18.04.2013 Views

São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

pera de ferro em frente à Igreja <strong>da</strong>s Ursulinas, onde passou três anos; sempre<br />

que lhe era possível, aju<strong>da</strong>va a missa na Catedral ou na Igreja <strong>da</strong>s Ursulinas,<br />

que freqüentava com assidui<strong>da</strong>de. Era esse o seu procedimento e o seu recato<br />

em Viena, porque estava convencido de que um moço não se conserva inocente<br />

e puro numa ci<strong>da</strong>de grande a não ser por meio <strong>da</strong> oração e <strong>da</strong> freqüência dos<br />

sacramentos.<br />

Nesse lapso de tempo, <strong>Clemente</strong> havia lido muita coisa edificante sobre<br />

Roma, a ci<strong>da</strong>de dos papas, onde tantos mártires derramaram o seu sangue<br />

pela fé, a ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s belas igrejas, onde se conservam preciosas relíquias. O<br />

seu coração sentiu sau<strong>da</strong>des <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de eterna e <strong>Clemente</strong> resolveu viajar até<br />

lá. Se tantos jovens visitam as grandes capitais, onde se perdem e pervertem,<br />

porque é que ele não poderia também satisfazer a esse seu desejo ardente e<br />

derramar o coração sobre os tumultos dos santos Apóstolos e dos grandes<br />

papas? Manifesta esse seu intento a um dos seus melhores e mais fiéis amigos,<br />

Pedro Kunzmann e convi<strong>da</strong>-o para a viagem; faz por um tempo as maiores<br />

economias possíveis, e juntos parte para Roma, vencendo a distância to<strong>da</strong> a<br />

pé. Era uma ver<strong>da</strong>deira romaria de penitência; rezando em voz alta o rosário,<br />

que repetiam muitas vezes, cantavam também as la<strong>da</strong>inhas e outras orações à<br />

Nossa Senhora, e os hinos devotos que sabiam de cor. A impressão causa<strong>da</strong><br />

sobre as pessoas à beira <strong>da</strong> estra<strong>da</strong>, por onde os nossos romeiros passavam,<br />

era naturalmente diversa e, às vezes oposta; uns sacudiam a cabeça em sinal<br />

de desaprovação, outros, porém, edificavam-se com tamanha devoção; os peregrinos,<br />

porém, pouco ou na<strong>da</strong> se importavam com os comentários que se<br />

faziam. Eles só procuravam glorificar o Senhor e tornar-se dignos <strong>da</strong>s bênçãos<br />

divinas na ci<strong>da</strong>de eterna. Cansados de cantar e rezar, punham-se, às vezes, a<br />

contemplar a natureza, que se abria belíssima a seus olhos sob o sol encantador<br />

<strong>da</strong> Itália. Dos vinhedos admiráveis, dos campos ondulados de trigo, por<br />

entre as alcantila<strong>da</strong>s montanhas dos Alpes e dos Apeninos, seus olhos levantavam-se<br />

até Deus, autor dessas maravilhas estupen<strong>da</strong>s, dessas belezas encantadoras.<br />

Se uma ou outra vez lhes faltava agasalho, à noite, para descansarem<br />

seus membros fatigados, lembravam-se do Redentor e sobre a palha, ao relento,<br />

dormiam mais tranqüilos do que os reis em seus ricos palácios.<br />

Itália, paraíso <strong>da</strong> Europa! os nossos peregrinos exultaram quando, pela<br />

primeira vez, sentiram as auras perfuma<strong>da</strong>s e quentes <strong>da</strong> península. Era Deus<br />

que os abençoava do alto do céu; embora não conhecessem a língua italiana,<br />

na<strong>da</strong> lhes faltou e nenhum incidente menos agradável veio perturbar-lhes a paz<br />

e a tranqüili<strong>da</strong>de. Ao passo que se avizinhavam <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de Santa, os corações<br />

pulsavam-lhes com mais rapidez e calor dentro do peito. Mal avistaram, <strong>da</strong> última<br />

colina, a magnífica ci<strong>da</strong>de com suas quatrocentas igrejas e inúmeros santuários,<br />

pareceu-lhes entrar no paraíso. <strong>Clemente</strong> não resiste, cai de joelhos, reza<br />

e chora de alegria. Apenas chegados, põem-se a percorrer com devoção os<br />

santuários mais conhecidos implorando, em to<strong>da</strong> a parte, a força na fé, o amor<br />

sincero a Jesus e a perseverança no caminho do céu. Ah! eles não tinham ido a<br />

