Sumário - arquivo virtual arqshoah
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<strong>Sumário</strong><br />
Jornada Interdisciplinar 2<br />
Intolerância e Holocausto na sala de aula: como estudar e ensinar<br />
Helena Lewin<br />
Aos Educadores 7<br />
Abraham Goldstein<br />
Coordenação Acadêmica e Institucional 10<br />
Objetivos 11<br />
Programação 12<br />
Textos para Reflexão<br />
Ascensão do Nazismo: Considerações Gerais 14<br />
Silvia Rosa Nossek Lerner<br />
Holocausto: História e Memória 20<br />
Maria Luiza Tucci Carneiro<br />
Cinema e Genocídio Judaico: Dimensões Históricas da 29<br />
Memória Audiovisual do Nazismo e do Holocausto<br />
Wagner Pinheiro Pereira<br />
O Holocausto nos Livros Didáticos: Silêncios e Omissões 47<br />
Helena Lewin<br />
Educação, Poesia e História: 51<br />
Um Diálogo Possível na Temática do Holocausto<br />
Kenia Maria Almeida Pereira<br />
Anexos<br />
Canção da Judia de Varsóvia – Poema de Jorge Amado 60<br />
Filmografia sobre o Holocausto 61<br />
Glossário 65<br />
Anotações 68<br />
1
Programa Educando para Cidadania e Democracia<br />
Jornada Interdisciplinar:<br />
Intolerância e Holocausto na Sala de Aula: Como Estudar e Ensinar<br />
Justificativa:<br />
Helena Lewin*<br />
As Ciências Sociais, clássicas e contemporâneas, apontam para a vertente da educação<br />
como agente responsável pela ampliação de conhecimentos sobre o mundo no<br />
qual o homem se encontra inserido e no manejo de instrumentalidades que garantem sua<br />
reprodução social e cultural.<br />
Porém, a função-educação transborda para além dessas proposições básicas na<br />
medida que se apresenta como poderosa ferramenta que determina trajetórias e comportamentos<br />
que regulam as relações interpessoais cujo princípio democrático da tolerância<br />
frente às diferenças pode, ou não, estar presente.<br />
Qual o significado da conceituação acima? Significa que os conteúdos programáticos<br />
da educação, em seu sentido amplo, devem ser permanentemente avaliados e atualizados<br />
a fim de refletir as mudanças operadas na estrutura social. Quando essas<br />
transformações estão desligadas, distanciadas, ou em flagrante contradição com o saber<br />
vigente da educação torna-se necessário repensar, reconfigurar e promover alterações<br />
em seu “corpus teórico e empírico”. Essas intervenções visam estabelecer<br />
sincronicidade entre o concreto da realidade social – base societária ou infraestrutural<br />
- e a instância do pensamento e da reflexão e seus instrumentos de ação – a superestrutura<br />
sócio-política e filosófica.<br />
Em outras palavras, é impossível manter indefinidamente a mesma visão de mundo e<br />
o mesmo estoque de sentimentos e fazeres em disparidade ou em conflito com a demanda<br />
exercida pelos movimentos de transformação, pacíficos ou revolucionários,<br />
que apresentam forte potencial de novas exigências influenciando os indivíduos submetidos<br />
a esse processo social.<br />
Apenas um exemplo para clarear o que acima foi mencionado:<br />
Sabemos que valores e costumes apresentam uma longa permanência de atuação,<br />
mesmo após sua gênese ter se extinguido na cotidianidade dos fatos sociais. Os preconceitos<br />
são exemplos flagrantes desse tipo de duração para além de sua emergência<br />
seguindo um caminho que, muitas vezes, se incorpora automaticamente no<br />
imaginário coletivo ganhando força e presença difícil de ser combatida. Difícil mas não<br />
impossível. Quanto antes se combate o preconceito e todas as formas de discriminação<br />
tanto maior pode ser o sucesso dessa empreitada.<br />
Considerando a multiplicidade dos meios de comunicação que a modernidade oferece<br />
e seu elevado ritmo de difusão torna-se imprescindível chamar atenção sobre os efeitos<br />
produzidos para fins de inclusão social ou, em sentido contrário, para a exclusão<br />
2
de grupos étnicos, raciais ou religiosos. Paralelamente, muitos desses instrumentos de<br />
divulgação utilizam-se do anonimato - a internet, por exemplo - escondendo seus veiculadores<br />
de assumir responsabilidades frente às assunções distorcidas que emitem.<br />
Deve-se considerar a importância da televisão que, sendo o meio de comunicação de<br />
maior audiência no mundo, possui características bem definidas de poderoso instrumento<br />
de formação de opinião em variadas áreas do conhecimento, grande parte das vezes<br />
assimiladas de maneira acrítica cuja forma de absorção pode ser definida como do tipo<br />
“esponja”. Há, também, que se levar em conta o papel dos impressos, de um modo<br />
geral representados pelos jornais, revistas e livros cujo relacionamento varia de acordo<br />
com o interesse do leitor ou a especialização do veículo apresentando públicos bastante<br />
assíduos, como o caso do livro didático ou escolar.<br />
Neste resumo de atribuições dos meios de comunicação cabe ainda introduzir a questão<br />
referente à instantaneidade da notícia e sua trajetória globalizada que permite transformar<br />
a <strong>virtual</strong>idade em tempo real decorrente do avanço tecnológico da nova civilização<br />
baseada na ciência da Informação.<br />
No intuito de promover uma extensa reflexão sobre os atuais preconceitos que se<br />
encontram fundamente instalados na sociedade brasileira torna-se necessário repensar<br />
o papel do professor e do livro didático na formação de consciências democráticas<br />
e nas premissas de responsabilidade da cidadania. O princípio da convivência entre<br />
propostas diferentes de modelos de vida e de cultura passa a ser um dos objetivos<br />
a ser alcançado através da socialização de conceitos baseados no diálogo da diversidade<br />
e do multiculturalismo. Isto significa dizer que uma das prerrogativas atribuída<br />
ao professor resulta ser a discussão aberta dos processos histórico-sociais<br />
determinantes da intolerância e que, com seus instrumentos de análise, possa demonstrar<br />
as distorções, falácias e armadilhas que jazem em suas falsas teorias.<br />
Pesquisas realizadas, apreciando o conteúdo dos livros didáticos adotados nos ensinos<br />
fundamental e médio pelas escolas do sistema escolar público e privado, revelaram<br />
uma alta carga de preconceito referido às questões de raça, religião, cor, gênero,<br />
nacionalismo, anti-semitismo e estrangeiros, entre outros. Desconstruir essas diversas formas<br />
de intolerância torna-se fundamental para produzir um clima de aceitação das diferenças<br />
conhecendo seus conteúdos históricos e filosóficos. Conduzir a bom termo<br />
esse processo didático-pedagógico requer uma elevada dose de conhecimentos e de<br />
criatividade por parte do professor.<br />
A desejada transformação nos padrões de conduta, nos referenciais e parâmetros<br />
relativos à elaboração de um pensamento escolar democrático traz como resultante<br />
um processo de interfecundidade cultural por via da aceitação dos direitos de igualdade<br />
entre todos os cidadãos mas resguardados os direitos da diferença dos grupos sociais.<br />
Essa sucessão de mudanças converte-se em uma salutar oxigenação intelectual<br />
produzindo vitalidade na convivência e no diálogo.<br />
Proposta de Trabalho:<br />
Muitas são as possibilidades de tratamento sócio-histórico em relação à questão da<br />
Intolerância, até aqui referido às questões genéricas do preconceito, conforme anteriormente<br />
enunciado.<br />
3
A observação tem demonstrado que importantes temas da contemporaneidade histórica<br />
estão ausentes da sala de aula. Esse fato pode decorrer de várias razões de ordem concreta<br />
– a inexistência de material didático específico ou a falta de atribuição de importância<br />
ao assunto – até aquelas de ordem subjetiva – o não se sentir competente para assumir<br />
responsabilidade pedagógica em área de conhecimento cujo conteúdo não domina.<br />
Essas razões podem funcionar como um grave entrave à formação dos jovens na medida<br />
que lhes é retirada a oportunidade de conhecer a natureza de processos sociais<br />
que, direta ou indiretamente, tem efeito sobre suas vidas e de seu país.<br />
As grandes metamorfoses que se sucedem velozmente no mundo em que se vive exigem<br />
ações drásticas para o seu enfrentamento. Neste sentido, cada vez mais, a capacitação<br />
e a especialização são necessidades do cotidiano. Conforme já mencionado,<br />
diferente do passado que uma vez adquirido um estoque de saberes, este se tornava<br />
suficiente para suprir ou ser manejado durante a vida útil do indivíduo. Hoje, a exigência<br />
de atualização se faz premente a ponto de expulsar do mercado de trabalho aqueles<br />
que estacionam nos patamares iniciais de sua formação ou carreiras. A demanda<br />
de incorporar novos conhecimentos advindos do avanço da ciência, tecnologia e produção<br />
histórico-cultural está presente em todas as profissões.<br />
Os processos de atualização, de busca de titulação avançada em cursos pós-graduados<br />
e a inserção em programas de treinamento intensivo refletem o modelo que se consignou<br />
denominar de “educação permanente” funcionando como uma ferramenta para atacar as<br />
lacunas que se vão ampliando ao longo da vida útil dos sujeitos produtivos.<br />
Contudo, não basta atualizar conhecimentos nas áreas das ciências, da tecnologia e seus<br />
campos afins. É preciso incorporar e expandir conhecimentos, atualizações e experiências<br />
referidas a todas especializações do saber objetivando construir um produto de dimensão<br />
humanista que possa sustentar moral e eticamente uma visão de mundo tolerante e solidária.<br />
Em assim sendo, este projeto tem a finalidade de oferecer a oportunidade de uma capacitação<br />
intensiva sobre a temática do Holocausto, ausente ou ligeiramente mencionada<br />
em sala de aula nas disciplinas de história social, política e econômica quando trata da<br />
2 a . Guerra Mundial e do regime autoritário nazista.<br />
O tratamento da questão do Holocausto nos programas de ensino é primordial para o<br />
entendimento completo do totalitarismo e seu processo correlato, a intolerância em<br />
todas as suas vertentes. A transmissão desse fato histórico – um fenômeno social a<br />
ser interpretado como crime contra a Humanidade – converte-se em poderoso instrumento<br />
pedagógico que, certamente, poderá fortalecer o sistema democrático brasileiro.<br />
Os jovens de hoje e as futuras gerações de amanhã devem estar cientes de que o<br />
Plano de Extermínio arquitetado e executado pelo III Reich em colaboração com vários<br />
outros países europeus, culminou com a morte de 6 milhões de judeus e milhares de<br />
ciganos, Testemunhas de Jeová, homossexuais e dissidentes políticos. Degradação,<br />
humilhação, tortura e extermínio são alguns dos estágios que caracterizam o cotidiano<br />
da morte planejada nos campos de concentração nazistas.<br />
Todo povo para exercer sua soberania obriga-se a resguardar sua memória nacional<br />
como condição primeira de sua identidade. Contudo, como nenhum povo<br />
está isolado das demais nações, tanto no tempo como no espaço, faz-se necessário<br />
incorporar conhecimentos de outras culturas para promover a integração civilizatória<br />
4
da condição humana na medida que aprendemos e, ao mesmo tempo, ensinamos<br />
nossos princípios de convivência e solidariedade.<br />
A divulgação do Holocausto em sala de aula, sob várias abordagens e leituras, propicia<br />
a formação de uma atitude de respeito às minorias e de reflexão sobre a responsabilidade<br />
de cada um na promoção de um mundo mais justo e tolerante.<br />
A Organização das Nações Unidas (ONU) promulgou o dia 27 de janeiro como o DIA<br />
DE LEMBRANÇA DO HOLOCAUSTO para ser celebrado nas escolas de todo mundo<br />
em consideração à data de libertação do maior campo de extermínio nazista - Auschwitz<br />
– objetivando que este trágico acontecimento jamais venha a se repetir. O Brasil,<br />
como país-membro da ONU, é signatário desta importante deliberação transnacional.<br />
A presente proposta de trabalho terá o respaldo institucional da Organização das Nações<br />
Unidas através de seu Centro de Informações sediado no Rio de Janeiro – UNIC.<br />
Considerando a exposição acima, o Programa de Estudos Judaicos da Universidade<br />
do Estado do Rio de Janeiro em parceria com a Associação B’nai B’rith de Direitos<br />
Humanos e o PROIN apresenta o Programa “EDUCANDO PARA CIDADANIA E<br />
DEMOCRACIA” no formato pedagógico da 6 a .Jornada Interdisciplinar “INTOLERÂN-<br />
CIA E HOLOCAUSTO EM SALA DE AULA: COMO ESTUDAR E ENSINAR”, especialmente<br />
desenhada para professores do 2 o .segmento do Ensino Fundamental<br />
utilizando os princípios da transversalidade e da interdisciplinaridade. As Jornadas Interdisciplinares<br />
são parte constituintes do Programa “EDUCANDO PARA CIDADANIA<br />
E DEMOCRACIA”, idealizado pela Prof. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro/ USP e apoiado<br />
pela Associação B’nai B’rith, desde 2005. Em agosto de 2007, a Faculdade de<br />
Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo por intermédio de<br />
seu Departamento de História realizou, pela segunda vez, a mencionada atividade acadêmica<br />
com a presença de mais de 300 professores da rede municipal cujo retorno<br />
se fez sentir com a solicitação de inúmeras escolas para que fossem oferecidas palestras<br />
e conferências para seus alunos como importante reforço visando manter, permanentemente,<br />
essa proposta de atualização didática.<br />
Integrando a programação do referido programa “EDUCANDO PARA A CIDADANIA E<br />
DEMOCRACIA” haverá um Concurso de Redações relacionado à temática, cujo título<br />
é “HOLOCAUSTO: UM ALERTA PARA A HUMANIDADE”, para os alunos do Ensino<br />
Fundamental cujos professores participaram da Jornada Interdisciplinar havendo premiação<br />
para os classificados segundo os melhores textos julgados a partir de uma<br />
banca composta por professores e intelectuais, além de homenagem aos professores<br />
orientadores.<br />
Observando a relevância do programa proposto, as entidades responsáveis por sua<br />
consecução contam com o imprescindível apoio da Secretaria de Educação do Município<br />
do Rio de Janeiro para que se cumpra o objetivo de formação de uma mentalidade<br />
democrática de nossos jovens alunos.<br />
A Jornada terá a duração de 8 (oito) horas de trabalho durante um dia completo, com<br />
distribuição de material didático especialmente confeccionado para esse curso e conferindo<br />
certificado oficial de freqüência.<br />
O local de realização da Jornada será na Universidade do Estado do Rio de Janeiro,<br />
na Capela Ecumênica, no dia 14 de junho de 2008, sábado, das 9 horas até 17 horas<br />
com dois intervalos: um para o almoço (1hora) e outro para lanche (30 minutos) ofere-<br />
5
cidos aos inscritos. Antes do início dos trabalhos, a partir das 8 horas, será entregue a<br />
pasta com material didático da Jornada, incluindo o Caderno de Textos especialmente organizado<br />
para atender os objetivos da mencionada Jornada.<br />
NOTAS<br />
* Prof. Dra. em Sociologia (USP)<br />
Coordenadora do PROGRAMA DE ESTUDOS JUDAICOS/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro<br />
6
Associação Cultural B’nai B’rith<br />
Rio de Janeiro, 14 de junho de 2008<br />
Aos Educadores da<br />
6 a . Jornada Interdisciplinar sobre o Ensino do Holocausto<br />
A Associação Beneficente e Cultural B’nai B’rith, o Programa de Estudos Judaicos do<br />
Departamento de Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da<br />
Universidade do Estado do Rio de Janeiro agradecem a presença de todos na VI a .<br />
Jornada Interdisciplinar sobre o Ensino do Holocausto.<br />
No período de 1939 a 1945, o mundo viveu a mais intensa e sangrenta guerra jamais<br />
conhecida, a Segunda Guerra Mundial.<br />
Ela não foi apenas uma guerra por conquista de algum bem material, ou espaço territorial,<br />
mas foi uma guerra provocada pela iniciativa de imposição de uma nova ordem<br />
social. Uma ordem que tinha um líder supremo, inconteste, intolerante e apoiado por<br />
um grupo que promoviam uma nova reordenação da estrutura social onde os seres<br />
humanos eram classificados entre os aceitos e os indesejáveis.<br />
Esta iniciativa, este pensamento, levou o mundo a dividir-se e lançar-se numa guerra que<br />
consumiu enormes recursos e principalmente, mais de 40 milhões de vidas humanas.<br />
Desenvolveu-se o processo de extermínio jamais visto e aplicado de forma sistemática<br />
e determinada, o Holocausto de seis milhões de Judeus, onde também foram mortos e<br />
submetidos a sofrimentos de toda espécie, milhares de Ciganos, Testemunhas de Jeová,<br />
e outros.<br />
Mas, depois de 6 décadas, o que aprendemos? O que fomos capazes de ensinar?<br />
Os fatos indicam que, pouco. Muito pouco.<br />
Tão pouco que a Assembléia Geral das Nações Unidas, reconheceu, 60 anos depois, em<br />
2005, a necessidade de ter um Dia Internacional de Lembrança das Vítimas do Holocausto.<br />
Lembrado a cada 27 de janeiro, data da libertação do maior campo de extermínio,<br />
Auschwitz-Birkenau, na Polônia, pelas forças aliadas. Consagrando assim, como um símbolo<br />
de repudio contra a Intolerância e o anti-semitismo em todo o mundo.<br />
Essa resolução da Assembléia Geral da ONU, por consenso de seus membros, com o<br />
apoio total do Brasil, recomendou aos países membros que promovessem programas<br />
educacionais no sentido de educar as jovens gerações sobre as trágicas conseqüências<br />
que podem ser geradas quando uma sociedade se deixa levar pelo autoritarismo<br />
e desrespeito aos valores da democracia, cidadania e liberdade.<br />
7
Em assim sendo, não é apenas a lembrança de um triste e único evento de nossa história,<br />
mas é a aprovação da rejeição de qualquer negação do Holocausto como um<br />
evento histórico e condena, sem reservas, todas as manifestações de intolerância religiosa,<br />
étnica e cultural.<br />
B’nai B’rith, em hebraico quer dizer, “filhos da aliança”. A aliança entre o homem e seu<br />
criador, D’us . Seu símbolo é a Menoráh, candelabro de sete braços. Cada um de seus<br />
braços tem um significado a lembrar: Luz, Justiça e Paz, com Beneficência, Fraternidade<br />
e Harmonia sob o manto da Verdade.<br />
A B’nai B’rith foi fundada em 1864, portanto, há 164 anos. Com o objetivo de ajudar<br />
aos necessitados, imigrantes, viúvas, órfãos e idosos.<br />
Está presente e ativa no Brasil há 75 anos.<br />
Desde os seus primeiros anos, a B’nai B’rith apoiou e envolveu-se ativamente nas<br />
campanhas dos direitos civis e em 1948, participou intensamente na elaboração da<br />
Declaração Universal dos Direitos do Homem, a qual celebraremos este ano os seus<br />
primeiros 60 anos.<br />
A B’nai B’rith tem presença em 54 paises, como Organização Não Governamental, tem<br />
assento permanente na ONU, na OEA, no Mercosul e na Comunidade Européia. Atua<br />
em prol da justiça, dos Direitos Humanos e pela segurança e inserção do democrático<br />
e livre Estado de Israel no seio das demais nações e organizações.<br />
É a mais antiga, maior e respeitada entidade internacional judaica atuante em Direitos<br />
Humanos e Beneficência.<br />
Entendemos e acreditamos que a incompreensão, ignorância e intolerância são os<br />
principais motivos que tem levado o homem a praticar atos de discriminação, atos de<br />
destruição, atos de racismo e de anti-semitismo.<br />
Portanto, nos preocupa de sobremaneira quando grupos organizados ou não, grupos<br />
com motivos religiosos e étnicos, vem promovendo a intolerância e apregoar a supremacia<br />
de seus valores sobre os demais.<br />
Por isso, temos que agir. Temos que atuar, temos que nos manter, constantemente presentes,<br />
consistentes e promovendo os valores e a ética que confiamos e acreditamos.<br />
Esta ação deve centrar-se na educação. Na educação de nossos cidadãos, de nossos<br />
educadores, de nossos filhos, nossos alunos e de todos aqueles que compartilham<br />
conosco deste maravilhoso pais e admirável mundo.<br />
Assim , desde 2003, a B’nai B’rith tem promovido, com a Sherit Hapleitá – entidade<br />
que trabalha, internacionalmente, a lembrança e os ensinamentos dos horrores do<br />
Holocausto – um CONCURSO de REDAÇÕES sobre o tema envolvendo as escolas<br />
públicas paulistanas, tendo o apoio da Câmara Legislativa do Município de São Paulo<br />
e da Secretaria Municipal de Educação.<br />
Para o sucesso deste programa torna-se necessário material didático e de farta documentação<br />
de apoio aos educadores. Assim, a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências<br />
8
Humanas da Universidade de São Paulo, sob coordenação da Prof. Dra. Maria Luiza<br />
Tucci Carneiro, organizou as Jornadas Interdisciplinares EDUCANDO PARA A<br />
CIDADANIA E DEMOCRACIA. Tendo como referência o Holocausto e abordando esta<br />
temática de modo inter e multidisciplinar visando promover os valores da democracia,<br />
da tolerância respeitosa e conhecimento dos deveres e direitos como cidadão.<br />
Para o Rio de Janeiro, sob a iniciativa e coordenação da Prof. Dra. Helena Lewin, coordenadora<br />
do Programa de Estudos Judaicos da Universidade do Estado do Rio de<br />
Janeiro , com o apoio da Secretaria Municipal de Educação e do PROIN, a B’nai B’rith<br />
do Rio de Janeiro e do Brasil organizam, apoiam, participam e promovem esta VIª<br />
JORNADA, que é parte integrante do CONCURSO de REDAÇÕES para os alunos do<br />
III Ciclo de Formação do Ensino Fundamental que terá como título “O HOLOCAUSTO,<br />
UM ALERTA PARA A HUMANIDADE”.<br />
Convidamos todos os educadores a participar deste concurso que premiará os 3<br />
primeiros classificados, seu respectivo educador e sua escola. O regulamento deste<br />
Concurso encontra-se em documento separado deste caderno.<br />
Todas estas iniciativas têm o principal objetivo de disponibilizar ferramentas que permitem<br />
ao educador aprofundar o seu trabalho em sala de aula com informações e<br />
referências a documentos e argumentos interpretativos que lhe apoiarão em sua tarefa<br />
e responsabilidade de educar os filhos de nossa sociedade, de nossa nação.<br />
Entendemos que, quanto mais conscientes dos valores da democracia, quanto mais<br />
preparados para o exercício da cidadania estiver nossa sociedade, mais compreensiva<br />
e atuante ela o será em busca de justiça social. Tomando para si e não delegando a<br />
ninguém a sua capacidade de conduzir e progredir no convívio pluralista e integrador,<br />
estaremos garantindo, para nossa sociedade, um Brasil sem discriminação, tolerante e<br />
assentado no princípio da paz.<br />
A todos, os saúdo e muito obrigado.<br />
Shalom,<br />
Abraham Goldstein<br />
Co-Presidente da B’nai B’rith do Brasil<br />
9
Coordenação Acadêmica e Institucional<br />
A presente Jornada Interdisciplinar “INTOLERÂNCIA E HOLOCAUTO NA SALA DE<br />
AULA: COMO ESTUDAR E ENSINAR” conta com o seguinte quadro de coordenação<br />
institucional:<br />
PROGRAMA DE ESTUDOS JUDAICOS/UERJ<br />
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Prof. José Augusto Rodrigues<br />
Departamento de Ciências Sociais – Prof. Cecília Mariz<br />
ASSOCIAÇÃO CULTURAL B’NAI B’RITH DE DIREITOS HUMANOS DO BRASIL<br />
Dr. Abraham Goldstein - Presidente<br />
Prof. Lia Bergman – Diretora de Comunicação<br />
ASSOCIAÇÃO CULTURAL B’NAI B’RITH DE DIREITOS HUMANOS DO RIO DE JANEIRO<br />
Dr. Eduardo Rabinovitch – Presidente<br />
Dr. Cláudio Gomma – Vice-diretor regional D.H.<br />
Dr. Leon Mayer – Vice-diretor regional<br />
Apoios:<br />
SECRETARIA MUNICIPAL DA EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO –<br />
Prof. Sonia Maria Correa Mograbi<br />
FEDERAÇÃO ISRAELITA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO –<br />
Dr. Sérgio Niskier<br />
Coordenação Acadêmica:<br />
Prof. Dra. Helena Lewin (UERJ)<br />
Prof. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro (USP)<br />
Prof. Silvia Rosa Nossek Lerner (UCM)<br />
10
Objetivos<br />
• Conscientizar diretores, professores e pais de alunos da necessidade emergente<br />
de incorporar o debate sobre racismo e anti-semitismo como Temas Transversais, sugeridos<br />
pelos Parâmetros Nacionais;<br />
• Sugerir conteúdos e material didático para subsidiá-los na criação de seu planejamento<br />
de trabalho e de uma política educativa coerente com o compromisso que as escolas<br />
têm de favorecer a construção da cidadania;<br />
• Eleger a dignidade da pessoa humana e a igualdade de direitos como princípios<br />
que devem orientar a educação escolar:<br />
a) Dignidade da Pessoa Humana: implica em respeito aos direitos humanos, repúdio<br />
à discriminação de qualquer tipo, acesso a condições de vida digna, respeito<br />
