São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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PARTE TERCEIRA O apóstolo de Viena (1808-1820) CAPÍTULO I Chegada à Viena e primeiros trabalhos Chega à Viena — Dificuldades com a polícia — O racionalismo na Áustria — Napoleão e Francisco da Áustria — Bombardeio de Viena — Batalha de Aspern — Na igreja dos Italianos — Os Mechitaristas — Trabalhos prediletos — Intimação do governo — Notícias de Valais — Fundação em Friburgo. Viena não recebeu com as devidas honras o seu grande Apóstolo, que a visitou no intenso inverno de 1808. Apenas chegado à Capital da Áustria, teve de avir-se coma polícia, que lendo no passaporte o nome de Clemente Hofbauer, vindo da fortaleza de Küstrin, se deixou levar pelas mais graves suspeitas; sem mais preâmbulos conduziu o pobre padre com seu companheiro ao posto policial, onde ambos ficaram detidos os três dias inteiros, que foram necessários para o exame dos papéis e as informações a respeito dos prisioneiros. Terminado e protocolado esse exame, originou-se na polícia nova suspeita, ao verificar que ricos paramentos de igreja acondicionados em dois enxergões e um grande caixão, se achava em poder daquele sacerdote. A modéstia excessiva da batina do padre contrastava por demais com a riqueza dos paramentos; daí a conclusão, de que muito provavelmente deveriam ter sido roubados a alguma igreja das imediações; e essa suspeita atingiu a seu auge quando o agente policial encontrou em poder de S. Clemente uma boa quantia de dinheiro. Não foi difícil ao Santo provar à polícia que aqueles paramentos preciosos, ele os comprara legitimamente quando Superior em Varsóvia, e que aquele dinheiro ele o recebera da família Bourbon na Polônia como intenções de missa. Depois de três dias presos foram postos em liberdade, mas as investigações prolongaram-se durante meses tantos em Dresden como em Varsóvia e Viena. Foi necessária a intervenção do Núncio Apostólico, que pediu informações oficiais das autoridades civis e eclesiásticas de Varsóvia a respeito dos objetos levados por S. Clemente; somente depois dessas declarações oficiais é que a polícia restituiu os paramentos. Foi nessa ocasião que Severoli escreveu ao bispo de Varsóvia: “Deus tem permitido que esse seu Servo fiel seja provado por muitas contrariedades, para fazê-lo ainda mais digno da sua divina complacência; amo e venero imensamente esse homem de Deus tanto por simpatia pessoal como principalmente por ele trabalhar tanto pelo rebanho de Jesus Cristo”. Chegados em Viena necessitavam de algum albergue, ao menos para as primeiras semanas. S. Clemente lembrou-se do seu velho mestre Weyrig, e para lá foi com o Fr. Stark num dos arrabaldes de Viena; o Irmão Widhalm hos- 44 pedou-se com os Servitas enquanto que o Irmão Manoel Kunzmann, que entretanto chegara a Viena, encontrou um lugar no convento dos Cistercienses. Quatro Redentoristas achavam-se em a Capital austríaca, porém separados sem formarem comunidade. Na casa de Weyrig S. Clemente era o cozinheiro e as refeições obedeciam sempre ao mesmo cardápio a saber: pão negro e bolo de farinha. Não lhe faltaram contudo convites feitos pelos bons amigos que possuía em Viena; às sextas-feiras e aos sábados ia sempre à casa do padeiro “A pera de ferro” para suas modestas refeições. A pequena Pepi, filhinha do padeiro, a qual não era pouco curiosa, observava atentamente, nessas ocasiões, quanto cada um comia; muitos anos mais tarde ela contou: “Quanto mais insípida a comida, mais parecia ser do gosto de Clemente, que deixava de lado todo o manjar agradável e apetitoso; creio que ele nunca matou a fome lá em casa”. Clemente porém não se demorou muito na casa do seu antigo mestre nos arrabaldes da cidade; os católicos de Viena, edificando-se desde logo com o procedimento santo de Clemente, fizeram questão que esse homem de tantas virtudes se hospedasse no centro da Capital. Clemente, homem de ação, habituado às lutas, afeito aos grandes empreendimentos, não podia acostumar-se à vida de completa inação a que se via condenado sem nenhuma atividade apostólica. Sem esperança de breve alteração em seu modo de viver, Clemente pensava em abandonar Viena. Nas horas em que a aflição oprimia sua alma pela solidão em que se via imerso, ia visitar o Santuário da Virgem do Socorro, não distante de Viena; lá desabafava seu coração apostólico, que clamava constantemente com S. Francisco Xavier. “Da mihi animas” dai-me almas, Senhor, dai-me a possibilidade de sacrificarme, de imolar-me inteiramente em prol das almas abandonadas, para reconduzilas ao aprisco e levá-las ao céu. “Prostrava-se em seguida ante o altar do Santíssimo, onde passava, por vezes, horas e horas a fio em procura de conforto, de animação e de conformidade. O povo de Viena, pouco habituado a semelhantes transportes de devoção e fervor, admirava e, em magníficos comentários, enaltecia aquele sacerdote que em todo o seu porte, mormente nos momentos da prece, fazia resplandecer um que de extraordinário e divino. Essa admiração, originada da santidade não comum daquele sacerdote recém-chegado em Viena, não se apoderara só do povo simples, mas sobretudo de pessoas altamente colocadas como: o arcebispo de Viena Mons. Hohenwart, o Núncio apostólico Mons. Severoli, Mons. Muzzi, auditor da Nunciatura, o Provincial dos Carmelitas e o dos Servitas, os quais se tornaram todos amigos íntimos do nosso Santo. Nesses primeiros anos de solidão dedicou-se o Servo de Deus, de um modo todo especial, à oração, que sabia ser a arma poderosa que conquista o coração do próprio Deus. Orava por seus caros confrades expulsos da Polônia e dispersos pelo mundo para que Deus lhes concedesse a perseverança; orava por aqueles confrades que sob a direção do grande Pe. Passerat erravam de um lugar para o outro em busca de um seguro abrigo para a Congregação; orava porém com especial ardor por sua pobre Pátria, presa do racionalismo implantado da França, o qual na Áustria levava o nome de josefismo. Como o intuito do racionalismo é extinguir a fé no coração do povo, projetando sobre todas as verdades, mesmo de ordem sobrenatural, apenas os fracos lampejos

