São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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aqueles tempos abismados no indiferentismo e racionalismo, e o antídoto poderoso contra outros erros funestos. Essas obras, maximé o livrinho das Visitas a Jesus Sacramentado, encheram o coração de Clemente de veneração e amor para com o bispo de Sta. Agueda, que na Itália acabava de renunciar a seu honroso cargo. Para uma alma assim preparada era impossível freqüentar os seminários da Áustria; Clemente queria ser padre, mas um padre virtuoso, trabalhador, segundo o coração de Deus. Era pois forçoso dizer adeus à Áustria, que tanto amava, e despedir-se dela, talvez para sempre, pois não podia prever até onde chegaria a impiedade em sua pátria; ele estava pronto ao sacrifício e fê-lo de boa vontade. Procurou seu amigo Thadeu Hübl, informou-o dos seus novos planos convidando-o a que o acompanhasse. Hübl jazia enfermo no hospital e, irresoluto como era, admirou-se da súbita e brusca resolução do amigo. Doente e sem recursos, como empreender semelhante viagem? Como em sua resolução Clemente era inabalável, não pôde nem quis admitir as escusas e os pretextos do amigo; quando ao dinheiro, ele mesmo se incumbiria de arranjá-lo, quanto à saúde, Deus providenciaria. E assim foi. Thadeu Hübl restabeleceu-se e acompanhou Clemente a Roma. CAPÍTULO V 14 O santo Redentorista Em Roma — O Senhor será um deles. Luta entre os dois peregrinos — É recebido na Congregação Redentorista. — O noviciado — O espírito da Congregação — A uva tentadora — Os noviços italianos — Alegria e profecia de Sto. Afonso — Profissão — Ordenação — Transpõe os Alpes. Os dois amigos chegaram a Roma, sem novidade, no mês de setembro de 1784. Clemente, nesse interim, havia tomado a resolução firme de ingressar em uma Ordem religiosa: mas por prudência diferiu a entrada para ter mais tempo de examinar primeiro o fim particular das diversas Congregações, o fervor da observância regular e outras particularidades que haveriam de influir na sua resolução definitiva. Em companhia de Thadeu percorreu a cidade, visitou as igrejas célebres de Roma, observando sempre os religiosos, e indagando de várias pessoas, o que sabiam das diversas Ordens e Congregações que lá havia. Coisas edificantes ouviam eles sobre grande número de Congregações cujos membros aspiravam seriamente à perfeição, mas nenhuma delas conseguiu entusiasmar-lhes os corações. Foi o próprio Deus que se encarregou de indicar a Clemente o lugar, onde o queria. Numa tarde, depois das visitas feitas aos grandes santuários conferiu com o amigo as impressões recebidas durante o dia, e junto compuseram o programa das visitas para o dia seguinte. Clemente teve subitamente uma idéia: “Thadeu, disse ele, a primeira igreja a que iremos amanhã, será aquela cujo sino ouvirmos primeiro”. Thadeu concordou. Na manhã seguinte era ainda escuro, quando ouviram o som melancólico de um pequeno sino, que os convidava à igreja; levantaram-se depressa e foram. Era a pequena Igreja de São Julião, perto da Vila Caserta; entraram, pé por pé, e ouviram rezar; eram sacerdotes desconhecidos para eles, batinas pretas com colarinhos brancos e salientes; rezavam imóveis como se fossem estátuas de mármore; de joelhos, mãos postas, olhos baixos pareciam imersos em profunda contemplação; os padres estavam fazendo a meditação da manhã. Os dois amigos caíram também de joelhos pedindo a Deus, se dignasse manifestar-lhes sua santíssima vontade. Terminada a meditação, Clemente também se levantou com o coração a bater-lhe fortemente no peito. Ao sair da igreja deu com um rapazinho, coroinha da Igreja de S. Julião, e perguntou-lhe: “Menino, que padres são esses que acabam de rezar agora nessa igreja?” — “São padres Redentoristas, disse o pequeno, e o senhor também será um deles”. Essas palavras do menino abalaram o coração do Servo de Deus e bani-

