São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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natureza humana. Deverão acaso perder-se eternamente tão inumeráveis almas? Se quiserdes, podeis salvar-nos; olhai para as lágrimas da santa Igreja, vossa Esposa, reconduzi-lhe os filhos que apostataram da religião, difundi sobre os extraviados a luz celestial da fé, a única que pode nos salvar e santificar. Se os suspiros do meu amor não merecem ser atendidos por ser eu um mísero pecador, atendei a súplica da vossa santíssima Mãe, a Virgem poderosa e Mãe de misericórdia, que por nós intercede; assim todos se converterão e louvarvos-ão eternamente”. Deus recompensou o seu Servo concedendo-lhe conversões estupendas de inúmeras almas à Santa religião. Não passava, geralmente, uma semana sem que Clemente trouxesse ao seio da Igreja protestantes, calvinistas, judeus etc. As vezes bastava uma única palestra com o Santo para se operar uma conversão dessas. Ao Servo de Deus iam também pessoas que se diziam espíritos fortes, instruídas em muitas coisas, menos em religião, para com ele discutirem, apresentando dúvidas que supunham insolúveis; desejavam confundir a Clemente, mas enganavam-se. Muitas vezes com a explicação de uma única palavra o Servo de Deus desfazia os sofismas, dissipava as dúvidas, solvia as objeções, e, o que era ainda mais admirável, fazia as pessoas saírem convertidas e reconciliadas com Deus. Entre muitos outros converteu o Servo de Deus um dos que se achavam a serviço da arquiduquesa Henriqueta, fazendo que ele em suas mãos abjurasse o protestantismo. O companheiro e comparsa do convertido indignou-se sobremaneira com esse ato, embora fosse um dos que sempre têm nos lábios palavras de filantropia e tolerância religiosa. Como bom protestante resolveu descompor o Santo em plena rua. E de fato, encontrandose pouco depois com o Servo de Deus, lançou-lhe em rosto publicamente o seu procedimento, taxando-o de perturbador da ordem, zelote fanático, afirmando que ninguém deve mudar de religião, mas permanecer até a morte naquela em que nasceu. O Santo recebeu toda aquela afronta com tranqüilidade a exemplo de Jesus, esperando que o infeliz compreendesse a insensatez das suas palavras, pois que nada é mais natural do que a conversão, isto é o abandono do erro e do vício para a recepção da verdade e a prática da virtude; foi para isso que Jesus desceu do céu, quis converter os judeus e os pagãos fazendo-os abraçar a religião verdadeira, que ele nos trouxera do alto, do seio de Deus. Terminado o arrazoado do protestante, Clemente contentou-se em dizer-lhe: “Mas então, porque é que Martinho Lutero não quis viver e morrer na fé em que nasceu?” Embora embaraçado, o Luterano não quis dar a mão à palmatória e puxou outra objeção como soem fazem os protestantes para dar certa aparência de erudição e de grandeza. “Nós todos somos filhos de um mesmo pai que está nos céus, sejamos deste ou daquele credo”. O Santo porém não lhe ficou devendo resposta e disse: “Quem tem um pai, deve ter também uma mãe: se vós, luteranos, tendes a Deus por Pai, onde é que está a vossa mãe? nós católicos temos por mãe a Santa Igreja Católica”. O Luterano era teimoso e desejava mais uma resposta. “A veneração dos Santos, disse ele, é uma superstição católica”. — “Não é verdade, o sr. está enganado, entre Deus e os pecadores são necessários intercessores, e esses são para nós os Santos; assim como necessitamos de intermediários junto dos grandes senhores da terra, assim