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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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lhes foi conferido por Severoli, Núncio Apostólico de Viena.<br />

Foi esse o dia mais belo, o dia em que Dorotéia com dificul<strong>da</strong>de pôde conter<br />

a veemência <strong>da</strong> alegria que lhe inun<strong>da</strong>va a alma. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> tornou-se o<br />

Diretor espiritual de to<strong>da</strong> a família, porque esses dois se tornaram piedosos,<br />

dóceis e obedientes aproximando-se com freqüência dos santos Sacramentos.<br />

<strong>Clemente</strong> não os perdeu nunca de vista, nem mesmo quando mais tarde se<br />

mu<strong>da</strong>ram para Roma; escreveu-lhes diversas cartas animando-os à perseverança<br />

na prática <strong>da</strong> virtude. A relação íntima com a família e o interesse que o<br />

Santo por ela tomava, deduzem-se perfeitamente de uma carta de Dorotéia a<br />

<strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>: “... hoje, véspera <strong>da</strong> festa dos grandes Apóstolos, não posso<br />

deixar de vos escrever uma palavra; não há uma festa de mais importância em<br />

que eu não sinta desejo de me achar aos pés do meu pai espiritual para lhe<br />

ouvir os conselhos, os ensinamentos e as palavras de sabedoria... Abençoai o<br />

meu filho que se abandonou inteiramente à vossa direção, porque ninguém,<br />

melhor do que vós, caro pai, sabe guiar-nos para Deus; de coração unidos<br />

peçamos a Deus, se digne inflamar o coração do rapaz e iluminar o seu espírito;<br />

Vós que conheceis to<strong>da</strong>s as boas e más quali<strong>da</strong>des, bem como o gênio do meu<br />

filho, continuareis a guiá-lo e a <strong>da</strong>r-lhe conselhos; é disso que depende tudo;<br />

peço-vos, queirais amparar-nos com vossas orações, em que tanto confiamos”.<br />

O que porém mais admira é que o próprio Frederico Schlegel, o grande<br />

literato, o meteoro <strong>da</strong> sua época, se deixou guiar por <strong>Clemente</strong> com a ingenui<strong>da</strong>de<br />

de uma criança. O Servo de Deus visitava-o diariamente, já por amizade<br />

já porque em sua casa reuniam to<strong>da</strong>s as mentali<strong>da</strong>des científicas de Viena e<br />

até <strong>da</strong>s mais célebres ci<strong>da</strong>des dos outros países. O grande cientista era ver<strong>da</strong>deiramente<br />

piedoso: rezava todos os dias, tinha água benta em seu quarto, o<br />

Crucifixo e um genuflexório onde se ajoelhava para as suas meditações diárias;<br />

quando pelas ruas de Viena via passar um sacerdote, abandonava a companhia<br />

em que se achava e ia cumprimentar o ministro de Deus e beijar-lhe respeitosamente<br />

a mão, em plena sem a menor sombra de respeito humano; e<br />

ninguém tinha na<strong>da</strong> que dizer de Frederico Schlegel, porque não havia em Viena<br />

quem pudesse medir-se com ele em sabedoria ou em qualquer ramo de<br />

ciência; Frederico escreveu muitas obras, mas nunca publicou nenhuma delas,<br />

senão depois de ouvir o parecer de <strong>Clemente</strong>, a quem constituíra juiz <strong>da</strong><br />

catolici<strong>da</strong>de dos seus escritos.<br />

Uma vez havendo composto uma obra primorosa foi lê-la a seu santo Diretor<br />

que a aprovou in totum; terminado a leitura Frederico lançou um olhar<br />

perscrutador ao Servo de Deus, como se quisesse ler na fisionomia do Santo a<br />

impressão do seu escrito; S. <strong>Clemente</strong> abraçou o amigo dizendo: “Bem, meu<br />

caro Frederico, muito bem, porém melhor é ain<strong>da</strong> amar Nosso Senhor de todo<br />

o coração”. Essa amizade de <strong>Clemente</strong> não era na<strong>da</strong> sentimental, visava tão<br />

somente o bem espiritual de Frederico, que embora sábio, tinha, como convertido,<br />

opiniões singulares a respeito do cristianismo. Uma vez termina<strong>da</strong> que foi<br />

uma <strong>da</strong>s composições que Frederico julgava excelente e magnífica, correu ao<br />

seu Diretor para lhe participar a alegria e fazê-lo também deliciar-se com o fruto<br />

tão belo do seu espírito; certo do triunfo esperava que <strong>Clemente</strong> abrisse os<br />

braços para o amplexar com felicitações; mas não foi assim; durante a leitura o<br />

