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principalmente, pela guerra contra os Paiaiá, Acroá e Amoipira, iniciada logo após a<br />
segunda guerra contra os índios de Jaguaripe e Paraguaçu, de 1558/1559. Com a<br />
descoberta de ouro na serra de Jacobina, os garimpeiros completaram o “serviço”<br />
iniciado pelos boiadeiros e plantadores de cana. Em Pernambuco, o sucesso<br />
econômico de Duarte Coelho, a partir de Olinda, da década de 1540 em diante<br />
(programa colonizador que deu os melhores resultados e lucros), teve de passar por<br />
cima da resistência dos Tabajaras e dos Caetés. Os engenhos que povoaram a<br />
várzea do Capibaribe e dos rios Jaboatão e Pirapama não foram construídos em<br />
terras de ninguém, como até hoje se diz no Brasil, mas em terra de índio, índio<br />
morto para o comércio internacional de açúcar se desenvolver. Logo a seguir, os<br />
engenhos ocupariam a área que vai até a foz do São Francisco, no atual estado de<br />
Alagoas. Em 1584, já havia 81 engenhos em Pernambuco, total que passaria para<br />
121 no início do século <strong>XVI</strong>I. (Cf. Leonardi, 1996, p. 47)<br />
Pela análise de Leonardi, o processo de adonação das terras<br />
brasileiras pelos portugueses foi movido pela morte, o que de certa forma era<br />
justificado pelo discurso impudente da própria religião oficial (a católica) pois esta<br />
tinha como um dos seus dogmas legítimo e necessário à expansão da fé cristã —<br />
e por escala também a do mercantilismo — a morte como salvação da vida. Mas<br />
essa salvação não se limitaria apenas às mortes naturais, mas também àquelas<br />
provocadas pela violência, pois a ação em si não importava, pois isto era uma<br />
determinação divina. A morte — cuja crendice popular é representada, de modo<br />
geral, por um esqueleto humano armado de uma foice arrebatando as vidas — por<br />
meio da violência, sobretudo aquelas apontadas por Leonardi, seria uma espécie<br />
de glória para quem morria, pois assim poderia reduzir os pecados cometidos em<br />
vida e ficar ao lado do Senhor para voltar à <strong>Terra</strong> e juntar-se aos vivos para que,<br />
no Juízo final, possa<br />
(...) o Senhor, ao sinal dado, à voz do arcanjo e ao som da trombeta divina, descer do<br />
céu, então os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro; em seguida nós, os vivos que<br />
estivemos lá, seremos arrebatados com eles nas nuvens para o encontro com o<br />
Senhor, nos ares. E assim, estaremos para sempre com o Senhor. Consolai-vos, pois,<br />
uns aos outros com estas palavras. (Cf. Bíblia de Jerusalém (Primeira Epístola aos<br />
Tessalonicenses), 1985, p. 2220)<br />
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