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PROPRIEDADE<br />
DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />
Direcção, Redacção e Administração<br />
Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />
1069-020 Lisboa<br />
Telef: 213 567 700<br />
Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091<br />
E-mail: jornal.do.exercito@mail.exercito.pt<br />
E-mail: jornal.exercito@sapo.pt<br />
E-mail − Intranet: Jornal do <strong>Exército</strong><br />
Home page: www.exercito.pt<br />
DIRECÇÃO<br />
Director<br />
Coronel de Infantaria<br />
José Custódio Madaleno Geraldo<br />
Secretária<br />
Ass Técnica Teresa Felicíssimo<br />
Soldado Condutor RC Pedro Ferreira<br />
REDACÇÃO<br />
Chefe<br />
Tenente-Coronel J. Pinto Bessa<br />
Redactores<br />
Tenente RC Paulo Moreira<br />
Tenente RC Rico dos Santos<br />
Alferes RC Nelson Cavaco<br />
1º Sargento Anjos das Neves<br />
Mauro Matias<br />
Operadoras Informáticas<br />
Ass Técnica Elisa Pio<br />
Ass Técnica Guiomar Brito<br />
CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO<br />
Chefe<br />
Major Augusto Correia<br />
Operadores Informáticos<br />
Ass Técnica Tânia Espírito Santo<br />
2.º Cabo Gonçalo Silva<br />
Biblioteca<br />
Ass Técnica Joana Moita<br />
SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS<br />
Operador Informático<br />
Sargento-Ajudante João Belém<br />
Distribuição e Publicidade<br />
Sargento-Ajudante Luís Silva<br />
Ass Operacional Filomena Remédios<br />
SECRETARIA<br />
Sargento-Chefe Costa e Silva<br />
COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />
Lusa - Agência de Notícias<br />
de Portugal, SA<br />
Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />
RCRPP/GabCEME<br />
EXECUÇÃO GRÁFICA<br />
Europress, Lda<br />
Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />
Lisboa<br />
Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />
Europress@mail.telepac.pt<br />
Tiragem − 6 000 exemplares<br />
Sumário<br />
Ano L - N.º 589 - Novembro de 2009<br />
Secções<br />
Hospital Militar Principal<br />
Um legado de 175 anos<br />
Alocução do Director 18<br />
Comemorações<br />
do Dia do <strong>Exército</strong> 24<br />
Exercício ORION 09 40<br />
Suplemento<br />
VII – D. João I<br />
e a Tomada de Ceuta<br />
Monumentos com História Militar – O Castelo de Braga – 4<br />
Editorial – 5<br />
Figuras e Factos – 8 a 17<br />
Uniformes Militares – 37 a 39<br />
Livros – 44 e 45<br />
Passatempos de outros tempos – 46<br />
Capa: Dia do <strong>Exército</strong> em Braga - Foto do Tenente Rico dos Santos<br />
Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />
Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />
Depósito Legal n.º 1465/82<br />
ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60
4<br />
MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />
O Castelo de Braga<br />
A<br />
actual Torre de Menagem, construída no século<br />
XIII, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), é o<br />
elemento arquitectónico que permaneceu até aos dias de<br />
hoje do antigo Castelo de Braga. Fruto de várias<br />
Foto do Regimento de Cavalaria n.º 5<br />
intervenções ao longo da História, foi graças a este século<br />
de intensa actividade construtiva militar que se edificou o<br />
único elemento vivo que comprova a existência do Castelo.<br />
A sua existência remonta ao século III, data em que se<br />
identificou uma estrutura defensiva a cercar a cidade durante<br />
o período da ocupação romana. A sua planta seria<br />
poligonal, com uma área de muralhas entre 40 e 50 hectares,<br />
reforçada por torreões de planta semi-circular.<br />
Durante o período que decorre até ao século XI, as<br />
informações existentes sobre a cidade não permitem<br />
conclusões sobre a sua evolução, sendo apontado que a<br />
estrutura apenas tenha sido mantida durante a ocupação<br />
dos Suevos, que escolheram Braga como capital do seu reino.<br />
No século XI sabe-se que uma segunda cerca estava em<br />
construção. Aproveitando a antiga construção romana,<br />
situada a Norte, esta nova fase estendia a cerca para Sul e<br />
Oeste, complementado a cerca existente.<br />
As alterações mais significativas aconteceram no século<br />
XIII, período em que se abandonou a antiga cerca romana a<br />
Norte e se deu um crescimento da urbe em torno da sua Sé-<br />
Catedral. D. Dinis foi o responsável pela construção de uma<br />
nova cerca, assim como a Torre de Menagem. Os relatos<br />
existentes demonstram que esta nova cerca não se revelou<br />
eficaz, permitindo a invasão da cidade por tropas de Castela<br />
na vigência do reinado de D. Fernando (1367-1383). Tendo<br />
em conta a defesa da cidade, nos dois séculos seguintes a<br />
muralha foi alvo de melhoramentos, sendo reforçada com<br />
várias torres de forma quadrangular. Do século XVI em diante<br />
a cidade foi perdendo a sua função defensiva, surgindo<br />
vários edifícios adossados à cerca pelo exterior.<br />
Actualmente, e após a demolição do castelo em 1906, a<br />
Torre de Menagem mantém vivo o testemunho do mesmo.<br />
Apresenta uma forma quadrada (12x12 metros), de estilo<br />
gótico e construída totalmente em granito, com cerca de 30<br />
metros de altura e 3 pisos interiores. Nela pode ver-se<br />
também as pedras de armas de D. Dinis, assim como uma<br />
janela geminada no topo e matacães nos vértices.<br />
Em 23 de Junho de 1910, a Torre de Menagem e alguns<br />
troços da muralha medieval foram classificados como<br />
Monumento Nacional.JE<br />
Alferes RC Nelson Cavaco
O<br />
Dia do <strong>Exército</strong> foi este ano comemorado em Braga. Esta bela e vetusta cidade é<br />
uma das mais antigas de Portugal e uma das cidades cristãs mais antigas do<br />
mundo, pois a sua fundação remonta ao tempo dos romanos como Bracara Augusta. Mais<br />
de dois milénios nos separam da sua criação. Tomando, provavelmente, a actual designação<br />
no século XI. É iniciada a construção da muralha da cidade e da Sé, por ordem do bispo D.<br />
Pedro de Braga, sobre restos de um antigo templo dedicado à deusa Isis [deusa da maternidade<br />
e da fertilidade]. A cidade desenvolveu-se então em torno da Sé, restringindo-se ao perímetro<br />
amuralhado. D. Afonso VI de Castela oferece Braga, como dote, à sua filha D. Teresa, por<br />
ocasião do seu casamento com D. Henrique de Borgonha, Conde portucalense.<br />
S. Geraldo foi Arcebispo de Braga entre 1096 e 1108. Em 1100 viajou até Roma para obter<br />
do Papa Pascoal II a dignidade metropolítica para a Sé de Braga a título definitivo. A autonomia<br />
eclesiástica de Braga face a Santiago de Compostela constituiria um bom augúrio para a<br />
independência do Condado Portucalense. No ano em que se celebram os nove séculos<br />
sobre o nascimento de D. Afonso I, o Rei Fundador de Portugal e Patrono do <strong>Exército</strong>, a<br />
oportunidade e a escolha desta cidade para as cerimónias comemorativas do Dia do <strong>Exército</strong><br />
são, na nossa modesta opinião, deveras óbvias e revestem-se de profundo significado<br />
histórico e patriótico.<br />
Quem esteve em Braga, ou quem teve oportunidade de acompanhar o evento pelos<br />
órgãos da comunicação social, tirá conclusões semelhantes. O povo português de Braga<br />
saiu à rua para apoiar, com admiração e respeito, o seu <strong>Exército</strong>, os seus soldados, os seus<br />
filhos, os seus irmãos, os seus familiares e amigos, numa palavra os seus patrícios, que<br />
juraram defender a Pátria de todos, mesmo com o sacrifício da própria vida! Ouviram-se<br />
várias vezes os aplausos da multidão que enchia a Avenida da parada militar, destacando-se<br />
dois momentos, após o Hino Nacional e durante o Desfile das Tropas. E aqui lembrámo-nos<br />
do célebre desfile das tropas aliadas, em que também desfilaram tropas portuguesas [400<br />
homens de Infantaria] sob o Arco do Triunfo, gloriosamente narrado, em poesia, por Lucien<br />
Boyer com adaptação do Capitão J. M. Galhardo, intitulado “O Regresso”. Este desfile deuse<br />
a 14 de Julho de 1919, após a assinatura do Armistício que pôs fim à I Guerra Mundial [às<br />
11 horas do 11.º mês de 1918]. Dedicamos o seguinte texto a todos os militares do <strong>Exército</strong><br />
Português e dos restantes Ramos das Forças Armadas de sempre, ao serviço de Portugal e<br />
da paz no Mundo:<br />
“Agora Senhor meu – disse Flambeau [...]<br />
Vão ali famosos regimentos,<br />
A glória militar, indómitos soldados!...”<br />
Cavaleiros, então avançam com ardor,<br />
E ele anunciou – “Desfilam os dragões!...”<br />
Estremecem no céu os áureos portões,<br />
Que a voz do povo era um estrídulo clamor,<br />
“-Mas isto nada é...”, Disse Flambeau atento.<br />
“Olhai a Artilharia!...” Em enorme alarido,<br />
Reboam saudações qual ciclone enfurecido,<br />
Ascendendo em rajada até ao firmamento. [...]<br />
“Agora Senhor meu - disse Flambeau ovante:<br />
Vereis quando passar a nobre Infantaria...<br />
Tenho medo que o Sol estoire e finde o dia.<br />
E a noite eterna envolva a Terra num instante.<br />
Serão aclamações estrondosas torrenciais [...]”<br />
Era uma corte altiva, os tantos que ali iam,<br />
Um grande, imenso mar de heróis que ali passava.<br />
As quentes saudações que a multidão soltou<br />
Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais<br />
O espanto avassalou as regiões siderais.<br />
E Flambeau, indignado, agreste se expressou:<br />
“Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?! [...]”<br />
Os Infantes, semi-deuses, heróis em gesta,<br />
Que a luz do Sol poente envolve e magnifica,<br />
Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado...<br />
Fremente, perturbada, a imensa multidão,<br />
Por um alto mandato ou estranha inspiração,<br />
