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Heroes Lost Faculda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> games Second Life House<br />
feita com os melhores ingredientes da cultura pop<br />
março 2007 edição especial<br />
exclusivo<br />
Visitamos o set do filme<br />
Conversamos com os astros<br />
Rodrigo Santoro<br />
conta como virou Xerxes<br />
Lembra Desse? Speed Racer<br />
Música e Moda em Maria Antonieta<br />
Precisamos <strong>de</strong> heróis?<br />
The Good, The Bad and The Queen<br />
HQs nas livrarias<br />
R$ 8,90
(ÍNDICE)<br />
nesta edição<br />
10<br />
16<br />
22<br />
24<br />
28<br />
30<br />
37<br />
38<br />
46<br />
48<br />
52<br />
54<br />
56<br />
57<br />
58<br />
62<br />
HQ<br />
Lugar <strong>de</strong> história em quadrinhos é na livraria O mercado<br />
nacional <strong>de</strong> HQs teve em 2006 <strong>um</strong>a ótima safra. Como isso aconteceu<br />
e como será 2007?<br />
Quadrinhos em outras bandas (<strong>de</strong>senhadas) Veja nesta<br />
matéria feita em formato <strong>de</strong> HQ quais são as crises dos mercados <strong>de</strong><br />
quadrinhos mundo afora.<br />
TV<br />
Heróis mo<strong>de</strong>rnos Antes da estréia <strong>de</strong> Heroes na TV brasileira, leia<br />
tudo o que você precisa saber sobre a melhor estréia do ano<br />
Heróis – Por que precisamos <strong>de</strong>les Depois <strong>de</strong> ler a matéria sobre<br />
Heroes, <strong>de</strong>scubra por que precisamos <strong>de</strong> heróis em nossas vidas<br />
House, o médico preferido dos médicos Entenda como <strong>um</strong><br />
doutor rabugento conquistou o coração dos médicos <strong>de</strong> verda<strong>de</strong><br />
Lost – 3ª temporada Um guia <strong>para</strong> você não ficar perdido na hora<br />
<strong>de</strong> escolher como assistir à sua série preferida.<br />
Cinema<br />
Motoqueiro Fantasma Saiba quem é o personagem que<br />
finalmente coloca Nicolas Cage em <strong>um</strong>a adaptação vinda das HQs<br />
300 – EXCLUSIVO!! O <strong>Omelete</strong> foi o único veículo da América Latina<br />
a acompanhar as filmagens <strong>de</strong> 300. Veja o que <strong>de</strong>scobrimos por lá!<br />
<strong>Omelete</strong> Entrevista: Rodrigo Santoro O ator escolhido <strong>para</strong><br />
interpretar o Rei-Deus Persa e combater o exército espartano conta<br />
como conseguiu o papel<br />
Cinema Digital x Película Conversamos com cineastas e<br />
exibidores <strong>para</strong> <strong>de</strong>scobrir quem ganha e quem per<strong>de</strong> nessa disputa<br />
Monarquia pós-punk Dissecamos os principais diferenciais do<br />
novo filme <strong>de</strong> Sofia Coppola: o som e a moda em Maria Antonieta<br />
Música<br />
O Ceará tem disso, sim! Misturando guitarras, música eletrônica,<br />
reisados e maracatus, bandas cearenses vêm reinventando a cena<br />
roqueira<br />
Damon Albarn Uma breve história do garoto inglês que além do Blur<br />
reinventou a música com seus supergrupos<br />
Infiltrando <strong>um</strong> pouco <strong>de</strong> Boston em Hollywood<br />
Conversamos com o baterista do Dropkick Murphys, banda escolhida<br />
por Martin Scorsese <strong>para</strong> a trilha <strong>de</strong> Os Infiltrados<br />
Games<br />
Bem-vindo à escola <strong>de</strong> games Os jogos digitais inva<strong>de</strong>m as<br />
universida<strong>de</strong>s e prometem ser a profissão do futuro que já chegou<br />
Esquisitices no Universo Paralelo De gravi<strong>de</strong>z virtual a armas<br />
que atiram melancias, o Second Life reserva surpresas <strong>para</strong> seus<br />
resi<strong>de</strong>ntes<br />
edição especial - março 2007<br />
seções<br />
> omelista<br />
> papo pro boteco<br />
> lembra <strong>de</strong>sse?<br />
> já pra cozinha<br />
52 22<br />
58<br />
16<br />
30<br />
62<br />
Capa: Rodrigo Santoro em 300<br />
Copyright 2007 Warner Bros.<br />
4<br />
8<br />
33<br />
66<br />
março 2007 <strong>Omelete</strong> 7
Marcelo Forlani<br />
HQ | mercado 2006 x 2007<br />
Lugar <strong>de</strong> história em<br />
quadrinhos é na livraria<br />
2006 foi <strong>um</strong> ano excelente <strong>para</strong> os quadrinhos no Brasil. Porém, mais do que<br />
a quantida<strong>de</strong>, o que realmente chama a atenção é a qualida<strong>de</strong> e a varieda<strong>de</strong><br />
do material escolhido. Enca<strong>de</strong>rnados e graphic novels voltam a ser <strong>de</strong>staque e<br />
garantem espaço cada vez maior nas livrarias. O que aconteceu com o mercado<br />
e o que está <strong>para</strong> acontecer em 2007? O <strong>Omelete</strong> conversou com os principais<br />
editores <strong>para</strong> saber o que eles pensam e planejam. E <strong>de</strong>scobrimos que se o ano<br />
passado já foi bom, este promete muito mais.<br />
Por Érico Assis<br />
10 <strong>Omelete</strong> março 2007<br />
Destaque da seção <strong>de</strong> Quadrinhos na loja Fnac.
