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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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a vontade divina e dizia: “Agradeço a Deus diariamente por me ter deixado essa<br />

irascibili<strong>da</strong>de: ela conserva em mim a humil<strong>da</strong>de e me preserva do orgulho”. O<br />

quanto apreciava a humil<strong>da</strong>de já o vimos em outro lugar, quando explicava às<br />

noviças de Sta. Úrsula a grande arte de agra<strong>da</strong>r a Deus. “A humil<strong>da</strong>de, dizia, é<br />

a raiz de to<strong>da</strong> a virtude”. Em suas pregações e conferências gostava de comentar<br />

a palavra de Sto. Agostinho: “A humil<strong>da</strong>de é a mãe, a educadora, a companheira<br />

e o complemento <strong>da</strong>s outras virtudes; mesmo as mais estupen<strong>da</strong>s obras<br />

são sem valor, se não procederem <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>de e não forem por ela guia<strong>da</strong>s”.<br />

“Sede humildes, exortava a todos, porque do contrário a palavra de Deus será<br />

para vós como uma fábula”. Por ser humilde <strong>Clemente</strong> não se envergonhava de<br />

reconhecer e confessar as suas faltas, e com to<strong>da</strong> a devoção rezava: “Perdoai<br />

as nossas dívi<strong>da</strong>s...” A tempestade interna desencadeava em sua alma foi, uma<br />

vez, tão violenta, que não pôde evitar em seu exterior uns leves movimentos de<br />

ira, que bem mostravam o que lhe ia na alma. Humilhado e confundido disse na<br />

presença de todos: “Sim, sim, eu sou um pobre coitado”.<br />

Essa grande humil<strong>da</strong>de fazia-lhe desculpar as faltas nos outros. Quando<br />

alguém, esquecendo-se <strong>da</strong> cari<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong> ao próximo, se punha a criticar ou<br />

censurar a outrem em presença do Servo de Deus, este constituía advogado do<br />

ofendido ou injuriado. Uma vez caiu a conversa sobre os santinhos que se distribuíam<br />

às crianças, os quais não eram artísticos nem bem feitos; os entendidos<br />

na estética indignaram-se com os santinhos e criticaram o autor, que rebaixavam<br />

e deprimiam sob o ponto de vista. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> cheio de compaixão<br />

observou: “Não levem isso a mal; o pobrezinho fez o que pôde, teve a melhor<br />

vontade de agra<strong>da</strong>r e isso basta”. Uma outra vez um médico pôs-se a descompor<br />

uma família, que na<strong>da</strong> de mal lhe havia feito: possuía ela em casa um<br />

altarzinho e nas paredes <strong>da</strong> casa belos quadros de Santos, em vez de tantas<br />

figuras indecentes, más e indignas que se encontram infelizmente em tantas<br />

casas para escân<strong>da</strong>lo <strong>da</strong>s famílias e dos visitantes; o médico desgostou-se com<br />

a pouca arte dos quadros, e pôs-se a censurar com acrimônia o pobre do pintor,<br />

a quem não queria consentir o prazer de se dedicar à arte <strong>da</strong> pintura, afirmando<br />

serem as suas obras um abuso e uma afronta à humani<strong>da</strong>de. O Servo de Deus,<br />

sempre bondoso, chamou-o à parte e repreendeu-o com brandura censurando<br />

o seu juízo tão severo, com as palavras: “Cui<strong>da</strong>do com o que dizes; não convém<br />

magoar um homem em coisas que lhe causam prazer”.<br />

Ele porém julgava-se muito mau, e admirava-se de que Deus o pudesse<br />

suportar prodigalizando-lhe tantos favores e graças, e, o coração nos lábios,<br />

agradecia ao Senhor sua grande generosi<strong>da</strong>de e pedia aos amigos agradecessem<br />

a Deus em seu lugar, acrescentando: “Sempre que agradecemos a Deus,<br />

alcançamos dele novos favores”.<br />

Também para com os homens era <strong>Clemente</strong> extremamente grato por qualquer<br />

serviço ou favor recebido. Em sinal de gratidão distribuía tercinhos, santinhos<br />

e semelhantes coisas, que todos aceitavam com prazer por serem presentes de<br />

um Santo e dádiva de um coração bondoso que não possuía coisas mais preciosas<br />

ou luxuosas para <strong>da</strong>r; às crianças que lhe faziam algum pequeno favor,<br />