mútuo nas relações interpessoais, públicas e privadas;<br />
b) Igualdade de Direitos: refere-se a necessidade de garantir a todos a mesma dignidade<br />
e possibilidade do exercício da cidadania levando-se em consideração o princípio<br />
da eqüidade;<br />
• Transformar a escola não apenas em um espaço de reprodução de conhecimentos<br />
mas também um espaço de transformação social;<br />
• À luz desse debate revelar a fragilidade das democracias que, na contramão da história,<br />
se deparam muitas vezes, com sistemáticas violações dos direitos humanos;<br />
• Insistir na necessidade universal de preservar e afirmar a dignidade do cidadão e do<br />
homem, com base nos direitos que lhe são inerentes.<br />
11
Programação<br />
Programa de Estudos Judaicos – Uerj / Associação Cultural B’nai B’rith<br />
14 de Junho de 2008<br />
Parte I:<br />
8:30h - INSCRIÇÃO e distribuição de material aos professores participantes<br />
9:00h - ABERTURA OFICIAL<br />
Inauguração da Jornada Interdisciplinar - Reitor Prof. RICARDO VIEIRALVES DE<br />
CASTRO - Universidade do Estado do Rio de Janeiro<br />
Cumprimentos - Profa. SONIA MARIA CORREA MOGRABI - Secretária Municipal de<br />
Educação do Rio de Janeiro<br />
MESA I: INTRODUÇÃO AO TEMA<br />
Educando para a Cidadania: Direitos Humanos<br />
DR. ABRAHAM GOLDSTEIN - Presidente da Associação Cultural B’nai B’rith do Brasil<br />
As Nações Unidas e suas políticas de combate à Intolerância<br />
DR. GIANCARLO SUMMA - UNIC -Centro de Informação das Nações Unidas<br />
Intolerância: um óbice à democracia<br />
DR. SÉRGIO NISKIER - Presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro<br />
A Legislação Brasileira e seu conteúdo ético-moral em relação ao direito à diversidade<br />
DR. RONALDO GOMLEVSKI<br />
Mensagem de um sobrevivente<br />
ALEKSANDER LAKS - Presidente da Sherit Hapleitá<br />
10:00h<br />
MESA II: ANÁLISE HISTÓRICA - CONTEXTO EUROPEU E O HOLOCAUSTO<br />
Totalitarismo nazista e o Holocausto<br />
Prof. Dra. Maria Luiza Tucci Carneiro (USP)<br />
12
Literatura do Holocausto<br />
Prof. Dr. Renato Lessa (IUPERJ/UFF)<br />
O Revisionismo Histórico: o Negacionismo<br />
Prof. Dr. Franscisco Carlos Teixeira da Silva (UFRJ)<br />
12:30h – 13:30h - Almoço<br />
13:30 – 14:30 hs<br />
MESA III – A MÍDIA COMO INSTRUMENTO PEDAGÓGICO<br />
Imagens da Intolerância: cinema e propaganda na Alemanha nazista<br />
Prof. Wagner Pinheiro (LEER/USP)<br />
14:40 – 16:10 hs<br />
MESA IV: POR UMA PEDAGOGIA DA TOLERÂNCIA<br />
Apresentação do Projeto Paper Clips<br />
16:15 -17:00 hs<br />
MESA V – DEPOIMENTOS/ TESTEMUNHOS<br />
Documentário: Holocausto Nunca Mais – mensagem para um futuro mais tolerante<br />
17:00 hs - Coffee Break<br />
ENCERRAMENTO<br />
13
Ascensão do Nazismo:<br />
Considerações Gerais<br />
Silvia Rosa Nossek Lerner*<br />
Em 11 de novembro de 1918, após a queda da monarquia na Alemanha, sobe ao poder um<br />
governo republicano encabeçado pelo Partido Social-Democrata. Com a derrota da Alemanha<br />
na Primeira Guerra Mundial, o Tratado de Versalhes impunha à Alemanha cláusulas<br />
que reduziam sua área territorial e arrasavam sua economia. É nesse contexto que se desenvolve<br />
o nazismo, a forma mais extrema e típica do fascismo. O orgulho nacional alemão<br />
estava ferido tanto pela derrota militar como pelas cláusulas do Tratado de Versalhes.<br />
A partir do momento em que foi selada a paz, a oficialidade do exército inventou a lenda<br />
da “punhalada pelas costas” para explicar a derrota alemã. Segundo a tal “lenda”, a<br />
Alemanha só havia sido derrotada devido à influência dos políticos socialistas e dos<br />
elementos apátridas como os judeus.<br />
Em fins de 1918, o setor mais radical do Partido Social-Democrata, a Liga Espartaquista,<br />
rompeu como o setor moderado e fundou o Partido Comunista. Em 1919, os espartaquistas<br />
desencadearam em Berlim uma insurreição contra o governo social-democrata. O<br />
levante fracassou, resultando na execução de seus princípais líderes, Karl Liebknecht<br />
e Rosa Luxemburgo. Depois desse levante, os movimentos esquerdistas foram fortemente<br />
reprimidos em toda Alemanha.<br />
Em fevereiro de 1919, foi eleita uma Assembléia Constituinte, constituída em sua maioria<br />
por socialistas, que se reuniu na cidade de Weimar. Foi elaborada uma constituição que<br />
entrou em vigor em setembro desse ano e eleito o presidente da chamada República de<br />
Weimar, Friederich Ebert, que durou de 1919 a 1933, composta por dezessete Estados.<br />
Era federalista, democrática, liberal e parlamentarista. O presidente seria eleito por<br />
voto direto universal, pelo período de sete anos. Indicaria um chanceler a quem caberia<br />
efetivamente o exercício do governo: poderia aplicar as leis, submetê-las a uma aprovação<br />
popular, dissolver o Parlamento e adotar medidas excepcionais em caso de<br />
crise. O Reichstag (Parlamento) seria composto por deputados eleitos por voto universal,<br />
e o Reichsrat (Assembléia do Reino), por representantes dos Estados federados.<br />
A Fundação do Partido Nazista<br />
Adolf Hitler participou nos combates da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi ferido<br />
duas vezes e condecorado com a Cruz de Ferro. Enquanto se recuperava num hospital<br />
de campanha, remoia a derrota da Alemanha, considerando-a resultado não da eficiência<br />
do inimigo, mas da traição dos grupos políticos radicais dentro da própria<br />
Alemanha. Terminada a guerra, retornou a Munique.<br />
A amargura de Hitler pela derrota germânica, pela qual culpava judeus e socialistas o levou<br />
a se infiltrar como espião do exército em partidos minoritários. Acabou se unindo a um deles.<br />
14
Em 12 de setembro de 1919, Hitler aderiu a um minúsculo agrupamento político, pomposamente<br />
chamado de Partido Trabalhista Alemão, fundado alguns meses antes por<br />
um mecânico ferroviário chamado Anton Drexler. Seu programa falava em bem-estar do<br />
povo, direito à escolha da nacionalidade, igualdade perante o Estado, anulação dos tratados<br />
de paz e exclusão dos judeus da comunidade. Em 1920, Hitler que havia colocado<br />
sua enorme capacidade oratória a serviço do partido, contribui para a mudança de<br />
seu nome para Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (National-<br />
Sozialistiche Deutshe Arbeiterpartei) do qual se originou, em alemão, a sigla NAZI. O<br />
símbolo do partido era a bandeira vermelha com a cruz gamada (suástica). O programa<br />
denunciava os judeus, os marxistas e os estrangeiros, pela crise econômica, prometendo<br />
trabalho para todos e supressão das regras ditadas em Versalhes. O PNSTA com<br />
sua ala militar de tropas de assalto protegia suas próprias reuniões e dissolvia os seus<br />
oponentes. E reuniu as duas consequências da 1ª. Guerra: a necessidade de um bode<br />
expiatório e o culto da violência, praticando-a em cima dos judeus.<br />
A Alemanha do pós-guerra fervilhava de refugiados russos de origem alemã, alemães<br />
bálticos e antigos membros de grupos anti-semitas czaristas. Todos esses realçavam a<br />
conexão judaico-bolchevista, que se tornou o elemento central da ideologia de Hitler.<br />
A Hiper-Inflação Alemã<br />
Em 1918, a economia alemã estava arruinada: a produção industrial diminuíra 57% e a<br />
agrícola 50%. Essa situação de crise propiciava a instauração do caos político-social e<br />
abrigava espaço para o surgimento de lideranças radicais.<br />
As tensões foram ampliadas pelas dificuldades econômicas. A inflação era um problema<br />
grave. Durante a guerra, sem poder aumentar os impostos sobre os ganhos de<br />
capital, as finanças foram equilibradas através da emissão monetária.<br />
Na Alemanha, os preços ultrapassaram a barreira de 1% ao dia, pela primeira vez,<br />
em agosto de 1921. A partida para a hiper-inflação ocorreu sob o impacto de três<br />
acontecimentos:<br />
- junho de 1922: a rejeição dos aliados ao apelo alemão para o empréstimo no exterior,<br />
- na mesma data, o assassinato por extremistas da direita nacionalista do Chanceler<br />
Walter Rathenau, um industrial judeu que desejava que a Alemanha cumprisse o tratado<br />
de paz para restaurar a normalidade internacional,<br />
- janeiro e fevereiro de 1923: tropas francesas e belgas ocuparam o vale de Ruhr para<br />
forçar o pagamento de reparações, área industrial, para garantir o pagamento das indenizações<br />
estipuladas pelo Tratado de Versalhes.<br />
O governo inundou o país com papel-moeda e créditos baratos para subsidiar a “resistência<br />
passiva” à invasão de Ruhr. Os franceses diziam que Berlim estava destruindo o<br />
marco para chantagear os aliados a desistirem das reparações que o tratado impunha.<br />
Em junho de 1923, a inflação alemã era de 3,5% ao dia, aumentando para 6,5% ao dia<br />
em agosto, 11,2% em setembro e, finalmente, 20,9% em novembro de 1923, quando<br />
os preços dobravam a cada quatro dias. Cidades e empresas foram autorizadas a emi-<br />
15
tirem moedas auxiliares. O salário variava no decurso do mesmo dia, enquanto os<br />
camponeses se recusavam a ceder a produção em troca de papel-moeda, fazendo<br />
ressurgir o sistema de troca.<br />
Ainda em 1923, para forçar a França a abandonar o vale do Ruhr, o governo alemão<br />
incentivou uma gigantesca greve de alguns milhões de operários naquela região. Para<br />
sustentar o movimento grevista durante meses, o governo alemão pagava parte dos<br />
salários aos operários, sendo dessa forma forçados a realizar grandiosas emissões de<br />
papel moeda que resultaram no maior surto inflacionário da história da humanidade.<br />
Em outubro do mesmo ano, 1 dólar chegou a valer 8.000.000.000 marcos, quando a<br />
hiper-inflação atingiu uma taxa mensal de 30.000%. O Reischbank colocou rotativas de<br />
jornal para imprimir dinheiro tão rápido que dava para emitir por dia dois terços de toda<br />
a moeda já em circulação. Trinta fábricas trabalhavam para emitir o papel-moeda e<br />
133 firmas imprimiam o dinheiro.<br />
Para melhor entender a situação, observe no quadro a seguir a trajetória de desvalorização<br />
do marco:<br />
PERÍODO VALOR EQUIVALENTE A 1 DÓLAR<br />
1914 4 marcos<br />
1920 84 marcos<br />
Janeiro de 1922 186 marcos<br />
Junho de 1922 401 marcos<br />
Janeiro de 1923 7.260 marcos<br />
Julho de 1923 260.000 marcos<br />
Setembro de 1923 13 milhões de marcos<br />
Novembro de 1923 4 bilhões de marcos<br />
O embaixador britânico em Berlim observou:<br />
“O descrédito que lança em suas próprias notas aumenta ainda mais rápido que o volume<br />
das notas em circulação. O efeito é maior que a causa: a cauda anda mais depressa<br />
que o cachorro”, disse ele.<br />
O Putsch da Cervejaria – Tentativa de Tomada de Poder<br />
Aproveitando-se do descontentamento geral, um grupo do partido Nacional-Socialista,<br />
liderado por Hitler e apoiado pelo general Ludendorff, tentou um golpe nos dias 8 e 9<br />
16
de novembro de 1923, em Munique. Pretendiam promover o golpe acusando os capitalistas<br />
e os judeus de conspirarem contra a República. O golpe (Putsch) fracassou.<br />
Hitler foi preso e condenado a cinco anos de prisão. Ficou preso durante nove meses e<br />
em seguida foi posto em liberdade, tendo aproveitado esse período para escrever a<br />
primeira parte do seu livro Minha Luta (Mein Kampf), seu credo político auto-biográfico.<br />
Nessa obra, Hitler procurou mostrar que o povo alemão, para ele “super dotado do<br />
ponto de vista racial”, deveria ser guiado pelos nazistas ao seu máximo destino, ou seja,<br />
predominar sobre o resto da humanidade. Abaixo 3 exemplos da ideologia apresentada<br />
por Hitler em seu livro “Mein Kampf”:<br />
“...o ariano, tipo superior da humanidade, portanto, arquetipo compreendido pelo termo homem...”<br />
“...um estado que se dedica a preservar os melhores elementos de sua raça(arianos), será um dia Senhor<br />
da Terra...”<br />
“...os judeus são a doença da raça humana. Devemos livrar o mundo desse mal...”<br />
A Estabilidade Econômica na República de Weimar (1924 – 1929)<br />
Com a morte do presidente Ebert, em 1925, Hindenburg foi eleito para substituí-lo, trazendo<br />
consigo o apoio da aristocracia imperial para a República. Hindenburg era um<br />
monarquista convicto e pensava numa restauração imperial. Eleito com 15 milhões de<br />
votos contra 14 milhões de seu adversário, trouxe o apoio do Exército para a República,<br />
mas deu a esta um sentido mais conservador.<br />
Entre 1924 e 1929 a República de Weimar passou por um período de estabilidade e<br />
crescimento. Entre os fatores de estabilidades contam-se: no plano político, a habilidade<br />
de ministro das Relações Exteriores, Gustav Stresemann, que conseguiu<br />
reduzir o montante das indenizações de guerra devidas pela Alemanha; a admissão<br />
dos alemães na Sociedade das Nações; a evacuação antecipada da região da<br />
Renânia (1930); e a entrada de créditos americanos, que facilitaram o pagamento<br />
das reparações.<br />
A recuperação econômica deveu-se principalmente ao economista Hjalmar Schacht.<br />
Criou-se uma nova moeda, o rentenmark (1 rentenmark = a 4,2 dólares = 4 bilhões e<br />
duzentos milhões de marco-papel). A nova moeda foi sustentada por recursos ingleses<br />
e americanos, cuja garantia completa era o patrimônio das indústrias alemães. A indústria<br />
recuperou-se em bases sólidas, as empresas frágeis foram à falência, seguindo-se<br />
um processo de concentração industrial, com avanço tecnológico que abriu as<br />
portas do mercado internacional às empresas alemães. Um só empresa no setor carbonífero<br />
empregava 160.000 operários e detinha 25% da produção de carvão e 40%<br />
do setor de aço; 80% da produção química pertencia a um único conglomerado.<br />
Em 1929, a produção industrial era 113% maior que dezesseis anos antes. A partir<br />
desse ano, no entanto, a crise mundial provocaria um novo colapso na economia, possibilitando<br />
a ascensão do nazismo.<br />
17
A Crise de 1929 e a Agitação Política<br />
A crise de 1929 afetou a economia alemã. Sem os créditos concedidos pelos Estados<br />
Unidos, a Alemanha não poderia continuar pagando indenizações. Não encontrava<br />
mercados consumidores para seus produtos. Apesar de tudo, as grandes corporações<br />
alemãs continuavam firmes em suas posições: quem sofria intensamente eram os pequenos<br />
e médios empresários, que empregavam metade dos trabalhadores existentes<br />
no mercado. O resultado foi o desemprego em massa: 1 milhão de desempregados em<br />
1929, 3 milhões em 1930 e mais 6 milhões em 1931. A classe média estava arruinada.<br />
Os camponeses, endividados, deviam o dobro do valor de suas terras para credores.<br />
A crise econômica provocou uma onda de anti-semitismo, que identificava os judeus<br />
com o dinheiro, a usura e o capitalismo internacional. Ela trouxe um golpe fatal aos<br />
sentimentos republicanos, liberais e democráticos, favorecendo os movimento extremistas.<br />
Os comunistas ganhavam cada vez mais votos e assentos no Parlamento, dispostos<br />
a formar uma frente vermelha contra os fascistas. A extrema direita nacionalista<br />
estava muito dividida, perdendo a liderança para o partido Nacional-Socialista.<br />
Como Hitler Chegou ao Poder? (1933)<br />
O extremismo político tomou conta da Alemanha com a crise de 1929. Aproveitando-se<br />
da situação, os nazistas faziam proclamações, gigantescas paradas e desfiles das<br />
forças paramilitares: SA e SS. Denunciavam os democratas, os marxistas e acima de<br />
tudo os judeus. Prometiam trabalho aos desempregados, supressão da usura, contenção<br />
de preços no comércio, luta contra o socialismo e contra o grande capital. E, para<br />
todo o povo alemão, prometiam a destruição das imposições de Versalhes.<br />
A incapacidade do governo parlamentar em solucionar a crise contribuiu para a polarização<br />
das forças políticas e o fortalecimento dos partidos comunista e nazista, este<br />
financiado por industriais e banqueiros, temerosos do crescimento comunista.<br />
Hitler surgia então como o grande campeão da luta contra o bolchevismo. Por isso, a<br />
maior parte das grandes empresas capitalistas deram-lhe considerável apoio financeiro,<br />
a partir de 1932. Reunindo os descontentes de todos os lados – principalmente<br />
a classe média e os camponeses – o partido evoluiu de 400.000 membros de<br />
1928, para 1,5 milhão em 1930.<br />
Hitler candidatou-se à presidência. Na eleição, em 13 de março de 1932, obteve 30% dos<br />
votos, enquanto que seu adversário Hindenburg (que estava na tentativa de uma reeleição)<br />
recebeu 49%. No segundo turno, Hitler foi novamente derrotado, recebendo apenas<br />
36% do total de votos. Isso significava que o Presidente Hindenburg, agora idoso iria<br />
prorrogar seu mandato por mais sete anos. Porém, a República estava fraca e instável.<br />
Finalmente, em 30 de janeiro de 1933, após uma conspiração habilmente planejada e realizada<br />
sob comando de Franz Von Papen, o próprio Hindenburg se viu obrigado a nomear<br />
Hitler como o Chanceler da Nação Alemã (o cargo mais importante do governo).<br />
A 27 de fevereiro de 1933 os nazistas incendiaram o parlamento alemão e puseram a<br />
culpa nos comunistas, que foram aprisionados junto com os socialistas e os liberais<br />
18
hostis ao nazismo. Restabeleceu-se a pena de morte e foram suspensas as garantias<br />
individuais e civis. O Partido Comunista estava definitivamente afastado do cenário político.<br />
A 23 de março, Hitler conseguiu do Parlamento o voto que lhe dava plenos poderes,<br />
com o apoio dos católicos, que acreditavam na possibilidade de uma concordata, como<br />
ocorrera na Itália de Mussolini.<br />
Com a morte de Hindenburg, em 2 de Agosto de 1934, Hitler acumulou as funções de<br />
Chanceler e Presidente. Todos os funcionários e oficiais deveriam prestar-lhe juramento<br />
pessoal de fidelidade. Hitler se tornava o Fuhrer alemão, título referendado por<br />
38 milhões de votos (90% do total) em plebiscito no dia 19 de agosto de 1934, além de<br />
chefe das Forças Armadas. Iniciava-se o Terceiro Reich.<br />
NOTAS<br />
* Professora com especialização em Estudos do Holocausto<br />
Pós-graduação em História do Século XX – Universidade Cândido Mendes.<br />
19
Holocausto: História e Memória<br />
I - Educando para a Cidadania e a Democracia<br />
Maria Luiza Tucci Carneiro*<br />
Introduzir a história do Holocausto nas salas de aula é, sem dúvida, um desafio para o<br />
professor e o aluno. Um desafio intelectual e emocional pois nem todos estão preparados<br />
para aprender e discutir sobre este tema que extrapola os limites da História enquanto<br />
disciplina escolar. Por sua dimensão de crime contra a Humanidade, a história<br />
do Holocausto fornece informações únicas acerca da natureza e a execução de práticas<br />
genocídas em diferentes países da Europa e das Américas. Apesar de ter reconhecida<br />
a sua importância para além do anti-semitismo e do nazismo, o Holocausto<br />
continua s ser tratado como um assunto complementar, à margem dos ensinamentos<br />
sobre a Segunda Guerra Mundial.<br />
Temos ressaltado durante a realização das várias Jornadas Interdisciplinadres sobre o<br />
ensino do Holocausto, que o professor não precisa ser um expert em História para<br />
ensinar seus alunos a se tornarem seres mais humanos. Através da matemática, da<br />
geometria, da literatura, da geografia, das ciências biológicas, do teatro, da música ou<br />
das artes em geral, o tema pode ser discutido sob múltiplos viézes. Além de alertar<br />
sobre as consequências catastróficas dos regimes totalitários e o perigo das idéias<br />
racistas, o debate sobre o Holocausto passa, necessariamente, pela compreensão dos<br />
direitos humanos, levando-nos a refletir sobre a responsabilidade do Estado pela<br />
preservação da vida do cidadão. O estudo interdisciplinar do Holocausto poderá colaborar<br />
para a afirmação de uma série de princípios democráticos que, no seu conjunto, devem<br />
reger a vida social e política de toda a nação que valoriza a dignidade humana e a<br />
igualdade de direitos.<br />
O desafio está em fazer o aluno, assim como o educador, se colocar no lugar do<br />
“outro”, procurando compreender seus pontos de vista e suas motivações ao interpretar<br />
suas ações. É difícil pensar nas histórias dos milhões de judeus exterminados nas<br />
câmaras de gás pelos nazistas sem se envolver emocionalmente. Imagens de morte<br />
em massa, fome e degradação humana em todos os níveis podem se tornar referências<br />
para outros grupos étnicos que hoje são vítimas da exclusão social; da mesma<br />
forma que os atos de solidariedade praticados por aqueles que ajudaram a salvar<br />
judeus durante a Segunda Guerra Mundial podem incentivar um adolescente a estender<br />
a mão ajudando ao seu próximo.<br />
Os educadores precisam ter em mente que a sociedade atual não precisa de heróis e sim<br />
de cidadãos conscientes de que a violência e o extermínio de um povo é inadimissível.<br />
Ainda que seja difícil explicar aos seus alunos o que significou para a civilização a<br />
morte de 6 milhões de judeus pelo Estado nazista e países colaboracionistas – além<br />
de outros tantos milhões de mortos não-judeus, como ciganos, homossexuais,<br />
comunistas, testemunhas-de-jeová, doentes mentais – um educador não pode ficar<br />
20
calado diante desta tragédia. Argumentar, simplesmente, que o tema não é ensinado<br />
por não constar do “programa obrigatório” é uma desculpa por demais esfarrapada. O<br />
educador que aguarda por uma lei que venha a instituir o ensino da história do<br />
Holocausto nas salas de aula está sendo conivente com os silêncios propositais da<br />
história. Diante desta situação, é que passamos a organizar as nossas jornadas de<br />
forma a gerar agentes multiplicadores de conhecimentos capazes de investir contra a<br />
ignorância, os revisionistas, o anti-semitismo e os neonazistas.<br />
II- Genocídio ou Genocídios?<br />
Será o Holocausto o exemplo máximo da crueldade e do ódio, fenômeno “sem<br />
precedentes na história da Humanidade”? Perguntas como estas instigam, desde o final<br />
da Segunda Guerra Mundial, a polêmica sobre o que é genocídio? Muitas vezes,<br />
esta definição vem sendo desvirtuada pelas nações que foram vítimas de genocídio e<br />
que procuram definir sua experiência como única. Consideramos que, realmente, os<br />
extermínios são experiências únicas, mas não exclusivas de um grupo ou povo. Mas,<br />
não podemos perder de vista os elementos que permitem análises comparativas necessárias<br />
para distinguirmos o fenômeno nas suas dimensões. Coube aos julgamentos<br />
realizados em Nuremberg em 1946, os primeiros esforços com o objetivo de definir e<br />
punir crimes contra a humanidade sob leis internacionais.<br />
Importante lembrar que a expressão “crime contra a Humanidade” apareceu após a I<br />
Guerra Mundial servindo como referência ao genocídio dos armênios promovido pelos<br />
turcos entre 1915-1923. O conceito de genocídio foi introduzido pelo jurista, judeu<br />
polonês refugiado do nazismo Raphael Lemkin no início de 1944 e retomado por<br />
ocasião do estabelecimento da Convenção da Organização das Nações Unidas sobre<br />
Prevenção e Sanção do Crime de Genocídio (CONUG), ratificada pela maioria das<br />
nações membros da ONU em 1948. A partir deste momento o crime de genocídio foi<br />
incorporado ao Direito Internacional expressando um avanço na legislação sobre direitos<br />
humanos.<br />
Em seu estudo Axis Rule in Occupied Europe, Lemkin define que a essência do<br />
genocídio está na tentativa de “destruição de uma nação ou de um grupo étnico por<br />
diferentes meios”. Em 1947, Lemkin destacou que o genocídio implica na negação do<br />
direito de existir de grupos humanos inteiros, no mesmo sentido em que o homicídio<br />
nega à um indivíduo seu direito de viver”. Ampliando ainda mais este seu conceito,<br />
Lemkin também inclui como genocídio a destruição parcial de grupos e o genocídio<br />
cultural que, na sua opinião, “implica na destruição do patrimônio cultural de um grupo”<br />
[Lemkin, 1944:79; 2002: 392].<br />
Outros estudiosos, dentre os quais citamos Robert Melson, procuraram definir<br />
genocídio sob o aspecto não jurídico: “é uma política pública levada a cabo<br />
principalmente pelo Estado, cuja intenção é a destruição total ou parcial de uma<br />
coletividade ou categoria social, geralmente um grupo comunitário, uma classe ou uma<br />
facção política”. [Melson: 1992:26]. A questão está em avaliar se a palavra “genocídio”<br />
se presta para abranger todos os tipos de assassinatos em massa e de mortes coletivas<br />