Havia ajoelhado.”<br />
Também nós sentimos arrepios quando desfilam as Tropas Portuguesas!<br />
5
8<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Professor Doutor Augusto Santos Silva – Ministro da Defesa Nacional<br />
Nascido no Porto em 1956, casado, pai<br />
de 3 filhos. Augusto Santos Silva é<br />
doutorado em Sociologia, especialidade de<br />
Sociologia da Cultura e da Comunicação, pelo<br />
Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da<br />
Empresa (1992). Em 1999 é agregado em Ciências<br />
Sociais pela Faculdade de Economia da<br />
Universidade do Porto.<br />
Docente da Faculdade de Economia do Porto<br />
desde 1981, actualmente com a categoria de Professor<br />
Catedrático. Foi Presidente do conselho<br />
científico da Faculdade de Economia do Porto em<br />
1998-1999 e, simultaneamente, Pró-reitor da<br />
Universidade do Porto. Entre 1996 e 1999 foi membro do<br />
Conselho Nacional de Educação e representante português no<br />
Projecto de Educação para a Cidadania Democrática do<br />
Conselho da Europa (1997-1999).<br />
É membro do Partido Socialista desde 1990, membro da sua<br />
Comissão Nacional (desde 1998), da Comissão Política Nacional<br />
XXXV Congresso Internacional de História Militar<br />
O<br />
XXXV Congresso Internacional de História Militar,<br />
iniciativa anual da Comissão Internacional de História<br />
Militar (CIHM), realizou-se no Centro de Congressos da<br />
Alfândega do Porto, entre 31 de Agosto e 4 de Setembro. Para<br />
o presente ano, a CIHM cometeu a organização do Congresso<br />
à Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), a qual<br />
contou com o apoio da Universidade do Porto e da Câmara<br />
Municipal do Porto.<br />
A cerimónia de abertura do Congresso, em 31 de Agosto,<br />
decorreu na Sala Infante do Centro de Congressos da Alfândega<br />
e foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, contanto,<br />
igualmente, com a presença do Presidente da Câmara Municipal<br />
do Porto, do Reitor da Universidade do Porto, além, dos presidentes<br />
das CIHM e CPHM e de diversas autoridades civis e<br />
militares.<br />
Associando-se às comemorações do segundo centenário<br />
da 2.ª Invasão Francesa, o Congresso enquadrou-se no tema A<br />
guerra no tempo de Napoleão. Antecedentes, campanhas<br />
militares e impactos de longa duração, o qual haveria de se<br />
revelar como muito atraente, acabando, o Secretariado Científico<br />
do Congresso, por seleccionar 86 comunicações em<br />
representação de 30 países. No total, contando também com os<br />
congressistas que não apresentaram qualquer comunicação,<br />
estiveram presentes delegações de 40 países.<br />
A conferência inaugural, inserida na cerimónia de abertura,<br />
foi proferida pelo Professor Doutor Luís António de Oliveira<br />
Ramos, professor jubilado da Universidade do Porto e seu ex-<br />
Reitor, a qual versou o tema A Europa contemporânea e as<br />
campanhas napoleónicas.<br />
No último dia do congresso, em 4 de Setembro, realizou-se<br />
uma conferência de encerramento, proferida pelo Professor<br />
Charles Esdaile, da Universidade de Liverpool, subordinada ao<br />
(2002-2005, desde 2006) e do Secretariado<br />
Nacional (desde 1998). Entre 2002 e 2005 foi<br />
Coordenador do Grupo Parlamentar do PS para<br />
as áreas de Cultura, Ciência e Ensino Superior e<br />
Director da Acção Socialista (2002-2005).<br />
No seu curriculum conta ainda com diversos<br />
livros publicados e foi colunista no Jornal<br />
Público (1992-1999, 2002-2005), Cronista da TSF-<br />
Rádio Jornal (1997-1998) e colaborador da<br />
Página Cultural do Jornal de Notícias (1978-<br />
1986).<br />
Ministro da Defesa Nacional do XVIII<br />
Governo Constitucional desde 26 de Novembro<br />
de 2009. Anteriormente, foi membro do XIV Governo<br />
Constitucional, inicialmente como Secretário de Estado da<br />
Administração Educativa (1999-2000), depois como Ministro<br />
da Educação (2000-2001) e, por último, como Ministro da Cultura<br />
(2001-2002). Entre 2005 e 2009 desempenhou o cargo de Ministro<br />
dos Assuntos Parlamentares do XVII Governo Constitucional.<br />
http://www.mdn.gov.pt/mdn/pt/mdn/mdn/<br />
tema: As Guerras Napoleónicas num contexto global.<br />
Paralelamente ao programa académico, desenvolveu-se um<br />
programa de carácter turístico destinado aos acompanhantes,<br />
programa esse que, além de dar a conhecer a cidade do Porto,<br />
levou este grupo à Área Militar de S. Jacinto à cidade de Aveiro<br />
e a um cruzeiro no rio Douro. Na quarta-feira, dia 2 de Setembro,<br />
como é tradicional, a totalidade dos congressistas foram em<br />
viagem pelo Minho, visitando Guimarães e Ponte de Lima. O<br />
programa foi completado com recepções nocturnas oferecidas<br />
pela CPHM (Serra do Pilar), pela Câmara Municipal do Porto e<br />
pelo <strong>Exército</strong> Português (no quartel de Santo Ovídio), com um<br />
jantar numa das caves de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia,<br />
encerrando-se a parte social do congresso com um jantar de<br />
despedida, na Sala Arquivo da Alfândega do Porto.<br />
Em regime opcional, o programa do Congresso prosseguiu<br />
no sábado, dia 5 de Setembro, com dois “tours” pós-congresso,<br />
um no rio Douro e outro com termo em Lisboa, visitando,<br />
entre outras localidades, Buçaco, Coimbra, Fátima, Mosteiro<br />
da Batalha e Campo de S. Jorge, Alcobaça, Mafra e Évora.
FIGURAS e FACTOS<br />
Seminário de Política Europeia de Segurança e Defesa<br />
Enquadrado na iniciativa europeia “Erasmus Militar”,<br />
decorreu em Lisboa, entre 7 e 11 de Setembro, o<br />
primeiro Seminário de Política Europeia de Segurança e<br />
Defesa (PESD) destinado a alunos e docentes das Academias<br />
Militares dos Estados-membros da União Europeia (UE). O<br />
seminário, coordenado pela Academia Militar, foi realizado<br />
em regime de cooperação académica com a Escola Naval e a<br />
Academia da Força Aérea, tendo tido ainda o apoio do<br />
Colégio Europeu de Segurança e Defesa.<br />
A iniciativa teve a sua origem no segundo semestre de<br />
2008 sob a presidência francesa da União, que à data lançou<br />
o desafio de realização de um “Erasmus Militar”. Neste<br />
âmbito, no primeiro semestre de 2009, Portugal − através do<br />
Ministério da Defesa Nacional − propôs-se organizar o cursopiloto<br />
para o qual convidou dois alunos por estado-membro,<br />
iniciativa que veio a merecer o acolhimento de grande parte<br />
dos países da UE, bem como o apoio do Alto-Representante<br />
para a Politica Externa e de Segurança Comum, Javier Solana.<br />
A cerimónia de abertura foi presidida pelo Ministro da<br />
Defesa Nacional, tendo contado com a presença de<br />
embaixadores e adidos de defesa dos estados-membros da<br />
União Europeia acreditados em Portugal, altas<br />
individualidades militares e ainda representantes das<br />
comunidades académicas de ensino superior nacional.<br />
A presente iniciativa designada “Erasmus Militar” pode<br />
vir a constituir o embrião de um importante programa<br />
formativo no âmbito do reforço e desenvolvimento da<br />
21.º Aniversário do Regimento de Artilharia Antiaérea N.º1<br />
Decorreu no dia 1 de Outubro, a cerimónia<br />
comemorativa do 21.º aniversário do Regimento de<br />
Artilharia Antiaérea N.º1 (RAAA1), em Queluz.<br />
A cerimónia foi presidida pelo Tenente-General Artur Neves<br />
Pina Monteiro, Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, contando<br />
com a presença do Major-General Martins Ferreira, Comandante<br />
da Brigada de Intervenção, entre outros ilustres convidados<br />
militares e civis, tais como o General Loureiro dos Santos e o<br />
Dr. Fernando Seara, Presidente da Câmara de Sintra.<br />
O dia do RAAA1 decorreu com a habitual cerimónia militar,<br />
destacando-se: a continência das forças em parada; a integração<br />
do Estandarte Nacional; a homenagem aos militares mortos em<br />
defesa da Pátria; imposição de condecorações; desfile das forças<br />
em parada e os habituais discursos alusivos à cerimónia.<br />
O Coronel Morgado Baptista, Comandante do RAAA1, na<br />
sua alocução efectuou um balanço do ano transacto, realçando<br />
os exercícios efectuados e a formação desenvolvida. Referiu a<br />
importância de substituir os sistemas de artilharia antiaérea,<br />
bem como a necessidade de adquirir um sistema de Comando e<br />
Controlo Integrado.<br />
O Tenente-General Pina Monteiro, na sua alocução enalteceu<br />
a importância do RAAA1, descrevendo algumas das suas<br />
importantes tarefas. Realçou a necessidade para reequipar o<br />
identidade europeia dos Oficiais das Forças Armadas dos<br />
estados-membros da UE. É de relevar o facto de Portugal<br />
ter sido o país organizador do primeiro curso-piloto, neste<br />
caso, sob a temática da Política Europeia de Segurança e<br />
Defesa, o que muito orgulha todos aqueles que têm<br />
encontrado no Ensino Superior Militar um dos importantes<br />
suportes estruturais do prestígio internacional que o<br />
<strong>Exército</strong> Português tem evidenciado ao longo de sucessivas<br />
gerações.<br />
RAAA1 de modo a actualizar o seu equipamento.<br />
Após a actuação da Banda do <strong>Exército</strong>, seguiu-se a<br />
inauguração e visita à exposição sobre “A Artilharia Antiaérea<br />
e as suas capacidades”, no parque Felício Loureiro. Antes do<br />
almoço de convívio ainda houve tempo para visitar a exposição<br />
de viaturas militares, na Parada General Themudo Barata.<br />
9
10<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Dia do Regimento de Cavalaria N.º 3<br />
“<br />
Ao longo dos últimos seis séculos, Estremoz e a região<br />
envolvente foram palco de importantíssimos<br />
