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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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emen<strong>da</strong>va por suas próprias mãos. Alguém que lhe perguntou, porque não<br />

<strong>da</strong>va a consertar a roupa rasga<strong>da</strong> ao alfaiate, respondeu a sorrir: “O padre deve<br />

entender de tudo no governo <strong>da</strong> casa”.<br />

Durante os sete anos que esteve em Viena, como confessor <strong>da</strong>s Ursulinas,<br />

só teve um hábito, que quase já não possuía um palmo de pano que não fosse<br />

remen<strong>da</strong>do. Só uma vez vestiu uma batina nova; foi esse um dia de festa para<br />

as irmãs que espanta<strong>da</strong>s exclamaram alto: “Que milagre! o nosso Pai espiritual<br />

com uma batina nova!” No tempo do inverno usava sobre o hábito um manto de<br />

pano escuro, que recebeu em Varsóvia uns quinze anos atrás. No verão a capa<br />

era de pano pouco mais leve, porém ordinário como o outro. O chapéu velho e<br />

usado não destoava do resto; sendo de notar que o uso de an<strong>da</strong>r de chapéu<br />

nas ruas <strong>Clemente</strong> não o conhecia, a não ser no tempo de chuva... Para se<br />

defender do frio, mesmo no mais rigoroso inverno, o Servo de Deus nunca usou<br />

luvas; relógio de algibeira ele tinha por coisa desnecessária, visto haver tantos<br />

relógios nas torres de Viena, que marcavam com exatidão o tempo. Às vezes o<br />

Servo de Deus olhava para o seu uniforme usado e quase sem cor, e ao arrancar<br />

um ou outro pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> batina rasga<strong>da</strong> em qualquer parte dizia a sorrir:<br />

“Que belo vigário geral!” Embora <strong>Clemente</strong> pronunciasse essa palavra por gracejo<br />

e fina ironia, não fazia senão dizer a ver<strong>da</strong>de, pois que a ver<strong>da</strong>deira beleza<br />

não consiste tanto nos atavios externos, nos adornos principescos, nas jóias ou<br />

na se<strong>da</strong>, no enfeite do corpo, mas sim na nobreza do coração e na formosura<br />

<strong>da</strong> alma. Não passa de uma tolice infantil ligar importância à beleza do traje e ao<br />

adereço do corpo; os espíritos superiores, embora sempre asseados como o<br />

exige a socie<strong>da</strong>de, não se prendem a essas bagatelas, mas cui<strong>da</strong>m <strong>da</strong> virtude,<br />

preocupam-se com a beleza incomparavelmente superior <strong>da</strong> inteligência, e muito<br />

mais ain<strong>da</strong> com a formosura sobrenatural <strong>da</strong> alma. A beleza física e o adorno<br />

do corpo nem sempre dependem de nós, ao passo que a formosura <strong>da</strong> alma<br />

está em nossas mãos e em poder de ca<strong>da</strong> um. Deus não olha para o exterior<br />

mas para a alma tão somente. Jesus deu-nos o mais belo exemplo do completo<br />

desapego <strong>da</strong>s vai<strong>da</strong>des e futili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, abraçando voluntariamente a pobreza,<br />

nascendo em uma estalagem, vivendo como um pobre artífice numa<br />

pequena e insignificante oficina em Nazaré e morrendo desprovido de tudo no<br />

alto <strong>da</strong> cruz. <strong>Clemente</strong> olhava para Jesus Cristo, que era o seu ideal supremo, e<br />

nele encontrava o motivo do seu amor à pobreza. “Beati pauperes, bem-aventurados<br />

os pobres”, disse Jesus e acrescentou ain<strong>da</strong> em outro lugar: “Vae divitibus,<br />

ai dos ricos, pois é mais fácil um camelo passar pelo vão de uma agulha do que<br />

um rico entrar no reino dos céus”. “Se alguém quer ser perfeito, vá, ven<strong>da</strong> o que<br />

tem, dê-o de esmola aos pobres, depois venha e siga-me”. “Não vos ajunteis<br />

riquezas sobre a terra, onde os ladrões as furtam e a traça as roe; acumulai-vos<br />

tesouros no céu”. To<strong>da</strong>s essas palavras <strong>da</strong> Ver<strong>da</strong>de Eterna, <strong>Clemente</strong> as guar<strong>da</strong>va<br />

em seu coração, fazendo delas suas meditações e tomando-as por guia<br />

<strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> desprendi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s ninharias do mundo.<br />

