São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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CAPÍTULO XXIV Suspirando pelo céu O cortejo das Virgens — Sempre a trabalhar — O auxiliar enfermo — Desgraça é só o pecado — Missa por uma benfeitora — Bela profecia — Recebe a extrema-unção — Obediência edificante — Vou para o meu retiro — Morte santa — Na câmara ardente — Sepultamento magnífico. Na igreja dos Minoritas o Servo do Deus estava uma vez a ouvir confissões e a reconciliar os pecadores com Deus. Terminado o trabalho restava ainda no templo apenas um homem que viu abrir-se, subitamente, a porta da igreja e entrar um cortejo de virgens em uniforme branco, todo adereçado de ricas flores, empunhando magníficas guirlandas, que agitavam no compasso, e assim caminharam até perto de Clemente que se achava sentado no confessionário; quando as Virgens passaram, o Servo de Deus inclinou-se profundamente com as palavras: “Sim, eu vou logo”, e elas desapareceram. Admirado de tão estranha cena o homem aproximou-se do Santo perguntando-lhe, qual a significação daquilo. “Fique quieto, disse Clemente, e não o conte a ninguém”. — Já havia algum tempo que Clemente se achava mal, o seu estado, porém, piorou consideravelmente no inverno de 1820. Embora atacado de fortes e violentas dores hemorroidais não cedia, atirando-se sempre ao trabalho; a febre tornou-se tão aguda que o pulso acusava 150 pulsações por minuto; no delírio Clemente recitava trechos inteiros dos Santos Padres, passagens da Sagrada Escritura, sem omitir uma única palavra nas citações. Passada a crise Clemente continuava seus trabalhos. No caminho que ia da sua residência a Santa Úrsula, encontravam-se por vezes, copiosas gotas de sangue; na igreja, embora sofresse dores atrozes, permanecia sentado no confessionário para não incomodar as irmãs. Os discípulos, tendo ante os olhos a constituição robusta e a energia indomável do Santo, julgaram-no fora de qualquer perigo; Clemente, porém, não se iludia sobre a proximidade de seu fim; a quem dizia que a vida lhe era necessária e que por isso ele não podia morrer, respondia com laconismo: “Deus não precisa de ninguém!” Entretanto o Santo definhava dia a dia; diminuíram-se as forças, mas não cessaram os trabalhos, que se lhe tornaram uma segunda natureza. Deus sabe provar as almas, e quando as quer fazer passar pelo crisol das tribulações não envia apenas uma cruz, mas uma multidão delas a oprimir o corpo e a alma. Enquanto Clemente gemia ao peso da enfermidade, enviou Deus uma doença grave ao Pe. Martinho Stark, único auxiliar de Clemente em que a igreja das Ursulinas; como em casa não havia empregados e nem irmãos leigos que o pudessem assistir, o pobre Clemente teve que fazer o papel de 102 enfermeiro, subindo e descendo constantemente as escadas para atender ao padre enfermo e ao povo que o reclamava. A um amigo disse uma vez o Santo referindo-se à enfermidade do Pe. Martinho Stark: “Não sei qual de nós está mais doente!” É escusado dizer que o trabalho de Clemente se duplicou com a doença do seu auxiliar. A 4 de março, sábado, achavam-se, à noite, reunidos os discípulos no quarto do Santo, para a conferência; Clemente ouviu-os de confissão; depois desse serviço começou a sentir o peso da enfermidade que o levaria ao túmulo. Nesse estado de prostração mandou ainda fazer a leitura, à mesa, com as observações que costumava entremear ao texto, porquanto o seu espírito conservavase vivo e fresco como nos outros dias. Durante a leitura dessa tarde, por exemplo, perguntou aos discípulos, qual o motivo porque no Antigo Testamento não se imolavam os peixes a Javé; como ninguém soubesse responder, ele mesmo disse: “É porque o peixe não tem voz para anunciar os louvores de Deus”, e tirou logo a conclusão, que para ele era sempre a coisa principal: “... os homens devem com mais razão louvar a Deus, porque não possuem só a voz, mas também o entendimento, e esses louvores manifestam-se sobretudo na oração em comum”. Os discípulos, notando a fraqueza física do Santo, quiseram ausentar-se um pouco mais cedo, mas ele os deteve dizendo: “Pouco se me dá, que eu vá dormir mais tarde”. No dia seguinte, 3.º domingo da quaresma, o Santo fez ainda um esforço e pregou pela última vez em sua vida; tomou por tema as contas, que cada um deve prestar a Deus, de todas as suas ações, dos favores e graças recebidas; uma sentença calou profundamente no ânimo de todos impressionando-os fortemente: “Se durante toda a minha vida eu tivesse sempre correspondido à graça, quanto bem Deus não poderia ter operado por mim!” Foi essa a sua palavra de despedida do alto do púlpito. Nesse dia e nos dois que se seguiram, o Santo trabalhou como se nada houvesse de anormal; apesar do frio extraordinário ia de manhã à igreja dos Minoritas e depois à das Ursulinas, ouvia as confissões, recebia as visitas, fazia, à noite, as reuniões e entretinha os rapazes. No dia 8, quarta-feira, celebrou pela última vez em Sta. Úrsula, e das 9 às 11 horas ouviu as confissões das religiosas. Antes de retirar-se chamou a Irmã Thadéa e disse-lhe: “Reze bastante por mim, que estou muito doente”, e deixou o convento para nunca mais voltar. “Em seguida, conta a Irmã, olhei para ele com o coração repassado de dor e pus-me a chorar, pois que não podia familiarizar-me com a idéia de que não o tornaria a ver; aquelas palavras eram as da despedida; o Servo de Deus parecia um cadáver, e a minha consternação tornou-se tanto maior, quando me recordei do que, há um mês atrás, ele me garantira que morreria brevemente... Pedi então ao Santo que me permitisse orar de modo especial pela cura do Pe. Martinho. “Sim, sim, disse ele, o Pe. Martinho sara logo, mas eu morrerei em breve”. Eu então continuei: “pedirei a Deus se digne conceder a V. Revma ainda muitos anos de vida e saúde”, ao que ele respondeu: “Não se faça a nossa vontade, mas a de Deus assim na terra como no céu”; mas, continuei, seria para nós grande desgraça, se tivéssemos de perder a V. Revma., e ele: — “Desgraça é só o pecado”. Para o dia 9 estava marcada na igreja dos Italianos uma missa solene de