acontecimentos militares decisivos para o curso histórico de<br />
Portugal. As Batalhas de Atoleiros no séc. XIV, Linhas de Elvas,<br />
Ameixial e Montes Claros no séc. XVII são exemplo do quão<br />
importante foi a acção militar na região.<br />
Na Praça Marquês do Pombal, no coração de Estremoz,<br />
onde Nuno Álvares Pereira reuniu as suas tropas antes de<br />
marchar para Atoleiros, em 1384, foi realizada a Parada militar<br />
comemorativa dos 302 anos do Regimento de Cavalaria N.º3<br />
(RC3), junto do povo estremocense.”<br />
(Extracto do discurso do Comandante do RC N.º 3)<br />
A data de 15 de Setembro evoca o combate de Fuente de<br />
Cantos, travado a 15 de Setembro de 1810, no período final das<br />
Invasões Francesas, onde os militares portugueses pertencentes<br />
ao RC N.º3 se distinguiram de forma notável, merecendo um<br />
especial elogio do Marechal Beresford, publicado na Ordem do<br />
Dia de 3 de Novembro de 1811, segundo a qual, “Raríssimas<br />
vezes acontece haver na guerra uma conduta mais brilhante”,<br />
frase que passou a constituir o lema do Regimento.<br />
De acordo com as palavras do Comandante, Coronel Pedro<br />
Miguel da Fonseca Lopes, ao longo do último ano, o saber e a<br />
dedicação dos militares e civis do Regimento incidiu nas duas<br />
tarefas essenciais da sua Missão: “aprontar um Esquadrão de<br />
Reconhecimento e formar militares na área da condução”.<br />
Paralelamente, tanto no campo das tradições e evocação<br />
histórica, de onde sobressaiu a presença de forças do Regimento<br />
nas comemorações das Batalhas das Linhas de Elvas, Atoleiros,<br />
Albuera e Montes Claros, e da Liga dos Combatentes, como<br />
nas vertentes cultural e desportiva, ou na constante interacção<br />
com a sociedade civil local, em todas estas actividades, a<br />
participação dos militares do RC N.º3 trouxe resultados<br />
dignificantes para a imagem da Arma de Cavalaria, do <strong>Exército</strong> e<br />
da Instituição Militar.<br />
O Esquadrão de Reconhecimento da Brigada de Reacção<br />
Rápida, componente operacional da Unidade, constituiu a<br />
primeira prioridade, face à necessidade de o manter pronto para<br />
actuar em qualquer Teatro de Operações adequado às suas<br />
características ou da necessidade do seu emprego efectivo nos<br />
exercícios ou cerimónias militares, como foi, por exemplo, o Dia<br />
de Portugal, em Santarém.<br />
Foi sublinhado o enorme esforço deste Esquadrão, como<br />
consequência da recente entrega das viaturas M 11 para o<br />
contingente nacional que, em Janeiro de 2010, partirá para o<br />
Afeganistão, somadas às 18 VBL M11 desta Unidade que, desde<br />
Março de 2005, se encontram no Kosovo.<br />
No âmbito da formação, o RC N.º 3 deu ao <strong>Exército</strong>, desde<br />
Setembro do ano passado, 850 novos condutores repartidos<br />
pelas categorias “A” (motos), “B” (ligeiros e viaturas de todoo-terreno)<br />
e “C” (pesados), habilitados com certificado de<br />
condução, o que espelha a dimensão da tarefa e a inerente<br />
responsabilidade. No total, as viaturas de instrução percorreram<br />
cerca de 80 mil km sem registo de acidentes.<br />
Ainda no capítulo da formação e no âmbito da interacção<br />
com a sociedade civil, merece realce o estabelecimento de<br />
protocolos com a Associação para o Desenvolvimento do<br />
Alentejo, Inovação e Valorização (INOVAL) para um curso de<br />
carpintaria de 15 meses, a decorrer no Regimento, e com a Escola<br />
Secundária Rainha Santa Isabel de Estremoz, através da recente<br />
cedência de infra-estruturas do Regimento para a frequência de<br />
aulas a três turmas dos 10.º ao 12.º anos, e Cursos de Formação<br />
Profissional de nível III durante o presente ano lectivo. De<br />
salientar igualmente a ligação com o Centro de Novas<br />
Oportunidades de Estremoz, que permitiu aos militares e civis<br />
do Regimento o registo de 60 inscrições para obtenção de diplomas<br />
do 9.º e 12.º anos de escolaridade.<br />
Destaque também para a componente de apoio social,<br />
através do incremento da hipoterapia, com aulas ministradas a<br />
crianças deficientes de Escolas de Estremoz e de Sousel, e uma<br />
representação na Semana Equestre Militar, em Mafra.<br />
Na área funcional da logística foi relevada a resposta do<br />
escalão superior às persistentes solicitações do Regimento,<br />
contribuindo ao longo do ano para a modernização de<br />
equipamentos informáticos, prioritariamente atribuídos à<br />
formação, para o aumento de viaturas tácticas destinadas à<br />
condução TT e para a preservação das infra-estruturas básicas<br />
do Regimento, com reflexos directos no moral dos militares.<br />
Já no campo desportivo, de referir o grande dinamismo e a<br />
diversidade de modalidades praticadas, objecto da organização<br />
de torneios, provas ou campeonatos, alguns abertos à<br />
participação de civis, como passeios de todo terreno, BTT ou<br />
orientação, e a digna participação das equipas do Regimento<br />
nos Campeonatos Desportivos Militares do CID, ocupando o<br />
1.º lugar isolado, depois de realizadas as provas de orientação,<br />
tiro, triatlo e pentatlo militar.<br />
Em relação ao futuro próximo, o Regimento de Cavalaria<br />
N.º3 continuará a dirigir o seu esforço para manter o Esquadrão<br />
de Reconhecimanto bem treinado e equipado, com capacidade<br />
para intervir, quando solicitado, no quadro dos nossos<br />
compromissos internacionais, capaz de motivar os seus<br />
soldados e de incentivar o recrutamento de novos militares<br />
para as suas fileiras. Neste sentido, aguarda-se com intensa<br />
expectativa a inclusão dos militares desta subunidade na FND<br />
que em Março próximo iniciará o seu aprontamento para integrar<br />
a Kosovo Force (KFOR) no TO do KOSOVO.<br />
Coronel Fonseca Lopes
Lançamento do Livro “Alcácer Quibir<br />
−1578. Visão ou Delírio de um Rei?”<br />
Decorreu a 6 de Outubro nas Caves Manuelinas do<br />
Museu Militar, em Lisboa, a apresentação pública<br />
da obra “Alcácer Quibir - 1578. Visão ou Delírio de um Rei?”,<br />
da autoria do Dr.º Luís Costa e Sousa. A apresentação do<br />
livro coube ao Professor Doutor Dias Farinha, contando<br />
com a presença do Doutor Pedro de Avillez, editor da Tribuna.<br />
Entre os distintos presentes, militares e civis, relevo para<br />
a presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />
José Luís Pinto Ramalho.<br />
O livro problematiza os pormenores inerentes à Batalha<br />
de Alcácer Quibir, contextuando o panorama do norte de<br />
África na ofensiva de D. Sebastião.<br />
Apresentação do ponto de situação<br />
da Directiva de Comando<br />
Decorreu dia 7 de Outubro na Escola de Sargentos<br />
do <strong>Exército</strong> (ESE) a apresentação do ponto de<br />
situação da Directiva de Comando do General José Luís Pinto<br />
Ramalho, Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), aos<br />
adjuntos do Comando das Unidades, Estabelecimentos e<br />
Órgãos (U/E/O) do <strong>Exército</strong>.<br />
A referida apresentação decorreu no auditório da ESE<br />
durante cerca de uma hora e foi feita pelo próprio CEME.<br />
Estiveram presentes para a apresentação cerca de 100<br />
Sargentos-Mor/Sargentos-Chefe das diversas U/E/O do<br />
<strong>Exército</strong>.<br />
Dia da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong><br />
R ealizou-se dia 7 de Outubro, no Salão Nobre do<br />
Palácio Vilalva, em Lisboa, a Cerimónia Comemorativa<br />
do Dia Festivo da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong> (IGE).<br />
A Cerimónia foi presidida pelo Tenente-General Vaz<br />
Antunes, Inspector-Geral do <strong>Exército</strong>.<br />
A Cerimónia contou com a leitura da resenha histórica<br />
da IGE, a alocução do Inspector-Geral e a Imposição de<br />
Condecorações. A Cerimónia encontrou o seu terminus com<br />
o habitual porto de honra.<br />
A escolha do Dia Festivo da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong>,<br />
decorre da publicação em 7 de Outubro de 1959, do Dec.-Lei<br />
n.º 42564 que estabelece a organização geral do Ministério<br />
do <strong>Exército</strong> e que integra, pela primeira vez, a Inspecção-<br />
Geral do <strong>Exército</strong>.<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
11
12<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
Homenagem ao Alferes Henrique Ferreira de Almeida<br />
O Alferes Henrique Ferreira de Almeida é o segundo à direita<br />
“…foi chamado a exercer o comando da Companhia,<br />
funções que desempenhou com notável acerto, espírito de<br />
sacrifício, lealdade e fé inquebrável no cumprimento da<br />
missão.”<br />
(in Resenha Histórico-Militar das Campanhas de<br />
África (1961-1974);5º Volume, Tomo IV, pág.57; Comissão<br />
para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974),<br />
Direcção de História e Cultura Militar, Lisboa 1994)<br />
O<br />
<strong>Exército</strong> Português, juntamente com os camaradas<br />
de curso do Alferes Henrique Ferreira de Almeida,<br />
prestaram homenagem em sua memória numa cerimónia<br />
celebrada na Abrunhosa, concelho de Sátão, em 3 de<br />
Outubro.<br />
“Jovem, mas de marcada personalidade…”, “elevado<br />
espírito de missão”, “tenacidade”, “coragem”, entre<br />
outros, são alguns dos adjectivos que se podem encontrar<br />
em documentos militares para definir um militar que, a<br />
título póstumo, foi condecorado com a Cruz de Guerra de<br />
2.ª Classe.<br />
Iniciou a sua comissão na Guiné em 26 de Janeiro de<br />
1968, desempenhando as funções de adjunto de Comandante<br />
de Companhia e, cerca de 3 meses depois, passou a comandar<br />
a Companhia − por ferimento do respectivo comandante −<br />
aquando do apoio da sua unidade à construção do<br />
