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autóctones ser este o país das palmeiras. Logo, tem-se aí um modelo civilizatório<br />
que era então explicado segundo a imaginação cosmológica de pessoas que não<br />
conheciam o substantivo Brasil, mas sim Pindorama, por ser a <strong>Terra</strong> das Palmeira.<br />
<strong>Terra</strong> esta cujas características paisagísticas levaram alguns daqueles intelectuais<br />
orgânicos — segundo a definição gramsciana para este conceito —, ou varões<br />
previdentes, a imaginarem ser aqui o Paraíso Terreal tão decantado pela ideologia<br />
teológica/eclesiástica de então. Esse paraíso, comentado aqui em diferentes<br />
momentos, veio preencher aquele espaço vazio dos mapas antigos, ou o da <strong>Terra</strong><br />
Icognita da Geografia de Ptolomeu e constituir a Quarta parte do mundo.<br />
Finalmente, <strong>Terra</strong> Brasilis, à <strong>vista</strong> daqueles varões previdentes portugueses, que<br />
sonhavam ocupá-la, porque subtendia-se no sentido do discurso exegético, que<br />
um dia esse reino se constituiria no Quinto Império do Mundo.<br />
A dinâmica do processo histórico modificou os saberes cosmológicos e<br />
cartográficos medievais, preenchendo aquele espaço vazio dos velhos mapas<br />
acima referidos com um novo motivo: as supostas terras estimuladoras da<br />
assinatura do Tratado de Tordesilhas, cuja primeira representação cartográfica se<br />
encontra no planisfério del Cantino, já analisado no capítulo anterior. O que lá foi<br />
descrito sobre o planisfério, pode ser ratificado por uma variedade de obras que<br />
também serviram de base para a análise, com destaques para as de Jaime e<br />
Armando Cortesão, as de Joel Serrão, as de Carlos Malheiro Dias e as de Oliveira<br />
Marques, em particular, o seu compêndio ilustrado com mapas e demais motivos<br />
da época, A Expansão Quatrocentista [1998].<br />
Tem-se, assim, o desaparecimento daquele então espaço vazio<br />
reservado à Quarta parte do mundo e a sua substituição nos novos saberes<br />
cosmológicos materializados na também nova cartografia, pois o mesmo passou a<br />
ser preenchido com desenhos e demais motivos sobre as terras de ilhas e/ou<br />
continentes, ou de representações celestes diferentes daquelas que apareciam<br />
nos céus europeus. Em correspondência menor, o imaginário do Quinto Império<br />
foi sendo esquecido e a cosmologia pindorâmica desaparecendo, quer seja no<br />
plano concreto, quer seja no imaginário, inclusive no dos herdeiros daqueles<br />
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