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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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jovens que fugissem <strong>da</strong> ociosi<strong>da</strong>de e procurassem estar sempre ocupados a<br />

exemplo de S. Jerônimo que dizia: “Semper ter diabolus occupatum inveniat” i.<br />

é, o diabo deve encontrar-te sempre ocupado. Mormente quando tinha de tratar<br />

com sacerdotes novos ou com teólogos, acentuava ain<strong>da</strong> mais: “um padre novo<br />

deve estar ocupado o dia inteiro, do contrário acabará mal”. O Servo de Deus<br />

gostava quando os moços expunham, nas reuniões, suas opiniões, dúvi<strong>da</strong>s,<br />

desejos etc. Quando por acaso se originava entre eles alguma conten<strong>da</strong> ou<br />

discussão mais forte, <strong>Clemente</strong> intervinha com to<strong>da</strong> calma e restabelecia a harmonia<br />

abala<strong>da</strong>.<br />

O Santo, detestava a hipocrisia e não admitia, nem de leve, em seus rapazes;<br />

era difícil enganar o Santo, porque ele, no dizer de Werner, enxergava<br />

através <strong>da</strong>s paredes.<br />

Entre os discípulos de <strong>Clemente</strong> não havia só santos, nem só estu<strong>da</strong>ntes<br />

de boa vontade que aspiravam à perfeição: havia também alguns velhacos, mas<br />

isso não admira porquanto entre os doze Apóstolos também houve um traidor.<br />

Ao número dos rapazes, que freqüentavam a casa do Santo, pertencia um que,<br />

judeu de nascimento, se fez batizar na i<strong>da</strong>de de dezessete anos. De inteligência<br />

agu<strong>da</strong> e perspicaz, passou muitos meses em Constança, comensal de Talberg,<br />

pelo qual foi recomen<strong>da</strong>do à Propagan<strong>da</strong>, que aceitou em Roma, com intuito de<br />

o formar para missionário a trabalhar futuramente na conversão dos judeus.<br />

José Lobo era o seu nome, e de lobo era seu procedimento, pois que o<br />

batismo não conseguiu convertê-lo em cordeiro de inocência e sinceri<strong>da</strong>de. De<br />

Roma mantinha correspondência secreta com os protestantes, seus amigos,<br />

defendendo a heresia, e ridicularizando os dogmas e os ritos <strong>da</strong> Santa Igreja.<br />

Depois de ano e meio de experiências reconheceram os professores que o<br />

rapaz não se prestava para a carreira sacerdotal e fecharam-lhe as portas do<br />

seminário. Fixando residência em Viena não tardou a sentir a fome que lhe<br />

bateu à porta, horrível e desespera<strong>da</strong>; lembrou-se <strong>da</strong> generosi<strong>da</strong>de de <strong>Clemente</strong>,<br />

escreveu-lhe pedindo auxílio e declarando o desejo ardente de ser admitido<br />

entre os zelosos filhos de Sto. Afonso.<br />

Movido de compaixão o Servo de Deus foi visitar o autor <strong>da</strong> carta para se<br />

convencer de tudo e tomar-lhe o pulso. No meio <strong>da</strong> palestra percebendo certas<br />

vacilações na fé e nas opiniões religiosas, o Servo de Deus procurou convencêlo;<br />

o hipócrita ouviu tudo com o maior interesse e protestou querer sempre e em<br />

to<strong>da</strong> parte viver como um filho obediente <strong>da</strong> Santa Igreja, pela qual estava pronto<br />

a derramar o sangue e <strong>da</strong>r a vi<strong>da</strong>. Embora não se sentisse bem na companhia<br />

do rapaz, <strong>Clemente</strong> o aceitou franqueando-lhe as portas <strong>da</strong> sua casa, em<br />

atenção aos reiterados pedidos dos grandes amigos Werner, Madlener etc, e<br />

por deferência para com o Núncio Leardi e Cardeal Litta que o recomen<strong>da</strong>ram<br />

vivamente.<br />

O sr. José Lobo tornou-se em breve o mais piedoso dos estu<strong>da</strong>ntes; na<br />

igreja não levantava os olhos curiosamente, conservava as mãos sempre postas,<br />

permanecia imóvel qual estátua de mármore, ajoelhado no pavimento durante<br />

todo o tempo <strong>da</strong>s funções religiosas, por mais que elas se prolongassem,<br />

só entretinha conversas espirituais, mostrando enfado e desaprovação quando<br />