aquartelamento Gandembel. Finda a missão, deslocou-se para<br />
Cabedú, onde a 13 de Julho de 1968 ocorreu o fatídico ataque<br />
ao aquartelamento que resultou no seu falecimento ao serviço<br />
da Pátria. O ataque do inimigo iniciou-se cerca das 24h,<br />
descrito como vigoroso e com um grande potencial de fogo,<br />
durando aproximadamente 15 minutos. Durante o mesmo,<br />
sabe-se que o homenageado se mostrou incansável no<br />
incentivo ao seu pessoal, pelo que o seu louvor demonstra<br />
claramente o seu espírito de comando: “… dirigiu-se debaixo<br />
de fogo a todos os locais mais ameaçados, incitando e<br />
orientando o seu pessoal e, com palavras esclarecedoras,<br />
conseguiu incutir em todos um espírito agressivo e uma<br />
vontade férrea de pôr termo ao ataque, acção esta que fez<br />
com que o fogo inimigo diminuísse francamente de<br />
intensidade.” O ataque acabou por se revelar fatal, falecendo<br />
aos primeiros minutos do dia 14 de Julho dentro do abrigo<br />
do posto de comunicações.<br />
No decorrer da cerimónia foi lido um discurso do<br />
Coronel José Pereira da Costa, no qual incorreu pela<br />
biografia e pelas memórias que mantém presentes da sua<br />
vivência com o Alferes Ferreira de Almeida, relembrando<br />
que “Traz-nos aqui a vontade de conservarmos a memória<br />
de um jovem que morreu com um sofrimento que nem a<br />
ciência consegue descrever. Os técnicos podem especular,<br />
mas não são capazes de nos dizer inequivocamente o que<br />
se sente naquelas alturas”.<br />
A cerimónia registou a presença de várias entidades<br />
militares, assim como o Presidente da Câmara Municipal<br />
de Sátão, Dr. Alexandre Vaz, sendo presidida pelo Chefe<br />
do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), General José Luís<br />
Pinto Ramalho, que recebeu as honras militares das tropas<br />
destacadas para o local. Terminada a leitura do discurso,<br />
o CEME descerrou a placa de homenagem colocada na<br />
fachada da habitação onde a 10 de Janeiro de 1947 havia<br />
nascido o Alferes Ferreira de Almeida. Seguidamente, foi<br />
descerrada uma segunda placa, numa homenagem que a<br />
Câmara Municipal de Sátão efectuou ao atribuir o nome<br />
do Alferes Ferreira de Almeida a uma das ruas da<br />
localidade.<br />
A colocação de uma coroa de flores no cemitério de São<br />
Miguel de Vila Boa, onde está a campa do homenageado,<br />
uma acção que contou com a presença do Capelão Chefe do<br />
<strong>Exército</strong>, Cláudio Correia Ferreira, concluiu a cerimónia<br />
dedicada a “um oficial de quem muito havia a esperar e que<br />
pela sua acção muito prestigiou a sua Unidade e o <strong>Exército</strong>”,<br />
conforme se pode ler no seu louvor.
FIGURAS e FACTOS<br />
Inauguração do Centro de Simulação Médica do <strong>Exército</strong><br />
Inserido no 175.º aniversário do Hospital Militar (HMP),<br />
foi inaugurado pelo Chefe do Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, o Centro de<br />
Simulação Médica do <strong>Exército</strong>.<br />
A valência recentemente adquirida pelo <strong>Exército</strong> foi<br />
apresentada com a “colaboração” de um boneco que foi<br />
apelidado de Simão. Este simulador imita as funções vitais<br />
dos seres humanos, respirando, pulsando, sangrando,<br />
possibilitando o seu entubamento e, como qualquer outro<br />
paciente, pode também ser sujeito a intervenções críticas e à<br />
administração de medicamentos. O erro aqui não se paga<br />
caro, pelo contrário, serve de lição para futuras simulações,<br />
dado que tudo o que se faz é registado pelo sistema que<br />
permite, a posteriori, analisar os resultados.<br />
O sistema é uma poderosa ferramenta para a preparação<br />
de equipas médicas para ambientes de campanha, simulando<br />
acontecimentos clínicos sob a forma de cenários<br />
interactivos que podem variar desde procedimentos<br />
evasivos, até casos mais complexos que implicam a tomada<br />
de decisão e liderança.<br />
Este sistema é dos mais sofisticados que existem sendo<br />
idêntico ao que as Forças Armadas Americanas utilizam para<br />
preparar as suas equipas médicas, constituindo um suporte<br />
essencial para o treino dos profissionais de saúde militar. A<br />
medicina operacional do <strong>Exército</strong> − militares do serviço de<br />
saúde prontos para actuar em qualquer teatro de operações<br />
e a qualquer momento −, obtém uma mais-valia que forma e<br />
treina, individualmente ou em equipa, militares para futuro<br />
emprego em contexto operacional e/ou situações críticas e Hospital de Campanha. Este recurso responsável pelo apoio<br />
complexas.<br />
médico à distância vai permitir que os profissionais de saúde<br />
Com o objectivo de melhorar os Hospitais de Campanha, nos teatros de operações tenham acesso à estrutura<br />
este inovador Centro de Simulação Médica, associa-se hospitalar da retaguarda para aconselhamento e<br />
também à Telemedicina, uma valência não disponível no acompanhamento de situações.<br />
Academia Militar promove Seminário sobre Defesa<br />
A<br />
Academia Militar promoveu o seminário “Collaboration:<br />
Building Network-Enabled Communities”, que<br />
decorreu do dia 12 a 14 de Outubro, integrado nas<br />
iniciativas associadas aos estudos pós-graduados em<br />
Guerra de Informação/Competitive Intelligence.<br />
Proferido pelos Phd Margaret Daly Hayes e Phd Richard<br />
E. Hayes, especialistas dos E.U.A., o seminário abordou<br />
temas vocacionados para questões de defesa face a<br />
situações de emergência, desastres, manutenção da paz e<br />
operações de estabilização, assim como relações de<br />
colaboração entre entidades civis e militares<br />
Os palestrantes abordaram os temas na perspectiva da<br />
globalização e a necessidade de colaboração entre as<br />
referidas entidades, recorrendo à apresentação de case<br />
studies e à realização de exercícios em pequenos grupos<br />
13
14<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
R ealizou-se dia 28 de Outubro, na sala do conselho<br />
académico da Academia Militar, em Lisboa, o<br />
Lançamento do Livro “Em Nome da Pátria”<br />
lançamento do livro “Em Nome da Pátria”, da autoria do<br />
Tenente-Coronel João José Brandão Ferreira.<br />
A apresentação da obra coube ao Professor Doutor<br />
Adriano Moreira, contando com a presença da editora Dom<br />
Quixote, da Dr.ª Maria João Costa, e o Comandante da<br />
Academia Militar, o Tenente-General Fernando Manuel<br />
Paiva Monteiro.<br />
O livro procura responder à questão da sustentabilidade<br />
da guerra do Ultramar e às questões inerentes à sua<br />
desistência, englobando o enquadramento geopolítico e<br />
geoestratégico de Portugal na altura.<br />
Antes da apresentação se dar por concluída, o cantor<br />
João Campos e Sousa encantou a superlotada sala de<br />
conselho com três músicas que se enquadraram na perfeição<br />
com o espírito do livro.<br />
A apresentação contou com a presença dos mais<br />
ilustres convidados militares e civis, destacando-se a<br />
presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />
José Luís Pinto Ramalho.<br />
Inauguração do Museu Militar de Elvas<br />
A<br />
cidade de Elvas acolheu o novo espaço museológico<br />
do <strong>Exército</strong> Português, inaugurado pelo Chefe do<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), General José Luís Pinto<br />
Ramalho, numa cerimónia decorrida em 30 de Outubro.<br />
O museu alberga um conjunto de espaços onde se insere<br />
o Convento de São Domingos, a Muralha Fernandina e as<br />
Muralhas Abaluartadas da Cidade, que atestam a forte<br />
presença militar que a cidade sempre conheceu ao longo da<br />
sua história.<br />
Elvas, ao longo de muitos séculos, foi apelidada de<br />
“Claves Regnii”, pela sua importância estratégico-militar, e<br />
tem o seu nome associado a momentos marcantes como a<br />
Batalha de Linhas de Elvas, as Cortes de Elvas, a Batalha do<br />
Salado e, entre outras, revestiu-se de grande importância na<br />
Guerra da Restauração (1640 - 1668).<br />
A abertura do museu militar preserva a importância militar<br />
da cidade de Elvas, que albergou diversas unidades militares<br />
desde a construção do Quartel do Casarão em 1767. Aí<br />
aquartelaram Regimentos de Cavalaria e de Lanceiros,<br />
Regimentos de Infantaria, tropas de Artilharia e funcionou<br />
um Centro de Instrução de Condução Auto.<br />
O Regimento de Infantaria n.º 8 − última unidade que<br />
aquartelou em Elvas −, encerrou em 2007 e, em Janeiro de<br />
2008, por Despacho do General CEME, determinou-se a<br />
criação do Museu Militar de Elvas.<br />
Fruto do legado histórico-militar de Elvas, o <strong>Exército</strong><br />
Português cria um museu que permite mostrar parte do<br />
acervo museológico e patrimonial nas temáticas da “História<br />
do Serviço de Saúde do <strong>Exército</strong>”, “Viaturas do <strong>Exército</strong>” e<br />
“Hipomóveis e Arreios Militares no <strong>Exército</strong>”. Ficou<br />
igualmente decidida a criação de duas áreas de estudo e<br />
investigação: o Centro de Estudos sobre a Fortificação de<br />
Elvas e o Centro de Interpretação sobre a Guerra do Ultramar<br />
Português.<br />
Na sua colecção pode encontrar-se o primeiro carro de<br />
combate do país, uma cozinha de campanha de 1948 e uma<br />
mesa de operações do período de 1950, entre outras peças<br />
expostas.<br />
A cerimónia contou com a presença de altas entidades<br />
militares e civis e contemplou uma Homenagem aos Mortos<br />
das unidades que estiveram aquarteladas em Elvas, uma<br />
sessão solene, o descerramento da placa de inauguração<br />
pelo General CEME, uma visita às exposições e terminou<br />
com a assinatura do Livro de Honra.
