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Linhas Gerais sobre a História da Universidade Conimbricense

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Carlos Jaca<br />

<strong>Linhas</strong> <strong>Gerais</strong> <strong>sobre</strong> a <strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>Conimbricense</strong>.<br />

Das suas origens à Reforma Universitária Pombalina de 1772.<br />

Parte 6<br />

A Reforma pombalina dos Estudos.<br />

Visita do Marquês a Coimbra<br />

Introdução<br />

Antes de mais, convém sublinhar que, quando D. João V faleceu em<br />

1750, Portugal encontrava-se em grave situação económica apesar <strong>da</strong> imensa<br />

riqueza em ouro, diamantes e pedras preciosas que nos chegava do Brasil.<br />

Entre os problemas de vária ordem que exigiam solução urgente<br />

<strong>sobre</strong>ssaía o <strong>da</strong> modernização do nosso aparelho administrativo do qual muitos<br />

outros dependiam. O país continuava a governar-se apoiado em estruturas<br />

ultrapassa<strong>da</strong>s, desde há muito, e que agora se mostravam quase totalmente<br />

caducas, para responderem às exigências de to<strong>da</strong> a activi<strong>da</strong>de comercial e<br />

ultramarina, e que nos últimos dois séculos tinham garantido notável<br />

incremento.<br />

Nos últimos anos de vi<strong>da</strong> de D. João V já era bem visível a necessi<strong>da</strong>de<br />

premente de levar a cabo profun<strong>da</strong>s alterações na máquina estatal, porém a<br />

prolonga<strong>da</strong> doença do rei, durante os últimos dez anos do seu reinado terão<br />

agravado ain<strong>da</strong> mais a situação do país.<br />

O sucessor, seu filho, D. José, ao subir ao trono tomou, de imediato, a<br />

decisão de constituir um Gabinete ministerial com homens que lhe<br />

parecessem, capazes de <strong>da</strong>r a volta às estruturas <strong>da</strong> governação anterior,<br />

ineficiente por hábitos de rotina, que tomasse as providências capazes de<br />

implantar as novas estruturas administrativas que o tempo, desde há muito,<br />

exigia, mesmo que tais providências viessem a ferir muitos interesses<br />

soli<strong>da</strong>mente implantados, como era o caso dos nobres e <strong>da</strong> Companhia de<br />

Jesus.<br />

1


Carlos Jaca<br />

Assim, D. José, certamente também aconselhado, constituiu um<br />

Gabinete formado por três Secretários de Estado: Negócios do Reino,<br />

Negócios do Ultramar e Marinha, e Negócios Estrangeiros e <strong>da</strong> Guerra. Esta<br />

última pasta foi sobraça<strong>da</strong> por um homem já amadurecido, com 51 anos,<br />

apadrinhado por certas personali<strong>da</strong>des influentes, e recomen<strong>da</strong>do como<br />

personali<strong>da</strong>de austera, tenaz e decidi<strong>da</strong>.<br />

Tratava-se de Sebastião José de Carvalho e<br />

Melo, futuro Conde de Oeiras e Marquês de<br />

Pombal, e que tinha desempenhado,<br />

anteriormente, funções diplomáticas em<br />

Londres e Viena de Áustria.<br />

Apesar de muitos juízos serenos,<br />

objectivos e bem fun<strong>da</strong>mentados, Carvalho e<br />

Melo é ain<strong>da</strong> hoje uma figura muito discuti<strong>da</strong>,<br />

e tudo parece indicar que jamais deixará de o<br />

ser, porquanto a sua vi<strong>da</strong> presta-se a várias<br />

perspectivas de análise, desde a puramente biográfica, tipológica e, <strong>sobre</strong>tudo,<br />

como governante do despotismo “iluminado” ou, ain<strong>da</strong>, ao debate <strong>sobre</strong> a sua<br />

orientação política, económica, social, diplomática e cultural.<br />

A esta<strong>da</strong> diplomática de Sebastião José de Carvalho e Melo em Londres<br />

e Viena de Áustria poderá ter sensibilizado o futuro Marquês de Pombal a<br />

tomar em consideração as ideias reformadoras prega<strong>da</strong>s por homens<br />

reconheci<strong>da</strong>mente prestigiados nos centros <strong>da</strong> elite cultural europeia – refiro-<br />

me a Luís António Verney, Jacob de Castro Sarmento e António Nunes Ribeiro<br />

Sanches. E a prova é que, com ligeiras modificações de técnica dispositiva,<br />

são as preciosas directrizes dos referidos e ilustres “estrangeirados” que<br />

orientam os elaboradores do “Compendio Histórico” e dos novos “Estatutos<br />

Universitários”.<br />

A reforma universitária pombalina de 1772, factor marcante na <strong>História</strong><br />

<strong>da</strong> Cultura Portuguesa, é talvez a obra de mais incontestável mérito do<br />

Marquês de Pombal. Sob este aspecto, releve-se a honesti<strong>da</strong>de e isenção<br />

exemplares demonstra<strong>da</strong>s pela denomina<strong>da</strong> corrente antipombalista – homens<br />

que, considerando Carvalho e Melo “persona non grata”, reconheceram o<br />

2


mérito ao obreiro <strong>da</strong> inovadora, embora já tardia, reforma que pretendeu<br />

modernizar a mais antiga Universi<strong>da</strong>de portuguesa.<br />

Carlos Jaca<br />

Quer se queira quer não, o polémico estadista activou o movimento<br />

cultural de carácter iluminista, <strong>da</strong>ndo lugar a um espírito científico em moldes<br />

metodológicos diferentes e de acordo com o espírito racionalista <strong>da</strong> época.<br />

Com efeito, no seu projecto de reforma do ensino, e particularmente no<br />

projecto reformador universitário, «as coordena<strong>da</strong>s foram-lhe dita<strong>da</strong>s pelo<br />

pensamento iluminista que soube assimilar nas suas esta<strong>da</strong>s pelo estrangeiro,<br />

mas fun<strong>da</strong>mentalmente pelas influências de muitos portugueses que na Europa<br />

e no País presenciavam, participavam e desejavam uma ruptura cultural com<br />

um passado dogmático e estático…Ao apresentar nos Estatutos de 1772 a<br />

reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, Pombal, por influência de vários “iluminados”,<br />

introduz no ensino uma mu<strong>da</strong>nça que apesar de tudo tentou ser, e em parte foi,<br />

a substituição <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de «medieval», obscura e dogmática, pela<br />

Universi<strong>da</strong>de racionalista, experimental e jusnaturalista». (1)<br />

Certo que a reforma pela Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> mental portuguesa é<br />

tardia em relação aos vinte e dois anos que Pombal já levava de governo, facto<br />

que parece perfeitamente aceitável se se quiser levar em conta que outras<br />

preocupações o assoberbavam.<br />

Para além <strong>da</strong> pesa<strong>da</strong> herança (leve em ouro brasileiro), lega<strong>da</strong> pelo<br />

reinado anterior, Carvalho e Melo tinha sido abalado pelo terramoto de 1755 e<br />

consequentes cui<strong>da</strong>dos de reedificação <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de; eram os conflitos internos e<br />

externos que careciam de rápi<strong>da</strong> e eficaz solução; eram os assuntos de<br />

natureza comercial, como a fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s grandes Companhias monopolistas;<br />

a reforma e criação de organismos do Estado; a intensa activi<strong>da</strong>de diplomática<br />

desenvolvi<strong>da</strong> pelo antigo Conde de Oeiras acerca <strong>da</strong> Companhia de Jesus,<br />

problema, note-se, com repercussões a nível internacional, acrescentando<br />

ain<strong>da</strong> que o novo ministro tinha entre mãos uma complica<strong>da</strong> legislação que não<br />

podia padecer demora.<br />

Efectivamente, só depois de liberto de to<strong>da</strong>s estas situações Pombal<br />

poderia lançar as bases <strong>da</strong> grande reforma, começando pela organização, ou<br />

reorganização, dos Estudos Menores. Urgia vencer muitas dificul<strong>da</strong>des.<br />

3


Expulsão dos jesuítas e reforma dos Estudos Menores.<br />

Carlos Jaca<br />

Prioritária e melindrosa questão era anular a influência jesuítica,<br />

incluindo mesmo a sua expulsão, golpe que iria alterar todo o sistema <strong>da</strong><br />

instrução pública.<br />

Quando D. José subiu ao trono, a maior parte do ensino que hoje<br />

chamaríamos secundário estava confiado à Companhia de Jesus. Havia,<br />

ain<strong>da</strong>, alguns colégios dirigidos pela Congregação<br />

do Oratório, <strong>sobre</strong>tudo desde o reinado de D. João<br />

V, e cuja pe<strong>da</strong>gogia tendia delibera<strong>da</strong>mente a<br />

rebater e superar a influência dominante <strong>da</strong><br />

Companhia. Refira-se, também, que em algumas<br />

ci<strong>da</strong>des ou terras de maior importância, onde não<br />

havia jesuítas ou oratorianos, existiam algumas<br />

escolas geralmente pequenas e quase<br />

rudimentares, leccionando especialmente o Latim,<br />

base de todo o ensino <strong>da</strong> época. Acrescente-se, ain<strong>da</strong>, a existência de alguns<br />

professores, denominados particulares, «que ministravam o ensino individual<br />

ou a poucos discípulos, especialmente filhos de grandes senhores, que não<br />

frequentavam as escolas públicas, ou mesmo a outros rapazes, a quem<br />

<strong>da</strong>vam lições, em geral nas próprias casas. Mas todos estes alunos<br />

constituíam uma pequena minoria, comparados com os que frequentavam as<br />

aulas <strong>da</strong> Companhia de Jesus. Também havia algumas escolas dos institutos<br />

religiosos, mas geralmente reserva<strong>da</strong>s aos seus membros». (2)<br />

Foi, de facto, pelo ensino secundário que Pombal iniciou as suas<br />

reformas <strong>da</strong> instrução. E na<strong>da</strong> há de estranho nisso, porquanto a reforma dos<br />

Estudos Menores era a base do Ensino Superior e o remate lógico <strong>da</strong> guerra<br />

de extermínio contra os jesuítas.<br />

A Companhia era poderosa e influente. E, se já não predominava tão<br />

completamente no ensino como na política, conservava ain<strong>da</strong> uma situação<br />

privilegia<strong>da</strong> em ambos os sectores quando Carvalho e Melo tomou as rédeas<br />

do Poder. Parece, dizem, que os jesuítas tinham sabido sempre tão bem<br />

coordenar as suas funções de ensino e de governo, que eles ensinavam para<br />

4


governar e governavam para poderem estender mais longe o seu ensino e,<br />

portanto, a sua influência.<br />

Carlos Jaca<br />

Porém, tudo se conjugava para Sebastião José, mediante os trunfos de<br />

que dispunha, <strong>da</strong>r luta e levar de venci<strong>da</strong> os «filhos de Santo Inácio».<br />

Empolava-se, ou considerava-se relevante, que os jesuítas se haviam<br />

rebelado contra a soberania portuguesa no Sul do Brasil por via de uma<br />

questão de delimitações contra as vizinhas colónias espanholas; o processo<br />

como tinham interferido e explorado o terramoto, considerando tal calami<strong>da</strong>de<br />

como um castigo de Deus por causa <strong>da</strong> dominação pombalina; a<br />

responsabili<strong>da</strong>de que Pombal lhes atribuía na tentativa de regicídio. E mais: os<br />

jesuítas haviam-se erguido contra as reformas pombalinas de carácter<br />

económico a propósito <strong>da</strong> Companhia do Alto Douro, chegando o padre<br />

Balester a afirmar do alto do púlpito que «quem tivesse relações com<br />

semelhante Companhia não podia fazer parte <strong>da</strong> Companhia de Nosso Senhor<br />

Jesus Cristo».<br />

Essa luta contra a Ordem é testemunha<strong>da</strong> por violento requisitório onde<br />

Carvalho e Melo, em colaboração com Seabra <strong>da</strong> Silva, no dizer de alguns<br />

historiadores, revela uma espantosa sagaci<strong>da</strong>de, espírito de sequência e<br />

aptidão jurídica: sob o aspecto interno, Pombal trata o problema como se<br />

tratasse de uma questão de ordem pública com a rapidez e a energia de que já<br />

havia <strong>da</strong>do provas por ocasião do terramoto; sob o ponto de vista<br />

internacional, a questão foi trata<strong>da</strong> directamente com Roma e com os<br />

governos de Espanha e França, de tal maneira que, em 1759, pela Lei de 3 de<br />

Setembro, foram os regulares <strong>da</strong> Companhia de Jesus “desnaturalizados,<br />

proscritos e exterminados do Reino de Portugal, sendo os seus bens<br />

confiscados para a Coroa».<br />

Para chegar a tal desiderato, Carvalho lançou mão de todos os meios.<br />

De alguma coisa havia de servir a prática e a astúcia diplomática adquiri<strong>da</strong>s em<br />

Viena de Áustria, para além de não desconhecer, certamente, que Luís António<br />

Verney, em 1746, imprimira uma proposta radical de remodelação pe<strong>da</strong>gógica<br />

e de mentali<strong>da</strong>des, onde a Companhia de Jesus era a instituição mais visa<strong>da</strong> e<br />

indirectamente responsabiliza<strong>da</strong> por to<strong>da</strong> a orientação ou estagnação do<br />

ensino.<br />

Considere-se, no entanto, que já antes <strong>da</strong> Lei de 3 de Setembro, a Junta<br />

5


de Inconfidência por alvará de 28 de Junho privara os jesuítas de exercerem o<br />

ensino, sendo extintas as suas classes e lança<strong>da</strong>s as bases ou Instruções para<br />

os novos Estudos de Gramática Latina, Grega, Hebraica e de Retórica; no<br />

preâmbulo desse alvará, fazia-se uma rápi<strong>da</strong> crítica <strong>da</strong> decadência em que se<br />

achavam os estudos secundários sob a disciplina dos jesuítas.<br />

Carlos Jaca<br />

Obviamente, não bastava expulsar os jesuítas <strong>da</strong>s escolas. Era preciso<br />

fun<strong>da</strong>r um ensino médio, que não existia fora <strong>da</strong> Companhia, e criar receita<br />

para pagar as despesas de um ensino que deixava de ser gratuito no que dizia<br />

respeito aos mestres. É neste ponto que se iniciariam os esforços para a<br />

reforma pe<strong>da</strong>gógica que se impunha de um modo inadiável.<br />

Assim, fecha<strong>da</strong>s as escolas, era um rude golpe que Pombal vibrava na<br />

Companhia, mas também era uma grave obrigação que contraía para com o<br />

progresso científico do seu país e para com a civilização do seu tempo.<br />

Sebastião de Carvalho viu bem a importância <strong>da</strong> questão, porquanto<br />

não podia, nem devia, man<strong>da</strong>r fechar os colégios dos jesuítas sem que,<br />

imediatamente, providenciasse para que outros fossem abertos, de modo a<br />

não criar um vazio quase total no campo <strong>da</strong>s activi<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas. Foi<br />

esse, de facto, o objectivo do célebre Alvará de 28 de Junho de 1759.<br />

A este propósito, deve levar-se em conta que o facto de Carvalho e<br />

Melo ter retirado o ensino <strong>da</strong> tutela <strong>da</strong> Companhia de Jesus não impediu qua a<br />

Igreja continuasse a dominar superiormente o ensino, porquanto as<br />

autori<strong>da</strong>des pe<strong>da</strong>gógicas, ao mais alto nível, eram, em grande parte<br />

eclesiásticas, como o Director-Geral dos Estudos, a chefia e os deputados <strong>da</strong><br />

Real Mesa Censória, o novo Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, D. Francisco de Lemos,<br />

Bispo de Coimbra e membro <strong>da</strong> Junta de Providência Literária, bem como<br />

outros membros dela, caso de Frei Manuel do Cenáculo. Muitos professores<br />

de Latim <strong>da</strong> nova ordem eram sacerdotes, e as várias ordens religiosas como<br />

a dos Oratorianos colaboraram com os seus mestres nas reformas do ensino.<br />

Só que, muito provavelmente, alguns, indo contra as suas próprias ideias, ou<br />

parte delas, viam-se obrigados a “ler” pela “cartilha” do omnipotente ministro,<br />

caso contrário eram considerados “cartas” fora do “baralho” e, não raramente,<br />

sofrendo penas bem gravosas. Significativo: inicialmente, o futuro Marquês de<br />

Pombal privilegiou a Congregação do Oratório, cujos compêndios foram em<br />

6


grande parte aprovados para os novos estudos. Porém, mais tarde, em 1768,<br />

1769, «também os oratorianos foram proibidos de ensinar, sob pretexto de<br />

“inconfidência” (crime de lesa majestade) e de ensinarem doutrinas perniciosas<br />