Santo meneava, por vez, a cabeça em sinal de desaprovação e repetia: “na<strong>da</strong>,<br />

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na<strong>da</strong>, não serve”. O doutor não se deu por achado, tornou-se mais eloqüente<br />

na esperança de converter o Santo para as suas idéias, mas debalde; <strong>Clemente</strong><br />

percebendo que a coisa ia muito além do genuíno sentir <strong>da</strong> Igreja, interrompeuo<br />

bruscamente, mas para não o ofender deu-lhe um abraço com a palavra amiga:<br />

“Não deixas de ser o meu Frederico”. Aborrecido com a interrupção e desapontado<br />

com o abraço, quis continuar, mas viu-se novamente interrompido por<br />

<strong>Clemente</strong> que desviou a conversa para outro assunto. Desse episódio tiramos a<br />

prova de que o amor do Santo, embora sincero, na<strong>da</strong> tinha de sentimental.<br />

<strong>Clemente</strong> também nos ensina com seu exemplo que em certas ocasiões é um<br />

crime permanecer calado; mesmo aos amigos e, às vezes, necessário dizer a<br />

ver<strong>da</strong>de com bons modos, e desviá-los do mal, do erro e do vício.<br />

Em 1808 estavam reunidos num dos hotéis de Hamburgo diversos rapazes<br />

de várias nacionali<strong>da</strong>des na mais cordial alegria, divertindo-se aos sons de variados<br />

cânticos. Entre os rapazes, destacava-se um sueco, protestante, filho de<br />

um nobre cavalheiro, que o destinou à vi<strong>da</strong> militar, na qual devia, de degrau em<br />

degrau, ascender ao apogeu <strong>da</strong> glória em magníficos triunfos para o engrandecimento<br />

<strong>da</strong> Pátria. O rapaz, porém, mais se simpatizava com o pincel do que<br />

com a espa<strong>da</strong>. Abandonando a carreira militar, dedicou-se à pintura em que<br />

não tardou a fazer rápidos progressos. O seu nome era Frederico Augusto<br />

Klinkowström; todos os anos, no verão, aproveitava-se <strong>da</strong>s férias para visitar<br />

um seu amigo em Hamburgo.<br />

Como facilmente se compreende, a alegria no hotel era grande, indescritível,<br />

os rapazes cantavam e riam-se, comiam e bebiam sem preocupações de espécie<br />

alguma. A companhia crescia na proporção <strong>da</strong>s horas que escoavam, e<br />

como nem todos os rapazes tinham a mesma educação esmera<strong>da</strong>, com ca<strong>da</strong><br />

copo excitava-se mais a conversa, que não tardou a descambar para o lado<br />

sensual e livre. Klinkowström, nobre de caráter e sério em sua vi<strong>da</strong>, detestava<br />

semelhantes abusos e sentia nojo de gracejos <strong>da</strong>quele teor; calou-se arrependido<br />

de haver entrado naquela casa; pensativo levanta-se e vai à janela para<br />

descobrir a causa do barulho que chegava a seus ouvidos. — Qual não foi sua<br />

consternação quando viu uma meretriz entrar pela porta que ficava em frente à<br />

janela. Chama<strong>da</strong> pelos estu<strong>da</strong>ntes ia ela aumentar a alegria dos rapazes.<br />

Seminua aproximava-se ela <strong>da</strong>nçando e sorrindo com a desenvoltura própria<br />

de semelhante classe, de forma a endoidecer os pobres moços que não lhe<br />

regateavam palmas e aplausos. O nobre sueco horrorizou-se com aquela cena,<br />

mas o que mais o impressionou foi a visão que teve no momento; um ancião<br />

venerando, sacerdote católico, de batina preta e sobrepeliz branca, estola e<br />

pluvial magníficos, olhou para ele sério e, levantando a mão direita, deu-lhe um<br />

sinal com o dedo como que a preveni-lo contra o vício e a admoestá-lo a fugir do<br />

perigo. O sueco que nunca vira semelhante padre nem outro, que com ele se<br />

parecesse, compreendeu o aviso, tomou o chapéu e retirou-se.<br />

A impressão <strong>da</strong>quela aparição, porém, nunca mais se desfez de sua alma;<br />

ao chegar em casa lançou na tela a figura majestosa e grave do sacerdote que<br />

lhe apareceu em Hamburgo. Depois de an<strong>da</strong>r pelo mundo, e de ver muitas<br />

ci<strong>da</strong>des, entre elas Paris e Roma, fixou sua residência definitiva em Viena, onde<br />

o príncipe Metternich lhe deu uma boa colocação; na capital <strong>da</strong> Áustria uniu-se<br />

em matrimônio com Luiza Mengershausen que conhecera em Paris. Em Viena

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