São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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começava a invadir a universidade, em cujo corpo docente encontrava já três grandes amigos e admiradores, a saber: o professor do Antigo Testamento, o da teologia dogmática e o do Novo Testamento; eram justamente essas as matérias mais importantes da universidade. Dois dentre eles, imitando o modo de pregar do Santo, procuravam corrigir a pregação usual em Viena e instruir apostolicamente o povo. Alguns dos alunos do Servo de Deus, dia a dia, enchiam-se de mais coragem na universidade protestante, às vezes, contra os professores em plena preleção; formavam um como partido sempre crescente na universidade. O próprio São Clemente não ignorava que com isso havia de crescer também a ira dos adversários. Ele escreveu, um ano antes, à família Schlosser. “A graça divina age sobretudo nos jovens, que se dedicam ao estudo das ciências. Se alguém pudesse e quisesse, efetuaria logo aqui uma grande mudança na mocidade estudiosa; os estudantes já sentem asco das doutrinas ensinadas na universidade. Já tenho sido acusado muitas vezes de desencaminhar os rapazes”. Os maçons sentiam as forças que se levantavam cheias de vida, e temiam pelo futuro; recorreram à polícia, acusando a Clemente de virar a cabeça dos estudantes. A universidade de Viena era o foco da iluminação intelectual; catolizar a universidade seria o mesmo que desfechar o golpe de morte aos hereges. A coisa era pois do maior interesse e dai a luta; uma série de atas públicas bem mostraram, que na Áustria se trabalhava para fechar a boca ao Servo de Deus e, se possível, expatriá-lo para longe. É interessante ouvir as acusações feitas contra o pobre sacerdote que não possuía outra arma senão a oração e a boa vontade. Em 1817 aparecem as seguintes acusações contra a sua pregação: “Esse homem velho não condiz mais como tempo; é necessário afastá-lo do púlpito e mandar espiões para escutarem as pregações”. Mas porque tudo isto? as acusações são motivadas: “Clemente apoia-se com as duas mãos sobre o púlpito, abaixa muito cabeça para seus ouvintes... subitamente levanta-se e inclina-se para trás, grita, às vezes, desumanamente e bate com as mãos no púlpito”. Apresentaram essas acusações ao Arcebispo, que era um grande amigo pessoal de Clemente, e que para combater a pregação da moda em Viena publicara uma circular, louvando o procedimento e o modo de pregar do Servo de Deus. — Os inimigos não se cansaram. Acusaram-no de não observar as leis do império, mormente na liturgia, pois que se atrevia a fazer procissões proibidas, excitava o povo às romarias, espalhava entre as massas escritos supersticiosos de indulgências, recomendava o rosário, a freqüente recepção dos Sacramentos, o culto das imagens, livros de piedade etc, relacionava-se demais com os Núncios, combatia os professores liberais de teologia, correspondia-se com Roma, procurava iludir os jovens a saírem da Pátria para entrarem em conventos estrangeiros. Um fato merece especial menção por sua originalidade. Um belo dia desapareceu de Viena a filha de um senhor muito conhecido; a suspeita recaiu imediatamente sobre o Servo de Deus, que nada tinha que ver com o caso. A polícia interveio e Clemente teve que comparecer perante o tribunal eclesiástico para responder sobre isso e mais outras acusações. O consistório compunha-se de pessoas sem fé como Gruber, cônego