também nós míseros e indignos pecadores precisamos de intercessores junto 76 de Deus infinitamente santo”. O protestante achou melhor calar-se, porque temia converter-se também, se continuasse a discussão. Seria difícil, para não dizer impossível enumerar nos moldes de uma simples biografia as conversões efetuadas por São Clemente nos anos que passou em Viena; entretanto para a glória do Santo e para edificação de todos colocamos aqui algumas das mais notáveis. O filho do bispo protestante de Hannover por nome Frederico Schlegel foi pelo pai, que desejava fazer fortuna, colocado no comércio, e para isso enviado a Leipzig. — O rapaz inteligente não afeiçoando-se à profissão a que seu pai o destinara, fugiu para longe, e em Göttingen estudou humanidades, entrando em seguida para a universidade de Leipzig, onde se dedicou à filosofia, e pôsse a escrever, e isto com uma fecundidade espantosa. Desejoso de mais expansão a seus vastos conhecimentos, foi a Berlim onde se relacionou com uma judia de rara beleza e de dotes poéticos invejáveis, a qual aos 15 anos se unira em matrimônio a um judeu riquíssimo, banqueiro em Berlim por nome Simão Veith. Esse casamento foi infeliz para ambos, porque a poetisa, afeita aos vôos da fantasia, não se habituou à convivência com um indivíduo frio e contador de dinheiro. A bela judia apaixonou-se pelo poeta Schlegel, que era também artista, e sentiu-se correspondida, embora Frederico fosse oito anos mais novo, e ela já casada há vários anos. Sem mais preâmbulos tratou do divórcio e correu atrás de Frederico. Depois de viverem algum tempo juntos, foram a Paris onde a judia passou ao luteranismo para agradar a Frederico, e recebeu no batismo o nome de Dorotéia e casou-se luteranamente com Schlegel. De Paris dirigiram-se a Colônia onde Frederico esperava uma colocação que, porém, nunca chegou a conseguir. Nesse meio tempo, os dois espíritos irrequietos dedicavam-se aos estudos; percorreram a história e chegaram a conclusão de que a verdade não pode achar-se nem no judaísmo, nem no protestantismo, mas só na Igreja Católica; rezaram e imploraram as luzes do céu, e em 1808 na magnífica catedral de Colônia abraçaram o catolicismo, ajoelhados ao pé do altar da Virgem: dois dias depois receberam a santa comunhão e casaram-se religiosamente com a devida dispensa do Ordinário. Só então é que conseguiram a paz pela qual tanto suspiravam, como escreve a própria Dorotéia em uma carta: “... nesse ano de 1808 derramei lágrimas de íntima gratidão por causa de minha tão grande, nunca merecida felicidade”. Depois da conversão os dois esposos foram à Viena onde Frederico encontrou a colocação desejada. Clemente foi logo escolhido para Diretor espiritual de ambos. Desde então Clemente parecia ser um membro da família Schlegel; quando em 1809 Frederico teve de ir à guerra, o nosso Santo foi o anjo consolador de Dorotéia no assédio e bombardeio da cidade pelos franceses. Dorotéia teve dois filhos do primeiro matrimônio: Jonas e Philippe, que se dedicaram respectivamente ao comércio e à pintura; ambos eram judeus e desejavam abraçar a religião católica, praticada pela mãe, que idolatravam e cuja inteligência admiravam, mas o ambiente em que se achavam e a companhia que freqüentavam na Alemanha fizeram-lhes adiar sempre o seu propósito. Desejosa de vê-los convertidos a mãe chamou-os a Viena, onde os apresentou a S. Clemente que em poucos meses lhes desfez todas as dúvidas, e os entusiasmou para a beleza divina da religião. Pediram o batismo que