da limitada razão humana, compreende-se que os seus defensores se empenhavam em estancar, o mais possível, todas as fontes que pudessem alimentar ou fomentar o sentimento religioso; eis porque na Áustria as leis do josefismo 4 proibiam as pregações substanciosas da palavra divina, a impressão e difusão de livros piedosos, o adorno dos templos, as rezas e devoções públicas, as missas solenes, a freqüência dos sacramentos etc.; as irmandades foram quase todas abolidas, as procissões restringidas, as romarias formalmente interditas. O josefismo chegou até a determinar o número de velas e acender-se nos altares durante as cerimônias religiosas; não se podia introduzir nenhuma reza nem cantar hino algum a não ser com a alta aprovação e licença do governo. Essas leis causaram no princípio a indignação geral; mas, aos poucos, foi-se o povo habituando a elas na medida que desaparecia a fé e o sentimento religioso. Era desolador o estado da religião na Áustria pelos anos de 1808; a vida cristã com seus encantos espirituais era desconhecida entre o povo; os que freqüentavam a igreja, aos domingos, faziam-no quase só por costume e tradição; os homens envergonhavam-se da prática das devoções católicas, que denominavam crendices e superstição e temiam ser conhecidos na sociedade como católicos da têmpera dos antigos, que não baseavam sua crença na palavra do homem nem nos ditames da falível e fraca razão humana, mas sim na autoridade de Deus que tem poder e direito de manifestar sua vontade ao homem e de lhe revelar seus mistérios e suas verdades. Nos templos as pregações não eram vazadas nos moldes da simplicidade e liberdade apostólicas, nem versavam sobre as verdades substanciosas do dogma ou da moral cristã e muito menos sobre as verdades eternas, mas limitavam-se a frases vazias de sentido, períodos altissonantes, floreados retóricos, terminologia insípida de humanidade e filantropia e quejandas expressões, inventadas para o engano da humanidade. Isso eram, aliás, muitíssimo natural, e nem se podia esperar outra coisa dos sacerdotes formados nos seminários gerais do governo, onde os jovens bebiam a largos tragos o espírito envenenado das leis e da doutrina do josefismo. No ano em que S. Clemente foi a Viena, i. é em 1808 já não existiam esses tais seminários, mas o seu espírito ainda perdurava. Nas escolas públicas ensinava-se às crianças o catecismo explicado segundo as normas do racionalismo 5 , de acordo com os princípios de Pestalozzi e de Rousseau. Nos ginásios confirmava-se o racionalismo, que atingia seu auge nas universidades, onde se ouvia a filosofia de Kant sem palavra alguma que pudesse abrir aos alunos os horizontes sublimes da verdade católica, que enleva o espírito e conforta os corações. A conseqüência natural de tudo isso era o ódio ou, pelo menos, o desprezo ao clero, a liberdade mal entendida de cada um poder formar a sua religião e forjar a sua crença de acordo com as suas comodidades, os seus interesses e os seus caprichos. São Clemente, ao chegar a Viena, viu logo o abismo em que se precipitava sua pátria, e a ruína de milhares e milhares de almas; quis logo levantar a voz, clamar, ensinar, persuadir, mover, converter, porém debalde; foi-lhe imposto o mais rigoroso silêncio tanto no púlpito como no confessionário. Só uma coisa podia ele fazer: rezar e rezar bastante — e Clemente orava, pedia a Deus se amerceasse do pobre povo e lhe mandasse homens de valor e de peso, capa- 45 zes de