais islâmicos,<br />
organizando-os como “Abadgaran-e<br />
Iran-e Islami” (literalmente, Fomentadores<br />
de um Irã islâmico). Trabalhando<br />
em colaboração íntima com a Guarda<br />
Revolucionária, o Abadgaran pôde<br />
ganhar as eleições municipais em<br />
2003 e a eleição parlamentar<br />
em 2004.<br />
Eles devem suas vitórias<br />
mais à multidão<br />
pobre e à desilusão<br />
geral com a facção<br />
“moderada” do<br />
regime, do que à sua<br />
bem-lubrificada máquina<br />
política e militar.<br />
O Abadgaran vende<br />
a imagem de um<br />
grupo fundamentalista<br />
neo-islâmico cujos jovens membros<br />
querem reavivar os ideais e as políticas<br />
do fundador da República islâmica,<br />
aiatolá Khomeini. Foi um dos vários<br />
grupos ultra-extremistas cujas organizações<br />
estavam às ordens do aiatolá<br />
Khamenei para derrotar a facção<br />
do presidente Mohammad Khatami em<br />
fim de mandato, após as eleições parlamentares<br />
em fevereiro de 2000.<br />
O registro de Ahmadinejad é típico<br />
dos homens escolhidos pela “entourage”<br />
de Khamenei para colocar<br />
uma nova face nova à identidade extremista<br />
da elite clerical. Mas além<br />
da fachada superficial poucos duvidam<br />
que a república islâmica sob seu novo<br />
presidente se mova com maior velocidade<br />
e determinação ao longo do caminho<br />
das políticas radicais que incluam<br />
mais abusos de direitos humanos,<br />
enquanto continuar patrocínio do<br />
terrorismo, e os passos para obter<br />
armas nucleares. (Agência Iran Focus.<br />
Este artigo pode ser lido no original,<br />
em inglês, no website http://<br />
www.iranfocus.com/modules/news/<br />
article.php?storyid=2605).<br />
13<br />
Mahmoud Ahmadinejad<br />
O passado sujo de<br />
Ahmadinejad (no círculo):<br />
prisão, torturas e morte<br />
de inimigos do regime
14<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
* Daniel Pipes é diretor<br />
do Fórum do Oriente Médio e<br />
colunista premiado dos jornais<br />
New York Sun e The Jerusalem<br />
Post. O presente artigo foi<br />
publicado no New York Sun em<br />
7 de fevereiro de 2006 e traduzido<br />
por Márcia Leal. Título original em<br />
inglês: Cartoons and Islamic<br />
Imperialism. O texto em português<br />
desse artigo encontra-se em<br />
http://pt.danielpipes.org/<br />
article/3402<br />
Caricaturas e imperialismo islâmico<br />
Daniel Pipes*<br />
este o ponto principal na<br />
polêmica das doze caricaturas<br />
dinamarquesas do<br />
profeta Maomé: o Ocidente<br />
defenderá seus costumes<br />
e valores, entre eles a<br />
liberdade de expressão, ou os muçulmanos<br />
conseguirão impor seu estilo<br />
de vida aos ocidentais? Em última<br />
análise, não há transigência possível:<br />
ou o Ocidente conserva sua<br />
civilização, inclusive o direito de<br />
insultar e blasfemar, ou não.<br />
Para ser mais claro, os ocidentais<br />
consentirão na duplicidade<br />
moral que libera os muçulmanos<br />
para insultarem o Judaísmo, o Cristianismo,<br />
o Hinduísmo, e o Budismo,<br />
enquanto Maomé, o Islã e seus<br />
fiéis se mantêm imunes a injúrias?<br />
Os muçulmanos publicam regularmente<br />
charges muito mais ofensivas<br />
que as dinamarquesas. Eles terão<br />
o direito de despejar insultos<br />
enquanto se preservam de indignidades<br />
semelhantes?<br />
O alemão Die Welt tocou nesse<br />
ponto em um editorial: “Os protestos<br />
dos muçulmanos seriam levados<br />
mais a sério se fossem menos hipócritas.<br />
Quando a televisão síria exibiu<br />
em horário nobre documentários<br />
dramatizados que mostravam rabinos<br />
como canibais, os imãs guardaram<br />
silêncio”. Aliás, os imãs sequer<br />
esboçaram um protesto quando<br />
muçulmanos pisotearam a cruz<br />
do Cristianismo que figura na bandeira<br />
da Dinamarca.<br />
O âmago da questão, porém, não<br />
é a hipocrisia muçulmana, mas o supremacismo<br />
islâmico. O editor dinamarquês<br />
responsável pela publicação<br />
das charges, Flemming Rose, explicou<br />
que, se os muçulmanos insistem<br />
em “que eu, um não-muçulmano, tenho<br />
de me submeter aos seus tabus<br />
(...), eles estão exigindo minha<br />
submissão”.<br />
Precisamente. <strong>Com</strong><br />
razão Robert Spencer<br />
encorajou o<br />
mundo livre a dar<br />
apoio “irrestrito à<br />
Dinamarca”. Para<br />
o informativo<br />
Brussels Journal,<br />
“agora somos todosdinamarqueses”.<br />
Alguns governos<br />
concordam:<br />
Noruega: “Não nos<br />
desculparemos porque em um país<br />
como a Noruega, que garante a liberdade<br />
de expressão, não podemos<br />
pedir desculpas pelo que os jornais<br />
publicam”, comentou o primeiro-ministro<br />
Jens Stoltenberg.<br />
Alemanha: “<strong>Por</strong> que o governo alemão<br />
deveria se desculpar [pela publicação<br />
dos cartuns em jornais alemães]?<br />
Essa é uma expressão da liberdade<br />
de imprensa”, disse o ministro<br />
do Interior Wolfgang Schauble.<br />
França: “Caricaturas de cunho<br />
político são excessivas por natureza.<br />
E eu prefiro o excesso da caricatura<br />
política ao excesso da censura<br />
de opinião”, observou o ministro do<br />
Interior Nicolas Sarkozy.<br />
Outros governos apresentaram<br />
desculpas injustificadas:<br />
Polônia: “Os limites da liberdade<br />
de expressão, tal como ela deve ser<br />
compreendida, foram ultrapassados”,<br />
afirmou o primeiro-ministro Kazimierz<br />
Marcinkiewicz.<br />
Reino Unido: “A republicação dos<br />
cartuns foi desnecessária, inoportuna,<br />
desrespeitosa e incorreta”, declarou<br />
o ministro do Exterior Jack Straw.<br />
Nova Zelândia: “Uma ofensa gratuita”,<br />
foi como o ministro do <strong>Com</strong>ércio<br />
Jim Sutton definiu as caricaturas.<br />
Estados Unidos: “Incitar o ódio<br />
religioso ou étnico dessa maneira<br />
não é aceitável”, disse Janelle Hironimus,<br />
uma assessora de imprensa do<br />
Departamento de Estado.<br />
Estranhamente, no momento em<br />
que a “Velha Europa” reencontra sua<br />
espinha dorsal, a Anglosfera hesita.<br />
Foi tão deplorável a reação do governo<br />
americano, que ganhou o<br />
apoio da organização islamista mais<br />
importante do país, o Council on<br />
American-Islamic Relations. Mas nisso<br />
não há surpresa nenhuma, pois<br />
Washington sempre deu tratamento<br />
preferencial ao Islã e por duas outras<br />
vezes igualmente vacilou em<br />
casos de insultos a Maomé.<br />
Em 1989, Salman Rushdie recebeu<br />
um decreto de morte do aiatolá<br />
Khomeini por satirizar Maomé em seu<br />
livro “Os Versos Satânicos”, um romance<br />
na tradição do realismo mágico.<br />
Em vez de sair na defesa do<br />
romancista, o presidente George H.<br />
W. Bush equiparou “Os Versos Satânicos”<br />
ao decreto, considerando<br />
ambos “ofensivos”. O então secretário<br />
de Estado, James A. Baker III,<br />
qualificou a sentença de morte com<br />
um simples “lamentável”.<br />
Para piorar, em 1997, quando<br />
uma israelense distribuiu um cartaz<br />
de Maomé retratado como um porco,<br />
o governo americano abandonou<br />
vergonhosamente o princípio da liberdade<br />
de expressão. Em nome do<br />
presidente Bill Clinton, o porta-voz<br />
do Departamento de Estado Nicholas<br />
Burns disse que a mulher em questão<br />
era “ou doente, ou (...) perversa”<br />
e afirmou que ela merecia “ser<br />
levada à Justiça por esses ataques<br />
ultrajantes ao Islã”. Então o Departamento<br />
de Estado é favorável a que<br />
se processe criminalmente o direito<br />
à liberdade de expressão? Ainda mais<br />
absurdo foi o contexto dessa declaração<br />
indignada. <strong>Com</strong>o observei na<br />
ocasião, depois de vasculhar várias<br />
Reação judaica<br />
ao concurso de<br />
charges do Irã<br />
<strong>Com</strong>eçaram a<br />
surgir em alguns<br />
sites judaicos<br />
charges bem<br />
humoradas fazendo<br />
piadas a respeito do<br />
concurso de charges<br />
que um jornal do Irã<br />
lançou para negar o<br />
Holocausto. Eis aqui<br />
dois exemplos<br />
dessas caricaturas<br />
muito engraçadas.<br />
semanas de informes emitidos pelo<br />
Departamento de Estado, “nada encontrei<br />
que se aproximasse desses<br />
vitupérios em referência aos horrores<br />
praticados em Ruanda, onde centenas<br />
de milhares de pessoas perderam<br />
a vida. Ao contrário, Burns foi cauteloso<br />
e diplomático todo o tempo”.<br />
Os governos ocidentais deveriam<br />
fazer um curso intensivo em legislação<br />
islâmica e a historicamente<br />
ininterrupta compulsão muçulmana<br />
de subjugar os não-muçulmanos.<br />
Eles poderiam começar pela leitura<br />
do livro de Efraim Karsh, Islamic Imperialism:<br />
A History (Yale), a ser lançado<br />
em breve.<br />
Os povos que desejam continuar<br />
livres devem apoiar a Dinamarca<br />
sem reservas.
xiste uma forte razão<br />
para dizer que as charges<br />
dinamarquesas sobre<br />
Maomé, que têm causado<br />
um alarido tão estrondoso,<br />
são comentários justos. Certamente,<br />
aqueles que não viram essas charges<br />
podem ficar certos de que elas são relativamente<br />
suaves, se comparadas às<br />
charges sobre outros temas que aparecem<br />
com regularidade na imprensa européia.<br />
Ainda assim, os não muçulmanos<br />
teriam mais simpatia com os muçulmanos<br />
que as acham ofensivas, se<br />
não fosse pelo impressionante padrão<br />
duplo e a hipocrisia do mundo muçulmano,<br />
quando se trata de aceitar e de<br />
aplaudir ofensas horríveis contra os judeus,<br />
e, em um grau menor, extensivo<br />
também aos cristãos.<br />
Os argumentos dos muçulmanos –<br />
porém não a forma fanática e violenta<br />
de muitos dos seus protestos – seriam<br />
certamente levados mais a sério se eles<br />
também fizessem objeções à forma<br />
como a televisão da Síria descreve os<br />
rabinos como canibais. Ou se no sábado<br />
passado, o Semanário Muçulmano Britânico<br />
não tivesse publicado a caricatura<br />
de um Ehud Olmert com o nariz em<br />
forma de anzol.<br />
Ou se o “Vale dos Lobos”, o filme<br />
mais caro já feito na Turquia, não tivesse<br />
sido lançado com uma grande aclamação<br />
local. No filme, soldados americanos<br />
no Iraque irrompem em uma boda<br />
e metem chumbo em um menino diante<br />
de sua mãe, matam aleatoriamente dezenas<br />
de pessoas inocentes com o fogo<br />
de suas metralhadoras, baleiam o noivo<br />
na cabeça e arrastam os sobreviventes<br />
para a cadeia, onde um médico judeu<br />
corta os seus órgãos e os vende para<br />
pessoas ricas em Nova Iorque, Londres<br />
e Tel-Aviv. Ou se um grupo muçulmano<br />
belga e holandês não tivesse colocado<br />
no seu site na Internet fotografias de<br />
Anne Frank na cama com Hitler. Ou se,<br />
na Arábia Saudita, não fosse ilegal a<br />
simples exibição de uma cruz ou de uma<br />
estrela de David. E quando se trata de<br />
charges em jornais – o motivo da atual<br />
inquietação – os países muçulmanos são<br />
os líderes mundiais em incentivar o ódio,<br />
sem sequer um mínimo de protesto em<br />
outras partes, além do incêndio de edifícios,<br />
ameaças de degolar turistas europeus,<br />
e a queima da bandeira dinamarquesa<br />
(a qual, coincidentemente,<br />
mostra um símbolo cristão, a cruz). Chega<br />
de respeito religioso. As charges publicadas<br />
em setembro passado em<br />
Jyllands Posten, um jornal sobre o qual<br />
dificilmente alguém de fora da Dinamarca,<br />
um dos menores países da Europa,<br />
sequer ouviu falar, são suaves se comparadas<br />
às charges rotineiramente produzidas<br />
sobre os judeus nos países onde<br />
alguns dos piores protestos contra a Dinamarca<br />
estão agora sendo encenados.<br />
Os árabes que atormentam judeus<br />
não se limitam – como os inimigos de<br />
Israel no Ocidente tratam de argumentar<br />
- apenas a ataques políticos ao Sionismo.<br />
Eles estão direcionados contra<br />
os judeus em geral, e são tão horríveis<br />
e desumanos quanto os que foram produzidos<br />
sob o domínio nazista.<br />
Poderíamos esperar tais imagens<br />
demoníacas de um país governado por<br />
alguém que nega o Holocausto, como<br />
o é o Irã, ou um regime sem princípios<br />
como a Síria. Mas estas imagens vis<br />
podem ser encontradas nos meios de<br />
comunicação de países supostamente<br />
moderados pró-ocidentais, como Jordânia,<br />
Catar, Arábia Saudita, Omã,<br />
Bahrain e Egito.<br />
Al-Watan (Oman) publicou caricaturas<br />
do tipo nazista de judeus com nariz<br />
em forma de gancho e costas curvadas,<br />
que não usam sapatos e que<br />
suam profusamente.<br />
Akhbar Al-Khalij (Bahrain) tem mostrado<br />
caricaturas anti-semitas de judeus<br />
de chapéus pretos e suando, enquanto<br />
manipulam os EUA a fazer a<br />
aposta que eles desejam.<br />
Al Ahram, um dos principais jornais<br />
diários do Egito, tem publicado charges<br />
de judeus rindo enquanto ficam bebendo<br />
sangue (o Senado americano aprovou<br />
US$ 1,84 bilhões para um pacote<br />
de ajuda para o Egito para 2006, o segundo<br />
mais alto do mundo).<br />
O cartunista oficial da Autoridade<br />
Palestina tem retratado os judeus em forma<br />
de cobras, historicamente uma maneira<br />
anti-semita da Europa Medieval.<br />
O site na Internet da Autoridade<br />
Palestina tem publicado repetidamente<br />
charges de judeus assassinando crianças<br />
não judias.<br />
Algumas das charges não apenas se<br />
parecem àquelas publicadas pelos nazistas.<br />
Elas são literalmente copiadas<br />
dos originais nazistas. <strong>Por</strong> exemplo, uma<br />
charge do Arab News (um jornal diário<br />
da Arábia Saudita, publicado em inglês<br />
e considerado como uma das publicações<br />
mais moderadas do mundo árabe),<br />
mostra ratos usando estrelas de<br />
David e solidéus, penetrando furtivamente<br />
para frente e para trás, através<br />
dos buracos na parede de um edifício<br />
chamado de “Casa Palestina”. As imagens<br />
