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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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intacta, até a morte, a inocência batismal. Por mais curiosos que fossem os<br />

vienenses, não puderam descobrir a menos sombra de culpa ou de suspeita a<br />

respeito <strong>da</strong> virtude de <strong>Clemente</strong>; ao contrário, todo o exterior do Servo de Deus,<br />

mormente os olhos, pareciam desprender de si raios fulgurantes de virtudes,<br />

obrigando todos a admirar e a amar a pureza; quando abraçava a um jovem,<br />

uma como faísca de pureza ia ferir o coração do moço que se sentia impelido<br />

ao amor e à prática <strong>da</strong> virtude angélica.<br />

Sendo essa virtude um tesouro precioso, inúmeros são os que o pretendem<br />

roubar às almas, que para guardá-lo necessitam às vezes impor os maiores<br />

sacrifícios e praticar rasgos de heroísmos. O nosso corpo propende naturalmente<br />

para o lodo, é feito de barro e para a terra pende; os cinco sentidos, que<br />

o põe e contato com o mundo externo, são um perigo para a bela virtude. A<br />

fantasia e o coração são as duas portas por onde entra geralmente a morte e a<br />

ruína dessa virtude; a primeira porta ain<strong>da</strong> mais se abre pelas más leituras,<br />

figuras indecorosas, cinemas sem moral, teatros sem respeito, bailes livres,<br />

onde a promiscui<strong>da</strong>de dos sexos, a música lasciva, os olhares curiosos, trajes<br />

inconvenientes excitam as paixões. S. <strong>Clemente</strong> era inexorável na proibição dos<br />

romances, <strong>da</strong>s poesias amorosas, dos divertimentos ilícitos, que depositam na<br />

alma os bacilos deletérios <strong>da</strong> impureza. Pela segun<strong>da</strong> porta — o coração —<br />

entra o amor com as manifestações de afeto, carinho, galanteios etc. <strong>Clemente</strong>,<br />

o defensor intrépido <strong>da</strong> virtude angélica, com língua de fogo e ardor de serafim<br />

interditava a todos as amizades suspeitas e perigosas, mormente em se tratando<br />

de pessoas de outro sexo. Gostava de citar o exemplo do velho patriarca Jó,<br />

que não obstante sua avança<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, sua grande e experimenta<strong>da</strong> virtude,<br />

sua vi<strong>da</strong> matrimonial, tremia diante do perigo e, como ele mesmo afirma, chegou<br />

a fazer um pacto com seus olhos de nunca fixá-los em uma donzela. <strong>Clemente</strong><br />

não queria que os seus discípulos se entretivessem com mulheres, e<br />

repetia muitas vezes aos jovens: “As senhoras piedosas, encomen<strong>da</strong>i-as ao<br />

Senhor”. Nesse ponto o Servo de Deus não conhecia condescendência, e muitas<br />

vezes mostrava-se indelicado.<br />

Uma vez estava ele, à noite, a trabalhar em seu aposento particular, quando<br />

alguém bate à porta; vai abri-la e dá com uma senhora que lhe pede man<strong>da</strong>r<br />

um padre novo a um dos arrabaldes ouvir a confissão de uma mulher enferma.<br />

Ao ponderar as duas palavras do pedido: padre novo e mulher enferma,<br />

franziu os sobr’olhos e com sereni<strong>da</strong>de disse à senhora: “Aqui não há padre<br />

novo para eu mandá-lo”, e bateu a porta no rosto <strong>da</strong> senhora que ousara fazerlhe<br />

semelhante pedido.<br />

Nas palestras íntimas com os seus discípulos era em extremo rigoroso,<br />

aconselhando-os a fugirem de todo e qualquer agrado <strong>da</strong>s mulheres. “As mulheres<br />

são sempre mulheres, dizia ele; enquanto não se desfizerem de todo o<br />

feminismo como uma Santa Teresa e outras santas mulheres, são sempre perigosas”.<br />

Ele até era de opinião que uma mulher nunca se tornará santa, enquanto<br />

não se despojar de tudo que é mulheril. “To<strong>da</strong>s as mulheres santas, afirmava<br />

ele, possuíam um espírito masculino e robusto; to<strong>da</strong>s as mulheres que não<br />

depuserem o ser efeminado são repugnantes para mim”.<br />

<strong>Clemente</strong> conhecia a fraqueza humana comprova<strong>da</strong> nos fatos tristes <strong>da</strong><br />

história e <strong>da</strong> experiência; conhecia a que<strong>da</strong> de homens como Adão, Ruben,<br />

