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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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Áustria, sem passar pelo seminário organizado pelo governo. De tudo isto S.<br />

<strong>Clemente</strong> informou o Superior Geral em Roma, mas convencido de sua missão<br />

e movido do desejo de não privar sua Pátria dos benefícios <strong>da</strong> religião, pôs-se à<br />

disposição <strong>da</strong> Propagação <strong>da</strong> fé com a licença do Superior Geral.<br />

O Núncio de Varsóvia acabava de pedir sacerdotes alemães para a província<br />

<strong>da</strong> Curlândia na Rússia por conselho <strong>da</strong> imperatriz Catarina II, que embora<br />

má em sua vi<strong>da</strong> particular, compreendia que só pela proteção outorga<strong>da</strong> à religião<br />

poderia ganhar para si os católicos <strong>da</strong> nova província, que lhe ficou cabendo<br />

na divisão <strong>da</strong> Polônia. O Superior Geral autorizou os dois Redentoristas a<br />

trabalhar na Curlândia, fun<strong>da</strong>r casas e aceitar noviços. Sem mais detença aprontam<br />

a mala e põem-se a caminho, dispostos a transpor a pé as 200 léguas que<br />

vão de Viena a Varsóvia. Já se achavam fora <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, quando deram com um<br />

pobre ermitão, vestido pobremente com o capuz cinzento às costas e um bordão<br />

na mão: era o velho eremita de Tívoli, Manoel Kunzmann, amigo de S.<br />

<strong>Clemente</strong>, o qual se achava em viagem de visita às relíquias dos Santos Reis<br />

Magos em Colônia. S. <strong>Clemente</strong> o convidou a entrar na <strong>Congregação</strong> e a<br />

acompanhá-lo à Curlândia. Manoel aceitou gostosamente o convite e tornou-se<br />

assim o primeiro noviço, admitido por S. <strong>Clemente</strong> na <strong>Congregação</strong>.<br />

S. <strong>Clemente</strong>, ao partir de Viena, passando por perto de Znaim fez uma<br />

pequena volta a fim de visitar os seus parentes e amigos; de Znaim foi a Tasswitz,<br />

sua ci<strong>da</strong>de natal, onde sentiu renascerem em sua alma as mais gratas recor<strong>da</strong>ções<br />

<strong>da</strong> infância: conhecia ain<strong>da</strong> tudo, a igrejinha era a mesma de outrora sem<br />

nenhuma modificação, os prédios não apresentavam nenhuma alteração considerável;<br />

ao chegar à casa, onde nascera, bateu à porta e radiante de satisfação<br />

abraçou sua boa irmã, que já não via há muitos anos; dirigiu-se em segui<strong>da</strong> ao<br />

cemitério, e diante do túmulo de sua mãe ajoelhou-se e, as lágrimas a correrlhe<br />

pelas faces, rezou por intenção de sua santa mãe, agradecendo-lhe os benefícios,<br />

sobretudo a boa educação cristã que dela recebera.<br />

Entretanto o tempo urgia e <strong>Clemente</strong> não podia demorar-se muito; a obediência<br />

chamava-o à Curlândia, onde tantas almas sedentas <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de e ávi<strong>da</strong>s<br />

do pão <strong>da</strong> palavra divina reclamavam seu suor e suas fadigas. Como o Núncio<br />

Apostólico, D. Fernando Salluzo, nobre napolitano e íntimo amigo de Sto. Afonso,<br />

se achava em Varsóvia nessa ocasião, resolveram os missionários passar<br />

por lá afim de receberem a necessária jurisdição para a Curlândia e as ordens<br />

do Superior Geral. Mons. Salluzo, porém, não os quis deixar ir adiante, reteveos<br />

em Varsóvia confiando-lhes a cura espiritual dos alemães, antigamente entregue<br />

aos cui<strong>da</strong>dos dos padres jesuítas, e há treze anos já sem pastor. Depois<br />

dos necessários entendimentos com a <strong>Congregação</strong> <strong>da</strong> Propagan<strong>da</strong> Fide e o<br />

Superior Geral dos Redentoristas, e com a permissão de Poniatowski, rei <strong>da</strong><br />

Polônia, receberam eles a Igreja de S. Beno, construí<strong>da</strong> sobre uma colina no<br />

ponto extremo <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Varsóvia. Essa igreja, embora não muito vasta,<br />

comportava cerca de mil pessoas e possuía três altares. Na capela-mor, abaixo<br />

<strong>da</strong> estátua de S. Beno achava-se o quadro milagroso de Nossa Senhora<br />

