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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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coração não se satisfazia, sentia um vácuo indizível na sua alma, uma voz parecia<br />

soar-lhe constantemente aos ouvidos convi<strong>da</strong>ndo-o a subir os degraus do<br />

altar; ah! <strong>Clemente</strong> tinha sau<strong>da</strong>des pungentes do sacerdócio, e ele, como outrora<br />

Abraão, esperando em Deus contra to<strong>da</strong> a esperança, suplicava ao céu se<br />

dignasse abrir-lhe em par as portas do santuário. Entretanto tudo parecia conjurar-se<br />

contra ele, mas <strong>Clemente</strong> não desanimava; ao fabricar o pão material<br />

lembrava-se do pão dos anjos, que o padre consagra sobre o altar; ao levar aos<br />

fregueses a cesta de pão às costas, pedia a Deus, soluçando, que lhe fosse<br />

<strong>da</strong>do um dia, levar o pão do céu aos pobres moribundos.<br />

O mestre tinha um filhinho que contava então seus cinco anos de i<strong>da</strong>de. O<br />

pequeno era inocente e, como as almas inocentes logo se conhecem, não tardou<br />

a travar com <strong>Clemente</strong> a mais santa amizade, não o querendo mais deixar<br />

nem um instante; acompanhava-o em to<strong>da</strong> parte, seguia-o em suas voltas pela<br />

ci<strong>da</strong>de, pois que <strong>Clemente</strong> sabia falar tão bem e contar tão lin<strong>da</strong>s coisas do céu,<br />

dos Santos e <strong>da</strong> Virgem Santíssima. Para não perder tempo na entrega dos<br />

pães aos fregueses, pediu <strong>Clemente</strong> à mãe do pequeno, que o retivesse em<br />

casa nessas ocasiões; porém debalde, a respeitável senhora não acedeu ao<br />

pedido de <strong>Clemente</strong>, porque não julgava perdido o tempo, em que o distribuidor<br />

do pão se retar<strong>da</strong>va nos negócios, a <strong>da</strong>r tão santas instruções e tão belos exemplos<br />

a seu filhinho. Que faz <strong>Clemente</strong>? Toma a cesta às costas e o menino em<br />

seus braços, e assim percorre apressado a ci<strong>da</strong>de. Semelhante cena Tasswitz<br />

nunca presenciara; alguns sorriam-se pela novi<strong>da</strong>de do fato, e outros <strong>da</strong>s janelas<br />

gritavam: “Olha o <strong>São</strong> Cristóvão”. <strong>Clemente</strong> desejoso de ver o Santo que o<br />

povo anunciava, olhou, no princípio, para to<strong>da</strong>s as direções; como não visse<br />

coisa alguma perguntou admirado onde é que estava S. Cristóvão. Quando lhe<br />

disseram que <strong>São</strong> Cristóvão era ele mesmo, não soube o que pensar; ao chegar<br />

em casa contou tudo ao mestre perguntando-lhe porque é que lhe tinham<br />

<strong>da</strong>do esse nome tão interessante. Ao ouvir <strong>da</strong> mulher do mestre, que S. Cristóvão<br />

era um gigante muito santo, que levado <strong>da</strong> cari<strong>da</strong>de, transportava as pessoas<br />

por sobre um rio destituído de ponte, e que um dia Jesus Cristo mesmo<br />

lhe apareceu, na forma de um viajante, pedindo o quisesse levar para o outro<br />

lado do rio. S. Cristóvão o transportou sobre seus ombros, merecendo depois<br />

ver a Jesus e ouvir-lhe as palavras de agradecimento. <strong>Clemente</strong> não pôde conter-se<br />

e exclamou: “Quem me dera ser deveras um S. Cristóvão para levar o<br />

Cristo em minhas mãos!”<br />

Esse pensamento não o deixava sossegar. Mal havia terminado o tempo<br />

de sua aprendizagem, <strong>Clemente</strong>, numa esperança que ele mesmo não saberia<br />

definir, dirigiu-se ao convento dos padres Premonstratenses, apresentou-se ao<br />

abade que se mostrou bem impressionado como o moço tão modesto, tão bem<br />

vestido e asseado. <strong>Clemente</strong> conjecturou: “Quem sabe, se lá não será mais fácil<br />