à moci<strong>da</strong>de e de adesão ao Bispo de Coimbra, D. Frei Miguel <strong>da</strong> Anunciação.<br />

Tudo se resumia, de facto, a não aceitarem as doutrinas jansenistas, regalistas<br />

e antipapais que o Marquês queria impor». (3)<br />

Carlos Jaca<br />

A reforma pombalina dos Estudos Menores apontava para uma área<br />

bem alarga<strong>da</strong>, tinha uma amplitude nacional. Era seu objectivo nomear<br />

professores de primeiras letras para to<strong>da</strong>s as ci<strong>da</strong>des e vilas, além de mestres<br />

de Gramática Latina e de Grego, assim como de Retórica e de Filosofia, nos<br />

principais centros urbanos.<br />

A base <strong>da</strong> reforma consistia na secularização <strong>da</strong> instrução nacional<br />

dirigi<strong>da</strong> pelo governo do rei, na pessoa de um seu delegado imediato, o qual<br />

teria a função de averiguar com exactidão o processo dos Estudos,<br />

apresentando ao Monarca, no termo de ca<strong>da</strong> ano, uma relação fiel do estado<br />

dos referidos Estudos, a fim de erradicar os abusos que se fossem instalando,<br />

ao mesmo tempo que lhe propunha as soluções ti<strong>da</strong>s como mais indica<strong>da</strong>s<br />

para a inovação e progresso <strong>da</strong>s Escolas.<br />

Para além <strong>da</strong> inspecção e escolha do corpo docente por meio de<br />

concurso, competia-lhe também evitar controvérsias entre os professores,<br />

provenientes <strong>da</strong> contrarie<strong>da</strong>de de opinião, e manter uma perfeita paz e<br />

uniformi<strong>da</strong>de de doutrina, de modo que todos contribuam para o progresso <strong>da</strong><br />

sua profissão e aproveitamento dos seus direitos.<br />

A instauração do ensino oficial, dirigido exclusivamente pelo Governo,<br />

pretendia ain<strong>da</strong> impor «um tipo de pe<strong>da</strong>gogia normativo, inflexível, que se<br />

julgava superior ao dos jesuítas e conforme às correntes em vigor nas escolas<br />

<strong>da</strong> Europa, esperando-se, por meio dele, obter a formação intelectual e moral<br />

<strong>da</strong> juventude <strong>da</strong> Nação». (4)<br />

O mesmo alvará que privava os jesuítas do exercício do magistério,<br />

criava a Directoria – Geral dos Estudos e, por Carta Régia de 6 de Junho de<br />

1759, era nomeado D. Tomás de Almei<strong>da</strong> director-geral, pelo período de três<br />

anos, para pôr em execução as disposições <strong>da</strong> reforma ordena<strong>da</strong> pelo já citado<br />

diploma de 28 de Junho.<br />

É inegável o alcance progressista <strong>da</strong>s referi<strong>da</strong>s determinações, porém,<br />

7


só o eram em teoria, porquanto na prática to<strong>da</strong> a activi<strong>da</strong>de nacional estava<br />

exclusivamente na dependência do ministro de D. José. Conclusão: ao Director<br />

dos Estudos competia apenas zelar e impedir que alguém minimamente se<br />

desviasse <strong>da</strong>s normas impostas pela autori<strong>da</strong>de do ministro.<br />

Carlos Jaca<br />

Apesar de confrontado com algumas dificul<strong>da</strong>des o plano pombalino lá<br />

se vai efectivando, e quando <strong>da</strong> sua regulamentação em 1772, pode dizer-se<br />

que o que se fez em matéria de Estudos Menores, ain<strong>da</strong> que insuficiente, é<br />

bem superior ao que se fazia sob o regime tradicional.<br />

Num despacho de 3 de Novembro de 1759, do ministro português em<br />

Viena, e que se guar<strong>da</strong> no Arquivo <strong>da</strong> Embaixa<strong>da</strong>, acha-se o seguinte e<br />

lisonjeiro testemunho <strong>da</strong> reputação que se espalhara de Pombal e <strong>da</strong>s suas<br />

reformas nos domínios <strong>da</strong> instrução pública: «The new method for the Latin<br />

and Greek classes established in Portugal has been approved ofhere; and<br />

the President of the Aulic Council has expressed his desire to see the same<br />

method applied in the empire». (5)<br />

Entretanto o primeiro-ministro não era indiferente, nem fazia ouvidos de<br />

mercador, à voz experiente de Ribeiro Sanches, Verney, D. Frei Manuel do<br />

Cenáculo e do próprio D. Francisco de Lemos, que haviam sugerido ou<br />

propunham com insistência a necessi<strong>da</strong>de de reformar os estudos<br />

portugueses na Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, não se cansando de clamar para a<br />

necessi<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r ao país uma fisionomia diferente perante o atraso cientifico<br />

e cultural em que se encontrava.<br />

Com efeito, lança<strong>da</strong>s as bases e cria<strong>da</strong>s as condições e as estruturas<br />

para uma renovação dos Estudos Menores, impunha-se a reforma do Ensino<br />

Superior.<br />

A Reforma Pombalina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>ta de 1772, porém, o<br />

poderoso ministro trazia-a em mente há muitos anos.<br />

Refira-se que, já na altura <strong>da</strong> fun<strong>da</strong>ção do Colégio dos Nobres, o então<br />

Conde de Oeiras, se preocupava com a reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de.<br />

Essa preocupação e intenção ressaltam numa passagem de carta<br />

<strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 12 de Março de 1761, dirigi<strong>da</strong> a Iacopo Facciolati, professor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Pádua, em que Carvalho e Melo pede que lhe envie, além de<br />

uma <strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Pádua de que ele, Facciolati, foi autor, os<br />

Estatutos dessa mesma Universi<strong>da</strong>de, pois tem intenção, diz – reformar a de<br />

8


Coimbra. Declara também receber com muito agrado qualquer sugestão de<br />

Facciolati a respeito <strong>da</strong> futura reforma».<br />

A Junta de Providência Literária. O Compêndio Histórico.<br />

Carlos Jaca<br />

Com a instituição <strong>da</strong> Junta de Providência Literária por Carta Régia de<br />

23 de Dezembro de 1770, iniciava-se o processo que iria levar, a curto prazo,<br />

os estudos universitários à reforma pombalina de 1772.<br />

Sob a inspecção de Pombal e do Cardeal <strong>da</strong> Cunha, a Junta integrava<br />

como conselheiros D. Frei Manuel do Cenáculo Vilas Boas, Bispo de Beja.<br />

José Ricalde Pereira de Castro, José de Seabra <strong>da</strong> Silva, Francisco António<br />

Marques Geraldes, Francisco de Lemos de Faria, Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de e<br />

Bispo de Coimbra, Manuel Pereira <strong>da</strong> Silva e João Pereira Ramos de Azevedo<br />

Coutinho.<br />

Por determinação de D. José, competia à Junta de Providência Literária<br />

examinar as causas <strong>da</strong> profun<strong>da</strong> e deplorável decadência <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de «e<br />

o presente estado <strong>da</strong> sua ruína; para em tudo prover de sorte, que não só se<br />

repare um tão deplorável estrago, mas também sejam as Escolas públicas<br />

reedifica<strong>da</strong>s <strong>sobre</strong> fun<strong>da</strong>mentos tão sólidos, que as Artes, e Ciências possam<br />

nelas resplandecer com as luzes mais claras em comum benefício». (6)<br />

Depois de examinar com todo o rigor o «status quo» universitário, devia<br />

a Junta ponderar <strong>sobre</strong> soluções a adoptar, cursos e métodos a estabelecer,<br />

apresentando ao Rei um plano sistemático de reforma.<br />

Passados que foram alguns meses <strong>da</strong> sua instituição, a Junta <strong>da</strong>va “à<br />

luz” no Sítio de Nossa Senhora <strong>da</strong> Aju<strong>da</strong> a 28 de Agosto de 1771, em “parto”<br />

prematuro, o «Compêndio Histórico do estado <strong>da</strong> universi<strong>da</strong>de de Coimbra no<br />

tempo <strong>da</strong> invasão dos denominados Jesuítas e dos estragos feitos nas ciên-<br />

cias e nos professores e – directores que a regiam pelas maquinações e<br />

publicação dos novos Estatutos por eles fabricados».<br />

É este o título oficial do célebre Compêndio Histórico, em que a Junta<br />

de Providência Literária fun<strong>da</strong>menta por provas históricas a decadência <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Coimbra desde o ano de 1555, e propõem os novos métodos<br />

pe<strong>da</strong>gógicos que deverão ser determinados pelos Estatutos.<br />

Não cabe aqui a intenção de pretender fazer um balanço exaustivo à<br />

reforma universitária pombalina, nem tão pouco ajuizar <strong>sobre</strong> o Compêndio<br />

9


Histórico mas... o título revela, só por si, um ver<strong>da</strong>deiro libelo antijesuítico (mas<br />

não anticatólico) que não pode, nem deve ser escamoteado.<br />

Carlos Jaca<br />

No entanto, parece inegável a idonei<strong>da</strong>de dos elementos que integravam<br />

a Junta de Providência Literária; eram todos “filhos” <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de,<br />

conhecendo, por conseguinte, os defeitos e virtudes de sua “mãe” e, «por mais<br />

pombalistas que fossem, não deixavam de ser pessoas de ampla competência<br />

e isenção». (7)<br />

Esta mesma opinião já não é adopta<strong>da</strong> por catedráticos como Lopes de<br />

Almei<strong>da</strong> e Mário Brandão, os quais consideram que a Junta não agiu com<br />

sinceri<strong>da</strong>de e independência de espírito, uma vez que os seus elementos<br />

«obedeceram à voz inspiradora <strong>da</strong> campanha contra a Companhia, de que<br />

Pombal dera o tom empolado e por vezes ridículo na Dedução Chronologica».<br />

E mais: que «alguns executores <strong>da</strong> vontade tenaz do Marquês de Pombal con-<br />

fessaram a violência e procuraram moderá-la, porém na comissão de reforma<br />

parecia que trabalhavam de acordo, ao menos no que dizia respeito à sua<br />

finali<strong>da</strong>de». (8)<br />

De facto, à parti<strong>da</strong>, é evidente o empenho <strong>da</strong> Junta de Providência<br />

Literária em demonstrar e acumular provas contra a Companhia de Jesus,<br />

responsabilizando-a pelo monopólio ou orientação do ensino e pela sua<br />

influência nos estatutos vigentes.<br />

Saliente-se, e com to<strong>da</strong> a legitimi<strong>da</strong>de, a abaliza<strong>da</strong> opinião do Prof.<br />

Hernâni Ci<strong>da</strong>de que, no Compêndio Histórico, para além de «um sectarismo<br />

violento refervendo na linguagem e turbando o juízo crítico», consegue ver-se<br />

que o livro não tem apenas carácter destrutivo. Assim, «ao lado <strong>da</strong> doutrina<br />

que considera «venenosa», expõe a que inculca ver<strong>da</strong>deira e, ao lado do<br />

método ou autor repelido, o método ou autor que é preciso seguir». (9)<br />

De facto, é com to<strong>da</strong> uma copiosa documentação, clara e frequente<br />

visão crítica e uma completa informação de todos os progressos <strong>da</strong> ciência do<br />

tempo, que a Junta fun<strong>da</strong>menta o seu libelo contra o ensino imobilizado e<br />

imobilizante atribuído à «invasão dos denominados jesuítas».<br />

10


Decadência <strong>da</strong>s universi<strong>da</strong>des no séc. XVIII.<br />

Carlos Jaca<br />

Não era só a nossa Universi<strong>da</strong>de que se encontrava na mais lastimável<br />

decadência, o mesmo sucedia às Universi<strong>da</strong>des de países mais civilizados<br />

como a França e a Inglaterra. Quanto às espanholas «nem é bom falar, por tal<br />

forma a decadência dos estudos e o obscurantismo dos professores<br />

desafiavam as censuras dos críticos – como Saavedra Fajardo, na República<br />

Literária – e a veia cómica dos autores de sainetes». (10) O mesmo acontecia<br />

às Universi<strong>da</strong>des Italianas, como afirma Ribeiro Sanches.<br />

De facto, convém dizer que, no séc. XVIII, as Universi<strong>da</strong>des europeias<br />

clássicas estavam em nítido processo de decadência, acontecendo que, em<br />

quase to<strong>da</strong>s, o ensino superior processa-se ain<strong>da</strong> segundo o modelo e a<br />

tradição medieval e sem qualquer abertura ao avanço <strong>da</strong> ciência. As<br />

Universi<strong>da</strong>des continuavam e continuaram sem grande renovação.<br />

Efectivamente, fora <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des, a ciência seguia um processo de<br />

renovação, abandonando os trilhos do metafisicismo e deixando ca<strong>da</strong> vez<br />

mais de ser verbal para se tornar progressivamente experimental; as ciências<br />

biológicas passam <strong>da</strong> sua fase descrita para um estado analítico que virá,<br />

mais tarde, condicionar as grandes sínteses de Darwin e Lamarck.<br />

Tais avanços não tinham reflexos dentro <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des, porquanto,<br />

estas continuavam fecha<strong>da</strong>s ciosamente a essas inovações, verificando-se um<br />

divórcio completo entre o estado <strong>da</strong> ciência – ca<strong>da</strong> vez mais progressiva e<br />

liberta de todos os preconceitos, e a situação do ensino rotineiro, obsoleto,<br />

imobilizado no escolaticismo e tão submisso ao dogmatismo religioso como ao<br />

autoritarismo docente.<br />

Acerca do estado interno <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des francesas, sob o antigo<br />

regime, atente-se na magistral descrição de Luiz Liard, na <strong>História</strong> do Ensino<br />

Superior em França de 1789 a 1889: «raras têm bibliotecas; mais raras são<br />

ain<strong>da</strong> as colecções científicas. A Universi<strong>da</strong>de de Medicina de Montpellier não<br />

tem gabinete de anatomia; não tem biblioteca; os seus estu<strong>da</strong>ntes estavam<br />

reduzidos a alugar aos bedeis os livros necessários para o seu estudo. Custa<br />

a crer que o exemplar do «Corpus Júris Civilis», comprado em 1789 pelo<br />

professor de Bordéus, formava to<strong>da</strong> a livraria...» No seu documentadíssimo<br />

estudo, Liard, conclui: «o antigo regime não teve uma ver<strong>da</strong>deira noção do<br />

11


ensino superior; nestas Universi<strong>da</strong>des de dois an<strong>da</strong>res, em nenhuma delas<br />

existia um alto ensino <strong>da</strong>s letras, <strong>da</strong>s ciências, do direito e <strong>da</strong> medicina; a<br />

Facul<strong>da</strong>de de Artes não <strong>da</strong>va mais do que uma instituição preparatória, e as<br />

Facul<strong>da</strong>des superiores, <strong>sobre</strong>tudo o Direito e a Medicina, obedeciam a vistas<br />

estritamente pessoais».<br />

Carlos Jaca<br />

A situação <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des inglesas no séc. XVIII continuava ain<strong>da</strong> o<br />

espírito do dogmatismo medieval. Referindo-se a este regime pe<strong>da</strong>gógico,<br />

escreve Renan: «Não se pode dizer que em Inglaterra um tal regime<br />

produzisse resultados de primeira ordem. Oxford e Cambridge tiveram nos<br />

séculos XVII e XVIII homens eminentes, mas não foram o teatro de nenhum<br />

grande movimento. Estas velhas instituições acabaram por se adormecerem<br />

em uma rotina, em uma ignorância, em um grande esquecimento dos grandes<br />

interesses do espírito, que se julgariam incuráveis se a Inglaterra não<br />

possuísse nas suas liber<strong>da</strong>des, no acor<strong>da</strong>r e na activi<strong>da</strong>de dos indivíduos o<br />

remédio para todos os males». (11)<br />

O quadro universitário espanhol era representado por Saavedra<br />

Fajardo, na “República Literária”, nos traços comuns em que se satirizava as<br />

Universi<strong>da</strong>des europeias: «Era mais a presunção do que a ciência; era mais o<br />

que se duvi<strong>da</strong>va do que o que se aprendia; o tempo, e não o saber, <strong>da</strong>va os<br />

graus de bacharéis, licenciados e doutores, e às vezes unicamente o dinheiro,<br />

concedendo em pergaminhos magníficos, com pendentes de fios, facul<strong>da</strong>de à<br />

ignorância para poder explicar os livros e ensinar as ciências e achar-se em<br />

um destes graus».<br />

Não deixa de ser bem caracteriza<strong>da</strong> esta esterili<strong>da</strong>de do ensino, que<br />

cimentava o pe<strong>da</strong>ntismo doutoral, embaraçando o desenvolvimento <strong>da</strong>s<br />

ciências experimentais independentes <strong>da</strong>s demonstrações silogísticas.<br />