CAPÍTULO XIX<br />

89<br />

O Anjo de pureza<br />

A virtude angélica — As portas <strong>da</strong> impureza — As mulheres santas —<br />

Laconismo santo — A mortificação e a pureza — O cardápio de ca<strong>da</strong> dia — Sua<br />

bebi<strong>da</strong> usual — Necessárias explicações.<br />

Entre to<strong>da</strong>s as virtudes pratica<strong>da</strong>s por <strong>Clemente</strong>, a mais mimosa foi a pureza,<br />

a inocência de coração. Em seus discípulos não admitia nem sombra de<br />

impureza ou moleza efemina<strong>da</strong>. “Permanecei puros e castos” era o estribilho de<br />

muitas conferências e alocuções. O Servo de Deus tinha a pureza como a condição<br />

necessária para a fé e a vi<strong>da</strong> cristã. E de fato a impureza tem sido sempre<br />

uma <strong>da</strong>s causas <strong>da</strong> increduli<strong>da</strong>de não só de indivíduos, mas até de reinos e<br />

nações inteiras, porquanto a fé é como uma luz finíssima que se extingue facilmente<br />

ao contato com o ar impuro impregnado de nojentos miasmas exalados<br />

<strong>da</strong> podridão dos cadáveres. O impuro, não podendo suportar os remorsos <strong>da</strong><br />

consciência, quisera que Deus não existisse, procura abafar a voz importuna<br />

que lhe exprobra sua indigni<strong>da</strong>de e baixeza, e foge de quanto lhe possa fazer<br />

lembrar a virtude que não quer praticar. A impureza enerva o coração e enfraquece<br />

a alma, que, presa à lama, não tem força de levar uma vi<strong>da</strong> cristã, que é<br />

como a coroa de to<strong>da</strong>s as virtudes, e por isso, não conseguindo dominar-se, a<br />

alma cai, ou antes precipita-se de abismo em abismo. O impuro não compreende<br />

as coisas do céu, não sente alegria na religião nem pode respirar o ambiente<br />

puro que conserva a saúde <strong>da</strong> alma e a faz alcandorar-se às mais eleva<strong>da</strong>s<br />

alturas <strong>da</strong> grandeza sobrenatural. É por essas razões que o Servo de Deus<br />

invectivava o vício impuro mais do que qualquer outro. “É ele, dizia, que lança<br />

no inferno a maior parte dos jovens”; e acrescentava: “Almas virgens são irmãs<br />

dos anjos”. Conhecendo que o vício contrário à bela virtude oferece à alma os<br />

mais renhidos combates, às palavras unia também os esforços práticos e necessários<br />

para preservar a juventude desse grande mal: conselhos, avisos, exemplos,<br />

boa companhia, tudo isso ele empregava com solicitude para o bem <strong>da</strong><br />

moci<strong>da</strong>de. Quando se despedia de algum jovem, o último conselho era sempre:<br />

“Guar<strong>da</strong>i a pureza do coração e a retidão <strong>da</strong> intenção”.<br />

<strong>Clemente</strong> amava a infância, porque via a pureza estampa<strong>da</strong> na alma e no<br />

rosto <strong>da</strong> criança, que ain<strong>da</strong> não conhece o ardor do vício e os ataques <strong>da</strong> concupiscência;<br />

a inocência tinha para ele um atrativo todo singular. Sobretudo<br />

com o exemplo é que o Servo de Deus fazia as mais belas pregações sobre a<br />

pureza. Sua alma santa era como um lírio viçoso, que despregando-se <strong>da</strong> sordidez<br />

<strong>da</strong> terra, subia, atirava-se para o alto; em to<strong>da</strong> a sua vi<strong>da</strong> de setenta anos<br />

jamais deixou cair ou macular-se uma só pétala desse lírio cândido; conservou

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