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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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chegando a sabe-lo só depois <strong>da</strong> morte do Santo. Ocultava com cui<strong>da</strong>do as<br />

graças singulares que Deus lhe concedia com tanta profusão, e disfarçava os<br />

mais estupendos milagres que operava. Uma vez disse a Madlener, um dos<br />

seus prediletos: “Meu caro Madlener, comigo vão muitos segredos ao túmulo,<br />

quiser t’os contar, mas não sabes guar<strong>da</strong>r segredos”.<br />

A esposa de Klinkowström tinha um filho, que era ídolo <strong>da</strong> mãe; mas Deus<br />

parecia tê-lo reservado para o céu em seus tenros anos; as escrófulas apoderaram-se<br />

<strong>da</strong> criança, tendo por conseqüência a tuberculose, e o pequeno emagreceu<br />

que mais parecia um cadáver do que um ser vivo. <strong>Clemente</strong>, que se<br />

<strong>da</strong>va muitíssimo com a família, foi visitá-la para colher notícias a respeito do<br />

pequeno. A mãe desconsola<strong>da</strong>, debulha<strong>da</strong> em lágrimas, apresentou a criança<br />

ao Santo: era só pele e osso, o corpinho já frio, os olhos vidrados, voltados para<br />

um lado, as lágrimas maternas que caiam, a fio, sobre o rosto do pequeno, não<br />

conseguiam aquecê-lo. <strong>Clemente</strong> olha o menino e com um sorriso nos lábios,<br />

bate-lhe mansamente com a mão na face, faz-lhe na fronte um sinal <strong>da</strong> cruz e<br />

diz à mãe: “Isso não é na<strong>da</strong>; hoje à tarde o pequeno terá fome e pedirá de<br />

comer”. E rapi<strong>da</strong>mente dá uma volta firmando-se no salto do sapato, e retira-se.<br />

À tarde o sangue apareceu nas faces do pequeno que pediu alimento, e conservou<br />

<strong>da</strong>i por diante o seu apetite. A mãe, quase não acreditando em seus próprios<br />

olhos, chorou, porém, de contentamento e amor. O pequeno cresceu com<br />

saúde e atingiu uma i<strong>da</strong>de bem avança<strong>da</strong>.<br />

<strong>Clemente</strong> era ávido dos sofrimentos e <strong>da</strong>s humilhações, como os outros o<br />

são <strong>da</strong>s honras e grandezas humanas. Muitas vezes convi<strong>da</strong>do às refeições por<br />

pessoas nobres ou altamente coloca<strong>da</strong>s, aceitava o convite não pela honra que<br />

lhe podia advir disso, mas pela ocasião que se lhe oferecia de sofrer um pouco<br />

por Nosso Senhor. Nessas ocasiões era, às vezes, posposto e deixado de lado;<br />

muitos dos que o conheciam e veneravam, envergonhavam-se do manto usado<br />

e velho, dos sapatos rotos, <strong>da</strong> batina remen<strong>da</strong><strong>da</strong>, <strong>da</strong>s maneiras não muito finas<br />

e <strong>da</strong> linguagem, às vezes, incorreta; muitos padres não lhe prestavam a atenção<br />

devi<strong>da</strong>, deixando-o só e sem entretenimento. Isso era um achado para <strong>São</strong><br />

<strong>Clemente</strong>, que em tudo se queria tornar semelhante ao divino Mestre, que em<br />

sua vi<strong>da</strong> mortal foi desprezado, preterido e até injuriado por amor de nossas<br />

almas. Executava em si e em sua vi<strong>da</strong> aquilo que tantas vezes pregava às<br />

Ursulinas: “Sede humildes e convencei-vos que ninguém vos faz injúrias; só<br />

assim podereis suportar com resignação, e até com alegria todo o desprezo<br />

pelo amor de Deus”. Só esse é o caminho reto e ver<strong>da</strong>deiro <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>de: “A<br />

humil<strong>da</strong>de é a ver<strong>da</strong>de; falar e agir com humil<strong>da</strong>de é bom, porém só quando<br />

nisso há sinceri<strong>da</strong>de, porque diz a Escritura que alguns se humilham astutamente<br />

ficando o coração repleto de orgulho; o sinal mais certo e mais seguro <strong>da</strong><br />

ver<strong>da</strong>deira humil<strong>da</strong>de tem aquele que aceita e suporta as humilhações com<br />

paciência, amor e alegria.<br />

<strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> atingiu tão alto grau de desprendimento de si próprio que<br />

pôde dizer com ver<strong>da</strong>de: “Ser louvado ou censurado tem para mim o mesmo<br />

valor; só somos aquilo que valemos diante de Deus”.<br />

Na medi<strong>da</strong> <strong>da</strong> sua humil<strong>da</strong>de crescia o seu amor também para com os<br />

inimigos, isto é, para com aqueles que o desprezavam e cobriam de injúrias.<br />

