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víveres, e todo esfôrço fizeram para persuadir-nos a carregarmos o nosso navio.<br />
Como porém eram nossos inimigos isso nos pareceu astúcia; em terra, onde teriam<br />
vantagem, fácil Ihes seria nos desbaratarem e comerem; de resto não era nosso<br />
intento dirigir-nos para esse lugar e não nos detivemos ali. Assim, depois que os<br />
margeiás 51 admiraram as nossas pecas e tudo mais que desejaram no navio,<br />
pensando em outros franceses que por acaso lhes caíssem nas mãos, não os<br />
quisemos molestar nem reter; e pedindo eles regresso à terra tratamos de pagar-lhes<br />
os víveres que nos haviam trazido. Mas como desconhecessem o pagamento em<br />
moeda, foi o mesmo feito com camisas, facas, anzóis, espelhos e outras mercadorias<br />
usadas no comércio com os índios. (Cf. Léry, 1941, p. 45)<br />
Fazendo uma breve resenha, Serafim Leite, em seu livro Novas<br />
Páginas de História do Brasil, diz que Nóbrega logo ao chegar no Brasil, solicitou<br />
que Portugal lhe mandasse "muitas sementes", para que ele pudesse dar ao<br />
Irmão Vicente que se dedicava a algumas atividades agrícolas. Este irmão estava<br />
disposto a ensinar os índios algumas atividades práticas, como por exemplo, a de<br />
tecer rede, ofício esse que o Irmão Vicente passara a aprender com um oficial<br />
tecelão que viera na armada que o trouxera ao Brasil. Anos mais tarde, já no final<br />
do século <strong>XVI</strong>, possivelmente foi Cardim que comentava ainda sobre as<br />
ferramentas utilizadas pelos indígenas, dizendo:<br />
(...) Esta nação não tem dinheiro com que poção satisfazer/ aos servissos que se lhes<br />
fazem, mas vivem com mutatione vevum/, e principalmente a troco de vinho fazem<br />
quarto querem e assim/ quando hão de fazer alguas couzas, fazem vinho, e avizando<br />
os/ vizinhos, e apelidando toda a povoação lhe rogão os queirão/ ajudar em suas<br />
roças, o que fazem de boa vontade, e trabalham/ do até as dez horas tornão pera<br />
suas cazas beber os vinhos, e se/ aquelle dia senão acabão as roçarias fazem outros<br />
vinhos e vão/ lá outro dia até as dez horas acabar seu servisso: e deste medo/ usão<br />
os brancos prudentes, e que sabem a arte e maneira dos In/dios, e quanto fazem por<br />
venho por onde lhes mandão fazer vinhos,/ e os chamão as suas roças e canaviaes, e<br />
com isto lhe pagão. Tambem uzão de ordinario por troco de alguas cou/ sas de contas<br />
brancas que se fazem de buzios, e a troco de alguns rama/ s dão até as molheres, a<br />
este he o resgate ordinario de que uzão/ os brancos pera lhe comprarem os escravos,<br />
e escravas que tem para/ comer. (...) Antes de terem conhecimento dos Portuguezes<br />
uzavão de ferramen/tas, e instrumentos de pedra, osso, pao, canas, dentes de<br />
animaes [ etc. ] e com / estes derrubavão grandes matos com cunhas de pedra<br />
ajudando-se/ do fogo, assim mesmo cavavão a terra com huns paos agudos e fazião/<br />
suas metaras 52 [sic] contas de buzios, arcos, e flechas também feitos com ago/ra<br />
fazem tendo instrumentos de ferro, porem gastavão muito tempo em/ fazer qualquer<br />
couza pelo que estimão muito o ferro pela facilidade/ que sentem em fazer suas<br />
couzas com elles, e cota he a rezão por que/ folgão com a communicacão dos<br />
brancos. (Cf. Cardin. Pp..58-60. In: BNRJ, códice 5,3,20) 53<br />
51<br />
Índios que habitavam em Magé, litoral do Rio de Janeiro, segundo explicação do próprio Léry.<br />
52<br />
CF. HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. Op. cit. verbete Metara: Tembetá dos<br />
Tupinambás; Tametara<br />
53<br />
Cf. BNRJ, códice 5,3,20, remete ao CEHB - nº 11.327. Do principio e origem dos Índios do Brasil<br />
e de seus costumes, adoração e serimonias do séc. <strong>XVI</strong> ou <strong>XVI</strong>I. Cópia moderna. In. Fol. 14 f. Em<br />
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