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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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urel escuro de ermitão, viam as suas esperanças em parte realiza<strong>da</strong>s. Os<br />

corações a transbor<strong>da</strong>r de contentamento, não se demoram na ci<strong>da</strong>de de Tívoli,<br />

transpõem o Anjo <strong>da</strong>s águas turbulentas e dirigem seus passos para o convento<br />

e a igreja, construídos na encosta <strong>da</strong> montanha, circun<strong>da</strong>dos de todos os<br />

lados, por magníficas oliveiras que adornavam a montanha inteira. Que bela<br />

igreja a <strong>da</strong> Madona coroa<strong>da</strong> com o diadema de ouro, tendo o Menino Deus em<br />

seus braços! Era a Madona de Quintiliolo, conheci<strong>da</strong> e venera<strong>da</strong> em to<strong>da</strong> a<br />

redondeza. Os novos ermitães foram fraternalmente recebidos pelos quatro irmãos<br />

que lá se santificavam na solidão. O coração de <strong>Clemente</strong>, tão sensível<br />

aos encantos <strong>da</strong> natureza e tão susceptível de emoções, quase não podia conter-se<br />

de contentamento aos pés <strong>da</strong> Virgem, na paisagem incomparável do<br />

Tívoli, no silêncio <strong>da</strong> sua cela, na misteriosa tranqüili<strong>da</strong>de do olival. Foi <strong>Clemente</strong><br />

quem se incumbiu de adornar a igreja e o altar <strong>da</strong> Virgem Santíssima. Depois<br />

de dedicar diariamente algumas horas ao cultivo do terreno que lhe coube por<br />

sorte, corria à igreja, que desejava sempre assea<strong>da</strong> e limpa, percorria o olival<br />

ou o jardim, em procura de flores frescas, para com elas mimosear o altar de<br />

sua queri<strong>da</strong> Mãe. Acendia com cui<strong>da</strong>do a lâmpa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Virgem, e no meio <strong>da</strong>s<br />

flores e <strong>da</strong>s luzes ofertava à sua Rainha o fogo do seu amor e as flores frescas,<br />

para com elas mimosear o altar de sua queri<strong>da</strong> Mãe. Acendia com cui<strong>da</strong>do a<br />

lâmpa<strong>da</strong> <strong>da</strong> Virgem, e no meio <strong>da</strong>s flores e <strong>da</strong>s luzes ofertava à sua Rainha o<br />

fogo do seu amor e as flores <strong>da</strong>s suas virtudes. Se de quando em quando<br />

alguém pela estra<strong>da</strong> solitária passava perto <strong>da</strong> igreja e do convento, <strong>Clemente</strong><br />

batia com a mão na janelinha de sua cela, e quando o vian<strong>da</strong>nte, sem saber<br />

donde vinha a sau<strong>da</strong>ção, perguntava quem é que o chamava, <strong>Clemente</strong> respondia:<br />

“É a Virgem de Quintiliolo”, e o vian<strong>da</strong>nte entrava na Igreja onde sau<strong>da</strong>va<br />

a Virgem implorando sua bênção para a viagem.<br />

Quando os romeiros iam ao ermitério para homenagear a Virgem, <strong>Clemente</strong><br />

recebia-os, acendia-lhes as velas rezando e cantando com os peregrinos.<br />

Assim escoavam-se os dias; <strong>Clemente</strong> rezava continuamente e tinha deveras<br />

para quem rezar. Se olhava para a direita, divisava ao longe através <strong>da</strong> espessa<br />

neblina a cúpula do grande Domo, a cobrir os restos mortais do pobre pescador<br />

<strong>da</strong> Galiléia, que com as armas <strong>da</strong> graça divina esmagara o paganismo romano,<br />

e ele de joelhos agradecia a Jesus o grande benefício <strong>da</strong> fé; se olhava para a<br />

esquer<strong>da</strong>, os seus olhos contemplavam o Anio que de rochedo em rochedo se<br />

precipitava espumante, formando cachoeiras e despenhando no abismo, e ele<br />

recor<strong>da</strong>va-se dos infelizes irmãos separados <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>deira Igreja, que do alto<br />

<strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de se haviam precipitado no abismo <strong>da</strong> heresia. E ele temia também<br />

por sua própria alma, que não estava livre dos perigos, era também homem, e<br />

por isso com santo temor e indizível humil<strong>da</strong>de se recomen<strong>da</strong>va<br />

encareci<strong>da</strong>mente à Virgem, para que lhe conservasse a fé tão firme como os<br />

rochedos que contemplava batidos do cau<strong>da</strong>loso rio; e quando, à noite, a lua<br />

projetava sobre a ci<strong>da</strong>de os seus meigos raios, cobrindo-a de um manto de<br />

prata, ele lá no jardim se ajoelhava meditando na dor imensa que oprimira o<br />

coração do Redentor, quando na véspera <strong>da</strong> sua morte, no jardim <strong>da</strong>s Oliveiras,<br />

oferecia o seu sangue pela redenção do homem, implorando o perdão para o<br />

mundo culpado. Essas cenas eram tão gratas ao seu coração e impressionavam<br />

tanto o seu espírito que, mesmo em sua avança<strong>da</strong> i<strong>da</strong>de, ain<strong>da</strong> se recor-<br />

