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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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<strong>da</strong> limita<strong>da</strong> razão humana, compreende-se que os seus defensores se empenhavam<br />

em estancar, o mais possível, to<strong>da</strong>s as fontes que pudessem alimentar<br />

ou fomentar o sentimento religioso; eis porque na Áustria as leis do josefismo 4<br />

proibiam as pregações substanciosas <strong>da</strong> palavra divina, a impressão e difusão<br />

de livros piedosos, o adorno dos templos, as rezas e devoções públicas, as<br />

missas solenes, a freqüência dos sacramentos etc.; as irman<strong>da</strong>des foram quase<br />

to<strong>da</strong>s aboli<strong>da</strong>s, as procissões restringi<strong>da</strong>s, as romarias formalmente interditas.<br />

O josefismo chegou até a determinar o número de velas e acender-se nos<br />

altares durante as cerimônias religiosas; não se podia introduzir nenhuma reza<br />

nem cantar hino algum a não ser com a alta aprovação e licença do governo.<br />

Essas leis causaram no princípio a indignação geral; mas, aos poucos, foi-se o<br />

povo habituando a elas na medi<strong>da</strong> que desaparecia a fé e o sentimento religioso.<br />

Era desolador o estado <strong>da</strong> religião na Áustria pelos anos de 1808; a vi<strong>da</strong><br />

cristã com seus encantos espirituais era desconheci<strong>da</strong> entre o povo; os que<br />

freqüentavam a igreja, aos domingos, faziam-no quase só por costume e tradição;<br />

os homens envergonhavam-se <strong>da</strong> prática <strong>da</strong>s devoções católicas, que denominavam<br />

crendices e superstição e temiam ser conhecidos na socie<strong>da</strong>de<br />

como católicos <strong>da</strong> têmpera dos antigos, que não baseavam sua crença na palavra<br />

do homem nem nos ditames <strong>da</strong> falível e fraca razão humana, mas sim na<br />

autori<strong>da</strong>de de Deus que tem poder e direito de manifestar sua vontade ao homem<br />

e de lhe revelar seus mistérios e suas ver<strong>da</strong>des.<br />

Nos templos as pregações não eram vaza<strong>da</strong>s nos moldes <strong>da</strong> simplici<strong>da</strong>de<br />

e liber<strong>da</strong>de apostólicas, nem versavam sobre as ver<strong>da</strong>des substanciosas do<br />

dogma ou <strong>da</strong> moral cristã e muito menos sobre as ver<strong>da</strong>des eternas, mas limitavam-se<br />

a frases vazias de sentido, períodos altissonantes, floreados retóricos,<br />

terminologia insípi<strong>da</strong> de humani<strong>da</strong>de e filantropia e quejan<strong>da</strong>s expressões, inventa<strong>da</strong>s<br />

para o engano <strong>da</strong> humani<strong>da</strong>de. Isso eram, aliás, muitíssimo natural, e<br />

nem se podia esperar outra coisa dos sacerdotes formados nos seminários<br />

gerais do governo, onde os jovens bebiam a largos tragos o espírito envenenado<br />

<strong>da</strong>s leis e <strong>da</strong> doutrina do josefismo.<br />

No ano em que S. <strong>Clemente</strong> foi a Viena, i. é em 1808 já não existiam esses<br />

tais seminários, mas o seu espírito ain<strong>da</strong> perdurava. Nas escolas públicas ensinava-se<br />

às crianças o catecismo explicado segundo as normas do racionalismo 5 ,<br />

de acordo com os princípios de Pestalozzi e de Rousseau. Nos ginásios confirmava-se<br />

o racionalismo, que atingia seu auge nas universi<strong>da</strong>des, onde se ouvia<br />

a filosofia de Kant sem palavra alguma que pudesse abrir aos alunos os horizontes<br />

sublimes <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de católica, que enleva o espírito e conforta os corações.<br />

A conseqüência natural de tudo isso era o ódio ou, pelo menos, o desprezo<br />

ao clero, a liber<strong>da</strong>de mal entendi<strong>da</strong> de ca<strong>da</strong> um poder formar a sua religião e<br />

forjar a sua crença de acordo com as suas comodi<strong>da</strong>des, os seus interesses e<br />

os seus caprichos.<br />

<strong>São</strong> <strong>Clemente</strong>, ao chegar a Viena, viu logo o abismo em que se precipitava<br />

sua pátria, e a ruína de milhares e milhares de almas; quis logo levantar a voz,<br />

clamar, ensinar, persuadir, mover, converter, porém debalde; foi-lhe imposto o<br />

mais rigoroso silêncio tanto no púlpito como no confessionário. Só uma coisa<br />

podia ele fazer: rezar e rezar bastante — e <strong>Clemente</strong> orava, pedia a Deus se<br />

amerceasse do pobre povo e lhe man<strong>da</strong>sse homens de valor e de peso, capa-<br />

