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prerrogativas ancestrais dos gentios. O advento de uma cultura comercial, como foi a<br />
da cana-de-açúcar conseguiu favorecer as regiões onde ela se enraizou e se<br />
expandiu. Com isso se formaram os primeiros focos de atração para a imigração<br />
histórica de elementos metropolitanos. E muito cedo os grandes senhores,<br />
enriquecidos com a cana e o fabrico do açúcar, puderam comprar elementos escravos<br />
provenientes do outro lado do Atlântico Sul.<br />
(...) No caso brasileiro, por curioso que pareça, o aspecto de colônia de<br />
enquadramento ou de exploração, só se faz sentir mais tarde, aplicado<br />
especificamente a uma nova província tornada excepcionalmente em evidência graças<br />
às suas riquezas minerais no setor do ouro e do diamante, descobertos tardiamente<br />
em fins do século <strong>XVI</strong>I e início do século <strong>XVI</strong>II. Com o decorrer do século do ouro, a<br />
província de Minas Gerais, sustentáculo da economia metropolitana, veio a sofrer dos<br />
malefícios de um sistema administrativo tipicamente de exploração econômica por<br />
parte do governo lusitano. Desta forma, o Estado Português, após ter contribuído para<br />
enraizar populações em seus domínios brasileiros e fomentar o seu desenvolvimento,<br />
adotou uma atitude parasitária, tentando aplicar mais ou menos bruscamente um<br />
sistema de fiscalização muito próximo doa padrões das colônias de exploração,<br />
conhecidos alhures. Não é preciso dizer que, a despeito de ser uma atitude isolada e<br />
relativamente temporária, essa nova política administrativa, humilhante e insuportável,<br />
provocou e trouxe consigo o germe doa primeiros grandes movimentos nati<strong>vista</strong>s no<br />
seio de um povo que já não falava a mesma língua dos sentimentos metropolitana,<br />
nos mais diversos setores da sua vida econômica, social e cultural. Não fera mesmo o<br />
episódio da transmigração da corte portuguesa para o Rio de Janeiro e a providencial<br />
política. (Cf. Ab’Saber, Op. cit. p. 71)<br />
O discurso da chamada Geografia brasileira, baliza-se na seguinte<br />
concepção teórica: a reciprocidade entre a problemática da desterritorialização<br />
atual do espaço físico com a questão da historicidade. Sobre este segundo<br />
aspecto, os estudos são bastante limitados e quem vem dando boas contribuições<br />
é o grupo de geógrafos da UFRJ, em particular Maurício de Almeida Abreu, ao<br />
dizer que<br />
(...) O peso da história ainda se faz sentir bastante no Brasil. Às vésperas de<br />
entrarmos no século XXI, somos volta e meia lembrados que muitos problemas têm<br />
origens distantes no tempo e acompanham-nos desde os primórdios da colonização.<br />
Também não são poucas as ocasiões em que nos deparamos com linguagens<br />
barrocas e com termos antigos e estranhos, incompreensíveis até mesmo para o<br />
cidadão esclarecido, mas que ainda continuam a ser utilizados, notadamente nos<br />
meios jurídicos. (...) A organização territorial é um campo fértil para a descoberta<br />
dessas heranças do passado. A estrutura agrária do país é sempre relacionada ao<br />
sistema sesmarial que vigorou em outros tempos. Ao vendermos um imóvel, não raro<br />
descobrimos que somos foreiros a algum senhorio, (...) (Cf. Almeida Abreu, 1997,<br />
pp. 197 e ss)<br />
Assim, o silêncio do discurso dessa corrente geográfica desliza pela<br />
origem das ações do Estado monárquico português, em particular, as de caráter<br />
religioso-militar, tal como a Ordem de Cristo. Em torno desse caráter — que não<br />
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