praticadas pelo homem e se o Holocausto é realmente “o único genocídio, sem<br />
precedentes na história da Humanidade”. Constatamos que não há um consenso entre<br />
21
as definições de genocídio que persistem nos campos jurídico e não jurídico. Mesmo<br />
assim, a definição jurídica anunciada na CONUG e ratificada pela maioria das nações<br />
membros da ONU em 1948, tem servido de referência jurídica e ético-moral internacional<br />
sobre genocídio e a sua prevenção.<br />
Enfim, podemos enumerar diferentes genocídios distintos por sua tipologia (físico,<br />
biológico, cultural, etc), causas, ideologias e conseqüencias, identificados em distintos<br />
momentos da história moderna e contemporânea. Daí a necessidade dos estudos sobre<br />
genocídio serem guiados por uma perspectiva histórica e comparativa. Retomo aqui uma<br />
expressão cunhada por Daniel Feierstein, estudioso do assunto na Argentina, que resume<br />
genocídio como “a administração da morte na modernidade”. [Feierstein: 2005].<br />
III- Holocausto, um fenômeno singular na História<br />
O Holocausto deve ser avaliado como a expressão máxima da crueldade e do ódio: um<br />
exemplo singular de genocídio e de crime contra a humanidade. Deve ser estudado enquanto<br />
fenômeno político-social característico do século XX. Até então não se tinha visto,<br />
em toda a história da humanidade, uma catástrofe com tamanhas dimensões.<br />
A Shoah, segundo o historiador Serge Klarsfeld, deve ser tratada de forma distinta das<br />
outras tragédias por resultar da combinação de vários elementos:<br />
1 - É um drama da civilização européia: por ter resultado de um plano articulado pelo<br />
Estado alemão, então liderado por Adolf Hitler entre 1933-1945, e levada a cabo em<br />
todos os territórios ocupados pelos nacional-socialistas. Devemos considerar que<br />
esses países agiram como cúmplices locais enquanto que muitos outros – que se<br />
diziam “neutros”, como é o caso da Espanha, Portugal, Suíça, Suécia – foram<br />
cúmplices indiretos por terem colaborado com o genocídio premeditado pelo III Reich e<br />
recusado vistos aos judeus interessados em emigrar para outros países da Europa e<br />
das Américas, em especial;<br />
2 - É um drama da civilização cristã: considerando que o Estado nazista executou o<br />
plano de extermínio do povo judeu em territórios habitados por cidadãos católicos e<br />
protestantes;<br />
3 - É uma tragédia da modernidade: considerando que o Estado nazista concebeu a<br />
matança industrial (em série) de suas vítimas exterminadas em câmaras de gás<br />
camufladas e munidas de fornos crematórios. Devemos considerar que a execução do<br />
plano contou com uma poderosa e racional organização administrativa, policial e diplomática,<br />
baseada na divisão do trabalho, grandes redes ferroviárias e os mais rápidos<br />
meios de comunicação (telex, telegramas, despachos, telefones). Todos estes<br />
artifícios expressivos da modernidade foram colocados ao serviço da Solução Final<br />
pelo Estado nazista.<br />
4 - É um drama da natureza humana: consideramos que o homem não nasce com<br />
preconceitos e que estes são produtos da educação e da propaganda sistemática. Por<br />
intermédio dos meios de comunicação e de uma polícia especial, o terror e o ódio às<br />
raças consideradas impuras se propagaram. A população foi aliciada e mobilizada de<br />
tal forma que passou a aceitar a idéia de que os judeus eram indivíduos perniciosos, e<br />
22
comparados a vermes, animais pestilentos e vírus. Como tais deveriam ser eliminados.<br />
Os depoimentos dos sobreviventes e os documentos oficiais têm comprovado que a<br />
crueldade nazi não conheceu limites. Se avaliada nas suas reais dimensões verificaremos<br />
que eles revelam a sua profunda bestialidade;<br />
5 - É um drama indizível: imediatamente no pós-guerra, a Shoah não recebeu um<br />
nome. Durante o processo de Nuremberg contra os criminosos nazis falou de “genocídio<br />
dos judeus”. Com a Guerra Fria, um profundo silêncio histórico recaiu sobre o<br />
Holocausto. Somente após a decisão do governo de Israel de se sustentar um processo<br />
judicial contra Adolf Eichmann, em 1961, é que a Solução Final da questão judaica,<br />
saiu do ostracismo;<br />
6 - É um drama ameaçado de esquecimento ou de negação: no final dos anos 70,<br />
fomos envolvidos por uma corrente de pseudo-historiadores, negacionistas e outros<br />
falsificadores da História interessados em “apagar” este fato da História da Civilização<br />
Ocidental. Diante destas contestações, formou-se uma corrente contrária dedicada a<br />
resgatar a memória daqueles que haviam passado pelos campos de concentração e<br />
de extermínio, de forma a reunir a indispensável documentação sobre cada aspecto do<br />
Holocausto. Desde então, importantes testemunhos, foram registrados em audio e vídeo,<br />
ao mesmo tempo que vários centros de documentação eram reavivados ou criados<br />
com o objetivo de “lembrar sempre”.<br />
7 - É uma experiência secular: o extermínio dos judeus pelos nazistas deve ser avaliado<br />
como uma progressão lógica nas relações cristãos e judeus ao longo da história<br />
ocidental. Desde que o cristianismo se tornou a religião do Ocidente, o tratamento<br />
dado aos judeus tem se caracterizado por três etapas que se alteram: conversão, expulsão<br />
e eliminação. O nazismo nada mais fez do que recorrer a esta prática secular,<br />
valendo-se de novos conhecimentos científicos e de nova tecnologia. Até mesmo a<br />
imagem esteriotipada do judeu foi inspirada em textos que remontam ao século XVI. A<br />
grande inovação está, realmente, nos argumentos pseudocientíficos e na invenção da<br />
Solução Final.<br />
IV- O aparato institucionalizado do terror<br />
Entre 1933-1945, os nazistas através de um plano sustentado pelo Estado alemão<br />
transformaram o anti-semitismo e a eutanásia em instrumentos cruciais para a extermínio<br />
de milhões de judeus, além de ciganos e homossexuais. Podemos considerar que,<br />
sem o suporte racista e a ciência eugênica, a operação da matança dos judeus em escala<br />
industrial seria impossível. Por intermédio dos meios de comunicação e de uma<br />
polícia especial, o terror e o ódio às raças consideradas impuras se propagaram. A<br />
população foi aliciada e mobilizada de tal forma que passou a aceitar a idéia de que os<br />
judeus eram indivíduos perniciosos e, comparados a vermes, animais pestilentos e<br />
vírus, deveriam ser eliminados. Não podemos nos esquecer que o campo de concentração<br />
de Auschwitz e os assassinatos em massa perpetrados pelos nazistas e países<br />
colaboracionistas são ocorrências únicas, apesar dos alemães tentarem, no pós-guerra,<br />
minimizarem seus crimes. Hoje, diante da recente abertura dos <strong>arquivo</strong>s nazistas e<br />
dos testemunhos dos sobreviventes dos campos de extermínio, as políticas genocidas<br />
sustentadas pelo III Reich ganharam maior visibilidade.<br />
23
O extermínio de seis milhões de judeus, conhecido como Solução Final, foi decidido e<br />
executado por Hitler e seus homens entre 1939-1944, ou seja, num momento decisivo<br />
da Segunda Guerra Mundial. A Solução Final se processou em três etapas distintas. A<br />
primeira delas entre 1933-1938 pôs em prática o boicote econômico e a represália cultural.<br />
A segunda etapa, 1938-1941, o prenúncio da catástrofe e, finalmente entre os<br />
anos de 1941-1945 o extermínio como objetivo máximo da Solução Final. Uma rede de<br />
campos (de concentração, de trabalho e de extermínio) espalhou-se por toda a Europa<br />
ocupada pelos nazistas. Logo após a ascensão de Hitler ao poder, uma lei especial<br />
[Lei para a Proteção do Povo e do Estado, promulgada em 28 de fevereiro de 1933]<br />
possibilitou a abertura dos primeiros campos de concentração erguidos em Dachau,<br />
Quednau, Königswusterhausen, Bornim, Hammersitein, Oranienburg, Ravensbrück e<br />
Mauthausen. A prisão nestes campos funcionou como estratégia para forçar os judeus<br />
a deixarem a Alemanha e, também para facilitar o confisco de suas propriedades.<br />
Em 14 de julho de 1933 era decretada a Lei para a Profilaxia da Progênie com Doença<br />
Genética determinando a esterilização forçada nos casos de “imbecilidade congênita,<br />
esquizofrenia, loucura circular, epilepsia hereditária, coréia hereditária”. Só em<br />
Hamburgo foram esterilizadas 62.463 pessoas em 1934 e 64.646 em 1935. Em 1935,<br />
o Centro de Estudos II - Junta Consultiva de Especialistas em Política Educacional e<br />
Racial deliberou sobre a esterilização de 380 crianças negras entregues à Gestapo<br />
para as clínicas universitárias.<br />
Após a Noite dos Cristais (Kristallnacht) ocorrida entre 9 e 20 de novembro de 1938, o<br />
número de prisioneiros nos campos aumentou e instigou o clima de terror, forçando os<br />
judeus a emigrar. Esta situação explica o fluxo crescente de refugiados em busca de<br />
vistos junto aos consulados e embaixadas, dentre as quais as brasileiras. Cabe lembrar<br />
que, entre 1937-1948, o governo brasileiro manteve Circulares Secretas impedindo<br />
a entrada dos “semitas” no Brasil. Milhares de vistos foram indeferidos e, até o<br />
momento, não se conhece a extensão dos danos causados aos judeus, muitos dos<br />
quais foram levados para campos de extermínio. A partir de 1939, os campos de concentração<br />
e a política anti-semita passaram por uma grande reformulação. Em decorrência<br />
da guerra, o Reich resolveu fazer uso da infra-estrutura e da mão de obra<br />
judaica disponível com vistas a fortalecer o seu capital bélico. Por outro lado, ao invés<br />
de pressionar os judeus para saírem da Alemanha, optou por “solucionar” a questão<br />
por meios de assassinatos esporádicos e, posteriormente, do extermínio em massa.<br />
Ao mesmo tempo, cientistas eram incentivados a acreditar que o assassinato em<br />
massa poderia “curar” a Alemanha de um grande mal (os judeus), de forma a garantir<br />
a revitalização da raça ariana e da cultura alemã. Daí alguns especialistas distinguirem<br />
genocídio físico do genocídio cultural. Entre setembro de 1939 e agosto de 1941 foi<br />
colocado em prática um programa de eutanásia chamado de o Aktion 4 que usava gás<br />
para matar doentes mentais crônicos. Cerca de um milhão de vítimas foram exterminadas<br />
com esse novo processo e, até o final de 1941, cerca de um milhão de judeus haviam<br />
sido exterminados pela fome, trabalhos forçados, execuções em massa, bombardeios,<br />
gás, etc. Nesta época o regime optou por um rígido sistema de seleção, tática que persistiu<br />
até abril de 1943. Por meio do programa de código 13 F 14 [Operação 14] eram<br />
eliminados dos campos aqueles que não podiam mais trabalhar (velhos, crianças e<br />
doentes). A incineração de cerca de 2 mil prisioneiros em 5 fornos crematórios durava<br />
aproximadamente 12 horas.<br />
24
Médicos, verdadeiros “profissionais da Morte”, controlavam em conjunto com um técnico,<br />
todo o processo de morte nas câmaras de gás: desde a inserção das pílulas de gás até a<br />
confirmação da Solução Final. Colaboraram para aprimorar a queima dos cadáveres nos<br />
crematórios de forma a garantir altas temperaturas e a destruição rápida de um número<br />
elevado de vítimas. Vários destes “profissionais da morte” faziam experiências com seres<br />
humanos, programa incentivado por Heydrich Himmler e colocado em prática por instituições<br />
científicas, como o Institut Kaiser William. Dentre estes médicos estava Josef<br />
Menguele, o “Anjo da Morte” que fazia experiências com seres humanos. Após a guerra,<br />
refugiou-se na Argentina, no Paraguai e no Brasil sem nunca ter sido preso, vindo a morrer<br />
afogado no litoral brasileiro em 1979.<br />
A execução em massa dos judeus começou na Rússia no início da ocupação alemã.<br />
No final de 1941, os judeus alemães radicados nestes territórios começaram a ser deportados<br />
para os guetos e campos de concentração no leste. Cerca de um milhão e<br />
meio de judeus foram executados por fuzilamento, método considerado “muito lento”.<br />
O extermínio dos judeus na Wartheland (parte da Polônia anexada ao Reich) teve início<br />
em 1942, no campo de Chelmno. Transportados em caminhões, os judeus eram<br />
levados em direção à floresta e morriam no caminho, asfixiados pelo gás do escapamento.<br />
Posteriormente, as vítimas começaram a ser encaminhadas para câmaras<br />
de gás onde era aplicado o ácido prússico fabricado por uma indústria química<br />
especializada em vermes chamado Cyclon B. Outros campos mais “primitivos”, como o<br />
de Belzec, empregavam o monóxido de carbono, cujo efeito letal demorava horas. Na<br />
noite de 2 para 3 de agosto de 1944 foram exterminados os últimos 2.897 ciganos de<br />
Auschwitz, dos 20.943 ali registrados.<br />
Em julho começou o extermínio dos habitantes do gueto de Varsóvia transferidos para<br />
Treblinka. Em seguida, as imensas instalações do campo de Auschwitz-Birkenau (um<br />
complexo de 40 m 2 composto por três campos) tornaram-se o principal local de extermínio.<br />
Em 22 de junho de 1941, quando Hitler invadiu a União Soviética, dezenas de<br />
milhares de judeus desapareceram das cidades de Vilna, Kovno, Riga, Bialystock e<br />
Minsk. Participaram destes massacres sistemáticos os Einsatzgruppen (unidades<br />
especiais) cuja missão ficou conhecida como Operação Barbarossa. O nazista Hebert<br />
Çucurs, mandante da matança de Riga, refugiou-se no Brasil onde viveu até o final da<br />
década de 1960, sendo protegido pelo DEOPS/SP após ter sido denunciado por sobreviventes<br />
judeus radicados em São Paulo.<br />
Realidade revelada<br />
A partir de 1942, a grande imprensa mundial começou a denunciar os atos genocídas dos<br />
nazistas usando termos como “extermínio sumário”, “crimes monstruosos”, “assassinatos<br />
em massa”, “morte por esgotamento físico” e “morte pela fome nos guetos”. Em fevereiro de<br />
1943, a rádio BBC de Londres informava que os nazistas haviam acelerado o extermínio de<br />
judeus na Europa ocupada. A denúncia de um “campo de morte” para crianças e jovens em<br />
Radom, na Polônia, veio a público em setembro de 1942.<br />
Em julho de 1942, o jornal brasileiro O Estado de S. Paulo publicou uma matéria<br />
enviada por agência internacional, alertando para o que acontecia em Auschwitz:<br />
“...foram experimentadas todas as maneiras de matar covardemente um homem sem<br />
25
defesa; depois do simples tiro na cabeça, o uso de gases venenosos, o de injeções<br />
igualmente venenosas, estudadas pelos químicos nazistas”. Em 26 de julho de 1943, o<br />
mesmo jornal paulista reproduziu o testemunho do sargento H. Bear sobre um campo<br />
de prisioneiros na Alemanha: “Cada noite 30 homens eram escolhidos ao azar e fuzilados;<br />
muitos se suicidavam cortando os pulsos com pedaços de vidro, pois não suportavam<br />
o sofrimento; outros lançavam-se dos andaimes; outros ainda eram flagelados<br />
muitas vezes até a morte, enquanto todos eram obrigados a trabalhar no campo seminus,<br />
com a temperatura de 30 graus abaixo de zero”.<br />
O povo judeu estava sendo morto; todos foram avisados e, a maioria das nações aliadas<br />
continuava afirmando que “não sabia de nada”. Em 27 de janeiro de 1945, o<br />
Exército Vermelho liberou Auschwitz, identificado como a própria imagem da morte. Os<br />
7.650 prisioneiros ainda vivos eram apenas espectros humanos. Só neste campo morreram<br />
1,5 milhão de judeus e 100 mil não judeus (russos, poloneses e ciganos). Em<br />
abril de 1945, autoridades inglesas e americanas ordenaram que as atrocidades<br />
cometidas pelos nazistas fossem documentadas no local. Diante da “abertura dos<br />
campos da morte” pelas tropas aliadas, a humanidade pôde constatar até que ponto<br />
pode chegar a crueldade humana.<br />
Em agosto de 1945, o Tratado de Londres previu o estabelecimento de um tribunal<br />
militar internacional para julgar os criminosos de guerra. O primeiro julgamento público<br />
dos nazistas ocorreu em Nuremberg, em 20 de novembro de 1945, prolongando-se até<br />
1º de janeiro de 1946, num total de 403 sessões públicas. Os nazistas foram acusados<br />
de crimes contra a paz, violação de tratados internacionais e crimes de guerra. O fato<br />
de não existir nenhuma lei prevendo crimes contra o genocídio favoreceu a defesa dos<br />
criminosos de guerra que foram tratados como “militares que cumpriam ordens”. Apenas<br />
15 nazistas foram condenados nessa primeira etapa: doze condenados à morte e<br />
três à prisão perpétua. Somente no início de 1960 ocorreu o grande julgamento de<br />
Auschwitz em Franckfurt, e o extermínio de ciganos foi ligeiramente mencionado. Um<br />
ano depois, Eichmann era julgado em Jerusalém. Em abril de 1998, Maurice Papon foi<br />
condenado pela justiça francesa a dez anos de prisão por “cumplicidade em crimes<br />
contra a humanidade”.<br />
V- O Dia Mundial da Lembrança do Holocausto<br />
Em novembro de 2005, a Assembléia Geral das Nações Unidas através de uma<br />
resolução instituiu o dia 27 de janeiro como o Dia Internacional de Recordação das<br />
Vítimas do Holocausto.. Esta data é uma homenagem simbólica aos seis milhões de<br />
judeus e às outras tantas vítimas do extermínio nazista. A resolução foi co-patrocinada<br />
por outros 104 países e aprovada por consenso (sem necessidade de votação), incluindo<br />
o Brasil. O texto rejeita qualquer questionamento de que o Holocausto foi um<br />
evento histórico, enfatiza o dever dos Estados-membros de educar futuras gerações<br />
sobre os horrores do genocídio e condena todas as manifestações de intolerância ou<br />
violência baseadas em origem étnica ou crença religiosa.<br />
Retomo aqui uma matéria divulgada pela BBC de Londres que, após a aprovação da<br />
citada resolução, remete a lembrança à outros genocídios incluindo os que aconteceram<br />
em Hiroshima e Nagasaki, Ruanda e Cambodja. O próprio presidente da Assembléia<br />
26
Geral, à época, Jan Elliasson, lembrou que parte da missão original da ONU, criada<br />
após a Segunda Guerra, era assegurar que atrocidades como o Holocausto não<br />
voltassem a acontecer: "Nós não podemos continuar repetindo 'Nunca mais' – depois<br />
de Cambodja, Ruanda e Srebrenica", afirmou Elliasson.<br />
No entanto, o que mais deve nos preocupar é que hoje, exatamente há 63 anos da<br />
libertação do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, o mundo tem que ser<br />
“obrigado” pela ONU a lembrar que o Holocausto existiu. Parece que o passado não<br />
serviu de lição. Até quando precisaremos de “decretos” para sair do estado de amnésia<br />
e passar ao trabalho da memória ?<br />
Fatos recentes têm demostrado que o nazismo não se esgotou no Holocausto, e que<br />
as conseqüencias dessa tragédia ainda não foram totalmente avaliadas dada a dimensão<br />
da sua monstruosidade. Todos aqueles que testemunharam a abertura dos<br />
campos nazistas, temem que a lição de Auschwitz seja esquecida. Isto é certo, pois o<br />
anti-semitismo continua latente alimentando mentiras e espalhando o ódio para além<br />
das fronteiras do mundo muçulmano. E os jovens são, como sempre, as presas maís<br />
fáceis de manipulação. A onda de atos neonazistas em 2006 na Alemanha, reforça o<br />
conceito que a desinformação favorece a proliferação de ideologias extremistas que,<br />
reaparecem camufladas como novidade.<br />
Nestes dias que antecedem as rememorações, parte do mundo fica temporariamente<br />
chocado pelo Holocausto; a outra parte, dedica-se, vergonhosamente, a negá-lo ou<br />
então, silencia colaborando com o processo de amnésia política. As escolas em férias,<br />
descompromissadas com a resolução da memória, escapam do compromisso de “ter<br />
que lembrar” um fato que sequer integra o programa obrigatório do ensino fundamental.<br />
Enfim, alguns poucos, prestam suas homenagens aos seis milhões de judeus<br />
repetindo o já desgastado slogan “Nunca Mais!”. Após o “27 de janeiro”, a sociedade<br />
global relega este assunto para um segundo plano, esquecendo-se que a mentalidade<br />
anti-semita continua viva alimentando a cegueira.<br />
Devemos temer pela política negacionista do Holocausto que, neste último ano, encontrou<br />
no presidente do Irã o seu principal mentor. Ciente das fragilidades do mundo ocidental,<br />
este país investiu no humor e no tradicional modelo da conferência pseudocientífica,<br />
estratégias que no passado serviram a Hitler e aos seus aliados. Pseudointelectuais<br />
e caricaturistas do horror, não hesitaram em endossar a ideologia da mentira<br />
engrossando a lista dos anti-semitas e anti-sionistas descompromissados com a<br />
memória histórica.<br />
Devemos temer pela ignorância daqueles que convivem, calados, com as distorções<br />
impostas à História. Devemos temer pelos nossos jovens que, despreparados para o<br />
futuro, sequer aprendem sobre o que foi o Holocausto porque este tema “não é<br />
obrigatório” nos currículos escolares. É necessário insistir numa única via possível<br />
para evitar a reabilitação do anti-semitismo e da barbárie nazista: a educação.<br />
Rememorar por decreto não é solução. Em primeiro lugar devemos criar referências<br />
para, com base no conhecimento histórico, situarmos os reais efeitos das catástrofes.<br />
Ao avaliamos o que significou a prática do anti-semitismo pelo Estado nazista que arquitetou<br />
de forma sistemática a destruição do povo judeu e outras minorias étnicas e<br />
políticas, percebemos que os direitos humanos foram conquistados a duras penas; que<br />
27
os avanços e recuos, fazem parte de um longo e árduo processo histórico. Assim, a<br />
pesquisa histórica e o estudo interdisciplinar do Holocausto, podem colaborar para a<br />
afirmação dos princípios democráticos. Princípios, no seu conjunto, regem a vida social<br />
e política de toda a nação que valoriza a dignidade humana e a igualdade de direitos.<br />
No entanto, a nossa sociedade ainda carece de políticas públicas que, aplicadas em<br />
todos os níveis de ensino, poderiam educar para a cidadania e a democracia. Não devemos<br />
deixar que a ignorância favoreça a proliferação do ódio e da violência. Daí a<br />
importância de investirmos em jornadas interdisciplinares sobre o ensino do Holocausto,<br />
atividade pedagógica desenvolvida desde 2004 pela Universidade de São Paulo em<br />
parceria com a B`nai B`rith do Brasil e o Programa de Estudos Judaicos da UERJ.<br />
Acreditamos que o ato de lembrar deve integrar um programa permanente de educação<br />
comprometida com a verdade e a memória histórica.<br />
Que os radicalismos e a intolerância sejam excluídos da agenda ideológica para que novos<br />
dias internacionais de rememoração da dor não sejam instituídos. Que prevaleça a<br />
educação como meio de imunizar e desmacarar os fanatismos e a violência.<br />
SUGESTÕES DE LEITURAS<br />
BARTROP, Paul. “La relación entre guerra y genocidio en el siglo veinte: una reflexión” in: Revista de Estudios<br />
sobre Genocidio. Buenos Aires, EDUNTREF, 2006.<br />
BARTOV, Omer; GROSSAMANN, Atina; NOLAN, Mary. Crimes de Guerra. Culpa e Negação no Século<br />
XX. Rio de Janeiro, Difel, 2005.<br />
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. Holocausto, Crime contra a Humanidade. São Paulo, Ática, 2001.<br />
_______ O Anti-semitismo na Era Vargas, 3ed. São Paulo, Perspectiva, 2001.<br />
BERENBAUM, Michael. The Holocaust Chronicle,( a history in words and pictures). Illinois, Lincolnwood,<br />
2008.<br />
BOREJSZA, Jerzy. La Escalada del ódio. Movimientos y Sistemas Autoritários y fascistas en Europa,<br />
1919-1945. Madrid, Siglo Vintiuno, 2002.<br />
FEIERSTEIN, Daniel (ed.). Genocídio: La Administración de la Muerte en la Modernidad. Caseros, Universidad<br />
Nacional de Três de Febrero, 2005.<br />
________ Seis Estudos sobre Genocídio. Análisis de las Relaciones Sociales: Otredad, Exclusión Y Exterminio.<br />
Buenos Aires, EUDEBA, 2000.<br />
GILROY, Paul. Entre Campos,(nações, culturase o fascínio da raça). São Paulo, Annablume, 2007.<br />
KING, Martin Luther. Um apelo à consciência. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2006.<br />
LEMKIN, Raphael. Axis Rule in Occupied Europe. Washington, D.C., Carnagie Endowment for International<br />
Peace, 1944.<br />
MELSON, Robert. Revolution and Genocide- On the Origins of the Armenian Genocide and the Holocaust.<br />
Chicago y Londres: University of Chicago Press, 1992.<br />
RAMOS, Célia Maria Antonacci. As Nazi-tatuagem: Inscrições ou Injúrias no corpo humano? São Paulo,<br />
Perspectiva, 2006.<br />