usadas são praticamente idênticas<br />
às do conhecido filme nazista “Jew<br />
Süss” — uma cena na qual os judeus<br />
são mostrados como vermes que devem<br />
ser erradicados pelo extermínio em<br />
massa. Em outras ocasiões os judeus<br />
são os nazistas. O jornal jordaniano Ad-<br />
Dustur, por exemplo, publicou uma charge<br />
mostrando as estradas de ferro que<br />
levavam ao campo de extermínio em<br />
Auschwitz-Birkenau — mas ao invés das<br />
bandeiras nazistas, aparecem as bandeiras<br />
israelenses, e uma placa onde<br />
se lê: “Campo israelense de extermínio”.<br />
Supostamente, a Jordânia é um<br />
país moderado, em paz com Israel.<br />
Para marcar a designação do dia<br />
27 de janeiro como o “Dia da Memória<br />
do Holocausto”, o cartunista do Al-Yawm<br />
(da Arábia Saudita) superpôs a suástica<br />
nazista sobre a estrela de David.<br />
O judaísmo tampouco é poupado. O<br />
Daily Star em Beirute publicou uma tira<br />
mostrando um grande Talmud com uma<br />
baioneta sendo disparada contra um<br />
homem idoso com turbante árabe, saindo<br />
dele em seguida um jato de sangue.<br />
Outras tiras cômicas árabes têm mostrado<br />
judeus com sacos de dinheiro, espalhando<br />
morte, terror e doenças. As<br />
charges dinamarquesas relativamente<br />
suaves têm sido republicadas em vários<br />
jornais europeus de tal modo que<br />
os leitores possam descobrir o motivo<br />
de todo o alvoroço (é difícil para os<br />
leitores julgar a história sem ter visto<br />
as caricaturas). Mas não em jornais na<br />
Inglaterra ou em qualquer outro grande<br />
jornal dos EUA, países que aparentemente<br />
estão agora intimidados demais<br />
para correr os riscos que poderão<br />
advir dessas reproduções.<br />
Além disso, editores do The Guardian<br />
e do The Independent em Londres, por<br />
exemplo, apareceram na BBC dizendo<br />
que eles jamais sonhariam em publicar<br />
caricaturas que os muçulmanos considerassem<br />
ofensivas, mas esses mesmos<br />
jornais não hesitaram em publicar charges<br />
ofensivas aos judeus (sangue árabe<br />
sendo espalhado sobre o Muro das<br />
Lamentações no The Guardian, a carne<br />
de criancinhas árabes sendo comidas<br />
por Ariel Sharon no The Independent, e<br />
assim por diante).<br />
O The New York Times apressou-se em<br />
elogiar a frívola peça encenada na Broadway<br />
que mostra Jesus tendo sexo homossexual<br />
com Judas, mas não ousou reproduzir<br />
a caricatura dinamarquesa mostrando<br />
um ponto sério que é o do mau uso<br />
feito pelos terroristas islâmicos dos ensinamentos<br />
do profeta Maomé.<br />
<strong>Com</strong> gente protestando nas ruas de<br />
Londres, cantando em uníssono “Europa<br />
você vai pagar, o seu 11 de Setembro<br />
está a caminho” e segurando cartazes<br />
“Cortem as cabeças daqueles que<br />
insultam o Islã” e “Preparem-se para o<br />
verdadeiro Holocausto” talvez não seja<br />
surpresa que os fracos espíritos do Oci-<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Simpatia pelos que desenham<br />
Anne rank na cama com Hitler?<br />
Tom Gross*<br />
dente estejam se acovardando.<br />
Entretanto, este é um assunto<br />
que extrapola muito as caricaturas,<br />
e se desejam que as liberdades ocidentais<br />
sobrevivam, muçulmanos e<br />
não muçulmanos moderados devem<br />
parar de ceder às ameaças. Mark<br />
Steyn, da Jewish World Review, lembrou-nos<br />
das palavras mais conhecidas<br />
de um famoso personagem de ficção<br />
dinamarquês: “Ser ou não ser, eis a<br />
questão”. Exatamente.<br />
15<br />
* Tom Gross é<br />
correspondente<br />
no Oriente Médio do<br />
Jewish World Review.<br />
Tradução: Mina Seinfeld<br />
de Carakushansky e<br />
enviado por Luiz<br />
Nazário.<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
Palestinos disfarçados<br />
de soldados israelenses<br />
assaltam em Nablus<br />
Zaher Hamouz acordou a 1h30 da manhã ao som de uma<br />
batida forte na porta da frente de sua casa. Olhou pela<br />
janela e viu dois soldados israelenses. Ou pelo menos, assim<br />
pensou. Os pistoleiros mascarados vestiam fardas completas<br />
do exército de Israel, amarraram-no e esvaziaram<br />
sua casa, enquanto faziam de Hamouz a quarta vítima de<br />
uma gangue de ladrões que tiram proveito do conflito para<br />
roubar casas. A vítima disse que os homens falavam um<br />
hebraico com acento pesado, misturado com árabe e exigiram<br />
entrar na casa. Os “soldados” disseram que tinham informação<br />
sobre um homem procurado ali dentro. Quando<br />
Hamouz os deixou entrar eles o vendaram e amarraram suas<br />
mãos e de seu filho de 12 anos. Então ameaçaram sua esposa<br />
a entregar pertences valiosos da casa. A mulher disse<br />
que passou a suspeitar deles quando um dos homens começou<br />
a ler um jornal árabe que estava sobre a mesa.<br />
“Eu disse: ‘<strong>Com</strong>o você sabe ler árabe, mas não fala?”’,<br />
contou ela. “E então ele apontou a arma dele para mim e<br />
disse: ‘cale-se’. “Foi quando eu soube que eles não eram<br />
israelenses, mas sim ladrões”, concluiu ela.<br />
Hind Al-Masri, a mulher de Hamouz, disse os homens<br />
levaram cerca de 1000 NIS (New Israeli Shekalim) e uma<br />
parte de suas jóias. Quando a família foi registrar queixa na<br />
polícia, descobriu que eles não eram os únicos.<br />
“Isto aconteceu três vezes antes — pessoas com uniformes<br />
de soldados israelenses e dizendo que são israelenses”,<br />
disse Said Abu Ali, o administrador de Nablus.<br />
“É uma desgraça que algo assim aconteça aqui num<br />
um tempo difícil para nós. Os palestinos precisam ajudar<br />
uns aos outros”.<br />
A polícia estaria investigando os casos e prometeu levar<br />
os responsáveis à justiça, disse Ali. Entretanto, ainda não<br />
há nenhuma pista direta das identidades dos ladrões, e nenhuma<br />
idéia de como eles conseguiram obter os uniformes.<br />
As Forças de Defesa de Israel (IDF) disseram que não<br />
tiveram nenhum conhecimento dos casos.<br />
Al-Masri disse estar preocupada com o fato de que as notícias<br />
das artimanhas de ladrões levarão muitos a resistir aos<br />
soldados israelenses no futuro, o que poderia conduzir à violência.<br />
“<strong>Com</strong>o se pode saber se são israelenses ou ladrões? O<br />
que acontece se israelenses reais vêm e nós não os deixamos<br />
entrar?”, ela disse. “Nós não sabemos quem são os soldados e<br />
quem não são. É um problema.” (Haaretz).<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
16 (com<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
VISÃO<br />
Político português quer medidas drásticas<br />
Ribeiro e Castro, político em <strong>Por</strong>tugal, propõe<br />
que o embaixador do Irã em Lisboa<br />
seja considerado persona non grata. O líder<br />
do CDS-PP pediu dia 18/2 ao Governo<br />
que expulse o embaixador do Irã em <strong>Por</strong>tugal<br />
na seqüência das declarações que fez<br />
sobre o Holocausto. “Nós tomamos nota<br />
da reação do Governo português e do Ministério<br />
dos Negócios Estrangeiros, mas não<br />
nos parece suficiente. Achamos que o Embaixador<br />
do Irã deve ser considerado persona<br />
non grata e deve ser reenviado para<br />
o seu país”. A posição de José Ribeiro e<br />
Castro foi assumida depois de ter visitado<br />
a Sinagoga de Lisboa, onde teve um encontro<br />
com responsáveis da comunidade judaica<br />
em <strong>Por</strong>tugal. No dia 16/2, o embaixador<br />
foi chamado ao Palácio das Necessidades<br />
por Freitas do Amaral, depois de ter questionado<br />
o número de vítimas do Holocausto<br />
ao afirmar que para incinerar seis milhões<br />
de pessoas seriam necessários 15 anos. (Israel<br />
Blajberg-Rio de Janeiro).<br />
Ciganos contra negação do Holocausto<br />
Líderes ciganos da Alemanha enviaram<br />
carta de protesto à embaixada do Irã em<br />
Berlim, por causa das declarações do presidente<br />
Ahmadinejad, que considerou o<br />
Holocausto “um mito” e se pronunciou a<br />
favor da extinção de Israel. O presidente<br />
do conselho central de ciganos, Romani<br />
Rose, disse na carta que manifestações<br />
como essa constituem “uma propaganda de<br />
ódio”. Rose considerou em sua mensagem<br />
que o Holocausto, durante a Segunda Guerra<br />
Mundial, consumado pelo nazismo, provocou<br />
a morte de 500 mil ciganos em campos<br />
de concentração, além de 6 milhões de<br />
judeus. “O governo de Teerã deve respeitar<br />
a verdade histórica se quer fazer parte da<br />
comunidade internacional”, escreveu na<br />
carta ao embaixador iraniano na Alemanha,<br />
Seyed Shamseddin Jaregani. Na Europa vivem<br />
cerca de 10 milhões de ciganos, muitos<br />
deles de religião muçulmana. (ANSA).<br />
Árvore em homenagem a padre<br />
panorâmica<br />
Em memória do padre Andrea Santoro, assassinado<br />
em 5/2 na Turquia, o Fundo Kerem<br />
Kaiemet LeIsrael (KKL) da Itália, plantou<br />
uma árvore em Jerusalém. A iniciativa<br />
foi de Emanuele Pacifici, membro da comunidade<br />
judaica de Roma e presidente<br />
da Associação Amigos do Yad Vashem, que,<br />
ao receber a notícia do assassinato do sacerdote<br />
contatou o KKL e escreveu uma<br />
carta de solidariedade ao cardeal Camillo<br />
Ruini, bispo vigário para a diocese de<br />
Roma. Em entrevista, Pacifici disse que<br />
experimentou uma imensa dor pelo que<br />
sucedeu ao padre Andrea Santoro, morto<br />
enquanto rezava, exatamente como sucedeu<br />
ao seu pai, rabino-chefe de Gênova,<br />
que foi preso enquanto rezava, torturado<br />
e deportado a Auschwitz, de onde nunca<br />
mais regressou. Pacifici, que quando era<br />
menino salvou-se da perseguição nazista<br />
graças às religiosas de Santa Marta em Settignano<br />
(Florença), explica que na tradi-<br />
informações das agências AP, Reuters,<br />
AP, EE, jornais Alef na internet, Jerusalem<br />
Post, Haaretz e IG)<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
• Yossi Groisseoign<br />
ção religiosa de Israel a árvore é símbolo<br />
da vida. Em memória dos que arriscaram a<br />
vida para salvar judeus desde 1962 se planta<br />
uma árvore na Avenida dos Justos, junto<br />
ao Yad Vashem, em Jerusalém.<br />
(Catholic.net).<br />
Hagadá de 600 anos salva por<br />
muçulmanos e católicos<br />
Réplicas de uma Hagadá (que conta a história<br />
da saída do povo judeu da escravidão<br />
no Egito) escrita há 600 anos, e que<br />
está hoje em Saravejo, na Bósnia, foram<br />
colocadas à venda. A Hagadá sobreviveu à<br />
Inquisição espanhola, à guerra da Bósnia<br />
e aos estragos do tempo. Jacob Finci, presidente<br />
da comunidade judaica local disse<br />
que decidiu imprimir 613 réplicas porque<br />
são 613 as mitzvót (preceitos) que cada<br />
judeu deve cumprir. “Serão usadas para o<br />
próximo Pêssach, (a Páscoa judaica). O original<br />
está exposto no Museu Nacional de<br />
Sarajevo, junto com manuscritos sagrados<br />
de outras religiões da Bósnia, o islã, o<br />
cristianismo ortodoxo e o catolicismo romano.<br />
Em 1492, um judeu refugiado da<br />
Espanha levou o livro à Itália, de onde<br />
chegou à Bósnia pelas mãos de um rabino,<br />
até que um descendente, Joseph Kohen,<br />
vendeu-a ao Museu Nacional em 1894.<br />
Durante a 2ª Guerra Mundial, um católico.<br />
diretor do museu e seu colega muçulmano,<br />
salvaram a Hagadá de um oficial nazista.<br />
Ficou escondida numa aldeia nas<br />
montanhas, sob do piso numa mesquita até<br />
o final da guerra. (Associated Press).<br />
Reconhecimento à igreja búlgara<br />
O livro ‘The Power of Civil Society in a Time<br />
of Genocide: Proceedings of the Holy Synod<br />
of the Bulgarian Orthodox Church on the Rescue<br />
of the Jews in Bulgaria 1940-1944’ [‘O<br />
Poder de Sociedade Civil no Tempo de Genocídio:<br />
Procedimentos do Sínodo Santo da<br />
Igreja Ortodoxa Búlgara no Salvamento dos<br />
judeus na Bulgária 1940-1944’] um projeto<br />
de Centro de Estudos Judaicos da Universidade<br />
de Sofia, apoiado pela B'nai B'rith Internacional,<br />
foi apresentado na reunião da<br />
Conferência de Presidentes das Maiores<br />
Organizações <strong>Judaica</strong>s, na Bulgária. A obra<br />
conta como toda a comunidade judaica daquele<br />
país, composta por 50 mil pessoas<br />
foi salva do nazismo graças à intervenção<br />
dos líderes da igreja, de parlamentares,<br />
intelectuais e dos cidadãos comuns. Lideranças<br />
judaicas norte-americanas que estiveram<br />
em contato com autoridades na Bulgária<br />
e na Romênia ficaram impressionados<br />
com o renascimento da vida judaica<br />
nestes países. (B'nai B'rith Internacional).<br />
Auschwitz em quadrinhos<br />
Maus, reeditado pela <strong>Com</strong>panhia das Letras,<br />
com tradução de Antonio de Macedo<br />
Soares, é a história de Vladek Spiegelman,<br />
judeu polonês que sobreviveu ao campo de<br />
concentração de Auschwitz, narrada por ele<br />
próprio ao filho Art. “Rato” em alemão,<br />
Maus, é considerado um clássico contem-<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
porâneo das histórias em quadrinhos. Foi<br />
publicado em duas partes, a primeira em<br />
1986 e a segunda em 1991. Em 1992, o<br />
livro ganhou o Prêmio Pulitzer de literatura.<br />
Na nova tradução, a obra foi relançada<br />
com as duas partes reunidas num só volume.<br />
Nas tiras, os judeus são desenhados<br />
como ratos e os nazistas têm feições de<br />
gatos; poloneses são porcos e americanos,<br />
cachorros. Esse recurso, aliado à ausência<br />
de cor dos quadrinhos, reflete o espírito<br />
do livro: trata-se de um relato incisivo e<br />
perturbador, que evidencia a brutalidade<br />
da catástrofe do Holocausto. As ilustrações<br />
de Art Spiegelman, porém, evitam o<br />
sentimentalismo e interrompem algumas<br />
vezes a narrativa para dar espaço a dúvidas<br />
e inquietações. De vários pontos de<br />
vista, uma obra sem equivalente no universo<br />
dos quadrinhos e um relato histórico<br />
de valor inestimável. (PublishNews).<br />
Eliminada bitributação entre Brasil e Israel<br />