e diretor da faculdade de filosofia, e de outros sem religião como ele. Os capitula- 98 res sentados ao redor da mesa formavam o tribunal; o Arcebispo, ancião venerando e amigo de Clemente, não tinha força para impedir as exigências do seu Cabido. Clemente teve de comparecer e, não obstante sua dignidade sacerdotal e a inocência da sua vida, deve permanecer em pé diante de seus juízes. O interrogatório começou com todas as formalidades de um tribunal. “Qual o seu nome? onde nasceu? donde vem? a que religião pertence?” A esta última interrogação Clemente sentiu-se ofendido e respondeu com calma sim, porém com toda a expressão do tratamento indigno: “Ora essa? todo o mundo sabe que eu sou um padre católico!” A isso naturalmente seguiu uma forte repreensão. Percebendo a ira e a indignação com que procediam contra ele, Clemente inclinou-se respeitosa e cortesmente diante dos juízes dizendo: “Aqui não é bom estar; retiro-me”, e serenamente foi saindo pela porta fora. Ninguém esperava por aquilo e o tribunal viu-se repentinamente privado do seu réu. O velho e nobre Arcebispo, longe de se desgostar, aprovou o procedimento do Santo dizendo: “Ele procedeu bem indo-se embora, fez como os Apóstolos; sacudiu a poeira dos seus sapatos”. Essa expressão compreende-se facilmente, considerando-se que aquele julgamento não procedera da autoridade eclesiástica, mas fora imposto pela polícia contra a vontade do digno Arcebispo, que naqueles tempos lutuosos não podia agir contra a força bruta do governo. Os capitulares de sentimentos religiosos olharam-se reciprocamente e riram-se, não do ancião que com tão bela resposta se retirara, mas da situação cômica em que ficaram colocados. As pesquisas sobre o desaparecimento da menina ficaram sem efeito. Nos meses seguintes permaneceu Clemente debaixo da vigilância da polícia. O Santo, embora não se deixasse intimidar por coisa alguma, achou mais prudente pôr-se de sobreaviso. Clemente era perseguido até por parte do clero. — O perigo era grande, mas ninguém tinha coragem de agir abertamente contra ele devido à amizade que gozava junto do Arcebispo e da cotação e estima em que era tido por homens de peso e valor público como Pilat, secretário de Metternich, Adam Müller, Frederico Schlegel, arquiduque Maximiliano, barão Penkler e semelhantes. Os maçons recorreram ao conde Saurau. chanceler da corte da Boêmia e Morávia, e josefino consumado, denunciando-lhe Clemente como fanático, espião de Roma, o qual punha os italianos ao par de tudo quanto se passava em Viena. Saurau encheu-se de cólera, foi ter com o Monarca, pedindo-lhe ou antes exigindo a expatriação de Clemente, que era um verdadeiro perigo para a nação. O Imperador, porém, respondeu-lhe com o laconismo que lhe era próprio: “Isso não, não posso expatriá-lo, porque ele é cidadão austríaco”. Desfeita a primeira tentativa, era necessário achar um ponto legal, sobre o qual eles se pudessem apoiar para se apoderar da pessoa do humilde Redentorista. Como não encontrassem pretexto algum por mais que indagassem dos conhecidos e amigos de Clemente, lembraram-se das palavras de Sabelli que acabava de ser transferido para a Suíça por ordem dos Superiores em Roma. Numa busca na residência de Clemente talvez pudessem descobrir qualquer motivo de fundada acusação. Em janeiro de 1819 apareceram inesperadamente três homens na residência do Santo numa hora, em que ainda se achava ocupado na Igreja de Sta.

