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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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<strong>Clemente</strong> gostava <strong>da</strong>s uvas doces <strong>da</strong> Itália; mas não sucumbiu à tentação, foi<br />

mais forte do que Eva no paraíso, venceu-se e lá deixou ficar o cacho para ter<br />

ca<strong>da</strong> dia mais ocasião de se mortificar.<br />

Nos companheiros de noviciado não podia o Servo de Deus suportar moleza<br />

nem falta de mortificação. — Com franqueza austríaca — e <strong>Clemente</strong> era de<br />

franqueza rude — não raramente dizia aos italianos: “Os estrangeiros que vêm<br />

à Itália esperar e querem que os italianos sejam santos; prestam atenção a tudo<br />

para depois contarem lá fora quanto viram e observaram na Itália”. Os noviços<br />

italianos tinham o costume de, no tempo do calor, levar consigo, nos passeios,<br />

alguma roupa limpa, para quando estivessem suados. <strong>Clemente</strong> estranhou semelhante<br />

hábito e uma vez não podendo conter-se foi ter com o mestre de<br />

noviços e disse-lhe: “Sr. padre, eu que aqui estou, vim <strong>da</strong> Áustria com uma<br />

camisa, um paletó, um par de calçar, um chapéu e uma bengala caminhando<br />

400 horas de Viena até Roma, e nem por isso vi abala<strong>da</strong> a minha saúde; e aqui<br />

em Roma para um passeio de duas horas vejo tantos preparativos, porque tudo<br />

isso? O mau costume foi, desde então, abolido no noviciado de <strong>São</strong> Julião.<br />

<strong>Clemente</strong> costumava dizer que os meses do seu noviciado oram os mais<br />

belos <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong>. O conselho que Santo Afonso <strong>da</strong>va aos seus, de serem<br />

cartuxos em casa e apóstolos fora, condizia inteiramente com a sua inclinação.<br />

O impulso para a solidão e o desejo ardente do apostolado haviam até então<br />

lutado em sua alma, e agora via esses dois sentimentos harmoniosamente unidos<br />

em sua <strong>Congregação</strong>. Tornou-se Redentorista de corpo e alma, entregando<br />

e consagrando à <strong>Congregação</strong> o amor robusto do seu coração, tomando por<br />

lema <strong>da</strong> sua vi<strong>da</strong> trabalhar por ela, e por ela <strong>da</strong>r até a última gota do seu sangue.<br />

Eis porque mal entrando na <strong>Congregação</strong> do Santíssimo Redentor já sonhava<br />

com a propagação desta no Norte <strong>da</strong> Europa; queria levá-la à sua Pátria,<br />

fazê-la conheci<strong>da</strong> e ama<strong>da</strong> de todos: disso nunca fez segredo durante o noviciado.<br />

As circunstâncias, porém, não pareciam favoráveis aos dois noviços austríacos.<br />

Os próprios companheiros de noviciado sacudiam a cabeça achando até<br />

atrevimento, o quererem dois pobres padeiros, que não conheciam ain<strong>da</strong> a fundo<br />

a teologia, implantar a <strong>Congregação</strong> na Áustria numa época em que tudo se<br />

conjurava contra os conventos. Essa notícia transpôs os limites dos Estados<br />

Pontifícios e chegou aos ouvidos do Santo Fun<strong>da</strong>dor, que residia em Nápoles.<br />

O velhinho também sorriu-se ao ouvir falar do desejo de dois austríacos, mas o<br />

seu sorriso foi a expressão <strong>da</strong> alegria e do contentamento. Essa foi uma <strong>da</strong>s<br />

maiores consolações, que Deus lhe man<strong>da</strong>ra em sua velhice e no meio <strong>da</strong>s<br />

mais rudes provações por que ele tinha de passar nos últimos anos <strong>da</strong> sua<br />

laboriosa vi<strong>da</strong>. Deus iluminou-lhe o espírito, como outrora ao velho Simeão no<br />

templo, e extremamente consolado quis, ele também, pronunciar o seu “Nunc<br />

dimittis”. Em tom profético disse Santo Afonso aos seus filhos espirituais: “Não<br />

duvideis, a <strong>Congregação</strong> há de persistir até o dia do juízo, porque não é obra<br />

minha, mas de Deus; enquanto eu viver ela continuará na obscuri<strong>da</strong>de e nas<br />

humilhações; depois <strong>da</strong> minha morte, porém, ela estenderá suas asas, mormente<br />

nos países do Norte”. Para Santo Afonso eram <strong>Clemente</strong> <strong>Maria</strong> e o seu<br />

companheiro os dois homens <strong>da</strong> Providência, enviados pelo céu para consoli<strong>da</strong>rem<br />

a <strong>Congregação</strong> e levarem-na para além dos Alpes. “Esses padres, acrescentou<br />