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Davi, Salomão, Holofernes e tantos outros, e por isso evitava o mais possível<br />

qualquer aproximação com as suas penitentes; com elas era sempre breve evitando<br />

qualquer conversa desnecessária. Ao falar com senhoras, nunca lhes<br />

olhava o rosto, fitava o chão ou fechava os olhos de sorte que nenhuma mulher<br />

pôde saber a cor de seus olhos. Um dos seus discípulos afirmou que o Servo de<br />

Deus olhava para dentro e não para fora como os outros; era uma expressão<br />

forte que diz tudo: <strong>Clemente</strong> olhava mais com os olhos do espírito, com as<br />

vistas em Deus, do que com os olhos carnais. Afirmam os seus estu<strong>da</strong>ntes que<br />

<strong>Clemente</strong> não conhecia a nenhuma de suas penitentes, nem sequer as irmãs,<br />

pela fisionomia, mas só pela voz.<br />

<strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> refreava os sentidos e mortificava o corpo para subjugá-los<br />

e obrigá-los à escravidão gloriosa <strong>da</strong> alma; aceitava <strong>da</strong>s mãos de Deus, com<br />

ânimo alegre, to<strong>da</strong>s as inclemências do tempo, enfermi<strong>da</strong>des ou dissabores;<br />

alegrava-se, interiormente, sempre que recebia dos homens alguma afronta ou<br />

injúria, para assim se mortificar, pois que as mortificações que Deus nos man<strong>da</strong>,<br />

sem as procurarmos, são as mais úteis e proveitosas para as nossas almas,<br />

e mais próprias para nos conservarem na humil<strong>da</strong>de e na prática <strong>da</strong>s demais<br />

virtudes.<br />

Durante muitos anos foi ele confessor <strong>da</strong>s Ursulinas, e diversas vezes teve<br />

de ficar esperando, longo tempo, na antecâmara, onde não havia nenhuma<br />

cadeira, e o Santo nunca se queixou disso, nem o disse a ninguém; quando se<br />

cansava muito por causa <strong>da</strong>s contínuas visitas aos doentes, esperava sentado<br />

no chão, onde uma vez o surpreenderam. Não tinha pie<strong>da</strong>de do corpo, açoitava-o<br />

mais vezes por semana e, para maior penitência, atava às pontas <strong>da</strong> disciplina<br />

pontinhas de ferro, que lhe dilaceravam o corpo e arrancavam sangue.<br />

Desse instrumento de martírio servia-se para abater o corpo e assim com mais<br />

segurança guar<strong>da</strong>r o tesouro <strong>da</strong> virgin<strong>da</strong>de. Qual preciosa relíquia conserva-se<br />

essa disciplina no convento dos Redentoristas em Viena. O Servo de Deus usava<br />

quase sempre, um cilício agudo que lhe feria o corpo não lhe permitindo<br />

nenhum descanso. A respeito de tudo isso o Santo guar<strong>da</strong>va a mais completa<br />

reserva, não querendo que alguém percebesse a austeri<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>; fugia<br />

<strong>da</strong> ostentação e dos louvores humanos procurando nessas mortificações somente<br />

a glória de Deus e a santificação <strong>da</strong> sua própria alma. Embora de natureza<br />

robusta, em um clima frio, <strong>Clemente</strong> alimentava-se mui parcamente, arrancando<br />

a admiração de todos que não chegavam a compreender como é que ele<br />

podia viver com tão pouco e trabalhar tanto! Nunca tomou café nem coisa alguma<br />

de manhã em to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong>, a não ser nos últimos anos por preceito<br />

médico e a pedido dos amigos que se compadeciam <strong>da</strong> grande debili<strong>da</strong>de em<br />

que se achava, mas isso mesmo nunca antes <strong>da</strong>s 10 horas; do confessionário<br />

onde ficava desde as 3 horas <strong>da</strong> madruga<strong>da</strong>, levantava-se às 10 horas e celebrava<br />

a santa missa, na qual fazia sempre uma breve pregação; só depois é<br />

que, nos últimos anos, ia tomar um pouco de caldo com alguma leve mistura.<br />

Na hora <strong>da</strong>s refeições não se sentava à mesa, como os outros, a fazer-se servir<br />

de assados e iguarias delica<strong>da</strong>s, mas com o pranto em uma <strong>da</strong>s mãos e a<br />

colher na outra, an<strong>da</strong>va pelo quarto a tomar os restos de uma comi<strong>da</strong> qualquer<br />

de farinha com um minguado pe<strong>da</strong>ço de carne fria, ou, às vezes, apenas a<br />

sopa. Com isso contentava-se até à noite, em que não tomava mais que ao

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