Úrsula; no quarto de Clemente achava-se somente o professor Dr. Madlener, seu discípulo predileto, que recebeu os três, a saber: o professor do direito canônico no Theresianum, o ex-beneditino Braig, vice-diretor dos estudos, e um outro sacerdote, relator do governo austríaco; com eles foi também um ajudante ou secretário. Esperaram que o Santo chegasse, mandaram Madlener ausentar-se e fecharam a porta. Quatro horas inteiras ficou lá a comissão inspecionando tudo, remexendo todas as gavetas, abrindo os armários, revistando todas as cartas — mas não acharam coisa alguma em que se estribar para as suas acusações. Desesperados de suas pesquisas interrogaram o Santo, que não negou ser Redentorista, e como tal, súdito de um Superior na Itália. “Ipsi audivimus blasphemiam”. Os senhores estavam contentes, não era necessário mais nada; exclamaram: “A ordem não é reconhecida na Áustria, e superiores estrangeiros são proibidos pela lei; ele deve ou renunciar à Ordem ou abandonar a Áustria”. Procederam ao protocolo, e, terminada a revista, chamaram a Clemente que em seu genuflexório rezava o rosário da Virgem, suplicando a sua proteção para aquela hora tão sinistra. Seguiu-se o interrogatório e a intimação, feitos a São Clemente por Braig, o ex-beneditino. — O Senhor deve renunciar a sua Ordem ou abandonar os Estados austríacos. — A minha Ordem não renuncio, respondeu Clemente. — O senhor pode secularizar-se. — Nunca o farei. — Então abandone a Áustria. — Antes isso. — Mas para onde vai? — Para a América, somente peço que se adie a viagem para depois do inverno por causa da minha avançada idade (Clemente tinha então 68 anos). Por fim o Santo teve de escrever tudo, de próprio punho, e prometer que abandonaria a sua Pátria. Depois de obedecer à comissão e assinar à sua expatriação, o Santo perguntou, se tinha mais alguma coisa a fazer, ao que responderam negativamente. — Ainda resta uma coisa, disse o Santo. — Qual? perguntou curioso o primeiro comissário. Levantando o dedo para o alto Clemente exclamou: — O juízo final. Toda essa farsa não passava de uma detestável intriga; os comissários não tinham sido delegados por ninguém, nem pelo consistório nem pela polícia. O presidente do juízo de apelação declarou ser tudo isso uma vil e ilegal usurpação do poder. Os comissários retiraram-se pouco antes do almoço. Clemente, como de costume, deu o sinal para o exame particular e as ladainhas. À mesa, na palidez do rosto do Servo de Deus suspeitaram alguma coisa de anormal, mas de seus lábios não conseguiram arrancar palavra alguma; só depois da morte de Clemente é que os discípulos souberam o que se passara dentro das portas fechadas. O Santo via aniquilada a esperança que há tempo, nutria de ver a sua 99 Congregação introduzida na Áustria. Sendo a expatriação um direito imperial, era para isso necessária a licença do monarca, e por isso toda a história foi levada ao conhecimento do Imperador, que declarou por intermédio de seu chanceler, que a expatriação só poderia se concedida a pedido de Clemente, a quem deu liberdade de fazer o que bem entendesse. O chanceler, que estava inteiramente de acordo com os inimigos do Santo, participou ao Arcebispo o decreto, como tratando de uma ordem do monarca que exilava o Servo de Deus. Chamado pelo Arcebispo, Clemente compreendeu que não devia nem podia calar-se ocultando a verdade, narrou-lhe todo o ocorrido. Enquanto isso se passava, de Santa Úrsula chegou ao palácio arquiepiscopal um pedido insistente pela conservação do Santo como Reitor da igreja. O Arcebispo foi ter com o Imperador declarando-lhe que com Clemente perderia o melhor sacerdote da sua diocese, e o Monarca, ciente do ocorrido, confirmou a permanência do Santo... que não obstante ficou intimamente amargurado com o procedimento de seus adversários. “O Pe. Clemente está tão desgostoso e contrariado, escreveu um dos padres a Passerat, e tão aborrecido em Viena, que já por esse motivo se decidiu fazer sua viagem em maio”. Mas para onde? O Servo de Deus estava ainda indeciso, se para Friburgo ou para Roma. Nesse interim entregouse Clemente a seus trabalhos habituais. O jejum da quaresma enfraqueceu-o devido ao aumento do trabalho pela saída de Sabelli; adoeceu tão gravemente que o Pe. Martinho, ao participar a Passerat a doença do Santo acrescentou recear muito pela vida dele. Felizmente pôde resistir devido a sua forte e robusta constituição. Depois dessa doença recebeu o Santo a visita de uma senhora, que muito se congratulou pelo restabelecimento do Servo de Deus, que a sorrir exclamou: “Ora muito bem, como são bons os meus amigos, que nem sequer me desejam o a posse do céu”, e acrescentou em tom solene: “Desta vez eu quisera morrer, ah! seria esse o meu maior prazer; mas Deus não o quis, está bom assim”. A primeira metade do ano 1819 foi para o nosso Santo uma das épocas mais penosas da sua vida; em toda a parte, para onde dirigia seus olhares, via esperanças desmoronadas, planos abatidos, cuidados prementes, dificuldades e contrariedades. É que Deus o preparava para o último e decisivo combate...

