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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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CAPÍTULO XVIII<br />

O amante <strong>da</strong> pobreza<br />

Que são as riquezas — O tesouro nas mãos — A cruz de brilhante — O<br />

quarto do Santo — A roupa do Servo de Deus — O belo Vigário Geral — As<br />

palavras de Jesus.<br />

A opinião de <strong>Clemente</strong> a respeito <strong>da</strong>s fortunas e grandezas <strong>da</strong> terra, era<br />

bem diversa <strong>da</strong> dos filhos do século; a sua alma de escol não se prendia às<br />

coisas vis do mundo, que afinal não passam de lama e podridão. <strong>Clemente</strong><br />

procurava a pobreza como os mun<strong>da</strong>nos a riqueza e o fausto; amava-a como<br />

outrora o pobrezinho de Assis. “Que valor, dizia ele, terá no fim do mundo o<br />

ouro? certamente não valerá mais do que o vil estanho”. Queria dizer: no dia do<br />

juízo nenhuma riqueza terá valor perante Deus; com nenhum ouro ou prata se<br />

poderá comprar o Juiz Eterno; e os ricos lá estarão como pobres mendigos se<br />

não se tiverem provido dos bens imortais e imperecíveis <strong>da</strong> graça. Uma <strong>da</strong>s<br />

mais freqüentes exclamações do Santo era: “Meus irmãos, procuremos só o<br />

céu”. Seguindo o conselho de Jesus: “não vos preocupeis; procurai o reino de<br />

Deus e a sua justiça, o resto Deus vô-lo <strong>da</strong>rá de acréscimo” não se incomo<strong>da</strong>va<br />

nem preocupava com as coisas terrenas, em se tratando <strong>da</strong> sua própria pessoa.<br />

Deus que reveste os lírios dos campos, pensava ele, e alimenta as aves do<br />

céu, não me abandonará se eu nele depositar inteira confiança. Às irmãs costumava<br />

dizer: “O que a Religiosa tem é apenas um empréstimo, só Jesus é o seu<br />

tesouro”.<br />

O Servo de Deus amava tanto a pobreza, que só lhe <strong>da</strong>va o nome de “primeira<br />

bem-aventurança”; tinha por certo ser ela o caminho mais seguro para o<br />

céu, como nô-lo mostrou o Filho de Deus desde a pobreza do presépio até a<br />

desnu<strong>da</strong>ção completa na cruz e o seu sepultamento em túmulo alheio. Assim<br />

disso sabia o Servo de Deus que o Senhor derrama maior soma de consolações<br />

sobre uma alma desprendi<strong>da</strong> e desapega<strong>da</strong> <strong>da</strong>s cousas <strong>da</strong> terra do que<br />

sobre as que se prendem voluntariamente, por laços desprezíveis, às ninharias<br />

do mundo.<br />

Uma vez estava <strong>Clemente</strong> sentado entre os seus discípulos em palestra<br />

anima<strong>da</strong> pela cari<strong>da</strong>de cristã. Um deles, sacerdote, pôs-se a narrar com entusiasmo,<br />

fogo e visível contentamento, que durante o dia tivera em suas mãos um<br />

ornato belíssimo, precioso, no valor de muitos contos de réis. <strong>Clemente</strong>, a seu<br />

grande pesar, percebeu que aquele sacerdote conservava o seu coração apegado<br />

àquele objeto de luxo; querendo <strong>da</strong>r-lhe uma lição proveitosa, disse: “Eu<br />

também tive hoje em minhas mãos um tesouro infinitamente mais precioso do<br />

que esse ornato: Jesus no Santíssimo Sacramento! e o sr. gloria-se de ter segu-<br />