O presidente Lula assinou o decreto nº<br />
5.576, datado de 8/11/2005, promulgando<br />
a Convenção entre o Governo da República<br />
Federativa do Brasil e o Governo do<br />
Estado de Israel que visa evitar a dupla<br />
tributação e prevenir a evasão fiscal em<br />
relação ao imposto sobre a renda. A convenção<br />
foi celebrada em 12 de dezembro<br />
de 2002 e evitará que companhias israelenses<br />
que atuam no Brasil sejam obrigadas<br />
a pagar Imposto de Renda duas vezes;<br />
assim como as empresas barsileiras que<br />
prestam serviços não deverão pagar este<br />
mesmo imposto em Israel. Antiga reivindicação,<br />
sua promulgação por decreto será<br />
benéfica e trará resultados no incremento<br />
do intercâmbio comercial entre os dois países.<br />
(Câmara de <strong>Com</strong>ércio Brasil-Israel).<br />
China pede ajuda de<br />
Israel às Olimpíadas<br />
O comandante da Polícia Nacional israelense,<br />
Moshé Karadi, viajou a Beijing (Pequim)<br />
para colaborar com os preparativos para os<br />
jogos de 2008, que serão realizados naquele<br />
país. O governo chinês solicitou a ajuda dos<br />
especialistas de Israel para a prevenção e<br />
luta contra o terrorismo, os distúrbios e as<br />
desordens. Karadi se entrevistou em Shanghai<br />
com os principais diretores da segurança<br />
chinesa, os quais lhe solicitaram informações<br />
sobre os métodos e técnicas utilizadas<br />
em Israel. (La Tercera de Chile).<br />
Prefeito de Londres punido<br />
O prefeito de Londres, Ken Livingstone, foi<br />
punido dia 3/3 com quatro semanas de suspensão<br />
do cargo por haver comparado um<br />
jornalista judeu com um guarda de um campo<br />
de concentração nazista. O <strong>Com</strong>itê de<br />
Normas de Conduta da Inglaterra, comissão<br />
disciplinar que averiguou o caso, impôs<br />
o castigo ao concluir que Livingstone<br />
atuou de forma “ofensiva” e “insensível”<br />
e, assim, manchou a reputação da Prefeitura.<br />
O advogado do prefeito, Tony Child,<br />
tachou a decisão de “muito decepcionante”<br />
e adiantou que pretende recorrer ao<br />
Tribunal Superior. O fato aconteceu em<br />
fevereiro do ano passado, quando Livingstone<br />
foi abordado pelo repórter Oliver Finegold,<br />
do vespertino londrino Evening<br />
Standard, na saída de um evento. Ao in-<br />
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
vés de responder ás perguntas do repórter,<br />
que depois se verificou ser judeu, o<br />
prefeito se incomodou a tal ponto que comparou<br />
Finegold com um “criminoso de guerra”<br />
e “um guarda de um campo de concentração”<br />
nazista. (Agência EFE).<br />
Prefeito de Londres II<br />
Conhecido por sua personalidade obstinada,<br />
Livingstone se recusou a apresentar<br />
desculpas apesar dos pedidos de diversos<br />
correligionários, entre eles o primeiro-ministro,<br />
Tony Blair, e dos líderes da comunidade<br />
judaica. Livingstone insistiu nos comentários<br />
que comparavam o trabalho do<br />
jornalista com o de um guarda de um campo<br />
de concentração, apesar de ter sido<br />
informado que o jornalista era judeu e considerava<br />
ofensivo que lhe perguntassem se<br />
era um criminoso de guerra alemão e argumentou<br />
que só expressou sua opinião<br />
sobre o Associated Newspapers, grupo<br />
editorial dono do Evening Standard. A diretora<br />
do Evening Standard, Veronica Wadley,<br />
celebrou a decisão do <strong>Com</strong>itê de Normas<br />
de Conduta da Inglaterra, e ressaltou<br />
que o repórter se comportou “de maneira<br />
impecável”. O Fórum Judeu de Londres também<br />
expressou sua satisfação com o veredicto.<br />
(Agencia EFE}.<br />
Vice de Chavez: recebe Hamas 'com prazer'<br />
O vice-presidente venezuelano, José Vicente<br />
Rangel, declarou que seu país receberia<br />
“com prazer” os líderes do Hamas, organização<br />
que venceu as eleições palestinas.<br />
“Qual é o problema?”, perguntou Rangel.<br />
“Eles acabam de vencer uma eleição”,<br />
disse. Os EUA, a União Européia e as Nações<br />
Unidas têm declarado que não dialogarão<br />
com o Hamas se o grupo não renunciar<br />
à violência e reconhecer a existência<br />
de Israel. A carta de fundação do Hamas<br />
prega a destruição do Estado judeu e o<br />
Hamas é considerado oficialmente uma organização<br />
terrorista pelos EUA e pela Europa,<br />
razão pela qual paira sobre os palestinos<br />
a ameaça de ser cortada a ajuda<br />
financeira internacional. O American<br />
Jewish Congress, sediado em Nova York,<br />
pediu aos países latino-americanos que não<br />
recebam o Hamas, justificando que uma<br />
recepção “prematura” não seria conveniente<br />
para a paz. (Uol).<br />
antasias nazistas levam à prisão<br />
No domingo e na segunda-feira de Carnaval,<br />
em duas ações diferentes, a Polícia<br />
Militar prendeu 47 pessoas, usando fantasias<br />
que divulgavam o nazismo, nos bairros<br />
de Bento Ribeiro e Marechal Hermes, no<br />
Rio de Janeiro. No domingo foram presas<br />
36 pessoas com fantasias contendo desenhos<br />
de Hitler de perfil, águia nazista com<br />
suástica e cruzes gamadas. Na segunda-feira<br />
foram presas outras 11 pessoas, entre elas<br />
5 menores de idade usando coletes com o<br />
desenho de Hitler de frente segurando um<br />
fuzil AK-47 e uma enorme suástica nas costas.<br />
Em outro caso não relacionado, no<br />
mesmo dia, foram apreendidos diversos<br />
porretes e cassetetes com outros grupos. O<br />
caso está sendo acompanhado pela Federação<br />
Israelita do Estado do Rio de Janeiro e<br />
pelo Secretário de Segurança, Marcelo Zaturansky<br />
Itagiba. (FIERJ).
Relativismo moral<br />
e Holocausto<br />
Pilar Rahola*<br />
Dois fatos, próximos no tempo e espírito,<br />
devolveram à primeira linha a questão<br />
do Holocausto: por um lado, as imprecações<br />
filonazistas do presidente do Irã, obcecado<br />
por sua judeufobia; de outro, a condenação<br />
à prisão do grande teórico do negacionismo, o<br />
pretendido historiador David Irving. No meio, numa confusão<br />
de valores própria destes tempos de pensamento débil,<br />
a petição de Javier Solana para equiparar o delito de antisemitismo,<br />
tipificado em muitos países democráticos, com<br />
a islamofobia. E, na atmosfera deste relativismo moral que<br />
impregna o pensamento do politicamente correto europeu,<br />
a convicção de que o código penal protege a religião<br />
judaica sobre as outras. Assim se expressava, não faz muito,<br />
o presidente do Conselho Islâmico da França, e são<br />
muitos os jornalistas que o analisam nestes termos. Dessa<br />
perspectiva, o ignominioso concurso iraniano de caricaturas<br />
do Holocausto, seria equiparável ao escândalo das<br />
caricaturas dinamarquesas.<br />
<strong>Por</strong> que não é assim? E dito em linguagem mais combativa,<br />
por que significa uma autêntica banalidade imoral<br />
a petição de Javier Solana? De início porque o crime<br />
de anti-semitismo não protege uma religião, nem fornece<br />
blindagem para os golpes da liberdade de expressão, mas<br />
ataca o ódio atávico que conduziu ao intento do extermínio<br />
de todo um povo. A tipificação do delito de antisemitismo<br />
não protege o D-us judeu, porém a memória de<br />
seis milhões de vítimas, assassinadas por sua condição<br />
de identidade, com independência de suas crenças religiosas.<br />
Recordemos que em Auschwitz os judeus morriam<br />
mesmo se eram crentes ou se eram ateus, anciãos, jovens<br />
ou crianças, revolucionários ou conservadores, nascidos<br />
na Grécia ou fugidos dos progroms russos. Era igual. Eram<br />
judeus, e essa era a culpa que os condenava à morte.<br />
Específico e sem comparação, o ódio contra os judeus<br />
representou a única indústria de extermínio que o ser<br />
humano jamais conhecera. Quando Ahmadinejad escarnece<br />
do Holocausto e professa sua fé negacionista, não<br />
está atacando uma crença religiosa. Está glorificando uma<br />
brutal e planejada matança. O assassinato de dois terços<br />
da população judaica européia. Ou seja: glorifica o horror.<br />
<strong>Por</strong> isso o anti-semitismo é crime nos países que mantêm<br />
uma mínima decência com a memória. E por isso mesmo,<br />
as ditaduras indecentes fazem apologia do esquecimento,<br />
a zombaria ou a negação.<br />
Quando Javier Solana, em viagem a uma ditadura teocrática<br />
islâmica como é a Arábia Saudita, pede a equiparação<br />
da islamofobia — que é uma forma de racismo — com<br />
o anti-semitismo — que tem sido uma arma mortífera de<br />
enorme eficácia —, demonstra até que ponto tem misturado<br />
os valores. E demonstra também, como, sob a pressão<br />
violenta do Islã radical, estamos dispostos a fazer concessões<br />
morais. Faria melhor Solana em falar dos direitos humanos<br />
na Arábia Saudita. Longe disso, converte o fundamentalismo<br />
em interlocutor, cai na chantagem que nos estabelece<br />
o integrismo e, rebaixando o Holocausto a uma<br />
pura intolerância, banaliza o horror. Está, pois, dentro do<br />
politicamente correto. <strong>Com</strong>o tal, é um exemplo a mais da<br />
derrota moral das sociedades livres. Puro, lamentável e<br />
perigoso relativismo moral.<br />
* Pilar Rahola é jornalista, escritora e tem programa na<br />
televisão espanhola. Foi vice-prefeita de Barcelona,<br />
deputada no Parlamento Europeu e deputada no<br />
Parlamento espanhol. Publicado na Revista El Temps,<br />
de Barcelona. Tradução: Szyja Lorber<br />
Tila Dubrawsky*<br />
este mês destaca-se a<br />
festa alegre de Purim<br />
com sua heroína, a<br />
Rainha Esther. Tanto o<br />
dia de jejum que antecede<br />
a festa (Taanit Esther)<br />
quanto a história escrita em pergaminho<br />
(Meguilat Esther) testemunham<br />
o papel vital que esta<br />
mulher singular teve no desenrolar<br />
do milagre de Purim.<br />
O Talmud pergunta, onde encontramos<br />
menção da Rainha Esther<br />
na Torá? (Deuteronômio<br />
31:18) “Veanochi hasteir astir panai<br />
bayom hahu” – “Esconderei<br />
minha face naquele dia” - nos<br />
dias de Esther terá ocultamento<br />
da face Divina.<br />
A história de Purim aconteceu<br />
após a destruição do primeiro<br />
Templo Sagrado, quando a era da<br />
profecia estava se fechando. Quando<br />
as pessoas não mais viam milagres<br />
abertos. Era uma época de<br />
encobrimento da luz Divina. O<br />
nome de D-us nem sequer aparece<br />
uma vez na Meguilá e é possível a<br />
gente concluir que todo o drama<br />
e seu final feliz foram orquestrados<br />
por seres humanos e suas escolhas,<br />
coincidências extraordinárias<br />
e a sorte de ter uma rainha<br />
judia no palácio.<br />
Nossos sábios nos ensinam que<br />
a queda de uma folha da árvore é<br />
coreografada, o sopro do vento é<br />
controlado e o vôo de um mos-<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Purim<br />
e a força da mulher<br />
quito é traçado pelo Mestre do<br />
Universo. Nada é acidental ou<br />
coincidência na vida. Todas as<br />
atividades e acontecimentos são<br />
dirigidos pela própria mão de D-us.<br />
Quanto mais quando um poder<br />
mundial como Rei Achashverosh<br />
da época, aprova um decreto sugerido<br />
pelo seu primeiro ministro,<br />
Haman, que incitado por um ódio<br />
fervoroso contra Mordechai é determinado<br />
a exterminar todo o<br />
povo judeu em um dia só.<br />
O desafio está em nós conseguirmos<br />
revelar a intenção e a<br />
mão Divina em cada evento e em<br />
cada momento da nossa vida<br />
mesmo quando não vemos mares<br />
se abrindo, ou arbustos queimando<br />
ou pragas atingindo os<br />
nossos inimigos.<br />
Meguilá - o nome do rolo de<br />
Purim vem da palavra gilui, revelação,<br />
pois foi a nossa heroína Esther<br />
que conseguiu desvendar a<br />
máscara Divina. Ela compreendeu<br />
que D-us a colocara em posição<br />
de proeminência e influência social<br />
para poder servir ao seu povo.<br />
No momento mais crucial, Esther<br />
não vacilou. Ela arriscou a sua<br />
própria vida, pois a continuidade<br />
do seu povo era mais preciosa,<br />
acima de tudo para ela.<br />
A Rainha Esther compreendeu<br />
que o decreto de Haman não havia<br />
começado aqui no plano físico<br />
e, sim, que o Mestre do mundo<br />
em cujo controle está o coração<br />
de todos os reis e ministros<br />
17<br />
estava querendo impulsionar o<br />
povo judeu a um nível espiritualmente<br />
superior. Então, primeiramente,<br />
teriam de estreitar os laços<br />
com o Rei dos Reis, O Todo<br />
Poderoso. Ela concordou em<br />
enfrentar o rei, com a condição<br />
que o povo se unisse e voltasse a<br />
D-us em oração e jejum tornando<br />
se desta forma merecedores da<br />
salvação Divina. Foi a Rainha Esther<br />
que conduziu o povo a uma<br />
notável elevação espiritual e a<br />
conseqüente redenção.<br />
Hakorei et hameguila lemafreia<br />
lo yotsei. (Shulchan Aruch) Se ao<br />
ler a Meguilá de Esther nós pensarmos<br />
que estas milagrosas coincidências<br />
só fazem parte do nosso<br />
passado e não dizem nada a<br />
respeito da nossa vida atual - não<br />
cumprimos com o nosso dever. A<br />
essência da Meguilá de Esther é<br />
aprender a olhar cada evento do<br />
nosso cotidiano com cuidadosa<br />
consideração e constantemente<br />
procurar a intenção divina em<br />
todos os momentos.<br />
Igual a heroína de Purim, nós<br />
mulheres judias temos a força de<br />
infundir o nosso lar, a nossa comunidade<br />
e o nosso mundo com<br />
a luz das nossas mitsvot e trazer<br />
esperança, salvação e redenção.<br />
Faço votos que assim como em<br />
Purim houve luz, alegria, regozijo<br />
e honra para todos os judeus, que<br />
assim seja para conosco, em breve,<br />
com a vinda de Mashiach.<br />
* Tila Dubrawsky é esposa do Rabino Yossef Dubrawsky, diretor do Beit Chabad de Curitiba, mãe, avó,<br />
coordenadora de programas educacionais e culturais, orientadora de pureza e harmonia familiar para<br />
noivas e mulheres de todas as idades.