lhes foi conferido por Severoli, Núncio Apostólico de Viena. Foi esse o dia mais belo, o dia em que Dorotéia com dificuldade pôde conter a veemência da alegria que lhe inundava a alma. São Clemente tornou-se o Diretor espiritual de toda a família, porque esses dois se tornaram piedosos, dóceis e obedientes aproximando-se com freqüência dos santos Sacramentos. Clemente não os perdeu nunca de vista, nem mesmo quando mais tarde se mudaram para Roma; escreveu-lhes diversas cartas animando-os à perseverança na prática da virtude. A relação íntima com a família e o interesse que o Santo por ela tomava, deduzem-se perfeitamente de uma carta de Dorotéia a São Clemente: “... hoje, véspera da festa dos grandes Apóstolos, não posso deixar de vos escrever uma palavra; não há uma festa de mais importância em que eu não sinta desejo de me achar aos pés do meu pai espiritual para lhe ouvir os conselhos, os ensinamentos e as palavras de sabedoria... Abençoai o meu filho que se abandonou inteiramente à vossa direção, porque ninguém, melhor do que vós, caro pai, sabe guiar-nos para Deus; de coração unidos peçamos a Deus, se digne inflamar o coração do rapaz e iluminar o seu espírito; Vós que conheceis todas as boas e más qualidades, bem como o gênio do meu filho, continuareis a guiá-lo e a dar-lhe conselhos; é disso que depende tudo; peço-vos, queirais amparar-nos com vossas orações, em que tanto confiamos”. O que porém mais admira é que o próprio Frederico Schlegel, o grande literato, o meteoro da sua época, se deixou guiar por Clemente com a ingenuidade de uma criança. O Servo de Deus visitava-o diariamente, já por amizade já porque em sua casa reuniam todas as mentalidades científicas de Viena e até das mais célebres cidades dos outros países. O grande cientista era verdadeiramente piedoso: rezava todos os dias, tinha água benta em seu quarto, o Crucifixo e um genuflexório onde se ajoelhava para as suas meditações diárias; quando pelas ruas de Viena via passar um sacerdote, abandonava a companhia em que se achava e ia cumprimentar o ministro de Deus e beijar-lhe respeitosamente a mão, em plena sem a menor sombra de respeito humano; e ninguém tinha nada que dizer de Frederico Schlegel, porque não havia em Viena quem pudesse medir-se com ele em sabedoria ou em qualquer ramo de ciência; Frederico escreveu muitas obras, mas nunca publicou nenhuma delas, senão depois de ouvir o parecer de Clemente, a quem constituíra juiz da catolicidade dos seus escritos. Uma vez havendo composto uma obra primorosa foi lê-la a seu santo Diretor que a aprovou in totum; terminado a leitura Frederico lançou um olhar perscrutador ao Servo de Deus, como se quisesse ler na fisionomia do Santo a impressão do seu escrito; S. Clemente abraçou o amigo dizendo: “Bem, meu caro Frederico, muito bem, porém melhor é ainda amar Nosso Senhor de todo o coração”. Essa amizade de Clemente não era nada sentimental, visava tão somente o bem espiritual de Frederico, que embora sábio, tinha, como convertido, opiniões singulares a respeito do cristianismo. Uma vez terminada que foi uma das composições que Frederico julgava excelente e magnífica, correu ao seu Diretor para lhe participar a alegria e fazê-lo também deliciar-se com o fruto tão belo do seu espírito; certo do triunfo esperava que Clemente abrisse os braços para o amplexar com felicitações; mas não foi assim; durante a leitura o Santo meneava, por vez, a cabeça em sinal de desaprovação e repetia: “nada, 77 nada, não serve”. O doutor não se deu por achado, tornou-se mais eloqüente na esperança de converter o Santo para as suas idéias, mas debalde; Clemente percebendo que a coisa ia muito além do genuíno sentir da Igreja, interrompeuo bruscamente, mas para não o ofender deu-lhe um abraço com a palavra amiga: “Não deixas de ser o meu Frederico”. Aborrecido com a interrupção e desapontado com o abraço, quis continuar, mas viu-se novamente interrompido por Clemente que desviou a conversa para outro assunto. Desse episódio tiramos a prova de que o amor do Santo, embora sincero, nada tinha de sentimental. Clemente também nos ensina com seu exemplo que em certas ocasiões é um crime permanecer calado; mesmo aos amigos e, às vezes, necessário dizer a verdade com bons modos, e desviá-los do mal, do erro e do vício. Em 1808 estavam reunidos num dos hotéis de Hamburgo diversos rapazes de várias nacionalidades na mais cordial alegria, divertindo-se aos sons de variados cânticos. Entre os rapazes, destacava-se um sueco, protestante, filho de um nobre cavalheiro, que o destinou à vida militar, na qual devia, de degrau em degrau, ascender ao apogeu da glória em magníficos triunfos para o engrandecimento da Pátria. O rapaz, porém, mais se simpatizava com o pincel do que com a espada. Abandonando a carreira militar, dedicou-se à pintura em que não tardou a fazer rápidos progressos. O seu nome era Frederico Augusto Klinkowström; todos os anos, no verão, aproveitava-se das férias para visitar um seu amigo em Hamburgo. Como facilmente se compreende, a alegria no hotel era grande, indescritível, os rapazes cantavam e riam-se, comiam e bebiam sem preocupações de espécie alguma. A companhia crescia na proporção das horas que escoavam, e como nem todos os rapazes tinham a mesma educação esmerada, com cada copo excitava-se mais a conversa, que não tardou a descambar para o lado sensual e livre. Klinkowström, nobre de caráter e sério em sua vida, detestava semelhantes abusos e sentia nojo de gracejos daquele teor; calou-se arrependido de haver entrado naquela casa; pensativo levanta-se e vai à janela para descobrir a causa do barulho que chegava a seus ouvidos. — Qual não foi sua consternação quando viu uma meretriz entrar pela porta que ficava em frente à janela. Chamada pelos estudantes ia ela aumentar a alegria dos rapazes. Seminua aproximava-se ela dançando e sorrindo com a desenvoltura própria de semelhante classe, de forma a endoidecer os pobres moços que não lhe regateavam palmas e aplausos. O nobre sueco horrorizou-se com aquela cena, mas o que mais o impressionou foi a visão que teve no momento; um ancião venerando, sacerdote católico, de batina preta e sobrepeliz branca, estola e pluvial magníficos, olhou para ele sério e, levantando a mão direita, deu-lhe um sinal com o dedo como que a preveni-lo contra o vício e a admoestá-lo a fugir do perigo. O sueco que nunca vira semelhante padre nem outro, que com ele se parecesse, compreendeu o aviso, tomou o chapéu e retirou-se. A impressão daquela aparição, porém, nunca mais se desfez de sua alma; ao chegar em casa lançou na tela a figura majestosa e grave do sacerdote que lhe apareceu em Hamburgo. Depois de andar pelo mundo, e de ver muitas cidades, entre elas Paris e Roma, fixou sua residência definitiva em Viena, onde o príncipe Metternich lhe deu uma boa colocação; na capital da Áustria uniu-se em matrimônio com Luiza Mengershausen que conhecera em Paris. Em Viena