Apenas as Universi<strong>da</strong>des alemãs, nomea<strong>da</strong>mente Jena e Gottingen,<br />

parece terem escapado a esta fase de decadência e imobilismo o que se<br />

poderá explicar pela liber<strong>da</strong>de de exposição e de crítica concedi<strong>da</strong> aos<br />

professores, e que eram, sem dúvi<strong>da</strong>, reflexos <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de religiosa, não<br />

esquecendo que a existência de professores livres – os «privat docenten» - em<br />

muito contribuiu para o alto nível no ensino superior alemão.<br />

12


A Universi<strong>da</strong>de portuguesa.<br />

Carlos Jaca<br />

Se bem que houvessem sido diversas as reformas por que passou a<br />

nossa Universi<strong>da</strong>de através dos séculos XVI, XVII e nos três primeiros quartéis<br />

do séc. XVIII, o que é certo é que com elas na<strong>da</strong> ganhou o ensino.<br />

Como diz D. Francisco de Lemos na “Relação Geral do Estado <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Coimbra”, «to<strong>da</strong>s as reformas que a<br />

este tempo se fizeram limitaram-se à interpretação,<br />

declaração, revogação e extensão de alguns Estatutos<br />

antigos, e poucas foram as providências que de novo<br />

se acrescentaram a benefício <strong>da</strong>s Letras». Os últimos<br />

Estatutos (1654) estavam totalmente desajustados em<br />

relação às actuais circunstâncias e ao progresso<br />

verificado nos diversos ramos do saber.<br />

Efectivamente, a Universi<strong>da</strong>de era uma<br />

instituição muito mais teocrática que pe<strong>da</strong>gógica, e muito mais destina<strong>da</strong> à<br />

defesa <strong>da</strong> intangibili<strong>da</strong>de dos dogmas que a cui<strong>da</strong>r dos progressos do ensino.<br />

O espírito crítico e investigador e, por conseguinte, os métodos do<br />

experimentalismo estavam excluídos por definição, sendo to<strong>da</strong> a vi<strong>da</strong><br />

intelectual, no que toca ao mundo físico, reduzi<strong>da</strong> a comentários: «Comentar<br />

livros <strong>da</strong> Antigui<strong>da</strong>de, sensibilizar, recomentar, era um sonho de subtilezas<br />

formais, um jogo verbal de ilusões aéreas». (12)<br />

A crise em que a Universi<strong>da</strong>de mergulhara havia bastante tempo não<br />

podia deixar de pôr em confronto o poder civil e o poder eclesiástico, O choque<br />

era inevitável, uma vez que o domínio do ensino estava entregue, na sua<br />

quase totali<strong>da</strong>de, a instituições religiosas nomea<strong>da</strong>mente aos jesuítas, que se<br />

inspiravam numa prática pe<strong>da</strong>gógica tradicionalista e retrógra<strong>da</strong>.<br />

Em jeito de parêntesis, refira-se que o Padre Francisco Rodrigues no<br />

tomo III do vol. I <strong>da</strong> sua “<strong>História</strong> <strong>da</strong> Companhia de Jesus na Assistência de<br />

Portugal”, afirma que «A Companhia de Jesus em Portugal encheu todo o<br />

século XVII». De facto, a afirmação não deixa de ser correcta, porquanto, sem<br />

dúvi<strong>da</strong>, a Companhia conseguiu assumir papel de tal modo relevante na vi<strong>da</strong><br />

nacional, ensino, política e missionação (aquém e além mar), que é lícita a<br />

afirmação cita<strong>da</strong>, de ter “enchido” o nosso século XVII.<br />

Porém, não pode contestar-se que os padres <strong>da</strong> Companhia de Jesus,<br />

13


sistematicamente estacionários ou, se se quiser, nas coisas <strong>da</strong>s ciências<br />

tiveram larga parte na decadência dos estudos. Mas... não deve ser-lhes<br />

imputa<strong>da</strong> to<strong>da</strong> a culpa.<br />

Carlos Jaca<br />

Não será, de certo modo, muito justo afirmar-se que «desde o ano de mil<br />

quinhentos e noventa e oito até agora que governaram a dita Universi<strong>da</strong>de, não<br />

há cousa alguma, que se possa aproveitar para objecto <strong>da</strong> reforma. Muito pelo<br />

contrário se contém neles (Sextos e Sétimos Estatutos) um doloso sistema de<br />

ignorância artificial, e de impossibili<strong>da</strong>de para se aprenderem as mesmas<br />

Ciências que se fingiu, quererem-se ensinar». E também parece algo<br />

exagerado considerar o labor <strong>da</strong> Companhia como uma oficina perniciosa,<br />

cujas máquinas ficaram desde então sinistramente laborando para obstruírem<br />

to<strong>da</strong>s as luzes naturais dos felizes engenhos portugueses». (13)<br />

Não deixa de ser legítima a análise do Prof. J. Veríssimo Serrão, ao<br />

afirmar que a responsabili<strong>da</strong>de dos inacianos no campo de ensino tinha os<br />

limites próprios <strong>da</strong> sua actuação, não sendo tão profun<strong>da</strong> nem intensa, «pois<br />

dela partilhavam todos os sectores <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, afectando por igual os<br />

ensinos não confiados à Companhia de Jesus, como a Jurisprudência e a<br />

Medicina. Se não se desenvolvera o ensino <strong>da</strong> ciência experimental, isso não<br />

se fizera por malícia, para impedir o aproveitamento dos alunos, mas apenas<br />

porque a reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de devia ter-se obrado no tempo próprio, ou<br />

seja, no início do Séc. XVIII». (14)<br />

Que os jesuítas tiveram as suas culpas na decadência dos estudos, é<br />

um <strong>da</strong>do adquirido. Cabe-lhes entre outras coisas a mais completa<br />

responsabili<strong>da</strong>de «pela obstina<strong>da</strong> relutância com que mantiveram nos Cursos<br />

de Artes os Comentários do Colégio <strong>Conimbricense</strong>, excluindo do ensino as<br />

recentes descobertas, que engrandeciam as ciências de observação e a<br />

Filosofia Racional. Acoimá-los, porém, de prejudiciais no ensino <strong>da</strong>s ciências<br />

universitárias, que não ensinaram, atribuir-lhes influência nociva na coordena-<br />

ção dos estatutos velhos, que são pouco mais do que a recopiação de leis,<br />

praxes e costumes estabelecidos no decurso de um século, é injustiça<br />

manifesta, que o juízo imparcial <strong>da</strong> <strong>História</strong> como tal reconhece». (15)<br />

Obviamente que, os re<strong>da</strong>ctores do “Compêndio Histórico”, como<br />

pessoas de absoluta dedicação a Pombal, lisonjear-lhe-iam, naturalmente, a<br />

sua “jesuitofobia”, atribuindo to<strong>da</strong> a decadência <strong>da</strong>s ciências e mesmo <strong>da</strong><br />

14


Medicina à Companhia de Jesus, exagerando e prejudicando a serie<strong>da</strong>de do<br />

seu exame, porquanto, bastava notar que noutras universi<strong>da</strong>des, onde os<br />

jesuítas nunca dominaram, a decadência pe<strong>da</strong>gógica era igualmente profun<strong>da</strong><br />

e apresentava as mesmas características.<br />

Carlos Jaca<br />

Na ver<strong>da</strong>de, outros elementos terão concorrido para que, entre os<br />

séculos XVII e XVIII, o ensino universitário estivesse totalmente desajustado<br />

em relação às actuais circunstâncias e ao progresso verificado nos diversos<br />

ramos do saber.<br />

Creio não dever ser omitido o terror, a intolerância e a desumana<br />

perseguição do Tribunal do Santo Ofício; o reinado de monarcas como D. João<br />

III (desde que se deixou avassalar pelas sugestões do fanatismo), D.<br />

Sebastião e o Cardeal-Rei; a per<strong>da</strong> <strong>da</strong> nacionali<strong>da</strong>de e o domínio filipino<br />

durante seis déca<strong>da</strong>s. E, ain<strong>da</strong>, os cui<strong>da</strong>dos e esforços para sustentar a<br />

independência recupera<strong>da</strong> em 1640, que absorviam to<strong>da</strong> a vitali<strong>da</strong>de <strong>da</strong><br />

Nação. Ora, tudo isto foi parte para que os estudos caíssem no lastimoso<br />

abatimento a que chegaram.<br />

Se se considerar serenamente – diz o Professor Hernâni Ci<strong>da</strong>de –<br />

parece não dever aceitar-se que os jesuítas houvessem «cavilosamente<br />

arruinado» a ciência e, menos ain<strong>da</strong>, tentado tornar irreligiosa a Nação – eles<br />

que foram expoentes máximos na obra de cristianização do Ultramar e que<br />

«só pelo receio <strong>da</strong> heterodoxia punham entraves ao processo científico. Mas<br />

temos o direito de afirmar que se não fora a reacção que os venceu,<br />

continuaríamos, e não se sabe até quando, merecendo, pelo anacronismo <strong>da</strong><br />

nossa cultura, o rótulo de Índios <strong>da</strong> Europa». (16)<br />

Para Teófilo Braga a causa de uma tão longa apatia não pode ser<br />

atribuí<strong>da</strong> exclusivamente a factores externos: «incorporação de Portugal na<br />

monarquia espanhola, a absorção dos jesuítas quer pelas imposições<br />

pe<strong>da</strong>gógicas ou pelas usurpações económicas, nem ain<strong>da</strong> pela constante<br />

intervenção reaccionária do governo absoluto; na essência do próprio<br />

estabelecimento, o espírito conservantista pode manter uma severa disciplina<br />

escolar e sustentar as ciências e os seus métodos na altura em que foram di-<br />

vulgados, mas evitará sempre as inovações doutrinárias como atentatórias <strong>da</strong><br />

autori<strong>da</strong>de académica. Tal é a razão por que as universi<strong>da</strong>des se atrasam e<br />

15


ficam alheias à corrente intelectual; deu-se isto com a de Paris, com a de<br />

Salamanca, e em geral com as dos países meridionais». (17)<br />

Carlos Jaca<br />

A cegueira e o ódio visceral de Carvalho e Melo em relação aos jesuítas<br />

estariam na base <strong>da</strong>s perseguições aos “inacianos”, porquanto, em qualquer<br />

tempo, uma apreciação serena dos factos tornam “desproposita<strong>da</strong>s e<br />

carrega<strong>da</strong>s de exagero” as invectivas antijesuíticas, atribuindo-lhes a total<br />

responsabili<strong>da</strong>de no que dizia respeito ao estado em que se encontrava o<br />

ensino.<br />

E mais, tal campanha, parece, igualmente, ter pretendido esquecer ou<br />

diminuir o labor <strong>da</strong> Companhia no Colégio <strong>da</strong>s Artes e de Jesus, bem como<br />

uma acção incomparável de heróis, mártires e santos, leva<strong>da</strong> a cabo em<br />

territórios desconhecidos, e nas mais difíceis condições, tais como o Brasil, a<br />

África e o Oriente.<br />

Hoje, julgo, já ninguém de boa fé, ou espírito isento, considerará a<br />

Companhia de Jesus como a única causa, ou também a principal causa, <strong>da</strong><br />

decadência do ensino em Portugal quando Sebastião José de Carvalho e Melo<br />

tomou conta do Poder absoluto.<br />

Os “Estrangeirados”.<br />

Não obstante alguns esforços de D. João V no sentido de iniciar a<br />

batalha para nos fazer reentrar na Europa culta, o meio cultural pouco<br />

melhorou, não se tendo conseguido emancipar do ambiente tradicional, ain<strong>da</strong><br />

que algumas ressonâncias <strong>da</strong>s correntes de além-Pirenéus se fizessem sentir<br />

vagamente em Portugal.<br />

As críticas ao retar<strong>da</strong>mento português eram provenientes de<br />

observadores estrangeiros ou de portugueses residentes, há muito, noutros<br />

países e que, por essa razão, estavam bem posicionados em termos de uma<br />

perspectiva crítica <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de nacional.<br />

Alguns desses observadores eram diplomatas, outros cristãos-novos<br />

expatriados por via <strong>da</strong> repressão inquisitorial.<br />

As perseguições <strong>da</strong> Santa Inquisição espantavam de cá o melhor <strong>da</strong><br />

“intelligentzia” portuguesa, e esses emigrados foram, assim, constituindo,<br />

16


pouco a pouco, a plêiade que muito contribuiu para, como diz António Sérgio,<br />

«iluminar, na 2ª metade do Séc. XVIII, a nossa noite intelectual».<br />

Carlos Jaca<br />

Embora só através do “crivo” de uma bem organiza<strong>da</strong> vigilância<br />

chegassem a Portugal breves notícias do que se passava pela Europa, muitos<br />

portugueses cultos eram receptivos e aspiravam a um novo estilo de vi<strong>da</strong>:<br />

eram os «estrangeirados».<br />

A divulgação e influência <strong>da</strong>s suas ideias circunscrevia-se a uma área<br />

muito limita<strong>da</strong>, a uma elite, visto que o seu reformismo era geralmente exposto<br />

em epistolários que, pelo menos há poucos anos, permaneciam ain<strong>da</strong><br />

parcialmente inéditos (D. Luís <strong>da</strong> Cunha, José <strong>da</strong> Cunha Brochado, etc.).<br />

As sementes de reforma e renovação, já visíveis nos finais do reinado<br />

de D. João V, mas sufoca<strong>da</strong>s pelo tradicionalismo <strong>da</strong>s escolas jesuítas e<br />

bloquea<strong>da</strong>s pela «asa protectora» do Santo Ofício, viriam, porém, a sofrer o<br />

impacto do iluminismo europeu e a influência mais directa e activa dos “es-<br />

trangeirados”: «essas componentes, agindo em simultâneo, viriam a produzir<br />

um notável efeito desbloqueador, mas só quando se deparassem novos<br />

condicionalismos políticos, porque antes... Se<br />

alguns apareciam a defender publicamente as<br />

novas ideias – como Verney ou Ribeiro Sanches –<br />

«quando desceram à arena <strong>da</strong> luta vinham quase<br />

sempre com uma preocupação de imuni<strong>da</strong>de,<br />

garanti<strong>da</strong> por um pseudónimo cauteloso ou<br />

assegura<strong>da</strong> por uma distância de muitos<br />

quilómetros. A grande massa do País manteve-se, porém, alheia a polémica –<br />

em que nem sequer podia participar, pois era analfabeta. Nem poderia ter sido<br />

de outro modo: nos países peninsulares, mais do que em qualquer outra nação<br />

<strong>da</strong> Europa Ocidental, quase não houve limites para o domínio <strong>da</strong> Contra-<br />

Reforma que, exercendo-se com uma acção "depuradora" nos veículos <strong>da</strong><br />

Cultura, e dominando totalmente ou quase a orgânica do ensino público, fizera<br />

estagnar e até retroceder o movimento de progresso que se pressentira<br />

prestes a surgir na primeira metade do Séc. XVI». (18)<br />

De qualquer modo, pode dizer-se que to<strong>da</strong> a política governativa de<br />

Carvalho e Melo na área do ensino veio, de forma determinante, a inserir-se<br />

nas «Novas ideias» que esses intelectuais «estrangeirados» como Verney,<br />

17


Luís <strong>da</strong> Cunha, Ribeiro Sanches e outros tinham empreendido durante meio<br />

século, não se cansando de propalar a urgente necessi<strong>da</strong>de de transmitir ao<br />

País uma fisionomia diferente, libertando-o <strong>da</strong> decadência científica e cultural<br />

em que se encontrava.<br />

Carlos Jaca<br />

Depois <strong>da</strong> reforma leva<strong>da</strong> a cabo por D. João III, em 1537, iria verificar-<br />

se, 250 anos depois, uma remodelação total na velha escola de Coimbra, já<br />

que o espírito renascentista que inspirara a orgânica universitária do séc. XVI<br />

não se tinha ajustado aos ideais que o progresso científico e filosófico criara.<br />

Como diz o Prof. Borges de Macedo, os portugueses não eram<br />

totalmente ignorantes nas ciências exactas, «mas o que se sabia estava<br />

<strong>sobre</strong>tudo circunscrito a curiosi<strong>da</strong>des individuais ou a necessi<strong>da</strong>des imediatas.<br />

Não havia a esse respeito qualquer instituição, seja de ensino seja de registo<br />

ou debate (uma Academia por exemplo), onde se realizasse e pudesse<br />

empreender uma activi<strong>da</strong>de sistemática. Sabia-se ser urgente a reforma <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Coimbra para que esta pudesse dispor dos meios de cultivar<br />

as ciências exactas e <strong>da</strong> Natureza e abor<strong>da</strong>r as novas questões <strong>da</strong> Filosofia. O<br />