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rado lama e pó!” Devido à grande consideração em que era tido em Viena, e ao<br />

considerável número de amigos, muitos dos quais ricos e generosos, <strong>Clemente</strong><br />

poderia possuir objetos preciosíssimos em grande número; o Santo porém não<br />

os aceitava, não só por haver feito, como todo Religioso, o voto de pobreza, mas<br />

sobretudo por dedicação a essa virtude que amava como sua esposa.<br />

Tendo uma vez feito um favor de maior vulto a uma senhora, quis esta<br />

mostrar-se grata para com o Servo de Deus e procurou em seu guar<strong>da</strong>-jóias o<br />

que pudesse oferecer a seu benfeitor; entre outras preciosi<strong>da</strong>des encontrou<br />

uma cruz to<strong>da</strong> craveja<strong>da</strong> de diamantes, lembrança dos tempos antigos, e imediatamente<br />

dirigiu-se ao Santo para lhe <strong>da</strong>r de presente. <strong>Clemente</strong> agradecendolhe<br />

a boa intenção e ótimo coração, recusou aceitar o presente por amor à<br />

pobreza. A nobre senhora porém não se deixando vencer em generosi<strong>da</strong>de,<br />

pediu ao Santo não desprezasse a oferta feita de tão bom coração, e não a<br />

desfeiteasse dessa forma, ao que o Servo de Deus respondeu: “Guar<strong>da</strong>i-o para<br />

os vossos pobres que terei nisto maior alegria e consolação”. Mas debalde;<br />

sentindo-se despreza<strong>da</strong> a senhora pôs-se a chorar até que o Santo compadecido<br />

<strong>da</strong>s suas lágrimas, aceitou a cruz de brilhantes, porém com a condição de a<br />

colocar, como oferta, perto do altar do Sagrado Coração na igreja <strong>da</strong>s Ursulinas.<br />

Uma prova do grande amor que <strong>Clemente</strong> consagrava à pobreza, possuimola<br />

no mobiliário do quarto do Santo em Viena. Era o número 989 <strong>da</strong> rua que<br />

passava pela igreja <strong>da</strong>s Ursulinas. To<strong>da</strong> a residência do Santo consistia em um<br />

pequeno quarto que servia, ao mesmo tempo, de refeitório, dormitório, locutório<br />

e capela; junto dele uma pequena alcova em que o Santo guar<strong>da</strong>va seus livros<br />

e algumas alfaias e coisas de dispensa; a cela que lhe servia de habitação não<br />

era profana<strong>da</strong> pelo luxo dos mun<strong>da</strong>nos; lá não se encontravam elegantes pinturas<br />

nem ricas tapeçarias; era pequena, sem aparência vistosa, caia<strong>da</strong> como<br />

qualquer quarto de camponês, desprovi<strong>da</strong> dos ornatos que os grandes do mundo<br />

prezam; em vão lá se procurariam grandes molduras, suntuosos espelhos<br />

para a humana vai<strong>da</strong>de, macios divãs, reposteiros ou cortinados; ao contrário,<br />

tudo lá era simples: dois armários velhos servindo de guar<strong>da</strong>-roupa, um relógio<br />

de parede, um leito duro com palhas por colchão, um velho sofá e perto dele um<br />

genuflexório com um Crucifixo e uma imagem de Nossa Senhora <strong>da</strong>s Dores ao<br />

pé <strong>da</strong> cruz; no centro do quarto uma mesa compri<strong>da</strong> com umas cadeiras, nas<br />

paredes alguns quadros de Santos: eis to<strong>da</strong> a mobília do Pe. <strong>Clemente</strong>; e todos<br />

esses trastes eram pobres, simples e velhos. A única riqueza que lá se encontrava<br />

era o asseio e a ordem em tudo. A batina e, em geral, to<strong>da</strong> a roupa do<br />

Santo era simples e sem a menor sombra de luxo; mormente a batina que<br />

usava, era tão estraga<strong>da</strong> e sem cor, que todos se admiravam de não ser o<br />

Santo escarnecido e ludibriado pelos garotos de Viena, e de ao invés inspirar<br />

tanto respeito e chamar tanto a atenção de todos.<br />

Durante o tempo que passou em Viena não usou senão hábito redentorista,<br />

embora isso não fosse costume naquela época, em que todos se vestiam à<br />

secular. E se hoje os Redentoristas não usam fazen<strong>da</strong> fina em seus hábitos, a<br />

batina de S. <strong>Clemente</strong> era ain<strong>da</strong> mais ordinária. Os sapatos pesados e de sola<br />

grossa nunca se recomen<strong>da</strong>ram pelo lustro, embora estivessem bem asseados;<br />

não poucas vezes conservavam-se largo tempo rasgados por falta de dinheiro<br />

que, nas mãos de <strong>Clemente</strong>, era dos pobres; as meias ele mesmo as

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