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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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CAPÍTULO IV<br />

O sábio pregador<br />

Exposição original e simples — O médico subjugado — Um velho funcionário<br />

josefino — Rir-se por último — Sua mímica no púlpito — temas prediletos —<br />

Apreciações populares — Proibição de pregar...<br />

<strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> era um sacerdote e um apóstolo segundo o coração de Deus;<br />

exercia o munus sacerdotal com santo entusiasmo e escrupulosa exatidão; nessa<br />

esfera de pregador e diretor de almas é que ele se mostrou, à evidência, o<br />

ver<strong>da</strong>deiro apóstolo de Viena. O modo original com que se havia no exercício<br />

desse cargo, tornou-o popular na grande Capital e rompeu com todo o pe<strong>da</strong>ntismo<br />

introduzido pelo josefismo na Áustria. Um professor de teologia pastoral<br />

em uma preleção científica sobre as medi<strong>da</strong>s de prudência a tomar-se na administração<br />

dos sacramentos aos enfermos, notou que conhecia em Viena um<br />

sacerdote muito distinto que não observava nenhuma <strong>da</strong>s regras expostas e<br />

que, não obstante, conseguia os mais estupendos resultados: era <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>.<br />

Essas palavras referiam-se a todo o seu apostolado que se distinguia e sobressaia<br />

pela sua originali<strong>da</strong>de; por isso nem to<strong>da</strong>s as particulari<strong>da</strong>des <strong>da</strong> sua<br />

ativi<strong>da</strong>de apostólica são para todos indistintamente a serem imita<strong>da</strong>s literalmente.<br />

O jovem sacerdote Dom Pajalich edificado e encantado com o resultado<br />

obtido por S. <strong>Clemente</strong>, quis em tudo imitar seu mestre, mas saiu-se mal: assim<br />

começou a an<strong>da</strong>r pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de cabeça descoberta, como o fazia<br />

sempre S. <strong>Clemente</strong>, mas as vaias estrondosas <strong>da</strong> criança<strong>da</strong> fizeram-lhe cobrila<br />

novamente; entrou uma vez sem cerimônias na casa de um luterano para<br />

convertê-lo, mas foi tão infeliz que quase não teve tempo de abrir a boca, porque<br />

o despediram logo pela porta fora etc. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>, nesse particular do<br />

apostolado, era simplesmente inimitável. Zacharias Werner dizia acerta<strong>da</strong>mente<br />

referindo-se a ele: “Não há outro como ele; <strong>da</strong> boca desse homem fala o<br />

Espírito Santo”.<br />

Para termos uma idéia mais ou menos níti<strong>da</strong> e certa <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de apostólica<br />

de S. <strong>Clemente</strong> basta-nos contemplá-lo no púlpito, no confessionário, ao<br />

altar, à cabeceira dos doentes, no seio <strong>da</strong>s famílias, e até nas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

nas suas relações com as diversas classes <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, no seu modo de agir<br />

como diretor <strong>da</strong>s religiosas e como superior do convento.<br />

Como temos visto em diversos lugares desta biografia, <strong>Clemente</strong> celebrizarase<br />

em to<strong>da</strong> a parte na quali<strong>da</strong>de de pregador fluente e arrebatador.<br />

Não possuímos na íntegra nenhum sermão de <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>, porque ele<br />

não costumava escrever os sermões nem mesmo os esboços; os seus contemporâneos<br />

dão-nos porém informações exatas do seu modo de pregar. Seus<br />

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sermões não eram pregações temáticas nem homilias propriamente ditas, mas<br />

qualquer coisa intermediária entre essas duas espécies de manifestação oratória.<br />