Marquês de Pombal estimulou uma reforma universitária, e fê-la no sentido de<br />

transformar os estudos segundo as correntes de pensamento jurídico e os<br />

novos métodos ligados ao Direito Natural e ao Direito Público e <strong>da</strong>s Gentes. A<br />

mu<strong>da</strong>nça era profun<strong>da</strong> quanto aos princípios orientadores e teve influência<br />

decisiva na mentali<strong>da</strong>de dos quadros de que o País passou a dispor». (19)<br />

O espírito <strong>da</strong> reforma universitária era já uma reali<strong>da</strong>de, sentindo-se que<br />

se tomava urgente reformular totalmente todo o processo de ensino, pondo em<br />

prática novos métodos, adoptar livros actualizados e imbuídos de uma<br />

mentali<strong>da</strong>de renovadora<br />

Reforma universitária<br />

A traços largos, já que no caso presente apenas se trata de colocar as<br />

quatro Facul<strong>da</strong>des tradicionais ao nível <strong>da</strong>s suas congéneres europeias em<br />

todos os aspectos, vejamos o que foi essa profun<strong>da</strong> e eficaz reforma.<br />

Acrescente-se, também que as ciências humanas e experimentais foram<br />

devi<strong>da</strong>mente ti<strong>da</strong>s em conta, baseando-se os Estatutos em autores célebres,<br />

como Pufendorf, Boerhaave e outros.<br />

18


Carlos Jaca<br />

Mantinha-se a Facul<strong>da</strong>de de Teologia, como convinha num país<br />

eminentemente católico, e cujo programa, definindo um novo espírito, fora<br />

elaborado por D. Frei Manuel do Cenáculo e pelo Padre Pereira de Figueiredo.<br />

Anteriormente às reformas pombalinas, e segundo D. Francisco de<br />

Lemos, o estado do ensino <strong>da</strong> Teologia era o seguinte: «Basta dizer-se que do<br />

século passado para cá até ao princípio do reinado do Senhor Rei D. José... a<br />

Teologia que se ensinou nas Escolas <strong>Conimbricense</strong>s foi a Teologia<br />

Escolástica: Teologia que, tendo sido alia<strong>da</strong> no século XII com a venenosa<br />

filosofia de Aristóteles, altera<strong>da</strong> pelas Explicações e Comentários dos Árabes,<br />

se foi pouco a pouco corrompendo até formar um Corpo de Questões, que<br />

nunca se tinham ouvido na Igreja, e totalmente inúteis para os fins do<br />

Ministério Sagrado». (20)<br />

Os métodos aplicados eram obsoletos, sem qualquer inovação e cria-<br />

tivi<strong>da</strong>de, <strong>sobre</strong>pondo-se a autori<strong>da</strong>de dos autores e dos mestres ao papel <strong>da</strong><br />

crítica e <strong>da</strong> análise objectiva do texto. A remodelação dos estudos teológicos<br />

apontava agora para um ensino de carácter menos especulativo e escolástico<br />

e mais baseado nos conhecimentos <strong>da</strong> <strong>História</strong> Sagra<strong>da</strong> e Eclesiástica, na<br />

crítica e na interpretação dos textos gregos e latinos, procurando fazer-se a<br />

análise exegética do texto bíblico «visto directamente» à luz conjuga<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

<strong>História</strong> e <strong>da</strong> Filologia. Só assim, dizia, D. Francisco de Lemos, Bispo de<br />

Coimbra e Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, se poderiam formar bons teólogos.<br />

As Facul<strong>da</strong>des Jurídicas constituíam dois cursos: de Direito Civil e de<br />

Direito Canónico. O ensino de Direito Canónico limitava-se à estéril lição <strong>da</strong>s<br />

Decretais, do Decreto e <strong>da</strong>s Clementinas. Não se ensinava a <strong>História</strong> Sagra<strong>da</strong>,<br />

a <strong>História</strong> Eclesiástica, o Direito Público Eclesiástico, o Natural e o <strong>da</strong>s Gentes.<br />

Conservava-se a Facul<strong>da</strong>de de Cânones com o fim de regular e estu<strong>da</strong>r<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente as normas jurídicas, apresenta<strong>da</strong>s ou aprova<strong>da</strong>s pelas<br />

autori<strong>da</strong>des eclesiásticas, delimitando e definindo a competência <strong>da</strong> Igreja.<br />

Quanto à Facul<strong>da</strong>de de Leis, passavam-se cinco anos na «ruminação<br />

estupefaciente» do “Digesto”, <strong>da</strong>s” Institutas” e do” Código”.<br />

Sobre o que se passava a nível <strong>da</strong> jurisprudência conimbricense vale a<br />

pena transcrever parte de um eluci<strong>da</strong>tivo relato de D. Francisco de Lemos:<br />

«Todo o exercício literário se reduzia aos Actos, para os quais não era<br />

19


necessário ter estu<strong>da</strong>do, mas sim que corressem os anos do Curso e<br />

chegasse a medi<strong>da</strong> do tempo nele marcado, porque os Pontos e os<br />

Argumentos eram já sabidos e muito vulgares; e além disso o estu<strong>da</strong>nte na<br />

mesma ocasião dos Actos era instruído na matéria deles por um Doutor, o qual<br />

acabava de consumar a obra <strong>da</strong> negligência, inspirando-lhe em casa e na<br />

mesma Sala dos Actos, o que ele havia de responder e dizer».<br />

Carlos Jaca<br />

A grande inovação introduzi<strong>da</strong> consistiu numa maior atenção às fontes<br />

jurídicas ver<strong>da</strong>deiramente portuguesas, onde, além <strong>da</strong>s várias Ordenações,<br />

havia também as leis extravagantes dos últimos reis de Aviz, os comentários<br />

às Ordenações, outros diplomas avulsos, processos julgados, etc.<br />

O Direito Civil, conforme diziam os estatutos (Tit. Cap. 3), seria «ou o<br />

Romano ou o Pátrio, contido nas leis do reino. Dos dois direitos, este é o<br />

superior quanto a poder de autori<strong>da</strong>de; vale como lei; obriga, à falta de<br />

disposição específica e em todos os casos onde encontre lance. Quanto ao<br />

Romano, esse, é tão só, subsidiário; tem apenas vali<strong>da</strong>de como suplemento<br />

do Direito Pátrio; somente alcança força legislativa e autori<strong>da</strong>de aí onde as leis<br />

nacionais não cheguem e não chegue outrossim aquele natural jus fun<strong>da</strong>do<br />

<strong>sobre</strong> a boa razão que lhe serve de única base». (21)<br />

As Facul<strong>da</strong>des de Cânones e Leis acabaram por se fundir conforme<br />

decreto de Passos Manuel, <strong>da</strong>tado de 1836.<br />

Notável é a reforma <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina, devi<strong>da</strong> em grande parte<br />

à colaboração do médico Sacchetti Barbosa e à influência de Ribeiro Sanches.<br />

O ensino aqui era puramente livresco, seguia-se<br />

Galeno e outros autores que por essa Europa fora já<br />

não contavam, e os mestres preocupavam-se mais<br />

na utili<strong>da</strong>de particular de curar do que na pública de<br />

ensinar. Ordenavam os Estatutos que se ensinasse<br />

a anatomia e se fizessem demonstrações, e se<br />

aprendesse a prática <strong>da</strong> Medicina no hospital, porém<br />

«to<strong>da</strong>s estas disposições se iludiam de um modo perfunctório (supérfluo) e<br />

inútil».<br />

No «Reino Ca<strong>da</strong>veroso», ou no «Reino <strong>da</strong> Estupidez» como já alguém<br />

chamou ao Portugal setecentista, a anatomia e to<strong>da</strong> a espécie de ensino<br />

prático aparecem, embora de forma caricatural, do modo seguinte:<br />

20


Carlos Jaca<br />

«Há coisa mais cruel, mais desumana,<br />

Mais contrária à razão, que ver os médicos<br />

Um cadáver humano espatifando,<br />

Um corpo que habitou o Espírito Santo?<br />

Nunca tal praticaste, ó bom Lopes,<br />

Quando pelo Natal em um carneiro<br />

O bofe, o coração, as tripas to<strong>da</strong>s<br />

A teus hábeis discípulos mostravas!...». (22)<br />

Diz Hernâni Ci<strong>da</strong>de que não era, de facto, um carneiro pelo Natal, mas<br />

nove carneiros por ano as vítimas sacrifica<strong>da</strong>s à anatomia.<br />

Efectivamente, a anatomia humana era ensina<strong>da</strong> através <strong>da</strong> dissecação<br />

de carneiros, o que representava um retrocesso em relação aos Estatutos de<br />

1559, pois estes já previam a anatomia <strong>sobre</strong> cadáveres fornecidos pelo<br />

hospital. A dissecação de cadáveres humanos havia sido aboli<strong>da</strong> por via de<br />

preconceitos religiosos.<br />

Desconhecia-se, ou pouco menos, a Medicina no Norte Europeu, sob o<br />

impulso de Boerhave, Haller, etc., por parte do ensino universitário, pois fora<br />

dele, médicos como Gomes Lourenço, Sacchetti Barbosa, em convivência<br />

espiritual com os mestres estrangeiros de Anatomia e Cirurgia do Hospital de<br />

Todos-os-Santos, com Castro Sarmento e Ribeiro Sanches mostram-se<br />

suficientemente informados.<br />

Considera o Prof. João Pedro Miller Guerra que «as providências<br />

reformadoras, modernizando o curso universitário e colocando-o a par do que<br />

se professava nos centros europeus adiantados, efectuaram a modificação<br />

mais profun<strong>da</strong> e ampla <strong>da</strong> história <strong>da</strong> Medicina. Apesar de controvérsias que<br />

gerou e <strong>da</strong>s limitações que sofreu na aplicação, a reforma pombalina revigorou<br />

os estudos médicos, <strong>da</strong>ndo-lhes um impulso tão enérgico e certeiro que<br />

perdurou até à República, embora com retoques e acrescentamentos, mas<br />

também com modificações nocivas». (23)<br />

To<strong>da</strong>via, a maior inovação <strong>da</strong> reforma universitária consistiu na<br />

fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong>des de Matemática e Filosofia, colaborando na<br />

organização <strong>da</strong> primeira os italianos Franzini e Vandelli, e na segun<strong>da</strong> o seu<br />

companheiro Ciera e o ex-jesuíta José Monteiro <strong>da</strong> Rocha.<br />

21


Carlos Jaca<br />

Pretende Garção Stockler que de to<strong>da</strong>s as instituições de El-Rei D. José<br />

a Facul<strong>da</strong>de de Matemática «é talvez a que mais honra faz à sua memória, e é<br />

sem dúvi<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>quelas pelas quais a nação portuguesa lhe deve tributar<br />

eternamente os mais vivos sinais de sincero reconhecimento». (24)<br />

Até aos meados do Séc. XVIII eram rudimentares os conhecimentos de<br />

ciências matemáticas na Universi<strong>da</strong>de, depois de passarem os tempos áureos<br />

de Pedro Nunes.<br />

Pombal, reconhecendo que na Universi<strong>da</strong>de havia Matemática a menos e no<br />

Colégio dos Nobres Matemática a mais, transferiu de Lisboa para Coimbra<br />

vários professores, montando nesta ci<strong>da</strong>de um Observatório Astronómico e<br />

estabelecendo o ensino <strong>da</strong> Astronomia, <strong>da</strong> Mecânica e <strong>da</strong> Arquitectura.<br />

Os abalizados matemáticos portugueses José Monteiro <strong>da</strong> Rocha e<br />

José Anastácio <strong>da</strong> Cunha foram escolhidos para constituírem a facul<strong>da</strong>de<br />

recentemente instituí<strong>da</strong>, bem como o piemontês Michele António Ciera e o ve-<br />

neziano Michele Franzini.<br />

Conforme se lê nos Estatutos a Facul<strong>da</strong>de de Matemática foi<br />

incorpora<strong>da</strong> na Universi<strong>da</strong>de como qualquer <strong>da</strong>s outras facul<strong>da</strong>des que até<br />

então se distinguiam com o nome de maiores, nascendo, deste modo, dentro<br />

<strong>da</strong> orgânica universitária, uma nova Facul<strong>da</strong>de Maior com o seu próprio corpo<br />

de lentes, substitutos, opositores, ascensão ao grau de doutores, insígnias de<br />

categoria doutoral (borla e capelo de cor azul) e todos os demais privilégios e<br />

honras até então exclusivos <strong>da</strong>quelas quatro facul<strong>da</strong>des» (Teologia, Cânones,<br />

Leis e Medicina.<br />

Finalmente era aboli<strong>da</strong>, como «sistema incorrigível», a Facul<strong>da</strong>de de<br />

Artes, a qual estava tão longe de cumprir com o seu objectivo seu que se<br />

volvera em fonte e manancial venenoso de um palavreado obscuro e sofístico,<br />

contaminando todos os ramos <strong>da</strong> instrução pública.<br />

Com a reforma de 1772, criava-se a Facul<strong>da</strong>de de Filosofia, destina<strong>da</strong> a<br />

substituir o antigo Curso <strong>da</strong>s Artes até então ministrado no respectivo Colégio,<br />

mas enquadrado entre os Estudos Menores, pretendendo-se uma Filosofia que<br />

descesse <strong>da</strong> altura dos Universais e procurasse estu<strong>da</strong>r o homem moral e o<br />

mundo moral com que está relacionado, o homem físico no mundo físico de<br />

que faz parte.<br />

A propósito do referido curso “artístico” diga-se que, durante a estadia<br />

22


do Marquês em Coimbra, o Colégio <strong>da</strong>s Artes foi incorporado na Universi<strong>da</strong>de,<br />

o que correspondia a um desejo formulado numa <strong>da</strong>s sessões <strong>da</strong> Junta de<br />

Providência Literária, por via <strong>da</strong>s escolas menores poderem fornecer<br />

estu<strong>da</strong>ntes à Universi<strong>da</strong>de. Assim, a “Alma Mater”voltava a satisfação de ter<br />

novamente integra<strong>da</strong> no corpo académico uma instituição pela qual lutara<br />

desde que lhe fora retira<strong>da</strong> pela Companhia de Jesus.<br />

Carlos Jaca<br />

Porém não bastava promulgar a Reforma. A nova organização<br />

universitária exigia cui<strong>da</strong>dos especiais. Tratava-se primeiro que tudo de reunir<br />

um grupo de homens, ca<strong>da</strong> um deles com uma cultura profun<strong>da</strong> e sóli<strong>da</strong> <strong>sobre</strong><br />

os assuntos que lhe respeitava. Considere-se que era tarefa extremamente<br />

difícil e delica<strong>da</strong> elaborar uma longa lista de todos os professores que<br />

deveriam ser afastados <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de por meio de jubilação e <strong>da</strong>queles que<br />

pelos merecimentos e aptidões eram garantia segura para a eficácia <strong>da</strong><br />

Reforma. É que a Reforma não viria ver<strong>da</strong>deiramente a sê-lo se, além <strong>da</strong>s<br />

intenções e dos métodos novos, o pessoal recrutado não se integrasse,<br />

abertamente, no seu espírito<br />

Assim, por despachos de 3, 11, 12 e 28 de Setembro de 1772 eram<br />

jubilados os antigos lentes <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de que nenhuma garantia ofereciam<br />

de poder compreender e executar os novos Estatutos completamente, isto é,<br />

tanto no seu espírito como na sua letra.<br />

Este processo de escolha não deu origem a queixas, visto que pelo<br />

regime governativo seriam julga<strong>da</strong>s como crimes de lesa-majestade, além de<br />

que também não eram roubados os direitos de ca<strong>da</strong> um, porquanto os antigos<br />

lentes «foram jubilados, outros investidos em conesias magistrais ou doutorais<br />

nas sés do Reino, outros, enfim, providos como lentes efectivos e substitutos.<br />

Houve, na ver<strong>da</strong>de, uma renovação do corpo professoral, com o ingresso de<br />

figuras que pela investigação e pela docência viriam a honrar a Universi<strong>da</strong>de<br />

de Coimbra». (25)<br />

O Marquês de Pombal em Coimbra. Entrega e publicação dos Estatutos.<br />

Justamente passado que foi um ano <strong>da</strong> apresentação do “Compêndio<br />

Histórico”, D. José, por Carta de Roboração <strong>da</strong>ta<strong>da</strong> de 28 de Agosto de 1772,<br />

promulgava a carta orgânica <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, os Novos Estatutos. Igualmente,<br />