18<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
“JEST, The Jewish, Earnest<br />
Way to Stop Tobacco<br />
Smoking” é o título do livro<br />
escrito por Abraham Bohadana<br />
com ilustrações de<br />
David Szjanbrum Bohadana.<br />
“Usando um pouco de humor,<br />
o livro explora de que<br />
modo princípios judaicos<br />
tradicionais podem ajudar fumantes a parar<br />
de fumar e evitar recaídas. Em resumo, ‘JEST’<br />
(que significa “Piada”, em inglês) conta as aventuras<br />
de um casal de judeus não-religiosos lutando<br />
para deixar o cigarro. Aos poucos, uma<br />
abordagem não-moralizante aparece, suscetível<br />
de agradar fumantes em geral, religiosos<br />
ou não.” O livro é vendido apenas pela internet<br />
http://jestonline.com.<br />
Para quem não se lembra, a família Bohadana<br />
morou 2 anos em Curitiba, e hoje reside em<br />
Nancy, França. Abraham trabalha hoje no Hospital<br />
da Universidade de Nancy e é Diretor de<br />
Pesquisa no Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa<br />
Médica (INSERM em francês). Segundo<br />
ele: “Moramos 2 anos em Curitiba, foi curto,<br />
mas marcante a ponto de passarmos uma parte<br />
de nossas férias aí”.<br />
A Escola Israelita Brasileira “Salomão Guelmann”<br />
começa no dia 13/3 a vender produtos<br />
para a ocasião. A ‘lojinha” estará funcionando<br />
na entrada do CIP, das 14 às 18h de segunda<br />
a sexta-feira até o dia 11/4.<br />
A Wizo vai inaugurar seu painel “Memória Wizo”<br />
dia 19/3 às 16h no CIP (Travessa Agostinho<br />
Macedo, 248) e convida toda a comunidade<br />
párea prestigiar o evento.<br />
O Instituto Cultural Judaico-Brasileiro “Bernardo<br />
Schulman” está convidando a comunidade<br />
para a inauguração de sua nova sede,<br />
Rua Cruz Machado, 126, local da Sinagoga<br />
Francisco Frischmann. Será dia 26/3 às 16h30.<br />
Nos dias 4 e 5 de abril, às 20h30, no miniauditório<br />
do Teatro Guaira, o Grupo Apoio reapresentará<br />
a peça teatral humorística “Na era<br />
da válvula”, que foi sucesso na temporada<br />
passada. Os espetáculos serão em benefício<br />
das entidades filantrópicas Wizo e Pioneiras.<br />
O ingresso custará R$10,00 e uma lata de leite<br />
em pó por casal.<br />
Para conscientizar, esclarecer e debater o<br />
Terrorismo Internacional e a Importação<br />
do Anti-Semitismo para a América Latina,<br />
a B’nai B’rith de São Paulo, promove duas<br />
palestras com convidados internacionais.<br />
Que tal seguirmos o exemplo?<br />
15 de março, às 20h30 - ”Internacionalização<br />
do terrorismo” - Palestrante: Ely<br />
Karmon - Ph.D em Ciências Políticas pela<br />
Universidade de Haifa, Pesquisador Senior<br />
do Instituto contra Terrorismo de<br />
Israel, Autor do livro: “Coalizões entre<br />
Organizações Terroristas: Revolucionários,<br />
Nacionalistas e Islâmicos” (2005).<br />
6 de abril, às 20h3: ”Importação do antisemitismo”<br />
- Palestrante: Fábio Landa -<br />
Doutor em psicanálise pela Université Paris<br />
VII-Jussieu - Pós-doutor por Paris IV-<br />
Sorbonne - Pós-doutor pela Ecole de Hautes<br />
Etudes en Sciences Sociales-Paris. Local:<br />
Sede da B´nai B´rith do Brasil - Rua<br />
Caçapava, 105. São Paulo.<br />
<strong>Por</strong> conta da forte procura de visitantes,<br />
o governo de Israel anunciou que<br />
abrirá o seu primeiro escritório de Turismo<br />
da América Latina no Brasil. O anúncio<br />
é uma resposta à alta demanda de<br />
turistas brasileiros em peregrinação à<br />
Terra Santa. Somente no ano passado,<br />
19.764 pessoas visitaram o país, o que<br />
representou um aumento de 73% se comparado<br />
a 2004.<br />
Ainda não foi definido um local para<br />
sediar o escritório. Segundo o governo<br />
israelense, duas cidades apontadas foram<br />
São Paulo e Rio de Janeiro, esta<br />
com maiores possibilidades de receber<br />
as instalações. A abertura de um escritório<br />
de representação no Brasil coincidirá<br />
com a de outro em Atlanta, nos<br />
Estados Unidos.<br />
Marcus Moraes, jornalista, correspondente<br />
da Jewish Telegraphic Agency<br />
(JTA) no Brasil e colaborador do ALEF,<br />
em janeiro representou o Brasil no<br />
Young Jewish Leadership Diplomatic Seminar<br />
(Seminário Diplomático de Jovens<br />
Lideranças <strong>Judaica</strong>s), junto com<br />
Abrahão Kano (Rio) e Fabio Szperling<br />
(São Paulo). Sediado no luxuoso novo<br />
prédio do Ministério de Relações Exteriores<br />
de Israel (Mizrad HaChutz), o<br />
evento foi realizado em Jerusalém. Ao<br />
longo de palestras, conferências,<br />
workshops, o grupo de 25 jovens ativistas<br />
judeus da América Latina, Estados<br />
Unidos e Europa puderam trocar experiências<br />
vividas em nossas comunidades,<br />
além de aprender e debater exaustivamente<br />
diversas questões judaicas<br />
com diplomatas, políticos, historiadores,<br />
sociólogos, antropólogos etc.<br />
Duas pitadas bem brasileiras rechearam<br />
o seminário: o jornalista Marcos Losekann,<br />
da TV Globo, e o porta-voz do<br />
Departamento de Informação israelense<br />
Ilan Sztulman. Losekann apresentou sua<br />
visão com correspondente latino-americano<br />
não-judeu em Jerusalém, enaltecendo<br />
a ampla liberdade profissional que<br />
goza no Estado Judeu, cuja prosperidade<br />
comparou à da Europa. Já Sztulman<br />
palestrou sobre a “guerra” travada entre<br />
Israel e a imprensa tendenciosa. Diversos<br />
outros temas foram abordados<br />
pelos demais conferencistas, incluindo<br />
o aumento do anti-semitismo em todo<br />
o mundo e a atual situação política no<br />
Oriente Médio.<br />
Apesar do clima conturbado com o afastamento<br />
do primeiro-ministro Ariel Sharon<br />
e a liderança interina de Ehud Olmert,<br />
as eleições palestinas e a vitória<br />
do Hamas, a expectativa das novas eleições<br />
israelenses e o atentado terrorista<br />
em Tel-Aviv, a agenda ainda teve espaço<br />
para a posse da nova chanceler Tzipi<br />
Livni, visitar as instalações de uma fábrica<br />
israelense de high-tech, entrevistar<br />
militares que patrulham a fronteira<br />
de Israel com o Líbano, conhecer alguns<br />
locais sagrados cristãos (Igreja do Santo<br />
Sepulcro, Via Dolorosa e Sinagoga de<br />
Caphernaum), dialogar com um diplomata<br />
israelense druso, bem como o novo<br />
prédio do Yad Vashem.<br />
De 13 de março a 13 de abril, a Unicenp<br />
realiza a Expo Einstein: Nem tudo é relativo.<br />
O evento tem o apoio do Instituto<br />
Cultural Judaico-Brasileiro “Bernardo<br />
Schulman” e estará instalado na Sala de<br />
Eventos do Centro Universitário Positivo,<br />
na Rua Professor Pedro Viriato Parigot<br />
de Souza, 5.300, com entrada franca.<br />
Funcionará de segunda a sexta-feira,<br />
das 10 ás 18h e aos sábados, domingos<br />
e feriados das 11 ás 13h.<br />
Colabore com notas para a coluna. Fone/fax 0**41 3018-8018 ou e-mail: visaojudaica@visaojudaica.com.br<br />
Prof. Israel Blajberg, veterano Rubens<br />
Andrade (Presidente da Associação<br />
dos Ex-<strong>Com</strong>batentes), tenente Luise<br />
Betty Burdman e o veterano Sérgio<br />
Pereira (herói de Monte Castelo<br />
condecorado com a Bronze Star)<br />
Membros da comunidade israelita foram<br />
agraciados com a Medalha Jubileu<br />
de Ouro da Vitória na Segunda<br />
Guerra Mundial. A tenente dentista<br />
dra. Luise Betty Burdman, da Odontoclinica<br />
Central do Exército, e o professor<br />
Israel Blajberg, do Instituto<br />
de Geografia e Historia Militar do<br />
Brasil, foram agraciados com a Medalha<br />
Jubileu de Ouro da Associação<br />
dos Ex-<strong>Com</strong>batentes do Brasil, durante<br />
solenidade realizada em 23 de<br />
fevereiro. A tenente Luise Betty<br />
Burdman foi agraciada em reconhecimento<br />
aos bons serviços prestados<br />
no atendimento aos veteranos e seus<br />
familiares na Odontoclinica Central<br />
do Exercito, e o professor Israel Blajberg<br />
em razão do trabalho desenvolvido<br />
na preservação da memória<br />
dos Ex-combatentes.<br />
Esteve presente à solenidade o Veterano<br />
da Marinha do Brasil Melquisedec<br />
Affonso de Carvalho, Diretor<br />
Cultural da Associação, o qual integrou<br />
inúmeros comboios no Atlântico<br />
Sul durante o conflito, tendo sido<br />
um dos homenageados em 2005 na<br />
solenidade Heróis Brasileiros Judeus<br />
da 2ª Guerra Mundial, no Grande Templo<br />
Israelita.<br />
Em 14 de fevereiro, mais de<br />
30 jovens de diferentes cidades<br />
brasileiras embarcaram<br />
para Israel, a fim de participar<br />
do Programa das Classes<br />
Brasileiras de Ayanot, mantido<br />
por Na’amat Pioneiras-<br />
Brasil. Os planos eram muitos,<br />
e diziam respeito a cres-<br />
O grupo de brasileiros que embarcou este ano cimento pessoal, a aprofun-<br />
para as classes de Ayanot<br />
damento de estudos, aprendizado<br />
de novas línguas, aumento<br />
do círculo de amizades, possibilidade de uma maior aproximação<br />
com sua cultura e tradição, entre outros. Todos os alunos foram unânimes<br />
em afirmar que este seria um ano de muito aprendizado, descobertas e<br />
crescimento. Mais informações em www.naamat.org.br/
grupo radical islâmico<br />
Hamas, que tem praticado<br />
atentados terroristas<br />
em Israel, assumiu como<br />
partido majoritário no Parlamento<br />
palestino e rapidamente rejeitou<br />
o pedido do presidente Mahmoud<br />
Abbas para procurar esforços na pacificação<br />
com o Israel.<br />
A posse no parlamento, eleito em<br />
janeiro, garantiu ao Hamas a formação<br />
de um governo que está em rota de<br />
colisão potencial com Abbas e delineia<br />
um boicote das potências mundiais a<br />
menos que renuncie à violência e seu<br />
objetivo de destruir Israel.<br />
Israel está considerando restrições<br />
mais duras aos palestinos para aplicar<br />
pressão no Hamas. Fontes israelenses<br />
confiáveis disseram que se o novo governo<br />
não reconhecer Israel, parar a<br />
violência e aceitar os acordos de paz,<br />
seria visto como uma “entidade hostil”.<br />
Falando na abertura da sessão do<br />
Parlamento, Abbas disse que o novo<br />
governo deve reconhecer os tratados de<br />
paz já assinados com Israel e procurar<br />
ele próprio por um status de conversações,<br />
mas ele não fixou condições para<br />
formar um gabinete.<br />
“A presidência e o governo continuarão<br />
respeitando nosso compromisso às<br />
Para Eid, a crise interna do Fatah<br />
foi uma das razões para a vitória do<br />
grupo extremista nas eleições palestinas.<br />
Mas a principal foi que, nos últimos<br />
anos, nós, palestinos, temos ouvido<br />
da Autoridade Nacional Palestina<br />
tantas promessas, inclusive de combate<br />
a corrupção, e nada aconteceu.<br />
Os palestinos ficaram cheios dessa situação<br />
- explicou.<br />
Segundo o diretor do órgão, muitos<br />
cidadãos de “mente aberta”, democráticos,<br />
votaram no Hamas porque acreditaram<br />
que o movimento é o único capaz<br />
de realizar mudanças. Entretanto,<br />
o povo palestino ainda não teria entendido<br />
que levar o Hamas ao poder “é um<br />
negociações como uma escolha política<br />
estratégica”, pragmática, disse Abbas.<br />
“Nós fomos eleitos numa agenda<br />
política diferente”, disse para o líder<br />
do Hamas, Ismail Haniyeh, que se tornou<br />
primeiro-ministro numa sessão<br />
transmitida por TV unindo por vídeo a<br />
Margem Ocidental e a Faixa de Gaza,<br />
suspendendo as orações muçulmanas.<br />
O Hamas ganhou o controle do Conselho<br />
Legislativo palestino nas eleições<br />
parlamentares de 25 de janeiro batendo<br />
a longa dominação do Fatah de Abbas<br />
que foi amplamente acusado de corrupção<br />
e malversação. O Hamas obteve 74<br />
cadeiras no parlamento de 132 membros.<br />
Representantes do Hamas disseram<br />
que o grupo apresentará logo um projeto<br />
ao Parlamento, incluindo uma proposta<br />
para uma trégua de longo prazo com<br />
Israel se este se retirar das terras conquistadas<br />
na guerra de 1967. Israel,<br />
entretanto já rejeitou essa proposta porque<br />
espera primeiro o reconhecimento e<br />
a cessão da violência e dos atentados.<br />
O grupo tem repetidamente dito<br />
que não rescindirá sua chamada para<br />
a destruição de Israel ou reconhecerá<br />
o estado judeu. O Hamas, que aderiu<br />
em grande parte a uma trégua durante<br />
os últimos anos recusou abandonar<br />
suas armas.<br />
desastre”. Para exemplificar, Eid citou<br />
uma história pessoal:<br />
- Um amigo israelense que conheci<br />
há pouco, disse-me estar muito satisfeito<br />
com o resultado das eleições. Ele<br />