TRAVERSO, Enzo. L’ Histoire Dechirée (Essai sur Auschwitz et les Intellectuels. Paris, CERF, 1997.<br />
28
Cinema e Genocídio Judaico: Dimensões Históricas<br />
da Memória Audiovisual do Nazismo e do Holocausto<br />
Wagner Pinheiro Pereira*<br />
As pesquisas com a História e a Memória dos sobreviventes do Holocausto têm adquirido<br />
considerável relevância nas universidades e na mídia em geral nas últimas décadas.<br />
Imagens deste genocídio estão, cada vez mais, sendo exibidas em exposições,<br />
portais temáticos de museus e acervos, assim como em eventos para o grande<br />
público. O tema do Holocausto ou Shoah – genocídio perpetrado pelos nazistas contra<br />
os judeus durante a Segunda Guerra Mundial – ocupa um lugar de destaque nos registros<br />
históricos, sendo considerado como um dos acontecimentos mais violentos e<br />
cruéis do século XX. Mesmo assim, apesar desta ampla divulgação e da farta documentação<br />
comprobatória deste crime contra a humanidade, ainda há pessoas que<br />
negam a sua veracidade, como no caso dos neonazistas, dos historiadores revisionistas<br />
e autoridades políticas da extrema-direita.<br />
A lembrança dos horrores praticados pelo regime nazista sempre traz à tona uma pergunta<br />
que até hoje não foi respondida satisfatoriamente: como foi possível na Alemanha,<br />
um Estado moderno e considerado exemplar em sua “civilização”, ter organizado<br />
e executado um projeto de extermínio do povo judeu em escala industrial e com o apoio<br />
da sociedade alemã?<br />
Há uma conjugação de fatores históricos que explicam o surgimento do nazismo e o<br />
alcance de suas propostas políticas, dentre as quais o plano de extermínio das raças<br />
consideradas “inferiores”. Tais condições, certamente, nunca mais se repetirão de<br />
forma a produzir fenômeno idêntico, mas a potencialidade de sermos surpreendidos<br />
por mensagens daquele tipo e a identificação de grupos sociais com ideais extremistas<br />
ainda persistem. É neste sentido que o estudo do Holocausto adquire relevância<br />
política e histórica, servindo como testemunho dos tempos sombrios e como emblema<br />
das possibilidades de destruição no mundo contemporâneo. Esta história, na sua<br />
essência, deve servir como um alerta à civilização que, nem sempre, consegue distinguir<br />
a verdade da mentira.<br />
Apesar da seriedade da questão, o nazismo e o Holocausto são incorporados e apropriados<br />
pela cultura de massas e pelo universo pop de forma inconseqüente, gerando,<br />
muitas vezes, uma banalização do mal. Apesar dos horrores cometidos pelo nazismo<br />
continuarem causando um sentimento de repulsa, as imagens e estéticas nazistas<br />
ainda exercem uma espécie de efeito hipnótico, fascinando e seduzindo as pessoas.<br />
Como exemplos dessa perspectiva, Adolf Hitler passou a ser visto como um precursor<br />
dos astros pop tendo como referência os históricos congressos nazistas comparados<br />
aos grandes espetáculos de ópera-rock; tornaram-se comuns entre os jovens, a<br />
adoção de videogames que tratam este genocídio como um jogo de luta entre o Bem e<br />
o Mal; ou então, a matança sistemática de mais de 6 milhões de judeus assume, junto<br />
a mídia, as características de um típico melodrama hollywoodiano. Para compreender<br />
esse processo e advertir contra a reutilização banalizada e perigosa de tais imagens e<br />
29
mensagens é fundamental analisar o papel do cinema na construção das representações<br />
do Nazismo e do Holocausto na cultura mundial.<br />
Neste sentido, o presente estudo tem o objetivo de realizar uma análise das dimensões<br />
históricas da utilização do cinema para a construção de uma memória audiovisual do Nazismo<br />
e do Holocausto, a partir do mapeamento das principais produções cinematográficas<br />
brasileiras e mundiais dedicadas ao tema. Este trabalho faz parte do projeto temático<br />
desenvolvido pela equipe de pesquisadores do LEER-USP – Laboratório de Estudos sobre<br />
Etnicidade, Racismo e Discriminação da Universidade de São Paulo – para a construção<br />
de um <strong>arquivo</strong> <strong>virtual</strong> (on-line) sobre as representações do Holocausto e do antisemitismo<br />
nas mais variadas manifestações artísticas.<br />
Considerando-se o poder de persuasão das imagens cinematográficas pretendo<br />
mostrar os diferentes usos, formas e momentos históricos em que o cinema/filme<br />
abordou temas referentes ao Nazismo e ao Holocausto.<br />
Ao trabalhar com a documentação audiovisual, percebi que as representações cinematográficas<br />
do Nazismo e do Holocausto foram construídas, ao longo da história do<br />
cinema, da seguinte forma: 1) o cinema/filme como arma de propaganda política e de<br />
controle da opinião pública na Alemanha nazista (1933 - 1945), momento em que o<br />
Ministério Nacional para Esclarecimento Público e Propaganda (Reichsministerium für<br />
Volksaufklärung und Propaganda) do III Reich, dirigido por Joseph Goebbels, buscou<br />
construir uma imagem grandiosa da nova Alemanha e de seu Führer (líder inconteste)<br />
Adolf Hitler, assim como propagar mensagens racistas e discriminatórias contra os<br />
judeus e os outros povos considerados “inferiores”; 2) o cinema/filme como “documento-prova”<br />
dos horrores do cotidiano dos campos de concentração e como <strong>arquivo</strong><br />
de memórias das vítimas da política anti-semita e do Holocausto empreendido pelos<br />
nazistas, que teve importância vital nas sessões do Julgamento de Nuremberg, realizadas<br />
de novembro de 1945 a outubro de 1946; e 3) o cinema/filme utilizado para<br />
formar uma representação audiovisual que está em constante processo de<br />
(re)construção, em decorrência das inúmeras representações do tema realizadas pelas<br />
mais distintas cinematografias mundiais, desde 1933 até a atualidade.<br />
No momento em que estava redigindo a minha Monografia de Iniciação Científica O<br />
Triunfo do Reich dos Mil Anos: Cinema e Propaganda Política na Alemanha Nazista<br />
(1927 - 1945) encontrei uma reportagem na Revista Veja intitulada “Alemanha: Às<br />
voltas com o passado”, de 7 de setembro de 1977. Nessa matéria é relatado como o<br />
saudosismo da era nazista, ainda permeava a sociedade alemã, pois nesta época estavam<br />
ocorrendo várias homenagens e reuniões de organizações nostálgicas do Nazismo<br />
em todo o país. Além disso, estava tomando corpo uma nova Hitler Welle (Onda<br />
Hitler), com livros, filmes, discos e revistas que tratavam do assunto, sendo avidamente<br />
disputados entre os consumidores (Revista Veja nº470, 7/9/1977, p.46.).<br />
No entanto, o que mais chamava a atenção nessa matéria foi o fato de que um dos sinais<br />
da Hitler Welle voltar com grande impulso devia-se ao lançamento do documentário Hitler,<br />
eine Karriere (1977), dirigido por Joachim Fest. Segundo relata a reportagem:<br />
O filme estreou a 29 de junho no Festival de Berlim. E, além de estar tendo um êxito espetacular – até a<br />
semana passada já fora assistido por quase 1 milhão de alemães –, provocou um aluvião de críticas desfavoráveis.<br />
Ninguém põe em dúvida, na realidade, as credenciais e a integridade de seu principal realizador,<br />
Joachim Fest – autor também do best-seller Hitler, um sábio, profundo estudo de 1200 páginas<br />
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sobre o Nazismo e seu principal mentor. O objetivo de Fest ao realizar o filme era “mostrar a fascinação<br />
que houve no país diante da figura de Hitler, tornar essa fascinação compreensível e, deste modo, fazer<br />
com que as pessoas se tornem imunes contra reações semelhantes”. Parece, entretanto, ter ocorrido coisa<br />
diversa (Revista Veja nº470, 7/9/1977. pp.47-48).<br />
Conforme descreve a matéria, as críticas foram fortes: “É Hitler sem o Hitlerismo”, bradou<br />
o jornal francês Le Monde; “Uma provocação”, acusou o Izvestia, jornal oficial do<br />
governo soviético. “É um filme muito perigoso, pois o que fica é a fascinação pela fascinação”,<br />
afirmou o crítico Karl-Heinz Jassen, do respeitado semanário alemão Die<br />
Zeit. Na verdade, o filme omite dados essenciais sobre o pesadelo nazista – como o<br />
massacre dos partidos de oposição e dos sindicatos, e o extermínio maciço de judeus<br />
alemães. A expressão “campo de concentração” aparece uma única vez – e as cenas<br />
de massacres de judeus só se concentram em judeus soviéticos.<br />
Ao mesmo tempo, o documentário acaba em grande parte mostrando o regime como<br />
era apresentado pela sua própria propaganda – os cenários grandiloqüentes, as gigantescas<br />
cerimônias e desfiles em louvor ao Führer, a submissão dos povos conquistados<br />
através da Europa. Não é de estranhar, assim, que as platéias tenham irrompido<br />
em aplausos nos cinemas de várias cidades e que, segundo informou a matéria, no<br />
cinema Karlstor, de Munique, um casal de meia-idade tenha se levantado em meio à<br />
projeção para, sob olhares atônitos da platéia, entoar o hino nazista. (Revista Veja<br />
nº470, 7/9/1977. p.48.)<br />
Por fim, a matéria da Revista Veja conclui apontando a seguinte questão:<br />
“Quando os alemães se desinteressam do seu passado, são acusados de ser indiferentes aos crimes do<br />
Hitlerismo”, lembra o escritor Siegfried Lenz. “Quando ao contrário, vão em massa ver um filme sobre o<br />
Führer, conclui-se logo que, decididamente, os velhos demônios voltaram”. No fundo, o que parece haver<br />
na Alemanha é uma enorme inaptidão para encarar com objetividade um período histórico ainda não assimilado<br />
– o que, entretanto, terá de ser feito, cedo ou tarde. Pois, como lembra o escritor Günther Grass,<br />
“como podemos assumir o passado sem enfrentá-lo?” (Revista Veja nº470, 7/9/1977. p.48.)<br />
Através da leitura dessa matéria, podemos perceber como as “imagens do Nazismo”<br />
ainda exercem enorme fascinação nas pessoas. E como, mesmo depois de “descoberto”<br />
dos horrores do Nazismo, essas imagens ainda conseguem manter os seus hipnóticos<br />
encantos, capazes de seduzir muitos adeptos para o delírio do Reich dos Mil<br />
Anos de Adolf Hitler. Essa questão já havia sido levantada também no artigo “Fascinante<br />
Fascismo” da filósofa norte-americana Susan Sontag. Nele, a autora analisa o apelo emocional<br />
e artístico dos espetáculos nazistas, em especial os apresentados nos filmes de<br />
Leni Riefenstahl, sua sensual simetria, sua opressiva coreografia e sua atordoante aglomeração<br />
de material humano nas celebrações de massa. Claramente, Susan Sontag<br />
comentava sobre como o monumental e o ornamental interagiam nos desfiles rituais e<br />
como as relações políticas reapareciam em modelos estéticos da cultura contemporânea.<br />
Neste sentido, a autora reconhece que o Nazismo fascinou a muitos nas décadas de 1920<br />
a 1940. E se poderia dizer que ainda fascina, pois até hoje podemos ver grupos neonazistas<br />
atuando na Alemanha, Itália, etc. De onde viria esse fascínio? A quem o Nazismo fascinou<br />
e ainda fascina? São perguntas importantes, dado que esse fenômeno político não<br />
deixou de existir e que as suas representações cinematográficas foram reutilizadas pela<br />
cultura contemporânea. Neste sentido, acredito que através da análise da produção cinematográfica<br />
mundial e brasileira que abordem temas relacionados ao Nazismo e ao Holocausto,<br />
possamos compreender melhor o impacto e significado que essas imagens<br />
exercem sobre a política, a cultura e a sociedade contemporâneas.<br />
31
1. Cinema e Propaganda Política na Alemanha Nazista (1933 - 1945)<br />
“A arte da propaganda reside justamente na compreensão da mentalidade e dos sentimentos da grande<br />
massa. Ela encontra, por forma psicologicamente certa, o caminho para a atenção e o coração do povo”.<br />
Adolf Hitler<br />
Adolf Hitler considerava o cinema como o instrumento ideal para influenciar as massas.<br />
O apelo emocional subjetivo, a limitação do conteúdo, a contínua e uniforme<br />
repetição de uma mensagem e a utilização de imagens sedutoras, ilustrando a ideologia<br />
do regime, foram favorecidos pelos recursos da linguagem cinematográfica. Enfim,<br />
o cinema permitiu veicular, com sucesso, as mensagens do Partido Nacional-Socialista<br />
dos Trabalhadores Alemães (National-Sozialistische Deutsche Arbeiter Partei –<br />
NSDAP). Afinal, juntamente com os soviéticos, os nazistas foram os primeiros dirigentes<br />
do século XX a perceberem o imenso potencial do cinema como arma de<br />
propaganda política. Segundo o historiador francês Marc Ferro:<br />
os soviéticos e os nazistas foram os primeiros a encarar o cinema em toda sua amplitude, analisando sua função,<br />
atribuindo-lhe um estatuto privilegiado no mundo do saber, da propaganda, da cultura. (...) O cinema não<br />
foi apenas um instrumento de propaganda para os nazistas. Ele também foi, por vezes, um meio de informação,<br />
dotando os nazistas de uma cultura paralela. (...) Os nazistas foram os únicos dirigentes do século XX cujo<br />
imaginário mergulhava, essencialmente, no mundo da imagem. (FERRO, 1992, pp.72-73.)<br />
O Führer Adolf Hitler e o Ministro da Propaganda Nazista Dr. Joseph Goebbels<br />
A partir da ascensão de Adolf Hitler ao poder, em 30 de janeiro de 1933, e com a criação<br />
do Ministério Nacional para Informação Pública e Propaganda, em 13 de março de 1933,<br />
ocorreu o processo de “nazificação” das atividades artísticas e culturais alemãs, que representou<br />
uma suposta “depuração” da arte e a conseqüente destruição das instituições<br />
culturais da República de Weimar. Aprofundando os expurgos e as perseguições que o<br />
Partido Nazista vinha realizando em toda a Alemanha, iniciou-se uma caça às bruxas no<br />
meio cinematográfico. Foram obrigados a deixar o país nomes como Fritz Lang, Carl<br />
Meyer, Billy Wilder, Erich Pommer, Peter Lorre, Max Ophüls, Slatan Dudow, Max<br />
Reinhardt, Anatole Litvak, Detlef Sierck (Douglas Sirk) e muitos outros.<br />
Nos doze anos de regime nazista foram produzidos cerca de 1350 longas-metragens,<br />
que, de diversas formas, exaltavam o nazismo e a liderança de Adolf Hitler, encorajavam<br />
o nacionalismo exacerbado e o espírito militar, assim como incitavam sentimen-<br />
32
tos racistas e xenófobos entre a sociedade alemã, através da criação de estereótipos<br />
dos inimigos da nação, que apontavam o comunismo como o mal ameaçador dos<br />
ideais da civilização ocidental e acusavam os judeus de terem planos de dominação<br />
mundial. Reforçada por estereótipos e imagens maniqueístas, a propaganda nazista<br />
difundiu as doutrinas racistas e convocou o povo à construção de uma nova ordem,<br />
baseada na idéia de superioridade da raça ariana e na infalibilidade de Hitler.<br />
As três primeiras produções nazistas – O Jovem Hitlerista Quex (1933), O S.A. Brand<br />
(1933) e Hans Westmar: um dentre muitos (1933) – foram filmes partidários e patrióticos,<br />
apresentando os comunistas e os judeus como os seus maiores inimigos. Nesses<br />
filmes nazistas, o Bem e o Mal eram ordenados de modo a provocar violentas<br />
emoções e não deixar dúvidas no espectador sobre qual lado escolher. Esses filmes<br />
exaltavam também, a partir da história dos primeiros mártires do Nazismo (o jovem hitlerista<br />
Herbert Norkus e o SA Horst Wessel), a camaradagem, o heroísmo e o espírito<br />
de entrega que marcariam os adeptos do regime, prontos a sacrificar a própria vida<br />
pela Alemanha e pelo Führer.<br />
A propaganda nazista em ação: 1) cena do filme “O Triunfo da Vontade” (1935), 2) Leni Riefenstahl,<br />
a cineasta predileta de Hitler; 3) cartaz do filme “O Jovem Hitlerista Quex”.<br />
Adolf Hitler, um ditador cinéfilo, buscou produzir o auto-retrato de sua liderança e de<br />
seu regime no grandioso documentário O Triunfo da Vontade (1935), dirigido pela cineasta<br />
Leni Riefenstahl. Esse filme foi uma das poucas intervenções diretas de Hitler<br />
na área. O Führer escolheu Leni Riefenstahl para documentar o Congresso de<br />
Nuremberg de modo a transformá-lo numa obra de arte cinematográfica, retratada sob<br />
a perspectiva de uma artista, e não como uma obra de propaganda, que poderia ser<br />
feita por qualquer funcionário do Ministério da Propaganda, segundo costumava afirmar<br />
veementemente a cineasta. No entanto, os documentários de Leni Riefenstahl – A<br />
Vitória da Fé (1933), O Triunfo da Vontade (1935), O Dia da Liberdade: Nosso Exército<br />
(1935) e Olímpia (1938) -, são exemplos representativos de uma “realidade construída”<br />
expressando a imagem oficial do regime. Essas produções foram em grande parte<br />
encenadas, pois as cenas de espetáculos de massa ocorreram de forma previamente<br />
organizada para garantir os efeitos da imagem cinematográfica, tornando-se difícil<br />
distinguir onde termina a realidade e começa a encenação. Além disso, apesar da<br />
cineasta sempre ter afirmado que seus filmes eram isentos de mensagens antisemitas,<br />
os silêncios e omissões também devem ser levados em conta, visto que uma<br />
da formas de manifestação do racismo se faz através das metáforas, subentendidas<br />
nas entrelinhas. O Triunfo da Vontade, por exemplo, retrata as multidões hipnotizadas<br />
33
diante da presença do Führer. Nos perfis dos jovens soldados louros está contida a<br />
ideologia do arianismo e a idéia de uma raça pura. Em oposição, temos a negação e<br />
desaparecimento do judeu como componente racial nesta nova sociedade.<br />
A concepção da política como espetáculo foi novamente trabalhada por Leni Riefenstahl em<br />
Olímpia (1938), documentário dividido em duas partes – “Festival das Nações” e “Festival da<br />
Beleza” – consagrado ao XI Jogos Olímpicos realizados em Berlim. Este evento esportivo foi<br />
uma oportunidade para Hitler obter o reconhecimento internacional do regime e mostrar ao<br />
mundo inteiro a imagem de uma “Nova Alemanha”, forte e destemida. Dessa forma, transcendendo<br />
a simples reportagem das Olimpíadas de 1936, Olímpia transformou-se num hino<br />
de louvor à Alemanha de Hitler e aos ideais de beleza, perfeição física e pureza racial.<br />
Outro filme que levou a extremos a temática da exaltação da perfeição da raça ariana foi<br />
Eu Acuso! (1941), de Wolfgang Liebeneiner, um drama-romântico, que explorava nobres<br />
sentimentos, para testar a reação da opinião pública em relação à lei que legalizaria a eutanásia:<br />
um médico, desesperado com a doença incurável da esposa e incapaz de conseguir<br />
encontrar uma cura, acaba por matá-la, buscando evitar que sua amada continuasse<br />
sofrendo inutilmente, sem a mínima chance de viver. Durante o julgamento do marido, seriam<br />
discutidas as implicações morais e racionais da eutanásia.<br />
Nesta senda, havia também os filmes que deixavam explícita a inferioridade de outros<br />
povos e etnias. Os primeiros seres considerados inferiores pelo cinema nazista foram<br />
os judeus. Todas as representações nazistas cinematográficas acerca dos judeus<br />
colocavam o espectador diante de personagens maldosas, feias, demoníacas e animalescas.<br />
O objetivo principal era incitar o ódio e o desprezo aos judeus, ciganos e<br />
comunistas, dentre outros grupos apontados como “inimigos do regime”. Dessa forma,<br />
o judeu aparecia no cinema como o destruidor do povo, na figura do conspirador, do<br />
usuário, do banqueiro desonesto, do comunista e do estuprador. Na propaganda nazista,<br />
também era comum representar os judeus sob a forma de insetos, cogumelos<br />
venenosos, ratos, cobras viscosas, vermes e doenças, já que o regime reutilizou-se da<br />
metáfora da peste, artifício muito empregado pelo biologismo do século XIX, relacionando<br />
os judeus com epidemias de cólera e contaminações por bactérias e bacilos.<br />
Tais estratégias serviram ao Estado alemão interessado em incentivar as práticas<br />
genocidas contra os judeus identificados pelos pseudo-cientistas como representantes<br />
de uma “raça inferior”.<br />
A primeira produção cinematográfica de propaganda nitidamente anti-semita foi<br />
Os Rotschilds (1940), de Erich Waschneck. Ambientado na Europa conturbada pelas guerras<br />
napoleônicas, o filme mostrava como essa importante família de banqueiros judeus<br />
beneficiou-se das discórdias entre as nações européias, acumulando fortuna à custa da<br />
guerra, do sofrimento e da morte de milhões de pessoas. O judeu é retratado como uma criatura<br />
perigosa, de mãos aduncas, rosto encarniçado e olhar sádico e maléfico.<br />
Em O Judeu Süss (1940) Veit Harlan apresentou a história de um ministro das finanças<br />
judeu que, no século XVIII, seduziu mulheres da sociedade, explorou o povo com a<br />
cobrança de impostos exorbitantes e baniu a lei que proibia a entrada de judeus em<br />
Württemberg. Além de instalar o caos, o judeu aparece como ameaça sexual, ao retratar<br />
Süss violentando uma jovem alemã, enquanto seu marido era torturado no porão. Ao final,<br />
Süss é preso, julgado e condenado à morte, sendo executado em praça pública. Todos os<br />
judeus são obrigados a sair de Württemberg e espera-se que “as gerações futuras jamais<br />
34
se esqueçam dessa lição”. A partir desse exemplo histórico deturpado, o filme procurou<br />
veicular a idéia de que o judeu foi sempre nocivo à nação alemã, o que justificaria a sua<br />
deportação e serviria para convencer a população alemã da existência de uma “solução<br />
final” para o problema judaico na Europa.<br />
O cinema a serviço do anti-semitismo:<br />
Cartazes dos filmes “O Judeu Süss” (1940) e “O Judeu Eterno” (1940).<br />
Por sua vez, O Judeu Eterno (1940), de Fritz Hippler, foi apresentado como um “documentário<br />
educacional sobre os problemas do judaísmo internacional”. O objetivo<br />
principal era revelar a verdadeira essência dos judeus, escondida “por detrás de suas<br />
máscaras”. Para isso, o filme descreve a infiltração judaica na sociedade, política e cultura<br />
alemã, enfatizando seu caráter errante e mostrando os judeus como uma “raça de<br />
parasitas” que, assim como os ratos, espalharam-se pelo mundo. Enquanto são comparados<br />
aos ratos se espalhando sobre um mapa, o narrador comenta: “Eles são repelentes,<br />
covardes e só se movimentam em bandos”. Com sórdida crueza, o narrador<br />
afirma que os judeus são vagabundos, dissimulados, exploradores e que corrompiam a<br />
arte, a religião e a política. Por fim, é apresentada a matança de animais nos açougues<br />
judaicos, a cena mais pesada dessa “sinfonia de horror e nojo”, e, em seguida, Hitler<br />
discursa no Reichstag, em 30 de janeiro de 1939, onde anuncia o fim da vivissecação<br />
de animais e a destruição da “raça judaica” na Europa: “Se os judeus que trabalham na<br />
área financeira, na Europa ou em qualquer outro lugar, conseguirem lançar as nações<br />
em outra guerra mundial, o resultado não será um mundo bolchevique ou a vitória dos<br />
judeus, mas a aniquilação de sua raça na Europa”. O “grande final” profetiza a salvação<br />
da Alemanha e do mundo.<br />
Para o público internacional não descobrir os planos nazistas de genocídio judaico foi<br />
encomendado o documentário O Führer doa uma cidade aos judeus (1944), de Kurt<br />
Gerron, para ser exibido aos representantes da Cruz Vermelha Internacional em visita a<br />
Theresienstadt. O campo de concentração foi “embelezado” para que todos pudessem<br />
testemunhar a “vida opulenta dos judeus” sob o nazismo. Os judeus apareciam organi-<br />
35
zando concertos e jogos, lendo livros na biblioteca e aprendendo um ofício nas oficinas<br />
especiais. Os prisioneiros, maquiados para encobrir seu verdadeiro estado físico, eram<br />
obrigados a representar estes “homens livres”, numa encenação macabra que culminou<br />
com o assassinato dos “atores” e do diretor, terminadas as filmagens. No entanto, a verdadeira<br />
face dos campos de concentração já havia sido registrada sadicamente pelos<br />
próprios oficiais nazistas. Um desses filmes amadores mostrava vários judeus sendo retirados<br />
à força de suas casas, golpeados e arrastados pelos cabelos em plena rua, ante os<br />
olhares impassíveis do restante das pessoas; outro apresentava imagens de experimentos<br />
médicos de um campo de extermínio; também se encontrou posteriormente vários documentários<br />
filmados em Auschwitz sobre judeus sendo asfixiados nas câmeras de gás.<br />
As etnias inferiores, contudo, não se esgotavam na figura dos judeus: os eslavos de<br />
nacionalidade polaca, tcheca e russa foram alvos de injúrias bastante agressivas. Os<br />
filmes Regresso à Pátria (1941) e Inimigos (1942), por exemplo, representavam os<br />
poloneses como torturadores de alemães. Já os russos, nos filmes Cidade Atacada<br />