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<strong>da</strong>va com sau<strong>da</strong>des do doce tempo <strong>da</strong> solidão do Tívoli. “Se soubésseis quão<br />

belo é o Tívoli! — dizia ele a seus discípulos mais tarde — lá podia-se rezar com<br />

o coração aberto, a alma sentia-se desprendi<strong>da</strong> do mundo e abismava-se to<strong>da</strong><br />

em Deus”.<br />

Seis meses durou o noviciado de <strong>Clemente</strong> em Tívoli. Embora tudo ali lhe<br />

satisfizesse o coração e lhe fizesse gozar a mais doce paz <strong>da</strong> alma, uma coisa<br />

havia a realizar-se e cumprir-se a qual, dia a dia, fazia maiores exigências a seu<br />

coração: era o desejo do sacerdócio, <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ativa, do apostolado, que converte<br />

as almas e as conduz ao Redentor. <strong>Clemente</strong> contava já 26 anos e o seu coração,<br />

ain<strong>da</strong> lhe fazia sentir, que ele seria um padre e que faria grandes coisas<br />

para Deus. Mas como? Deus o haveria de providenciar. Num belo dia, deixa<br />

<strong>Clemente</strong> na cela o hábito de ermitão e sem se despedir de ninguém, a não ser<br />

do bispo que ele acatava, desaparece e põe-se a caminho confiando na Providência<br />

e no bom coração dos que haveria de encontrar em seu trajeto.<br />

Em Viena voltou ao emprego antigo de padeiro, esperando que Deus lhe<br />

mostrasse o caminho do presbitério, e — oh! prodígio <strong>da</strong> bon<strong>da</strong>de divina! —<br />

desta vez o Senhor iria recompensar a confiança de seu fiel servo, tanto é certo<br />

que quem põe no Senhor a sua confiança, não será confundido eternamente.<br />

— Como no tempo anterior à sua i<strong>da</strong> a Tívoli, também agora, aos domingos,<br />

aju<strong>da</strong>va uma ou mais missas na Catedral de Santo Estevam em Viena com o<br />

recolhimento e a devoção de um anjo diante dos augustos mistérios dos nossos<br />

altares. Não havia na ci<strong>da</strong>de quem não se edificasse com tão exemplar procedimento<br />

de um jovem de vinte e poucos anos, i<strong>da</strong>de essa que costuma ser fatal<br />

para quase todos os moços, mormente nos grandes centros. Entre os maiores<br />

admiradores de <strong>Clemente</strong> contavam-se três senhoras solteiras de bastante i<strong>da</strong>de,<br />

pertencentes à nobreza e possuidoras de grande fortuna e de maior pie<strong>da</strong>de<br />

ain<strong>da</strong>; pertenciam à família von Maul. Aconteceu que um dia, quando as três<br />

senhoras solteiras de bastante i<strong>da</strong>de, pertencentes à nobreza e possuidoras de<br />

grande fortuna e de maior pie<strong>da</strong>de ain<strong>da</strong>; pertenciam à família von Maul. Aconteceu<br />

que um dia, quando as três senhoras saiam <strong>da</strong> igreja, depois de fin<strong>da</strong>s as<br />

sagra<strong>da</strong>s funções, começou a chover a cântaros e com tal abundância que as<br />

ruas ficaram alaga<strong>da</strong>s, obrigando as nobres <strong>da</strong>mas a esperar na porta <strong>da</strong> igreja.<br />

<strong>Clemente</strong> pelo mesmo motivo não pôde sair e como era um tanto acanhado,<br />

recostou-se a um canto <strong>da</strong> parede e esperou que o aguaceiro passasse. A hora<br />

já ia um tanto adianta<strong>da</strong> e o céu não cessava de derramar torrencialmente as<br />

águas. Compreendendo o embaraço <strong>da</strong>s nobres senhoras, <strong>Clemente</strong> aproximou-se<br />

delas com todo o respeito e depois de saudá-las atenciosamente, perguntou-lhes<br />

se não desejavam um carro para voltar à casa; as <strong>da</strong>mas aceitaram<br />

a oferta e <strong>Clemente</strong> imediatamente se pôs a correr debaixo <strong>da</strong> chuva torrencial<br />

em procura de cocheiro. Gratas àquela amabili<strong>da</strong>de, convi<strong>da</strong>m o moço a tomar<br />

assento no carro, e entretém com ele familiar palestra, perguntando-lhe por<br />

seus desejos e intenções; uma delas chegou a in<strong>da</strong>gar, se <strong>Clemente</strong> por acaso<br />

nutria desejos de ser sacerdote, pois que aju<strong>da</strong>va a missa com tanta devoção.<br />

Radiante de satisfação o humilde padeiro abriu o coração, manifestou-lhes a<br />

sua pobreza e completa falta de recursos, e em segui<strong>da</strong> narrou-lhes to<strong>da</strong> a sua<br />

vi<strong>da</strong> desde o banco escolar de Tasswitz e a sua esta<strong>da</strong> em Tívoli até aquele<br />

momento, em que esperava tudo <strong>da</strong> Providência. As ricas <strong>da</strong>mas sentiram-se

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