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São Clemente Maria Hofbauer (Insigne propagador da Congregação

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CAPÍTULO III<br />

Peregrinações<br />

O ermitão de Mühlfrauen — As romarias e os romeiros — Abandona o<br />

ermitério — Vai à Boêmia e volta a Viena — Romaria à Itália — Volta à Áustria e<br />

torna novamente a Roma — Tívoli — Outra vez em Viena — As senhoras von<br />

Maul.<br />

Os Premonstratenses, também chamados Norbertinos, foram fun<strong>da</strong>dos por<br />

S. Norberto em 1120 na França. Têm por fim unir a ativi<strong>da</strong>de paroquial às ocupações<br />

do claustro. A ordem foi aprova<strong>da</strong> por Honório II em 1126. Dividem-se<br />

em sacerdotes Cônegos e leigos conversos. Têm o hábito de lã branca. A ordem<br />

espalhou-se rapi<strong>da</strong>mente na Europa, mormente na França e Alemanha.<br />

Em 1250 já contava com 1.200 residências. A reforma protestante fechou muitos<br />

conventos na Alemanha, e a revolução francesa só poupou algumas residências<br />

na Áustria e na Hungria. Desde 1834, porém, recomeçou a Ordem a<br />

florescer e em 1900 já possuía 5 províncias com 17 abadias e alguns prioratos.<br />

O abade geral é eleito; em 1905 tomavam mais de 182 paróquias e dirigiam 7<br />

ginásios.<br />

Terminados os estudos <strong>da</strong> abadia, achava-se outra vez <strong>Clemente</strong> em sérias<br />

dificul<strong>da</strong>des. A escola abacial tinha só quatro classes. Para entrar na Ordem<br />

dos Premonstratenses, não sentia vocação; para continuar os estudos fora, não<br />

possuía os meios necessários. Que fazer em semelhantes conjunturas? Deus<br />

mostrou-lhe um caminho inteiramente novo. <strong>Clemente</strong> será ermitão. Sem mais<br />

hesitar atravessou o rio e no meio <strong>da</strong> floresta construiu uma ermi<strong>da</strong> pequena e<br />

simples, não longe <strong>da</strong> povoação <strong>da</strong> Mühlfrauen. De manhã ia todos os dias à<br />

ci<strong>da</strong>de ouvir a missa, recebia a santa comunhão, e depois voltava ao trabalho, à<br />

oração ou à leitura de algum livro piedoso; um pe<strong>da</strong>ço de pão com alguns poucos<br />

legumes constituía a sua refeição cotidiana. Aos domingos, porém, e dias<br />

santos, <strong>Clemente</strong> quase não se ausentava <strong>da</strong> igreja; sentia-se lá tão feliz parecendo-lhe<br />

achar-se na antecâmara do paraíso. Na solidão <strong>da</strong> floresta sua alma<br />

expandia-se tranqüila aos encantos <strong>da</strong> natureza, cantava com os passarinhos,<br />

com as águas e as árvores sacudi<strong>da</strong>s pelo vento, os louvores e as magnificências<br />

de Deus; e quando a natureza repousava nas trevas que envolviam a terra,<br />

<strong>Clemente</strong> ain<strong>da</strong> rezava, até que o sono lhe abatesse as pálpebras sobre os<br />

olhos. A vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta, porém, não era sempre assim tão poética; dias chuvosos<br />

umedeciam-lhe, por vezes, a pobre choupana e as tempestades com seus<br />

trovões desencadeavam-se sobre as árvores, curvando os possantes troncos,<br />

e não raramente os furacões furiosos <strong>da</strong>s tentações oprimiam-lhe violentamente<br />

a alma: <strong>Clemente</strong>, então, humilhava-se, abraçava a cruz alegre por poder<br />