pelos Vermelhos (1941) e G.P.U. (1942) foram mostrados como hordas de bárbaros<br />
sobre os quais o Comunismo exacerbava suas inatas tendências criminosas.<br />
Os inimigos de guerra também apareceram no cinema. Ingleses eram mostrados como<br />
capitalistas covardes e esnobes – em Titanic (1942) – e como imperialistas opressores –<br />
em Minha Vida pela Irlanda (1941) e Presidente Krüger (1941). Os franceses foram ignorados<br />
pela propaganda nazista, pois a única referência apareceu em Vitória no Ocidente<br />
(1941), quando algumas imagens e comentários discretamente sugeriram que os<br />
franceses eram desorganizados e inferiores como soldados. No caso dos norteamericanos,<br />
filmes como O Filho Pródigo (1934), O Imperador da Califórnia (1936) e A<br />
Conversa do Sr. Roosevelt (1942), criticavam os ideais democráticos dos EUA e mostravam<br />
as péssimas condições de vida a que seu povo era submetido.<br />
Com o início da Segunda Guerra Mundial, o cinema nazista produziu quatro tipos de filmes<br />
de propaganda: 1) os cinejornais, intitulados Atualidades Alemãs da Semana (Die Deutsche<br />
Wochenschau); 2) os documentários de campanhas militares: Campanha na Polônia<br />
(1939), Batismo de Fogo (1940) e Vitória no Ocidente (1941); 3) os filmes ficcionais (musicais,<br />
romances, dramas, aventuras) de guerra: Concerto à Pedidos (1940) Stukas (1941),<br />
O Grande Amor (1942); e 4) os filmes de reconstituição histórica: Bismarck (1940), A Demissão<br />
(1942), O Grande Rei (1942) e Kolberg (1945).<br />
Quando a derrota nazista na Segunda Guerra Mundial provava ser inevitável, buscouse<br />
mitificar a futura ressurreição da Alemanha para viver as glórias prometidas de um<br />
Reich que deveria durar mil anos. Para isso, Hitler e Goebbels investiram grande quantidade<br />
de dinheiro e de recursos materiais em Kolberg (1945), uma superprodução<br />
cinematográfica colorida, que narrava a heróica resistência do povo da cidade de Kolberg<br />
diante do exército napoleônico. Através desse filme, acreditava-se poder animar a<br />
destroçada moral nacional. Este objetivo não se concretizou, entretanto, a intenção era<br />
vencer pela arte o que havia sido impossível na realidade histórica. Afinal, se os nazistas<br />
não saíram vitoriosos da Segunda Guerra Mundial na realidade, procuraram ganhá-la<br />
no mundo da fantasia cinematográfica.<br />
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2. Cinema/Filme como “Documento-Prova” do Holocausto no Julgamento de<br />
Nuremberg e como “Arquivo de Memórias” das Vítimas do Nazismo<br />
“Ficar em silêncio e indiferente é o maior pecado de todos”.<br />
Elie Wiesel.<br />
Seis milhões de judeus foram exterminados pelos nazistas nos campos de concentração,<br />
desde que começaram as deportações por toda a Europa, em 12 de outubro de<br />
1939. Os primeiros documentários filmados destes lugares foram realizados, sadicamente,<br />
pelos próprios nazistas. De fato, na casa de um oficial encontraram-se rolos de<br />
8mm que correspondiam a um fato ocorrido em Stuttgart em 1941, quando vários judeus<br />
foram retirados a força de suas casas, golpeados e arrastados pelos cabelos em<br />
plena rua, ante os olhares impassíveis do restante das pessoas; em uma vila, nas cercanias<br />
de Munique, encontrou-se um projetor de 35mm com imagens de experimentos<br />
médicos de um campo de extermínio; e também se encontraram vários documentários<br />
filmados em Auschwitz sobre judeus sendo asfixiados nas câmeras de gás.<br />
O cinema como documento-prova da barbárie e crueldade nazista no Holocausto:<br />
1) entrada do campo de concentração de Aushwitz;<br />
2) Heinrich Himmler inspeciona o campo de Dachau;<br />
3) corpos de judeus exterminados;<br />
4) sobreviventes no campo de Dachau no momento de sua libertação pelas tropas norte-americanas.<br />
Ao final da guerra, os cineastas norte-americanos foram os primeiros a filmar o ocorrido<br />
após a libertação dos campos. Suas imagens de pessoas cadavéricas, pilhas de<br />
corpos e valas comuns, causaram um grande impacto na população, até o ponto de<br />
provocar grandes filas para assistir os noticiários denominados Atrocidades Nazistas:<br />
37
• Campos de Concentração Nazistas (1945), de George Stevens, foi um dos primeiros<br />
documentários com imagens dos campos de concentração, contendo judeus esqueléticos<br />
e desconcertados, outros vestidos com seus trajes rasgados, e milhares de cadáveres<br />
espalhados. Este filme foi utilizado como “documento-prova” da atrocidade<br />
nazista nos Julgamentos de Nuremberg.<br />
• Os Moleiros da Morte (1945), de Hanus Burger, mostrava não somente os campos<br />
de extermínio, mas também as sementes de ódio que os havia tornado possível. O<br />
diretor e roteirista, Hanus Burger, entregou uma versão muda de 86 minutos à Oficina<br />
de Informação de Guerra Britânica, que repudiou o filme por seu alto conteúdo político.<br />
A tarefa de realização de uma nova montagem foi entregue à Billy Wilder, que reduziu<br />
a metragem a 22 minutos, inserindo música e comentários. O documentário mostrava<br />
também imagens dos campos de concentração depois da libertação aliada.<br />
• Memória dos Campos, uma lembrança dolorosa (1945), de Sidney Bernstein, oferece<br />
imagens da libertação do campo de concentração de Bergen-Belsen pelas tropas inglesas<br />
e norte-americanas, em 24 de abril de 1945. A crueza de seus testemunhos fez<br />
com que permanecesse oculto até que uma cópia fosse exibida no Museu de Guerra<br />
de Londres nos anos 1980, e re-estreada, com narração de Trevor Howard, em 1985.<br />
Tudo isso dentro de um grande documentário em que também se pretendia explicar a<br />
ascensão dos nazistas ao poder e como puderam chegar a esses extremos.<br />
Ante as notícias que chegavam aos EUA sobre a barbárie dos campos, um grupo de<br />
diretores dos principais estúdios de Hollywood decidiram viajar até a Europa para<br />
presenciar pessoalmente a crueldade destes lugares. Todos eles ficaram horrorizados<br />
pelo que ali encontraram, prometendo que tornariam público ao mundo esse pesadelo<br />
por meio de seus filmes. No entanto, isso não aconteceu.<br />
Depois dos rápidos Julgamentos de Nuremberg, o governo norte-americano deu por<br />
encerrada a questão da guerra e o que aconteceu nos campos. A chegada aos EUA<br />
de 140.000 refugiados europeus fez com que o tema fosse, naquele momento,<br />
esquecido. Nenhum judeu queria recordar, inclusive sentiam vergonha do que haviam<br />
padecido. Além disso, ninguém parecia estar disposto a escutá-los. Por isso, o material<br />
rodado nos campos foi escondido e Hollywood decidiu que não era o momento para<br />
contar histórias tão tristes e de pouca bilheteria. Pretendia-se voltar a conquistar o<br />
mercado comercial de uma Europa renascida e ninguém queria molestar os alemães,<br />
mostrando-lhes como os selvagens que haviam sido.<br />
O tema do Holocausto apareceria, em 27 de maio de 1953, “ao mais puro estilo americano”.<br />
Tratava-se do programa de televisão “Esta é sua vida” (“This is your life”), no<br />
qual uma pessoa era surpreendida com a aparição de distintos amigos. A eleita desse<br />
dia foi Hannah Bloch Kohner, sobrevivente de um campo de concentração. A mulher<br />
parecia estar recordando um picnic, sempre sorridente e em estado de excitação<br />
contínua. Nesse momento apareceram amigas do campo, o soldado que a libertou e<br />
seus familiares, todos repletos de sorrisos e júbilos, em um surrealista espetáculo, em<br />
que o apresentador ia narrando os horrores vivos: “Rasparam-lhe a cabeça e foi enviada<br />
para a ducha, sem saber se iria receber água ou gás letal!”<br />
Neste momento, estava claro que teria de ser na Europa que se resgataria a memória<br />
do Holocausto, para que este não voltasse a acontecer. O cinema documentário foi<br />
38
vital para que isso ocorresse, sobretudo, depois da exibição da obra francesa Noite e<br />
Neblina (1956), de Alain Resnais, que produziu uma grande comoção ao mostrar<br />
cruamente o Holocausto tal e como ocorreu, sem que, no início, nenhum país parecesse<br />
preocupar-se demasiadamente por ele. A partir desse filme temos o dilema fundamental<br />
ante o fenômeno concentracionário e o extermínio dos judeus da Europa<br />
pelos nazistas: como dar conta do indizível, sabendo que nem as palavras nem as imagens<br />
conseguem fazê-lo realmente? Como continuar falando naquilo sem cair na banalização<br />
do horror? Desse ponto de vista, Noite e Neblina é ainda uma obra sem<br />
equivalente, ao ser a primeira a apresentar de forma tão crua os acontecimentos dos<br />
campos de concentração. De fato, sua presença foi censurada no Festival de Cannes,<br />
já que os organizadores não queriam tocar nas feridas do Nazismo, por considerarem<br />
ser uma postura contra o novo governo alemão.<br />
O cinema e os cineastas ao serviço do bem: a tarefa de documentar e preservar a memória do<br />
Holocausto. Os exemplos dos filmes “Noite e Neblina” (dir. Alain Resnais, 1956), “Shoah” (dir. Claude<br />
Lanzmann, 1985) e “Sobreviventes do Holocausto” (dir. Steven Spielberg, 1996)<br />
Realizado em 1955, a partir de um convite feito ao cineasta pelo Comitê de História da<br />
Segunda Guerra Mundial, o filme tinha como objetivo comemorar o décimo aniversário<br />
da libertação dos campos de concentração. Mas o impacto das suas imagens e do<br />
texto de Jean Cayrol, um ex-prisioneiro do campo de Orianemburgo, suplantaram a<br />
sua intenção de memorial dos desaparecidos e transformaram-se num “dispositivo de<br />
alerta” contra o Nazismo e todas as formas de extermínio.<br />
O título do filme é baseado no nome do decreto alemão de 7 de dezembro de 1941,<br />
“Nacht und Nebel”, expedido com o objetivo de extermínio de qualquer opositor<br />
político. Suas imagens nos apresentam ao Castelo de Hartheim, próximo do campo de<br />
Mauthausen, na Áustria, lugar onde se desenvolveu o gás Zyklon B e se levaram a<br />
cabo os primeiros planos de eutanásia ao seres “não úteis”, através da medida “Aktion<br />
T4”, de 1939. O cruzamento de imagens coloridas dos campos de concentração abandonados,<br />
que foram filmados em 1955, e das imagens de filmes de <strong>arquivo</strong>s em preto<br />
e branco, sua constante colocação em perspectiva pelo comentário sóbrio e informativo<br />
narrado por Michel Bouquet, o lento crescendo no horror das imagens, são características<br />
que conferiram ao filme uma força surpreendente. Realizado dez anos depois<br />
do fim da guerra, Noite e Neblina é o primeiro filme sobre o fenômeno concentracionário,<br />
tal como os deportados dos campos de Dachau e de Buchenwald puderam<br />
relatar. Afinal, não podemos esquecer que naquele momento, a lembrança da deporta-<br />
39
ção era veiculada primeiro pelos deportados políticos e suas associações. Os sobreviventes<br />
judeus não somente eram poucos – para a França, 2500 sobreviventes dos<br />
70 mil deportados judeus –, como também não faziam ouvir sua voz, como se o silêncio<br />
tivesse sido, então, sua maneira de continuar vivendo depois do trauma. Neste<br />
sentido, o filme mostra realmente as câmeras de gás de Auschwitz, mas também<br />
apaga a especificidade do genocídio judeu. A obra de Alain Resnais situa-se nesse<br />
primeiro período da memória da deportação, quando o choque da abertura dos campos<br />
era próximo, mas distingue ainda mal a amplitude e a diversidade do fenômeno.<br />
De qualquer forma, o cineasta nos dá, segundo François Truffaut, “uma lição de<br />
história, inegavelmente cruel, mas merecida”. Da mesma forma, surpreendente e alerta,<br />
é a narração do sobrevivente Jean Cayrol, que aponta a sociedade que construiu<br />
os campos de extermínio como a responsável pelo ocorrido, por não se perguntar o<br />
que estava fazendo: “Quem de nós vela por esse estranho crematório para nos avisar<br />
da chegada de novos verdugos... Nós, que não pensamos em olhar ao nosso redor e<br />
que não ouvimos os que estão gritando sem fim”.<br />
Shoah (1985), de Claude Lanzmann, é outro importante documento sobre o Holocausto.<br />
Seu título adotou a palavra hebraica “Shoah”, que faz referência ao genocídio<br />
do povo judeu. Este documentário registra, em nove horas e meia de duração, uma<br />
série de entrevistas com sobreviventes dos campos de concentração de Treblinka, Sobibor<br />
e Auschwitz, que foram coletadas ao longo de onze anos.<br />
O filme baseia-se nas diversas entrevistas realizadas com os participantes do massacre<br />
– judeus sobreviventes, vizinhos, que asseguravam não saber o que estava acontecendo,<br />
guardas alemães, colaboracionistas franceses –, que dão os seus<br />
depoimentos sobre os horrores enfrentados nos campos de concentração nazistas. No<br />
documentário, que segue a técnica do “cinema verdade” soviético, não aparece sangue,<br />
nem cadáveres, apenas as contundentes palavras reais de seus protagonistas,<br />
que são registradas em sua totalidade, sem cortes nem inserções, e não se utilizando<br />
nenhum artifício de montagem para outorgar ritmo cinematográfico. Dessa forma, cabe<br />
ao público formar a sua própria opinião sobre os fatos.<br />
O cineasta afirma que seu filme não é representacional e que não dá conta de um conteúdo<br />
histórico e sim trata da impossibilidade de nomeação desse conteúdo. Essa declaração,<br />
que funciona como um princípio constitutivo do filme, permite a realização de<br />
um intenso debate centrado na questão da possibilidade ou da impossibilidade de representação<br />
do horror e dos compromissos éticos levantados quando o objeto artístico<br />
encontra-se com o objeto histórico.<br />
A relação entre o Holocausto e a política estética do III Reich é mostrada de forma<br />
muito curiosa em Arquitetura da Destruição (1989), dirigido por Peter Cohen. Neste<br />
documentário, o cineasta mostra como o Nazismo tinha como um de seus princípios<br />
fundamentais a missão de “embelezar” o mundo, que, em tempos antigos, havia sido<br />
resplandecente em beleza. A miscigenação e a degeneração o teriam transformado<br />
em ruínas e só com o retorno aos velhos ideais a sociedade poderia florescer novamente.<br />
Da fantasia wagneriana à arquitetura do Estado fascista, a cenografia, a<br />
regência e a coreografia arquitetada pelos nazistas começa a esboçar uma estética<br />
ariana decidida a purificar o povo germânico, encontrando na rica e contrastada cultura<br />
judaica o seu maior bode expiatório.<br />
40
Peter Cohen evita dissecar o Nazismo através de parâmetros políticos tradicionais e<br />
mostra que a estética era uma força extremamente motivadora, que aspirava tornar o<br />
mundo belo através da violência. O filme foi construído através de documentos<br />
fotográficos e cinematográficos, coletados de <strong>arquivo</strong>s oficiais e coleções particulares,<br />
revelando detalhes interessantes e um farto volume de material de época.<br />
Em 1994, após terminar A Lista de Schindler, Steven Spielberg fundou a Survivors of<br />
the Shoah Visual History Foundation para gravar em vídeo e preservar os depoimentos<br />
dos sobreviventes do Holocausto e suas testemunhas antes que fosse tarde demais.<br />
Com esta tarefa, o cineasta realizou Sobreviventes do Holocausto (1996), que serviria<br />
de modelo para as produções seguintes da Fundação. Atualmente, os <strong>arquivo</strong>s da<br />
Shoah Foundation têm mais de 51 mil entrevistas de 56 países, em 32 línguas. Através<br />
do uso educacional dos depoimentos da Fundação, espera-se alertar e conscientizar<br />
as pessoas no combate para a erradicação do preconceito, da intolerância, do fanatismo<br />
e do sofrimento que causam.<br />
3. Cinema/Filme como Representação Audiovisual do Nazismo<br />
e do Holocausto<br />
“Se eu tivesse conhecimento das atrocidades cometidas nos campos de concentração alemães, não teria<br />
podido filmar ‘O Grande Ditador’; não seria capaz de brincar com a demência homicida dos nazistas”.<br />
Charles Chaplin<br />
Desde a ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, além do cinema alemão, outras<br />
cinematografias, em especial a européia e a norte-americana, também procuravam<br />
abordar esse fenômeno político através do cinema. Durante a Segunda Guerra Mundial<br />
foram produzidas uma série de filmes anti-nazistas com objetivos de propaganda e contra-propaganda<br />
aliada, dentre os quais, O Grande Ditador (1940), de Charles Chaplin,<br />
um dos primeiros filmes anti-nazistas a apresentar uma imagem cômica do cotidiano dos<br />
judeus nos campos de concentração, sem que seu cineasta e ator pudesse imaginar<br />
que, na verdade, muito mais do que trabalho forçado, os campos de concentração tratavam-se<br />
de fábricas de extermínio. Já no período pós-guerra, apesar de alguns períodos<br />
de silêncio e omissões, a temática do Nazismo e do Holocausto sempre teve uma presença<br />
marcante nas telas de cinema de todo o mundo.<br />
Um dos poucos filmes a trabalhar a questão da memória x esquecimento do Holocausto na<br />
sociedade alemã foi Uma Cidade Sem Passado (1989), de Michael Verhoeven. Ambientado<br />
na Alemanha da década de 1970, apresenta a história da jovem Sonja, uma estudante<br />
querida em sua comunidade e premiada como ensaísta, que resolve se inscrever num concurso<br />
de monografias sobre o tema “Minha cidade durante o Terceiro Reich”. Usando das<br />
relações e do prestígio de seus parentes, Sonja pensa que será fácil obter informações nos<br />
<strong>arquivo</strong>s de sua cidade, mas nem todos querem colaborar. Ninguém quer remexer o passado,<br />
se envolver. E a jovem tem que enfrentar a sociedade, numa desagradável busca,<br />
num momento inoportuno. Ela insiste, mas a cidade quer silenciá-la. Sonja resolve atingir<br />
seu objetivo, nem que para tanto leve toda sua vida para ter acesso aos <strong>arquivo</strong>s, às verdades<br />
dos que viveram e pregaram discursos anti-semitas sob o regime nazista.<br />
41
Dentre as vítimas que se tornaram símbolo da crueldade do Holocausto, Anne Frank<br />
foi a que recebeu maior destaque. Em O Diário de Anne Frank (1959), do diretor George<br />
Stevens, um dos primeiros cineastas enviados por Hollywood para a Europa para<br />
registrar as imagens dos campos de concentração e das vítimas do Holocausto, é uma<br />
das mais importantes adaptações de um dos mais comoventes documentos surgidos<br />
após a Segunda Guerra Mundial: o diário de uma garota judia de treze anos de idade,<br />
chamada Anne Frank. Para escapar aos horrores da perseguição nazista, Otto Frank<br />
escondeu sua esposa e suas duas filhas, Anne e Margot em um sótão desocupado em<br />
Amsterdã por dois anos. Lá, também escondidos, estavam o Sr. e Sra. Van Daan e um<br />
dentista, o Sr. Dussel. Em seu diário, Anne registra as dificuldades e medos das pessoas<br />
à sua volta que tentavam viver uma vida normal, mesmo confinadas no minúsculo<br />
sótão, estando todo o tempo sob a ameaça de serem descobertos pela Gestapo (a<br />
polícia secreta nazista). O estresse e a tensão quase insuportável da situação são habilmente<br />
expostos neste filme marcante e tocante.<br />
O cinema relembrando o Holocausto: Pôsteres dos filmes<br />
“O Diário de Anne Frank” (dir. George Stevens, 1959), “Filhos da Guerra” (dir. Agnieszka Holland, 1991),<br />
“Uma Cidade Sem Passado” (dir. Michael Verhoeven, 1989), “A Lista de Schindler” (dir. Steven Spielberg, 1993),<br />
“A Vida é Bela” (dir. Roberto Benigni, 1998) e “Olga” (dir. Jaime Monjardim, 2004).<br />
Na mesma linha, Filhos da Guerra (1991), de Agnieszka Holland, conta a história de<br />
Solomon Perel, um jovem judeu que, durante a Segunda Guerra Mundial, consegue<br />
42
escapar do Nazismo e do Stalinismo e sobreviver ao Holocausto, graças a sua sabedoria<br />
e coragem, além de muita sorte. Por capricho do destino, consegue abrigo contra<br />
a morte certa nos campos de concentração, numa escola de elite para a Juventude<br />
Hitlerista, onde, ironicamente, é consagrado como herói alemão e exibido como<br />
modelo da raça ariana. Porém, sua circuncisão, se descoberta, é sua sentença de<br />
morte. Isso torna o banho diário uma tortura e o amor físico uma impossibilidade. É<br />
quando surgem Inna, sua namorada, uma nazista convicta, e Robert, que será seu<br />
melhor amigo, já que por ser homossexual, sabe o que representa ter sua identidade<br />
revelada. Essa história denuncia o absurdo dos regimes totalitários, que independentes de<br />
suas aspirações, acabam sempre por se parecer.<br />
A vida cotidiana dos judeus nos campos de concentração e suas tentativas de fuga e<br />
de enfrentar o terror nazista é um dos temas centrais do Holocausto. Fuga de Sobibor<br />
(1990), de Jack Gold, por exemplo, baseado em fatos reais, focaliza o cotidiano do<br />
famigerado campo de extermínio de Sobibor, construído em 1942, que, junto com os<br />
campos de Belzec e Treblinka, fazia parte do que os nazistas chamavam de “Operação<br />
Reinhard”, cujo único objetivo era o massacre sistemático de judeus. Durante a<br />
Segunda Guerra Mundial, os prisioneiros de Sobibor se rebelaram, provocando a<br />
maior fuga de campos de concentração. Cerca de 600 fugiram, em meio às balas nazistas<br />
e campos minados. Calcula-se que 300 conseguiram sobreviver. Um deles radicou-se<br />
no Brasil e foi o responsável pela captura do comandante do campo, na década<br />
de 1980, em um sítio de Atibaia, Estado de São Paulo (As leis brasileiras não previam<br />
a extradição. O nazista apareceu morto, após várias tentativas de suicídio. Consta que<br />
foi morto a facadas, embora sua morte tenha sido oficialmente atribuída a suicídio.).<br />
A Lista de Schindler (1993), de Steven Spielberg, conta a emocionante história real do<br />
empresário Oskar Schindler (1908-1974), um antigo militar polonês, bem relacionado<br />
com a SS, que progride rapidamente nos negócios ao se apropriar de uma fábrica de<br />
panelas (após o decreto que proibia aos judeus serem proprietários de negócios) e explorar<br />
o baixo custo da mão-de-obra judia. Porém, quanto mais os horrores da guerra<br />
avançam, mais ele se torna uma pessoa consciente de sua delicada posição. Se por<br />
um lado ele se apóia nos nazistas para manter seus privilégios de poderoso empresário,<br />
por outro, seu lado humano não consegue mais fechar os olhos para os terrores<br />
do Holocausto. Contando com a ajuda de seu contador judeu Itzak Stern,<br />
Schindler compõe uma lista com o nome de 1.100 judeus que serão transportados<br />
para trabalhar na sua fábrica na Tchecoslováquia ao invés de irem para os fornos crematórios<br />
do campo de extermínio de Auschwitz.<br />
Com o final da guerra, os “judeus de Schindler” ficam sabendo que o seu salvador foi à<br />
falência. Num gesto de máxima gratidão, extraem dos próprios dentes as obturações<br />
de ouro que serão convertidas num anel com a inscrição “Aquele que salva uma vida<br />
salva o mundo inteiro”. O filme termina colorido, com uma visita dos “judeus de<br />
Schindler” e alguns de seus descendentes ao túmulo de Oskar Schindler.<br />
43
“Esta lista é vida!” e a menina de vermelho num cenário em preto e branco:<br />
cenas do filme “A Lista de Schindler” (dir. Steven Spielberg, 1993).<br />
Já A Vida é Bela (1998), de Roberto Benigni, conta a história de um homem que usou a<br />
imaginação e seu infatigável espírito para salvar aqueles a quem mais amava. Ambientado<br />
na Itália fascista às vésperas e durante a Segunda Guerra Mundial, o filme acompanha<br />
o drama de um livreiro e seu filho, presos juntos num campo de concentração.<br />
Preocupado com a reação de desespero e medo do menino face à incompreensão dos<br />
horrores perpetrados pelos nazistas contra os judeus, ele inventa que a realidade do<br />
campo faz parte de um jogo em que, no final, aquele que fizer mil pontos ganhará como<br />
prêmio um tanque de guerra. Para isso, o pai busca criar uma série de criativos e inimagináveis<br />
artifícios para fazer com que o filho acredite que aquele horror, mais tenebroso a<br />
cada dia, não é verdadeiro e que tudo não passa de uma grande brincadeira.<br />
Transformando a vida no campo de concentração em uma brincadeira de criança:<br />
cenas do filme “A Vida é Bela” (dir. Roberto Benigni, 1998)<br />
Muitos filmes procuram mostrar como o Holocausto marcou a vida das pessoas durante<br />
as décadas de 1930 e 1940. Neste sentido, Sunshine - O Despertar de um Século<br />
(2000), de István Szabó, centra sua trama em Ivan Sonnenschein, que narra a saga de<br />
três gerações de sua família judia-húngara, de 1828 até os dias de hoje, misturando<br />