SSandman e Tintim. Cr<strong>um</strong>b. Eisner.<br />
We3. As garotas <strong>de</strong> Manara e a volta <strong>de</strong><br />
Moebius. Authority, Astro City, Fábulas.<br />
Coleções <strong>de</strong> tiras do Fantasma, do<br />
Recruta Zero, do Príncipe Valente, da Rê<br />
Bordosa. Clássicos da Marvel e da DC.<br />
Os Mortos-Vivos, Invencível. Sin City,<br />
Preacher, V <strong>de</strong> Vingança. Moon e Bá<br />
com Angeli. Quadrinhos norte-americanos,<br />
ingleses, coreanos, argentinos,<br />
franceses, belgas, espanhóis, italianos,<br />
chineses, japoneses. Osamu Tezuka,<br />
Akira Toriyama e Kazuo Koike. Inu<br />
Yasha. As Obras Completas <strong>de</strong> Carl Barks.<br />
XIII e Al<strong>de</strong>baran. O Gato do Rabino.<br />
Corto Maltese.<br />
A lista acima é gran<strong>de</strong> e representa<br />
só <strong>um</strong>a parte da enorme varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
quadrinhos publicados no Brasil<br />
em 2006. Enquanto as bancas<br />
abriam espaço <strong>para</strong> as <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong><br />
lançamentos mensais, as estantes<br />
exclusivas <strong>para</strong> HQs não apenas<br />
a<strong>um</strong>entavam <strong>de</strong> tamanho, como se<br />
tornavam obrigatórias nas livrarias.<br />
Ainda estamos longe da varieda<strong>de</strong><br />
do mercado francês ou da<br />
organização dos Estados Unidos.<br />
Principalmente porque o Brasil não<br />
tem tantos leitores, e estes poucos<br />
não são tão ricos quanto os que<br />
estão no primeiro mundo. Aqui,<br />
gastar mais <strong>de</strong> 10 reais em <strong>um</strong> gibi<br />
ainda é <strong>para</strong> poucos. O que dizer<br />
dos enca<strong>de</strong>rnados <strong>de</strong> luxo que ultrapassam<br />
facilmente os 50 reais.<br />
Mas o mercado <strong>para</strong> eles existe<br />
e tem a<strong>um</strong>entado. A maior editora<br />
<strong>de</strong> quadrinhos atualmente,<br />
a Panini, que todo mês inunda as<br />
bancas com <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> publicações,<br />
está expandindo seu número <strong>de</strong><br />
lançamentos enca<strong>de</strong>rnados, mais<br />
voltados às livrarias e comic shops.<br />
Na esteira, novas empresas – Pixel,<br />
HQManiacs, Zarabatana, Desi<strong>de</strong>rata<br />
– entram na jogada buscando<br />
seu espaço. E até editoras tradicionais<br />
do mercado livreiro, como<br />
Companhia das Letras, Jorge Zahar<br />
e Ediouro, aproveitam as boas<br />
oportunida<strong>de</strong>s e também apostam<br />
nos quadrinhos.<br />
On<strong>de</strong> foi que acertamos?<br />
Depois <strong>de</strong> tantos anos difíceis<br />
Imagens: Reprodução<br />
<strong>para</strong> os leitores <strong>de</strong> quadrinhos, o que<br />
foi que <strong>de</strong>u certo em 2006? Não existe<br />
<strong>um</strong> único fator responsável por este<br />
boom. Ele é <strong>um</strong>a soma <strong>de</strong> várias causas.<br />
Os arrasa-quarteirões hollywoodianos<br />
chamam a atenção <strong>para</strong> as HQs <strong>de</strong><br />
super-heróis, que por sua vez são dis-<br />
Enquanto as bancas abriam<br />
espaço <strong>para</strong> as <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> lançamentos<br />
mensais, as estantes<br />
exclusivas <strong>para</strong> HQs não apenas<br />
a<strong>um</strong>entavam <strong>de</strong> tamanho,<br />
como se tornavam obrigatórias<br />
nas livrarias.<br />
postas ao lado <strong>de</strong> Preacher, Estranhos<br />
no Paraíso, Vagabond e tantos outros<br />
títulos bem diferentes dos heróis <strong>de</strong><br />
capa e cueca <strong>para</strong> fora da calça. É o<br />
dólar estável, que permite às editoras<br />
trazer mais títulos. É a Internet, que<br />
ajuda na divulgação. Não po<strong>de</strong>mos<br />
esquecer também da qualida<strong>de</strong> do<br />
que vem sendo produzido lá fora e do<br />
espaço que gran<strong>de</strong>s veículos têm dado<br />
aos quadrinhos, mostrando que a nona<br />
arte não é apenas “coisa <strong>de</strong> criança”.<br />
Com <strong>um</strong> cenário <strong>de</strong>sses, empresas<br />
conhecidas pela publicação <strong>de</strong> livros<br />
viram a oportunida<strong>de</strong> e arriscaram. É<br />
o caso da Companhia das Letras, que<br />
lança o clássico Tintim, além <strong>de</strong> HQs<br />
como as da iraniana Marjane Satrapi<br />
(Persépolis), do mestre Will Eisner<br />
(O Complô) e coleções como a do<br />
brasileiro Angeli (Ozzy). Estes álbuns<br />
têm <strong>um</strong> acabamento diferenciado,<br />
que não vão <strong>para</strong> as bancas dos Seus<br />
Zés nas esquinas país afora. O lugar<br />
<strong>de</strong>las, antes <strong>de</strong> ir <strong>para</strong> as casas dos<br />
leitores, são as livrarias.<br />
Mas nem todo mundo conhece<br />
este universo, e vem então a tarefa<br />
<strong>de</strong> ensinar quem é o público que<br />
consome quadrinhos e o que ele<br />