10<br />

sofrer alguma coisa por Nosso Senhor.<br />

As grandes virtudes do ermitão já não podiam permanecer ocultas; espalharam-se<br />

pelos arredores e atraíram bem depressa a atenção e a admiração<br />

dos moradores <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de e <strong>da</strong>s circunvizinhanças, e em geral de todos quantos<br />

iam visitar a Igreja de Nossa Senhora de Mühlfrauen. Os peregrinos, depois de<br />

satisfeita a devoção ao pé do altar <strong>da</strong> Virgem, iam procurar o ermitão, levandolhe<br />

presentes, o que <strong>Clemente</strong> agradecia retribuindo tão finas gentilezas com<br />

bons conselhos, úteis admoestações e santos pensamentos. Nas horas vagas,<br />

<strong>Clemente</strong> confeccionava cruzes de madeira extraí<strong>da</strong> <strong>da</strong> floresta; com esse trabalho<br />

mostrava aos peregrinos sua gratidão, exortando-os a carregarem sempre<br />

e com ver<strong>da</strong>deiro amor e espírito de sacrifício a cruz que Deus lhes impunha<br />

sobre os ombros. Não raras vezes ele mesmo tomava uma cruz grande e<br />

pesa<strong>da</strong>, que se conservava encosta<strong>da</strong> à porta, e carregava-a acompanhado<br />

dos peregrinos, ca<strong>da</strong> um com sua cruz às costas, até ao santuário do Bom<br />

Jesus atado à coluna. Nessa romaria piedosa cantavam e rezavam edificando a<br />

todos e despertando neles sentimentos de santa compunção e arrependimento.<br />

Eram tempos de fé e de simplici<strong>da</strong>de; que contraste com a vi<strong>da</strong> moderna!<br />

Hoje em dia, em vez do Santuário, visitam-se em geral os lugares de divertimentos;<br />

em vez <strong>da</strong> cruz carregam-se os jovens de perfumes; em vez <strong>da</strong> penitência<br />

procuram a sensuali<strong>da</strong>de. Mas, que contraste também no interior <strong>da</strong> alma!<br />

<strong>Clemente</strong> e os seus romeiros sentiam-se felizes no meio <strong>da</strong>s mortificações,<br />

porque gozavam a paz <strong>da</strong> consciência, enquanto que os modernos não se sentem<br />

bem nas on<strong>da</strong>s dos prazeres, porquanto a paz <strong>da</strong> alma só se encontra nos<br />

corações inocentes e puros, e a inocência não medra nos divertimentos que<br />

enervam, mas na mortificação que eleva o coração.<br />

Apenas um ano pôde <strong>Clemente</strong> gozar as doçuras <strong>da</strong> solidão. Naquele tempo,<br />

como agora, os governantes não tinham compreensão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de sacrifício<br />

e de devoção; a oração era sinônimo de ociosi<strong>da</strong>de, e o ermitão passava por<br />

mandrião e preguiçoso. Entretanto os ermitães eram os melhores ci<strong>da</strong>dãos,<br />

que nas horas vagas se dedicavam ao cultivo <strong>da</strong> terra, empregando assim o<br />

seu tempo melhor do que centenas ou milhares de ricaços que vivem a custa<br />

dos pobres, e do que numerosos escritores que envenenam milhares de corações<br />

com seus escritos heréticos ou imorais. Um decreto imperial proibiu na<br />

Áustria a vi<strong>da</strong> eremítica, como já havia proibido também os conventos. <strong>Clemente</strong>,<br />

que na<strong>da</strong> se simpatizava com a visita importuna <strong>da</strong> polícia, abandonou a<br />

pobre choupana e disse adeus à doce solidão. Indeciso vai, sem saber bem<br />

porque, à ci<strong>da</strong>de onde nascera seu pai. Era o dedo <strong>da</strong> Providência que para lá<br />

o guiava, pois que destinando-o para o apostolado <strong>da</strong> Polônia, queria que lá<br />

aprendesse a língua necessária para a sua futura ativi<strong>da</strong>de em prol <strong>da</strong>s almas.<br />

Pobre <strong>Clemente</strong>! as portas do sacerdócio continuavam-lhe fecha<strong>da</strong>s; a vi<strong>da</strong><br />

solitária tornara-se-lhe impossível; que fazer? Não havia outro expediente senão<br />

voltar ao ofício antigo, à vi<strong>da</strong> de padeiro. Homem de resoluções firmes, não<br />

trepidou; afivelou a mochila, tomou a bengala e a pé caminhou até Viena, que<br />

ain<strong>da</strong> não conhecia. Nem por sonhos lhe passava pela mente, que um dia os<br />

vienenses haveriam de pronunciar com respeito o seu nome, gloriando-se de<br />

tê-lo por apóstolo e protetor. Não tardou a encontrar colocação numa pa<strong>da</strong>ria A

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