combater com vantagem o josefismo e de implantar na Europa a Santa religião que produz os heróis da virtude e da santidade. S. Clemente, em sua grande modéstia estava longe de suspeitar ser ele mesmo o homem escolhido pela Providência para debelar o racionalismo e converter a Áustria e a Europa com a sua palavra e o seu exemplo O próprio Deus se incumbiu de preparar o terreno para a admirável atividade apostólica que S. Clemente haveria de desenvolver em Viena. Em 1809 o imperador Francisco da Áustria, confiado no auxílio do céu e no patriotismo de seus súditos resolveu guerrear o imperador dos franceses e humilhar a arrogância de Napoleão; convocou seus soldados, dos quais 176.000 se postaram nas fronteiras da Polônia, enquanto que 80.000 defendiam a Áustria contra a Itália. Os príncipes alemães acharam mais prudente e seguro combater ao lado de Napoleão e abandonaram vergonhosamente o imperador Francisco da Áustria cobrindo-o de injúrias, taxando de loucura e megalomania o seu procedimento em conjunturas tão arriscadas. Napoleão indignado resolvera esmagar a Áustria e perder a família dos Habsburgos. A 20 de abril Napoleão, a frente de seu exército entra na Alemanha e desbarata os austríacos em Abensberg e em Eckmühl, avançando até Viena; a 10 de maio assedia a Capital, cujo imperador fugira para a Hungria com toda a família. Nenhuma potência ousou levantar-se para terçar armas em defesa da Áustria. A 12 de maio começou Napoleão a bombardear Viena — e de momento a momento crescia o furor do bombardeio; bombas sibilavam pelos ares, penetravam nas casas dos particulares produzindo o pânico em toda a cidade. Todos tremiam, só Clemente conservava a serenidade d’alma, depositando toda sua confiança em Deus, e qual outro Moisés dirigia ao céu as mais ardentes preces em favor de sua pátria enquanto fervia o combate; da oração levantava-se ele apenas para animar e consolar as famílias; não era fácil a sua tarefa porque as bombas caíam sobre a cidade como as gotas d’água numa chuva impertinente. A família Weyrig, onde se achava Clemente, parecia desesperar, quando Clemente a sorrir mandou que todos se ajoelhassem para implorar do céu a proteção; rezava a família quando uma bomba penetrando pela janela passou por cima das cabeças dos que oravam e, sem explodir, rolou tranqüila a um canto do quarto. O bombardeio não tardou a cessar porque Viena se entregou depois de algumas horas; a casa em que estivera o Servo de Deus não sofreu a menor arranhadura, não obstante acharse no ponto da cidade, onde o fogo era mais violento e terrível. Napoleão entrou na cidade, onde não se demorou muito; correu com seu exército contra o grão-duque Carlos, que se aproximava para à defesa de Viena. As primeiras bombas de combate de Aspern foram ouvidas na Capital da Áustria a 21 de maio. Clemente sabia que daquela batalha dependia a sorte da sua pátria, que ele queria salva e grande; corre pressuroso a Jesus no tabernáculo, ajoelha-se e de braços abertos pede a Deus a vitória, ou pelo menos, a salvação da sua pátria. Entretanto lá fora o combate tornava-se renhido e feroz; as bombas pareciam querer escurecer o sol e o combate perdurou até a noite sem resultado definitivo; ao romper da aurora Napoleão recomeçou o ataque saudando os austríacos com uma salva de bombas que fizeram estremecer as vidraças de Viena; foi para São Clemente o sinal de que era chegada a hora de ele se prostrar novamente aos pés de Jesus no tabernáculo. E a