Afonso, farão muito pela glória de Deus, mas necessitam de uma luz<br />

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especial do céu”. E o grande bispo resignatário de Santa Ague<strong>da</strong> dos Godos,<br />

que amava a <strong>Congregação</strong>, por ele fun<strong>da</strong><strong>da</strong>, como a pupila dos seus olhos,<br />

viveu ain<strong>da</strong> três anos depois <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de hábito dos dois austríacos a rezar e<br />

sacrificar-se pelos dois noviços; e se <strong>Clemente</strong> <strong>Maria</strong> se tornou um grande Santo<br />

e a pedra fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> <strong>Congregação</strong> transalpina, deve-o em grande parte<br />

às orações que por ele fez o velhinho Fun<strong>da</strong>dor do seu leito de dores em Pagani.<br />

Tão grande e extraordinário foi o zelo e fervor dos dois noviços que o Superior<br />

Geral achou que podia abreviar o tempo <strong>da</strong> provação. No dia de S. José, a<br />

19 de março de 1785, cinco meses depois <strong>da</strong> toma<strong>da</strong> de hábito, os dois austríacos<br />

fizeram a profissão religiosa, sendo logo em segui<strong>da</strong> enviados para<br />

Frosinone, que era a casa de estudos, não longe <strong>da</strong>s divisas do reino de Nápoles.<br />

A sua esta<strong>da</strong> nessa nova residência não devia, contudo, prolongar-se por<br />

muito tempo; em atenção à i<strong>da</strong>de de <strong>Clemente</strong> e em vista dos estudos feitos na<br />

Universi<strong>da</strong>de de Viena e <strong>da</strong> premente necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r início, quanto antes,<br />

à fun<strong>da</strong>ção além dos Alpes, julgaram os Superiores poder realizar o mais ardente<br />

desejo do coração de <strong>Clemente</strong>. Dez dias depois <strong>da</strong> profissão religiosa<br />

receberam os dois austríacos a ordenação sacerdotal na ci<strong>da</strong>de de Alatri, duas<br />

horas distante de Frosinone. Debaixo de uma chuva torrencial voltaram os<br />

neopresbíteros para casa, jubilosos pela graça extraordinária que Deus lhes<br />

concedera. Segundo o costume na Áustria, esperavam uma recepção festiva e<br />

solene, um banquete opíparo, um dia de recreio, adornos em todos os quartos<br />

e corredores, em sinal de alegria <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Mas, ó decepção! O Superior<br />

de Frosinone, que bem conhecia a virtude de ambos, quis pô-la em prova já no<br />

primeiro dia. Logo que chegaram em casa, em vez desses sinais externos de<br />

regozijo, um deles teve de ler no refeitório enquanto os outros tomavam a refeição,<br />

e o outro foi auxiliar do irmão copeiro. Na<strong>da</strong> pois de banquete, de recreio,<br />

de distinções. <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> mais tarde, lembrando-se desse episódio de sua<br />

vi<strong>da</strong>, gracejava narrando com vivas cores como ao voltar de Alatri com apetite<br />

devorador e desejo de sentar-se à mesa junto com os confrades — o Reitor,<br />

para o mortificar, mandou-lhe que servisse à comuni<strong>da</strong>de e almoçasse depois.<br />

Mas isso tudo pouco importava; <strong>Clemente</strong> era padre, o pobre filho do cortador<br />

de Tasswitz podia subir ao altar, chamar do céu o próprio Deus às suas mãos.<br />

Como soe acontecer em tais circunstâncias, a vi<strong>da</strong> parecia um sonho a <strong>Clemente</strong>,<br />

que não cansava de repetir: “Sou padre, ministro de Deus, para conduzir<br />

as almas ao céu”. A mãe de <strong>Clemente</strong> sobreviveu a esse acontecimento, soube<br />

que seu Joãozinho era sacerdote do Altíssimo, mas não lhe foi <strong>da</strong>do abraçá-lo<br />

depois dessa grande ventura, porque em junho desse mesmo ano veio a falecer<br />

em Tasswitz. <strong>Clemente</strong> contava 34 anos de i<strong>da</strong>de quando, pela primeira vez,<br />

subiu aos degraus do altar para o santo sacrifício; era justamente a metade <strong>da</strong><br />

vi<strong>da</strong>, que Nosso Senhor lhe iria conceder. Ain<strong>da</strong> um ano passaram eles em<br />

Frosinone, ocupados com o estudo <strong>da</strong> teologia, e de um modo especial, <strong>da</strong><br />

moral composta pelo Santo Fun<strong>da</strong>dor <strong>da</strong> <strong>Congregação</strong>.<br />

Os Superiores tomaram seriamente a peito a fun<strong>da</strong>ção redentorista na<br />

Áustria, chamaram a Roma os dois austríacos, que receberam ordens de partir<br />

logo depois do encerramento do Capítulo de Scifelli. Devido às enormes dificul<strong>da</strong>des<br />

que iriam ter na Áustria, e às circunstâncias especiais desse país, que se<br />

achava nas mãos dos “iluminados” e josefinos, receberam eles plenos poderes

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