Requiém pela princesa Jablonowska, que o Santo venerava como benfeitora generosa do convento de S. Beno em Varsóvia; em homenagem a essa insigne benfeitora Clemente fez um esforço heróico e foi a pé a dita igreja e cantou o Requiem; abateu-se, porém, de tal modo, que necessitou de um carro para voltar à sua residência. Entretanto Pe. Martinho sentia-se melhor e achava-se já fora de perigo; o próprio Pe. Clemente parecia restabelecer-se e recuperar as forças... mas infelizmente eram só aparências; o estado não tardou a agravar-se espantosamente desde a missa da princesa Jablonowska. O Servo de Deus jazia em seu leito de dores, longe dos seus confrades e quase fora da Congregação; o único confrade que o acompanhava estava guardando o leito, e ele sem um criado ou Irmão leigo que o assistisse! Os amigos, discípulos e penitentes do Santo não lhe podiam prestar seus serviços, por se acharem também ocupados fora. O Servo de Deus pouco se entretinha com os homens, porque se conservava sempre recolhido em oração aos pés de Jesus Crucificado, a quem oferecia as dores e sofrimentos, que o acabrunhavam. Foi numa dessas ocasiões que um dos discípulos do Santo, pensando no futuro da Congregação, expôs ao Servo de Deus as ingentes dificuldades que haveriam de ter para construir os conventos, devido à grande falta de recursos materiais; o Santo olhando para ele disse com gravidade: “Quereis edificar igrejas e construir conventos, e não tendes força para combater e refrear as paixões; tende paciência, Deus nos dará bastante conventos; pobre eu fui a Varsóvia, onde não encontrei morada nem recurso de qualidade alguma; um ano depois, possuía já tanto dinheiro que me foi possível distribuir diariamente esmolas aos pobres e matar a fome aos necessitados; — enquanto eu estiver vivo, não tereis conventos, mas depois da minha morte, te-los-eis em abundância”. Foi por essa época, que tomando a mão de Madlener, seu discípulo predileto, lhe disse “que consigo levava ao túmulo muitos segredos, que quisera comunicar-lh’os, mas não o fazia porque Madlener não podia guardar segredos”. As Ursulinas tinham uma empregada muito boa e fiel, por nome Mariana; mandaram-na a S. Clemente para se informar do estado de sua saúde; quando a pobrezinha viu o Servo de Deus em tão triste estado e em perigo de vida, desatou em pratos: “Mariana não chores, disse, em breve me acompanharás”. A empregada era robusta e não apresentava nenhum vestígio de enfermidade, e não obstante — poucos dias depois era um cadáver. Durante a última enfermidade o Servo de Deus recebeu relativamente poucas visitas; os amigos supunham que a enfermidade não fosse de morte e por isso não o queriam molestar; somente os penitentes, que desejavam algum conselho particular, iam ter com ele; mesmo no leito o Santo os reconciliava com Deus. Aos 13 de março o Dr. Veith achou conveniente dar-lhe a extrema-unção; o Pe. Madlener, depois de muito hesitar, aproximou-se de Clemente com a pergunta: “V. Revma. quer receber o seu Deus?” ao que o Santo respondeu corrigindo a expressão pouco dogmática: “A santa comunhão? sim, sim”. Chamaram o confessor, e durante a absolvição Clemente delirou, um pouco, repetindo as palavras da absolvição, como se ele fosse o confessor e não o penitente. A comunhão o Santo a recebeu com tocante devoção, permanecendo longo tem- 103 po