alguém se lembrava de desviar o assunto para coisas mun<strong>da</strong>nas; ao receber<br />

humilhações de seu santo Mestre, baixava humilde a cabeça e calado e calmo<br />

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aceitava as repreensões. Não obstante tudo isto <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> não se iludia a<br />

respeito do sr. Lobo. As Ursulinas que, do coro, assistiam às cerimônias <strong>da</strong><br />

igreja, ao ouvirem a voz melodiosa e limpa que do meio dos estu<strong>da</strong>ntes ecoava<br />

sonora pelo templo, admira<strong>da</strong>s não puderam resistir à curiosi<strong>da</strong>de e erguendose<br />

nas pontas dos pés puseram-se a olhar para baixo, a fim de descobrirem o<br />

dono <strong>da</strong> voz que tão suave lhes deliciava os ouvidos.<br />

Viram o sr. Lobo e encheram-se de admiração por ele, como outrora as<br />

filhas de Judá que subiram aos muros encanta<strong>da</strong>s pela formosura excepcional<br />

de José, e foram ter com o Servo de Deus para lhe apresentarem os parabéns<br />

pela bela e feliz aquisição do moço que edificava o povo com seu comportamento<br />

exemplar e com sua devoção sobrenatural. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> franzindo o<br />

rosto disse com laconismo: “Não o conservarei comigo”. Como as irmãs se<br />

mostrassem estupefatas com essa palavra que não esperavam, o Servo de<br />

Deus continuou: “Olhai bem para o rapaz, o rosto, os modos, tudo nele denota<br />

um coração irrequieto”. O Santo desconfiava do moço que parecia sofrer êxtases<br />

contínuos e fingir exagera<strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de, e por fim não podendo já suportar-lhe<br />

a hipocrisia, disse-lhe sem rebuços: “Lobo, Lobo, és um velhaco e acabarás na<br />

forca”. O Servo de Deus enviou-o a Suíça para ser provado pelo Pe. Passerat,<br />

que não tardou expulsá-lo por seu mau comportamento. O rapaz tornou-se<br />

luterano, membro <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de bíblica <strong>da</strong> Inglaterra, percorreu a Ásia e a América,<br />

procurando nas cinco partes do mundo as dez tribos de Israel; como porém<br />

não as encontrasse voltou para a Inglaterra, onde morreu na forca <strong>da</strong> heresia.<br />

Uma vez deram a <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>, a guar<strong>da</strong>r, um belo relógio despertador<br />

de grande valor. O Santo guardou-o com cui<strong>da</strong>do em um lugar separado e seguro,<br />

pois que se tratava de um objeto alheio e de grande estima; porém mesmo<br />

assim, sem se saber como, o relógio desapareceu. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> examinou<br />

todos os cantos de sua pequena casa, mandou aos estu<strong>da</strong>ntes que o aju<strong>da</strong>ssem,<br />

e todos ao verem o Santo um tanto inquieto puseram-se prontamente à<br />

procura do despertador. Um aluno do ginásio que lá se achava, manifestou um<br />

interesse especial, e mais solícito que os outros remexeu tudo em busca do<br />

desertor, entrou por baixo <strong>da</strong> cama, inclinou-se em todos os cantos, vociferou<br />

contra o malicioso que assim causara o transtorno <strong>da</strong> casa, o desgosto do Santo,<br />

a perturbação <strong>da</strong> alegria geral. Qual não foi o espanto de todos quando o<br />

despertador disparou na algibeira do tal aluno do ginásio, traindo-o vergonhosamente!<br />

Todos ficaram perplexos, porque naquele canto ninguém o supunha<br />

escondido.<br />

<strong>Clemente</strong> fitou-lhe um olhar de compaixão, mas também de repreensão<br />

por seu vergonhoso procedimento. O pobre rapaz esconjurando o relógio que<br />

batera, quando menos o devia fazer, tremendo como varo verde entregou a<br />

<strong>Clemente</strong> o despertador, tomou o chapéu e retirou-se envergonhado e confundido.<br />

Como é fácil adivinhar, a reunião efetua<strong>da</strong> to<strong>da</strong>s as noites na residência do<br />

Santo, não deixou de alarmar a polícia, cujas suspeitas cresciam dia a dia. Dois<br />

desconhecidos que se diziam estrangeiros, apresentaram-se numa dessas reuniões<br />

e encantaram os rapazes, um por sua simplici<strong>da</strong>de e fingi<strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de,<br />

outro pela narração maravilhosa de suas viagens. Só <strong>Clemente</strong> permaneceu

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