23


em resolução régia de 25 de Setembro, man<strong>da</strong>va suspender a antiga<br />

legislação académica, e que não se procedesse à «abertura, juramento e<br />

matrículas…até nova ordem de Sua Majestade.».<br />

Carlos Jaca<br />

A esta <strong>da</strong>ta já Carvalho e Melo se encontrava em Coimbra havia três<br />

dias. Efectivamente, no mesmo dia em que são<br />

promulgados os Estatutos, uma carta régia dirigi<strong>da</strong><br />

ao Marquês determinava a sua presença em<br />

Coimbra, não para cortar a fita inaugural dos<br />

«Estudos novamente fun<strong>da</strong>dos», mas sim como<br />

plenipotenciário e lugar-tenente de D. José para<br />

restituir e estabelecer as Artes e as Ciências contra<br />

as ruínas em que se acham sepulta<strong>da</strong>s, fazendo<br />

publicar os Novos Estatutos». (26) De facto só<br />

motivos fortemente ponderosos justificariam que o<br />

ministro se ausentasse do seu Gabinete de Lisboa,<br />

durante cerca de mês e meio.<br />

Salientava El-Rei que na aplicação dos Estatutos e noutros aspectos<br />

concernentes ao regulamento e boa ordem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, «poderiam ocorrer<br />

alguns incidentes que não deveriam esperar pelas decisões dos recursos<br />

dirigidos á Minha Real Pessoa, sem demoras prejudiciais ao pronto<br />

Estabelecimento que requer a urgência de uma tão útil e necessária<br />

Fun<strong>da</strong>ção». (27)<br />

Assim, confiando no zelo e fideli<strong>da</strong>de com que o Marquês sempre se<br />

empregara no real serviço, e pelo seu muito interesse já dedicado à Uni-<br />

versi<strong>da</strong>de dirigindo e animando os trabalhos <strong>da</strong> Junta de Providência Literária<br />

com «infatigável disvello», o rei tinha por certo que, nos casos ocorrentes,<br />

Pombal agiria em conformi<strong>da</strong>de com a sua experimenta<strong>da</strong> prudência.<br />

Para ultrapassar todos os impedimentos e incidentes que,<br />

eventualmente, surgissem contra a rápi<strong>da</strong> e fiel execução dos Estatutos,<br />

Carvalho e Melo seria investido não só com os poderes que foram concedidos<br />

a seu «quinto avô Balthazar de Faria, Primeiro Reformador Vizitador <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de, pelo Alvará <strong>da</strong> Comissão expedi<strong>da</strong> em onze de Outubro de mil<br />

quinhentos sincoenta e sinco» (28) , mas também com todos aqueles que<br />

considerasse necessários, segundo a natureza dos casos; «obrando em tudo<br />

24


como Meu Lugar Thenente – prossegue a Carta Régia que tenho estado a<br />

seguir – com Jurisdição privativa, exclusiva, e illimita<strong>da</strong> para todos os<br />

<strong>sobre</strong>ditos effeitos». (Embora o ouro do Brasil começasse a escassear, D. José<br />

parecia saber a quem passava o cheque em branco).<br />

Carlos Jaca<br />

Acrescentava, ain<strong>da</strong>, a Carta Régia, que o Reitor, Lentes, Deputados,<br />

Conselheiros e outras pessoas <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, cumprissem to<strong>da</strong> a orientação<br />

determina<strong>da</strong> pelo «honrado Marquez de Pombal do Seu Conselho de Estado e<br />

Seu Lugar Thenente na Fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra».<br />

A fim de <strong>da</strong>r cumprimento ao estabelecido por El-Rei, Carvalho e Melo<br />

saíra de Lisboa a 15 de Setembro chegando a Coimbra ao fim <strong>da</strong> tarde do dia<br />

22, e ficando alojado no Paço Episcopal onde se manteve até 24 de Outubro.<br />

Recebido com honras majestáticas e a pompa inerente à digni<strong>da</strong>de do<br />

cargo, as suas visitas à Universi<strong>da</strong>de revestiam sempre grande aparato e<br />

soleni<strong>da</strong>de, «an<strong>da</strong>ndo debaixo do pálio, assentando-se sob um dossel e<br />

<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong>li beija-mão, segundo as formas fetichistas <strong>da</strong> autori<strong>da</strong>de». (29)<br />

Cerimónia de grande pompa terá ocorrido no dia 29 de Setembro,<br />

quando o Marquês se dirigiu à Sala dos Capelos e fez ao Reitor a aparatosa<br />

entrega dos Novos Estatutos, que extraiu solenemente de uma bolsa de<br />

veludo, para ficarem em execução a partir <strong>da</strong>quele momento.<br />

Depois de ter lido o Real Decreto confirmativo <strong>da</strong> nova carta orgânica <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de, e que se acha incluso no princípio do 1º tomo dos Estatutos,<br />

disse o Secretário que o Sr. Marquês era servido e man<strong>da</strong>va que o novo<br />

Estatuto estivesse patente na Sala do Prelado, e que no dia seguinte se<br />

recolhesse ao Cartório, e que o Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de distribuiria os<br />

exemplares impressos depois de serem por ele assinados.<br />

Como considera Hernâni Ci<strong>da</strong>de, os Estatutos são a consequência <strong>da</strong><br />

cultura moderna mas pertinaz <strong>da</strong> Junta de Providência Literária e do espírito<br />

esclarecido mas absolutista do Marquês de Pombal, traduzindo um rompimento<br />

com o aristotelismo.<br />

A antipatia contra o «abominável filósofo» era tanto do espírito <strong>da</strong> Escola<br />

que Seabra <strong>da</strong> Silva, procurando reduzir, ou até anular, a influência de Frei<br />

Manuel do Cenáculo junto de Pombal, na elaboração dos Estatutos, em que<br />

25


por vezes divergiam, insinuava-lhe que o Bispo «ain<strong>da</strong> acudia alguma coisa<br />

pelos escolásticos».<br />

Carlos Jaca<br />

Os novos Estatutos orientavam-se pelas ideias afectas ao iluminismo:<br />

crítica ao aristotelismo formalista e verbalista,<br />

recusando receptivi<strong>da</strong>de aos argumentos <strong>da</strong><br />

autori<strong>da</strong>de e privilegiando o método experimental<br />

e o direito à prática <strong>da</strong> livre crítica no domínio <strong>da</strong><br />

ciência.<br />

Com efeito, os Estatutos, num<br />

reduzidíssimo espaço de tempo, «humanizaram a<br />

medicina, aportuguesaram a jurisprudência,<br />

lançaram as pontes para as profissões<br />

construtivas (engenharia e arquitectura), abriram<br />

o céu ao observatório astronómico, festejaram a<br />

natureza no jardim botânico, separaram do<br />

primado pontifício a soberania real, impuseram a história do direito pátrio, com<br />

isso mu<strong>da</strong>ndo o esquema ideológico dos cursos, que perdiam a linguagem<br />

anacrónica, no latim eclesiástico, para captar as forças ambientais (e<br />

europeias) do objectivismo pleiteado pelos enciclopedistas e levado, nas asas<br />

<strong>da</strong> literatura, por Voltaire e Rousseau a to<strong>da</strong>s as áreas <strong>da</strong> cultura livre». (30)<br />

Convém, no entanto, sublinhar um notável sentido de prudência implícito nos<br />

próprios Estatutos: preceituam que nenhum autor português ou estrangeiro<br />

deverá ser adoptado “in perpetuum”, antes a título provisório, «até que surja<br />

outro que se considere mais acomo<strong>da</strong>do e melhor».<br />

Apesar <strong>da</strong>s naturais imperfeições, os Novos Estatutos foram acolhidos<br />

na Europa com agrado geral, facto que o Marquês não se esqueceu de<br />

participar ao Reitor, em carta de 7 de Novembro de 1772: «Os Estatutos <strong>da</strong><br />

nossa Universi<strong>da</strong>de fazem um tão grande objecto na expectação <strong>da</strong>s nações<br />

estrangeiras, e hão-de fazer outro tão pungente estímulo <strong>da</strong> raiva jesuítica,<br />

que, por um e outro princípio, os livreiros do Norte se hão-de <strong>da</strong>r todo o<br />

movimento em os fazer traduzir para ganhar dinheiro; e os que eles apeiam<br />

dos seus cavalos de batalha para ver se podem estropiar e difamar a mesma<br />

legislação, introduzindo nela maliciosos erros e dissonantes imposturas. Por<br />

26


ambos os referidos motivos, se faz indispensável que a nossa tradução seja a<br />

primeira que veja a luz do mundo. E para este fim não há meio próprio que não<br />

seja o de se dividirem os Estatutos pelos diferentes tradutores que vão<br />

indicados na distribuição que ajuntei a esta carta...» (31)<br />

Carlos Jaca<br />

Os autores <strong>da</strong> “Gazeta Eclesiástica”, de França, bem como outros mais,<br />

referem o elevado mérito dos Estatutos, louvando-os pela ordem do método e<br />

solidez <strong>da</strong> doutrina. O Prof. Serra de Mirabeau considera tratar-se do mais<br />

notável código de legislação que até então se conheceu em to<strong>da</strong>s as nações<br />

civiliza<strong>da</strong>s; cem anos após a Reforma, Francisco de Castro Freire, um dos<br />

mais eminentes professores de Coimbra, diria: «Estes Estatutos admiráveis,<br />

que têm merecido a atenção e o respeito dos sábios <strong>da</strong>s nações mais cultas,<br />

colocaram a Universi<strong>da</strong>de ao nível <strong>da</strong>s melhores do seu tempo; e na sua<br />

organização revelam a ca<strong>da</strong> passo os seus ilustrados re<strong>da</strong>ctores não só uma<br />

vasta e sóli<strong>da</strong> instrução nas ciências cujo ensino regularam, mas, <strong>sobre</strong>tudo,<br />

um conhecimento profundo <strong>da</strong> natureza humana e dos métodos mais profícuos<br />

para dirigir a moci<strong>da</strong>de nas árduas mas gloriosas sen<strong>da</strong>s <strong>da</strong> sabedoria<br />

humana». (32)<br />

Durante o mês que permaneceu em Coimbra, ocupando-se amiu<strong>da</strong><strong>da</strong>s<br />

vezes com o Reitor numa activa e eficiente implantação <strong>da</strong> Reforma e<br />

promulgando as disposições indispensáveis à abertura <strong>da</strong>s facul<strong>da</strong>des,<br />

Pombal ia <strong>da</strong>ndo o melhor cumprimento às instruções estabeleci<strong>da</strong>s por D.<br />

José.<br />

Antes de regressar a Lisboa, o man<strong>da</strong>tário real despediu-se de to<strong>da</strong> a<br />

Universi<strong>da</strong>de na sala nobre e, com o cerimonial costumado, pronunciou<br />

algumas palavras de despedi<strong>da</strong>. Estimulando a instituição académica a <strong>da</strong>r<br />

continui<strong>da</strong>de com entusiasmo e dedicação aos trabalhos de que tinha lançado<br />

as bases, acrescentou: «No meu particular tenho por certo que os sucessos<br />

hão-de corresponder em tudo à expectação régia, e esta plausível certeza é a<br />

que só me pode suavizar de algum modo o justo sentimento com que a<br />

urgência <strong>da</strong>s minhas obrigações na Corte faz indispensável que eu me<br />

despeça desta preclara Academia, augurando-lhe felici<strong>da</strong>des iguais aos<br />

consumados adiantamentos literários com que tenho previsto que há-de<br />

ressuscitar em to<strong>da</strong> a sua anterior integri<strong>da</strong>de o esplendor <strong>da</strong> Igreja Lusitana; a<br />

27


glória <strong>da</strong> Coroa de El-Rei Meu Senhor, e a fama dos mais assinalados varões,<br />

que nas suas memórias honrarão os fastos portugueses. Com estes<br />

faustíssimos fins deu o dito Senhor à Universi<strong>da</strong>de o digno Prelado, que até ao<br />

presente governo como Reitor com tão feliz sucesso, e que do dia <strong>da</strong> minha<br />

parti<strong>da</strong> em diante a há-de dirigir como Reformador; confiando justamente <strong>da</strong>s<br />

suas bem cultiva<strong>da</strong>s Letras, e <strong>da</strong>s suas exemplares virtudes, que não só<br />

conservará com a sua perspicaz atenção a exacta observância dos Estatutos,<br />

de cuja execução fica encarregado, mas também que ao mesmo tempo a há-<br />

de iluminar com as suas direcções, e a há-de animar com as suas frutuosas<br />

aplicações a tudo o que for do maior adiantamento, e <strong>da</strong> maior honra de to<strong>da</strong>s<br />

as Facul<strong>da</strong>des Académicas». (33)<br />

Carlos Jaca<br />

A cerimónia finalizou com a intervenção do Reitor agradecendo ao<br />

ministro a reestruturação universitária; dirigindo-se ao corpo académico inci-<br />

tava-o na aplicação e cumprimento <strong>da</strong>s suas obrigações, e que tivesse bem<br />

presente o facto de trabalhar «á vista do mesmo herói, que o amor <strong>da</strong>s letras e<br />

<strong>da</strong> pátria trouxe a este lugar para vos honrar com a sua presença, para vos<br />

instruir e guiar com a sua sabedoria, e para vos encher de favores e<br />

benefícios». (34)<br />

Ao regressar a Lisboa, em 24 de Outubro de 1772, o Marquês apenas<br />

havia deixado em Coimbra os alicerces <strong>da</strong> nova Universi<strong>da</strong>de, o que só por<br />

isso não pode deixar de ser considerado relevante. Porém, como justamente<br />

observa o Prof. Joaquim Ferreira Gomes, a abertura dos cursos na Facul<strong>da</strong>de<br />

de Medicina e nas duas cria<strong>da</strong>s de novo (Matemática e Filosofia Natural) terá<br />

sido prematura.<br />

De facto, constituindo o «espírito experimental» a tónica <strong>da</strong> Reforma<br />

Pombalina, é óbvio que a engrenagem emperrasse por falta de organismos e<br />

instituições anexas de apoio.<br />

Pombal e o Reitor Francisco de Lemos<br />

sabiam que era assim e, por conseguinte, as suas<br />

atenções vão privilegiar a construção e<br />

apetrechamento dos estabelecimentos científicos<br />

previstos nos Estatutos destinados à estranha<br />

novi<strong>da</strong>de que os trabalhos práticos constituíam: Jardim Botânico, Museu de<br />

28


<strong>História</strong> Natural, Gabinete de Física Experimental, Laboratório Químico,<br />

Observatório Astronómico, Dispensário<br />

Farmacêutico e, quanto ao Hospital, a<br />

escolarização do existente, que ficou sob a<br />

direcção universitária.<br />

Carlos Jaca<br />

E para que nenhum instrumento de<br />

cultura escasseasse, foi sugeri<strong>da</strong> a criação<br />

<strong>da</strong> Imprensa Universitária destina<strong>da</strong> a estimular e facilitar a produção científica,<br />

bem como o intercâmbio com universi<strong>da</strong>des estrangeiras.<br />

Era, e por fim, mais uma realização que ficou a dever-se à notável<br />

Reforma Pombalina, reforma esta que correspondeu ver<strong>da</strong>deiramente à<br />

fun<strong>da</strong>ção de uma Nova Universi<strong>da</strong>de, e que nos pôs em mais aberta e eficiente<br />

comunicação espiritual com a Europa, constituindo um dos mais gloriosos<br />

acontecimentos <strong>da</strong> história <strong>da</strong> pe<strong>da</strong>gogia portuguesa.<br />

Diário <strong>da</strong> visita do Marquês de Pombal a Coimbra.<br />

«Do que se passou em a Ci<strong>da</strong>de de Coimbra desde o dia 22 de<br />

Setembro, em que o Ill. mo e Ex. mo Marquez de Pombal entrou, ate ao dia 24 de<br />

Outubro, em que sahio <strong>da</strong> dita Ci<strong>da</strong>de. (35)<br />

Setembro, 22 (terça-feira). Após o<br />

almoço partiu de Condeixa o Marquês de<br />

Pombal acompanhado, além <strong>da</strong> sua<br />

numerosa comitiva saí<strong>da</strong> de Lisboa a 15 de<br />

Setembro, do Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, reitores<br />

dos Colégios de S. Pedro, S. Paulo e<br />

Militares, dos inquisidores Sebastião Pita de<br />

Castro e António de Vasconcelos, do Deão,<br />

mestre-escola, por parte do Cabido, do Juiz<br />

de Fora, do vereador Xavier Zuzarte por parte<br />

<strong>da</strong> Câmara, ministros e mais nobreza<br />

presente na ci<strong>da</strong>de e, ain<strong>da</strong>, um piquete de cavalaria de Almei<strong>da</strong>. A Sra.<br />