disse que vamos levar o Hamas e eles,<br />
israelenses, vão levar o Likud para um<br />
novo conflito sangrento e, daqui a uns<br />
cinco anos, estaremos mais aptos a nos<br />
comprometer e procurar uma solução<br />
para o Oriente Médio. E é isso mesmo.<br />
Eid afirmou ainda ter certeza que,<br />
no próximo mês, os membros da segurança<br />
palestina vão lutar pelos seus<br />
salários. “A ANP precisa, todo mês, de<br />
40 milhões de dólares. Quem vai pagar<br />
por isso se de acordo com as leis da<br />
Europa ou dos Estados Unidos, eles não<br />
podem apoiar o Hamas? De onde vão<br />
tirar o dinheiro?”, indagou.<br />
Eid apontou o povo palestino como<br />
único culpado dessa situação. Para ele,<br />
a falta de estratégia da população é<br />
uma das razões para o “caos”.<br />
“Temos que entender que as pessoas<br />
estão insatisfeitas. <strong>Com</strong> certeza,<br />
a sociedade civil, os acadêmicos.<br />
Mas parece que nós (sociedade civil e<br />
acadêmicos) somos considerados a<br />
Trégua é trapaça<br />
O Exército descobriu um lançador<br />
de morteiro de 60 milímetros com oito<br />
mísseis que apontavam para Giló, bairro<br />
de Jerusalém, segundo fontes que<br />
citaram o dretor do Shin Bet (Agência<br />
de Segurança Interna Israelense) Yuval<br />
Diskin, dia 19 de fevereiro.<br />
Diskin, que falou ao <strong>Com</strong>itê de Defesa<br />
e Relações Exteriores da Knesset<br />
disse aos parlamentares que é a primeira<br />
vez que se descobre uma arma<br />
balística apontada para Jerusalém. O<br />
morteiro havia sido roubado de uma<br />
base do Exército israelense. O diretor<br />
do Shin Bet disse que a chamada trégua<br />
(hudna) que oferece o Hamas por<br />
10 anos, é uma trapaça ao dizer que<br />
apesar de vários indícios de moderação,<br />
o Hamas é uma ameaça estratégica<br />
para Israel.<br />
O objetivo da organização terrorista,<br />
enfatizou Diskin, é a total destruição<br />
de Israel. Se permitirmos que o<br />
estado do Hamas se levante, predigo<br />
que será uma atração para as organizações<br />
de Jihad internacionais.<br />
O Conselho das <strong>Com</strong>unidades da<br />
Judéia e Samária disse que os comentários<br />
do diretor do Shin Bet reforçam<br />
a certeza de que o estabelecimento de<br />
um estado palestino é uma verdadeira<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Hamas assume o governo, mas<br />
não quer abandonar o terrorismo<br />
O diretor do Grupo Palestino<br />
de Monitoramento dos Direitos<br />
Humanos, Bassem Eid, entrevistado<br />
pelo Globo Online, disse que um<br />
“terremoto político” atingiu os<br />
territórios palestinos, referindo-se<br />
à vitória do Hamas nas eleições<br />
promovidas pela Autoridade<br />
Palestina. “Acho que o próprio<br />
Hamas ficou chocado e surpreso de<br />
como eles conseguiram um número<br />
tão grande de votos”, disse.<br />
Bassem Eid: vitória do Hamas é<br />
como um ‘terremoto político’<br />
minoria dos palestinos. Pensei que<br />
fôssemos a maioria, mas eu acho que<br />
estava errado”.<br />
Bassem Eid ressaltou que vai levar<br />
tempo até que a população palestina<br />
perceba o desastre que trouxe para si.<br />
Em algumas semanas, um novo cenário<br />
deve surgir, com a transferência de<br />
ameaça para a existência de Israel.<br />
Enquanto os serviços de segurança<br />
informavam que há ao menos 73<br />
alertas de possíveis ataques terroristas<br />
e que a Jihad Islâmica se ocupa<br />
pouco a pouco do vazio deixado pelo<br />
Hamas desde sua assunção ao parlamento<br />
palestino.<br />
O Exército continua com operações<br />
de grande escala na área de Schem para<br />
encontrar terroristas da Jihad Islâmica.<br />
Um de seus comandantes foi morto<br />
num fogo cruzado recentemente. (El<br />
Reloj.com e Jerusalem Post).<br />
poder do Fatah para o Hamas. Para Eid,<br />
não há a menor possibilidade de ambos<br />
os movimentos trabalharem juntos.<br />
“Eles são inimigos e você nunca trabalha<br />
com seu inimigo. Hamas e Fatah<br />
são dois maiores inimigos do Oriente<br />
Médio. Nunca veria os dois cooperando<br />
um com o outro”, completou.<br />
19<br />
Atentado com suicida-bomba em um ônibus de israel, reivindicado pelo Hamas
20<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
...Temperado com sal puro e santo<br />
- Êxodo 30:35<br />
A história e a trajetória<br />
do sal antecedem a<br />
história do homem<br />
Breno Lerner*<br />
Evidências históricas e as observações<br />
de animais até hoje mostram<br />
que os animais pré-históricos já procuravam<br />
sal mineral para lamber, mantendo<br />
assim o equilíbrio sódio x<br />
potássio, fundamental para a vida.<br />
É razoavelmente provável que o homem,<br />
desprovido de instintos, aprendeu<br />
a consumir sal com os animais.<br />
Fato é que o sal é o mais antigo<br />
tempero e preservante que o homem<br />
conhece em sua história.<br />
No ano 2700 a.C., portanto 4700<br />
anos atrás, o primeiro tratado de farmacologia<br />
conhecido, foi escrito por<br />
Tzao-Kan-Mu, na China, e já descrevia<br />
40 tipos diferentes de sal e pelo<br />
menos dois diferentes métodos de<br />
extração e refino do sal.<br />
<strong>Por</strong> sua importância para a vida<br />
humana, o sal é objeto de diversas<br />
histórias, fábulas, contos e lendas.<br />
Seus significados e simbolismos são<br />
incontáveis em religiões e mitos de<br />
todos os povos do planeta.<br />
O homem precisa repor entre 5 e<br />
10g de sal todo dia, para manter<br />
seu equilíbrio fisiológico. Isto representa<br />
1,8 a 3,6 kg por ano, ou<br />
seja, a humanidade consome, ao<br />
menos, entre 11 e 22 milhões de<br />
toneladas de sal ao ano.<br />
Obviamente este consumo todo<br />
não é unicamente<br />
do sal in natura.<br />
Obtemos reposição<br />
de sal nos alimentos<br />
que ingerimos,<br />
a carne, por<br />
exemplo, é uma<br />
boa fonte de sal.<br />
<strong>Por</strong> outro lado falamos<br />
da reposição<br />
mínima necessária,<br />
o consumo total<br />
é bastante superior,<br />
seja pelo<br />
uso como tempero,<br />
seja com ingrediente<br />
e uso industrial.<br />
A produção<br />
mundial é es-<br />
timada em 225 milhões de toneladas<br />
métricas. Apenas nos Estados Unidos,<br />
15 milhões de toneladas de sal<br />
são utilizadas anualmente para degelo<br />
e controle de neve e rodovias.<br />
O sal foi elemento importante na<br />
economia mundial, prova disto são<br />
a via Salaria, entre Roma e Ascolli, a<br />
route du Sel na Provence, a via Salarium<br />
na Turquia, a ruta do Sal no país<br />
Basco, a cidade de As-Salt (depois<br />
conhecida como Saltus) na Jordânia,<br />
Salzburg e suas quatro minas de sal<br />
na Áustria, a cidade de Tulz (sal em<br />
turco) na fronteira da Eslovênia com<br />
a Croácia, as tristemente famosas minas<br />
de sal da Sibéria, todas nominadas<br />
por sua importância no fabrico<br />
e comércio do sal. Um registro histórico<br />
da route du Sel aponta que,<br />
apenas no ano de 1776, saíram de<br />
Nice 35.000 mulas carregadas de sal,<br />
para outras cidades.<br />
Na Grécia, a troca de sal por escravos,<br />
gerou a frase “não vale o sal<br />
que come...”. Os romanos tinham especial<br />
preocupação com suas minas<br />
de sal e algumas delas estão em atividade<br />
até hoje, como por exemplo,<br />
a mina de Wieliczka na Polônia, com<br />
seus 300 km de túneis a 150 m abaixo<br />
da terra e sua surpreendente catedral<br />
de sal, um dos pontos que mais<br />
atrai turistas no país. Herodes manteve<br />
o monopólio do sal retirado das<br />
minas do Mar Morto e construiu o<br />
porto de Cesárea para, principalmente<br />
exportar o sal para ou outros domínios<br />
romanos.<br />
A expressão Salarium, que todo<br />
mundo atribui ao pagamento dos legionários<br />
em sal, hoje é questionada<br />
por alguns historiadores, que preferem<br />
entender que vem do entendimento<br />
que este pagamento era para<br />
repor as necessidades básicas do<br />
soldado, principalmente o sal.<br />
Os egípcios foram o primeiro<br />
povo a registrar uso culinário e como<br />
conservante do sal. Pinturas de 1450<br />
a.C registram o fabrico de sal. Receitas<br />
da época já levavam sal e seu<br />
uso em conservas e panificação, conhecido.<br />
Era utilizado também na<br />
mumificação. Uma receita antiqüíssima<br />
de dentifrício misturava berinjela<br />
tostada em pó e sal.<br />
Economicamente, como vimos<br />
acima, o sal movimentou legiões e<br />
povos para que povos tivessem meios<br />
de produção e comércio do sal.<br />
Na Etiópia, o sal foi usado como<br />
padrão monetário por quase mil anos,<br />
até 1935. Uma cotação do século XVI<br />
da Guela ou Hew – barra de sal usada<br />
como padrão – valia 16 kg de trigo.<br />
Na Bíblia encontramos mais de<br />
trinta citações ao sal, a mais famosa<br />
e conhecida, em Gen 19:26, onde a<br />
mulher de Lot transforma-se em uma<br />
coluna de sal.<br />
Homero chamou-o de divino, Platão<br />
de substância dos deuses.<br />
Shakespeare menciona o sal 37 vezes<br />
em suas obras. Suas características<br />
divinas são refletidas nas diversas<br />
superstições sobre azar ao derramar-se<br />
sal, não passar o saleiro de<br />
mão em mão, etc<br />
Curiosamente, Leonardo da Vinci<br />
coloca um saleiro derramado na<br />
frente de Judas, em sua Última Ceia.<br />
Entre os judeus, derrubar sal na mesa<br />
para nele passar a Challá, é uma forma de<br />
lembrar da destruição do templo.<br />
Cervantes, pela boca de Dom Quixote,<br />
dizia que um homem tem que<br />
comer uma pitada de sal com seus<br />
amigos para depois conhecê-los.<br />
Cícero recomendava não confiar<br />
em um homem a não ser que já tivesse<br />
partilhado sal com ele.<br />
Pitágoras afirmava que o sal era<br />
filho da pureza de seus pais, o sol<br />
e o mar.<br />
Archestratus, o grande cozinheiro<br />
grego ensinava que a melhor<br />
forma de contentar um homem<br />
faminto era colocar em sua frente<br />
um bom pedaço de assado de carne,<br />
temperada unicamente com sal,<br />
qualquer outra comida ou tempero<br />
seriam supérfluos.<br />
A adição de iodo ao sal praticamente<br />
eliminou da sociedade moderna<br />
(ou pelo menos dos países que<br />
adotaram esta medida) as síndromes<br />
decorrentes de sua falta, entre elas<br />
o bócio (que era endêmico, por<br />
exemplo, no Brasil) e tendência a<br />
retardo mental.<br />
Apresentada esta rápida história,<br />
uma receita com sal, muito sal:<br />
Pargo no sal grosso<br />
1 pargo com 2 a 3 quilos (pode<br />
ser substituído por enchova ou<br />
vermelho)<br />
2 limões cortados em fatias finíssimas<br />
3 a 4 quilos de sal grosso<br />
Um punhado de ervas para peixe<br />
(coentro, salsinha, endro, tomilho)<br />
bem batidas<br />
Claras de 2 ovos<br />
Peça ao peixeiro para limpar e<br />
destripar o peixe, abrindo-o também<br />
pelas costas. Recheie o peixe com<br />
as rodelas de limão. Numa assadeira<br />
faça um berço de sal grosso de 2 cm<br />
de altura. Coloque o peixe, verticalmente<br />
(“de pé”) sobre o sal. Misture<br />
o restante do sal com as claras e as<br />
ervas. Cubra o peixe, construindo<br />
paredes de sal ao seu redor. Não deixe<br />
nem um pedacinho descoberto.<br />
Asse em forno alto por 40 minutos.<br />
Leve a assadeira à mesa. <strong>Com</strong> um martelinho<br />
quebre a crosta de sal que sairá<br />
com a pele do peixe. Sirva os files ou<br />
pedaços, com azeites aromatizados<br />
que você pode fazer em casa.<br />
Coloque azeite em garrafas bonitas<br />
e aromatize-os com:<br />
1- Tomilho e endro (um amarrado<br />
com dois ou três ramos de<br />
cada).<br />
2- 2 colheres de sopa de alho torrado<br />
bem picado (pipoca de alho).<br />
3- 2 pimentas dedo de moça ou<br />
de cheiro (faça uns furinhos nas<br />
pimentas).<br />
Deixe as garrafas em local que receba<br />
sol por dois dias, depois guarde-as<br />
num armário por mais uma semana<br />
antes de servir.<br />
Para acompanhar, grossas fatias de<br />
tomate (o Momotaro é excelente para<br />
assar), berinjela (pré-grelhadas) e<br />
cebola roxa (faça uma pilha começando<br />
pela berinjela grelhada, depois<br />
tomate e a cebola por cima) assadas<br />
com bastante azeite e manjericão.<br />
Um vinho branco do Loire vem<br />
bem a calhar. Se não, um dos excelentes<br />
espumantes secos que o Brasil<br />
já anda fabricando.<br />
* Breno Lerner é editor e gourmand, especializado em culinária judaica. Escreve para revistas, sites e jornais. Dá regularmente cursos e workshops. Tem<br />
três livros publicados, dois deles sobre culinária judaica.