<strong>da</strong>vam os seus recados, ou cumpriam as suas ordens, presenteava com maçãs<br />

ou outras frutas, bem como com um abracinho cheio de carinhos e ternura que<br />

alegrava o coração infantil.<br />

92<br />

Quando <strong>Clemente</strong> não tinha na ocasião coisa alguma para <strong>da</strong>r em retorno<br />

de algum favor recebido, dizia de coração um “Deus lhe pague”, que aliás nunca<br />

dispensava; comovia-se ao contar a história de S. Félix de Cantalício, que como<br />

pobre capuchinho, não tendo na<strong>da</strong> para retribuir aos amigos, dizia sempre ao<br />

receber algum presente: “Deo gratias”, isto é, Deus lhe pague, o que lhe valeu o<br />

significativo nome de Frei Deogratias que o povo lhe deu. Quando Deus mesmo<br />

paga, a recompensa é infinitamente maior do que quando nós retribuímos; é<br />

essa a simples razão por que o Servo de Deus não podia simpatizar-se com a<br />

expressão: “Muito obrigado”.<br />

<strong>Clemente</strong> sentia-se ver<strong>da</strong>deira e sinceramente incomo<strong>da</strong>do quando percebia<br />

haver causado involuntariamente a qualquer pessoa alguma ofensa ou desgosto.<br />

Numa ocasião alguém o informou de o haver procurado muitas vezes<br />

sem conseguir encontrá-lo; <strong>Clemente</strong> disse sentido: “Sinto-me envergonhado<br />

de tê-lo feito assim <strong>da</strong>r essas caminha<strong>da</strong>s; mas Deus tê-las-á contado e escrito<br />

no livro <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> para a recompensa”. <strong>Clemente</strong> era frio para os louvores humanos.<br />

“Que são as palavras humanas?” perguntava ele, e respondia: “<strong>São</strong> apenas<br />

uma pressão passageira do ar”. Ao ouvir algum elogio feito a seus merecimentos,<br />

ou a seus trabalhos, interrompia imediatamente o panegirista com as<br />

palavras: “Acabe com isso; a gente só louva as crianças e os loucos”. Por vezes<br />

sentia até asco dos encômios que lhe faziam. “Quem me louva, açouta-me”<br />

dizia ele servindo-se <strong>da</strong>s palavras que aprendera na escola do mártir Sto. Inácio<br />

de Antioquia. Por uma longa experiência <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> conhecia a falsi<strong>da</strong>de dos louvores<br />

pronunciados por lábios humanos: “Alguns beijaram-me os vestígios dos<br />

pés, e três vezes mais atiraram sobre mim a lama <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>; na medi<strong>da</strong> que<br />

uns me louvavam, outros me enchiam de apodos e injúrias”. — <strong>Clemente</strong> manifestava<br />

não só por palavras, mas também por obra a sua profun<strong>da</strong> e ver<strong>da</strong>deira<br />

humil<strong>da</strong>de. Embora sacerdote acatado pelos mais finos representantes <strong>da</strong> aristocracia<br />

de sua terra, embora Vigário geral <strong>da</strong> <strong>Congregação</strong> Redentorista, servia<br />

a todos com a maior prontidão, lavava com suas próprias mãos os meninos<br />

órfãos, ia à cozinha, acendia a estufa nas celas dos confrades, costurava as<br />

suas vezes, procurava os pobres e com eles se entretinha familiarmente; com<br />

os ricos e grandes do século só ia ter em se tratando de ganhá-los para Deus;<br />

na igreja ajoelhava-se ao lado dos pobres, cuja pie<strong>da</strong>de o encantava; e fugia <strong>da</strong><br />

haute volée repetindo a miudo: “Os pobres procuram a igreja por devoção e<br />

amor de Deus, que adoram e saú<strong>da</strong>m já desde o romper <strong>da</strong> manhã”. Quando<br />

algum neo-presbítero cantava sua primeira missa, <strong>Clemente</strong> gostava de servir<br />

ao altar, e em geral nas missas solenes servia de subdiácono que é o ofício de<br />

menor saliência. “A humil<strong>da</strong>de é a sau<strong>da</strong>de de servir; a alma que, livre do amor<br />

próprio, procura em tudo estar submissa e servir, aju<strong>da</strong>r e alegrar os outros, é<br />

ver<strong>da</strong>deiramente humilde”. Com essas palavras <strong>Clemente</strong>, sem o saber, descrevia<br />

a sua própria vi<strong>da</strong>, e desenhava o seu retrato.<br />

O Santo, em geral, evitava falar de si mesmo, mormente quando o assunto<br />

podia reverter em louvor ou glória para ele; calava-se e na<strong>da</strong> dizia aos outros,<br />

quando recebia alguma visita honrosa, ou quando era alvo de parabéns ou<br />

felicitações mereci<strong>da</strong>s. — Embora desde 1793 ele fosse Vigário geral, isto é,<br />

possuísse o primeiro posto na <strong>Congregação</strong> depois do Reitor-mor em Roma,<br />

muitas pessoas, mesmo entre as mais íntimas, o ignoravam completamente,

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