começava a invadir a universi<strong>da</strong>de, em cujo corpo docente encontrava já três<br />

grandes amigos e admiradores, a saber: o professor do Antigo Testamento, o <strong>da</strong><br />

teologia dogmática e o do Novo Testamento; eram justamente essas as matérias<br />

mais importantes <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de. Dois dentre eles, imitando o modo de<br />

pregar do Santo, procuravam corrigir a pregação usual em Viena e instruir apostolicamente<br />

o povo. Alguns dos alunos do Servo de Deus, dia a dia, enchiam-se<br />

de mais coragem na universi<strong>da</strong>de protestante, às vezes, contra os professores<br />

em plena preleção; formavam um como partido sempre crescente na universi<strong>da</strong>de.<br />

O próprio <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> não ignorava que com isso havia de crescer<br />

também a ira dos adversários. Ele escreveu, um ano antes, à família Schlosser.<br />

“A graça divina age sobretudo nos jovens, que se dedicam ao estudo <strong>da</strong>s ciências.<br />

Se alguém pudesse e quisesse, efetuaria logo aqui uma grande mu<strong>da</strong>nça<br />

na moci<strong>da</strong>de estudiosa; os estu<strong>da</strong>ntes já sentem asco <strong>da</strong>s doutrinas ensina<strong>da</strong>s<br />

na universi<strong>da</strong>de. Já tenho sido acusado muitas vezes de desencaminhar os<br />

rapazes”.<br />

Os maçons sentiam as forças que se levantavam cheias de vi<strong>da</strong>, e temiam<br />

pelo futuro; recorreram à polícia, acusando a <strong>Clemente</strong> de virar a cabeça dos<br />

estu<strong>da</strong>ntes. A universi<strong>da</strong>de de Viena era o foco <strong>da</strong> iluminação intelectual; catolizar<br />

a universi<strong>da</strong>de seria o mesmo que desfechar o golpe de morte aos hereges.<br />

A coisa era pois do maior interesse e <strong>da</strong>i a luta; uma série de atas públicas<br />

bem mostraram, que na Áustria se trabalhava para fechar a boca ao Servo de<br />

Deus e, se possível, expatriá-lo para longe.<br />

É interessante ouvir as acusações feitas contra o pobre sacerdote que não<br />

possuía outra arma senão a oração e a boa vontade. Em 1817 aparecem as<br />

seguintes acusações contra a sua pregação: “Esse homem velho não condiz<br />

mais como tempo; é necessário afastá-lo do púlpito e man<strong>da</strong>r espiões para<br />

escutarem as pregações”. Mas porque tudo isto? as acusações são motiva<strong>da</strong>s:<br />

“<strong>Clemente</strong> apoia-se com as duas mãos sobre o púlpito, abaixa muito cabeça<br />

para seus ouvintes... subitamente levanta-se e inclina-se para trás, grita, às<br />

vezes, desumanamente e bate com as mãos no púlpito”. Apresentaram essas<br />

acusações ao Arcebispo, que era um grande amigo pessoal de <strong>Clemente</strong>, e que<br />

para combater a pregação <strong>da</strong> mo<strong>da</strong> em Viena publicara uma circular, louvando<br />

o procedimento e o modo de pregar do Servo de Deus. — Os inimigos não se<br />

cansaram. Acusaram-no de não observar as leis do império, mormente na liturgia,<br />

pois que se atrevia a fazer procissões proibi<strong>da</strong>s, excitava o povo às romarias,<br />

espalhava entre as massas escritos supersticiosos de indulgências, recomen<strong>da</strong>va<br />

o rosário, a freqüente recepção dos Sacramentos, o culto <strong>da</strong>s imagens,<br />

livros de pie<strong>da</strong>de etc, relacionava-se demais com os Núncios, combatia os professores<br />

liberais de teologia, correspondia-se com Roma, procurava iludir os<br />

jovens a saírem <strong>da</strong> Pátria para entrarem em conventos estrangeiros. Um fato<br />

merece especial menção por sua originali<strong>da</strong>de.<br />

Um belo dia desapareceu de Viena a filha de um senhor muito conhecido; a<br />

suspeita recaiu imediatamente sobre o Servo de Deus, que na<strong>da</strong> tinha que ver<br />

com o caso. A polícia interveio e <strong>Clemente</strong> teve que comparecer perante o tribunal<br />

eclesiástico para responder sobre isso e mais outras acusações.<br />

O consistório compunha-se de pessoas sem fé como Gruber, cônego e<br />

diretor <strong>da</strong> facul<strong>da</strong>de de filosofia, e de outros sem religião como ele. Os capitula-<br />

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res sentados ao redor <strong>da</strong> mesa formavam o tribunal; o Arcebispo, ancião venerando<br />

e amigo de <strong>Clemente</strong>, não tinha força para impedir as exigências do seu<br />