ilme que glorifica o terrorismo<br />
fica sem a estatueta do Oscar<br />
ontrariando a opinião<br />
de toda a mídia<br />
simpatizante e a<br />
crítica internacional<br />
(a maioria da esquerda),<br />
que previa a conquista da estatueta<br />
de melhor filme estrangeiro<br />
para Paradise Now, o Oscar 2006,<br />
que aconteceu no domingo 5/3 premiou,<br />
na categoria, um filme sulafricano,<br />
“Tsotsi”, derrubando assim<br />
as pretensões de abrandar a<br />
imagem do terrorismo e convertêlo<br />
num símbolo de luta legítima<br />
(!?). Um grupo de israelenses que<br />
teve filhos mortos em atentados<br />
a bomba praticados por palestinos<br />
havia apelado à Academia de<br />
Artes e Ciências Cinematográficas<br />
de Hollywood para que desclassificasse<br />
da disputa de filme<br />
estrangeiro o longa palestino Paradise<br />
Now, que aborda as motivações<br />
dos atentados a partir dos<br />
personagens de dois terroristas.<br />
O pedido à Academia de Hollywood<br />
baseou-se no fato de o<br />
filme explorar os ataques terroristas<br />
contra Israel.<br />
Em entrevista coletiva, Yossi<br />
Mendelvich, Yossi Zur e Ron Ker-<br />
32 mil assinaturas pediram desqualificação da<br />
película palestina Paradise Now<br />
Desabafo de um pai<br />
Após ganhar o prêmio Globo de Ouro, veio o<br />
desabafo de Yossi Tzur, pai de um filho assassinado<br />
num atentado num ônibus, diante de um filme<br />
que glorifica o terrorismo.<br />
O filme Paradise Now (O Paraíso Agora) mostra<br />
o caminho que dois jovens palestinos tomam<br />
para se tornar suicidas-bomba, até o momento<br />
que eles sobem a bordo um ônibus cheio de crianças,<br />
em Tel Aviv.<br />
O filme parece profissional. Foi feito com grande<br />
atenção aos detalhes, mas é extremamente<br />
perigoso — não só para o Oriente Médio, mas<br />
para o mundo inteiro.<br />
Meu filho Asaf, de quase 17 anos de idade, era<br />
um estudante da escola secundária que freqüentava<br />
o décimo primeiro grau e amava informática.<br />
Um dia após a escola ele embarcou num ônibus<br />
para voltar para casa, como sempre fazia. No caminho,<br />
um homem-bomba se explodiu no ônibus.<br />
Foram mortas 17 pessoas, 9 delas escolares<br />
com 18 anos de idade ou menos. Meu filho Asaf foi<br />
morto na explosão.<br />
Eu assisti ao filme Paradise Now tentando entender<br />
o que estava tentando dizer, que mensagem<br />
trazia?<br />
Que o assassino é humano? Ele não é.<br />
Que ele tem dúvidas? Ele não tem nenhuma.<br />
Afinal de contas, ele está disposto a se matar junto<br />
com as suas vítimas.<br />
Que os israelenses são culpados por esta matança<br />
brutal? São os israelenses culpados pelas<br />
Torres Gêmeas em Nova York, o night club da Indonésia,<br />
o hotel no Egito, a loja na Turquia, o restaurante<br />
no Marrocos ou em Tunis, o hotel na Jor-<br />
man, três dos pais de vítimas, reuniram<br />
32 mil assinaturas numa petição<br />
on-line contrária à indicação<br />
do filme. Paradise Now, cujos protagonistas<br />
são habitantes da<br />
Cisjordânia recrutados para um<br />
atentado suicida em Tel Aviv, é o<br />
primeiro longa palestino a ser indicado<br />
ao Oscar (até recentemente,<br />
a Academia não considerava a<br />
Palestina um país; em 2003, a inscrição<br />
de Intervenção divina, de<br />
Elia Suleiman, na categoria filme<br />
estrangeiro, foi recusada exclusivamente<br />
por causa disso).<br />
Hany Abu-Assad, o diretor de<br />
Paradise Now, é um israelense de<br />
origem árabe (nascido em 1961,<br />
em Nazaré), bem como os atores<br />
principais, Ali Suliman e Kais Nashef.<br />
As filmagens ocorreram nos<br />
territórios da Autoridade Palestina,<br />
com equipe técnica de lá. O<br />
produtor é um judeu israelense e<br />
a produção foi basicamente bancada<br />
por recursos europeus.<br />
Yossi Zur, cujo filho adolescente<br />
Asaf foi morto na explosão de<br />
um ônibus, acusou o filme de apresentar<br />
de forma favorável os métodos<br />
violentos adotados por gru-<br />
pos radicais palestinos para chamar<br />
atenção para sua causa.<br />
Nunca na história recente do<br />
Oscar uma indicação já concedida<br />
foi revogada a pedido de alguém.<br />
Isso aconteceu apenas nos primeiros<br />
anos da premiação, geralmente<br />
a pedido do próprio estúdio. Um<br />
precedente em 1993 ocorreu por<br />
violação de regras.<br />
As maiores cadeias exibidoras<br />
de Israel, inicialmente, evitaram<br />
mostrar Paradise Now, por medo<br />
de sofrerem boicotes na porta dos<br />
cinemas ou simplesmente de perderem<br />
dinheiro. O filme, apesar<br />
da controvérsia, era o favorito<br />
para o Oscar da categoria, ou pelo<br />
menos assim se dizia.<br />
O israelense Yossi Zur, cujo<br />
filho adolescente morreu na explosão<br />
de um ônibus, acusa o filme<br />
de fazer um retrato simpático<br />
da tática usada por alguns palestinos<br />
há mais de cinco anos. “O<br />
que eles chamam de Paradise Now,<br />
nós chamamos de 'inferno agora',<br />
todos os dias”, declarou. “É a<br />
missão de um mundo livre não premiar<br />
filmes como esses.”<br />
dânia, as estações subterrâneas em Londres, e a<br />
de trem na Espanha? E a lista segue sem parar.<br />
O que faz este filme merecedor de um prêmio?<br />
Será que as pessoas que premiaram este<br />
filme com o Globo de Ouro, fariam o mesmo se o<br />
filme fosse sobre jovens de Arábia Saudita que<br />
aprendem como pilotar aviões nos EUA e então<br />
usar rituais islâmicos para se prepararem para<br />
sua missão sagrada, e então colidir seus aviões<br />
com as Torres Gêmeas na cidade de Nova York?<br />
Este filme ganharia um prêmio então?<br />
Este filme tenta dizer que o assassinato suicida<br />
é legítimo quando você sente que esgotou todos<br />
os outros meios. Um assassino suicida sobe<br />
a bordo um ônibus e mata 15 ou 20 pessoas inocentes,<br />
então o que dizer de um assassino suicida<br />
que entra numa cidade com uma bomba biológica<br />
e mata 10.000 pessoas ou 100.000 pessoas?<br />
Isso ainda é legítimo? De onde alguém extrai essa<br />
linha de pensamento?<br />
Eu acredito que o mundo deveria recusar essa<br />
linha de uma pessoa. Até mesmo matança de uma<br />
só pessoa não é legítima. Meu filho tinha quase 17<br />
anos, ele amava surfar e amava música alta. Mas<br />
agora ele se foi porque um assassino suicida decidiu<br />
que é legítimo explodir-se em um ônibus<br />
abarrotado de gente.<br />
Conceder um prêmio a este tipo de filme dá<br />
aos diretores um selo de aprovação para que possam<br />
esconder-se atrás dele. Agora eles podem<br />
dizer que o mundo vê as implicações suicidas<br />
desta mensagem, essa que escolheram para premiar<br />
este filme com um prêmio que passa a fazer<br />
parte da maléfica cadeia de terror e cúmplice dos<br />
próximos assassinatos suicidas, ainda que matem<br />
17 pessoas ou 17.000 pessoas.<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Ministro da Educação em Israel<br />
O ministro da Educação, Fernando<br />
Haddad, esteve em Israel dia<br />
1º/3, no terceiro dia de uma viagem<br />
a três países da Oriente Médio.<br />
O objetivo foi discutir acordos<br />
de cooperação e parcerias,<br />
principalmente na área de ensino<br />
superior. O roteiro começou<br />
dia 27/2 em Beirute, no Líbano.<br />
No dia seguinte, 28/2, Haddad<br />
passou por Damasco, na Síria,<br />
onde manteve reunião de trabalho<br />
com o ministro da Educação<br />
do país para discutir, entre outras<br />
questões, formas de estimular<br />
o estudo do árabe em universidades<br />
brasileiras e do português<br />
em universidades sírias. Já<br />
existe um acordo cultural e educacional<br />
entre os dois países sobre<br />
este e outros temas firmado<br />
em 3 de dezembro de 2003 e que<br />
entrou em vigor em 1º de janeiro<br />
do ano seguinte (2004).<br />
(Agência Brasil).<br />
Ministro da Educação II<br />
Na quarta-feira, dia 1º/3, o ministro<br />
brasileiro teve compromissos<br />
com autoridades israelenses<br />
dos ministérios da Educação e das<br />
Relações Exteriores, em Jerusalém.<br />
No dia 2/3, pela de manhã,<br />
no Monte Scopus, ele se reuniu<br />
com o reitor da Universidade Hebraica<br />
de Jerusalém. Depois seguiu<br />
para Tel-Aviv, onde foi se<br />
encontrar com dirigentes do Ministério<br />
da Educação, Cultura e<br />
Esportes. Durante a viagem ao<br />
Oriente Médio, além das parcerias<br />
na área de ensino superior,<br />
Fernando Haddad discutiu acordos<br />
em educação a distância e<br />
ensino técnico e profissional. (Da<br />
Agência Brasil).<br />
Israel pesquisa contra<br />
a gripe aviária<br />
Estão sendo realizados em Israel<br />
testes com sangue e saliva de 13<br />
aves mortas encontradas em Gaza<br />
e entregues pela Autoridade Palestina.<br />
Se for confirmada, a<br />
gripe aviária poderá afetar a saúde<br />
e as finanças não apenas dos<br />
palestinos em Gaza, mas também<br />
em Israel, conforme alertam as<br />
autoridades. Uri Madar, chefe da<br />
Divisão de Agricultura do Escritório<br />
do Distrito de Erez disse que<br />
“é interesse de Israel assegurar<br />
que o padrão agrícola de Gaza seja<br />
mantido”. Ao ser notificado pelos<br />
palestinos da morte das aves, e<br />
preocupado, pediu que elas fossem<br />
enviadas para laboratórios<br />
veterinários israelenses. No entanto,<br />
as autoridades ainda não<br />
sabem se com o novo governo do<br />
21<br />
OLHAR ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○<br />
HIGH-TECH<br />
○ ○<br />
Hamas o estreito contato com os<br />
palestinos sobre assuntos deste<br />
tipo terá continuidade. (Jerusalem<br />
Post).<br />
Internet em Israel<br />
Em Israel 47% da população está<br />
conectada à Internet e desse percentual<br />
cerca de 88% dos navegadores<br />
dispõem de conexão de<br />
banda larga, de acordo com a<br />
empresa TNS de telepesquisa. No<br />
total, são 3,4 milhões de pessoas<br />
que navegam na Internet diariamente.<br />
A mesma empresa informa<br />
que o uso mais comum é<br />
para busca de informações<br />
(93,5%), para busca de informações<br />
sobre turismo e viagens<br />
(59%) e para para leitura de notícias<br />
(74%). (Arutz 7).<br />
Grapefruit baixa o colesterol<br />
Uma variedade híbrida da fruta<br />
grapefruit, desenvolvida em Israel<br />
baixa o nível de colesterol<br />
oferecendo menos riscos de ataque<br />
de coração. Um grapefruit por<br />
dia — particularmente a variedade<br />
vermelha — pode ajudar<br />
manter o controle das doenças<br />
do coração, de acordo com um<br />
novo estudo de pesquisadores israelenses<br />
da Universidade Hebraica<br />
de Jerusalém. Doenças cardíacas<br />
são as que mais matam<br />
mulheres nos Estados Unidos, e<br />
o mês de fevereiro foi designado<br />
como o mês americano do coração.<br />
A equipe de pesquisadores<br />
conduzida pela doutora Sheila<br />
Gorinstein, da Universidade Hebraica,<br />
descobriu que pacientes<br />
que comem o equivalente a um<br />
grapefruit por dia tinham níveis<br />
de colesterol mais baixos do que<br />
os que não comiam — devido às<br />
propriedades antioxidantes da<br />
fruta. O elevado nível de colesterol<br />
do sangue é o principal fator<br />
de risco para doenças do coração.<br />
(Israel21c).<br />
Esperança contra câncer<br />
Roger Oscrason, da Suécia, sofre<br />
de câncer e está sendo tratado<br />
com um novo medicamento desenvolvido<br />
com base na descoberta<br />
dos Prêmios Nobel Hershko e<br />
Chernobar, de Israel. O medicamento<br />
chama-se Velcadea. Roger<br />
tem um tipo de leucemia muito<br />
difícil de ser tratada e este, segundo<br />
ele, é o primeiro medicamento<br />
que realmente funciona<br />
sem ter muitos efeitos colaterais.<br />
Roger iniciou o primeiro tratamento<br />
há um ano. E quando a leucemia<br />
voltou, um ano depois, passou<br />
a tomar o Velcadea num novo<br />
tratamento que vai durar até abril.<br />
(Da internet).