quer. “Temos <strong>um</strong> trabalho permanente<br />
no ponto-<strong>de</strong>-venda, <strong>de</strong> explicar aos<br />
ven<strong>de</strong>dores e donos <strong>de</strong> livrarias o que<br />
é quadrinho, qual é seu público-alvo<br />
e seu significado”, expõe Alexandre<br />
Linares, gerente <strong>de</strong> marketing da<br />
Conrad Editora. “Em geral, o público<br />
livreiro não pensa na qualida<strong>de</strong><br />
seqüencial das HQs. Se você ganha o<br />
leitor com <strong>um</strong> livro, ele vai comprar<br />
os próximos”, valoriza Linares.<br />
E não é só por isso que se vê<br />
mais e mais HQs hoje em dia nas<br />
gran<strong>de</strong>s livrarias. “Os quadrinhos<br />
sofreram <strong>um</strong>a mudança <strong>de</strong> acabamento,<br />
ficando mais parecidos com os<br />
livros, feitos com papel <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong>,<br />
lombada quadrada, capas duras e,<br />
claro, o preço ficou mais alto. Um<br />
título com esse perfil é vendido entre<br />
30 e 50 reais. Com isso, o status da<br />
HQ mudou na visão dos donos <strong>de</strong><br />
livrarias. A rentabilida<strong>de</strong> passa a ser<br />
maior e vale a pena ter e expor o produto<br />
nas prateleiras”, explica Hélio<br />
Lopes, da Ediouro. Embora tenha<br />
março 2007 <strong>Omelete</strong> 11
Ilustração: Fábio Yabu<br />
Por Cíntia Cristina da Silva
N<br />
No seriado Heroes não é difícil<br />
apontar entre os h<strong>um</strong>anos dotados <strong>de</strong><br />
superpo<strong>de</strong>res o personagem mais nobre,<br />
puro e impregnado da abnegação e<br />
ética do herói clássico. Hiro Nakamura<br />
(Masi Oka), o divertido japonês capaz<br />
<strong>de</strong> <strong>para</strong>r o tempo e flanar pelo passado<br />
e futuro, é o arquétipo do herói. Mesmo<br />
seu nome carrega todo o peso e significado<br />
da nova i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. Hiro, afinal,<br />
é a pronúncia mais próxima do inglês<br />
“hero”. Tente com <strong>um</strong> sotaque japonês,<br />
<strong>para</strong> ver...<br />
Nesse grupo <strong>de</strong> pessoas excepcionais,<br />
que precisa <strong>de</strong>scobrir o que são e<br />
como usar as novas habilida<strong>de</strong>s <strong>para</strong><br />
salvar o mundo <strong>de</strong> <strong>um</strong>a catástrofe<br />
iminente, Hiro é quem verda<strong>de</strong>iramente<br />
está preocupado em <strong>de</strong>scobrir o<br />
significado da missão. Ele se distancia<br />
<strong>de</strong> si mesmo <strong>para</strong> encarar <strong>um</strong>a nova<br />
vida e assimilar a importância do po<strong>de</strong>r<br />
que lhe foi dado. Em <strong>de</strong>terminado<br />
momento diz: “Um herói não se escon<strong>de</strong>”<br />
e fala ao amigo: “Se tiver medo <strong>de</strong> usar<br />
meus po<strong>de</strong>res, então não os mereço”. Ele<br />
apren<strong>de</strong>u a primeira lição: <strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro<br />
herói precisa estar à altura <strong>de</strong> suas<br />
habilida<strong>de</strong>s, pronto <strong>para</strong> sacrificar<br />
sua existência por algo maior que<br />
ele mesmo.<br />
Hiro é quase tão puro quanto<br />
o gran<strong>de</strong> herói medieval <strong>de</strong> Miguel<br />
<strong>de</strong> Cervantes. O fidalgo Dom<br />
Quixote fica louco <strong>de</strong> tanto ler<br />
histórias <strong>de</strong> cavalaria – nos quais<br />
os personagens são homens honrados,<br />
<strong>de</strong>fensores da verda<strong>de</strong>, da justiça<br />
e dos <strong>de</strong>safortunados, enfim, heróis.<br />
Diante da beleza <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vida consagrada<br />
ao outro e a atos <strong>de</strong> bravura, Dom<br />
Quixote encarna o herói mais lírico e<br />
trágico da história da literatura. Não<br />
importava que lutasse contra moinhos<br />
<strong>de</strong> vento acreditando serem gigantes. Lá<br />
está seu ímpeto altruísta, cujo objetivo<br />
era o bem com<strong>um</strong>, ainda que <strong>para</strong> chegar<br />
a esse fim, fosse cobrada sua vida.<br />
Ou sua dignida<strong>de</strong>.<br />
Des<strong>de</strong> o berço<br />
O conceito <strong>de</strong> herói é conhecido<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> os primórdios da ancestralida<strong>de</strong><br />
h<strong>um</strong>ana. Não existe civilização sem ele.<br />
Crianças buscam a segurança dos pais,<br />
<strong>para</strong> elas seres fortes quase in<strong>de</strong>strutí-<br />
veis. As pessoas crescem e continuam,<br />
ainda que inconscientemente, a acreditar<br />
em heróis e em atos <strong>de</strong> heroísmo. E<br />
elas estão certas em agir <strong>de</strong>ssa maneira.<br />
Na verda<strong>de</strong>, esse i<strong>de</strong>al histórico tem<br />
vida própria, está arraigado nas entranhas<br />
da nossa espécie há milhares <strong>de</strong><br />
anos. Mas nem tudo é tão assertivo no<br />
que diz respeito aos tempos que correm.<br />