ficção com cenas de documentários históricos. O tataravô, Emmanuel, trabalha produzindo<br />
um tônico familiar revigorante de nome Sunshine (tradução inglesa para o<br />
nome Sonneschein), cuja a receita é um segredo de família. Seu filho mais velho, Ignatz,<br />
apaixona-se pela própria irmã adotiva e provoca sérias discussões em família. Na<br />
ânsia de subir na carreira e usando o dinheiro e a reputação do pai para tornar-se juiz,<br />
ele troca o sobrenome judeu por algo bem húngaro, Sors, e serve fielmente ao imperador,<br />
o que lhe causa problemas com o irmão Gustave, um revolucionário comunista que é<br />
perseguido e obrigado a fugir do país. O filho de Ignatz, Adam não liga para a política.<br />
Desde cedo descobre sua vocação para a esgrima e torna-se um atleta olímpico, en-<br />
44
quanto mantêm um caso com a esposa de seu irmão. Com a proximidade da Segunda<br />
Guerra Mundial, os irmãos se convertem ao catolicismo. Adam ganha a medalha de ouro<br />
nas Olimpíadas, mas quando o exército alemão invade a Hungria, nem mesmo sua reputação<br />
olímpica e todo o dinheiro de sua família conseguem evitar que os Sonneschein escapem<br />
dos horrores do Holocausto. Por fim, o filho de Adam, Ivan, decepcionado com as<br />
promessas políticas dos comunistas de um mundo melhor, decide se arriscar e enfrenta o<br />
passado, tendo a coragem de descobrir algumas verdades sobre si mesmo.<br />
No Brasil, o filme que se utiliza de uma narrativa centrada na relação personagem verídica-família-Holocausto<br />
é Olga (2004), de Jayme Monjardim, considerado pela mída “uma<br />
grande história de amor e intolerância”. Da infância burguesa na Alemanha à morte numa<br />
das câmaras de gás de Hitler, o filme retrata a vida e os ideais da militante comunista Olga<br />
Benário. Perseguida pela polícia desde jovem, Olga foge para Moscou, onde faz treinamento<br />
militar. Lá ela é encarregada de acompanhar Luís Carlos Prestes ao Brasil para liderar<br />
a Intentona Comunista de 1935, se apaixonando por ele na viagem. Com o fracasso<br />
da revolução, Olga é presa com Prestes. Grávida de 7 meses é deportada pelo governo<br />
de Getúlio Vargas para a Alemanha nazista e tem sua filha Anita Leocádia na prisão.<br />
Afastada da filha, Olga é então enviada para o campo de concentração de Ravensbrück,<br />
sendo uma das primeiras vítimas das câmaras de gás em 1942.<br />
Considerações Finais<br />
“Filho deste século, onde triunfa o espetacular, o cinema é ao mesmo tempo objeto e agente desse triunfo,<br />
ele é o empreendedor e o arquivista, o ator e a memória”.<br />
Jean-Louis Comolli<br />
O texto pretendeu realizar uma reflexão analítica das dimensões históricas da utilização do<br />
cinema para a construção de uma memória audiovisual do Nazismo e do Holocausto, dividida<br />
nas seguintes fases: 1) cinema como arma de propaganda nazista (1933-1945); 2) cinema/filme<br />
como “documento-prova” dos horrores do cotidiano dos campos de concentração,<br />
utilizados nas sessões do Julgamento de Nuremberg, realizadas de novembro de 1945 a<br />
outubro de 1946, e como <strong>arquivo</strong> de memórias das vítimas do Holocausto; 3) cinema/filme<br />
como representação audiovisual do Nazismo e do Holocausto, que está em constante processo<br />
de (re)construção, devido às inúmeras perspectivas assumidas pelas mais distintas<br />
cinematografias mundiais, desde 1933 até a atualidade. Conforme apresentado, o cinema<br />
foi utilizado como objeto de estudo e fonte para o historiador, como um veículo onde estão<br />
depositadas as ideologias, mentalidades, aspirações e representações de uma determinada<br />
sociedade, meio sobre o qual os governos tentam disseminar suas ideologias e exercer o<br />
seu poder político. Por esse motivo, o cinema constitui uma fonte valiosa para o estudo das<br />
representações políticas e culturais do Nazismo e do Holocausto.<br />
Afinal, conforme afirmam Leif Furhmmar e Folk Isaksson, a velha idéia de que os filmes<br />
podem ser considerados apenas como diversão ou arte, ou eventualmente ambos,<br />
é atualmente encarada com crescente ceticismo. É amplamente reconhecido que<br />
os filmes refletem também as correntes e atitudes existentes numa determinada sociedade,<br />
sua política. O cinema não vive num sublime estado de inocência sem ser<br />
afetado pelo mundo; tem também um conteúdo político, consciente ou inconsciente,<br />
escondido ou declarado. (FURHAMMAR, 1976, p.06.)<br />
45
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
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BENJAMIN, Walter. “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica (Primeira Versão –<br />
1935/1936)”. In: Magia e técnica, arte e política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Obras<br />
Escolhidas – Vol. I. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. “A Retórica da Intolerância”. In: LEWIN, Helena (org.). Judaísmo –<br />
Memória e Identidade. Vol. II. Rio de Janeiro: Editora da UERJ, s/d.<br />
_________. Holocausto. Crime contra a humanidade. São Paulo: Editora Ática, 2000.<br />
_________. “O Discurso da Intolerância: Fontes para o estudo do racismo”. In: 10º Congresso Brasileiro<br />
de Arquivologia / 7º Seminário de Fontes para História do Brasil. São Paulo: 1994.<br />
FERRO, Marc. Cinema e História. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.<br />
FURHAMMAR, Leif & ISAKSSON, Folke. Cinema e Política. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1976.<br />
HITLER, Adolf. Minha Luta. São Paulo: Moraes, 1983.<br />
HOBSBAWM, Eric J. A Era dos Extremos – O Breve Século XX (1914 - 1991). São Paulo: Companhia das<br />
Letras, 1996.<br />
KRACAUER, Siegfried. De Caligari a Hitler. Uma História Psicológica do Cinema Alemão. Rio de Janeiro:<br />
Jorge Zahar, 1988.<br />
LANZMANN, Claude. Shoah. Vozes e faces do Holocausto. São Paulo: Brasiliense, 1987.<br />
LEISER, Erwin. “Deutschland erwacht!” Propaganda im Film des Dritten Reiches. Berlim: Rowohlt, 1968.<br />
PEREIRA, Wagner Pinheiro. “Cinema e Estética Expressionista”, “Estetização da Política” e “Nazismo e<br />
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Revoluções do Século XX – As Grandes Transformações do Mundo Contemporâneo: Conflitos, Cultura e<br />
Comportamento. Rio de Janeiro: Elsevier / Campus, 2004.<br />
_________. “Cinema e Propaganda Política no Fascismo, Nazismo, Salazarismo e Franquismo”. História:<br />
Questões e Debates. Ano 20, Nº38. Curitiba: Editora UFPR, Jan./Jun. 2003.<br />
_________. “Guerra das Imagens: Cinema e Política nos Governos de Adolf Hitler e Franklin D. Roosevelt<br />
(1933 - 1945)”. São Paulo: Dissertação de Mestrado (Depto. de História – FFLCH-USP), Orientação:<br />
Profa. Dra. Maria Helena Rolim Capelato, 2003.<br />
_________. “Leni Riefenstahl: Vida e Lenda”. In: Revista Acadêmica História – APG/PUC-SP. Associação<br />
dos Pós-Graduandos da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Ano XIII, Nº 33 (Maio/2007). São<br />
Paulo: APG-PUC-SP, 2007.<br />
_________. “O Triunfo do Reich de Mil Anos: Cinema e Propaganda Política na Alemanha Nazista (1933-<br />
1945)”. In: CAPELATO, Maria Helena et alii. História e Cinema. Dimensões Históricas do Audiovisual. São<br />
Paulo: Alameda, 2007.<br />
REVISTA VEJA. nº470, 7/9/1977.<br />
SONTAG, Susan. “Fascinante Fascismo”. In: SONTAG, Susan. Sob o Signo de Saturno. São Paulo:<br />
L&PM Editores, 1974.<br />
NOTAS<br />
**Historiador. Mestre e Doutorando em História Social pela USP; pesquisador do LEER - Laboratório de<br />
Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação/USP e do Centro de Estudos sobre Anti-semitismo da<br />
Universidade Técnica de Berlim (Alemanha). Autor da dissertação de mestrado Guerra de Imagens: Cinema<br />
e Política nos governos de Adolf Hitler e Franklin D. Roosevelt (1933-1945); e do livro 24 de Outubro<br />
de 1929. A Quebra da Bolsa de Nova York e a Grande Depressão (São Paulo: Lazuli/ Série Rupturas,<br />
2006).<br />
46
O Holocausto nos Livros Didáticos:<br />
Silêncios e Omissões<br />
Helena Lewin*<br />
CONSTRUIR CONHECIMENTOS é a mais importante tarefa do professor. Contudo, além<br />
do conteúdo específico segundo sua especialização, esse processo educativo deve<br />
provocar uma revolução na formação das atitudes de seus alunos ao integrar questões<br />
fundamentais relacionadas aos direitos humanos e, principalmente, referidas à cidadania<br />
e à democracia, em seus fundamentos básicos de tolerância e diversidade.<br />
Estamos formalmente no século XXI mas nossas remissões, comparações e herança<br />
histórica nos situa ainda no século XX, considerado o período das grandes contradições<br />
que exerce forte influência sobre o comportamento atual. De um lado, a queda<br />
dos grandes impérios, a crise do capitalismo liberal, a emergência de regimes totalitários,<br />
as duas Guerras Mundiais, além da descolonização e da guerra fria.<br />
Por outro lado, é possível afirmar com Bobbio que o século XX deve ser apreendido como<br />
a Era dos Direitos entendida como a luta contra os preconceitos e a discriminação, e a<br />
emergência da globalização a partir da consolidada Tecnologia da Informação.<br />
A declaração dos Direitos do Homem, promulgada pela ONU, além de reafirmar os direitos<br />
fundamentais estabeleceu mecanismos de defesa e proteção dessas regras para<br />
o pleno funcionamento da vida coletiva. A questão dos direitos que outrora estava<br />
circunscrita à esfera da filosofia, atualmente transborda-se para integrar o universo jurídico-político<br />
ampliando seu escopo de ação e objetivando a construção de uma cidadania<br />
participativa e democrática.<br />
À atividade docente não basta enunciar os problemas referentes à edificação da cidadania.<br />
É necessário “descobrir”, “tirar as cobertas de cima do fenômeno”, “desnudar”<br />
os fatores que geram ou geraram a emergência das desigualdades sociais assim como<br />
sua perpetuação a fim de dotar os alunos de ferramentas capazes de produzir um amplo<br />
entendimento desse processo.<br />
O estreitamento do exercício da cidadania opera em conjunto com a discriminação social<br />
e seu correlato, o preconceito, a partir de elementos de várias ordens: o cultural, o<br />
religioso, o racial, entre outros. Caberá ao professor apresentar criticamente a matéria<br />
prima utilizada na confecção das visões pré-concebidas e tentar desmontá-las através<br />
tanto do recurso expositivo de ordem teórica quanto usando as mais variadas linguagens<br />
(filmes e vídeos, iconografia, música, literatura, arquitetura, propaganda, reportagens<br />
e artigos de revistas e jornais) utilizando-se da interdisciplinaridade e da<br />
transversalidade para enriquecer suas atividades pedagógicas.<br />
Propostas de trabalho: organizar um “mutirão interdisciplinar” para discutir a temática<br />
de duas formas: uma, reunindo os professores da sua escola para apresentar, em conjunto,<br />
suas visões de mundo relacionadas ao tema em questão, a partir do enfoque de<br />
suas disciplinas incentivando os alunos a participar do debate.<br />
47
A outra forma seria convidando palestrantes de fora do corpo docente da escola para<br />
discutir especialmente com os alunos algum tema de interesse vinculado à questão do<br />
Preconceito, da Intolerância e do Holocausto.<br />
A utilização do recurso da pesquisa como técnica de busca e de análise dos fatos históricos<br />
resulta ser extremamente produtiva e pode se converter em um valioso mecanismo<br />
para o aluno enfrentar seus próprios preconceitos.<br />
A relação do professor com o livro didático é, sobretudo, de apoio e não de completude. O<br />
livro didático – alguns mais abrangentes do que outros, alguns mais críticos do que outros<br />
– será sempre e apenas um recurso, um ponto de referência, porque cabe ao professor<br />
não se limitar a reproduzir a visão de seus autores mas, acima de tudo, introduzir a leitura<br />
interpretativa e crítica dos dados componentes do fenômeno em estudo.<br />
Em qualquer área do conhecimento, mas especialmente nas ciências sociais, torna-se imprescindível<br />
mostrar e demonstrar que a complexidade e a pluralidade das estruturas sociais<br />
nas quais as comunidades e as sociedades encontram-se sobredeterminadas, permitem<br />
vários olhares e várias formas de inter-relação entre seus elementos constitutivos.<br />
Valer-se de outras propostas metodológicas a fim de expandir a percepção do fenômeno<br />
em estudo, é um dos mais sensíveis “approach” à disposição do professor. Dependendo<br />
do livro didático escolhido, este apresenta uma ampla variedade de<br />
atividades complementares em torno do conteúdo em pauta. A apresentação de textos<br />
adicionais – escritos, orais ou visuais – converte-se em insumos para a reflexão e contínua<br />
re-interpretação além de incentivar a busca do significado destes temas através<br />
do exercício da investigação e da pesquisa orientadas pelo professor. Considerando<br />
que vivemos e interagimos em uma sociedade marcadamente oral mas, principalmente,<br />
visual devemos explorar esse viés sem, contudo, deixar de enfatizar o modo de<br />
fazer a escrita e a leitura como uma técnica das mais importantes para o futuro adulto<br />
circular no mundo do trabalho e da cultura.<br />
Se o professor não tem mais nada a acrescentar daquilo que o livro didático contem,<br />
ele, o professor, torna-se uma figura prescindível em sua função educadora. Apenas<br />
lhe resta a tarefa de “gerente” da avaliação, um burocrata do saber e não um criador e<br />
estimulador do pensamento, do raciocínio e da inteligência.<br />
A sala de aula é o desafio do professor. Enquanto a obra, o livro didático, é um produto da<br />
experiência e conhecimento de seu autor, o professor é o verdadeiro artífice de suas aulas,<br />
métodos e opções de trabalho. Para que não se transforme em mero ator faz-se necessário<br />
que, juntamente com seus alunos, levante questões, potencializando debates e<br />
produzindo novos “insight”. Dessa forma, nenhum livro pode dar conta das inúmeras situações<br />
com que a realidade da sala de aula desafia o professor visto enfrentar condições<br />
que estão na raiz da dinâmica da vida social de seus alunos e de sua problemática.<br />
O livro didático, como qualquer obra humana, é produto de seu tempo. Envelhece, caso<br />
não esteja sendo permanentemente atualizado, pouco provável que ocorra na velocidade<br />
desejada em uma economia de mercado. Por outro lado, o livro traz a marca de<br />
seu autor na medida que seu conteúdo reflete o recorte que utiliza – selecionando<br />
certos fenômenos, iluminando-os, ou descartando outros, obscurecendo-os – de acordo<br />
com suas preferências teóricas e metodológicas, além de sua impossibilidade de<br />
reproduzir a totalidade social.<br />
48
Valorizar a cultura nacional passa a ser um dos objetivos fundamentais do professor,<br />
vigilante para não propiciar a emergência de um clima de “nacionalismo primário” ou<br />
de uma “xenofobia infantil” em relação ao binômio “o nós e o outro” e a tensionada<br />
relação entre o “nacional e o estrangeiro”. Esta valorização é extremamente necessária<br />
no mundo globalizado em que vivemos a fim de fortalecer a nacionalidade sem cair<br />
no extremo panfletário.<br />
A análise processada nos 32 livros didáticos consultados, utilizados para a 8 a . série<br />
e ensino médio – matemática, português, biologia, ciências e principalmente os de história<br />
– à luz da indagação sobre o tratamento de temas relacionados com Intolerância,<br />
Preconceito, Discriminação, Racismo, Totalitarismo e Conflito referenciados à 2 a .<br />
Guerra mundial, cabe apontar algumas observações a partir do recorte sobre o Holocausto,<br />
objeto de estudo desta Jornada.<br />
Considerando que os livros acima apontados, com exceção dos de História, não apresentaram<br />
nenhuma referência ou “chamada” em relação ao atual tema em análise, resolveu-se<br />
não levá-los em consideração, neste momento. Optou-se por apreciar os<br />
livros de História para uma análise mais apurada pois neles, como parte integrante de<br />
sua disciplina, constam capítulos diretamente vinculados à discussão sobre o conteúdo<br />
que se quer apresentar – o Holocausto e o Anti-semitismo – transitando desde a 1 a .<br />
Guerra Mundial, o entre guerras, a emergência das ditaduras fascista e nazista na Europa<br />
até a 2 a . Guerra Mundial com suas implicações e conseqüências .<br />
De um modo geral, foi possível classificar os livros pesquisados em três grandes categorias,<br />
levando em conta não apenas o conteúdo específico como também as atividades<br />
complementares, textos selecionados para análise, leituras sugeridas assim<br />
como recomendação de filmes e vídeos.<br />
a) aqueles que não mencionam as questões acima discriminadas: omissão = 15%<br />
b) aqueles que tratam do tema mas algumas ausências são notadas: parcialidade = 75%<br />
c) aqueles que dão cobertura ampla no tratamento do tema: suficiência = 10%<br />
Sugestões para completar a temática:<br />
• Quanto ao processo de nazificação da sociedade alemã: analisar as medidas discriminatórias<br />
conforme constam nas Leis de Nuremberg, editadas em 1935, que determinam<br />
o que é ser judeu e o tratamento segregador dispensado. Essas leis estão<br />
na raiz da construção do totalitarismo que se inicia com a quebra das liberdades individuais<br />
e sociais, espetáculos de queima de livros de autores de oposição ao regime<br />
e de judeus, muitos dos quais de renome internacional(Einstein, Freud, entre<br />
outros), restrições ao acesso às universidades, destituição de judeus de todos os<br />
cargos públicos, prisões e encarceramento em campos de concentração.<br />
• Discutir a diferença entre autoritarismo, totalitarismo e democracia mencionando<br />
como exemplo o fechamento de todos os partidos políticos e instalação da censura<br />
na Alemanha de Hitler. Relacionar esses itens com os regimes ditatoriais brasileiros<br />
e a produção intelectual da época.<br />
• O envolvimento direto das SS e SA e o apelo aos movimentos populares nas ações<br />
de destruição ocorridas na denominada “Noite de Cristal”, em 1938, (sinagogas e<br />
estabelecimentos comerciais judaicos destruídos, perseguição e violência física<br />
49
contra os judeus) além de outras atividades de exclusão social e política que se sucederam<br />
em toda a Alemanha.<br />
• Caracterizar conceitualmente o anti-semitismo e rever criticamente a afirmação de<br />
que o fenômeno do Anti-semitismo origina-se na Idade Média, conforme registro em<br />
muitos dos livros consultados.<br />
• Conceituar o Holocausto/Shoá: na maioria dos livros estudados, o seu significado<br />
não é sequer mencionado implicando na minorização deste fato histórico.<br />
• A obrigatoriedade do uso de marcas distintivas (como exemplo, a estrela amarela, o<br />
triângulo roxo, entre outros), como estigma visível da discriminação e preconceito.<br />
Discutir o significado da etiquetagem social e política e a questão da não aceitação<br />
do diferente.<br />
• A Questão Racial: a) apresentar as teses pseudocientíficas da teoria da superioridade<br />
racial e introduzir as pesquisas recentes que desmentem a existência de raças<br />
humanas: o Projeto Genoma. Mostrar como a teoria racial foi manipulada para a<br />
consolidação do poder nazista e para justificar a eliminação de judeus, ciganos, eslavos,<br />
homossexuais, opositores do regime, entre outros, nos campos de concentração<br />
e de extermínio, b) mostrar a diferença entre esses dois tipos de campos e a<br />
utilização dos encarcerados como mão de obra escrava para indústria bélica alemã.<br />
• A Marcação Numérica dos prisioneiros: a tatuagem como contabilidade macabra e desumanização<br />
do homem ao lhe ser retirado a única identidade que lhe restava, seu nome.<br />
• Questões praticamente omissas nos livros didáticos: – a Conferência de Vansee na<br />
qual estabelece, como política de Estado, o extermínio massivo dos judeus utilizando<br />
tecnologia avançada de gazes para a incineração segura e rápida. A outra –<br />
a resistência do Gueto de Varsóvia e de outros guetos menores como uma saga de<br />
heroísmo e combate às tropas alemãs munidas de equipamento bélico pesado frente<br />
a uma população desarmada e faminta. Apresentar, também, a luta dos Partizans<br />
nas florestas e bosques que assume o significado de um desproporcional esforço<br />
de sobrevivência nos territórios ocupados pelos nazistas.<br />
• Utilizar o recurso pedagógico de exibição de filmes com discussão subseqüente.<br />
• Temas para debate:<br />
a) esporte e racismo - as olimpíadas de 1936 e a de Munich em 1972;<br />
b) o papel da propaganda e o uso do rádio e do cinema; a arquitetura e a estética<br />
das paradas e das bandeiras.<br />
• Discutir: As novas formas de anti-semitismo contemporâneo e a negação do Holocausto.<br />
Para finalizar: “Quem não Aprende com a História está Destinado a Repetí-la”<br />
NOTAS<br />
* Prof. Dra em Sociologia (USP)<br />
Coordenadora do PROGRAMA DE ESTUDOS JUDAICOS/ Universidade do Estado do Rio de Janeiro<br />
50
Educação, Poesia e História:<br />
Um Diálogo Possível na Temática do Holocausto<br />
Kênia Maria de Almeida Pereira *<br />
Quando evocamos o nome de Vinícius de Moraes, lembramos sempre do poeta plural,<br />
que transitou pela música, cinema e teatro. Ao lado de Antonio Carlos Jobim, Vinícius<br />
deu grande impulso à Música Popular Brasileira, com o revigoramento da Bossa Nova.<br />
Ele é, ainda, o cantor das garotas de Ipanema, o trovador dos amores quase infinitos,<br />
dos sonetos da separação, o poeta lascivo, trovando para todas as mulheres as sonatas<br />
do amor perdido. Suas músicas e poesias podem ser ouvidas ainda estilizadas<br />
numa espécie de jingle, em comerciais de televisão, direcionados à mulher.<br />
Para Alfredo Bosi, Vinícius de Moraes é, talvez, depois de Bandeira, o mais intenso<br />
poeta erótico da poesia brasileira moderna. Claro que um erotismo sutil, envolto em<br />
pudores de quem foi educado por jesuítas 1 . O poema Agonia celebra bem este misto<br />
entre erotismo e contenção ascética, mencionados por Bosi:<br />
AGONIA<br />
“No teu grande corpo branco depois eu fiquei<br />
Tinhas os olhos lívidos e tive medo<br />
Já não havia sombra em ti_ eras como um grande deserto de areia<br />
Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites.<br />
Na minha angústia eu buscava a paisagem calma<br />
Que me havias dado tanto tempo<br />
Mas tudo era estéril e monstruoso e sem vida<br />
E teu seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.<br />
Eu estremecia agonizando e procurava me erguer<br />
Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.<br />
Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma<br />
Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como voragem<br />
Depois foi o sono, o escuro, a morte.<br />
Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente<br />
Vinha cheio do pavor das tuas entranhas.” 2<br />
Mas Vinícius não é apenas o poeta do amor que se afoga em sensualidade e oração,<br />
nem só o poeta adocicado dos comerciais de perfume. Ele é também um lírico entristecido<br />
com o fatídico adeus de outros escritores. Um cantor, também, da despedida e<br />
da morte. Desolado, por exemplo, com o suicídio do poeta norte-americano Hart Crane,<br />
escreve, em 1932, a bela elegia intitulada O poeta Hart Crane suicida-se no mar.<br />
Elabora, também, sob o impacto do fuzilamento de Federico Garcia Lorca, as contundentes<br />
estrofes do poema A morte de madrugada. Já para o velório Mário de Andrade,<br />
compõe um doloroso poema intitulado A manhã do morto.<br />
Vinícius é ainda o artista alarmado com os muitos problemas sociais, um vate engajado<br />
e politizado. Um poeta com poesias participantes. Vinícius estava disposto a denunciar<br />
tanto a pobreza do operário em construção, como a intensa luta das prostitutas<br />
51
do mangue, além das muitas catástrofes oriundas da Segunda Guerra Mundial, dentre<br />
elas, os campos de concentração da Alemanha nazista e as bombas de Hiroshima e<br />
Nagasaki.<br />
Vinícius recupera uma forma medieval de fazer versos, a balada, que é o embrião do<br />
teatro e da dança, para rimar, de modo inusitado, hediondas com giocondas. Tudo isso<br />
sobre o arcabouço melódico da redondilha maior, a qual empresta ao poema uma cadência<br />
rítmica marcada pelo lamento e pela tristeza. Nasce, assim, a Balada dos mortos<br />
dos campos de concentração. Vamos à leitura:<br />
“Cadáveres de Nordhausen<br />
Erla, Belsen e Buchenwald!<br />
Ocos, flácidos cadáveres<br />