4º Torneio de Golfe do <strong>Exército</strong><br />
Português<br />
No âmbito das comemorações do Dia do <strong>Exército</strong>,<br />
decorreu no Belas Clube de Campo, no dia 31 de<br />
Outubro, o 4º Torneio de Golfe do <strong>Exército</strong> Português.<br />
A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior<br />
do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />
Seguiu-se a cerimónia de entrega de prémios da ordem<br />
de mérito do clube de golfe do <strong>Exército</strong> 2009, tendo como<br />
primeiro classificado do Gross, o Coronel Ormonde Mendes<br />
e como primeiro classificado do Net, o Coronel Santos<br />
Matias.<br />
Os vencedores do 4.º torneio de Golfe do <strong>Exército</strong> foram:<br />
1.º Gross <strong>Exército</strong>, Tenente-Coronel José Domingos Silva.<br />
1.º Net <strong>Exército</strong>, Tenente-Coronel José Carlos Augusto.<br />
1.º Gross Convidados, Patricia Vasconcelos.<br />
Longest Drive, Doutor António Sobral.<br />
Nearest to The Pin, Major David Gaspar.<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
15
16<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
“Warm Up Orion” no Comando Operacional das Forças Terrestres<br />
O<br />
Centro de Operações do Comando Operacional das<br />
Forças Terrestres (COFT), apresentou em 9 de Outubro,<br />
o “Warm Up Orion”, enquadrado no Exercício “Orion 09”.<br />
A apresentação, realizada a partir do Centro de Operações,<br />
Abertura do Curso de Defesa Nacional<br />
que tem como tarefas gerais, conduzir as actividades de<br />
preparação e treino operacional das Forças Terrestres, supervisionar<br />
a execução dos planos e ordens, entre outras, serviu<br />
para demonstrar o modus operandi do referido centro, colocando<br />
em contacto simultâneo os comandos das Forças Nacionais<br />
Destacadas no Kosovo, Afeganistão e Líbano, assim como os<br />
comandos das brigadas e zonas militares dos Açores e Madeira.<br />
Foi, deste modo, apresentado perante o Chefe do Estado-<br />
Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, o Vice-<br />
Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Mário de<br />
Oliveira Cardoso e o Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, Artur<br />
Neves Pina Monteiro, o plano de acção do exercício “Orion<br />
09”, cujos objectivos passam por exercitar o Centro de Operações<br />
Terrestres e pelo treino dos militares na execução de missões<br />
integrando uma Força Multinacional.<br />
Como finalidade, o “Orion 09” pretende “testar as capacidades<br />
da componente operacional do sistema de Forças Nacional<br />
− <strong>Exército</strong>, no âmbito de uma operação de resposta a crises.”<br />
Cerimónia de Apresentação dos<br />
Novos Oficiais ao <strong>Exército</strong> Português<br />
Decorreu no dia 1 de Outubro, no Museu Militar, em<br />
Lisboa, a Cerimónia de Apresentação dos Oficiais que<br />
terminaram os cursos da Academia Militar e da Escola Superior<br />
Politécnica do <strong>Exército</strong> que agora ingressam no Quadro<br />
Permanente como Oficiais do <strong>Exército</strong>.<br />
A cerimónia foi presidida pelo o Chefe do Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, tendo como objectivo<br />
assinalar o ingresso no Quadro Permanente dos 72 novos<br />
oficiais, através da entrega da respectiva espada, símbolo do<br />
Comando que materializa a responsabilidade de que são investidos.<br />
Este acto solene ocorreu perante a Estrutura Superior do<br />
<strong>Exército</strong> e teve como testemunhas os familiares e amigos dos<br />
novos Oficiais que se fizeram sentir, como é habito, em grande<br />
número, neste momento marcante da vida destes Oficiais.<br />
O<br />
Professor Doutor Augusto Santos Silva, novo<br />
ministro da Defesa, presidiu à sessão solene de<br />
abertura do Curso de Defesa Nacional no dia 2 de Novembro,<br />
garantindo que as reformas no sector da Defesa, iniciadas pelo<br />
anterior Governo, são para continuar.<br />
No seu primeiro discurso oficial apelou a um consenso sóciopolítico<br />
nas questões de Defesa e elogiou os militares pela sua<br />
capacidade de inovação e modernização.<br />
Na tribuna estiveram os antigos presidentes da República<br />
General Ramalho Eanes e Dr. Jorge Sampaio, o Chefe do Estado-<br />
Maior das Forças Armadas, General Luís Valença Pinto, o<br />
Tenente-General Cabral Couto, o Director do Instituto de Defesa<br />
Nacional Professor Doutor António Telo.
Abertura do Ano Lectivo do Colégio Militar<br />
O<br />
Colégio Militar realizou em, 16 de Outubro, a<br />
Cerimónia da Abertura Solene do ano lectivo 2009/<br />
2010.<br />
A cerimónia teve início nos Claustros, onde o Batalhão<br />
Colegial se apresentou ao Comandante de Instrução e Doutrina<br />
do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Maia de Mascarenhas.<br />
Seguiu-se a integração do Estandarte Nacional, a imposição<br />
de condecorações e a apresentação dos novos alunos do<br />
Colégio.<br />
De acordo com a tradição, o aluno Comandante do Batalhão<br />
Colegial fica encarregue de desejar as boas vindas aos novos<br />
alunos, numa alocução que faz antes da cerimónia atingir o seu<br />
ponto alto: o abraço do aluno do Batalhãozinho. Este tradicional<br />
abraço é precedido pela entrega do símbolo de comando, a<br />
réplica da espada do Rei D. Carlos, e serve para vincar o desejo<br />
de boas vindas aos novos alunos do colégio, o espírito de<br />
camaradagem e o sentido de protecção com que podem contar<br />
por parte dos alunos mais velhos.<br />
As entidades militares e civis que assistiram à cerimónia<br />
presenciaram, ainda, ao desfile do Batalhão Colegial na Parada<br />
Nova.<br />
Abertura do Ano Lectivo da Academia Militar<br />
O<br />
Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />
Luís Pinto Ramalho, presidiu à Cerimónia de<br />
Abertura do Ano Lectivo 2009-2010, na Academia Militar,<br />
no dia 5 de Novembro.<br />
De índole essencialmente académica, apresenta um<br />
balanço do ano lectivo transacto e enuncia as linhas<br />
orientadoras para o novo ano.<br />
A cerimónia decorreu no auditório principal da instituição<br />
com a realização do Cortejo Académico e a Sessão Solene que<br />
contou com a alocução do Comandante da Academia Militar,<br />
Tenente-General Fernando Manuel Paiva Monteiro.<br />
Seguidamente, o Tenente-Coronel Mendes Dias proferiu a<br />
Lição Inaugural subordinada ao tema “Geopolítica e o Espaço<br />
Exterior”. Seguiu-se a entrega das Cartas de Curso e Diplomas,<br />
dos Prémios Escolares e dos diplomas do Curso de Pós-<br />
Graduação em Guerra da Informação/Competitive Intelligence.<br />
Estiveram presentes altas entidades militares e os titulares<br />
de instituições de ensino superior universitário e militar<br />
nacional.<br />
TABELA DE PREÇOS PARA 2009<br />
FIGURAS e FACTOS<br />
A cerimónia terminou com um Porto de Honra no átrio do<br />
edifício dos auditórios.<br />
PREÇO DE CAPA • 2,00<br />
ASSINATURA ANUAL (11 números)<br />
VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00<br />
VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00<br />
NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente<br />
NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00<br />
Os preços incluem IVA à taxa de 5%<br />
N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56.<br />
17
texto e fotos do Major-General<br />
Esmeraldo Alfarroba<br />
No passado dia 6 de Outubro comemoraramse<br />
175 anos sobre o início da actividade<br />
hospitalar no Hospital Militar Principal.<br />
A distância histórica a que estamos desse ano<br />
de 1834, em que foi internado o primeiro doente,<br />
revela só por si a persistência, esforço e bom<br />
desempenho que permitiram a manutenção desta<br />
estrutura de saúde do <strong>Exército</strong> ao longo dos vários<br />
contextos políticos, militares e sociais do passado.<br />
18<br />
Talvez não fosse de todo alheio o facto do Hospital<br />
ter sido edificado sobre dois bastiões de<br />
tradição milenária: a Igreja que primeiro lhe<br />
emprestou a casa, a abnegação e a caridade e depois<br />
a Instituição Militar, onde o Hospital revê a sua<br />
identidade e acção presente.<br />
A Saúde Militar em Portugal tem a sua origem<br />
mais precisa nos monges de S. João de Deus,<br />
notabilizados na Guerra da Restauração.