Atravessamos <strong>um</strong> período histórico <strong>de</strong><br />
transformações culturais tremendas, <strong>de</strong><br />
forma que não seria exagero acreditar<br />
na mutação ou até dissipação <strong>de</strong> valores<br />
primordiais.<br />
O escritor Thomas Berry acredita<br />
que tudo é história. Da importância que<br />
atribuímos à vida, à maneira como nos<br />
posicionamos nesse imenso universo<br />
isso tudo é reflexo <strong>de</strong> <strong>um</strong> enredo,<br />
muito particular, em que estão expostos<br />
valores e crenças fundamentais.<br />
Logicamente, cada história com <strong>um</strong><br />
início, meio e fim, tem <strong>um</strong> herói. Mas<br />
nem tudo é tão simples assim. Especialmente<br />
porque Berry acredita que<br />
estejamos vivendo n<strong>um</strong> período entre<br />
histórias. “A história antiga nos manteve<br />
por muito tempo, moldou nossas atitu<strong>de</strong>s<br />
Des<strong>de</strong> tempos imemoriais,<br />
todos nós precisamos <strong>de</strong><br />
heróis - voem eles ou não.<br />
emocionais, forneceu-nos propósitos <strong>de</strong><br />
vida, energizou nossas ações, consagrou<br />
o sofrimento, guiou nossa educação.<br />
Acordávamos <strong>de</strong> manhã e sabíamos quem<br />
éramos, podíamos respon<strong>de</strong>r às perguntas<br />
<strong>de</strong> nossos filhos. Todos os cuidados<br />
estavam provi<strong>de</strong>nciados, porque havia<br />
essa história. Mas agora a velha história<br />
já não funciona. E ainda não apren<strong>de</strong>mos<br />
<strong>um</strong>a nova”, escreveu.<br />
Diante <strong>de</strong> tal reflexão a questão premente<br />
que se impõe agora é a seguinte:<br />
nesse contexto <strong>de</strong> “confusão histórica”,<br />
<strong>de</strong> niilismo crescente, ainda precisamos<br />
<strong>de</strong>ssas criaturas mitológicas com<br />
po<strong>de</strong>res maravilhosos que nos reduzem<br />
a mortais tão sem-graça? A resposta é<br />
sim. “Precisamos <strong>de</strong> heróis, especialmente<br />
porque nossos heróis irão ajudar a <strong>de</strong>finir<br />
os limites <strong>de</strong> nossas aspirações. Cost<strong>um</strong>amos<br />
<strong>de</strong>finir nossos i<strong>de</strong>ais e características<br />
como coragem, honra e justiça, a partir<br />
da escolha <strong>de</strong>les. Nossos heróis são símbolos<br />
<strong>de</strong> todas as qualida<strong>de</strong>s que gostaríamos<br />
<strong>de</strong> ter e as ambições que gostaríamos<br />
<strong>de</strong> satis<strong>fazer</strong>”, diz Scott LaBarge,<br />
professor do Departamento <strong>de</strong> Filosofia<br />
da Universida<strong>de</strong> Santa Clara, Califórnia,<br />
Estados Unidos.<br />
Em qualquer lugar,<br />
a qualquer hora<br />
Pesquisadores <strong>de</strong>tectaram em culturas<br />
das mais distantes - e variadas partes<br />
do mundo, dos mais diversos períodos<br />
históricos - características tão comuns<br />
que torna verossímil acreditar na existência<br />
<strong>de</strong> <strong>um</strong> único mo<strong>de</strong>lo típico <strong>de</strong><br />
herói, reproduzido por povos <strong>de</strong> quase<br />
todo o planeta.<br />
Um herói tradicionalmente passa<br />
por <strong>um</strong>a jornada <strong>de</strong> aprendizagem, <strong>de</strong><br />
aventuras árduas em que precisa provar<br />
seu valor e em seguida retorna <strong>para</strong><br />
compartilhar suas experiências. Dessa<br />
forma ele oferece <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> vida já<br />
testado e almejado pelos h<strong>um</strong>anos comuns.<br />
Ou como escreveu Joseph<br />
Campbell, pesquisador e autor<br />
<strong>de</strong> O Herói <strong>de</strong> Mil Faces: “Não<br />
precisamos correr sozinhos o risco<br />
da aventura, pois os heróis <strong>de</strong> todos<br />
os tempos a enfrentaram antes<br />
<strong>de</strong> nós. O labirinto é conhecido em<br />
toda a sua extensão. Temos apenas<br />
<strong>de</strong> seguir a trilha do herói, e lá,<br />
on<strong>de</strong> temíamos encontrar algo abominável,<br />
encontraremos <strong>um</strong> <strong>de</strong>us. E lá, on<strong>de</strong><br />
esperávamos matar alguém, mataremos a<br />
nós mesmos. On<strong>de</strong> imaginávamos viajar<br />
<strong>para</strong> longe, iremos ter ao centro da nossa<br />
própria existência. E lá, on<strong>de</strong> pensávamos<br />
estar sós, estaremos na companhia do<br />
mundo todo”. Voilà!<br />
Questão <strong>de</strong> sobrevivência<br />
A lenda do Golem <strong>de</strong> Praga é <strong>um</strong>a<br />
história exemplar da necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se<br />
criar mitos <strong>para</strong> sobreviver a períodos<br />
particularmente tempestuosos. Os<br />
ju<strong>de</strong>us sofreram <strong>um</strong>a histórica perseguição<br />
através dos séculos em diversas<br />
partes do mundo. Em Praga, República<br />
Checa, foram confinados em <strong>um</strong> gueto,<br />
em 1357.