PARTE TERCEIRA<br />

O apóstolo de Viena (1808-1820)<br />

CAPÍTULO I<br />

Chega<strong>da</strong> à Viena e<br />

primeiros trabalhos<br />

Chega à Viena — Dificul<strong>da</strong>des com a polícia — O racionalismo na Áustria<br />

— Napoleão e Francisco <strong>da</strong> Áustria — Bombardeio de Viena — Batalha de<br />

Aspern — Na igreja dos Italianos — Os Mechitaristas — Trabalhos prediletos —<br />

Intimação do governo — Notícias de Valais — Fun<strong>da</strong>ção em Friburgo.<br />

Viena não recebeu com as devi<strong>da</strong>s honras o seu grande Apóstolo, que a<br />

visitou no intenso inverno de 1808. Apenas chegado à Capital <strong>da</strong> Áustria, teve<br />

de avir-se coma polícia, que lendo no passaporte o nome de <strong>Clemente</strong> <strong>Hofbauer</strong>,<br />

vindo <strong>da</strong> fortaleza de Küstrin, se deixou levar pelas mais graves suspeitas; sem<br />

mais preâmbulos conduziu o pobre padre com seu companheiro ao posto policial,<br />

onde ambos ficaram detidos os três dias inteiros, que foram necessários<br />

para o exame dos papéis e as informações a respeito dos prisioneiros. Terminado<br />

e protocolado esse exame, originou-se na polícia nova suspeita, ao verificar<br />

que ricos paramentos de igreja acondicionados em dois enxergões e um grande<br />

caixão, se achava em poder <strong>da</strong>quele sacerdote. A modéstia excessiva <strong>da</strong><br />

batina do padre contrastava por demais com a riqueza dos paramentos; <strong>da</strong>í a<br />

conclusão, de que muito provavelmente deveriam ter sido roubados a alguma<br />

igreja <strong>da</strong>s imediações; e essa suspeita atingiu a seu auge quando o agente<br />

policial encontrou em poder de S. <strong>Clemente</strong> uma boa quantia de dinheiro. Não<br />

foi difícil ao Santo provar à polícia que aqueles paramentos preciosos, ele os<br />

comprara legitimamente quando Superior em Varsóvia, e que aquele dinheiro<br />

ele o recebera <strong>da</strong> família Bourbon na Polônia como intenções de missa. Depois<br />

de três dias presos foram postos em liber<strong>da</strong>de, mas as investigações prolongaram-se<br />

durante meses tantos em Dresden como em Varsóvia e Viena. Foi necessária<br />

a intervenção do Núncio Apostólico, que pediu informações oficiais<br />

<strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des civis e eclesiásticas de Varsóvia a respeito dos objetos levados<br />

por S. <strong>Clemente</strong>; somente depois dessas declarações oficiais é que a polícia<br />

restituiu os paramentos. Foi nessa ocasião que Severoli escreveu ao bispo de<br />

Varsóvia: “Deus tem permitido que esse seu Servo fiel seja provado por muitas<br />

contrarie<strong>da</strong>des, para fazê-lo ain<strong>da</strong> mais digno <strong>da</strong> sua divina complacência; amo<br />

e venero imensamente esse homem de Deus tanto por simpatia pessoal como<br />

principalmente por ele trabalhar tanto pelo rebanho de Jesus Cristo”.<br />

Chegados em Viena necessitavam de algum albergue, ao menos para as<br />

primeiras semanas. S. <strong>Clemente</strong> lembrou-se do seu velho mestre Weyrig, e<br />

para lá foi com o Fr. Stark num dos arrabaldes de Viena; o Irmão Widhalm hos-<br />

