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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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nos dizendo um para o outro: “O padre <strong>Clemente</strong> sente outra vez alguma coisa<br />

extraordinária”. Os rapazes não se enganavam. O Servo de Deus sentia que ia<br />

entrar em êxtase e, com grande humil<strong>da</strong>de, despedia todos os que pudessem<br />

ser testemunhas desse prodígio.<br />

No verão ou no outono, quando o tempo era bom e convi<strong>da</strong>tivo, o Servo de<br />

Deus encurtava a leitura e saía com os seus rapazes pelas ruas <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de,<br />

escolhendo para seus passeios os lugares mais movimentados de Viena. Embora<br />

<strong>Clemente</strong> an<strong>da</strong>sse sempre com o hábito religioso, manto já usado e sapatos<br />

de sola grossa, nenhum dos estu<strong>da</strong>ntes se acanhava de sair com ele a<br />

passeio. Às vezes detinham-se no meio <strong>da</strong>s ruas, muito de indústria; os estu<strong>da</strong>ntes<br />

agrupavam-se ao redor dele a ouvir algum caso interessante. A curiosi<strong>da</strong>de<br />

atraía então para <strong>Clemente</strong> a multidão de transeuntes ou dos desocupados,<br />

aos quais o Servo de Deus não deixava de fazer algum sermão necessário<br />

ou útil.<br />

Quando <strong>da</strong>s torres de Viena soava pela ci<strong>da</strong>de o poético toque do Angelus,<br />

os estu<strong>da</strong>ntes descobriam e, em plena rua, rezavam, silenciosos, as três Ave-<br />

<strong>Maria</strong>s em louvor <strong>da</strong> Mãe de Deus. Não poucos dos que passavam recor<strong>da</strong>vam-se<br />

então que eram católicos, imitavam o bom exemplo <strong>da</strong>do pelos rapazes<br />

agrupados ao redor do Servo de Deus e habituavam-se a esse ato tão louvável,<br />

que havia já desaparecido em Viena.<br />

Não era sem motivo que <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> gostava de reunir, à noite, os seus<br />

rapazes: sabia que as horas noturnas são as mais perigosas para os jovens,<br />

cujos corações inocentes facilmente se deixam perverter e ilaquear pelo inimigo<br />

<strong>da</strong>s almas; é por isso que o Santo em geral os detinha até a hora em que<br />

deviam ir acomo<strong>da</strong>r-se.<br />

Numa dessas reuniões desencadeou-se uma vez, horrível tempestade: os<br />

relâmpagos cruzavam-se nos ares, os trovões sucediam-se sem cessar, o temporal<br />

era medonho ficando todos transidos de terror. Mesmo depois de cessa<strong>da</strong><br />

a tormenta via-se ain<strong>da</strong> o pavor estampado no rosto dos rapazes. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong><br />

não deixou passar a ocasião: fez a seus estu<strong>da</strong>ntes uma preleção sobre as<br />

palavras de Jesus no Evangelho de S. Mateus (24,27): “Do modo como um<br />

relâmpago sai do oriente e se mostra no ocidente, assim há de ser também a<br />

vin<strong>da</strong> do Filho do Homem”. “Isso acontecerá, disse <strong>Clemente</strong>, no dia <strong>da</strong> nossa<br />

morte, em que a nossa vi<strong>da</strong> inteira há de patentear-se aos nossos olhos com a<br />

veloci<strong>da</strong>de e clari<strong>da</strong>de de relâmpago; a luz com que a veremos, será inteiramente<br />

outra, bem diversa <strong>da</strong>quela com que agora encaramos a vi<strong>da</strong>, será a luz<br />

<strong>da</strong> eterni<strong>da</strong>de”. A pregação foi tão forte e a ocasião tão asa<strong>da</strong>, que nenhum dos<br />

estu<strong>da</strong>ntes se distraiu nem perdeu palavra alguma saí<strong>da</strong> dos lábios do Servo<br />

de Deus. Termina<strong>da</strong> a alocução não houve quem não quisesse fazer sua confissão<br />

geral.<br />

Entretanto nem to<strong>da</strong>s as pregações de <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> eram graves como<br />

essa do trovão; isso seria naturalmente contraproducente porque os rapazes<br />

gostam, em geral, de novi<strong>da</strong>de e de expressões e expansões de alegria; aliás o<br />

coração bondoso de <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> não lhe permitia tratar com aspereza os<br />

seus caros estu<strong>da</strong>ntes que constituíam a sua coroa e a sua glória. “Há tempo<br />

para tudo, diz o Espírito Santo, para descansar e trabalhar, para chorar e rir”. O<br />

Servo de Deus gostava de ver seus rapazes alegres e contentes, e mostrava-se<br />

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magoado quando percebia algum deles entristecido.<br />