Imagens: Reprodução<br />
(LEMBRA DESSE?)<br />
O<br />
Japão, apesar<br />
<strong>de</strong> toda a tecnologia<br />
automobilística que<br />
<strong>de</strong>senvolveu, nunca<br />
teve <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> piloto<br />
<strong>de</strong> corridas nascido<br />
em seu território.<br />
Mas não foi por falta<br />
<strong>de</strong> inspiração, pois<br />
o corredor <strong>de</strong> ficção<br />
mais famoso do planeta<br />
veio exatamente<br />
<strong>de</strong> lá. É Speed Racer,<br />
ícone da cultura pop,<br />
que está completando<br />
40 anos.<br />
Em abril <strong>de</strong> 1967, estreou no Japão<br />
a série Maha Go Go Go, da Tatsunoko<br />
Production. O título original é <strong>um</strong><br />
trocadilho bilíngüe, pois “go” significa<br />
“cinco” em japonês e, escrito do<br />
mesmo jeito, é o verbo "ir" em inglês.<br />
Go também é o nome original do<br />
piloto (daí o “G” em sua camisa). Já<br />
"Maha" é a maneira como os japoneses<br />
falam "mach", que é a unida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
medida da velocida<strong>de</strong> do som. A<br />
produção, com animação bastante<br />
econômica e limitada, tinha carisma<br />
<strong>de</strong> sobra, bons personagens, ângulos<br />
<strong>de</strong> cena arrojados, histórias com<br />
temáticas variadas e <strong>um</strong>a trilha sonora<br />
charmosa. Desenvolvido em <strong>um</strong>a<br />
época <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> criativida<strong>de</strong>, o animê<br />
foi contemporâneo <strong>de</strong> séries como<br />
A princesa e o cavaleiro, Ultra Seven,<br />
Super Dínamo, Robô Gigante, Fantomas<br />
e Shadow Boy. Fez <strong>um</strong> sucesso razoável,<br />
mas nada comparável à receptivida<strong>de</strong><br />
que encontraria no oci<strong>de</strong>nte.<br />
Exportado <strong>para</strong> os EUA em<br />
1968, ganhou seu famoso título e<br />
os personagens tiveram seus nomes<br />
adaptados <strong>para</strong> padrões oci<strong>de</strong>ntais.<br />
Speed Racer<br />
Por Alexandre Nagado<br />
Nascia assim o fenômeno Speed Racer,<br />
que se tornaria sucesso em diversos<br />
países, inclusive no Brasil, on<strong>de</strong> foi<br />
exibido na extinta TV Tupi (anos 70),<br />
TV Record (anos 70 e 80), MTV (anos<br />
90) e, mais recentemente, no Cartoon<br />
Network e Boomerang.<br />
O astro da série é <strong>um</strong> jovem piloto<br />
<strong>de</strong> corridas que viaja ao redor do<br />
mundo <strong>para</strong> competições <strong>de</strong> <strong>um</strong> tipo<br />
<strong>de</strong> fórmula especial, com carros sport<br />
e protótipos. Como muitas provas<br />
envolvem terrenos aci<strong>de</strong>ntados e<br />
perigosos, o pai <strong>de</strong>le, o engenheiro<br />
Pops Racer, projeta <strong>um</strong>a série <strong>de</strong><br />
acessórios <strong>para</strong> a<strong>um</strong>entar a segurança<br />
do filho.<br />
Correndo em outras mídias<br />
Na época da série foi realizada a<br />
versão em mangá, assinada por Tatsuo<br />
Yoshida, <strong>um</strong> artista dono <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
traço expressivo e dinâmico. Diversas<br />
outras versões em quadrinhos foram<br />
produzidas nos EUA e lançadas no<br />
Brasil, mas o mangá original somente<br />
chegaria por <strong>aqui</strong> em 2002, pela<br />
Editora Conrad.<br />
março 2007 <strong>Omelete</strong> 33
Fotos: Warner Bros.<br />
Matéria <strong>de</strong> capa<br />
EXCLUSIVO
Animado, o pequeno Frank Miller<br />
andava apressado ao lado dos pais e do<br />
irmão. Os domingos com a família no<br />
cinema estavam entre seus dias<br />
preferidos, per<strong>de</strong>ndo apenas <strong>para</strong> o<br />
Natal, quando, com sorte, ele ganhava<br />
alg<strong>um</strong> dinheiro das tias <strong>para</strong> comprar<br />
gibis. Frank tinha só nove anos, mas<br />
adorava <strong>de</strong>senhar em seu bloco heróis<br />
po<strong>de</strong>rosos, que sempre arrasavam<br />
o vilão e ficavam com a mocinha no<br />
final. E o filme da semana, <strong>um</strong> épico <strong>de</strong><br />
“sandálias e espadas”, prometia muitos<br />
<strong>de</strong>les. Era sobre poucos guerreiros que<br />
enfrentavam milhares: Os 300 <strong>de</strong> Esparta.<br />
Dentro da sala, pipoca no colo, pernas<br />
balançando na poltrona, Frank sentavase<br />
sempre ao lado do irmão, <strong>um</strong>a fileira<br />
à frente dos pais (eles eram bacanas<br />
<strong>de</strong>mais <strong>para</strong> dividir lugar com os velhos).<br />
Conforme a história se <strong>de</strong>senrolava,<br />
porém, Frank se dava conta que talvez<br />
Leônidas e os sua guarda <strong>de</strong> elite não<br />
teriam o <strong>de</strong>stino com<strong>um</strong> aos mocinhos.<br />
Preocupado, virou-se <strong>para</strong> o lado e<br />
sussurou: “Mano, eles vão morrer?”. Com<br />
os olhos arregalados, o irmão retrucou<br />
“sei lá, pergunta pro papai”. Frank<br />