natureza humana. Deverão acaso perder-se eternamente tão inumeráveis almas?<br />

Se quiserdes, podeis salvar-nos; olhai para as lágrimas <strong>da</strong> santa Igreja,<br />

vossa Esposa, reconduzi-lhe os filhos que apostataram <strong>da</strong> religião, difundi sobre<br />

os extraviados a luz celestial <strong>da</strong> fé, a única que pode nos salvar e santificar.<br />

Se os suspiros do meu amor não merecem ser atendidos por ser eu um mísero<br />

pecador, atendei a súplica <strong>da</strong> vossa santíssima Mãe, a Virgem poderosa e Mãe<br />

de misericórdia, que por nós intercede; assim todos se converterão e louvarvos-ão<br />

eternamente”.<br />

Deus recompensou o seu Servo concedendo-lhe conversões estupen<strong>da</strong>s<br />

de inúmeras almas à Santa religião. Não passava, geralmente, uma semana<br />

sem que <strong>Clemente</strong> trouxesse ao seio <strong>da</strong> Igreja protestantes, calvinistas, judeus<br />

etc. As vezes bastava uma única palestra com o Santo para se operar uma<br />

conversão dessas. Ao Servo de Deus iam também pessoas que se diziam espíritos<br />

fortes, instruí<strong>da</strong>s em muitas coisas, menos em religião, para com ele discutirem,<br />