Em 1851, a acção assistencial concentrou-se na área da Estrela<br />
Consolidou-se após a Guerra Peninsular com<br />
diversas estruturas que foram alicerces deste Hospital,<br />
desenvolvidas em tempos difíceis, onde pouco<br />
mais se podia fazer do que humanizar condições<br />
precárias, de recursos terapêuticos e económicos<br />
limitadíssimos.<br />
Para além destas actividades, actualmente, um<br />
Hospital Militar tem de atender outras vertentes,<br />
determinadas pelas novas tecnologias.<br />
É inútil afirmar o propósito de desenvolver aturado<br />
esforço no sentido de potenciar a criação ou, melhor,<br />
manter e desenvolver adequada massa crítica, a partir<br />
da qual se possam produzir sinergias entre todas as<br />
áreas funcionais do Hospital, com vista a eliminar em<br />
permanência qualquer quebra de sinergia ou “ruptura<br />
estrutural”.<br />
A teoria e a experiência ensinam que toda a<br />
Instituição tem uma elasticidade orgânica que não<br />
pode ser excedida. Quando se atinge o limite da<br />
elasticidade orgânica significa que os recursos se<br />
esgotaram e, quando os recursos se esgotam, a missão<br />
termina.<br />
O Hospital Militar é uma organização hierarquizada,<br />
flexível, ágil e hábil, criativa e empreendedora, baseada<br />
na indispensável participação activa de quantos aqui<br />
servem e impulsionado pela Missão fixada superiormente,<br />
e respectivos objectivos explícitos e deduzidos.<br />
A preparação, o planeamento e a condução do<br />
Hospital Militar não podem dispensar tecnologias<br />
permanentemente actualizadas como recurso-chave,<br />
e não residual, atenta a probabilidade de, no quadro<br />
A mensagem<br />
deste artigo é<br />
em especial para<br />
os mais novos, herdeiros<br />
de um legado que vindo<br />
de trás procuramos<br />
preservar, para que<br />
se mantenha toda<br />
a energia e frescura<br />
da sua Essência.<br />
da defesa dos interesses nacionais, o nosso País,<br />
como vem acontecendo, ter que projectar forças-tarefa<br />
para missões em ambiente de conflitos assimétricos,<br />
ou para realização e, ou incrementação de tarefas<br />
de cooperação, nomeadamente com os Estados do<br />
19
20<br />
O CEME General José Luis Pinto Ramalho presidiu às<br />
cerimónias.<br />
grande espaço da lusofonia, de que queremos ser<br />
parte activa no sentido da sua consolidação,<br />
aprofundamento e desenvolvimento.<br />
Acrescem as tarefas de tempo de paz, também<br />
elas imprescindíveis, como já vimos, a saúde dos<br />
militares no activo e das suas famílias e, bem assim,<br />
dos militares na reserva ou na reforma e respectivos<br />
familiares, sem esquecer, antes relevando o dever de<br />
significativo esforço que temos de continuar a manter<br />
e incrementar com os deficientes em combate nos<br />
Teatros de Operações das derradeiras Campanhas de<br />
África, tanto mais sabemos que as Guerras só terminam<br />
quando morre o último homem que nelas participou.<br />
A saúde indispensável e decisiva para o moral e<br />
bem-estar das tropas, integra-se no princípio de<br />
coesão imprescindível à Instituição militar, sendo, por<br />
isso mesmo, um factor crítico do potencial de combate.<br />
A abrangência indiscriminada dos cuidados de<br />
saúde às famílias dos militares no activo e aos militares<br />
na reserva e na reforma e respectivos familiares<br />
constitui um multiplicador do moral e bem-estar das<br />
tropas activas, e, por conseguinte, do potencial de<br />
combate, tornando-as totalmente disponíveis para as<br />
difíceis ou muito difíceis tarefas operacionais, na exacta<br />
medida em que as liberta psicologicamente de<br />
preocupações e ameaças de constrangimentos<br />
presentes e futuros, pelo menos, quanto à doença.<br />
Hoje em dia, e em rápido crescendo, qualquer<br />
organização não baseada em inovações tecnológicas<br />
constantemente actualizadas, torna-se obsoleta e, por<br />
isso, inapta para actuar em ambiente de decisão sob<br />
incerteza, isto é, onde a ausência de informação acerca<br />
de determinada acção, é quase uma certeza.<br />
Sabemos que as necessidades em bens de saúde<br />
crescem, quantitativa e qualitativamente, a um ritmo<br />
mais do que proporcional aos recursos disponíveis, o<br />
que necessariamente impõe rigorosa observância do<br />
princípio da economia de meios, apelando, por<br />
conseguinte, ao aumento da produtividade para um<br />
dado nível de meios disponíveis.<br />
Estamos a falar nos chamados ganhos de<br />
produtividade que, de entre outros, resultam de<br />
factores ligados à alteração na organização do<br />
trabalho, ao aumento da qualificação dos recursos<br />
humanos, através da formação formal e informal<br />
(formação na função), da duração dos equipamentos<br />
através da aturada manutenção e da sua<br />
modernização.<br />
Dos ganhos de produtividade resultam<br />
necessariamente maior eficiência, eficácia e<br />
efectividade, traduzindo-se, pois, em benefícios<br />
qualitativa e quantitativamente acrescidos.<br />
Sendo a análise da situação do Hospital um<br />
processo diário, semanal, mensal, e com outras<br />
periodicidades, não podemos, deixar de, fazer a breve<br />
síntese da situação, recente e actual, abordando a<br />
preparação, o planeamento, os objectivos e os<br />
resultados alcançados, que para nós apenas<br />
constituem um degrau, ou base segura do upgrading<br />
que queremos e temos de atingir.<br />
Nesse sentido, dos profissionais de saúde<br />
militares do Hospital de Campanha, espera-se<br />
excelência no desempenho, pois vão acorrer aos que<br />
tudo dão pela Pátria.<br />
Apesar do Hospital de Campanha estar atribuído<br />
ao HMP a prontidão só é possível por ter em Ordem<br />
de Batalha elementos de todos os outros Hospitais<br />
Militares e Centros de Saúde do <strong>Exército</strong>, numa<br />
distribuição regrada e equilibrada.<br />
A presença próxima dos Shelters de Bloco<br />
Operatório e Unidade de Cuidados Intensivos neste<br />
HMP permitiu aprontá-los, podendo o <strong>Exército</strong> e o<br />
País contar com esta Unidade que pode acorrer a<br />
qualquer situação de campanha, mas também ser<br />
preciosa em caso de qualquer calamidade que afecte<br />
a população ou em operações de apoio à paz ou a<br />
desalojados.<br />
Os meios de formação e treino prévios ao<br />
desempenho das Unidades e Células Sanitárias foram<br />
também acautelados através do Centro de Simulação<br />
Médica do <strong>Exército</strong>.<br />
Finalmente, a Telemedicina, expoente das novas<br />
tecnologias facilitadoras do contacto entre equipas<br />
médicas ou cirúrgicas à distância, na frente ou em<br />
locais isolados, para obviar à falta de especialistas<br />
nas diversas áreas, permitindo o contacto com o<br />
Centro Hospitalar, socorrendo-se dos elementos em<br />
serviço na Urgência ou de chamada.<br />
Esta é de facto a nossa Luta, que nos absorve e<br />
mobiliza por inteiro.<br />
Àqueles que têm por missão o nosso Comando e<br />
orientação doutrinária sensibilizamos para a atenção<br />
e cuidado no apoio a um sistema por vezes tão frágil.<br />
Estarão assim criadas as bases estruturais de um<br />
novo conceito de Hospital, seremos, pois, mais uma<br />
vez, Hospital Militar Principal.<br />
O Serviço de Cardiologia é um Serviço onde<br />
também se realizam muitos exames complementares<br />
de Diagnóstico, maioritariamente, electrocardiogramas<br />
mas também outros, tal como se pode avaliar pela<br />
análise da Figura 4.