45<br />

zes de combater com vantagem o josefismo e de implantar na Europa a Santa<br />

religião que produz os heróis <strong>da</strong> virtude e <strong>da</strong> santi<strong>da</strong>de. S. <strong>Clemente</strong>, em sua<br />

grande modéstia estava longe de suspeitar ser ele mesmo o homem escolhido<br />

pela Providência para debelar o racionalismo e converter a Áustria e a Europa<br />

com a sua palavra e o seu exemplo<br />

O próprio Deus se incumbiu de preparar o terreno para a admirável ativi<strong>da</strong>de<br />

apostólica que S. <strong>Clemente</strong> haveria de desenvolver em Viena. Em 1809 o<br />

imperador Francisco <strong>da</strong> Áustria, confiado no auxílio do céu e no patriotismo de<br />

seus súditos resolveu guerrear o imperador dos franceses e humilhar a arrogância<br />

de Napoleão; convocou seus sol<strong>da</strong>dos, dos quais 176.000 se postaram<br />

nas fronteiras <strong>da</strong> Polônia, enquanto que 80.000 defendiam a Áustria contra a<br />

Itália. Os príncipes alemães acharam mais prudente e seguro combater ao lado<br />

de Napoleão e abandonaram vergonhosamente o imperador Francisco <strong>da</strong> Áustria<br />

cobrindo-o de injúrias, taxando de loucura e megalomania o seu procedimento<br />

em conjunturas tão arrisca<strong>da</strong>s. Napoleão indignado resolvera esmagar a<br />

Áustria e perder a família dos Habsburgos. A 20 de abril Napoleão, a frente de<br />

seu exército entra na Alemanha e desbarata os austríacos em Abensberg e em<br />

Eckmühl, avançando até Viena; a 10 de maio assedia a Capital, cujo imperador<br />

fugira para a Hungria com to<strong>da</strong> a família. Nenhuma potência ousou levantar-se<br />

para terçar armas em defesa <strong>da</strong> Áustria. A 12 de maio começou Napoleão a<br />

bombardear Viena — e de momento a momento crescia o furor do bombardeio;<br />

bombas sibilavam pelos ares, penetravam nas casas dos particulares produzindo<br />

o pânico em to<strong>da</strong> a ci<strong>da</strong>de. Todos tremiam, só <strong>Clemente</strong> conservava a sereni<strong>da</strong>de<br />

d’alma, depositando to<strong>da</strong> sua confiança em Deus, e qual outro Moisés<br />

dirigia ao céu as mais ardentes preces em favor de sua pátria enquanto fervia o<br />

combate; <strong>da</strong> oração levantava-se ele apenas para animar e consolar as famílias;<br />

não era fácil a sua tarefa porque as bombas caíam sobre a ci<strong>da</strong>de como as<br />

gotas d’água numa chuva impertinente. A família Weyrig, onde se achava <strong>Clemente</strong>,<br />

parecia desesperar, quando <strong>Clemente</strong> a sorrir mandou que todos se<br />

ajoelhassem para implorar do céu a proteção; rezava a família quando uma<br />

bomba penetrando pela janela passou por cima <strong>da</strong>s cabeças dos que oravam e,<br />

sem explodir, rolou tranqüila a um canto do quarto. O bombardeio não tardou a<br />

cessar porque Viena se entregou depois de algumas horas; a casa em que<br />

estivera o Servo de Deus não sofreu a menor arranhadura, não obstante acharse<br />

no ponto <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, onde o fogo era mais violento e terrível.<br />

Napoleão entrou na ci<strong>da</strong>de, onde não se demorou muito; correu com seu<br />

exército contra o grão-duque Carlos, que se aproximava para à defesa de Viena.<br />

As primeiras bombas de combate de Aspern foram ouvi<strong>da</strong>s na Capital <strong>da</strong><br />

Áustria a 21 de maio. <strong>Clemente</strong> sabia que <strong>da</strong>quela batalha dependia a sorte <strong>da</strong><br />

sua pátria, que ele queria salva e grande; corre pressuroso a Jesus no<br />

tabernáculo, ajoelha-se e de braços abertos pede a Deus a vitória, ou pelo<br />

menos, a salvação <strong>da</strong> sua pátria. Entretanto lá fora o combate tornava-se renhido<br />

e feroz; as bombas pareciam querer escurecer o sol e o combate perdurou<br />

até a noite sem resultado definitivo; ao romper <strong>da</strong> aurora Napoleão recomeçou<br />

o ataque sau<strong>da</strong>ndo os austríacos com uma salva de bombas que fizeram estremecer<br />

as vidraças de Viena; foi para <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> o sinal de que era chega<strong>da</strong><br />

a hora de ele se prostrar novamente aos pés de Jesus no tabernáculo. E a

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