22<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
* Jacob Dolinger é doutor em<br />
Direito Privado e professor titular<br />
de Direito Internacional Privado<br />
na UERJ e professor visitante de<br />
várias escolas de Direito nos<br />
Estados Unidos e da Academia de<br />
Direito Internacional. Fonte:<br />
Artigo publicado no Boletim ASA<br />
– n o 71 – julho/agosto de 2001<br />
p.3.<br />
VJ INDICA<br />
Jacob Dolinger *<br />
o Pentateuco não há distinção<br />
entre regras de natureza<br />
legal e de natureza moral;<br />
ambas são apresentadas via<br />
revelação e se equiparam no que tange<br />
à sua autoridade. A forma imperativa<br />
é igualmente empregada à<br />
proibição contra o homicídio e o roubo<br />
e à ordem de amar o semelhante.<br />
Um sistema unificado de lei e moral,<br />
apesar de se reconhecer coercibilidade<br />
para um e não para o outro.<br />
Na visão profética de Isaías, Amós<br />
e Miquéias, a perda da soberania e o<br />
exílio se dão devido a corrupção social,<br />
pecados de natureza social, econômica<br />
e política, a violação de normas<br />
jurídico-morais de comportamento,<br />
sem referência a questões de<br />
culto ou ao pecado da idolatria.<br />
No período talmúdico se reconhece<br />
claramente que não há um regime<br />
de coerção para garantir determinadas<br />
formas comportamentais desejadas.<br />
Tanto na Mishná como na Tossefta<br />
— os dois códigos editados<br />
no final do século II<br />
da era atual, sobre os<br />
quais foram subseqüentemente<br />
elaborados e<br />
editados o Talmud de<br />
Jerusalém e o Talmud<br />
da Babilônia —, encontram-sereferências<br />
a certas situações<br />
em que, apesar de<br />
justificado, uma parte<br />
não tem recurso legal contra<br />
a outra parte, só lhe res-<br />
ILME<br />
Modigliani - Paixão pela Vida<br />
Título original: Modigliani<br />
EUA, 2004, 128 minutos<br />
Direção: Mick Davis<br />
Atores: Andy Garcia, Elsa Zylberstein e Omid Djalili<br />
Distribuição: Universal, drama, DVD, colorido.<br />
A Ética no Judaísmo<br />
tando taromet, ressentimento contra<br />
quem prejudicou.<br />
Os sábios talmudistas invocaram<br />
freqüentemente o conceito de<br />
v’assissá haiashar v’hatov — e farás o<br />
que é justo e bom —, encontrado<br />
no Deuteronômio 6, 18, para fundamentar<br />
uma série de normas de comportamento<br />
nas relações humanas,<br />
introduzindo coercibilidade em algumas<br />
delas. Destacam-se as regras<br />
sobre o preço excessivo, a ona’á, que<br />
faculta ao comprador reivindicar a<br />
anulação da transação pela qual o<br />
vendedor cobrou mais de um sexto<br />
acima do preço do mercado. Outra<br />
regra criada com base no ideal do<br />
justo e do bom é o direito do proprietário<br />
da terra executada por dívidas<br />
de reavê-la mais tarde, mediante<br />
o pagamento do valor de sua<br />
dívida. A angústia de quem perde sua<br />
terra ou sua casa inspirou a inovação<br />
talmúdica.<br />
Os juízes da época talmúdica, e<br />
todos que se seguiram àquela era,<br />
se esforçavam para estimular as partes<br />
que compareciam perante as cortes<br />
a ir além da estrita obrigação<br />
legal e isto se traduziu em diversas<br />
máximas. Uma delas é aquela que diz<br />
que a parte está isenta, de acordo<br />
com as leis do homem, mas obrigada,<br />
de acordo com as leis do Céu<br />
(dinei shamaim), significando que,<br />
apesar de o tribunal não ter como<br />
coagir a parte a cumprir com o iashar<br />
v’tov, mesmo assim exercia alguma<br />
pressão verbal para induzi-la a cumprir<br />
com o que é justo e bom.<br />
SINOPSE<br />
A história se passa na Paris dos anos 1920, a cidade mítica por onde circulavam artistas como Pablo Picasso,<br />
Gertrude Stein, Ernest Hemingway, Diego Rivera e Amedeo Modigliani – pintor judeu de origem italiana<br />
interpretado por Andy Garcia. O filme mostra os dramáticos últimos anos da vida do artista, período em que<br />
pintou as suas telas mais famosas e da sua paixão doentia por Jeanne Hebuterne – musa retratada em vários<br />
trabalhos. Filmado na França, Reino Unido, Alemanha, Romênia e Itália. Legendas em <strong>Por</strong>tuguês.<br />
Outra fórmula muito empregada<br />
em mais de dois mil anos de jurisprudência<br />
judaica é a famosa máxima<br />
lifnim meshurat hadin – além da<br />
obrigação legal -, significando que,<br />
apesar de não haver base jurídica para<br />
forçar-me a uma determinada atitude<br />
ou omissão, se eu quero me comportar<br />
além da estrita letra da lei,<br />
preocupando-me com o nível moral<br />
de meu comportamento, devo agir<br />
de determinada forma para com o<br />
nível moral de meu comportamento,<br />
devo agir de determinada forma para<br />
com meu co-contratante, meu vizinho,<br />
ou a pessoa que nem conheço<br />
e cujo objeto perdido eu achei, levando-me<br />
até a indenizar a pessoa<br />
que teve prejuízo por um conselho<br />
que lhe dei (nenhuma relação com a<br />
malpratice profissional, eis que o Talmud<br />
trata aqui de conselho gratuito<br />
[BM 24b e 30b e BK 99b]).<br />
Uma análise terminológica comparativa<br />
dos conceitos de tsedek e<br />
chessed torna mais fácil compreender<br />
a distinção entre o din (a lei) e o<br />
lifnim meshurat hadin (além da obrigação<br />
legal). Tsedek significa justiça,<br />
o ato correto, paralelo a emet,<br />
verdade. Tsedek e/ou emet representam<br />
os atos verdadeiros e corretos<br />
que cada um está obrigado a cumprir,<br />
equivalendo ao din, à lei.<br />
Chessed representa o ato caridoso,<br />
paralelo a hen — graça ou favor<br />
— e a rachamim —misericórdia. Chessed<br />
e/ou rachamim (apesar de, numa<br />
análise mais profunda, serem distintos)<br />
representam atos benevolentes,<br />
são expressões da boa vontade e de<br />
amor (“E amarás teu semelhante...”),<br />
e materializam o lifnim meshurat hadin,<br />
atos que vão além da estrita<br />
observância da lei, do din.<br />
Consequentemente, o tsadik é o<br />
homem justo que cumpre a lei, de<br />
acordo com os princípios emanados<br />
do tsedek-emet, já o chassid (o chassid<br />
mencionado no Talmud, não o<br />
judeu pertencente a um dos grupos<br />
chassídicos, oriundos do movimento<br />
do Baal Shem Tov, do século XVIII)<br />
é a pessoa que age com chessed-rachamim,<br />
uma pessoa bondosa, rápida<br />
para fazer um favor, uma pessoa<br />
que vai além das exigências da lei,<br />
agindo lifnim meshurat hadin.<br />
Moisés é o homem da lei, e seu<br />
irmão, Aaron, o homem que amava a<br />
paz, perseguia a paz, e reconciliava<br />
as pessoas umas com as outras por<br />
meio de concessões e de renúncias<br />
além da exigência da lei. Aaron<br />
acrescentava seu chessed ao din do<br />
irmão Moisés.<br />
No campo das transações comerciais,<br />
não tendo fundamento legal<br />
para forçar o inadimplente a cumprir<br />
seu compromisso, a corte endereça<br />
uma censura-maldição a<br />
quem não honra a palavra empenhada<br />
(mi shepara). Em circunstâncias<br />
menos graves a censura se materializa<br />
cognominando o faltante<br />
como mechussar emuná (destituído<br />
de lealdade). Uma censura mais<br />
branda é a que proclama que determinado<br />
comportamento da pessoa<br />
envolvida “não é do agrado dos<br />
sábios de Israel”. <strong>Por</strong> outro lado,<br />
aquele que paga uma dívida já prescrita<br />
(pela shmitá que ocorria a<br />
cada sete anos) executa um ato que<br />
“agrada aos sábios de Israel”.<br />
A punição pelo uso de pesos e<br />
medidas adulterados é mais grave do<br />
que por relações sexuais vedadas,<br />
pois o comerciante nunca mais saberá<br />
a quem locupletou para fazer a<br />
restituição. O Talmud diz que no julgamento<br />
final a primeira pergunta<br />
que se faz à alma é se ela conduziu<br />
seus negócios com boa fé.<br />
Finalmente, qualquer palavra<br />
que possa induzir outra pessoa a<br />
uma impressão errônea sobre qualquer<br />
situação é proibida (onaat devarim),<br />
mesmo sem acarretar prejuízo<br />
monetário.<br />
Uma clássica regra da moral judaica,<br />
contida no Pirkei Avot — a<br />
Ética dos Pais — é citar a autoria de<br />
tudo que se diz e escreve. <strong>Com</strong>o todos<br />
os conceitos aqui expostos derivam<br />
do Talmud faz-se tão somente<br />
uma referência às obras consultadas<br />
para elaborar uma concisa apresentação<br />
do tema: Menachem Elon<br />
(ed.), The Principles of Jewish Law;<br />
Saul Berman, Law and Morality, verbete<br />
na obra pré-citada; Aaron Kirschenbaum,<br />
Equity in Jewish Law;<br />
Boaz Cohen, Jewish na Roman Law –<br />
A <strong>Com</strong>parative Study; Moshe Silberg,<br />
Law and Morals in Jewish Jurisprudence<br />
(Harvard Law Review, 1961);<br />
Itzhak Halevi Herzog, Moral Rights<br />
and Duties in Jewish Law, Studies in<br />
Jewish Jurisprudence; Nahum Rakover,<br />
Ethics in the Market Place.
centenária mesquita de<br />
domo dourado foi destruída<br />
por terroristas e<br />
milhares de artigos são<br />
escritos sobre o infame ato.<br />
Ao mesmo tempo, um governo sobrerano<br />
— não criminosos — destrói uma<br />
centenária sinagoga no Tadjiquistão para<br />
erguer no local o “palácio” presidencial<br />
e ninguém nem ouviu falar sobre isto.<br />
Onde está a indignação judaica?<br />
Declaração Especial do International<br />
Sephardic Leadership Council (Conselho<br />
das Lideranças Sefaraditas Internacionais):<br />
Pessoas decentes em todo o mundo<br />
ficaram horrorizadas com a destruição<br />
da mesquita de domo dourado semanas<br />
atrás, mas no mesmo dia, a destruição<br />
de uma sinagoga ativa por um<br />
governo progressista, supostamente<br />
baseado em leis civis, não foi notada.<br />
Em 22 de fevereiro de 2006, uma<br />
mesquita ativa, muito adorada por sua<br />
congregação muçulmana, foi destruída<br />
depois que uma poderosa bomba explodiu<br />
dentro dela, demolindo o domo<br />
dourado em seu teto. Este era um dos<br />
mais famosos santuários religiosos do<br />
Iraque. Os terroristas detonaram poderosos<br />
explosivos, destruindo a maior<br />
parte do edifício, e levando milhares<br />
de pessoas a entupir as ruas por todo o<br />
país em protesto. (Este ataque, 95 quilômetros<br />
ao norte de Bagdá, causou<br />
enorme indignação internacional).<br />
Em 22 de fevereiro de 2006, uma<br />
sinagoga ativa, muito amada por sua<br />
comunidade judaica, foi destruída depois<br />
que pesados equipamentos de demolição<br />
e construção rasgaram seu teto,<br />
e esmagando paredes de concreto jogadas<br />
em seu santuário. Esta era a única<br />
sinagoga ativa no Tadjiquistão, um país<br />
situado ao norte do Afeganistão e ao<br />
Sul da Rússia.<br />
A sinagoga foi destruída para que<br />
o governo possa construir um grande<br />
palácio para o seu presidente. “Se os<br />
judeus querem ter [reconstruir] a sinagoga,<br />
deixe-os pagar por isso com<br />
seus próprios fundos”, disse Shamsuddin<br />
Nuriddinov, diretor do Departamento<br />
de Assuntos Religiosos da Cidade<br />
de Dushanbe, (Este ataque, 450 quilômetros<br />
ao norte de Kabul, Afeganistão,<br />
NÃO causou nenhuma indignação<br />
internacional).<br />
De acordo com o Google News, 2.930<br />
artigos apareceram pela mesquita destruída,<br />
enquanto somente seis existem<br />
sobre a sinagoga destruída e esses seis<br />
são realmente só um resumo mencionado<br />
que foi repetido através da distribuição<br />
de matérias por agência de notícias<br />
aos jornais americanos.<br />
<strong>Com</strong> referência à mesquita destruída,<br />
declarações foram emitidas por líderes<br />
através do mundo. O presidente<br />
Bush disse: “Estendo minhas profundas<br />
condolências ao povo do Iraque pela<br />
brutal bombardeio da Mesquita Dourada<br />
em Samarra... O povo americano se<br />
empenha em trabalhar com o povo do<br />
Iraque para reconstruir e restaurar a<br />
Mesquita Dourada de Samarra para sua<br />
antiga glória”. Ele acrescentou: “Os Estados<br />
Unidos estão prontos a fazer tudo<br />
a seu alcance para ajudar o Governo do<br />
Iraque a identificar e levar à Justiça<br />
aqueles responsáveis por esse terrível<br />
ato”. Há cerca de 150 judeus no Tadjiquistão,<br />
a maioria idosos judeus de<br />
Bukhara. Quando as notícias sobre a<br />
destruição da sinagoga do Tadjiquistão<br />
chegaram à comunidade de Bukhara nos<br />
Estados Unidos, encontrou-a chocada;<br />
pessoas cujos filhos cresceram naquela<br />
sinagoga reagiram com lágrimas.<br />
Membros da comunidade de Bukhara<br />
em Atlanta, Georgia, contaram de<br />
sua preocupação com os cemitérios judaicos<br />
que estão próximos à sinagoga<br />
e o que acontecerá a eles.<br />
<strong>Com</strong> referência à sinagoga destruída,<br />
nenhuma declaração foi feita por<br />
qualquer governo de qualquer país ao<br />
redor do mundo.<br />
A única organização judaica a falar<br />
sobre isso foi o International Sephardic<br />
Leadership Council, do qual o autor deste<br />
texto é seu diretor executivo.<br />
Enquanto a mídia cobria cerca de<br />
mil torcedores israelenses de um time<br />
de basquete de Tel Aviv manifestandose<br />
no sábado à noite contra a demolição<br />
da quadra histórica do time, ninguém<br />
na grande mídia protestou contra<br />
a destruição do centro da vida judaica<br />
no Tadjiquistão.<br />
Primeiro o governo destruiu a mikvê<br />
(o banho ritual), depois o açougue kosher<br />
e agora a sinagoga inteira.<br />
Enquanto o Iraque é 97% islâmico,<br />
o Tadjiquistão chega a ser 85% islâmico<br />
e está crescendo. E enquanto os<br />
muçulmanos iraquianos reclamam dizendo<br />
que a comunidade próxima da mesquita<br />
do domo dourado está lá há 1000<br />
anos, a comunidade judaica em torno<br />
do Tadjiquistão tem estado lá por 2000<br />
anos. E enquanto a mesquita do domo<br />
dourado no Iraque foi construída em<br />
1905, a sinagoga no Tadjiquistão foi<br />
construída 100 anos antes também.<br />
Todavia todos estão quietos sobre<br />
isso. Incluindo organizações judaicas.<br />
A destruição da sinagoga do Tadjiquistão<br />
é o mais ignominioso ato cometido<br />
por um estado soberano contra sua população<br />
judaica desde o final da Segunda<br />
Guerra Mundial. A União Soviética<br />
e seus Estados sucessores podem ter<br />
oprimido e perseguido suas comunida-<br />
des judaicas, mas mesmo na culminância<br />
dos expurgos anti-semitas de Stalin<br />
eles não procuraram apagar nenhum<br />
elemento da existência judaica como faz<br />
o governo do Tadjiquistão.<br />
É uma mensagem sinistra para a<br />
comunidade judaica, essa de viver sob<br />
um governo que tenta reconstruir sua<br />
imagem política, econômica e social,<br />
destruindo a única sinagoga do país.<br />
Onde está a indignação!?<br />
Há uma coisa boa a respeito do anti-semitismo:<br />
Ele deixa saber quem são os maus sujeitos.<br />
Direita, esquerda, preto, branco, esquisito ou correto,<br />
no minuto em que alguém começa a papagaiar<br />
sobre a maldade dos judeus, você sabe que<br />
seu trem foi arrastado até a Estação do Indivíduo<br />
Desagradável.<br />
Toda intolerância está errada, é claro, mas<br />
há algo sobre esta forma particular de preconceito<br />
que é estranhamente seguro como um sinal<br />
de maldade mais profunda. Talvez seja porque os<br />
judeus tenham contribuíram tanto para o código<br />
de ética moral da humanidade, que isso de odiálos<br />
como grupo étnico seja menosprezar as restrições<br />
da própria moralidade.<br />