Por último, relativamente<br />
ao internamento hospitalar, a<br />
Figura 5 mostra-nos a distribuição<br />
dos 5.062 doentes<br />
internados no mesmo período<br />
de um ano atrás referido.<br />
É nosso orgulho e não<br />
imodéstia, o reconhecimento<br />
de quem nos procura e motivo<br />
de estímulo que nos leva<br />
sempre a continuar.<br />
Mas o Hospital Militar tem<br />
outras componentes que<br />
cumpre pôr em relevo, pois a<br />
Medicina Castrense encontra<br />
aqui o terreno propício à sua<br />
praxis:<br />
- A Medicina de Avaliação,<br />
traduzida nas Juntas Médicas,<br />
para estimativa de capacidade<br />
física e mental em ordem às<br />
promoções, cursos para Forças<br />
Especiais, avaliação do dano<br />
corporal após acidentes em<br />
serviço e outros.<br />
- Outra área a considerar é<br />
a relacionada com os Deficientes<br />
das Forças Armadas,<br />
resultado de 13 anos de guerra<br />
em África, para onde a juventude<br />
há 48 anos atrás foi chamada<br />
e acorreu de forma<br />
generosa, lutando denodadamente<br />
por aquilo que era<br />
considerado interesses nacionais.<br />
- Depois, no âmbito da<br />
Cooperação Técnico-Militar, a<br />
excelência assistencial dos<br />
Serviços e das instalações<br />
permite dar resposta a quem<br />
nos procura, e o levantamento<br />
recente do Serviço de Saúde<br />
de Moçambique feito por<br />
elementos do nosso Hospital,<br />
bem como o que se perspectiva<br />
para Angola, poderão concretizar,<br />
em breve, projectos<br />
que consubstanciam todo o<br />
espírito de solidariedade e<br />
fraternidade que nos anima.<br />
Na Figura 1 podemos<br />
observar a distribuição por<br />
especialidades médicas das<br />
79.826 consultas efectuadas<br />
no período dos últimos 12 meses.<br />
A Figura 2 representa a distribuição por<br />
subsistemas dos doentes que procuraram o HMP no<br />
mesmo período.<br />
A Figura 3 discrimina os tipos de exames efectuados<br />
no Serviço de Imagiologia, no mesmo período de 1 de<br />
Outubro de 2008 a 1 de Outubro de 2009.<br />
Mentes esclarecidas, de largos horizontes,<br />
edificaram, por fim, um novo Bloco Hospitalar de 12<br />
andares, inaugurado em 1973, moderno e mais<br />
confortável para os doentes.<br />
Se a todos os títulos se tratou de uma obra<br />
fascinante, em que os critérios de Engenharia<br />
Hospitalar andaram de braço dado com as<br />
necessidades assistenciais, o nome com que o<br />
designaram é pleno de significado - chamaram-lhe Casa<br />
de Saúde da Família Militar.<br />
Estávamos, de novo, em guerra e a saúde dos<br />
militares e dos seus familiares exigia redobrados<br />
cuidados.<br />
Equipas médicas desenvolveram a Medicina e a<br />
Missa de Acção de Graças<br />
integrada nas Cerimónias<br />
do Dia do HMP<br />
Q uis Sua Ex cia Reverendíssima o Senhor<br />
D. Januário, Bispo das Forças Armadas,<br />
presidir à habitual Missa que integrou as<br />
cerimónias do 175.º aniversário do Hospital<br />
Militar Principal, para rezar por todos os doentes<br />
e pessoal de saúde e os que os antecederam,<br />
nesse “local de grande sofrimento para todos<br />
os militares”, tal como mencionou.<br />
O Director do HMP frisou “Estamos cientes<br />
da impossibilidade de curar todas as doenças,<br />
mas continuaremos com humildade e<br />
perseverança a tratar doentes, numa luta<br />
permanente contra a morte e a dor, em que<br />
tantas vezes saímos vencidos.<br />
Vencidos, mas não derrotados, porque logo<br />
adiante, mais alguém precisa e espera por nós”.<br />
21
22<br />
Cirurgia, outros desenvolveram<br />
a preciosa Reabilitação.<br />
Fazendo um balanço<br />
retrospectivo, ressalta o<br />
pioneirismo neste Hospital,<br />
de algumas técnicas como<br />
a angiografia, a ecografia e<br />
mais recentemente a cirurgia<br />
laparoscópica.<br />
Actualmente localizado<br />
numa zona distinta e de<br />
fáceis acessos em Lisboa,<br />
detentor de uma grande área, permitindo optimização,<br />
urge adequar as acessibilidades entre as diversas<br />
áreas funcionais.<br />
Mas ao longo das últimas décadas criaram-se<br />
raízes, constituíram-se equipas que se pretendem<br />
eficazes e coesas, interagindo de forma harmónica,<br />
permitindo a melhoria da qualidade assistencial e<br />
implicitamente dignificando a Saúde Militar.<br />
De facto, foi possível preservar e fazer crescer<br />
uma identidade muito própria, herança de quem nos<br />
precedeu e é com gosto que, na cerimónia solene do<br />
dia do Hospital se registou a presença de antigos<br />
Directores, pilares que formaram esta vontade de ser<br />
e existir.<br />
Sentimo-nos honrados e orgulhosos, convictos<br />
de que os objectivos só são atingidos com esforço e<br />
trabalho de equipa, para prosseguimos esta acção,<br />
actualizando de forma permanente os meios, as<br />
pessoas e os fins deste legado histórico, que<br />
pretendemos preservar, mantendo o quotidiano que<br />
nos orgulha e justifica.<br />
Foi a uma malha diversificada de profissionais,<br />
não abundantes em número, que ficou a dever-se a<br />
resolução qualificada dos problemas próprios da<br />
complexidade do Hospital.<br />
Salientamos o esforço dos jovens socorristas<br />
e demais soldados, que há muito nos habituaram<br />
à sua generosidade, altruísmo e boa vontade.<br />
Nos últimos anos, recebemos o contributo de<br />
pessoal feminino, que, conjuntamente com as<br />
auxiliares de acção médica, elas também maioritariamente<br />
mulheres, acrescentam uma jovialidade<br />
e carinho muito próprios nos cuidados prestados<br />
aos nossos doentes.<br />
Os enfermeiros e técnicos de diagnóstico e<br />
terapêutica, detentores de bons conhecimentos,<br />
mantiveram uma permanência e acompanhamento<br />
em que ressaltou o brio e a boa qualidade dos<br />
procedimentos.<br />
Os médicos e farmacêuticos,<br />
de excelente e inexcedível<br />
competência, efectuam o<br />
melhor e mais correcto seguimento<br />
dos pacientes a seu<br />
cargo.<br />
Finalmente o enquadramento<br />
militar, com a colaboração<br />
de elementos civis<br />
numa integração equilibrada,<br />
é, em regra, levado a cabo por<br />
pessoal empenhado,<br />
zeloso e célere<br />
na resolução<br />
dos<br />
problemas.<br />
Deste<br />
modo é possível<br />
uma<br />
gestão dos<br />
recursos humanos e materiais optimizada, saudando,<br />
também, de forma amiga, todos aqueles que nos<br />
vêm ajudando com a sua palavra e a sua acção,<br />
por integrarem, de uma forma activa, o Hospital na<br />
comunidade em que está inserido.<br />
É na total identificação com o querer comum,<br />
que nos fundimos com o mais humilde daqueles<br />
que trabalham no HMP, misturando-nos com a<br />
parcela e contributo do esforço e da luta que nos<br />
coube, mas é com orgulho que mostramos o que<br />
todos fizemos e nos propusemos fazer.<br />
Ser arauto e tornar público a Obra de tantos é<br />
responsabilidade acrescida, mas é também<br />
desafio e Obrigação, pelo que apresentamos, de<br />
forma resumida, as nossas actividades e<br />
resultados.<br />
Já bem consolidado como Hospital Geral e<br />
Principal do nosso <strong>Exército</strong>, suportou os anos<br />
difíceis das evacuações da frente da Flandres na<br />
I Grande Guerra.<br />
Longe iam já os dias esquecidos das<br />
enfermarias e dos monges de S. João de Deus<br />
quando o advento dos antibióticos criou em<br />
todos uma euforia de vitória, possibilitando a
individualização dos diversos Serviços Clínicos,<br />
de acordo com a evolução da Medicina e da<br />
Cirurgia.<br />
Médicos de grande prestígio estão ligados a<br />
este Hospital: Lembro Guilherme Enes, Carlos<br />
França, Sacadura Botte, Batista de Sousa, Diogo<br />
Furtado, Barata Salgueiro, Mário Moutinho,<br />
Henrique Moutinho, Carlos Champalimaud,<br />
Ricardo Horta, Sousa Caixeiro, Freire de Andrade,<br />
Rocha da Silva, Ferreira Ribeiro, Manuel Henrique<br />
Botelho e, mais recentemente, Carrilho Ribeiro,<br />
para só citar estes.<br />
O Hospital, neste pólo da Estrela era<br />
inicialmente dividido em duas partes, a Principal<br />
(em que se encontra a magnífica Capela) e a Cerca,<br />
envolvendo as traseiras da Basílica.<br />
Em meados do Século XX, ocorreu a cedência<br />
da Alameda entre os Pavilhões da Cerca para<br />
rasgar a Av. Infante Santo, dividindo a Cerca em<br />
duas partes, o que, com o aumento do trânsito<br />
automóvel, transformou os fáceis acessos do<br />
passado em dificuldade actual acrescida.<br />
JE<br />
A usente da cerimónia, por doença, o<br />
Major-General Director de Saúde (DS)<br />
foi referido, pelo seu colega e camarada Director<br />
do HMP, do seguinte modo:<br />
“O Ex mo Senhor Major-General DS, Professor<br />
Doutor Lopes Henriques fez connosco a sua<br />
carreira, de Interno a Cirurgião, de Tenente<br />
Médico a Major-General, e quis ser tratado na<br />
doença no seu Hospital.<br />
É timbre dos nossos grandes Generais na<br />
necessidade de se submeterem a intervenções<br />
médico-cirúrgicas, dizerem:<br />
“Se é aqui, no Hospital Militar, onde os meus<br />
soldados são tratados, aqui será o meu local<br />
de tratamento”.<br />
Esta elevação de cumplicidade de intenções<br />
e de vida, dá-nos a dimensão da grandeza de<br />
alma de quem dirige a Saúde do <strong>Exército</strong>”.<br />
23
“Como uma Instituição Nacional única,<br />
garantimos a defesa militar da Pátria<br />
e construímos a Paz e o Desenvolvimento<br />
noutros países, com as nossas Forças Nacionais<br />
Destacadas e com a Cooperação Técnico-Militar.<br />
Este é o <strong>Exército</strong> de Portugal.<br />
Estamos ao serviço de todos os Portugueses.”<br />
General José Luís Pinto Ramalho<br />
Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />
25
26<br />
Tenente RC Paulo Moreira<br />
D<br />