Marquesa tinha vindo à frente em companhia de seu genro, o Conde de São<br />

Payo.<br />

Logo que o Marquês chegou a S. ta Clara a ordenança e um terço de<br />

29


auxiliares deram três descargas, repicando os sinos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de onde «entrou<br />

pelas 5 horas <strong>da</strong> tarde, e fazendo o seu caminho pela calsa<strong>da</strong>, (rua Ferreira<br />

Borges) ruas <strong>da</strong>s Fangas (rua Fernandes Tomás) e de S. Cristóvão, Largo <strong>da</strong><br />

Sé e Rua <strong>da</strong>s Covas, as quaes estavão to<strong>da</strong>s arma<strong>da</strong>s e arca<strong>da</strong>s, se foi apear<br />

no Paço do Bispo aonde no fundo <strong>da</strong>s esca<strong>da</strong>s o esperavão os Lentes e mais<br />

Oppositores <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, e o acompanharão athe à primeira Sála... e<br />

defronte do Paço estava postado hum corpo de 250 sol<strong>da</strong>dos de Infantaria de<br />

Almei<strong>da</strong>; e à noite haverão luminárias, o que se repetio nas duas noites se-<br />

guintes».<br />

23 (quarta-feira). Houve grande afluência ao Paço. Falou o Sr. Marquês aos<br />

Lentes de Leis, Cânones e Teologia, à Inquisição, Cabido, reitores e colegiais<br />

de S. Pedro, S. Paulo, Militares e outras pessoas. De tarde, ordenou que se<br />

tomassem as Becas no dia seguinte.<br />

24 (quinta-feira). Pela manhã tomaram as Becas os nomeados dos Colégios de<br />

S. Pedro, S. Paulo e Militares os quais foram, de segui<strong>da</strong>, agradecer ao<br />

Marquês o provimento. Pelas oito horas <strong>da</strong> noite chegou do Porto João<br />

d'Alma<strong>da</strong> e Mello e sua mulher, D. Ana de Lencastre, que visitaram o Marquês<br />

e se foram depois hospe<strong>da</strong>r na casa do Cónego<br />

Fr. António José Roiz, secretário que foi de Francisco de Alma<strong>da</strong>, em Roma.<br />

25 (sexta-feira). De manhã falou o Marquês a várias pessoas e, de tarde, aos<br />

Lentes de Medicina.<br />

26 (sábado). Pelas duas horas <strong>da</strong> tarde tocou o sino grande <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de,<br />

«ajuntou-se» o Corpo Académico e organizou-se um cortejo <strong>da</strong> maneira<br />

seguinte:<br />

À frente, os archeiros <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de com suas far<strong>da</strong>s e alabar<strong>da</strong>s novas,<br />

seguindo-se urna multidão de estu<strong>da</strong>ntes; «logo depois, tocando urna<br />

excelente marcha 2 oboés, 2 trompas e I fagote; seguindo-se os contínuos e<br />

alguns outros Officiais <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de e, junto a elles, as Facul<strong>da</strong>des: em 1º<br />

lugar a de Filosofia, em 2º Medicina, depois a de Leis, Cânones e Theologia, e<br />

os Doutores com as suas respectivas insígnias, em duas allas, nas suas res-<br />

Carlos Jaca<br />

30


pectivas antigui<strong>da</strong>des; fechava este lustroso acompanhamento o Reitor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de, precedido dos Bedéis, Secretário e Conservador. A Cavallaria<br />

d'Almey<strong>da</strong> estava posta<strong>da</strong> no Largo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, e a Infantaria tinha feito<br />

duas allas desde a esca<strong>da</strong> <strong>da</strong> Salla athe à porta férrea. Por meio destas se<br />

encaminhou o Préstito, passando pelas ruas Larga e de S. João que estavam<br />

arca<strong>da</strong>s, cobertas de espa<strong>da</strong>na e com as janellas arma<strong>da</strong>s; no Largo de S.<br />

João se afastarão os Estu<strong>da</strong>ntes para os lados e, por meio delles, continuarão<br />

as Facul<strong>da</strong>des as suas marchas athe ao pé <strong>da</strong> esca<strong>da</strong> do Paço; e voltando à<br />

alIa direita pelo lado direito e a esquer<strong>da</strong> pelo esquerdo continuaram as suas<br />

marchas, athe que chegou o Reitor à esca<strong>da</strong>, o qual subindo acompanhado<br />

dos Bedéis, Secretário e Conservador e de alguns Doutores Theologos<br />

entrando na 1ª Salla, apareceu o Sr. Marquez vestido de Corte e descendo as<br />

esca<strong>da</strong>s com o Reitor á direita e Fr. Pedro Thomaz Sanches, Lente de Prima<br />

jubilado, á esquer<strong>da</strong>, no fundo dellas se cobrio, o que também imediatamente<br />

fizeram as Facul<strong>da</strong>des...<br />

Depois <strong>da</strong> Infantaria seguia-se a Guar<strong>da</strong> do Sr. Marquez e nesta ordem se<br />

encaminhou o Préstito á Universi<strong>da</strong>de. Á porta se separaram os Estu<strong>da</strong>ntes<br />

para os lados, de forma que na Salla somente entraram os Doutores e o Sr.<br />

Marquez...»<br />

A Sala dos Capelos estava magnificamente decora<strong>da</strong>, forra<strong>da</strong> de <strong>da</strong>masco<br />

carmesim, com sanefas de veludo, tudo<br />

guarnecido de galões e franjas de ouro.<br />

Numa cadeira de braços, debaixo de um soberbo<br />

docel de veludo, sentou-se o Marquês; o Reitor no<br />

Doutoral, depois o Conde de São Payo e os<br />

Doutores nos respectivos lugares e, por fim,<br />

entraram os estu<strong>da</strong>ntes que tinham ficado fora <strong>da</strong><br />

Sala.<br />

Após o Secretário ter lido a Carta Régia de 28 de<br />

Agosto o Reitor recitou uma Oração, na qual, em<br />

nome <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, agradecia a sua Majestade os benefícios que «por mão<br />

do Sr. Marquez» lhe havia concedido.<br />

Concluí<strong>da</strong> a Oração o cortejo dirigiu-se à Capela <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, à porta <strong>da</strong><br />

qual o «Visitador» foi recebido «debaixo do Pallio», cantando-se em acção de<br />

Carlos Jaca<br />

31


graças o «Lau<strong>da</strong>te Dominum» e o «Te Deum».<br />

A Marquesa assistiu <strong>da</strong> tribuna às cerimónias.<br />

27 (domingo). Publicou-se o despacho nº 3, indo os despachados agradecer,<br />

de imediato, os seus provimentos.<br />

Visitou o Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de e foi a S ta Clara, à Quinta <strong>da</strong> Várzea e à Fonte<br />

de Água <strong>da</strong>s Mayas, após o que se recolheu ao Paço onde houve grande<br />

afluência.<br />

28 (segun<strong>da</strong>-feira). Publicou-se o decreto que jubilava todos os lentes de<br />

Medicina, tendo o mesmo já acontecido com os de Teologia, Cânones e Leis.<br />

De tarde, foi à Capela <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de assistir às vésperas de S. Miguel, onde<br />

esteve presente to<strong>da</strong> a Universi<strong>da</strong>de e nobreza. Acompanhado <strong>da</strong> Marquesa<br />

foi ao Seminário, esteve no Convento de Celas e no de S. José dos Marianos.<br />

29 (terça-feira). Pela manhã assistiu o Sr. Marquês à Festa de S Miguel, tendo<br />

pregado D. António Callado, Lente de <strong>História</strong> Eclesiástica. De tarde, em<br />

solene cortejo, foi à Sala dos Capelos onde, depois que o Marquês,<br />

autori<strong>da</strong>des académicas e outras personali<strong>da</strong>des ocuparam os respectivos<br />

lugares, o Secretário <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de abriu uma bolsa de veludo carmesim e<br />

«della tirou o novo Estatuto escrito de letra de mão e encadernado em veludo,<br />

com chapa de prata; Leo-se o Decreto que se acha inserto no princípio do 1º<br />

tomo dos Estudos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de; e acabado de ler disse ao Secretário que o<br />

Sr. Marquez era servido, e man<strong>da</strong>va que o novo Estatuto estivesse patente na<br />

Sala do Prelado e que no dia seguinte se recolhesse ao<br />

Cartório, e que o Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de distribuiria os<br />

exemplares impressos depois de serem por ele<br />

asignados».<br />

Em acção de graças assistiu, na Capela <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de, ao «Te Deum Lau<strong>da</strong>mus» e, depois,<br />

recolheu-se em préstito ao Paço. À noite, o Reitor<br />

distribuiu os exemplares do novo Estatuto por todos os<br />

Lentes e colegiais dos 3 Colégios, e houve repiques e<br />

luminárias.<br />

Carlos Jaca<br />

32


30 (quarta-feira). Os novos Lentes prestaram juramento no Paço em pre-<br />

sença do Marquês e, já na Sala dos Capelos, tomaram posse <strong>da</strong>s suas Ca-<br />

deiras agradecendo «ca<strong>da</strong> hum em breve período de Mercê, que S. Mag. e lhe<br />

fazia, por mão do Sr. Marquez». Da tribuna, assistiram a Marquesa e o Reitor.<br />

Outubro, 1 (quinta-feira). Após ter assistido à missa em honra do Espírito<br />

Santo na Capela <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, os novos Lentes prestaram na presença do<br />

Marquês o costumado juramento.<br />

2 (sexta-feira). Fez anos a Sra. Marquesa, havendo grande afluência ao Pa-<br />

ço. De tarde, esteve presente à Oração recita<strong>da</strong> por Carlos Maria Matos, Lente<br />

de Teologia, na abertura <strong>da</strong> sua Facul<strong>da</strong>de.<br />

3 (sábado). Foi em carruagem à Universi<strong>da</strong>de, visitando a Biblioteca e<br />

«assistindo às medi<strong>da</strong>s que os Engenheiros nessa tarde tomarão do Pateo».<br />

4 (domingo). Acompanhado <strong>da</strong> Marquesa assistiu, em tribuna, à festa que<br />

em acção de graças fizeram os brasileiros na Igreja de S. João, tendo pregado<br />

D. Thomaz <strong>da</strong> Encarnação e Frei Alexandre de Souza, Promotor do Bispado.<br />

Foi a S. Francisco <strong>da</strong> Ponte e a S to António dos Olivais.<br />

5 (segun<strong>da</strong>-feira). Foi à Sala dos Capelos onde Manuel José Alves, Lente de<br />

Cânones, proferiu a Oração na abertura <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de.<br />

6 (terça-feira). Publicaram-se os despachos de Medicina e assistiu à Oração<br />

pronuncia<strong>da</strong> por Thomaz Pedro <strong>da</strong> Rocha, Lente <strong>da</strong> 1ª Cadeira de Leis, na<br />

abertura <strong>da</strong> respectiva Facul<strong>da</strong>de.<br />

7 (quarta-feira). Visitou o Colégio <strong>da</strong>s Artes e o Castelo; foi à Cerca de S ta<br />

Cruz «donde passou à Regaça em companhia do Dr. Vandelli, a ver que sitio<br />

seja mais próprio para o Jardim Botânico».<br />

8 (quinta-feira). Na Sé, foi recebido pelo Cabido debaixo do Pálio; depois de<br />

Carlos Jaca<br />

33


ter feito oração visitou o Claustro, Casa do Cabido, Cartório e Sacristia.<br />

9 (sexta-feira). Em cortejo, veio o Sr. Marquês à Universi<strong>da</strong>de precedido dos<br />

Lentes nomeados de Medicina, José Francisco Leal, Simão Good e António<br />

José Pereira, com capelos amarelos; logo adiante, Miguel Franzini, Padre José<br />

Monteiro <strong>da</strong> Rocha e Miguel António Ciera, Lentes de Matemática, com capelos<br />

azuis forrados de branco e uma esfera no lado; depois, António Soares e<br />

Domingos Vandelli, Lentes de Filosofia, com capelos azuis; as borlas leva<strong>da</strong>s<br />

«em 3 salvas, por 3 Estu<strong>da</strong>ntes com luvas».<br />

Na Sala dos Capelos os três Lentes de Medicina ajoelharam-se e leram o<br />

juramento. Então, foram doutorados pelo Marquês que lhes pôs as borlas na<br />

cabeça; depois dos abraços <strong>da</strong> praxe foram sentar-se no Doutoral <strong>da</strong><br />

respectiva Facul<strong>da</strong>de. Os de Matemática tiveram o mesmo cerimonial sen-<br />

tando-se abaixo dos Teólogos, e os Filósofos no Doutoral dos Mestres em<br />

Artes. Após o juramento dos Lentes tomaram posse <strong>da</strong>s Cadeiras, «a que se<br />

seguirão os costumados acompanhamentos».<br />

Nesta mesma manhã, avisara os reitores dos 3 Colégios para que elegessem<br />

um Colegial que não fosse Lente, ou substituto, para Deputado <strong>da</strong> Mesa <strong>da</strong><br />

Fazen<strong>da</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de.<br />

O reitor do Colégio de S. Pedro elegeu José Barroso Pereira, o de S. Paulo<br />

Aragão Trigoso, e o dos Militares Ricardo Raimundo Nogueira. À tarde esteve<br />

presente na abertura <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina, tendo proferido a Oração o<br />

Lente António José Pereira.<br />

10 (sábado). Foi o Marquês recebido pelo Reitor à porta <strong>da</strong> Capela <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de, assistindo «debaixo do Docel às vésperas <strong>da</strong> Festa determina<strong>da</strong><br />

no Decreto nº 7».<br />

11 (domingo). Na Capela <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de assistiu à missa canta<strong>da</strong> em que<br />

pregou Frei Joaquim de Santa Ana, Lente substituído <strong>da</strong>s 3 Cadeiras<br />

Dogmáticas; no fim <strong>da</strong> missa cantou-se o «Te Deum», tendo a Sra. Marquesa<br />

assistido no Coro. De tarde, foi à Quinta de S. Martinho.<br />

12 (segun<strong>da</strong>-feira). Houve cerimónia idêntica à do dia 9.<br />

Carlos Jaca<br />

34


Incorporaram-se na Facul<strong>da</strong>de de Leis o Doutor José Joaquim Vieira Go-<br />

dinho, Lente de Direito Pátrio, e em Medicina os Doutores Vandelli e Miguel<br />

Franzini; segui<strong>da</strong>mente, o Marquês doutorou em Medicina, Luís Chici. De<br />

tarde, deslocou-se em sege à Universi<strong>da</strong>de assistindo à Oração do Doutor<br />

José Monteiro <strong>da</strong> Rocha, Lente de Matemática, na abertura <strong>da</strong> sua Facul<strong>da</strong>de.<br />

13 (terça-feira). Assistiu à Oração proferi<strong>da</strong> pelo Doutor António Soares,<br />

Lente de Filosofia.<br />

Recolhido ao Paço, prestaram juramento na sua presença os 3 deputados <strong>da</strong><br />

Mesa <strong>da</strong> Fazen<strong>da</strong>, o tesoureiro e o escrivão, ficando estes dois últimos com<br />

direito a voto na referi<strong>da</strong> Mesa, «para o que se lavraram nos Livros os termos<br />

costumados».<br />

14 (quarta-feira). Por ordem do Sr. Marquês foi o Secretário buscar os Esta-<br />

tutos velhos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de a todos os Conventos e Colégios <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de,<br />

tendo recolhido muitos exemplares.<br />

Foi à Quinta de Vila Franca e, à noite, foi afixado o Edital nº 8.<br />

15 (Quinta-feira). Na presença do Reitor tomaram as Becas os porcionistas<br />

do Colégio de S. Paulo. – Edital nº 9. À tarde, acompanhado <strong>da</strong> Marquesa foi<br />

ao Loreto.<br />

16 (sexta-feira). Marquês e Marquesa foram a S. Jorge, indo depois à Várzea<br />

visitar o Embaixador e a Sra. Embaixatriz.<br />

17 (sábado). Reuniram-se os Doutores a cavalo com as suas insígnias e, no<br />

Largo de S.ta Cruz, formou-se o cortejo do Doutoramento: Archeiros a pé,<br />

músicos a cavalo, seguindo-se as Facul<strong>da</strong>des de Filosofia, Matemática, Medici-<br />

na, Leis, Cânones e, por fim, Teologia; os Doutores em duas alas nas res-<br />

pectivas antigui<strong>da</strong>des. O pajem, a cavalo, com a borla numa salva e, junto aos<br />

bedéis, o Doutorando José Pereira Monteiro, em «hum cavalo ricamente<br />

ajaezado»; ladeavam o Doutorando o Reitor e o Lente <strong>da</strong> 1ª Cadeira Analítica<br />

de Cânones, sendo o acompanhamento finalizado pelo Conservador.<br />

Chegados ao Largo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de os Doutores e o Reitor foram buscar o<br />