am-lhe a tranqüilidade; a todo instante parecia-lhe ouvir: “o senhor será também um deles”. Não encontrando mais sossego, volta, essa mesma tarde ainda, à Igreja de São Julião, chama o Reitor ao locutório e informa-se da Congregação dos Redentoristas. Quando ouviu que foram fundada por Santo Afonso, cujas obras tanto apreciava, e que tem por fim evangelizar os povos por meio de missões e retiros, dedicando-se de um modo todo particular ao povo abandonado nos sítios, sentiu que para ela Deus o chamava; não hesitou, relatou ao Reitor os estudos que já tinha feito, a idade que então contava, pediu admissão e o Reitor recebeu-o na Congregação: ei-lo o Redentorista. A alegria de Clemente Maria foi indescritível: achara enfim a sua vocação, e isso de um modo tão extraordinário, sabia onde é que Deus o queria, e não encontrava na língua humana expressões com que pudesse agradecer dignamente ao Senhor de tê-lo chamado à Congregação do grande Apóstolo e eminente Teólogo Santo Afonso Maria, cujas “visitas” afogueadas de amor divino tantas vezes recitara na Igreja de Santo Estevam. Além de tudo isso seria missionário para salvar as almas mais abandonadas e levá-las ao céu; seria o imitador de Jesus na sua vida oculta e no seu apostolado. Contente como quem encontra um tesouro, corre ao encontro de Thadeu para fazê-lo participante da sua indizível felicidade e anuncia-lhe que fora admitido na Congregação dos Redentoristas. Thadeu porém, que absolutamente não esperava tal resolução, indignouse, lançou-lhe em rosto sua precipitação e imprudência, exprobrou-lhe sua falta de caridade, perguntando se era para abandoná-lo e deixá-lo só que o trouxera da Áustria para a Itália, cuja língua não conhecia; Thadeu ficaria só num país desconhecido, sem recursos para continuar os seus estudos. Isso era, na opinião de Thadeu, uma traição vergonhosa. Por mais que se esforçasse, Clemente não conseguiu abrandar o coração do amigo, cujas palavras pesadas lhe traspassaram a alma como uma espada de dois gumes; e entretanto a intenção de Clemente era a melhor do mundo, queria fazer feliz o amigo levando-o consigo ao convento; este porém obstinava-se em não querer acompanhá-lo. Mas não há como um dia depois do outro; caiu a noite e Thadeu Hübl foi repousar das fadigas do dia, e mais ainda do dissabor que o prostrara. Clemente porém compreendendo que, em semelhantes apuros, só Deus pode ajudar, ajoelhou-se em terra junto do leito do amigo, e rezou a noite inteira pedindo ao céu se dignasse iluminar o companheiro, aliás tão virtuoso e dócil. Ao amanhecer estava ele ainda ajoelhado em oração a lutar com Deus como outrora o patriarca Jacó com o anjo na solidão da Palestina. Quando Thadeu acordou, volveu os olhos para o leito do amigo, como que a despertá-lo; mas com grande surpresa verificou-o intacto, tal qual o deixara na noite anterior; mais surpreendido ainda ficou ao contemplar Clemente ajoelhado em terra, os olhos a nadar em lágrimas; compreendeu imediatamente o motivo daqueles preces e sentiuse comovido, mas não disse palavra. Levantou-se e com o companheiro dirigiuse a Maria Maggiore atravessando em silêncio as ruas desertas e taciturnas. Os corações de ambos sentiam-se torturados e vazios como as ruas ermas que atravessavam. À graça por fim venceu e Thadeu interrompendo o silêncio disse: “Clemente, eu entrarei contigo na Congregação dos Redentoristas”. Um abraço forte foi a resposta de Clemente, que