virou-se então na ca<strong>de</strong>ira, sua cabeça<br />
surgindo diante dos olhos do Sr. Miller.<br />
“Pai, eles vão... morrer?”. “Sinto dizer<br />
que sim, filho”. O menino então voltou-se<br />
novamente <strong>para</strong> a imponente telona, na<br />
qual os espartanos faziam sua <strong>de</strong>rra<strong>de</strong>ira<br />
resistência. Naquele momento, apren<strong>de</strong>u<br />
o valor do sacrifício e o verda<strong>de</strong>iro<br />
significado da palavra herói. Naquele<br />
momento, sua vida mudou.<br />
Por Erico Borgo
Aquela tar<strong>de</strong> no cinema foi <strong>um</strong>a<br />
das primeiras epifanias experimentadas<br />
pelo Frank Miller - e <strong>um</strong>a das que se<br />
provaram mais importantes <strong>de</strong> sua carreira.<br />
“Aquilo mudou o curso da minha<br />
vida criativa”, explicou o quadrinista ao<br />
<strong>Omelete</strong> durante visita ao set cana<strong>de</strong>nse<br />
<strong>de</strong> 300, adaptação <strong>para</strong> o cinema da<br />
sua graphic novel homônima. “Ali que<br />
entendi que os heróis não são sempre os<br />
caras que ganham a medalha no peito no<br />
final, são pessoas que fazem a coisa certa.<br />
E pro inferno com as conseqüências! Des<strong>de</strong><br />
então, os sacrifícios sempre estiveram<br />
presentes no meu trabalho”.<br />
Há mesmo poucos exemplos tão<br />
grandiosos <strong>de</strong> sacrifício quanto a Batalha<br />
das Termópilas (leia quadro abaixo),<br />
ocorrida em 480 a.C. e que inspirou 300<br />
<strong>de</strong> Esparta. O filme <strong>de</strong> 1962, dirigido<br />
por Rudolph Maté e estrelado por<br />
Richard Egan (como o Rei Leônidas),<br />
acompanhou Miller durante sua adolescência<br />
e o início <strong>de</strong> sua vida adulta,<br />
quando começou a escrever histórias<br />
em quadrinhos profissionalmente.<br />
Mas quase trinta anos se passariam até<br />
que ele finalmente tivesse segurança<br />
<strong>de</strong> sua técnica <strong>para</strong> contar a história.<br />
“Quando <strong>de</strong>cidi escrever 300, foquei-me<br />
na história, estu<strong>de</strong>i-a, e percebi que não<br />
tinha a habilida<strong>de</strong> necessária <strong>para</strong> fazê-la<br />
funcionar”, comentou o autor, apesar <strong>de</strong><br />
na época já ter produzido gran<strong>de</strong>s obras<br />
dos quadrinhos (como a antológica<br />
Quadro <strong>de</strong> Jacques-Louis David (1748-1825), 1814, óleo<br />
sobre tela, 395 x 531 cm. Museu do Louvre, Paris, França.<br />
40 <strong>Omelete</strong> março 2007<br />
passagem pelo título do Demolidor, a seminal<br />
Batman - O Cavaleiro das Trevas<br />
e o noir <strong>de</strong> alto-contraste Sin City (veja<br />
os clássicos <strong>de</strong> Miller na página 43), e já<br />
ser consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> dos gran<strong>de</strong>s gênios<br />
da arte seqüencial no oci<strong>de</strong>nte. “Mas<br />
tenho horror <strong>de</strong>sses per<strong>de</strong>dores que ficam<br />
a vida inteira falando sobre a história<br />
que <strong>um</strong> dia farão, então me concentrei<br />
ainda mais, li ainda mais, fui à Grécia,<br />
fiquei três semanas no mar Egeu, estu<strong>de</strong>i<br />
o terreno, batalhas antigas gregas, fui aos<br />
‘portões quentes’ e absorvi tudo <strong>aqui</strong>lo. E<br />
a história só ficava melhor conforme eu a<br />
estudava. Ela é sensacional!”, confessou.<br />
Depois da longa pesquisa, Miller trabalhou<br />
obcecado na história em quadrinhos,<br />
que ficou pronta em apenas <strong>um</strong> ano<br />
e meio. “300 pegou fogo e o final foi muito,<br />
muito rápido, porque eu simplesmente não<br />
conseguia pensar em mais nada. No banho<br />
<strong>de</strong> manhã eu já estava pensando em imagens<br />
<strong>para</strong> a HQ e seguia nela o dia todo”.<br />
O resultado - <strong>um</strong> exercício <strong>de</strong> ousado<br />
estilo gráfico e excepcional narrativa<br />
fantástica, consi<strong>de</strong>rado hoje <strong>um</strong>a das<br />
melhores obras do autor - foi publicado<br />
nos Estados Unidos a partir <strong>de</strong> maio <strong>de</strong><br />
1998 como <strong>um</strong>a minissérie mensal pela<br />
Dark Horse Comics. O trabalho, aclamado<br />
pela crítica e público, ren<strong>de</strong>u ao<br />
artista três Prêmios Eisner - o “Oscar”<br />
dos quadrinhos - em 1999, “Melhor série<br />
limitada”, “Melhor Roteirista” (Frank<br />
Miller) e “Melhor colorista” (Lynn Var-<br />
a batalha das Termópilas<br />
ley, na época esposa <strong>de</strong> Miller). No mesmo<br />
ano, ganhou <strong>um</strong>a edição especial,<br />
com capa dura e formato diferenciado<br />
(horizontal, com páginas formando belíssimos<br />
painéis duplos), exaltando sua<br />
qualida<strong>de</strong>. As duas edições chegaram ao<br />
Brasil - a primeira em 1999, pela Abril, e<br />
a segunda recentemente, em <strong>de</strong>zembro<br />
<strong>de</strong> 2006, pela Devir.<br />
Imediatamente após a publicação,<br />