44<br />

pedou-se com os Servitas enquanto que o Irmão Manoel Kunzmann, que entretanto<br />

chegara a Viena, encontrou um lugar no convento dos Cistercienses. Quatro<br />

Redentoristas achavam-se em a Capital austríaca, porém separados sem<br />

formarem comuni<strong>da</strong>de. Na casa de Weyrig S. <strong>Clemente</strong> era o cozinheiro e as<br />

refeições obedeciam sempre ao mesmo cardápio a saber: pão negro e bolo de<br />

farinha. Não lhe faltaram contudo convites feitos pelos bons amigos que possuía<br />

em Viena; às sextas-feiras e aos sábados ia sempre à casa do padeiro “A<br />

pera de ferro” para suas modestas refeições. A pequena Pepi, filhinha do padeiro,<br />

a qual não era pouco curiosa, observava atentamente, nessas ocasiões,<br />

quanto ca<strong>da</strong> um comia; muitos anos mais tarde ela contou: “Quanto mais insípi<strong>da</strong><br />

a comi<strong>da</strong>, mais parecia ser do gosto de <strong>Clemente</strong>, que deixava de lado todo<br />

o manjar agradável e apetitoso; creio que ele nunca matou a fome lá em casa”.<br />

<strong>Clemente</strong> porém não se demorou muito na casa do seu antigo mestre nos<br />

arrabaldes <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; os católicos de Viena, edificando-se desde logo com o<br />

procedimento santo de <strong>Clemente</strong>, fizeram questão que esse homem de tantas<br />

virtudes se hospe<strong>da</strong>sse no centro <strong>da</strong> Capital.<br />

<strong>Clemente</strong>, homem de ação, habituado às lutas, afeito aos grandes empreendimentos,<br />

não podia acostumar-se à vi<strong>da</strong> de completa inação a que se via<br />

condenado sem nenhuma ativi<strong>da</strong>de apostólica. Sem esperança de breve alteração<br />

em seu modo de viver, <strong>Clemente</strong> pensava em abandonar Viena. Nas<br />

horas em que a aflição oprimia sua alma pela solidão em que se via imerso, ia<br />

visitar o Santuário <strong>da</strong> Virgem do Socorro, não distante de Viena; lá desabafava<br />

seu coração apostólico, que clamava constantemente com S. Francisco Xavier.<br />

“Da mihi animas” <strong>da</strong>i-me almas, Senhor, <strong>da</strong>i-me a possibili<strong>da</strong>de de sacrificarme,<br />

de imolar-me inteiramente em prol <strong>da</strong>s almas abandona<strong>da</strong>s, para reconduzilas<br />

ao aprisco e levá-las ao céu. “Prostrava-se em segui<strong>da</strong> ante o altar do<br />

Santíssimo, onde passava, por vezes, horas e horas a fio em procura de conforto,<br />

de animação e de conformi<strong>da</strong>de. O povo de Viena, pouco habituado a semelhantes<br />

transportes de devoção e fervor, admirava e, em magníficos comentários,<br />

enaltecia aquele sacerdote que em todo o seu porte, mormente nos momentos<br />

<strong>da</strong> prece, fazia resplandecer um que de extraordinário e divino. Essa<br />

admiração, origina<strong>da</strong> <strong>da</strong> santi<strong>da</strong>de não comum <strong>da</strong>quele sacerdote recém-chegado<br />

em Viena, não se apoderara só do povo simples, mas sobretudo de pessoas<br />

altamente coloca<strong>da</strong>s como: o arcebispo de Viena Mons. Hohenwart, o<br />

Núncio apostólico Mons. Severoli, Mons. Muzzi, auditor <strong>da</strong> Nunciatura, o Provincial<br />

dos Carmelitas e o dos Servitas, os quais se tornaram todos amigos íntimos<br />

do nosso Santo.<br />

Nesses primeiros anos de solidão dedicou-se o Servo de Deus, de um<br />

modo todo especial, à oração, que sabia ser a arma poderosa que conquista o<br />

coração do próprio Deus. Orava por seus caros confrades expulsos <strong>da</strong> Polônia<br />

e dispersos pelo mundo para que Deus lhes concedesse a perseverança; orava<br />

por aqueles confrades que sob a direção do grande Pe. Passerat erravam de<br />

um lugar para o outro em busca de um seguro abrigo para a <strong>Congregação</strong>;<br />

orava porém com especial ardor por sua pobre Pátria, presa do racionalismo<br />

implantado <strong>da</strong> França, o qual na Áustria levava o nome de josefismo. Como o<br />

intuito do racionalismo é extinguir a fé no coração do povo, projetando sobre<br />

to<strong>da</strong>s as ver<strong>da</strong>des, mesmo de ordem sobrenatural, apenas os fracos lampejos

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