Auxiliadora, venera<strong>da</strong> com amor pela população de Varsóvia; dos outros altares<br />

um era dedicado a S. José e o outro a Jesus preso à coluna na flagelação;<br />

invocações essas que condiziam admiravelmente com as devoções de S. Cle-<br />

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mente. A casa que lhe serviria de convento era mais do que modesta; além de<br />

muito pequena, era úmi<strong>da</strong> e desprovi<strong>da</strong> de tudo; uma mesinha e algumas cadeiras<br />

velhas constituíam a única mobília <strong>da</strong> nova residência e do primeiro convento<br />

dos Redentoristas além dos Alpes; não havia livros, nem relógio, nem<br />

estampas, nem camas, nem utensílios de cozinha e — o que era ain<strong>da</strong> pior —<br />

nem dinheiro para comprá-los. A igreja participava inteiramente <strong>da</strong> sorte do<br />

convento: Não possuía um vintém, nem título algum de ren<strong>da</strong>s, de sorte que se<br />

tornava difícil obter o azeite para a lâmpa<strong>da</strong>, a cera para o altar e o vinho para<br />

a missa.<br />

Os dois padres encetaram logo sua ativi<strong>da</strong>de apostólica na igreja, celebrando,<br />

ouvindo confissões e pregando em alemão. Fr. Manoel servia de cozinheiro<br />

e porteiro; de alfaiate não se precisava, porque ca<strong>da</strong> um remen<strong>da</strong>va o<br />

que lhe pertencia. A cozinha, porém, era lastimável em to<strong>da</strong> a extensão <strong>da</strong><br />

palavra, pois que Fr. Manoel, que nunca exercera o ofício de cozinheiro em sua<br />

vi<strong>da</strong>, por força <strong>da</strong>s circunstâncias, tornara-se o cozinheiro-mor <strong>da</strong> nova comuni<strong>da</strong>de;<br />

de uns pe<strong>da</strong>ços de madeira improvisou os talheres para a cozinha; pratos<br />

e caçarolas recebeu-as de presente de umas pessoas caridosas, que se apie<strong>da</strong>ram<br />

dos pobres religiosos. O mais difícil era digerir o preparado na cozinha<br />

do Irmão Manoel; não poucas vezes foi necessário ao Pe. Superior, ao sair do<br />

confessionário ou ao descer do púlpito, ir à cozinha, cingir o avental e preparar<br />

a refeição. O fazer as camas não fatigava ninguém; Irmão Manoel estendia-se<br />

sobre o banco e os dois padres procuravam o repouso sobre a dura mesa. O Pe.<br />

<strong>Clemente</strong>, embora amante apaixonado <strong>da</strong> pobreza, sentia, ver seu caro confrade<br />

sofrer tantas privações; não tinha a quem recorrer senão ao melhor de todos os<br />

benfeitores; nos momentos mais penosos, quando faltava o necessário em casa,<br />

ia à Igreja, ajoelhava-se diante do sacrário e, sentindo-se com coragem, subia<br />

os degraus do altar, batia à porta do sacrário e, cheio de confiança, parecia<br />

acor<strong>da</strong>r a Jesus como outrora os Apóstolos, e dizia-lhe: “Senhor, agora é tempo”.<br />

E — ó prodígio! — muitas vezes, depois dessas cenas tocantes, batiam à<br />

porta do convento; eram benfeitores que traziam alguma coisa para os padres<br />

de S. Beno.<br />

Um dos primeiros trabalhos de S. <strong>Clemente</strong> em Varsóvia, como ele mesmo<br />

narra em uma carta, consistiu em fun<strong>da</strong>r e dirigir escolas alemãs, que eram lá<br />

desconheci<strong>da</strong>s até então. O trabalho tornou-se em breve exaustivo pela enorme<br />

afluência de alunos alemães, polacos e russos; até meninos protestantes<br />

pediram admissão na escola de S. Beno. Os livros escolares compravam-se<br />

todos em Viena; o local comportava cerca de 200 crianças, não contando os<br />

órfãos, que eram numerosos.<br />

O serviço <strong>da</strong> igreja, no princípio, não tomava muito tempo aos sacerdotes.<br />

Depois de feita a necessária limpeza <strong>da</strong>s paredes e dos altares, os missionários<br />

puseram-se a trabalhar no confessionário e no púlpito, mas a assistência era<br />

diminuta; no primeiro ano distribuíram apenas 2.000 comunhões. Os alemães<br />

eram frios e indiferentes para as coisas <strong>da</strong> religião, enquanto que os polacos<br />

fugiam ou evitavam propositalmente os Benonitas, aos quais desprezavam como<br />

a estrangeiros e mais ain<strong>da</strong> como alemães, que o povo considerava luteranos.<br />

O fato de que em S. Beno se pregava em alemão e se <strong>da</strong>vam aulas nessa<br />

língua, foi interpretado como um ensaio de germanização dos polacos. A tudo

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