Como espantalhos, largados<br />
Na sementeira espectral<br />
Dos ermos campos estéreis<br />
De Buchenwald e Dachau.<br />
Cadáveres necrosados<br />
Amontoados no chão<br />
Esquálidos enlaçados<br />
‘Em beijos estupefatos<br />
Como ascetas siderados<br />
Em presença de visão.<br />
Cadáveres putrefatos<br />
Os magros<br />
braços em cruz<br />
Em vossas faces hediondas<br />
Há sorrisos de giocondas<br />
E em vossos corpos, a luz<br />
Que da treva cria a aurora.<br />
Cadáveres fluorescentes<br />
Desenraizados do pó<br />
Que emoção não dá-me o ver-vos<br />
Em vosso êxtase de nervos<br />
Em vossa prece tão-só<br />
Grandes, góticos cadáveres!<br />
Ah, doces mortos atônitos<br />
Quebrados a torniquete<br />
Vossas louras manicuras<br />
Arrancaram-vos as unhas<br />
No requinte de tortura<br />
Da última toalete...<br />
A vós vos tiraram a casa<br />
A vós vos tiraram o nome<br />
Fostes marcados a brasa<br />
Depois vos mataram de fome!<br />
Vossas peles afrouxadas<br />
Sobre os esqueletos dão-me<br />
A impressão que éreis tambores –<br />
Os instrumentos do Monstro –<br />
Desfibrados a pancada:<br />
Ó mortos de percussão!<br />
Cadáveres de Nordhausen<br />
52
Erla, Belsen e Buchenwald!<br />
Vós sois o húmus da terra<br />
De onde a árvore do castigo<br />
Dará madeira ao patíbulo<br />
E de onde os frutos da paz<br />
Tombarão no chão da guerra!” 3<br />
Para quem fez poemas clamando que a beleza é fundamental, eis que agora chegou o<br />
momento de compor sobre os horrores e pavores de cadáveres torturados em decomposição.<br />
Lembremos que o Belo, na modernidade, prenuncia-se no“feio” e adquire sua<br />
inquietude, como queria Baudelaire, mediante a absorção do bizarro, do grotesco e do<br />
espantoso 4 . Quando estourou a Segunda Grande Guerra, Vinícius, que estava na Inglaterra<br />
estudando literatura inglesa em Oxford, foi obrigado a abandonar tudo e regressar<br />
ao Brasil, trazendo consigo as reminiscências terríveis de uma Europa em<br />
convulsão.<br />
O totalitarismo de Hitler incluía, dentre outras loucuras, o massacre dos judeus encarcerados<br />
em campos de concentração. Quando Vinícius publicou, em 1946, o livro Poemas,<br />
sonetos e baladas, do qual faz parte o poema lido, a guerra já havia terminado,<br />
iniciava-se agora a contagem dos mortos: centenas, milhares deles. O mundo tinha<br />
pouco a comemorar, os judeus, muito menos: 6 milhões deles haviam sido exterminados<br />
pelo rolo compressor do racismo e do ódio.<br />
Os campos de concentração não foram inventados pelos alemães, eles datam das<br />
guerras coloniais, foram as autoridades espanholas, em Cuba, durante a guerra da independência,<br />
em 1898, que, pela primeira vez, fizeram uso dessa arma estratégica,<br />
encarcerando grandes massas camponesas. Foi, contudo, na ditadura nazista que esse<br />
conglomerado humano funesto adquiriu fama, ganhou fôlego, alastrou-se da Alemanha<br />
para outras regiões da Europa. Áustria, Polônia (com o famoso Auschwitz),<br />
Iuguslávia, Ucrânia, Noruega, Holanda, Bélgica, França.<br />
O primeiro campo de concentração que, aliás, serviu como modelo para a criação dos<br />
demais, é Dachau, criado em 1933, quando Hitler foi aclamado Chanceler do Terceiro<br />
Reich. Vinícius enumera em seus versos os mais conhecidos deles, os de fama mais<br />
sinistra: Nordhausen, Erla, Belsen, Buchenwald, Dachau. Por estas prisões, passaram<br />
milhares de detidos; se a grande maioria consistia de judeus, havia também outros<br />
grupos perseguidos como os ciganos, comunistas, homossexuais, deficientes físicos e<br />
mentais, dissidentes políticos, anarquistas e Testemunhas de Jeová. Tudo isso em<br />
nome da purificação da raça: uma raça pura, ariana, isenta da contaminação judaica e<br />
de outros elementos considerados nocivos. O grotesco e o disforme não poderiam ser<br />
poupados. Lendo os trechos mais ignominiosos da obra Mein Kampf , Hitler não deixa<br />
dúvidas: os Judeus são como ratos a infestar as nossas cidades, devem ser exterminados<br />
como exterminamos as pragas.<br />
Os sofrimentos dessas vítimas são intuídos por Vinícius de forma incisiva nos versos:<br />
“Ocos, flácidos cadáveres/como espantalhos largados”. Ocos, já que os prisioneiros<br />
depois de serem submetidos ao confisco de todos os seus bens materiais, perdiam<br />
também sua identidade e, conseqüentemente, sua dignidade. Flácidos, já que eram<br />
submetidos a um regime obrigatório de fome, passando a pão e água, de vez em<br />
quando, uma sopa rala. Trabalhavam em tarefas inúteis, estafantes, pesadas: quebra-<br />
53
vam pedras, carregavam areia, cavavam valas. Trabalhadores subnutridos expostos à<br />
neve, à chuva, ao frio, ao sol escaldante. Depois de mortos, sugeriam a imagem de<br />
espantalhos, abandonados ao relento, amedrontando os pássaros, apavorando os vivos.<br />
Nem todos morriam de inanição, muitos se suicidavam, outros enlouqueciam.<br />
Hannah Arendet, ao refletir sobre o sistema totalitário e os campos de concentração<br />
observa que:<br />
“(...) é apenas aparente a inutilidade dos campos, a sua anti-utilidade cinicamente confessada.<br />
Na verdade, nenhuma outra das suas instituições é mais essencial para preservar<br />
o poder do regime. Sem os campos de concentração, sem o medo indefinido<br />
que inspiram e sem o treinamento muito definido que oferecem em matéria de domínio<br />
totalitário, que em nenhuma outra parte pode ser inteiramente testado em todas as suas<br />
radicais possibilidades, o Estado totalitário não pode inspirar o fanatismo das suas<br />
tropas sem manter um povo inteiro em completa apatia.” 5<br />
“Cadáveres necrosados, amontoados no chão”. Uma cena aterradora que imediatamente<br />
nos remete às fotografias dos livros de história, delatando as centenas de corpos<br />
amontoados em valas comuns. Mas é, talvez, Primo Levi, escritor judeu, expresidiário,<br />
testemunha e vítima que experimentou os rigores das milícias nazistas,<br />
quem melhor descreve os tormentos impostos às vítimas. Levi expõe que, dentre os<br />
prisioneiros, alguns eram escolhidos para fazer parte de algo mais terrível, o Esquadrão<br />
Especial. Primo Levi relata ainda que dentre os próprios prisioneiros, alguns eram<br />
escolhidos para manejar os fornos crematórios e acionar as câmaras de gás:<br />
“Com esta denominação deliberadamente vaga, esquadrão especial, era indicado pelos<br />
SS o grupo de prisioneiros aos quais estava confiada a gestão dos fornos crematórios.<br />
A eles cabia manter a ordem entre os recém-chegados (muitas vezes,<br />
inconscientes do destino que os esperava) que deviam ser introduzidos nas câmaras<br />
de gás; tirar das câmaras os cadáveres; extrair o ouro dos dentes; cortar o cabelo das<br />
mulheres; separar e classificar as roupas, os sapatos, o conteúdo das bagagens;<br />
transportar os cadáveres para os fornos crematórios e cuidar do funcionamento dos<br />
fornos; retirar e eliminar as cinzas.” 6<br />
Primo Levi menciona, ainda, que raros foram os participantes desse Esquadrão Especial<br />
que escaparam com vida, a maioria foi eliminada antes do término da guerra, uma<br />
vez que os nazistas não admitiam que portadores desse horrendo segredo pudessem<br />
sobreviver para relatá-lo á posteridade. Com o Esquadrão Especial, Hitler acabou por<br />
inventar algo funesto para a identidade judaica: a vítima-carrasco.<br />
“A vós tiraram a casa/ a vós vos tiraram o nome/ fostes marcados em brasa/ depois<br />
vos mataram de fome” Estes versos, com suas rimas soantes, ficam ecoando pelo poema<br />
como a entoação de uma ladainha, a recitação de um salmo, uma oração tartamudeante.<br />
Depois de perder os bens materiais, as vítimas perdiam também a condição<br />
de ser humano, relegados ao plano dos animais, eram também marcados com ferro<br />
em brasa. Mais uma vez, Primo Levi, o judeu que não quer se calar, relata-nos que a<br />
ação de tatuar o corpo dos prisioneiros como gado era procedimento rotineiro nos<br />
campos de concentração:<br />
“A operação era pouco dolorosa e não durava mais que um minuto, mas era traumática.<br />
Seu significado simbólico estava claro para todos: este é um sinal indelével, daqui não sairão<br />
mais; esta é a marca que se imprime nos escravos e nos animais destinados ao ma-<br />
54
tadouro, e vocês se tornaram isso. Vocês não têm mais nome: este é o seu nome. A<br />
violência da tatuagem era gratuita, um fim em si mesmo, pura ofensa...” 7<br />
Vossas peles afrouxadas<br />
Sobre os esqueletos dão-me<br />
A impressão que éreis tambores –<br />
Os instrumentos do Monstro –<br />
Desfibrados a pancada:<br />
Ó mortos de percussão<br />
Vinícius fala nas peles frouxas de pancadas. Pancadas horrendas, disferidas sobre<br />
corpos ossudos, espécie de tambores arrebentados pela dureza dos castigos impetrados<br />
pelo Monstro-Hitler. A interessante metáfora comparativa, aproximando os sofrimentos<br />
dos judeus à percussão de um instrumento musical, também, nos remete às<br />
lamúrias das mulheres e das crianças, já que elas eram as primeiras a serem sacrificadas<br />
nas câmaras de gás. Eichmann, um dos carrascos nazistas julgados em Jerusalém,<br />
durante interrogatório, afirmou que, enquanto trabalhou burocraticamente como<br />
coordenador dos campos, às vezes, passava horas observando as imensas filas de<br />
judeus nus, balbuciando preces, eles avançavam inocentes, pelos longos corredores<br />
para serem asfixiados com ácido ciânico. 8 Cena só comparável a alguns cantos de o<br />
Inferno de Dante. No canto V de A Divina Comédia, encontramos Minos, o mitológico<br />
juiz dos mortos, aliado aos ventos inclementes, a fustigarem de tal maneira as sofridas<br />
almas que foi grande o clamor e o pranto a ressoar pelo inferno inteiro:<br />
“A tormenta infernal não tem repouso:<br />
Na garra, em fúria, as almas arrebata,<br />
E agita, e fere, em giro doloroso.<br />
Quando a ruína defrontam, já desata<br />
Queixa, soluço, grita, maldição,<br />
E a divina virtude se destrata.” 9<br />
Ao final do poema, Vinícius encerra, clamando:<br />
Vós sois o húmus da terra<br />
De onde a árvore do castigo<br />
Dará madeira ao patíbulo<br />
E de onde os frutos da paz<br />
Tombarão no chão da guerra!” 10<br />
Húmus da terra. Como falar impunemente sobre os judeus e não mencionar a revolução<br />
intelectual desencadeada por eles? Eles são espécie de húmus da civilização ocidental.<br />
Sabemos que são inúmeras as personalidades judaicas que mudaram a nossa<br />
concepção do mundo e de nós mesmos. Spinoza, Marx, Freud, Einstein, Walter Benjamin<br />
etc. Sem nos esquecermos de citar a centena de escritores excepcionais que<br />
mudaram o curso da literatura no Brasil e no mundo: Kafka, Fernando Pessoa, Samuel<br />
Rawet, Clarice Lispector, Moacyr Scliar etc, etc.<br />
Já os últimos versos que fecham o poema “E onde os frutos da paz/ tombarão no chão<br />
da guerra.”, parecem mais uma profecia a ecoar pelo futuro, um vaticínio assustador. A<br />
árvore da paz traz também a guerra. A criação do Estado de Israel, em 1948, deveria<br />
trazer a concórdia e tranqüilidade aos milhares de judeus sem pátria, mas o que se viu,<br />
55
daquele ano até hoje, foram verdadeiras carnificinas, guerras absurdas, envolvendo<br />
palestinos e judeus, massacres milenares que parecem ser infinitos, os quais acabaram<br />
por culminar nas atuais convulsões do Oriente Médio.<br />
“Os frutos da paz tombarão no chão da guerra”. Para Eric Hobsbawm, “o século 20 foi<br />
o mais assassino na história registrada. O número total de mortes causadas por ou associadas<br />
a suas guerras foi estimado em 187 milhões, o equivalente a mais de 10% da<br />
população mundial em 1913” 11 .<br />
É de se perguntar: o que nos reservará o século XXI? Ainda estamos no início do novo<br />
milênio e já presenciamos estupefatos: atentados terroristas, conflitos no Oriente Médio,<br />
que impulsiona um nova onda de anti-semitismo, convulsão econômica na América<br />
Latina, multiplicação das bombas atômicas, o aumento descontrolado do tráfico de<br />
drogas e da violência nas grandes cidades, devastação do meio ambiente etc, etc. O<br />
que mais nos restará?<br />
Os campos de concentração nazista, evocados dolorosamente por Vinícius de Moraes,<br />
estão historicamente muito próximos de nós. Só se passaram cinqüenta e dois anos<br />
e, diante do caos e instabilidade político-econômica que o mundo atravessa, toda aquela<br />
barbárie nazista pode acontecer novamente. Daí, o papel do artista de registrar, delatar,<br />
denunciar. A memória desses massacres devem ser registrada para nunca serem esquecidos.<br />
O poema de Vinícius é um registro, mas, também, um alerta, principalmente para<br />
quem está atuando em sala de aula. Com a perda das referências morais e éticas, enfrentadas<br />
hoje pelos adolescentes, talvez, reste mesmo, apenas, ao poeta e ao professor o<br />
papel de alertar essa moçada para que o passado não se repita.<br />
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, autor do interessante livro Modernidade e Holocausto,<br />
chama a atenção para o fato de que nunca se pode esquecer que foi o mundo<br />
racional da civilização moderna e as conquistas tecnológicas e burocráticas da sociedade<br />
ocidental que tornaram o holocausto possível. As mesmas estratégias usadas<br />
nas linhas de produção das fábricas foram aplicadas nos Campos, desde as experiências<br />
biológicas, passando pelas enormes e organizadas filas a caminho das câmaras<br />
de gás, até os pavorosos fornos de cremação. Bauman diz mais: “o regime nazista de<br />
há muito desapareceu, mas seu legado venenoso está longe de morto” 12 . Infelizmente,<br />
o que tornou o holocausto possível não foi eliminado.<br />
Dentre os inúmeros fatores sócio-político-sociais que guardam em seu bojo as sementes<br />
que podem reeditar os perigos do holocausto está a péssima formação educacional<br />
de nossos adolescentes. Todos sabem do crescimento dos grupos neo-nazistas tanto<br />
no Brasil como na Europa e EUA. Grupo formado, em sua maioria, por jovens urbanos,<br />
classe média. Jovens comuns que, bem ou mal, freqüentam as salas de aula. Jovens<br />
que assistem às nossas aulas. Desta forma, o papel do educador comprometido<br />
tornou-se mais complexo, ou nos dizeres de Edgar Morin: o professor deve educar para<br />
a paz, este um dos maiores desafios à educação do futuro 13 .<br />
O filósofo Adorno, por sua vez, vai mais longe, ainda, quando alertava, em 1960, em<br />
seu livro Educação e Emancipação para o fato de que comentar sobre a temática de<br />
Auschwitz deveria ser uma das tarefas mais importantes na área da educação.No entanto,<br />
complementa ele, este assunto tem merecido pouca atenção. Ainda para Theodor<br />
Adorno, “qualquer debate acerca de metas educacionais carece de significado e<br />
importância frente à essa meta: que Auschwitz não se repita” 14 .<br />
56
Tal desafio torna-se maior ainda, quando ouvimos os ecos da voz de Paulo Freire a<br />
nos provocar em Pedagogia da autonomia. Para Freire, “ensinar exige risco, aceitação<br />
do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação” 15 .<br />
Tucci Carneiro, em seu livro, Holocausto crime contra a humanidade, observa que tanto<br />
a desinformação quanto a não preservação da memória são situações que favorecem<br />
as ideologias extremistas. Assim sendo, pelo mundo todo, temos museus e<br />
edificações que tentam preservar a memória histórica e alertar para os perigos a que a<br />
humanidade está exposta, se tentar incorrer naqueles mesmos erros. Em Washington,<br />
temos o Memorial do Holocausto, Em Nova York, O Museu da Herança Judaica, em<br />
Montreal, no Canadá há o Centro do Holocausto. Na Polônia, o Museu Auschwitz,. Já<br />
em Israel há o Yad Vashem (Jerusalém), o Museu da Diáspora (Tel-Aviv) e o museu<br />
Lojamei Haghettaot (ao norte). Em Berlim, temos o Museu judaico, inaugurado em<br />
1999. Finalmente, no Brasil, em São Paulo, há um memorial dedicado às vítimas do<br />
holocausto, no Cemitério Israelita do Butantã. Ali está guardada uma urna, contendo<br />
cinzas procedentes de vítimas do nazismo do mundo todo. 16<br />
Já quanto à literatura, inúmeros livros de memórias, diários, romances, contos e poemas<br />
podem ser explorados em sala de aula, uma vez que são obras que ajudam na<br />
reflexão sobre tema tão desconfortável e penoso: a perseguição e morte de seis milhões<br />
de judeus. Talvez, o mais famoso desses relatos seja O diário de Anne Frank,<br />
escrito pela adolescente Anne Frank, entre 1942 e 1944. Importante, também, são todas<br />
as obras de Primo Levi: Os afogados e os sobreviventes, É isto um homem?, A<br />
trégua.<br />
Seria interessante, também, a leitura de O centauro no jardim, de Moacyr Scliar. Neste<br />
intrigante romance, o autor enfoca de forma metafórica, na simbologia ambígua de um<br />
centauro, a problemática de ser judeu em meio aos cristãos. Não podemos esquecer,<br />
ainda, os vários poetas que enfocaram a temática do holocausto e do anti-semitismo<br />
na cadência de seus versos, como, por exemplo, Vinícius de Moraes, que acabamos<br />
de ler, Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, dentre outros. Estas são apenas<br />
algumas sugestões para tornar as aulas mais criativas, inteligentes e menos maçantes.<br />
Falar sobre a Segunda Guerra, falar sobre Holocausto e anti-semitismo, na era<br />
da informática e da tecnologia do computador, falar para jovens que, nem sempre querem<br />
nos ouvir, é sempre desafiador: uma esfinge que todos os dias nos ameaça e se<br />
não estivermos respaldados com boa bibliografia e boa vontade, com certeza, ela nos<br />
devorará.<br />
Mas, ser educador é, também, ter esperança. Voltemos ao Vinícius de Moraes. Se Vinícius<br />
compôs sobre o holocausto, também, cantou o amor e a esperança. Os poetas<br />
sabem que a natureza humana é o espaço da perplexidade, do amor e do ódio, da paz<br />
e da guerra, da fantasia e da ambigüidade, talvez, por isso, Vinícius tenha criado um<br />
dos seus mais interessantes e conhecidos poemas intitulado Soneto da separação.<br />
Talvez, hoje, diante dos atuais conflitos no mundo, estas estrofes representam uma<br />
espécie de metáfora impregnada de simbolismo que a linguagem polissêmica e plurissignificativa<br />
da literatura acolhe tão bem. Ao contrário de Adorno, o qual dizia que, depois<br />
de Auschwitz, fazer poesia seria impossível, pelo contrário, acreditamos que,<br />
depois do Holocausto e do atual caos e desassossego, só nos restou a poesia. Termino,<br />
assim, este texto com a leitura desses belos versos de Vinícius:<br />
57
Soneto da separação<br />
“De repente do riso fez-se o pranto<br />
Silencioso e branco como a bruma<br />
E das bocas unidas fez-se a espuma<br />
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.<br />
De repente da calma fez-se o vento<br />
Que dos olhos desfez a última chama<br />
E da paixão fez-se o pressentimento<br />
E do momento imóvel fez-se o drama.<br />
De repente, não mais que de repente.<br />
Fez-se de triste o que se fez amante<br />
E de sozinho o que se fez contente.<br />
Fez-se do amigo próximo o distante<br />
Fez-se da vida uma aventura errante<br />
De repente, não mais que de repente.”<br />
NOTAS<br />
* Doutora em Literatura Brasileira pela UNESP - São José do Rio Preto – SP<br />
Professora do programa de mestrado em Educação - UNITRI_Uberlândia.<br />
e do programa de mestrado em Teoria da Literatura- Universidade Federal de Uberlândia-MG.<br />
Pesquisadora do LEER/USP<br />
1- BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira. São Paulo: Cultrix, 1983. p 514.<br />
2- MORAES, Vinícius de. Antologia poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.23<br />
3- MORAES, Vinícius. idem.p.149.<br />
4- FRIEDRICH, Hugo. Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991. p.44.<br />
5- ARENDET, Hanna. O sistema totalitário. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.565.<br />
6- LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990. p.26.<br />
7- idem, ibidem,p.72<br />
8- ARENDT. Hanna. Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.26.<br />
9- ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: O Inferno. São Paulo: GRD/Brasília: INL, 1976. p.25.<br />
10- MORAES, Vinícius. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. p.149.<br />
11- HOBSBAWM, Eric. “ A epidemia da guerra”. In: Folha de São Paulo. Caderno Mais. 14 de abril,<br />
2002.p.5.<br />
12- BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto. Rio de Janeiro: Jorge zahar, 1998.p.233.<br />
13- MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.São Paulo: Cortez, 2000.<br />
14- ADORNO, T. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995. p.119<br />
15- FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia..São Paulo: Paz e Terra, 1997. p.39.<br />
16- CARNEIRO, Maria Luíza Tucci. Holocausto-crime contra a humanidade.São Paulo:Ática, 2000.p.81-2<br />
BIBLIOGRAFIA<br />
ADORNO, T. Educação e emancipação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1995.<br />
ALIGHIERI, Dante. A Divina Comédia: O Inferno. São Paulo: GRD/ Brasília: INL, 1976.<br />
ARENDT. Hanna. Eichmann em Jerusalém. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.<br />
______________.O sistema totalitário. Lisboa: Dom Quixote, 1978.<br />
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e holocausto.Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.<br />
BOSI, Alfredo. História Concisa da Literatura Brasileira.São Paulo: Cultrix, 1983.<br />
CARNEIRO, Maria Luíza Tucci. Holocausto: crime contra a humanidade. São Paulo: Ática, 2000.<br />
FRANK, Anne. Diário de Anne Frank. Rio de Janeiro: Record, s/d.<br />
58
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997.<br />
FRIEDRICH, Hugo.Estrutura da lírica moderna. São Paulo: Duas Cidades, 1991.<br />
HITLER, Adolf. Minha luta. São Paulo, Moraes, 1983.<br />
HOBSBAWM, Eric. “ A epidemia da guerra”. In: Folha de São Paulo. Caderno Mais. 14 de abril,2002.p.5.<br />
LEVI, Primo. Os afogados e os sobreviventes. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990.<br />
MORAES, Vinícius. Antologia Poética. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.<br />
MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro.São Paulo: Cortez, 2000.<br />
SCLIAR, Moacyr. O centauro no jardim. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.<br />
59
Canção da Judia de Varsóvia<br />
Meu nome, já não sei.<br />
Só de Judia me chamam.<br />
Meu rosto já foi bonito, na primavera em Varaóvia.<br />
Um dia, chegou o inverno,<br />
Trazido pelos nazistas;<br />
E nunca mais quis ir embora.<br />
Um dia já fui bonita,<br />
Tive noivo, e tive sonhos.<br />
Trazidos pelos nazistas<br />
Veio o terror, veio a morte.<br />
As flores se acabaram...<br />
As criancinhas também.<br />
Meu noivo foi fuzilado na madrugada do inverno.<br />
Alegres jardins de outrora hoje já não existem.<br />
Nunca mais verei as flores.<br />
As criancinhas morreram de fome, pelas sarjetas,<br />
Furadas de baionetas, nas diversões dos nazistas.<br />
Morreram as flores também.<br />
As aves, para onde foram?<br />
Cadê Varsóvia sorrindo?<br />
Está Varsóvia gemendo...<br />
Está Varsóvia morrendo...<br />
Tão lindo era o meu nome,<br />
poema para o meu noivo!<br />
Riu o nazi junto a mim:<br />
"Judia que és bonita"<br />
- Judia não tem beleza, judia nem nome tem...<br />
Tomou da minha beleza em suas mãos assassinas,<br />
Quem me dera ter morrido na madrugada do inverno!<br />
Sou pobre moça judia na madrugada de Varsóvia...<br />
Ontem mataram meu pai na vista de minha mãe.<br />
Em campo de concentração minha beleza acabou.<br />
Meu nome, já não o sei – só de judia me chamam.<br />
Nunca fiz mal a ninguém,<br />
E tanto mal que me fizeram!<br />
Coração não têm os nazis...<br />
São feras que se soltaram pelas ruas de Varsóvia.<br />
Inverno que não se acaba, só há desgraça e tristeza,<br />
Soluços de toda a gente e as gargalhadas dos nazis!<br />
Antes, nas tardes alegres,<br />
Meu noivo vinha à rua,<br />
Seus olhos nos meus pousavam,<br />
Meus lábios só tinham risos.<br />
Jorge Amado<br />
Mas um dia...Eles chegaram.<br />
Vestiam camisas pardas.<br />
Coração? Eles não tinham.<br />
Meu noivo havia partido, tão belo, com seu fuzil!<br />
Mataram-no de madrugada, neste inverno que<br />
chegava...<br />
Esse campo não tem flores...<br />
Mais parece um cemitério...<br />
Em campo de concentração<br />
São mil judias comigo, mas nenhum nome tem.<br />
Só, sobre o peito, uma marca feita com ferro<br />
em brasa,<br />
Como um rebanho de gado<br />
Para os açougues dos nazis.<br />
Minha beleza se foi...<br />
Meus lábios já não sorriem.<br />