de mãos postas, com o rosto voltado para o lado da parede, para maior recolhimento. Antes da sua morte teve o Santo algumas horas de sossego, e satisfeito pôs-se a cantar o seu hino predileto: “Tudo para a glória de Deus”. Ao entrar o Santo em agonia, que durou 2 horas, o seu rosto, aliás tranqüilo e sereno, cobriu-se de palidez dando sinais de indizíveis dores; Clemente pela veemência da dor erguia do leito quase continuamente, procurando alívio. Aquele espetáculo enchia de consternação e de compaixão os assistentes, que amargurados viam o Santo sofrer indizivelmente sem poderem aliviá-lo. Madlener na certeza de que aqueles movimentos, longe de dar ao Santo algum alívio, serviam apenas para aumentar os seus sofrimentos, aproximando-se do leito disselhe aos ouvidos: “Pe. Clemente, por obediência fique sossegado na cama”. O Santo obedeceu como uma criança; chamaram o confessor e, momentos depois, a tranqüilidade estampou-se novamente no rosto do Servo de Deus, cujos lábios se puseram outra vez em movimento para a oração. Chegou enfim o dia 15 de março. — Nesse dia sucedeu em Viena um fato singular. A família Biringer, cujo pai falecera há tempo, era dirigida do Santo, que a socorrera em muitos casos difíceis; a mãe mandou sua filha perguntar pela saúde do Santo; enquanto esta executava as ordens da mãe, teve a viúva uma visão clara: o Servo de Deus apareceu-lhe, sentou-se como de costume no sofá, queixou-se da falta de fé no mundo, mormente entre os funcionários e pessoas altamente colocadas, acrescentando três vezes: “vou para o meu retiro” e desapareceu. No correr da manhã reuniram-se diversos discípulos do Servo de Deus em sua residência; o Santo silencioso rezava de mãos postas. Chegou o meio-dia, e de todas as torres de Viena começaram os sinos a soar festivamente o Angelus Domini. Clemente fez um esforço para recolher as forças e disse aos presentes: “Rezai, estão batendo o Angelus”. Enquanto os presentes ajoelhados saudavam a Mãe de Deus, Clemente expirou placidamente para saudar no céu sua inesquecível e estremecida Mãe. No momento da morte um leve sorriso veio estampar-se em seu rosto, antes convulsionado pelo excesso da dor. Providência divina! — Nesse mesmo dia à tarde o Imperador assinou o decreto permitindo e aprovando a Congregação para a Áustria. Realizou-se com pontualidade a profecia do Santo. A impressão da morte de Clemente nos assistentes foi diversa: uns choravam, outros enchiam-se de uma santa alegria. As irmãs Ursulinas, reunidos para a refeição, ao ouvirem a notícia da morte do Servo de Deus, chorosas abandonaram o refeitório e dirigiram-se à igreja a fim de rezar pelo santo confessor. Os discípulos, que não contavam com aquele desfecho rápido, ficaram perplexos e confusos. O Núncio Leardi por sua vez escreveu a Gonsalvi: “O bom Pe. Clemente passou, ao meio-dia, à eternidade; todos os bons estão consternados com a perda dessa coluna da boa causa; ele é simplesmente insubstituível”. Aprontaram o quarto vazio do coadjutor no primeiro andar térreo e expuseram o corpo do Santo, vestido do hábito redentorista com uma bela estola roxa, em que estavam ricamente bordados os instrumentos da paixão e a imagem de Nossa Senhora das Dores. O rosto do Santo, que recuperara sua cor natural e os traços de serenidade com o sorriso admirável nos lábios, causava a todos a