Qualquer que seja a razão, verdade, o antisemitismo<br />
virulento é um bom indicador da presença<br />
do mal, e sou tentado a acreditar que<br />
quando D-us fez dos judeus Seu povo eleito, é<br />
para isto que Ele os escolheu: ser uma espécie<br />
de Sistema de Detecção Precoce de Vilania para<br />
todo o mundo.<br />
Infelizmente, em Seu infinito amor por Sua criação,<br />
suspeito que o Grande Amigo possa ter superestimado<br />
nossa inteligência. Talvez pensasse que<br />
depois de Hitler nós teríamos, você sabe, entendido.<br />
Ao invés disso, nós ainda vemos pessoas aparentemente<br />
inteligentes acalmando, pedindo desculpas<br />
para e até mesmo abraçando tipos repugnantes<br />
que deveriam disparar o Grande Alarme.<br />
É por isso que eu acho que o sistema poderia<br />
usar mais sinos e apitos — um barulho de buzina<br />
estridente talvez, ou até mesmo um circuito fechado<br />
para os moralmente prejudicados. Desse<br />
modo, quando o presidente iraniano Mahmoud<br />
Ahmadinejad diz que o Holocausto é um “mito”<br />
ou que Israel deve “ser riscado do mapa”, você<br />
ouviria uma buzina estridente e palavras apareceriam<br />
no ar sob sua cara: “Oi, eu sou um louco<br />
malvado... <strong>Por</strong> favor, deixe de negociar comigo<br />
agora e aja para inutilizar minha capacidade nuclear<br />
por qualquer meio necessário”.<br />
Ou o que você acha sobre quando o líder venezuelano<br />
— e aliado antiamericano do Irã —<br />
Hugo Chavez adverte que os “descendentes desses<br />
que crucificaram Cristo… arrebataram para<br />
si as riquezas de todo o mundo”? Buzinaço. A<br />
legenda dele: “Oi, eu sei que vocês esquerdistas<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Sem protestos, sinagoga é destruída<br />
Shelomo Alfassa *<br />
* Shelomo Alfassa, é Diretor Execurtivo<br />
do International Sephardic Leadership Council<br />
Forty Five John Street / Suite 711 New York, NY 10038 USA<br />
347-350-7695<br />
http://www.sephardiccouncil.org<br />
23<br />
O International Sephardic Leadership Council está baseada no coração<br />
da vibrante comunidade sefaradita do Oriente Médio em Nova York,<br />
uma comunidade altamente comprometida com o judaísmo, integrada<br />
por mais de 75.000 judeus sírios, egípcios, libaneses, turcos e norteafricanos;<br />
uma das maiores, mais fortes e de crescimento mais rápido<br />
entre as comunidades sefaraditas do mundo.<br />
Tradução: Szyja Lorber<br />
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<strong>Por</strong> que D-us escolheu os judeus<br />
Andrew Klavan*<br />
ainda estão encantados com as idéias do socialismo<br />
— muito bem. Mas pessoalmente, sou um<br />
grosseirão e um amigo da tirania. Oh, e o Sr.<br />
Belafonte? Vá para casa antes que você faça um<br />
asno de si próprio”.<br />
Agora eu entendo que a situação no Oriente<br />
Médio é moral e politicamente complexa, como<br />
é a situação na América do Sul. Eu sei que pessoas<br />
honradas podem manter opiniões contraditórias<br />
sobre os assuntos nestes lugares. Mas<br />
quando a miséria entrincheirada de uma área<br />
quase tão grande quanto os Estados Unidos é<br />
culpada regularmante de 5 milhões de pessoas<br />
num país do tamanho de uma caixa de sapatos,<br />
ou quando as doenças do mundo estiverem recaindo<br />
sobre menos que 1% de sua população,<br />
começo a tornar-me suspeito.<br />
Se fosse só uma questão de odiar os judeus,<br />
nós poderíamos dizer: “Sinta-se livre, odeie todo<br />
mundo, bata você mesmo”. O problema é o sofrimento,<br />
a matança de inocentes e realmente a<br />
destruição de nações inteiras que parecem seguir<br />
inevitavelmente quando o anti-semitismo tem<br />
permissão para expandir-se além do esgoto da<br />
mente que o contém. A história também está<br />
cheia de pessoas desprezíveis que pensaram que<br />
todos os seus problemas seriam resolvidos se eles<br />
pudessem matar bastante judeus - ou assassinos<br />
como Pôncio Pilatos, que pensou que isso era<br />
apenas uma questão de matar o judeu certo —<br />
sem que percebecessemos que suas Soluções Finais<br />
não são finais e nem são nenhuma solução.<br />
Eles são, freqüentemente, a primeira, e às vezes<br />
a última, placa da estrada que indica o caminho<br />
para um inferno terrestre.<br />
Então, eis aqui um plano. Da próxima vez<br />
que você expressar uma opinião sobre o que está<br />
errado com o mundo, dê uma olhada em volta<br />
para ver quem está assentindo com a cabeça. Se<br />
é algum palhaço que pensa que o Estado judeu<br />
deveria ser empurrado para o mar, ou que os<br />
judeus mataram Cristo, ou estão conspirando para<br />
subverter a economia mundial, ou o governo, ou<br />
a mídia, eu lhe peço que considere que você pode<br />
estar errado. Não há nenhuma vergonha em mudar<br />
sua opinião. Entrar no passo dos tolos mal<br />
intencionados — isso é vergonhoso, e também é<br />
perigoso. D-us lhe deu um sistema de detecção<br />
antecipada. Use-o.<br />
* Andrew Klavan é escritor especializado em novelas sobre crimes e pode ser lido em<br />
www.andrewklavan.com<br />
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24<br />
Haddad-Adel, presidente<br />
do parlamento iraniano<br />
VISÃO JUDAICA março 2006 Adar/Nissan 5766<br />
Irã quer apoio do Brasil ao seu projeto nuclear<br />
Aldo Rebelo: “todas as nações têm direito à energia atômica para fins pacíficos”<br />
presidente do parlamento iraniano,<br />
Gholam Ali Haddad-<br />
Adel, esteve em Brasilia nos<br />
dias 21 e 22 de fevereiro buscando<br />
apoio do governo brasileiro para<br />
seu programa nuclear. Neste sentido<br />
sua vinda foi inócua, pois o Brasil apóia<br />
a decisão de encaminhar o caso ao Conselho<br />
de Segurança das Nações Unidas<br />
para eventual aplicação de sanções.<br />
Segundo a agência de notícias iraniana<br />
Irna, o presidente do Parlamento<br />
do Irã, Gholamali Haddad Adel, manteve<br />
conversa com o deputado Aldo<br />
Rebelo (PCdoB), presidente da Câmara<br />
Federal, a quem afirmou que a República<br />
Islâmica do Irã crê que o “governo<br />
brasileiro é independente, justo<br />
e contrário ao unilateralismo e espera<br />
dele que esta postura se reflita<br />
em sua atitude para com o projeto<br />
nuclear iraniano”.<br />
Haddad Adel fez referência, em<br />
seguida, à posição que o Irã mantém<br />
ao reclamar seus direitos de possuir<br />
um programa nuclear “com fins pacíficos”,<br />
explicando que “ao parecer, Irã<br />
e Brasil compartilham pontos de vista<br />
no debate da exploração pacífica da<br />
energia atômica, e nós esperamos que<br />
isso se reflita no voto do Brasil nos<br />
foros internacionais”.<br />
No dia 18 de fevereiro, o grupo terrorista<br />
Hamas, cuja Carta de fundação prega a destruição<br />
do Estado de Israel e o assassinato<br />
dos judeus, assumiu como partido da maioria<br />
a legislatura da nova Autoridade Palestina.<br />
Ismail Haniyeh foi escolhido como o<br />
primeiro-ministro da nova Autoridade Palestina.<br />
Boa parte da mídia tem descrito<br />
este líder terrorista como “pragmático”<br />
ou “moderado”.<br />
O jornal The Washington Post apresentou<br />
este perfil de Haniyeh:<br />
Nascido no campo de refugiados de Shati,<br />
em Gaza, Haniyeh formou-se na Universidade<br />
Islâmica da Cidade de Gaza em 1987<br />
com grau em literatura árabe, e tornou-se<br />
um associado próximo do fundador do Hamas,<br />
xeque Ahmed Yassin.<br />
Haniyeh foi expulso por Israel para o<br />
sul do Líbano em 1992, voltou a Gaza um<br />
ano depois e tornou-se o decano da Universidade<br />
Islâmica. Em 1998, ele se encarregou<br />
do escritório de Yassin.<br />
<strong>Com</strong>o pragmático, ele serviu de ligação<br />
entre o Hamas e a Autoridade Palestina,<br />
estabelecida em 1994 e dominada pelo movimento<br />
rival Fatah.<br />
O The New York Times o descreve como<br />
"considerado menos radical que outros, ele<br />
Durante sua visita à Câmara Federal<br />
em Brasília, Haddad Adel fez alusão<br />
às já centenárias relações bilaterais,<br />
que considerou como “um capital<br />
adequado para impulsionar a cooperação<br />
e fortalecer as relações bilaterais”.<br />
<strong>Por</strong> sua vez, Aldo Rebelo, declarou<br />
aludindo ao interesse de Brasília em fortalecer<br />
as relações com Teerã: “Exaltamos<br />
a civilização persa como uma civilização<br />
clássica e sobressalente, e admiramos<br />
a luta que tem mantido o povo<br />
iraniano pela independência e a liberdade.<br />
Irã e Brasil têm múltiplas capacidades<br />
para impulsionar as relações<br />
nas diferentes dimensões políticas, econômicas<br />
e culturais”.<br />
Rebelo disse o seguinte sobre os<br />
princípios de seu país na política externa:<br />
“Cremos que todos os povos do<br />
mundo têm direito à independência<br />
como uma das facetas dos direitos humanos<br />
e que todas as nações têm direito<br />
por igual ao desenvolvimento econômico,<br />
social, cultural, tecnológico e<br />
científico e que ferir esse direito significa<br />
a inobservância de uma das dimensões<br />
dos direitos humanos”.<br />
<strong>Com</strong> referência à postura nuclear do<br />
Brasil, Aldo Rebelo, ainda segundo a<br />
Irna, disse: “Brasília se opõe às armas<br />
atômicas, mas utiliza esta ciência para<br />
usos pacíficos já que é da opinião que<br />
as atividades pacíficas no âmbito da<br />
Agência Internacional de Energia atômica<br />
é um direito de todas as nações”.<br />
Haddad Adel convidou seu colega<br />
brasileiro a viajar ao Irã e participar da<br />
conferencia internacional para a defesa<br />
do povo palestino que acontecerá em<br />
Teerã em abril. A conversa entre Haddad<br />
Adel e Rebelo teve lugar sem a presença<br />
da imprensa.<br />
Durante sua visita, Haddad Adel foi<br />
ao estúdio da TV Câmara, onde, num<br />
programa falou dos posicionamentos do<br />
Irã no cenário internacional e falou sobre<br />
as relações entre Brasília e Teerã.<br />
Confronto na Universidade de<br />
Brasília<br />
Segundo noticiou o jornal “Correio<br />
Brasiliense”, de 22 de fevereiro, “Sem<br />
apoio das autoridades, o visitante aproveitou<br />
uma palestra proferida na Universidade<br />
de Brasília-UNB para conquistar<br />
a simpatia dos estudantes”, no que<br />
também não teve êxito pleno segundo<br />
o próprio artigo do jornal (“A reação<br />
dos estudantes indica que a operação<br />
teve êxito apenas parcial”).<br />
O representante iraniano falou para<br />
cerca de 100 pessoas presentes no auditório<br />
da reitoria da UNB, boa parte<br />
O “pragmático” do Hamas<br />
detém várias altas posições administrativas na<br />
Universidade Islâmica da Cidade de Gaza”.<br />
A BBC diz: “Mas ele é considerado um moderado<br />
no ranking do movimento cuja posição<br />
na lista teve a intenção de popularizá-lo para<br />
atrair os votos dos eleitores palestinos...”.<br />
A Associated Press e a Reuters descrevem-no<br />
de forma semelhante como um “pragmático”<br />
com um background administrativo.<br />
Quem é Ismail Haniyeh?<br />
Haniyeh foi um dos líderes mais antigos<br />
do Hamas em Gaza durante mais de<br />
dez anos. Ele serviu como chefe do escritório<br />
do líder do Hamas, xeque Ahmed Yassin,<br />
mas buscou uma posição de liderança<br />
mais alta ainda após a morte<br />
de Yassin. Ele foi várias<br />
vezes preso e deportado<br />
para o Líbano por suas atividades<br />
terroristas.<br />
Em 2003 o Hamas assumiu<br />
um horrível atentado a<br />
bomba em um ônibus, no<br />
qual foram mortos 23 israelenses.<br />
Em resposta, Haniyeh<br />
foi colocado na lista<br />
dos mais procurados por Israel.<br />
<strong>Por</strong> muito pouco escapou<br />
de um ataque israelen-<br />
Ismail Hanyeh, o novo<br />
primeiro-ministro palestino<br />
escolhido pelo Hamas<br />
se quando estava reunido com Yassin e outros<br />
líderes terroristas.<br />
De acordo com a Jewish Virtual Library<br />
(Biblioteca Virtual <strong>Judaica</strong> –<br />
www.jewishvirtuallibrary.org) Haniyeh sempre<br />
privilegiou a violência ao invés da diplomacia,<br />
e disse que a vitória do Hamas nas eleições<br />
municipais em 2005 era a prova de que<br />
a maioria dos palestinos apóia o terrorismo<br />
contra o Israel.<br />
O Estatuto do Hamas<br />
Não há nenhuma indicação de que Haniyeh<br />
esteja interessado em mudar o Estatuto<br />
da organização que ele tinha ajudado a<br />
conduzir por muitos anos.<br />
<strong>Com</strong>o a Reuters informou: Eles<br />
(os Estados Unidos e outros na<br />
comunidade internacional) estão<br />
ameaçando cortar a ajuda a qualquer<br />
governo que passe pelo Hamas,<br />
a menos que o grupo renuncie<br />
à violência e abandone seu<br />
compromisso estatutário da destruição<br />
de Israel. “Estas exigências<br />
são injustas aos palestinos”,<br />
declarou Haniyeh.<br />
Terrorismo<br />
Também não há nenhuma indicação<br />
de que Haniyeh pense<br />
delas árabes do corpo diplomático, e<br />
diplomatas e embaixadores da Rússia,<br />
România, e Áustria, e alguns poucos<br />
professores. A tônica de sua apresentação<br />
foi a de que o Irã e o Brasil possuem<br />
fortes elementos em comum, como<br />
a preocupação com a questão ambiental,<br />
a consolidação de uma democracia<br />
real, e a hegemonia norte-americana.<br />
Ele evitou falar sobre as controversas<br />
declarações de seu presidente sobre<br />
Israel, mas, ao afirmar que o Irã, como<br />
a China, Grécia [sic] e Índia, têm uma<br />
cultura ininterrupta de 7.000 anos, foi<br />
questionado por membro da comunidade<br />
israelita local que o lembrou que Ciro, o<br />
Grande, rei da Pérsia, havia libertado os<br />
judeus persas e os ajudado a retornar a<br />
Israel e a reconstruir o Templo em Jerusalém,<br />
ao contrário do atual presidente<br />
iraniano islâmico Ahmadinejad que declarou<br />
que Israel deve ser varrido do mapa.<br />
Duas senhoras da <strong>Com</strong>unidade <strong>Judaica</strong><br />
de Brasília ergueram cartazes<br />
onde se lia “Israel tem o direito de existir<br />
em paz”, o que tomou o apresentador<br />
de surpresa, e que o fez dizer que<br />
o "Irã nada tem contra os judeus, mas<br />
que ao longo de 37 anos (sic) tem sido<br />
vítima (vivido sob o receio) de Israel".<br />
que o Hamas deveria abandonar o terrorismo.<br />
Pelo contrário, após a retirada israelense<br />
de Gaza foi perguntado ele se o Hamas<br />
deixaria a luta armada. Haniyeh disse<br />
o seguinte:<br />
“Estas armas libertaram a terra, e por<br />
estas armas nós continuaremos o ‘processo<br />
de libertação’”.<br />
Respeitando acordos<br />
Tanto os Acordos de Oslo como o Mapa<br />
da Estrada do Médio exigem que os palestinos<br />
reconheçam Israel e renunciem ao terror.<br />
Há os que dizem que Haniyeh aceitará<br />
estes acordos uma vez que eles foram assinados<br />
pela Autoridade Palestina. <strong>Por</strong>ém,<br />
tudo o que ele tem dito sobre isso é:<br />
“Acordos que prejudicam nossa gente nós<br />
os deixaremos de fora. Acordos que servem<br />
o interesse de nosso povo, nós manteremos”.<br />
Hoje, não há nenhuma evidência que indique<br />
que Haniyeh esteja a favor de mudar<br />
Estatuto do Hamas sobre rejeitar a violência,<br />
ou reconhecer Israel. Sem estes passos<br />
básicos, é difícil ver como alguém pode defini-lo<br />
com precisão como “pragmático”.<br />
Se os jornais ou a mídia local descrever<br />
Haniyeh como “pragmático” ou “moderado”<br />
pergunte-lhes por carta, ou por e-mail, com<br />
que base eles estão afirmando isso.