Ele mesmo permitia-se algum gracejo inocente contribuindo assim, de sua<br />

parte, para a hilari<strong>da</strong>de geral. Em Viena havia um senhor muito rico e religioso,<br />

por nome Szecheny; esse conde húngaro era dono de uma viven<strong>da</strong> magnífica,<br />

ou antes, de um castelo suntuoso, circun<strong>da</strong>do de um elegante jardim e vistoso<br />

parque. Uma <strong>da</strong>s maiores alegrias do conde era receber a visita de S. <strong>Clemente</strong><br />

e tê-lo consigo nas horas <strong>da</strong>s refeições para assim se entreter com ele familiarmente<br />

e ouvir os sábios e práticos ensinamentos, que abun<strong>da</strong>vam dos lábios do<br />

Santo, que era seu Diretor espiritual e o educador dos seus filhos. Madlener, o<br />

discípulo predileto de <strong>Clemente</strong>, costumava acompanhá-lo nessas ocasiões;<br />

Madlener era panteísta e gostava de filosofar. Num desses passeios à casa do<br />

conde Szecheny, o filósofo esquecendo-se <strong>da</strong> terra pôs-se a considerar as nuvens<br />

par<strong>da</strong>centas encastela<strong>da</strong>s no firmamento a forma figuras curiosas de homens<br />

e animais, de castelos e ci<strong>da</strong>des, sempre novas e interessantes, figuras<br />

essas, que só Madlener via. Na próxima reunião dos rapazes Madlener não<br />

pôde conter-se e pôs-se a descrever as belezas <strong>da</strong>s nuvens do castelo do conde<br />

Szecheny; os estu<strong>da</strong>ntes riam-se a bandeiras desprega<strong>da</strong>s <strong>da</strong> ingenui<strong>da</strong>de<br />

do filósofo panteísta, com a aprovação de <strong>Clemente</strong> que não deixava de tomar<br />

parte ativa na hilari<strong>da</strong>de geral. Quando no dia seguinte Madlener quis entrar e<br />

abriu a porta, <strong>Clemente</strong> a sorrir-se com os estu<strong>da</strong>ntes saudou-o com a pergunta:<br />

“Então Madlener, no jardim do conde há nuvens bonitas, não é”? Essas palavras,<br />

que não ofendiam a Madlener, tornaram-se por algum tempo a sau<strong>da</strong>ção<br />

com que era recebido o filósofo panteísta, que mais tarde se tornou um<br />

santo Redentorista.<br />

Por causa <strong>da</strong> bon<strong>da</strong>de de seu coração, muitas vezes uma única palavra do<br />

Santo era bastante para alegrar sincera e intimamente os jovens. <strong>Clemente</strong><br />

exercia sobre eles uma ver<strong>da</strong>deira fascinação, em que tudo nos permite ver um<br />

condão sobrenatural. Um dia, conta Werner, encontrei um grupo de rapazes<br />

que saíam <strong>da</strong> casa dele, os olhos a faiscar contentamento, o júbilo estampado<br />

no rosto; supondo que ele lhes houvesse dirigido algum discurso singular e<br />

extraordinário que os impressionasse, perguntei-lhes o que é que os fazia entusiasmar<br />

tanto. — “Ah! responderam eles, coisa tão lin<strong>da</strong> que jamais temos ouvido<br />

na vi<strong>da</strong>”. — “Mas que coisa disse hoje o Pe. <strong>Clemente</strong>?” Ah! ele disse: “Rapazes,<br />

sede bons e tende juízo”.<br />

Além <strong>da</strong> convicção religiosa, procurava <strong>Clemente</strong>, de um modo todo especial,<br />

implantar nos corações dos jovens o amor à bela virtude, muni-los para os<br />

combates renhidos, que a moci<strong>da</strong>de costuma travar com os inimigos <strong>da</strong> pureza.<br />

A conversação com o Santo inspirava aos jovens compreensão e amor para a<br />

beleza dessa virtude angélica. João Pilat, um dos seus discípulos, disse: “Sempre<br />

que ele me abraçava, sentia eu em mim o amor divino”. Os conselhos nesse<br />

sentido eram mais do que abun<strong>da</strong>ntes; a ca<strong>da</strong> passo <strong>Clemente</strong> falava <strong>da</strong> pureza<br />

como adorno <strong>da</strong> alma e fonte de paz e alegria espiritual; aconselhava a<br />

recitação do terço nos passeios pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, proibia terminantemente<br />

a leitura dos romances e poesias eróticas, chamava-lhes a atenção prevenindoos<br />

contra as más companhias que costumam ser um dos mais perigosos laços<br />

de Satanás, aconselhava a recepção devota e freqüente dos santos sacramentos,<br />

maxime <strong>da</strong> santa comunhão. Com um empenho todo especial pedia aos

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