Carlos Jaca<br />

35


Sr. Marquês que assistiu à missa na Capela. Fin<strong>da</strong> a missa dirigiu-se,<br />

precedido de luzido acompanhamento, para a Sala dos Capelos sentando-se<br />

os Doutores nos respectivos lugares e o Conde de São Payo à direita do<br />

Doutorando, por ser seu padrinho neste acto. Pronunciou o Doutorando uma<br />

brevíssima Oração pedindo o grau. Discursaram em seu louvor os Doutores<br />

canonistas Miguel Martins de Araújo e Miguel Pais de Aragão Trigoso, Colegial<br />

de S. Paulo.<br />

Terminado isto, subiu o Doutorando ao pé <strong>da</strong> cadeira do Marquês e leu o<br />

juramento; depois, «chegou ao pé do Lente <strong>da</strong> 1ª Cadeira Analytica de<br />

Cânones, o qual em huma Oração lhe deu o grau de Doutor, ornando-o com as<br />

insígnias». Seguiram-se os abraços <strong>da</strong> praxe e «o novo Doutor foi neste dia<br />

jantar ao Paço com o Sr. Marquês, por o haver convi<strong>da</strong>do».<br />

De tarde, foi o Marquês à Quinta <strong>da</strong> Geria e afixou-se o Edital nº 10.<br />

18 (domingo). Tomou a Beca de Porcionista no Colégio de S. Pedro D.<br />

Fernando de Portugal, filho do Marquês de Valença, a que assistiu o Reitor <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de. De tarde, a Sr. ª Marquesa assistiu numa tribuna acompanha<strong>da</strong><br />

<strong>da</strong> Sr. a Embaixatriz e <strong>da</strong> mulher de João d'Alma<strong>da</strong>, à última parte do Triduo que<br />

os «filhos de Lx.» fizeram a N. a S. a <strong>da</strong> Esperança em acção de graças pela no-<br />

va fun<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de.<br />

De manhã, houve Pontifical e pregou ao Evangelho o Doutor Frei Diogo Jardim,<br />

monge de S. Jerónimo; de tarde veio o Bispo assistir ao Sermão que pregou o<br />

Doutor Frei José Bernardo Pimentel, <strong>da</strong> Ordem de S. Domingos.<br />

Seguiu-se urna procissão que veio «Igreja de S.ta Clara do Convento <strong>da</strong>s<br />

Religiosas de S. Franc. co trazendo o Bispo o Sacramento. O pálio foi levado<br />

pelos Porcionistas e Colegiais lisboetas, recolhendo-se depois a procissão à<br />

mesma Igreja onde o Sr. Marquês mandou pedir o Sermão do Evangelho, que<br />

foi pregado por Frei Diogo Jardim.<br />

19 (segun<strong>da</strong>-feira). Foi ao Colégio de S. Pedro visitar o seu filho que «se<br />

achava molestado», indo depois a S. Paulo «<strong>da</strong>r os pêsames ao Porcionista<br />

Luiz Gonçalves <strong>da</strong> Câmara, f. o do Almotacé Mor do Reyno, por lhe haver<br />

falecido repentinam. te sua Mãe, a Sr. a D. Leonor Josefa d’Almei<strong>da</strong>».<br />

Carlos Jaca<br />

36


20 (terça-feira). De tarde foi o Sr. Marquês a casa do Reitor, «de onde se<br />

recolheu ao Paço».<br />

21 (quarta-feira). Em solene procissão que incorporava as Irman<strong>da</strong>des do<br />

Santíssimo, Clero, Comuni<strong>da</strong>des, Câmara e todo o Cabido paramentado,<br />

procedeu-se à transla<strong>da</strong>ção do Santíssimo Sacramento para a nova Sé. O<br />

Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de levava o Santíssimo debaixo do Pálio, pegando nas<br />

varas os Condes <strong>da</strong> Ponte e São Payo, João de Alma<strong>da</strong> e seu filho, o Morgado<br />

de Oliveira e o Porteiro-Mór. Acompanhava a procissão «to<strong>da</strong> a Nobreza,<br />

mistura<strong>da</strong> com o corpo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de q. p. a isto tinha sido avizado pelo R. or »<br />

e, ain<strong>da</strong>, parte <strong>da</strong> Infantaria.<br />

22 (quinta-feira). O Sr. Marquês assistiu, em tribuna, à missa canta<strong>da</strong> e<br />

celebra<strong>da</strong> pelo Reitor <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de (governador do Bispado), tendo pregado<br />

Frei Joaquim de Santa Ana.<br />

De tarde, na Sala dos Capelos «recitou a fala n. o 13», a que se seguiu a leitura<br />

do Decreto n. o 14 feita pelo Secretário. Encerrou a cerimónia o Reitor que, em<br />

eloquente Oração, «agradeceo em nome <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de os benefícios q. esta<br />

delle tinha recebido e lhe protestou a justa sau<strong>da</strong>de q. a todos causava a sua<br />

auzencia».<br />

23 (sexta-feira). Em presença do Marquês, prestou juramento, na Capela<br />

particular do Paço, o «Reitor Reformador», de que foram testemunhas os<br />

Condes <strong>da</strong> Ponte e São Payo.<br />

24 (sábado). Manhã cedo, recebeu na sua sala a Inquisição, Cabido, Uni-<br />

versi<strong>da</strong>de, Câmara e to<strong>da</strong> a nobreza.<br />

Cerca <strong>da</strong>s nove horas iniciava a sua jorna<strong>da</strong> acompanhado <strong>da</strong> Sra. Marquesa e<br />

do corpo acima referido, sendo recebido à passagem pelo Largo de S .ta Clara<br />

com uma salva de 3 descargas.<br />

Pouco depois <strong>da</strong> Ermi<strong>da</strong> <strong>da</strong> Esperança mandou agradecer «o obséquio q. lhe<br />

fazião e q. se retirassem, o q. com effeito todos fizerão» exceptuando o Reitor<br />

que foi até Condeixa.<br />

Pelas onze horas partiu João d'Alma<strong>da</strong> e a Sra. D. Ana Joaquina, sendo<br />

Carlos Jaca<br />

37


acompanhados «athe fora <strong>da</strong> Cid. e pela Nobreza q. aqui se achava».<br />

Oposição à reestruturação universitária.<br />

Carlos Jaca<br />

Cinco anos após a entrega e publicação dos Estatutos considerava-se já<br />

enorme a diferença entre o tempo anterior à Reforma e aquele que lhe seguiu,<br />

não hesitando o Reitor, D. Francisco de Lemos, o grande obreiro <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça,<br />

em afirmar, e com to<strong>da</strong> a justiça, ter sido uma alteração radical. Os próprios<br />

centros culturais europeus assim o elogiaram e confirmaram<br />

De facto, a reforma pombalina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de é uma obra de grande<br />

mérito na sua estruturação e os Estatutos que a enformam colocam Portugal<br />

numa posição relevante na Europa do seu tempo.<br />

O labor dos seus organizadores na<strong>da</strong> teve de fácil, porquanto, havia<br />

necessi<strong>da</strong>de de se afastarem dos esquemas programáticos e metodológicos<br />

tradicionais, o que correspondia a um esforço intelectual que é justo enaltecer.<br />

Acrescente-se que a reforma foi, desde início, elabora<strong>da</strong> sem bases anteriores,<br />

pois nesta matéria ”não há coisa alguma” [no passado] “que se possa<br />

aproveitar para objecto de reforma”, consoante se lê no documento já citado de<br />

28 de Agosto de 1771.<br />

Trata-se, inegavelmente, de um esforço levado a cabo a fim de<br />

«transformar radicalmente as estruturas antiqua<strong>da</strong>s, ineficazes, anacrónicas,<br />

do nosso ensino universitário “totalmente incapaz de responderem às<br />

solicitações de um época em que as técnicas começavam a intervir<br />

delibera<strong>da</strong>mente no contexto social e a investigação científica a organizar-se<br />

como tarefa indispensável». ( 36 )<br />

Porém, julgo não causar qualquer espécie de surpresa, pelo menos a<br />

quem estiver por dentro do processo, o facto de logo que as circunstâncias<br />

favoráveis o permitissem, a oposição obstacularizaria e impediria no que fosse<br />

possível a implantação <strong>da</strong> reforma pombalina dos estudos. Assim foi, como era<br />

de esperar.<br />

O momento chave, e esperado, foi o falecimento de D. José em 24 de<br />

Fevereiro de 1777 e a consequente morte política do ministro Carvalho e Melo.<br />

No entanto, cerca de cinco anos antes, mas quando um novo espírito já se<br />

instalara em Coimbra, colocando frente a frente duas mentali<strong>da</strong>des<br />

antagónicas, Teófilo Braga informa-nos que «Quando o Marquês de Pombal<br />

38


eformou a Universi<strong>da</strong>de de Coimbra em 1772, com a cooperação activa,<br />

inflexível e inteligente do reitor Francisco de Lemos, levantou-se entretanto,<br />

uma sur<strong>da</strong> oposição entre sectários do escolasticismo medieval, que com todo<br />

o zelo religioso se mostrava hostil às “doutrinas novas, peregrinas e perigosas”,<br />

que se ensinavam na Universi<strong>da</strong>de», criticando métodos pe<strong>da</strong>gógicos,<br />

compêndios adoptados, teses defendi<strong>da</strong>s, etc.<br />

Carlos Jaca<br />

Porém, foi de facto a morte de D. José que constituiu um rude golpe em<br />

todo o processo <strong>da</strong> reforma, uma vez que com a que<strong>da</strong> do poderoso ministro<br />

passou a faltar o apoio indispensável à reestruturação universitária, ao mesmo<br />

tempo que surgia uma forte reacção contra a sua acção governativa,<br />

denegrindo e tentando derrubar uma <strong>da</strong>s mais brilhantes obras do estadista.<br />

Efectivamente, a oposição erguia-se contra a reforma pombalina dos<br />

estudos: ódios e invejas que estavam latentes vieram ao de cima: muitos<br />

acusavam os estu<strong>da</strong>ntes dos novos estudos de pensarem livremente em<br />

pontos de religião, contribuindo em larga medi<strong>da</strong> «para espalhar este rumor<br />

falso, as declamações vagas que têm feito nos púlpitos alguns pregadores<br />

incautos e pouco advertidos».<br />

Aqui, o Reitor D. Francisco de Lemos, saiu a “terreiro”, ironizando que,<br />

remetidos a um silêncio calculado, não isento de alguma covardia, só agora<br />

apareçam a «opor-se à torrente de to<strong>da</strong>s as novi<strong>da</strong>des que, segundo dizem, se<br />

espalham e ensinam na Universi<strong>da</strong>de», não deixando de atacar com<br />

veemência os detractores <strong>da</strong> Reforma, os quais tinham por hereges todos<br />

aqueles que tentaram renovar a face cultural do país e <strong>da</strong> Escola transforma<strong>da</strong>.<br />

D. Francisco de Lemos defendia a liber<strong>da</strong>de de docência contra o autoritarismo<br />

de magistério, acrescentando não haver motivos para receios, uma vez que as<br />

doutrinas não são “novas, peregrinas e perigosas”.<br />

A “Relação Geral do Estado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de”. D. Francisco de Lemos<br />

justifica a necessi<strong>da</strong>de e o espírito <strong>da</strong> Reforma.<br />

Como tivessem aumentado e endurecido as críticas acerca <strong>da</strong><br />

renovação dos estudos, havendo muitos que ansiavam voltar ao passado,<br />

considerando condenáveis as novas doutrinas que agora se ensinavam na<br />

Universi<strong>da</strong>de basea<strong>da</strong>s em obras adopta<strong>da</strong>s no estrangeiro <strong>da</strong> autoria de<br />

mestres consagrados, D. Francisco de Lemos decidiu-se a escrever a “Relação<br />

39


Geral do Estado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de”, com o objectivo de defender o plano<br />

executado e em desenvolvimento.<br />

Carlos Jaca<br />

A “Relação Geral”, que é uma apologia notável <strong>da</strong> renovação dos<br />

estudos universitários, resumia a acção de D.<br />

Francisco de Lemos durante os cinco anos do seu<br />

primeiro man<strong>da</strong>to como Reitor (1772-1777), sendo<br />

o seu texto «minucioso, cui<strong>da</strong>do nos pormenores<br />

e, portanto, expressivo».<br />

O manuscrito foi encontrado há pouco mais<br />

de um século e publicado por Teófilo Braga em<br />

1894, sendo por sua iniciativa o original oferecido<br />

ao Arquivo <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, onde se<br />

encontra. Este historiador e literato do nosso<br />

século XIX, mas que foi um percursor, caracteriza<br />

do modo seguinte a obra de D. Francisco de<br />

Lemos: «Na “Relação”, em uma prosa seca com subdivisões segundo o estilo<br />

escolástico, com uma ênfase autoritária no género dos derramados períodos<br />

<strong>da</strong>s leis pombalinas, D. Francisco de Lemos mostra-se muito superior aos<br />

autores do “Compêndio Histórico” ao caracterizar o estado decadente e os<br />

vícios pe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de; narra o que se fez, o que não se pode<br />

fazer, e o que não surtiu efeito depois <strong>da</strong> reforma. Por vezes as suas críticas<br />

negativistas encontram-se com os pontos de vista do bispo Cenáculo e do<br />

afamado Doutor António Nunes Ribeiro Sanches, que cooperaram nas<br />

reformas pe<strong>da</strong>gógicas do grande ministro». (37)<br />

D. Francisco de Lemos defende a todo o transe e utilizando to<strong>da</strong> a<br />

argumentação possível a necessi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> reforma em curso, tanto mais que lá<br />

por fora, já se tinham verificado importantes reformas universitárias de acordo<br />

com o espírito <strong>da</strong> época, caracteriza<strong>da</strong> por profundo empenhamento no<br />

experimentalismo e na renovação <strong>da</strong>s ciências humanas.<br />

No juízo que faz acerca <strong>da</strong> Reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, e embora<br />

reconhecendo os progressos conseguidos, não deixa de apontar críticas a<br />

certos atrasos ain<strong>da</strong> existentes e de indicar as vias que aju<strong>da</strong>ssem a<br />

ultrapassar os obstáculos.<br />

Em particular, o que mais o preocupava era o facto de a frequência dos<br />

40


alunos, nas diversas Facul<strong>da</strong>des, não tivesse correspondido às expectativas<br />

dos responsáveis <strong>da</strong> Reforma, muito provavelmente devido às exigências<br />

determina<strong>da</strong>s pelos Estatutos terem criado, como era de calcular, problemas e<br />

dúvi<strong>da</strong>s a muitos que estavam habituados a um ensino rotineiro e de pouca<br />

exigência.<br />

Carlos Jaca<br />

Obviamente, que o ilustre Reitor-Reformador não deixou de justificar o<br />

que os Estatutos estipulavam e, ao mesmo tempo indicar os meios para<br />

resolver a situação. Em sua opinião seria necessário criar uma nova<br />

mentali<strong>da</strong>de em todo o país, que levasse as pessoas a compreender que sem<br />

um ensino universitário modelar não se podiam modificar as estruturas <strong>da</strong><br />

Nação.<br />

Assim, considera que «para exercer certos cargos e profissões se devia<br />

exigir formação nesta ou naquela Facul<strong>da</strong>de consoante os casos» tendo como<br />

objectivo dotar o país de pessoas bem instruí<strong>da</strong>s e com sólidos conhecimentos<br />

no ramo de saber respectivo. Por outro lado, criarem-se “partidos” e prémios<br />

para os estu<strong>da</strong>ntes a fim de diminuir as suas dificul<strong>da</strong>des económica.<br />

Sublinhe-se que na sua “Relação Geral”, D. Francisco de Lemos, ao<br />

tratar de ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des, põe sempre a descoberto os “vícios” de<br />

que padecia o ensino, bem como as suas carências, indicando os meios para<br />

os erradicar ou resolver, referindo-se, nomea<strong>da</strong>mente, aos anos dos cursos, às<br />

cadeiras, professores e livros adoptados, ao aproveitamento dos alunos, às<br />

dificul<strong>da</strong>des encontra<strong>da</strong>s e aos caminhos a seguir para aumentar o número de<br />

alunos e à forma como poderia rentabilizar o saber transmitido durante os anos<br />

de frequência na Universi<strong>da</strong>de. De facto, não deixam de ser minuciosas, e<br />

oportunas as notas e comentários com que o grande pilar <strong>da</strong> Reforma tenta<br />

esclarecer e convencer que a remodelação opera<strong>da</strong> tinha sido a mais<br />

adequa<strong>da</strong> e conveniente.<br />

Vejamos, agora, o que nos diz D. Francisco de Lemos, através <strong>da</strong> sua<br />