apresentando dúvi<strong>da</strong>s que supunham insolúveis; desejavam confundir<br />

a <strong>Clemente</strong>, mas enganavam-se. Muitas vezes com a explicação de uma única<br />

palavra o Servo de Deus desfazia os sofismas, dissipava as dúvi<strong>da</strong>s, solvia as<br />

objeções, e, o que era ain<strong>da</strong> mais admirável, fazia as pessoas saírem converti<strong>da</strong>s<br />

e reconcilia<strong>da</strong>s com Deus. Entre muitos outros converteu o Servo de Deus<br />

um dos que se achavam a serviço <strong>da</strong> arquiduquesa Henriqueta, fazendo que<br />

ele em suas mãos abjurasse o protestantismo. O companheiro e comparsa do<br />

convertido indignou-se sobremaneira com esse ato, embora fosse um dos que<br />

sempre têm nos lábios palavras de filantropia e tolerância religiosa. Como bom<br />

protestante resolveu descompor o Santo em plena rua. E de fato, encontrandose<br />

pouco depois com o Servo de Deus, lançou-lhe em rosto publicamente o seu<br />

procedimento, taxando-o de perturbador <strong>da</strong> ordem, zelote fanático, afirmando<br />

que ninguém deve mu<strong>da</strong>r de religião, mas permanecer até a morte naquela em<br />

que nasceu. O Santo recebeu to<strong>da</strong> aquela afronta com tranqüili<strong>da</strong>de a exemplo<br />

de Jesus, esperando que o infeliz compreendesse a insensatez <strong>da</strong>s suas palavras,<br />

pois que na<strong>da</strong> é mais natural do que a conversão, isto é o abandono do<br />

erro e do vício para a recepção <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e a prática <strong>da</strong> virtude; foi para isso<br />

que Jesus desceu do céu, quis converter os judeus e os pagãos fazendo-os<br />

abraçar a religião ver<strong>da</strong>deira, que ele nos trouxera do alto, do seio de Deus.<br />

Terminado o arrazoado do protestante, <strong>Clemente</strong> contentou-se em dizer-lhe:<br />

“Mas então, porque é que Martinho Lutero não quis viver e morrer na fé em que<br />

nasceu?” Embora embaraçado, o Luterano não quis <strong>da</strong>r a mão à palmatória e<br />

puxou outra objeção como soem fazem os protestantes para <strong>da</strong>r certa aparência<br />

de erudição e de grandeza. “Nós todos somos filhos de um mesmo pai que<br />

está nos céus, sejamos deste ou <strong>da</strong>quele credo”. O Santo porém não lhe ficou<br />

devendo resposta e disse: “Quem tem um pai, deve ter também uma mãe: se<br />

vós, luteranos, tendes a Deus por Pai, onde é que está a vossa mãe? nós católicos<br />

temos por mãe a Santa Igreja Católica”. O Luterano era teimoso e desejava<br />

mais uma resposta. “A veneração dos Santos, disse ele, é uma superstição<br />

católica”. — “Não é ver<strong>da</strong>de, o sr. está enganado, entre Deus e os pecadores<br />

são necessários intercessores, e esses são para nós os Santos; assim como<br />

necessitamos de intermediários junto dos grandes senhores <strong>da</strong> terra, assim<br />

também nós míseros e indignos pecadores precisamos de intercessores junto<br />

76<br />

de Deus infinitamente santo”. O protestante achou melhor calar-se, porque temia<br />

converter-se também, se continuasse a discussão.<br />

Seria difícil, para não dizer impossível enumerar nos moldes de uma simples<br />

biografia as conversões efetua<strong>da</strong>s por <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> nos anos que passou<br />

em Viena; entretanto para a glória do Santo e para edificação de todos colocamos<br />

aqui algumas <strong>da</strong>s mais notáveis.<br />

O filho do bispo protestante de Hannover por nome Frederico Schlegel foi<br />

pelo pai, que desejava fazer fortuna, colocado no comércio, e para isso enviado<br />