CAPÍTULO XXIV<br />

Suspirando pelo céu<br />

O cortejo <strong>da</strong>s Virgens — Sempre a trabalhar — O auxiliar enfermo — Desgraça<br />

é só o pecado — Missa por uma benfeitora — Bela profecia — Recebe a<br />

extrema-unção — Obediência edificante — Vou para o meu retiro — Morte santa<br />

— Na câmara ardente — Sepultamento magnífico.<br />

Na igreja dos Minoritas o Servo do Deus estava uma vez a ouvir confissões<br />

e a reconciliar os pecadores com Deus. Terminado o trabalho restava ain<strong>da</strong> no<br />

templo apenas um homem que viu abrir-se, subitamente, a porta <strong>da</strong> igreja e<br />

entrar um cortejo de virgens em uniforme branco, todo adereçado de ricas flores,<br />

empunhando magníficas guirlan<strong>da</strong>s, que agitavam no compasso, e assim<br />

caminharam até perto de <strong>Clemente</strong> que se achava sentado no confessionário;<br />

quando as Virgens passaram, o Servo de Deus inclinou-se profun<strong>da</strong>mente com<br />

as palavras: “Sim, eu vou logo”, e elas desapareceram. Admirado de tão estranha<br />

cena o homem aproximou-se do Santo perguntando-lhe, qual a significação<br />

<strong>da</strong>quilo. “Fique quieto, disse <strong>Clemente</strong>, e não o conte a ninguém”. —<br />

Já havia algum tempo que <strong>Clemente</strong> se achava mal, o seu estado, porém,<br />

piorou consideravelmente no inverno de 1820. Embora atacado de fortes e violentas<br />

dores hemorroi<strong>da</strong>is não cedia, atirando-se sempre ao trabalho; a febre<br />

tornou-se tão agu<strong>da</strong> que o pulso acusava 150 pulsações por minuto; no delírio<br />

<strong>Clemente</strong> recitava trechos inteiros dos Santos Padres, passagens <strong>da</strong> Sagra<strong>da</strong><br />

Escritura, sem omitir uma única palavra nas citações. Passa<strong>da</strong> a crise <strong>Clemente</strong><br />

continuava seus trabalhos. No caminho que ia <strong>da</strong> sua residência a Santa<br />

Úrsula, encontravam-se por vezes, copiosas gotas de sangue; na igreja, embora<br />

sofresse dores atrozes, permanecia sentado no confessionário para não incomo<strong>da</strong>r<br />

as irmãs. Os discípulos, tendo ante os olhos a constituição robusta e a<br />

energia indomável do Santo, julgaram-no fora de qualquer perigo; <strong>Clemente</strong>,<br />

porém, não se iludia sobre a proximi<strong>da</strong>de de seu fim; a quem dizia que a vi<strong>da</strong><br />

lhe era necessária e que por isso ele não podia morrer, respondia com laconismo:<br />

“Deus não precisa de ninguém!” Entretanto o Santo definhava dia a dia; diminuíram-se<br />

as forças, mas não cessaram os trabalhos, que se lhe tornaram uma<br />

segun<strong>da</strong> natureza.<br />

Deus sabe provar as almas, e quando as quer fazer passar pelo crisol <strong>da</strong>s<br />

tribulações não envia apenas uma cruz, mas uma multidão delas a oprimir o<br />

corpo e a alma. Enquanto <strong>Clemente</strong> gemia ao peso <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong>de, enviou<br />

Deus uma doença grave ao Pe. Martinho Stark, único auxiliar de <strong>Clemente</strong> em<br />

que a igreja <strong>da</strong>s Ursulinas; como em casa não havia empregados e nem irmãos<br />

leigos que o pudessem assistir, o pobre <strong>Clemente</strong> teve que fazer o papel de<br />

102<br />

enfermeiro, subindo e descendo constantemente as esca<strong>da</strong>s para atender ao<br />

padre enfermo e ao povo que o reclamava.<br />

A um amigo disse uma vez o Santo referindo-se à enfermi<strong>da</strong>de do Pe.<br />