Cabido. <strong>Clemente</strong> teve de comparecer e, não obstante sua digni<strong>da</strong>de sacerdotal<br />

e a inocência <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>, deve permanecer em pé diante de seus juízes. O<br />

interrogatório começou com to<strong>da</strong>s as formali<strong>da</strong>des de um tribunal.<br />

“Qual o seu nome? onde nasceu? donde vem? a que religião pertence?” A<br />

esta última interrogação <strong>Clemente</strong> sentiu-se ofendido e respondeu com calma<br />

sim, porém com to<strong>da</strong> a expressão do tratamento indigno: “Ora essa? todo o<br />

mundo sabe que eu sou um padre católico!” A isso naturalmente seguiu uma<br />

forte repreensão. Percebendo a ira e a indignação com que procediam contra<br />

ele, <strong>Clemente</strong> inclinou-se respeitosa e cortesmente diante dos juízes dizendo:<br />

“Aqui não é bom estar; retiro-me”, e serenamente foi saindo pela porta fora.<br />

Ninguém esperava por aquilo e o tribunal viu-se repentinamente privado do seu<br />

réu. O velho e nobre Arcebispo, longe de se desgostar, aprovou o procedimento<br />

do Santo dizendo: “Ele procedeu bem indo-se embora, fez como os Apóstolos;<br />

sacudiu a poeira dos seus sapatos”. Essa expressão compreende-se facilmente,<br />

considerando-se que aquele julgamento não procedera <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de eclesiástica,<br />

mas fora imposto pela polícia contra a vontade do digno Arcebispo,<br />

que naqueles tempos lutuosos não podia agir contra a força bruta do governo.<br />

Os capitulares de sentimentos religiosos olharam-se reciprocamente e riram-se,<br />

não do ancião que com tão bela resposta se retirara, mas <strong>da</strong> situação<br />

cômica em que ficaram colocados. As pesquisas sobre o desaparecimento <strong>da</strong><br />

menina ficaram sem efeito.<br />

Nos meses seguintes permaneceu <strong>Clemente</strong> debaixo <strong>da</strong> vigilância <strong>da</strong> polícia.<br />

O Santo, embora não se deixasse intimi<strong>da</strong>r por coisa alguma, achou mais<br />

prudente pôr-se de sobreaviso. <strong>Clemente</strong> era perseguido até por parte do clero.<br />

— O perigo era grande, mas ninguém tinha coragem de agir abertamente contra<br />

ele devido à amizade que gozava junto do Arcebispo e <strong>da</strong> cotação e estima<br />

em que era tido por homens de peso e valor público como Pilat, secretário de<br />

Metternich, A<strong>da</strong>m Müller, Frederico Schlegel, arquiduque Maximiliano, barão<br />

Penkler e semelhantes.<br />

Os maçons recorreram ao conde Saurau. chanceler <strong>da</strong> corte <strong>da</strong> Boêmia e<br />

Morávia, e josefino consumado, denunciando-lhe <strong>Clemente</strong> como fanático, espião<br />

de Roma, o qual punha os italianos ao par de tudo quanto se passava em<br />

Viena. Saurau encheu-se de cólera, foi ter com o Monarca, pedindo-lhe ou antes<br />

exigindo a expatriação de <strong>Clemente</strong>, que era um ver<strong>da</strong>deiro perigo para a<br />

nação. O Imperador, porém, respondeu-lhe com o laconismo que lhe era próprio:<br />

“Isso não, não posso expatriá-lo, porque ele é ci<strong>da</strong>dão austríaco”.<br />

Desfeita a primeira tentativa, era necessário achar um ponto legal, sobre o<br />

qual eles se pudessem apoiar para se apoderar <strong>da</strong> pessoa do humilde<br />

Redentorista. Como não encontrassem pretexto algum por mais que in<strong>da</strong>gassem<br />

dos conhecidos e amigos de <strong>Clemente</strong>, lembraram-se <strong>da</strong>s palavras de<br />

Sabelli que acabava de ser transferido para a Suíça por ordem dos Superiores<br />

em Roma. Numa busca na residência de <strong>Clemente</strong> talvez pudessem descobrir<br />

qualquer motivo de fun<strong>da</strong><strong>da</strong> acusação.<br />

Em janeiro de 1819 apareceram inespera<strong>da</strong>mente três homens na residência<br />

do Santo numa hora, em que ain<strong>da</strong> se achava ocupado na Igreja de Sta.

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