Ontem mataram meu pai na vista de minha mãe;<br />
Meus olhos são secos, secos não restou nenhuma<br />
lágrima.<br />
Uma coisa me disseram – quem dera fosse<br />
verdade...<br />
Disseram que em outras terras,<br />
Judias e não judias, moças que nem nome têm,<br />
Em armas se levantaram,<br />
Que guerrilheiras se chamam, que matam nazis<br />
nas noites,<br />
Que vingam os noivos e a honra! Quem dera fosse<br />
verdade!<br />
Por que...Se fosse verdade, mulheres matando<br />
nazis,<br />
Neste campo desgraçado uma alegria eu teria,<br />
uma esperança também.<br />
Dizem que em outras terras lutam mulheres em<br />
armas...<br />
Quem dera fosse verdade por que...Se fosse verdade,<br />
Um dia para Varsóvia, com certeza chegaria,<br />
em que o<br />
Inverno se fosse e os nazistas se acabassem.<br />
E a primavera encheria de cantos Varsóvia inteira,<br />
Nas ruas de criancinhas, nos alegres jardins de<br />
flores,<br />
Nos olhos dos namorados...<br />
Tudo seria uma canção!<br />
E, moça judia então, NOME de novo eu teria!<br />
60
Filmografia sobre o Holocausto<br />
Organização: Silvia Rosa Nossek Lerner*<br />
ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO – 119’ – 1989 – Peter Cohen<br />
Esse documentário traça a trajetória de Hitler e de alguns de seus mais próximos colaboradores, com a<br />
arte. Destaca ainda a importância da arte na propaganda, que por sua vez teve papel fundamental no<br />
desenvolvimento do nazismo em toda a Alemanha.<br />
APRENDIZ, O - 128’ – 1998 – Bryan Singer<br />
Um perigoso jogo psicológico tem início quando um garoto descobre que um de seus vizinhos foi no<br />
passado um perigoso criminoso nazista.<br />
CIDADE SEM PASSADO – 92’ –1990 – Michael Verhoeven<br />
Com base em fatos reais: o passado nazista que muitos, na moderna Alemanha, querem manter enterrado.<br />
CINZAS DA GUERRA – 108’ – 2001 – Tim B. Nelson<br />
Miklos Nyiszli é um judeu que foi escolhido pra trabalhar no campo de concentração de Auchswitz, tratando<br />
das doenças de seu povo. Ele vive com o conflito de ajudá-los ou tentar salvar sua vida em plena a<br />
Grande Guerra, pois caso fique, pode morrer. Junto com os judeus, os Sonderkommandos, organizaram<br />
uma rebelião contra os nazistas. Baseado em fatos reais.<br />
CONCORRÊNCIA DESLEAL – 110’ – 2001 – Ettore Scola<br />
Umberto é um alfaiate que repentinamente começa perder sua clientela para uma loja vizinha, de propriedade<br />
de Leone, judeu que ocultava sua condição , que oferece roupas a preços mais baixos.<br />
CONSPIRAÇÃO (REUNIÃO DE WANSEE) – 96’ – 2001 – Frank Pierson<br />
Em plena 2ª Guerra Mundial um grupo de influentes integrantes do 3º Reich se reúne secretamente para<br />
decidir sobre o extermínio dos judeus na Europa.<br />
CINZAS DA GUERRA – 108’ – 2001 – Tim B. Nelson<br />
Miklos Nyiszli é um judeu que foi escolhido por Josef Mengele para trabalhar como patologista no campo<br />
de concentração de Auchswitz, em plena 2ª Guerra Mundial. Nyiszli vive com o dilema de ajudar a exterminar<br />
seu próprio povo ou garantir mais algum tempo de vida, que ele mesmo não sabe quanto será. Assim<br />
como ele existem diversos outros judeus, que foram os Sonderkommandos, que pretendem se rebelar<br />
contra os nazistas. Até que, quando o motim está prestes a começar, eles descobrem uma garota de 14<br />
anos que inexplicavelmente sobreviveu à câmara de gás<br />
DONA DE AUSCHWITZ, A - 55’ – 1991 - documentário<br />
Documentário sobre a herdeira real do terreno onde foi construído o abominável campo de concentração.<br />
O terreno, entre outros, pertencia à família de judeus, cuja filha, uma criança na época da guerra, retornou<br />
no final século XX, para retomar seus imóveis, com exceção do local das instalações do campo. Seus<br />
sentimentos diante da tragédia de sua família e da humanidade.<br />
DOSSIÊ DE ODESSA, O - 128’ – 1974 – Ronald Neame<br />
Um repórter parte em busca do paradeiro de um importante oficial nazista, conhecido como Açougueiro<br />
durante a 2ª Guerra Mundial.<br />
ESCOLHA DE SOFIA, A – 153’ – 1982 – Alan Pakula<br />
Em 1947 um jovem escritor se torna amigo de um casal que mora na mesma pensão. É quando ele conhece<br />
através de Sofia sua passagem pelos campos de concentração nazista e seu difícil relacionamento<br />
com o marido.<br />
61
EU FUI SECRETÁRIA DE HITLER – 95’ – 2001- Othmar Schmiderer<br />
Documentário a partir de entrevistas com a ex-secretária de Hitler - que Hitler ditou para ela seu testamento.<br />
Agora, Traudl Junge, 81 anos, fala pela primeira vez na história diante de uma câmera.<br />
Serve como instrumento de reflexão crítica sobre a cegueira, a alienação e a monstruosidade do totalitarismo.<br />
FILHOS DA GUERRA – 115’ – 1990 – Agnieska Holland<br />
Durante a Segunda Guerra Mundial, um jovem judeu consegue escapar, do nazismo e do regime stalinista,<br />
graças a sua sabedoria e coragem, além de muita sorte. Esta é a história verídica de Sally Perel. Um<br />
jovem que por capricho do destino, consegue abrigo contra a morte certa nos campos de concentração,<br />
numa escola de elite para a juventude hitlerista, onde ironicamente, é consagrado como um herói alemão.<br />
Porém, sua circuncisão, se descoberta, é sua sentença de morte. Isso torna o banho diário uma tortura e<br />
o amor físico uma impossibilidade.<br />
FRONTEIRA DA LIBERDADE – 120’ – 2001 – Lionel Chetwynd<br />
O jornalista Varian Fry foi um herói que lutou para salvar a vida de judeus europeus durante a II Guerra Mundial<br />
, ajudando a fugir da França ocupada, mais de 2.000 artistas e intelectuais. Entre eles os pintores Marc Chagall<br />
e Max Ernst e os escritores Hannah Arendt, Heinrich Mann e Franz Werfel entre muitos outros.<br />
FUGA DAS GALINHAS, A – 84’ – 2000 – Peter Lord<br />
Um turbulento romance dá início a um plano de fuga audacioso, em que todas as galinhas de uma fazenda<br />
buscam escapar da panela.<br />
FUGA DE SOBIBOR – 149’ – 1990 – Jack Gold<br />
Baseado em fatos reais, o filme focaliza o cotidiano do campo de extermínio de Sobibor, construído em<br />
1942. Os prisioneiros deste campo se rebelaram, provocando a sua fuga.<br />
GRANDE DITADOR, O – 125’ – 1940 – Charles Chaplin<br />
Em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, judeus estavam sendo esmagados pelo preconceito alemão.<br />
Chaplin interpreta os dois protagonistas da história: o ditador Adenoid Hynkel e o barbeiro Judeu. Este<br />
filme causou sua expulsão dos Estados Unidos, mas criou também uma obra-prima única com uma das<br />
melhores mensagens anti-guerra.<br />
HEROI POR ACASO – 100’ – 2002 – Gerard Jugnot<br />
Na França sob a ocupação alemã na 2ª Guerra Mundial, o dono de uma salsicharia aceita esconder o filho<br />
de seu vizinho e suas duas primas, já que a família dele foi deportada por ser judia<br />
INFILTRATOR - EM BUSCA DA VERDADE – 92’ – 1995 – John Mackenzie<br />
Jornalista se depara com um grupo de neonazistas atuando na Alemanha<br />
INSURREIÇÃO – 159’ – 2001 - Jon Avnet<br />
No Gueto de Varsóvia, em 1942, com as "deportações diárias para o leste", trens levando por dia seis mil<br />
judeus para os campos de concentração, onde eram executados em massa, um grupo de judeus, liderados<br />
por Mordechai Anielewicz , fizeram a única coisa que os nazistas nunca esperaram: reagiram.<br />
JARDIM DOS FINZI CONTINI, O – 94’, 1970 – Vittorio de Sica<br />
Perseguições sofridas pelos judeus na Itália de Mussolini, narrando a história de uma aristocrata culta,<br />
refinada e assimilada família judaica de Ferrama, que julga poder escapar às discriminações raciais financiando<br />
colônias de férias.<br />
JOSEF MENGELE - MY FATHER/ RUA ALGUÉM 5555 – 115’- 2003 – Egidio Eronico<br />
Seu filho vem ao Brasil, visitar o pai e ajustar contas.<br />
62
JULGAMENTO DE NUREMBERG, O – 187’ – 1961 – Stanley Kramer<br />
Após a 2ª Guerra Mundial um juiz americano é convocado para chefiar o julgamento de quatro juristas<br />
alemães responsáveis pela legalização dos crimes cometidos pelos nazistas durante a guerra. Tinham se<br />
passado três anos desde que os mais importantes líderes nazistas tinham sido julgados em Nuremberg.<br />
KINDERTRANSPORT - NOS BRAÇOS DE ESTRANHO – 117’ – 2000 – Mark J. Harris<br />
A história das crianças judias que foram entregues pelos pais para que vivessem na Inglaterra, poucos<br />
anos antes do início da 2ª Guerra Mundial.<br />
LENI RIEFENSTHAL - A DEUSA IMPERFEITA – 182’ – 1993 – Ray Muller<br />
Por insistência de seu ardente admirador Adolf Hitler, ela fez "O Triunfo da Vontade", que acabou se tornando<br />
um símbolo do Terceiro Reich e seu nome para sempre , associado ao Partido Nazista. Este documentário<br />
refaz o caminho da ascensão e aparente queda desta polêmica personalidade, desde seus<br />
primórdios como uma ousada atriz até sua atual carreira como fotógrafa submarina, aos 91 anos, incluindo<br />
um raro material de <strong>arquivo</strong>.<br />
LILI MARLENE – 120’ - 1981, de RW Fassbinder<br />
Ao gravar a popular canção "Lili Marleen", Wilkie torna-se a cantora mais famosa da Alemanha de Hitler.<br />
Mesmo no auge do fama, não encontra a felicidade, pois vive um romance proibido com Robert , um músico<br />
judeu que participa da resistência contra os nazistas.<br />
LISTA DE SCHINDLER, A – 195’ – 1993 – Steven Spielberg<br />
História de um empresário alemão que usou seu dinheiro e conexões para libertar judeus de campos de<br />
concentração, em plena 2ª Guerra Mundial.<br />
MAX E HELEN – 105’ – 1990 -Philip Saville<br />
Conta a busca que Max faz de Helen , sua grande paixão e da qual está [separada] há anos. Tal encontro<br />
é intermediado por Simon Weisenthal.<br />
MENINOS DO BRASIL, OS – 118’ – 1978 – Franklin Schaffner<br />
Exilado no Paraguai, o Dr. Mengele tenta criar clones de Adolph Hitler. Após descobrir o plano, um caçador<br />
de nazistas tenta impedi-lo a qualquer custo.<br />
MULHER CONTRA HITLER, UMA - SOPHIE SCHOLL – 117’ – 2005 – Marc Rothemund<br />
O filme narra os últimos cinco dias de vida da jovem Sophie Scholl: estudante, ativista, membro do grupo<br />
de resistência Weisse Rose (Rosa Branca), que lotou caixas de correio principalmente do sul do país com<br />
cartas conclamando à resistência ao terror nazista.<br />
ONDA, A – 44’, 1981- Alexander Grasshoff<br />
Filme produzido para a televisão e baseado em história verídica de uma experiência realizada em escola<br />
norte-americana. Durante uma aula sobre o nazismo na Alemanha, quando um aluno insistia em dizer que<br />
“isso jamais aconteceria aqui”, o professor resolve criar as condições necessárias para o nascimento do<br />
grupo, com características nazistas.<br />
OLGA – 141’ – 2004 – Jayme Monjardim<br />
Olga Benário é uma militante comunista desde jovem, que é perseguida pela polícia e foge para Moscou,<br />
onde faz treinamento militar. Lá ela é encarregada de acompanhar Luís Carlos Prestes ao Brasil para<br />
liderar a Intentona Comunista de 1935, se apaixonando por ele na viagem. Com o fracasso da revolução,<br />
Olga é presa com Prestes. Grávida de 7 meses, é deportada pelo governo Vargas para a Alemanha nazista<br />
e tem sua filha Anita Leocádia na prisão. Afastada da filha, Olga é então enviada para o campo de concentração<br />
de Ravensbrück.<br />
OUTRA HISTÓRIA AMERICANA, A – 119’ – 1998 – Tony Kaye<br />
Derek busca vazão para suas agruras tornando-se líder neonazista de uma gangue de racistas. A violência<br />
o leva a um assassinato, e ele é preso pelo crime. Três anos mais tarde, ele sai da prisão, e tem que<br />
convencer seu irmão , que está prestes a assumir a liderança do grupo, a não trilhar o mesmo caminho.<br />
63
PIANISTA, O – 148’ – 2002 – Roman Polanski<br />
O pianista polonês Wladyslaw Szpilman interpretava peças clássicas em uma rádio de Varsóvia quando<br />
as primeiras bombas caíram sobre a cidade, em 1939. Wladyslaw é o único que consegue fugir e é obrigado<br />
a se refugiar em prédios abandonados espalhados pela cidade, até que o pesadelo da guerra acabe.<br />
QUEDA, A - AS ÚLTIMAS HORAS DE HITLER – 156’ – 2004 – Oliver Hirschbiegel<br />
Traudl Junge trabalhava como secretária de Adolf Hitler durante a 2ª Guerra Mundial. Ela narra os<br />
últimos dias do líder alemão, que estava confinado em um quarto de segurança máxima.<br />
SHOAH – 566’ – 1985 – Claude lanzmann<br />
Documentário que registra uma série de entrevistas com sobreviventes do Holocausto.<br />
SUNSHINE – O DESPERTAR DE UM SÉCULO – 179’ – 1999- Istvan Szabó<br />
História de três gerações da família Sonneschein, um clã judeu que vai perdendo sua identidade para<br />
sobreviver em meio ao anti-semitismo, guerras e perseguições políticas.<br />
TRÉGUA, A – 109’ – 1997 – Francesco Rosi<br />
Mostra a tragédia da Segunda Guerra Mundial sem que a temática principal sejam os combates, e sim, a<br />
sofrida volta para casa de prisioneiros do campo de concentração de Auschwitz.<br />
TREM DA VIDA – 103’ – 1998 – Radu Mihaileanu<br />
Europa Oriental, 1941. Em uma remota aldeia com uma população basicamente de judeus Shlomo , o<br />
louco do lugarejo, anuncia que os nazistas estão chegando e que a aldeia deles será a próxima que<br />
deverá ser atacada por eles. ser feito. Shlomo elabora um plano de fuga, no qual eles simularão uma<br />
falsa deportação com parte dos judeus se fazendo passar por nazistas.<br />
TRIUNFO DA VONTADE – 114’ - 1934, Leni Riefensthal<br />
É um filme de propaganda política da cineasta alemã Leni Riefenstahl, documentando o Congresso do<br />
Partido Nazista de 1934 em Nuremberg.<br />
VIDA É BELA, A – 116’ – 1997 – Roberto Benigni<br />
Na Itália dos anos 40, Guido é levado para um campo de concentração nazista e tem que usar sua<br />
imaginação para fazer seu pequeno filho acreditar que estão participando de uma grande brincadeira, com<br />
o intuito de protegê-lo do terror e da violência que os cercam.<br />
NOTAS<br />
* Professora com especialização em Estudos do Holocausto<br />
Pós-graduação em História do Século XX – Universidade Cândido Mendes.<br />
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Glossário<br />
Termos usados durante o período histórico de 1933 a 1945, na Alemanha.<br />
Organização: Silvia Rosa Nossek Lerner *<br />
CAMPO DE CONCENTRAÇÃO - campos estabelecidos pelos nazistas após terem assumido o poder na<br />
Alemanha, em 1933, onde eram agrupados os judeus, comunistas, social-democratas, ciganos, homossexuais,<br />
etc. Nessa classificação, inclui-se os campos de trabalho, de trânsito e o campo-modelo como Theresienstadt.<br />
CAMPO DE EXTERMÍNIO - campos autorizados após a Conferência de Wannsee. Os judeus eram exterminados,<br />
inicialmente em caminhões a gás. Posteriormente passaram a ser empregadas câmaras de<br />
gás, que tinham aparência de banheiros coletivos utilizando o gás Zyklon-B. São eles: Auschwitz-<br />
Birkenau, Belzec, Chelmno, Maidanek, Sobibor e Treblinka.<br />
CONFERÊNCIA DE WANNSEE - realizada em 20 de janeiro de 1942, num subúrbio de Berlin. Sua finalidade<br />
era oficializar e implementar a Solução Final. Organizada por Reinhard Heydrich para decidir sobre<br />
o futuro de 11 milhões de judeus europeus e oficializar a existência de campos de extermínio.<br />
EINSATZGRUPEN - Denominação de brigadas da morte alemãs, que levavam a cabo os assassinatos<br />
em massa nos países ocupados durante a II Guerra Mundial. As tropas de tais grupos eram formadas por<br />
soldados e por mercenários, atraídos pelo soldo mais elevado do que o oferecido pela Wehrmacht. O comando<br />
ficava por conta das Waffen SS.<br />
FUHRER - Em agosto de 1934, Hitler assume o governo da Alemanha com o título de Fuhrer, que em<br />
alemão significa condutor.<br />
GESTAPO - polícia secreta do Reich. Instrumento de terror político contra os inimigos do regime nazista.<br />
A Gestapo atuou na Alemanha e em todos os territórios conquistados, e se encarregou diretamente da<br />
perseguição e deportação dos judeus dentro do programa”Solução Final”.<br />
GUETO - área urbana separada e restrita aos judeus. O termo foi usado, pela primeira vez, em Veneza,<br />
em 1516, onde os judeus foram confinados. Ganhou nova forma durante o nazismo, quando os judeus<br />
eram segregados para seu extermínio. Um dos maiores e mais conhecidos devido revolta organizada em<br />
seu interior em abril de 1943 foi o Gueto de Varsóvia.<br />
HOLOCAUSTO - vem do grego Holokauston, que significa sacrifício em que a vitima era queimada inteira.<br />
O termo Holocausto (com inicial maiúscula) passou a ser utilizado especificamente para se referir ao<br />
extermínio de milhões de judeus pelo regime nazista de Adolf Hitler. Shoah, palavra hebraica que significa<br />
destruição, ruína, calamidade, é utilizada em Israel para designar o extermínio dos judeus na Europa<br />
nazista.<br />
JUDENRAT - Conselho de judeus formado pelos alemães nas comunidades judaicas (guetos) na Europa<br />
ocupada. Servia de intermediário para cumprir as ordens alemães e transmiti-las aos judeus. O maior dilema<br />
enfrentado era com relação à exigência da entrega de judeus para sua deportação aos campos de<br />
concentração.<br />
KRISTALLNACHT - Noite dos Cristais - Ataques ocorrido na noite de 9 de novembro de 1938 em<br />
diversas partes da Alemanha e Áustria, sob o governo do Terceiro Reich . O nome deriva dos cacos<br />
de vidro (das vitrines das lojas, dos vitrais das sinagogas, das residências, etc.) resultantes deste<br />
episódio. Cerca de 1.000 sinagogas foram incendiadas, 800 estabelecimentos comerciais desruídos,<br />
além de residências de judeus, 30.000 judeus foram enviados a campos de concentração, 91 foram<br />
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mortos e o governo impôs uma multa de um bilhão de marcos à comunidade judaica para restaurar<br />
os danos provocados nas cidades.<br />
LEBENSRAUM - conceito de espaço vital concebido por Friedrich Ratzel, alemão, que define como um espaço<br />
necessário para a expansão territorial de um povo, no caso, o alemão. Expressão utilizada pelos nazistas, para<br />
sua pretendida necessidade de expandir as fronteiras da Alemanha, principalmente para o Leste europeu impor<br />
seu regime nos territórios incorporados e realizar seu projeto de dominação mundial.<br />
MEIN KAMPF - (Minha Luta) - livro escrito por Hitler, em 1925/26, durante sua prisão. Neste livro ele<br />
expõe sua visão de mundo, dentro da qual o anti-semitismo e a “questão judaica” ocupam um lugar<br />
importante.<br />
NAZISMO - ideologia gerada pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães que subiu ao<br />
poder em 1933, responsável pela eclosão da Segunda Guerra Mundial. A palavra NAZI é uma sigla derivada<br />
do nome alemão.<br />
NEONAZISMO - associado ao resgate do nazismo ou nacional-socialismo. O movimento neonazista (ou<br />
neo-nazi) tem suas origens calcadas em preconceitos raciais, privilegiando a "raça pura ariana". Os seguidores<br />
da doutrina em sua maioria promovem preconceito contra grupos específicos, como<br />
homossexuais, negros, índios, judeus e comunistas. Está associado à idéia de xenofobia (ódio, ou mais<br />
precisamente medo – fobia a estrangeiros). O movimento também tem nome de Skinhead. No Brasil o<br />
principal grupo é o conhecido como “Carecas do ABC”, ou simplesmente “Carecas”, grupo da periferia<br />
paulistana, apresentando forte preconceito quanto a origem estrangeira, nordestinos e homossexuais.<br />
PROTOCOLOS DOS SÁBIOS DE SION - Um oficial da polícia secreta russa, a Okhrana, num esforço<br />
para desacreditar a luta pelos direitos civis e pela justiça social, escreveu os Protocolos dos Sábios de<br />
Sion, divulgando um suposto complô de um governo secreto judaico mundial. Neste texto, os anciãos<br />
judeus faziam uma análise do seu domínio cada vez maior sobre a economia européia, seu controle e<br />
manipulação da imprensa, de todos os partidos políticos de oposição ao regime czarista e outros governos<br />
autocráticos. Foi publicado pela primeira vez na Rússia czarista, em 1905, por um pastor ortodoxo, Sergius<br />
Nilus, e era parte de uma campanha anti-semita inspirada pela polícia secreta russa, que acompanhou<br />
os pogroms daquele ano.<br />
PUTSCH - Tentativa de golpe de Adolf Hitler e seu Partido Nazista contra o governo da região alemã da<br />
Baviera, ocorrida em 9 de novembro de 1923. O objetivo era controlar o governo bávaro para, em seguida,<br />
tentar o poder em todo o país. A ação foi rapidamente controlada pela polícia local, sendo que Hitler e<br />
vários correligionários – entre eles Rudolf Hess – acabaram presos e condenados a 5 anos de prisão, dos<br />
quais cumpriu somente 9 meses.<br />
REVISIONISMO - O Revisionismo do Holocausto ou Negação do Holocausto é uma opinião ou avaliação<br />
de grupos de indivíduos que alegam que o extermínio sistemático de judeus na Segunda Guerra Mundial<br />
não aconteceu, pelo menos da forma como é apresentada pela História. Esta opinião é completamente refutada<br />
pela comunidade científica e é proibida por lei em alguns países, alegando-se incitação ao anti-semitismo<br />
e neonazismo.<br />
SA - Sturmabteilung ou topas de assalto, fundada em 1923. Teve um papel importante nas brigas de rua nos<br />
últimos anos da República de Weimar. Sob ordens de Hitler violava abertamente a constituição em vigor. Criava<br />
um clima de instabilidade social e política, preparando terreno para a ascensão do partido nazista ao poder.<br />
SS - Schutzstaffel, formavam o braço militar do terror e da repressão durante o regime nazista. Tornou-se<br />
uma organização independente em 1929 sob a chefia de Heinrich Himmler. A organização atuava<br />
baseada na teoria racial e seus membros deviam ter a aparência “ariana”.<br />
SONDERKOMANDO - Nome dado a um grupo de judeus, prisioneiros dos campos de concentração e extermínio<br />
que tinham como função remover os corpos das câmaras de gás e colocá-los nos fornos crematórios. Um<br />
grupo de judeus Sonderkomando organizou uma revolta em Birkenau em outubro de 1944.<br />
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SOLUÇÃO FINAL - refere-se ao plano nazista de genocídio sistemático contra a população judaica durante<br />
a Segunda Guerra Mundial. O termo foi criado por Adolf Eichmann, oficial alemão (capturado, julgado e<br />
executado pelas autoridades israelenses em 1961-62). A implementação da Solução Final é o resultado<br />
do pensamento nazista de que os judeus eram um problema na sociedade européia e por isto deveriam<br />
ser eliminados. A Conferência de Wannsee, que teve lugar em Berlim, em 20 de Janeiro de 1942, foi o<br />
encontro de um grupo de oficiais Nazis para decidir "a solução final da questão judia".<br />
SUÁSTICA - símbolo do Nazismo, utilizada por Adolf Hitler, devido à sua aparência como uma<br />
engrenagem, supostamente para simbolizar sua intenção de uma Revolução Industrial na Alemanha e<br />
virada para direita, como anda o relógio simbolizando que a Alemanha deveria caminhar “para frente”. Em<br />
1957, o governo alemão criou uma lei pela qual a exibição da suástica em bandeiras, documentos e pinturas<br />
era expressamente proibida.<br />
WEHRMACHT - significa Força de Defesa. Nome do conjunto das forças armadas da Alemanha durante<br />
o Terceiro Reich entre 1935 e 1945 e englobava o Exército, Marinha de Guerra, Força Aérea e tropas das<br />
Waffen-S.S.<br />
TERCEIRO REICH - Nome dado ao regime totalitário nazista (de 1933 a 1945) na Alemanha e no império<br />
formado pelas nações por ela conquistadas. Sob a liderança de Adolf Hitler, o Terceiro Reich impôs o partido<br />
único (Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores) e a ideologia do Nationalsozialismus ou<br />
nazismo.Vem na sequência do Sacro Império Romano-Germânico (dito o I Reich) e do Império Alemão<br />
(1871-1918) como o II Reich.<br />
TRIBUNAL DE NUREMBERG - criado em 1945/46, para julgar os crimes de guerra praticados pelo<br />
sistema nazista durante a 2ª. Guerra Mundial.<br />
ZYKLON – B - Marca registrada de um pesticida a base de ácido cianídrico que foi utilizado pelos<br />
nazistas como veneno no assassinato em massa por sufocamento em sessões de banho coletivo nas<br />
câmaras de gás.<br />
NOTAS<br />
* Professora com especialização em Estudos do Holocausto<br />
Pós-graduação em História do Século XX – Universidade Cândido Mendes.<br />
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />
Enciclopedia del Holocausto - E.S.Z. Nativ Ediciones Ltda. - 2004<br />
The Holocaust Encyclopedia – Walter Laqueur, Editor – Yale University Press – 2001<br />
El Holocausto en Documentos - Yad Vashem – 1996 – primeira edição.<br />
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Anotações<br />
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