“Relação Geral”, acerca dos costumes e doutrina dos estu<strong>da</strong>ntes. Diga-se,<br />

desde já, que se trata de uma notável visão dos factos, trabalho <strong>da</strong> maior<br />

importância, demonstrando que a Universi<strong>da</strong>de muito beneficiou com a<br />

Reforma de 1772.<br />

Começa por dizer que as Universi<strong>da</strong>des são Escolas não só de Letras<br />

41


mas também de Virtudes, «por isso não deve haver nelas menor cui<strong>da</strong>do em<br />

ilustrar o espírito dos estu<strong>da</strong>ntes com a luz <strong>da</strong>s ciências, do que em formar os<br />

seus corações com a prática <strong>da</strong>s Virtudes. Faltar a qualquer destes objectos<br />

seria a ruína <strong>da</strong> educação nacional, a qual deve merecer a principal atenção e<br />

vigilância dos reis, visto ser o princípio e origem <strong>da</strong> felici<strong>da</strong>de pública <strong>da</strong><br />

monarquia». (38)<br />

Carlos Jaca<br />

De segui<strong>da</strong>, lamenta, com algum pesar, que o magistério <strong>da</strong> Virtude nem<br />

sempre esteve presente nas Universi<strong>da</strong>des, como era conveniente,<br />

apresentando um quadro na<strong>da</strong> abonatório <strong>da</strong> história dos costumes dos<br />

escolares: parciali<strong>da</strong>des, fracções, ódios, emulações, intrigas, querelas, feri<strong>da</strong>s,<br />

homicídios, adultérios, estupros e outros, «muitos vícios se cometiam e<br />

contraíam no tempo dos Cursos Literários».<br />

Este “statu quo”, segundo D. Francisco de Lemos, era a resultante <strong>da</strong><br />

Constituição <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong>des e dos próprios Mestres: era difícil manter a<br />

disciplina em tão grande número de estu<strong>da</strong>ntes, divididos entre si pela<br />

diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s nações, <strong>da</strong>s línguas, <strong>da</strong>s inclinações e dos costumes; também<br />

os próprios Mestres estavam divididos entre si pela diversi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s suas<br />

opiniões e pela oposição que faziam aqueles que tinham maior reputação e<br />

mais ouvintes, sendo que estas mesmas divisões e emulações passavam aos<br />

discípulos, e então eram causa de mil desordens; os mesmos Mestres não se<br />

aplicavam senão em fazer lições e ditados, sem se preocupar em formar os<br />

costumes <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de e em inspirar-lhe sentimentos de religião e probi<strong>da</strong>de.<br />

Tais hábitos constituíram um dos mais perniciosos efeitos do magistério<br />

escolástico, isto é, não se preocupavam com os ensinamentos sólidos e úteis,<br />

ficando-se em questões vãs e supérfluas que não serviam para formar o<br />

espírito e o coração <strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>ndo azo a que «a mesma moci<strong>da</strong>de longe<br />

de aproveitar nas Universi<strong>da</strong>des contraía vícios enormes e a faziam inútil para<br />

os empregos e Ministérios públicos.<br />

Entendendo ter dito o suficiente <strong>sobre</strong> o assunto, resumia as suas<br />

considerações do seguinte modo: uma vez que o ensino público se tinha<br />

reduzido a uma mera formali<strong>da</strong>de e que os estu<strong>da</strong>ntes não frequentavam as<br />

aulas, nem a isso eram obrigados; <strong>da</strong>do que a vi<strong>da</strong> académica se passava no<br />

ócio e o Ministério <strong>da</strong> palavra estava em profundo silêncio e não havia<br />

disciplina para inspirar e fortificar nos ânimos a probi<strong>da</strong>de interna, atendendo a<br />

42


tudo isso, como se podia esperar que os estu<strong>da</strong>ntes saíssem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de<br />

cheios de sentimentos de Religião, de Justiça, de Ordem e de zelo pelo bem<br />

público? E acrescenta: todos estes grandes defeitos foram reconhecidos e se<br />

procuraram emen<strong>da</strong>r na “Nova Reformação”.<br />

Carlos Jaca<br />

A este propósito, e entre outras fontes que poderia citar, refere os<br />

autores <strong>da</strong> “Gazeta Eclesiástica” de França que enaltecem o elevado mérito<br />

dos Estatutos: «Vêem-se ao mesmo tempo nestes Estatutos homens cheios de<br />

probi<strong>da</strong>de, de Religião, e de Amor pelo Bem Público. Se eles trabalham a<br />

formar sábios em todos os géneros, e a favorecer os progressos <strong>da</strong>s Ciências<br />

Divinas e Humanas, pelos meios os mais capazes, de conseguirem, tudo é<br />

dirigido ao bem geral <strong>da</strong> Socie<strong>da</strong>de, e ao fim que se deve propor em to<strong>da</strong>s as<br />

Ciências, que é de conduzir os homens à virtude, a única e ver<strong>da</strong>deira<br />

felici<strong>da</strong>de. Nenhuma coisa é mais própria do que estes Estatutos para<br />

convencer a to<strong>da</strong> a pessoa racionável, que a Religião bem longe de ser inimiga<br />

do que as Ciências têm de ver<strong>da</strong>deiro e de sólido, é só capaz de fazer<br />

conhecer o preço delas, e de tirar delas vantagens…». (39)<br />

D. Francisco de Lemos não deixa de insistir que a virtude está<br />

soli<strong>da</strong>mente liga<strong>da</strong> às ciências e, se estas florescem, em procura <strong>da</strong> ver<strong>da</strong>de,<br />

então, neste caso, também a virtude cresce e os costumes são outros,<br />

sublinhando que os professores têm aqui um papel importante: enquanto os<br />

escolásticos se envolviam em disputas e especulações, os de agora<br />

preocupam-se com a ver<strong>da</strong>de e o ensino <strong>da</strong> religião, <strong>da</strong> virtude e <strong>da</strong> probi<strong>da</strong>de,<br />

sendo o exemplo fun<strong>da</strong>mental para que a moci<strong>da</strong>de se oriente pelo caminho <strong>da</strong><br />

virtude.<br />

Assim, também, a antiga fórmula de juramento foi substituí<strong>da</strong> por outra,<br />

em que os estu<strong>da</strong>ntes, quando se matriculavam de novo, juravam observar os<br />

Estatutos, obedecer aos seus superiores, ter reverência aos Mestres, tratarem-<br />

se uns aos outros com to<strong>da</strong> a cari<strong>da</strong>de e civili<strong>da</strong>de e viverem com bom<br />

comportamento.<br />

O certo é que na Universi<strong>da</strong>de passou a haver mais aplicação, mais<br />

tranquili<strong>da</strong>de e mais ordem, o que não será de todo estranho, uma vez que a<br />

disciplina escolar e o respeito constituíam um objectivo importante nos<br />

princípios do Reitor-Reformador.<br />

43


Carlos Jaca<br />

Em jeito de conclusão, pode dizer-se que a “Relação Geral do Estado <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de” corresponde a uma tentativa notável de justificar as medi<strong>da</strong>s<br />

adopta<strong>da</strong>s pela Reforma de 1772. Contudo, não podia deixar de apresentar<br />

algumas lacunas, <strong>da</strong><strong>da</strong>s as circunstâncias em que tudo ocorreu,<br />

nomea<strong>da</strong>mente o difícil período que a Universi<strong>da</strong>de viveu a seguir à morte de<br />

D. José e ao afastamento do Marquês, durante o qual surgiram fortes reacções<br />

provenientes de vários quadrantes.<br />

Porém, apesar de to<strong>da</strong>s as dificul<strong>da</strong>des surgi<strong>da</strong>s e dos enormes<br />

obstáculos a superar, a Reforma prosseguiu o seu trajecto cujo êxito se deve<br />

fun<strong>da</strong>mentalmente ao Reitor. Efectivamente, a presença de D. Francisco de<br />

Lemos à frente dos destinos <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de desde 1770 até 1821, apenas<br />

com breves interrupções, apoiado por personali<strong>da</strong>des de grande envergadura,<br />

como José Monteiro <strong>da</strong> Rocha e outros, foi, indiscutivelmente, o poderoso<br />

suporte, o homem “providencial” na afirmação e triunfo <strong>da</strong> Reforma.<br />

Nota final: As comemorações do 1º centenário <strong>da</strong> Reforma Pombalina, 1872,<br />

demonstraram plenamente que os trabalhos iniciados um século antes<br />

continuaram a merecer a aprovação do corpo universitário.<br />

Entre a série de acontecimentos levados a cabo, saliente-se a<br />

publicação de vária obras que fazem a história <strong>da</strong>s Facul<strong>da</strong>des, com excepção<br />

<strong>da</strong>s Jurídicas.<br />

Para além <strong>da</strong>s comemorações do 2º centenário <strong>da</strong> Reforma, 1972, em<br />

que foram edita<strong>da</strong>s várias publicações, e levados a cabo outros eventos, deve<br />

salientar-se, quando do 2º centenário <strong>da</strong> morte do Marquês de Pombal, 1982, a<br />

promoção, a nível nacional, de iniciativas que decorreram entre Dezembro de<br />

1981 e Dezembro de 1982. A Comissão Organizadora <strong>da</strong>s Comemorações<br />

tinha como principal objectivo, levar até aos mais vastos sectores <strong>da</strong> população<br />

um conhecimento alargado <strong>da</strong> época pombalina e do seu significado na<br />

<strong>História</strong> de Portugal.<br />

As comemorações foram encerra<strong>da</strong>s com o Colóquio Internacional, “Pombal<br />

Revisitado”, realizado em 2 e 3 de Dezembro de 1982, onde participaram e<br />

deram colaboração efectiva especialistas e estudiosos portugueses e<br />

estrangeiros, espanhóis, franceses ,italianos, norte-americanos e brasileiros.<br />

44


Notas Bibliográficas<br />

Carlos Jaca<br />

(1) Isabel Nobre Vargues – «A Ode a Filomeno e a Reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de 1772». Revista de <strong>História</strong> <strong>da</strong>s<br />

Ideias, Tomo II, 1982 – 1983, pág. 255.<br />

(2) António Leite – «Pombal e o Ensino Secundário», in «Brotéria», Vol. 114, nº 5-6, Maio – Junho – 1982, pág.<br />

590.<br />

(3) Idem, pág. 599.<br />

(4) António Alberto Banha de Andrade – «A Reforma Pombalina dos Estudos Secundários» (1759 – 1771), 1º<br />

vol., pág. 82. Coimbra, 1981.<br />

(5) John Smith (secretário privado do marechal Sal<strong>da</strong>nha) – «Memoirs of the Marquis of Pombal». Vol. I, págs.<br />

308 – 309: «O novo método para as classes de Latim e Grego foi aqui aprovado; e o Presidente do Conselho<br />

Palatino expressou o desejo que tinha de ver o mesmo método aplicado no Império». London, 1843.<br />

(6) Carta Régia de 23 de Dezembro de 1770, que cria a Junta de Providencia Literária, cit. Por Mário Alberto<br />

Nunes <strong>da</strong> Costa em “Documentos para a <strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra» (1750 – 1772), Vol II, págs. 236 –<br />

237. Coimbra, 1961.<br />

(7) Joaquim Veríssimo Serrão – «<strong>História</strong> de Portugal», Vol. VI, pág. 266.<br />

(8) Mário Brandão e M. Lopes de Almei<strong>da</strong> – «A Universi<strong>da</strong>de de Coimbra» – Esboço <strong>da</strong> sua história. Por ordem<br />

<strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, 1937, Parte II. Pág. 72.<br />

(9) Hernâni Ci<strong>da</strong>de - «Lições de Cultura e Literatura Portuguesas», 2º vol., págs. 190 – 191. Coimbra, 1959.<br />

(10) António Ferrão – «A Reforma Pombalina <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra», págs., 5 – 6. Imprensa <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de. Coimbra, 1926.<br />

(11) «Questiones Contemporaines», pág. 81, cit. Por Teófilo Braga in «<strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra»,<br />

pág. 141.<br />

(12) António Sérgio – Obras Completas, «Ensaios», Tomo II, págs. 29 – 30.<br />

(13) Mário Alberto Nunes <strong>da</strong> Costa – «Documentos para a <strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra» (1750 – 1752).<br />

Vol. II, pág. 255.<br />

(14) Op. cit. em (7), pág. 194.<br />

(15) Bernardino António Serra de Mirabeau – «Memória Histórica e Comemorativa <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Medicina».<br />

Coimbra, Imprensa <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de, 1872.<br />

(16) Op. cit. em (9), pág. 194.<br />

(17) Teófilo Braga – «D. Francisco de Lemos e a Reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra», pág. VIII. Lisboa, 1894.<br />

(18) – Luís de Albuquerque – «O Reino <strong>da</strong> Estupidez e a Reforma Pombalina». Textos Vértice, pág. 21. Atlânti<strong>da</strong>,<br />

Coimbra, 1975.<br />

(19) Jorge Borges de Macedo «O Marquês de Pombal», pág. 29. Biblioteca Nacional – Série Pombalina. Lisboa,<br />

1982.<br />

(20) D. Francisco de Lemos – «Relação geral do Estado <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de» (1777), pág. 12. Coimbra, 1980<br />

(21) Henrique Schaefer – «<strong>História</strong> de Portugal». Vol. V, pág. 193. Porto, 1899.<br />

(22) Op. cit. em (9), pág. 203.<br />

(23) Miller Guerra – «A Reforma Pombalina dos Estudos Médicos», in «Pombal Revisitado», Vol. I, pág. 191.<br />

(24) «Ensaio Histórico <strong>sobre</strong> a Origem e Programa <strong>da</strong>s Matemáticas em Portugal», pág. 67, cit. por Henrique<br />

Schaefer in «<strong>História</strong> de Portugal», pág. 199.<br />

(25) Joaquim Veríssimo Serrão – «O Marquês de Pombal, o Homem, o Diplomata e o Estadista», pág. 152.<br />

Lisboa, 1982.<br />

(26) «Pasta de Manuscritos nº 895 46 » – Carta Régia dirigi<strong>da</strong> ao Marquês de Pombal <strong>sobre</strong> os Estatutos <strong>da</strong><br />

Universi<strong>da</strong>de de Coimbra, 28 de Agosto de 1772; 3 fls.. Arquivo Distrital de Braga.<br />

(27) Idem.<br />

(28) Idem.<br />

(29) Teófilo Braga - «<strong>História</strong> <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de de Coimbra», Tomo II, pág.427. Lisboa, por ordem e na tipografia<br />

<strong>da</strong> Academia Real <strong>da</strong>s Ciências, 1898.<br />

(30) Pedro Calmon – «A Reforma <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de e os Dois Brasileiros que a planejaram». «Revista de <strong>História</strong><br />

<strong>da</strong>s Ideias», Vol. IV, Tomo II, págs. 95-96.<br />

(31) Joaquim Ferreira Gomes – «Dez Estudos Pe<strong>da</strong>gógicos», págs. 229-230. Coimbra, 1977.<br />

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(32) Francisco de Castro Freire – «Memória Histórica <strong>da</strong> Facul<strong>da</strong>de de Matemática», pág. 17. Coimbra, 1872.<br />

(33) José Silvestre Ribeiro – «<strong>História</strong> dos Estabelecimentos Científicos, Literários e Artísticos de Portugal nos<br />

Sucessivos Reinados <strong>da</strong> Monarquia». Tomo I, pág.379.<br />

Lisboa, Tipografia <strong>da</strong> Academia Real <strong>da</strong>s Ciências, 1872.<br />

(34) Op cit. em (8), pág. 97.<br />

(35) «Pasta de Manuscritos nº 895 42» – Visita do Marquês de Pombal à ci<strong>da</strong>de de Coimbra, e respectivo Diário<br />

desde 22 de Setembro até 24 de Outubro, dia em que saiu <strong>da</strong> Ci<strong>da</strong>de. Sé. XVIII, 14 fls. inumera<strong>da</strong>s. Arquivo<br />

Distrital de Braga.<br />

(36) Carvalho, Rómulo de – “<strong>História</strong> do Ensino em Portugal”, pág. 466. Fun<strong>da</strong>ção Calouste Gulbenkian, 1986.<br />

(37) Rodrigues, Manuel Augusto – “ A Universi<strong>da</strong>de de Coimbra”. Figuras e factos <strong>da</strong> sua história. Vol. I, pág. 553.<br />

Campo <strong>da</strong>s Letras, 2007.<br />

(38) Op. cit. em (20), pág. 198.<br />

(39) Idem, pág. 201-202.<br />

Carlos Jaca<br />

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