não pôde conter as lágrimas; amplexou-o 15 como se já a muitos anos o não tivesse visto; entraram ambos na igreja e dali a pouco, os dois austríacos eram recebidos definitivamente na Congregação do Santíssimo Redentor. De acordo com a Regra da Congregação, passaram eles uns dias, como candidatos, em suas vestes seculares na casa do noviciado, preparando-se para o retiro de quinze dias que precede à tomada de hábito. Aos 24 de outubro de 1784 foram revestidos do hábito de Santo Afonso Maria e começaram o noviciado sob a sábia e firme direção do Pe. Landi, Reitor da casa, o qual há anos havia bebido o espírito da Regra, tendo por mestre o próprio santo Fundador. Foi Esse o momento da maior importância e relevância para a Congregação transalpina. Nos planos divinos denotava esse momento um movimento espantoso de salvação, de trabalho, de suores em benefício das almas; a entrada dos dois estrangeiros na Congregação era o princípio da propagação do instituto Redentorista além dos Alpes, os limites da Congregação já não seriam coarctados pelas divisas da Itália, mas iriam de oceano a oceano, estendendose pelo mundo inteiro. Clemente olhando para o seu novo hábito sentia-se outro homem; a batina preta, o cíngulo tosco com o rosário à cintura, a cruz oculta ao peito enlevavam o seu espírito pela alta significação que tinham. Como noviço fervoroso procurava familiarizar-se com as Regras, ou antes, refundir em si o espírito da Congregação. A consecução desse nobre ideal não lhe causava a menor dificuldade; ouvira do mestre dos noviços que o espírito da Congregação Redentorista consiste, sobretudo, no espírito de oração, de humildade e de abnegação própria; ora tudo isto era-lhe familiar desde os primeiros anos de sua vida: a oração fora sempre o divertimento favorito da sua alma, desde os seus mais verdes anos, a humildade aprendera ele, de sobre, na casa paterna e na oficina do padeiro; a abnegação da vontade própria fora sempre o seu pão cotidiano; não lhe era pois necessário transformar muita coisa na sua nova vida, mas só continuar e aperfeiçoar o que praticara no século. E com a graça divina Clemente não foi nada remisso no cumprimento desse dever. A oração tornou-se a alma da sua vida religiosa; orava não só quando prostrado ante o altar de Jesus Sacramentado ou a imagem da Virgem, mas sempre que andava pelos corredores do convento e pelas ruas da cidade. Reconhecia de boa mente na Regra do Instituto a expressão da vontade divina. Rijo por natureza e temperamento, fugia da moleza, amando a mortificação e procurando conseguir o domínio completo sobre as suas paixões. No noviciado de São Julião quis Deus que lhe não faltassem ocasiões para mortificações de todo o gênero. Filho do norte levara ao sul um apetite não insignificante, aumentado ainda pela força de uma constituição robusta, e a cozinha italiana do convento de S. Julião era tão parca e tão mesquinha. “A coisa mais difícil para mim na Itália, disse ele mais tarde, foi o não poder eu nunca matar completamente a fome”. O seu maior pecado no noviciado foi ter mandado vir uma fez algumas uvas sem a necessária licença dos Superiores. Isso porém deu-se uma única vez, pois que mesmo nesse ponto Clemente sempre se mostrou forte; junto à janela da sua cela, do lado de fora, havia uma parreira, que estendia seus ramos até a altura do quarto e dum dos ramos pendia um cacho grande, maduro e apetitoso, que lhe sorria tentadoramente:

aqueles tempos abismados no indiferentismo e racionalismo, e o antídoto poderoso<br />

contra outros erros funestos. Essas obras, maximé o livrinho <strong>da</strong>s Visitas a<br />

Jesus Sacramentado, encheram o coração de <strong>Clemente</strong> de veneração e amor<br />

para com o bispo de Sta. Ague<strong>da</strong>, que na Itália acabava de renunciar a seu<br />

honroso cargo.<br />

Para uma alma assim prepara<strong>da</strong> era impossível freqüentar os seminários<br />

<strong>da</strong> Áustria; <strong>Clemente</strong> queria ser padre, mas um padre virtuoso, trabalhador,<br />

segundo o coração de Deus. Era pois forçoso dizer adeus à Áustria, que tanto<br />

amava, e despedir-se dela, talvez para sempre, pois não podia prever até onde<br />

chegaria a impie<strong>da</strong>de em sua pátria; ele estava pronto ao sacrifício e fê-lo de<br />

boa vontade. Procurou seu amigo Thadeu Hübl, informou-o dos seus novos<br />

planos convi<strong>da</strong>ndo-o a que o acompanhasse. Hübl jazia enfermo no hospital e,<br />

irresoluto como era, admirou-se <strong>da</strong> súbita e brusca resolução do amigo. Doente<br />

e sem recursos, como empreender semelhante viagem? Como em sua resolução<br />

<strong>Clemente</strong> era inabalável, não pôde nem quis admitir as escusas e os<br />

pretextos do amigo; quando ao dinheiro, ele mesmo se incumbiria de arranjá-lo,<br />

quanto à saúde, Deus providenciaria. E assim foi. Thadeu Hübl restabeleceu-se<br />

e acompanhou <strong>Clemente</strong> a Roma.<br />

CAPÍTULO V<br />

14<br />

O santo Redentorista<br />

Em Roma — O Senhor será um deles. Luta entre os dois peregrinos — É<br />

recebido na <strong>Congregação</strong> Redentorista. — O noviciado — O espírito <strong>da</strong> <strong>Congregação</strong><br />

— A uva tentadora — Os noviços italianos — Alegria e profecia de<br />

Sto. Afonso — Profissão — Ordenação — Transpõe os Alpes.<br />

Os dois amigos chegaram a Roma, sem novi<strong>da</strong>de, no mês de setembro de<br />

1784. <strong>Clemente</strong>, nesse interim, havia tomado a resolução firme de ingressar<br />

em uma Ordem religiosa: mas por prudência diferiu a entra<strong>da</strong> para ter mais<br />

tempo de examinar primeiro o fim particular <strong>da</strong>s diversas Congregações, o fervor<br />

<strong>da</strong> observância regular e outras particulari<strong>da</strong>des que haveriam de influir na<br />

sua resolução definitiva. Em companhia de Thadeu percorreu a ci<strong>da</strong>de, visitou<br />

as igrejas célebres de Roma, observando sempre os religiosos, e in<strong>da</strong>gando de<br />

várias pessoas, o que sabiam <strong>da</strong>s diversas Ordens e Congregações que lá<br />

havia. Coisas edificantes ouviam eles sobre grande número de Congregações<br />

cujos membros aspiravam seriamente à perfeição, mas nenhuma delas conseguiu<br />

entusiasmar-lhes os corações. Foi o próprio Deus que se encarregou de<br />

indicar a <strong>Clemente</strong> o lugar, onde o queria.<br />

Numa tarde, depois <strong>da</strong>s visitas feitas aos grandes santuários conferiu com<br />

o amigo as impressões recebi<strong>da</strong>s durante o dia, e junto compuseram o programa<br />

<strong>da</strong>s visitas para o dia seguinte. <strong>Clemente</strong> teve subitamente uma idéia:<br />

“Thadeu, disse ele, a primeira igreja a que iremos amanhã, será aquela cujo<br />

sino ouvirmos primeiro”. Thadeu concordou.<br />

Na manhã seguinte era ain<strong>da</strong> escuro, quando ouviram o som melancólico<br />

de um pequeno sino, que os convi<strong>da</strong>va à igreja; levantaram-se depressa e foram.<br />

Era a pequena Igreja de <strong>São</strong> Julião, perto <strong>da</strong> Vila Caserta; entraram, pé<br />

por pé, e ouviram rezar; eram sacerdotes desconhecidos para eles, batinas<br />

pretas com colarinhos brancos e salientes; rezavam imóveis como se fossem<br />

estátuas de mármore; de joelhos, mãos postas, olhos baixos pareciam imersos<br />

em profun<strong>da</strong> contemplação; os padres estavam fazendo a meditação <strong>da</strong> manhã.<br />

Os dois amigos caíram também de joelhos pedindo a Deus, se dignasse<br />

manifestar-lhes sua santíssima vontade. Termina<strong>da</strong> a meditação, <strong>Clemente</strong> também<br />

se levantou com o coração a bater-lhe fortemente no peito. Ao sair <strong>da</strong><br />

igreja deu com um rapazinho, coroinha <strong>da</strong> Igreja de S. Julião, e perguntou-lhe:<br />

“Menino, que padres são esses que acabam de rezar agora nessa igreja?” —<br />

“<strong>São</strong> padres Redentoristas, disse o pequeno, e o senhor também será um deles”.<br />

Essas palavras do menino abalaram o coração do Servo de Deus e bani-

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