Miller começou a receber telefonemas.<br />
Eram produtores <strong>de</strong> Hollywood, interessados<br />
em levar o gibi às telonas. Mas<br />
o autor nem quis ouvir as propostas -<br />
era tra<strong>um</strong>atizado <strong>de</strong>mais com o mercado<br />
cinematográfico <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ter<br />
trabalhado em dois roteiros <strong>para</strong> a série<br />
Robocop, <strong>de</strong>sgraçadamente mutilados e<br />
<strong>de</strong>scaracterizados pelo estúdio Orion Pictures.<br />
Seria necessário algo mais que <strong>um</strong>a<br />
pilha <strong>de</strong> dinheiro <strong>para</strong> que ele entregasse<br />
os direitos <strong>de</strong> sua obra mais pessoal aos<br />
engravatados da Meca do Cinema.<br />
Miller finalmente ce<strong>de</strong>u quando os<br />
produtores Gianni Nunnari e Mark<br />
Canton o procuraram. Nunnari, <strong>um</strong><br />
dos produtores <strong>de</strong> Se7en - Os sete pecados<br />
capitais (1995), leu a graphic novel<br />
e se empolgou, já que também sempre<br />
nutriu gran<strong>de</strong> interesse pela história das<br />
Termópilas. Apresentou-a então a seu<br />
amigo, Mark Canton, que conhecia o<br />
autor pessoalmente.<br />
“Quando eu estava envolvido com o<br />
filme do Batman, Frank estava escrevendo<br />
Conforme relatos do historiador grego Heródoto (484-425 a.C.), em 480<br />
a.C., <strong>um</strong>a pequena aliança <strong>de</strong> cida<strong>de</strong>s-estado gregas combateu na Grécia<br />
Central <strong>um</strong>a maciça força invasora persa empregando seu conhecimento<br />
do terreno, eficientes técnicas <strong>de</strong> combate e bloqueando a única estrada<br />
disponível. Mas <strong>um</strong> cidadão local, Efialtes da Trácia (cujo nome entrou<br />
<strong>para</strong> o idioma grego como sinônimo <strong>de</strong> traidor), traiu sua pátria e mostrou<br />
aos persas <strong>um</strong> caminho pelas montanhas que os levou atrás das linhas<br />
inimigas. Ao <strong>de</strong>scobrir o ardil, Leônidas, o rei espartano que <strong>de</strong>fendia o<br />
<strong>de</strong>sfila<strong>de</strong>iro das Termópilas - os “portões quentes” -, mandou <strong>para</strong> casa<br />
quase todos os seus aliados, ficando apenas com sua guarda <strong>de</strong> elite<br />
- os 300 - e outras poucas centenas <strong>de</strong> voluntários, todos cientes <strong>de</strong><br />
sua morte iminente. Dispondo <strong>de</strong> duas forças convergentes, Xerxes, o<br />
imperador persa (filho <strong>de</strong> Dario I, que também falhou em sua tentativa<br />
<strong>de</strong> conquista da Grécia), finalmente conseguiu romper a barreira. Mas a<br />
resistência heróica até o último espartano <strong>de</strong>u às <strong>de</strong>mais cida<strong>de</strong>s gregas<br />
o tempo necessário <strong>para</strong> organizarem suas <strong>de</strong>fesas, rechaçando <strong>um</strong> ano<br />
mais tar<strong>de</strong> a força invasora nas batalhas <strong>de</strong> Salamina e Platéias.
GAMES | escola <strong>de</strong> games<br />
Os jogos digitais inva<strong>de</strong>m as universida<strong>de</strong>s<br />
e prometem ser a profissão do futuro que já chegou.<br />
58 <strong>Omelete</strong> março 2007<br />
Por David <strong>de</strong> Oliveira Lemes
Bem-vindo<br />
AAté bem pouco tempo, quem<br />
quisesse trabalhar com criação e <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> games no Brasil teria<br />
<strong>de</strong> apren<strong>de</strong>r quase tudo na raça. Não<br />
existiam cursos especializados no assunto<br />
e tampouco mercado <strong>de</strong> trabalho.<br />
Mas esta realida<strong>de</strong> vem mudando aos<br />
poucos. O Brasil ainda está longe <strong>de</strong> ser<br />
<strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> potência <strong>de</strong>senvolvedora,<br />
mas começa a dar os primeiros passos<br />
<strong>para</strong> mudar este cenário.<br />
No início <strong>de</strong> 2007, pelo menos <strong>de</strong>z<br />
universida<strong>de</strong>s em todo o Brasil tinham<br />
em seu vestibular a opção <strong>para</strong> o curso<br />
<strong>de</strong> Jogos Digitais, nome dado pelo<br />
Ministério da Educação e Cultura<br />
(MEC) <strong>para</strong> o curso<br />
superior que trabalhará<br />
a criação e o <strong>de</strong>senvolvimento<br />
<strong>de</strong> games. Um<br />
gran<strong>de</strong> passo.<br />
Para refletir <strong>um</strong> pouco<br />
sobre a questão, vale ressaltar<br />
que nenh<strong>um</strong>a indústria cresceu e se<br />
consolidou tão rapidamente quanto a<br />
<strong>de</strong> games. Com isso, o mercado carecia<br />
<strong>de</strong> profissionais <strong>de</strong>vidamente treinados<br />
<strong>para</strong> a arte <strong>de</strong> criar e programar jogos<br />
digitais. A formação <strong>de</strong> quem queria<br />
trabalhar no segmento se dava por diversas<br />
vias <strong>de</strong>vido à inexistência <strong>de</strong> <strong>um</strong><br />