Tendo uma vez de fazer uma viagem <strong>Clemente</strong>, que não possuía muito<br />

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dinheiro para gastar, tomou o carro do correio, onde por acaso teve de fazer<br />

companhia a um Senhor desconhecido. Como todos sabem, é agradável, em<br />

viagem, mormente longa, ter um companheiro com o qual se possa trocar idéias<br />

e passar menos aborrecido o tempo — mas nessa ocasião não se deu o<br />

mesmo com o Servo de Deus, porque o seu companheiro era lavado em to<strong>da</strong>s<br />

as águas, e de religião e pie<strong>da</strong>de ou antes de educação e filantropia não possuía<br />

nem a mais rudimentar noção. Embora jovem achava-se já envelhecido<br />

pelo vício, todo cheio de sensuali<strong>da</strong>de e de ódio ao sacerdócio. No princípio<br />

lançou para o Santo, que se sentara em frente, um olhar sinistro, que bem<br />

mostrava a ira de que estava possuído; não tardou a abrir a boca imun<strong>da</strong> para<br />

expectorar sua bílis. Quanto mais falava, tanto mais eloqüente e violento se<br />

tornava; vendo que o Santo não reagia, indignou-se, desatou em blasfêmias<br />

horrorosas contra Deus e todo mundo, mormente contra <strong>Clemente</strong>, que desejava<br />

ver estraçalhado, picado e reduzido a sabão.<br />

Ao ouvir as blasfêmias o Servo de Deus estremeceu e pediu-lhe que cessasse<br />

tamanha ofensa contra Deus, porém debalde, a cólera do companheiro<br />

aumentava-se a ca<strong>da</strong> palavra que o Santo proferia. Percebendo serem os seus<br />

conselhos improfícuos, o Servo de Deus calou-se e pôs-se a rezar pelo infeliz,<br />

continuando por muito tempo sentado em frente do blasfemador.<br />

Ao chegarem ao primeiro restaurante, o jovem senhor sentiu o estômago<br />

vazio e conseqüentemente apetite devorador e sede ain<strong>da</strong> maior. Quis levantarse,<br />

mas o corpo, apodrecido pelos vícios, não teve força para erguer-se. <strong>São</strong><br />

<strong>Clemente</strong>, vendo a dificul<strong>da</strong>de do infeliz, esquece-se <strong>da</strong>s injúrias recebi<strong>da</strong>s,<br />

toma-o em seus braços, aju<strong>da</strong>-o a descer conduzindo-o em segui<strong>da</strong> ao restaurante<br />

com todo o cui<strong>da</strong>do. Termina<strong>da</strong> a refeição <strong>Clemente</strong> torna a tomá-lo em<br />

seus braços e transporta-o ao carro tratando-o como uma mãe desvela<strong>da</strong>. O<br />

blasfemador sentiu-se confundido, reconheceu o papel feio que acabava de<br />

fazer, admirou a delicadeza, cari<strong>da</strong>de e santi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>quele sacerdote, cujos lábios<br />

só se moviam para a oração, pediu perdão com to<strong>da</strong> a humil<strong>da</strong>de dizendo:<br />

“Se tivesse conhecido, a mais tempo, um sacerdote como vós, nunca teria caído<br />

em tão mísero estado”.<br />

Quando <strong>Clemente</strong> praticava atos heróicos de cari<strong>da</strong>de e paciência como<br />

esse, não se preocupava tanto com a fragili<strong>da</strong>de humana, mas visava tão somente<br />

a alma imortal cria<strong>da</strong> à imagem e semelhança de Deus. O Servo de<br />

Deus amava os inimigos e os perseguidores e chegava a dizer: “Os inimigos<br />

devem ser tidos na conta de benfeitores, porque nos auxiliam a ganhar o céu”.<br />

E de fato eles nos dão ocasião para a prática <strong>da</strong>s mais belas virtudes como <strong>da</strong><br />

paciência, mansidão, confiança em Deus, submissão à vontade divina e magnanimi<strong>da</strong>de,<br />

virtudes essas que não existiriam se não fossem os inimigos ou os<br />

mal-entendidos sobre a terra. <strong>Clemente</strong> tinha inimigos gratuitos que o odiavam<br />

entranhavelmente, desejavam destruir a sua obra e impedir a execução dos<br />

seus planos; o Santo porém nunca se queixou nem deixou escapar a menor<br />

palavra de murmuração ou de desgosto contra os seus perseguidores. Ao contrário<br />

conservava-se sempre alegre e sorridente no meio <strong>da</strong>s tempestades internas,<br />

que se moviam em seu coração, e <strong>da</strong>s externas que se desencadeavam<br />

contra ele. Uma Ursulina mostrando-se uma vez compadeci<strong>da</strong> com o Santo por<br />

causa <strong>da</strong>s muitas perseguições, de que era alvo, dirigiu-se a ele para lhe abrir o

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