Martinho Stark: “Não sei qual de nós está mais doente!” É escusado dizer que o<br />

trabalho de <strong>Clemente</strong> se duplicou com a doença do seu auxiliar.<br />

A 4 de março, sábado, achavam-se, à noite, reunidos os discípulos no quarto<br />

do Santo, para a conferência; <strong>Clemente</strong> ouviu-os de confissão; depois desse<br />

serviço começou a sentir o peso <strong>da</strong> enfermi<strong>da</strong>de que o levaria ao túmulo. Nesse<br />

estado de prostração mandou ain<strong>da</strong> fazer a leitura, à mesa, com as observações<br />

que costumava entremear ao texto, porquanto o seu espírito conservavase<br />

vivo e fresco como nos outros dias.<br />

Durante a leitura dessa tarde, por exemplo, perguntou aos discípulos, qual<br />

o motivo porque no Antigo Testamento não se imolavam os peixes a Javé; como<br />

ninguém soubesse responder, ele mesmo disse: “É porque o peixe não tem voz<br />

para anunciar os louvores de Deus”, e tirou logo a conclusão, que para ele era<br />

sempre a coisa principal: “... os homens devem com mais razão louvar a Deus,<br />

porque não possuem só a voz, mas também o entendimento, e esses louvores<br />

manifestam-se sobretudo na oração em comum”. Os discípulos, notando a fraqueza<br />

física do Santo, quiseram ausentar-se um pouco mais cedo, mas ele os<br />

deteve dizendo: “Pouco se me dá, que eu vá dormir mais tarde”.<br />

No dia seguinte, 3.º domingo <strong>da</strong> quaresma, o Santo fez ain<strong>da</strong> um esforço e<br />

pregou pela última vez em sua vi<strong>da</strong>; tomou por tema as contas, que ca<strong>da</strong> um<br />

deve prestar a Deus, de to<strong>da</strong>s as suas ações, dos favores e graças recebi<strong>da</strong>s;<br />

uma sentença calou profun<strong>da</strong>mente no ânimo de todos impressionando-os fortemente:<br />

“Se durante to<strong>da</strong> a minha vi<strong>da</strong> eu tivesse sempre correspondido à<br />

graça, quanto bem Deus não poderia ter operado por mim!” Foi essa a sua<br />

palavra de despedi<strong>da</strong> do alto do púlpito. Nesse dia e nos dois que se seguiram,<br />

o Santo trabalhou como se na<strong>da</strong> houvesse de anormal; apesar do frio extraordinário<br />

ia de manhã à igreja dos Minoritas e depois à <strong>da</strong>s Ursulinas, ouvia as<br />

confissões, recebia as visitas, fazia, à noite, as reuniões e entretinha os rapazes.<br />

No dia 8, quarta-feira, celebrou pela última vez em Sta. Úrsula, e <strong>da</strong>s 9 às<br />

11 horas ouviu as confissões <strong>da</strong>s religiosas. Antes de retirar-se chamou a Irmã<br />

Thadéa e disse-lhe: “Reze bastante por mim, que estou muito doente”, e deixou<br />

o convento para nunca mais voltar. “Em segui<strong>da</strong>, conta a Irmã, olhei para ele<br />

com o coração repassado de dor e pus-me a chorar, pois que não podia familiarizar-me<br />

com a idéia de que não o tornaria a ver; aquelas palavras eram as <strong>da</strong><br />

despedi<strong>da</strong>; o Servo de Deus parecia um cadáver, e a minha consternação tornou-se<br />

tanto maior, quando me recordei do que, há um mês atrás, ele me garantira<br />

que morreria brevemente... Pedi então ao Santo que me permitisse orar<br />

de modo especial pela cura do Pe. Martinho. “Sim, sim, disse ele, o Pe. Martinho<br />

sara logo, mas eu morrerei em breve”. Eu então continuei: “pedirei a Deus se<br />

digne conceder a V. Revma ain<strong>da</strong> muitos anos de vi<strong>da</strong> e saúde”, ao que ele<br />

respondeu: “Não se faça a nossa vontade, mas a de Deus assim na terra como<br />

no céu”; mas, continuei, seria para nós grande desgraça, se tivéssemos de<br />

perder a V. Revma., e ele: — “Desgraça é só o pecado”.<br />

Para o dia 9 estava marca<strong>da</strong> na igreja dos Italianos uma missa solene de

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