curso especifico. Quem queria ingressar<br />
no mercado teria que optar por curso<br />
<strong>de</strong> exatas e especializações nas mais<br />
diversas áreas.<br />
Lá fora, o primeiro curso superior<br />
totalmente voltado <strong>para</strong> o segmento<br />
foi o da cobiçada DigiPen Institute of<br />
Technology (www.digipen.edu), em<br />
Washington, nos EUA. Este fato mudou<br />
o cenário mundial e as instituições <strong>de</strong><br />
à Escola <strong>de</strong> Games<br />
ensino começaram a enxergar os games<br />
com bons olhos.<br />
E por <strong>aqui</strong>, estudar games não é<br />
<strong>um</strong>a ativida<strong>de</strong> tão nova assim. Já existe<br />
até <strong>um</strong>a turma formada pela Universida<strong>de</strong><br />
Anhembi Mor<strong>um</strong>bi, em São Paulo,<br />
que foi a pioneira em oferecer <strong>um</strong> curso<br />
superior em Design <strong>de</strong> Games. Durante<br />
as aulas, o aluno apren<strong>de</strong> a projetar<br />
jogos em diversas plataformas, como<br />
web e dispositivos móveis, além <strong>de</strong><br />
ganhar sólida formação em mo<strong>de</strong>lagem<br />
e animação 3D.<br />
O Centro Universitário Positivo<br />
(UnicenP), em Curitiba, foi a primeira<br />
instituição a oferecer curso <strong>de</strong><br />
pós-graduação lato sensu,<br />
<strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2001. Com duração<br />
<strong>de</strong> 18 meses e aulas<br />
quinzenais, o curso <strong>de</strong><br />
especialização é voltado<br />
<strong>para</strong> quem já é formado<br />
em alg<strong>um</strong>a área ligada à informática,<br />
com matérias abordando programação<br />
em C++, arquitetura <strong>de</strong> engines,<br />
inteligência artificial, game <strong>de</strong>sign,<br />
programação distribuída <strong>para</strong> jogos e<br />
outros temas.<br />
Mas estudar, <strong>para</strong> <strong>de</strong>pois trabalhar<br />
com games no Brasil não é nada fácil.<br />
Aliás, dá <strong>para</strong> montar <strong>um</strong> <strong>para</strong>lelo com<br />
outras profissões em que é preciso ser<br />
<strong>um</strong> verda<strong>de</strong>iro super-herói <strong>para</strong> sobreviver<br />
dignamente, como os que batalham<br />
no cinema ou história em quadrinhos.<br />
Segundo a Abragames, Associação<br />
Brasileira <strong>de</strong> Desenvolvedores <strong>de</strong> Jogos<br />
Eletrônicos, existem hoje cerca <strong>de</strong> 60<br />
empresas que criam e produzem games<br />
no Brasil. São jogos <strong>para</strong> celular, webgames,<br />
advergames (jogos <strong>para</strong> publicida-<br />
<strong>de</strong>), MMORPG (games que suportam<br />
milhares <strong>de</strong> pessoas ao mesmo tempo)<br />
e até jogos <strong>para</strong> console produzidos sob<br />
encomenda <strong>para</strong> serem comercializados<br />
no mercado internacional.<br />
Se a economia ajudar e o país se<br />
<strong>de</strong>senvolver, estas empresas po<strong>de</strong>m<br />
a<strong>um</strong>entar sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> produção<br />
e absorver a mão-<strong>de</strong>-obra, que em<br />
breve, sairá aos montes dos bancos das<br />
universida<strong>de</strong>s.<br />
Press Start<br />
Quem trabalha hoje com produção<br />
<strong>de</strong> games, sempre foi <strong>um</strong> apaixonado<br />
pelo assunto e na maioria dos casos,<br />
alimenta este sonho <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que tomou<br />
contato com os jogos digitais, ainda na<br />
infância.<br />
Para sintonizar paixão com razão<br />
é bom enten<strong>de</strong>r como o Ministério<br />
da Educação e Cultura classifica o<br />
profissional da área <strong>de</strong> jogos digitais.<br />
Segundo o MEC, “o profissional formado<br />
atuará no segmento <strong>de</strong> entretenimento<br />
digital, <strong>de</strong>senvolvendo produtos como<br />
jogos educativos, <strong>de</strong> aventura, <strong>de</strong> ação, <strong>de</strong><br />
simulação 2D e 3D entre outros gêneros.<br />
Trabalha com plataformas e ferramentas<br />
<strong>para</strong> a criação <strong>de</strong> games e no <strong>de</strong>senvolvimento<br />
e gestão <strong>de</strong> projetos <strong>de</strong> sistemas <strong>de</strong><br />
entretenimento digital interativo, em re<strong>de</strong><br />
ou isoladamente, <strong>de</strong> roteiros e mo<strong>de</strong>lagem<br />
<strong>de</strong> personagens virtuais e na interação<br />
com banco <strong>de</strong> dados. Po<strong>de</strong> atuar como<br />
autônomo ou em empresas produtoras <strong>de</strong><br />
jogos digitais, canais <strong>de</strong> comunicação via<br />
web, produtoras <strong>de</strong> websites, agências <strong>de</strong><br />
publicida<strong>de</strong> e veículos <strong>de</strong> comunicação”.<br />
Destinos não faltam, segundo o<br />
MEC. Mas <strong>para</strong> começar a jornada, é<br />
março 2007 <strong>Omelete</strong> 59