Do púlpito ou do altar lia o Evangelho ao povo, e durante a leitura intercalava<br />

observações oportunas; continuava em segui<strong>da</strong>, sentença por sentença, demorando-se<br />

em uma menos e em outra mais, explicando em ca<strong>da</strong> uma delas um<br />

dogma <strong>da</strong> fé ou um man<strong>da</strong>mento qualquer; com os princípios do Evangelho<br />

confrontava os costumes em voga e as idéias do tempo, exortando sempre com<br />

palavras quentes e insinuantes a que todos se convertessem e praticassem a<br />

virtude e a pie<strong>da</strong>de. Por vezes acontecia que em um só sermão tratava de<br />

assuntos diversos; assim, p. ex., na festa do nome de <strong>Maria</strong> a 10 de setembro<br />

falou ele sobre a santificação do domingo, a infalibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Igreja, a devoção a<br />

Nossa Senhora e a vi<strong>da</strong> religiosa. S. <strong>Clemente</strong> não era orador; a sua esta<strong>da</strong> no<br />

estrangeiro durante muitos anos pode ter sido causa de a sua linguagem<br />

vernácula não ser castiça nem escorreita. Ele pouco se preocupava com a elegância<br />

<strong>da</strong> forma; vestia seus possantes pensamentos em roupagem simples,<br />

repetindo e repisando muitas expressões que se tornaram estereotípicas. E<br />

não obstante, S. <strong>Clemente</strong> empolgava e eletrizava como nenhum outro pregador<br />

em Viena; sabia o segredo de arrebatar enchendo as almas de uma unção<br />

sobrenatural, de sorte que até os mais eruditos profun<strong>da</strong>mente consternados<br />

diziam: “Uma só palavra <strong>da</strong> sua boca basta-nos para a semana inteira”. Em<br />

parte explica-se isso por ser seu modo de pregar um contraste com o adotado<br />

em Viena e pelo tom de convicção e de fé com que <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> discorria<br />

sobre as ver<strong>da</strong>des <strong>da</strong> religião; mas o segredo dessa força mágica está na santi<strong>da</strong>de<br />

de <strong>Clemente</strong> e no seu zelo apostólico.<br />

A simplici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> sua pregação não prejudicava em na<strong>da</strong> a profundeza e<br />

perfeição de suas explicações e argumentações, e não o impedia de expender<br />

seus vastos conhecimentos <strong>da</strong> Escritura e dos Santos Padres. Com facili<strong>da</strong>de<br />

estupen<strong>da</strong> sabia explicar e expor a seus ouvintes os mais profundos mistérios<br />

<strong>da</strong> fé satisfazendo igualmente aos ignorantes e aos doutos.<br />

Muitos iam assistir os sermões de <strong>Clemente</strong> com o fim de ridicularizar a<br />

oração e o orador; entravam no templo e, logo às primeiras palavras, ficavam<br />

presos pela eloqüência, pela convicção e unção sobrenatural do Santo, voltando<br />

para casa contritos e, muitas vezes, confessados.<br />

Uma vez um jovem médico, passando pela Rua de <strong>São</strong> João em Viena viu<br />

imensa multidão de povo atropelar-se para entrar na Igreja de Sta. Úrsula como<br />

se lá houvesse alguma representação teatral, algum cinema ou coisa semelhante.<br />

Admirado perguntou pela causa de tão estranho movimento; a resposta<br />

foi: “O Pe. <strong>Clemente</strong> vai pregar”. A curiosi<strong>da</strong>de subjugou-o, entrou; o pregador<br />

arrebatado falava sobre a necessi<strong>da</strong>de que têm os homens de trabalhar para a<br />

salvação de sua alma; expunha com clareza que o céu não se compra com<br />

fortunas, honrosas patentes, belos títulos ou robusta saúde, mas sim com a boa<br />

vontade, com o desejo sincero e efetivo de cumprir a vontade de Deus. O médico<br />

gostou <strong>da</strong> pregação e desde aquele dia não perdeu mais nenhum sermão <strong>da</strong><br />

Igreja de Sta. Úrsula.<br />

Um outro senhor vivia em Viena como funcionário público, admirador profundo<br />

do imperador e adepto fanático do josefismo, cujos princípios mais lhe<br />

sabiam do que as máximas do Evangelho. Como muitos do seu tempo, formara-

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