remover os obstáculos, superar as barreiras que me impedem de subir os degraus<br />

do altar?!” A Europa inteira gemia naquele tempo debaixo <strong>da</strong>s mais duras<br />

provações. A guerra dos sete anos era já passa<strong>da</strong>, mas as conseqüências faziam-se<br />

sentir profun<strong>da</strong>mente, levando a miséria e a fome a todos os países; as<br />

terras ficaram sem cultivo, muitas ci<strong>da</strong>des foram incendia<strong>da</strong>s. Nesse tempo de<br />

desolação e miséria eram os conventos o celeiro que fornecia o alimento a<br />

milhares de bocas. O abade dos Premonstratenses, homem de grandes virtu-<br />

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des, possuía um coração extremamente generoso: novecentas pessoas recebiam<br />

diariamente a alimentação à porta do convento. O trabalho de <strong>Clemente</strong> no<br />

convento, consistia em preparar o pão para essa multidão de desditosos, e ele<br />

sentia-se realmente feliz por poder prestar seus serviços aos pobres; dia e noite<br />

trabalhava para não deixar ninguém sofrer, e muitas vezes tirava o pão <strong>da</strong> própria<br />

boca, afim de matar a fome àqueles infelizes. Mas a carestia não veio só;<br />

apareceu acompanha<strong>da</strong> do tifo e de outras moléstias que dizimavam a população.<br />

Centenas de homens arrastavam-se até a porta do convento enfraquecidos<br />

pela fome e torturados pela febre, recebiam o pão que, às vezes, não podiam<br />

levar à boca, porque a morte os surpreendia naquele momento.<br />

Deus não se deixa vencer em generosi<strong>da</strong>de, dá cem por um a todos os que<br />

trabalham por amor dele; <strong>Clemente</strong> pois devia receber a sua recompensa: e<br />

esta não foi pequena. Na abadia, onde <strong>Clemente</strong> se empregara, existia um<br />

seminário onde trinta rapazes recebiam instrução e donde já tinham saído sacerdotes<br />

exemplares e santos. O pequeno padeiro conteve-se, dezoito meses,<br />

a ver calado os meninos que, os livros debaixo do braço, iam às aulas ou brincavam<br />

alegres na hora do recreio. As lágrimas corriam-lhe pelas faces, lágrimas<br />

de uma santa inveja, que ele não podia reprimir porque eram sinceras,<br />

saí<strong>da</strong>s do fundo do coração. As lágrimas de <strong>Clemente</strong> enterneceram o coração<br />

divino que lhe outorgou ânimo e coragem. Foi ter com o abade, abriu-lhe a alma<br />

e, o coração nos lábios, suplicou-lhe uma ocupação mais leve na abadia afim<br />

de poder dedicar-se aos estudos e assistir às aulas do colégio. O coração bondoso<br />

do abade, reconhecendo a vocação sacerdotal do seu padeiro, acedeu ao<br />

pedido de <strong>Clemente</strong>, nomeando-o seu refeitoreiro e copeiro.<br />

<strong>Clemente</strong> podia, pois, mais desimpedido dedicar-se às letras — mas o estudo<br />

já não lhe era tão fácil; o pouco de latim que aprendera com o vigário de<br />

Tasswitz, já há muito estava esquecido e aos vinte anos, que <strong>Clemente</strong> não<br />

contava, a memória já não é tão fresca e firme para reter tanta coisa. Além disso<br />

o estudo era para ele, naquelas circunstâncias, uma coisa secundária. Mas não<br />

há o que a aplicação constante não vença. Labor improbus omnia vincit. Em<br />

quatro anos completou <strong>Clemente</strong> as classes ginasiais fazendo os mais brilhantes<br />

progressos em to<strong>da</strong>s as matérias: em religião, latim, grego, geografia e história<br />

<strong>Clemente</strong> avantajou-se a muitos outros alunos mais talentosos do que ele.<br />

É certo que o nosso Santo, mais de uma vez, teve de ouvir palavras picantes<br />

dos colegas que zombavam <strong>da</strong> sua i<strong>da</strong>de, mas <strong>Clemente</strong> sabia suportar tudo<br />

aquilo com a maior tranqüili<strong>da</strong>de, agradecendo a Deus a amarga pílula que lhe<br />

apresentava.

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