Roma em excursão científica para estu<strong>da</strong>rem os estilos <strong>da</strong>s igrejas e as galerias<br />

artísticas, mas só com o fim de desabafarem os corações e haurirem mais<br />

profundos sentimentos de fé.<br />

Depois de satisfeita a devoção, voltaram para a Áustria alegres e conten-<br />

11<br />

tes, e com razão, pois que o coração humano precisa de quanto em vez, dessas<br />

emoções íntimas que lhe servem de desabafo e ao mesmo tempo de animação.<br />

Chegados a Viena, entram novamente na “A pera de ferro”; mas que contraste<br />

de vi<strong>da</strong>! Roma com suas festas pomposas, com suas igrejas magníficas e seus<br />

altares suntuosos, com suas procissões solenes, impressionara os visitantes e<br />

ficara para sempre grava<strong>da</strong> em seus corações — e em Viena era tudo tão frio,<br />

as igrejas tão vazias, a vi<strong>da</strong> religiosa tão diminuta; as irman<strong>da</strong>des e as ordens<br />

religiosas aboli<strong>da</strong>s e o culto desprovido de seu esplendor antigo: em vez dos<br />

sermões substanciosos de outrora, ouviam-se agora do alto do púlpito somente<br />

palavras de humani<strong>da</strong>de e quejan<strong>da</strong>s expressões de filantropia que não satisfazem<br />

o coração.<br />

<strong>Clemente</strong> e Kunzmann sentiam-se mal em Viena; não podendo habituar-se<br />

com a vi<strong>da</strong> monótona <strong>da</strong> Capital austríaca pensavam em voltar outra vez para o<br />

Sul, afim de <strong>da</strong>rem expansão a seus sentimentos de pie<strong>da</strong>de. E quiçá, ser-lhesia<br />

possível lá consagrar-se a Deus na solidão; na Itália não se considerava<br />

crime a vi<strong>da</strong> de ermitão. Deixando a conversa cair repeti<strong>da</strong>s vezes sobre o assunto,<br />

animaram-se por fim e tomaram a resolução de voltar para a Itália, desta<br />

vez provavelmente para sempre. Chega<strong>da</strong> a hora <strong>da</strong> parti<strong>da</strong> foram levar suas<br />

despedi<strong>da</strong>s a “A pera de ferro”. Houve lágrimas e protestos do velho mestre que<br />

os não queria deixar partir; disposto a tudo para impedir a per<strong>da</strong> dos dois amigos,<br />

ofereceu a <strong>Clemente</strong> grande soma de dinheiro e sua única filha em casamento.<br />

Tudo porém em vão; <strong>Clemente</strong> aspirava a coisas mais eleva<strong>da</strong>s. Um<br />

último abraço e o sacrifício estava completo. <strong>Clemente</strong>, sempre generosos, caritativo<br />

e de mãos abertas, não possuía recursos para a viagem, mas, em compensação,<br />

o companheiro mais econômico do que ele, conseguira ajuntar uma<br />

quantia não desprezível. Como <strong>da</strong> primeira vez seguiram a pé, renovando as<br />

cenas comoventes <strong>da</strong> primeira viagem. Chegados em Roma, peregrinaram e<br />

rezaram a vontade, pois que já não havia pressa como <strong>da</strong> primeira vez; entretanto<br />

não podiam nem deviam esquecer que tinham ido em procura <strong>da</strong> solidão.<br />

Seis léguas distante de Roma salientava-se uma ci<strong>da</strong>de célebre, mais antiga do<br />

que a ci<strong>da</strong>de dos papas, de nome Tívoli com um ermitério de conhecido nome<br />

na Europa.<br />

Vão a Tívoli onde visitam o bispo Gregório Chiaramonti, Beneditino, futuro<br />

papa com o nome de Pio VII. Como o bispo era dotado de insignes virtudes e de<br />

uma grande prudência, não deixou de colocar ante os olhos dos dois alemães<br />

as dificul<strong>da</strong>des <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> solitária, que geralmente se enche de cruzes e sacrifícios,<br />

onde a alma sente muitas vezes a fúria <strong>da</strong>s tempestades e os assaltos<br />

freqüentes dos inimigos, segundo as palavras do Espírito Santo. “Filho, quando<br />

entrares no serviço de Deus... prepara a tua alma para a tentação, vi<strong>da</strong> de<br />

trabalhos, de oração, de desprendimentos e de contemplação. A resposta dos<br />

dois postulantes foi: “por amor de Jesus estamos dispostos a tudo”. Foi o próprio<br />

bispo quem lhes deu o hábito e lhes mudou os nomes para que se esquecessem<br />

completamente do século; João recebeu o nome de <strong>Clemente</strong>, e Pedro<br />

Kunzmann o de Manoel. É dessa ocasião em diante que o futuro Redentorista<br />

começou a assinar-se sempre <strong>Clemente</strong>, tendo por protetor <strong>São</strong> <strong>Clemente</strong> de<br />

Ancyra na Ásia, o qual derramou intrepi<strong>da</strong>mente o seu sangue em defesa <strong>da</strong><br />

santa fé, e cuja festa a Igreja comemora no dia 23 de novembro. Revestidos do

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!