a Leipzig. — O rapaz inteligente não afeiçoando-se à profissão a que seu pai o<br />

destinara, fugiu para longe, e em Göttingen estudou humani<strong>da</strong>des, entrando<br />

em segui<strong>da</strong> para a universi<strong>da</strong>de de Leipzig, onde se dedicou à filosofia, e pôsse<br />

a escrever, e isto com uma fecundi<strong>da</strong>de espantosa. Desejoso de mais expansão<br />

a seus vastos conhecimentos, foi a Berlim onde se relacionou com uma<br />

judia de rara beleza e de dotes poéticos invejáveis, a qual aos 15 anos se unira<br />

em matrimônio a um judeu riquíssimo, banqueiro em Berlim por nome Simão<br />

Veith. Esse casamento foi infeliz para ambos, porque a poetisa, afeita aos vôos<br />

<strong>da</strong> fantasia, não se habituou à convivência com um indivíduo frio e contador de<br />

dinheiro.<br />

A bela judia apaixonou-se pelo poeta Schlegel, que era também artista, e<br />

sentiu-se correspondi<strong>da</strong>, embora Frederico fosse oito anos mais novo, e ela já<br />

casa<strong>da</strong> há vários anos. Sem mais preâmbulos tratou do divórcio e correu atrás<br />

de Frederico. Depois de viverem algum tempo juntos, foram a Paris onde a judia<br />

passou ao luteranismo para agra<strong>da</strong>r a Frederico, e recebeu no batismo o nome<br />

de Dorotéia e casou-se luteranamente com Schlegel. De Paris dirigiram-se a<br />

Colônia onde Frederico esperava uma colocação que, porém, nunca chegou a<br />

conseguir. Nesse meio tempo, os dois espíritos irrequietos dedicavam-se aos<br />

estudos; percorreram a história e chegaram a conclusão de que a ver<strong>da</strong>de não<br />

pode achar-se nem no ju<strong>da</strong>ísmo, nem no protestantismo, mas só na Igreja Católica;<br />

rezaram e imploraram as luzes do céu, e em 1808 na magnífica catedral<br />

de Colônia abraçaram o catolicismo, ajoelhados ao pé do altar <strong>da</strong> Virgem: dois<br />

dias depois receberam a santa comunhão e casaram-se religiosamente com a<br />

devi<strong>da</strong> dispensa do Ordinário. Só então é que conseguiram a paz pela qual<br />

tanto suspiravam, como escreve a própria Dorotéia em uma carta: “... nesse ano<br />

de 1808 derramei lágrimas de íntima gratidão por causa de minha tão grande,<br />

nunca mereci<strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de”. Depois <strong>da</strong> conversão os dois esposos foram à Viena<br />

onde Frederico encontrou a colocação deseja<strong>da</strong>. <strong>Clemente</strong> foi logo escolhido<br />

para Diretor espiritual de ambos. Desde então <strong>Clemente</strong> parecia ser um<br />

membro <strong>da</strong> família Schlegel; quando em 1809 Frederico teve de ir à guerra, o<br />

nosso Santo foi o anjo consolador de Dorotéia no assédio e bombardeio <strong>da</strong><br />

ci<strong>da</strong>de pelos franceses. Dorotéia teve dois filhos do primeiro matrimônio: Jonas<br />

e Philippe, que se dedicaram respectivamente ao comércio e à pintura; ambos<br />

eram judeus e desejavam abraçar a religião católica, pratica<strong>da</strong> pela mãe, que<br />

idolatravam e cuja inteligência admiravam, mas o ambiente em que se achavam<br />

e a companhia que freqüentavam na Alemanha fizeram-lhes adiar sempre o<br />

seu propósito. Desejosa de vê-los convertidos a mãe chamou-os a Viena, onde<br />

os apresentou a S. <strong>Clemente</strong> que em poucos meses lhes desfez to<strong>da</strong>s as dúvi<strong>da</strong>s,<br />

e os entusiasmou para a beleza divina <strong>da</strong> religião. Pediram o batismo que

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