. Afonso Henriques, Patrono do <strong>Exército</strong>,<br />
nasceu há 900 anos no Condado de seu pai,<br />
Henrique de Borgonha, Conde de Portucale, súbdito<br />
do Reino de Leão. Provavelmente, nasceu e cresceu<br />
em Guimarães. Com ele, que desde cedo se mostrou<br />
grande demais para as fronteiras do condado e para o<br />
jugo leonês, nasceu também a primeira ideia de Portugal.<br />
Em 1143, após algumas acaloradas batalhas pela<br />
independência, é reconhecido, no Tratado de Zamora,<br />
como Rei de Portugal, e é já nessa condição que,<br />
quatro anos mais tarde, entra triunfante em Lisboa,<br />
depois de derrotar os ocupantes mouros.<br />
Estas datas e estes episódios foram determinantes<br />
para que, neste ano de 2009, Braga fosse a cidade<br />
escolhida para acolher as comemorações do Dia do<br />
<strong>Exército</strong>, celebrado a 25 de Outubro. Para a decisão<br />
contribuiu ainda, com significativo peso, a evocação<br />
dos 300 anos do Regimento de Cavalaria n.º 6, sediado<br />
naquela cidade.<br />
Evocação e Homenagem<br />
a D. Afonso Henriques<br />
Em Coimbra, na Igreja de Santa Cruz, teve lugar, a<br />
24 de Outubro, a Evocação e Homenagem a D. Afonso<br />
Henriques. Nesta igreja, que ele próprio fundou em<br />
28 de Julho de 1131, repousam os seus restos mortais,<br />
de frente para o túmulo do seu filho, D. Sancho I.<br />
Ambos os túmulos foram para ali trasladados no<br />
séc. XVI, durante o reinado de D. Manuel I. Foi,<br />
aliás, no acto da trasladação – que ocorreu a 25 de<br />
Outubro de 1515 ou a 16 de Julho de 1520, segundo<br />
a Crónica dos Cónegos Regrantes de Santo<br />
Foto: CAVE<br />
Agostinho de D. Nicolau de Santa Maria ou a opinião<br />
de D. Timóteo dos Mártires –, entre a pompa da época,<br />
que se achou incorrupto o corpo do rei e igualmente<br />
preservadas as suas vestes.<br />
O Fundador foi ali lembrado, numa eucaristia<br />
presidida pelo Bispo das Forças Armadas e de Segurança,<br />
D. Januário Torgal Ferreira, à qual compareceram<br />
as mais altas entidades, militares e civis, que se<br />
associaram a estas comemorações. Entre os presentes<br />
encontravam-se o Chefe de Estado-Maior do<br />
Foto: CAVE
<strong>Exército</strong>, General Pinto Ramalho, o Vice-Chefe de<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Oliveira<br />
Cardoso, e o Presidente da Câmara Municipal de<br />
Coimbra, Dr. Carlos Manuel de Sousa Encarnação.<br />
Braga<br />
O palco das comemorações de mais um aniversário<br />
de uma das mais antigas instituições nacionais<br />
foi, este ano, a cidade mais antiga de Portugal e uma<br />
das cidades cristãs mais antigas do mundo, com cerca<br />
de dois mil anos de história – Braga.<br />
No Vale do Cávado repousam indícios de aglomerados<br />
humanos que remontam ao Neolítico, embora<br />
os mais evidentes datem já da Idade do Bronze e da<br />
Idade do Ferro, altura em que ali foram construídos os<br />
primeiros castros, nos pontos mais elevados do relevo<br />
minhoto. Antes da chegada dos Romanos à península,<br />
habitaram por ali os Brácaros, um povo de cultura<br />
celta, de cuja linguística parece ter derivado o próprio<br />
nome da cidade, evoluindo a partir do elemento –<br />
briga que significava “povoado fortificado”. Por volta<br />
de 16 a.C., com a expansão do Império Romano até<br />
àquelas paragens, começa a ser ali edificada Brácara<br />
Augusta, a mando e em honra de César Augusto. Já<br />
sob domínio suevo, realizou-se ali, entre os anos de<br />
561 a 563, o Concílio de Braga, de onde resultou a<br />
abolição de termos pagãos da língua comum, como a<br />
designação dos dias da semana, sendo assim Lunae<br />
dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris<br />
dies, Saturni dies e Solis dies substituídos por Feria<br />
secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta,<br />
Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies. Depois,<br />
passaram por lá os Godos e, em 716, chegaram os<br />
Mouros que, considerando a relevância religiosa da<br />
cidade, lhe causaram uma devastadora destruição. Foi<br />
só com Afonso III, Rei das Astúrias, que a região<br />
regressou a mãos cristãs, tendo entretanto<br />
atravessado um longo período de guerras. Mais tarde,<br />
Afonso VI de Leão e Castela oferece Braga, como<br />
dote da sua filha, D. Teresa, pelo seu casamento com<br />
D. Henrique de Borgonha, os pais de D. Afonso<br />
Henriques. Braga foi ainda cenário de alguns conflitos<br />
durante as Invasões Francesas, destacando-se o<br />
episódio da Batalha do Carvalho d’Este, quando o<br />
General José António Botelho de Sousa a recupera<br />
para o poder português.<br />
Com o decorrer do tempo e das tradições, Braga<br />
foi sendo conhecida por vários cognomes, nascidos<br />
de características particulares da cidade e que bem<br />
ilustram, não só a sua importância histórica e cultural,<br />
como também a sua diversidade e abertura: a Cidade<br />
dos Arcebispos, a Cidade Romana ou a Roma<br />
Portuguesa, a Cidade Barroca, a Capital do Minho<br />
ou o Coração do Minho e a Cidade dos Três Sacro-<br />
Montes. Todas estas designações têm por trás uma<br />
história que, com certeza, vale a pena descobrir.<br />
As Comemorações<br />
Sendo, naturalmente, o dia 25 de Outubro o ponto<br />
alto das comemorações do Dia do <strong>Exército</strong>, o evento<br />
marcou presença em Braga desde o dia 19,<br />
desdobrando-se em actividades e iniciativas de grande<br />
visibilidade, nas mais diversas áreas da cultura e em<br />
vários pontos da cidade. As várias iniciativas levadas<br />
a cabo procuraram ser a face visível da modernidade e<br />
operacionalidade, da força, da determinação e da<br />
excelência da instituição. O Presidente da Câmara<br />
Municipal de Braga, Eng.º Mesquita Machado,<br />
acolheu com satisfação estas comemorações,<br />
associando-se ao evento desde o início, confiante na<br />
adesão participativa dos seus munícipes.<br />
27
28<br />
No âmbito do Programa D. Afonso Henriques<br />
esteve patente na Biblioteca Lúcio Craveiro Alves,<br />
entre os dias 19 e 24 de Outubro, uma exposição<br />
colectiva de pintura subordinada ao tema “O <strong>Exército</strong><br />
e as Artes”. Inaugurada pelo Tenente-General Lima<br />
Pinto, Comandante do Pessoal, a exposição contou<br />
com a participação de 16 artistas, na sua maioria<br />
militares, quer no activo, quer nas situações de reserva<br />
ou reforma, alguns já com um vasto curriculum.<br />
Também em exposição, entre 21 e 25 de Outubro,<br />
estiveram alguns materiais, equipamentos e os Pólos<br />
de Excelência do <strong>Exército</strong>. Assim, na Avenida Central<br />
da cidade, foi possível encontrar e, em alguns casos,<br />
experimentar várias actividades demonstrativas da<br />
diversidade de acção e da qualidade técnica dos<br />
profissionais militares ao serviço de Portugal e da<br />
população. Ali estavam presentes, entre outros, o<br />
Centro de Psicologia Aplicada do <strong>Exército</strong>, o Instituto<br />
Geográfico do <strong>Exército</strong> e a Direcção de Saúde, diversas<br />
viaturas militares, a Torre Multiusos e um stand de<br />
Foto: CAVE<br />
Recrutamento, onde os mais jovens puderam<br />
esclarecer dúvidas e satisfazer curiosidades sobre a<br />
especificidade das carreiras militares e as formas de<br />
prestação de serviço no <strong>Exército</strong>. Ainda na Avenida<br />
Central, no dia 24 de Outubro, teve lugar a<br />
Demonstração de Capacidades e Meios, onde<br />
participou, especialmente, a Associação Napoleónica<br />
Portuguesa, no âmbito das Comemorações do Bicentenário<br />
das Guerras Peninsulares. Os bracarenses puderam<br />
ali assistir a uma actuação da Banda Militar do<br />
Porto, a uma demonstração gímnica e de mesa alemã,<br />
a uma actividade de cinotecnia, à demonstração de<br />
uma Força Auto-comandada e de uma actividade<br />
operacional, e a saltos de Pára-quedismo. Infelizmente,<br />
devido ao mau tempo que se fez sentir, não foi<br />
possível, no dia 23, a actuação da Reprise do <strong>Exército</strong>,<br />
que teria oferecido aos presentes, como é seu<br />
apanágio, um belíssimo espectáculo equestre.<br />
Numa vertente mais académica, realizaram-se, no<br />
dia 23, no Campus de Gualtar da Universidade do<br />
Minho, fruto de uma parceria entre esta instituição e a<br />
Academia Militar, as Jornadas Académicas, nesta<br />
ocasião abordando o tema da «Guerra da Informação».<br />
As Jornadas Académicas ficaram ilustradas com uma<br />
exposição subordinada ao mesmo assunto em<br />
discussão.
No dia 24 de Outubro, à noite, no Theatro Circo<br />
de Braga, acturam, em conjunto, a Banda Sinfónica<br />
do <strong>Exército</strong>, com 105 elementos em naipes de cordas,<br />
percussão e sopro, e o quarteto de cordas Corvos. As<br />
entradas foram gratuitas, registando-se que os<br />
ingressos e a sala de espectáculos não foram<br />
suficientes para acolher todos os que desejavam<br />
presenciar a actuação. Os aplausos e os elogios que<br />
marcaram a noite, dentro e fora do Theatro, foram<br />
prova da satisfação geral e da excelência da iniciativa.<br />
O apogeu das Comemorações do Dia do <strong>Exército</strong><br />
chegou, finalmente, no dia 25 de Outubro. Pelas 10<br />
horas da manhã, na Sé Catedral de Braga, foi<br />
celebrada uma eucaristia, ministrada pelo Bispo das<br />
Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal<br />
Ferreira, transmitida em directo pela RTP. Às 11h05<br />
já se ouvia, na Avenida da Liberdade, o Toque de<br />
Formar para as Forças em Parada, aguardando-se,<br />
a partir das 11h30, a chegada dos convidados e das<br />
Altas Entidades. Ali receberam Honras Militares o<br />
General Ramalho Eanes; o Chefe da Casa Militar da<br />
Presidência da República, Tenente-General Carlos<br />
Alberto de Carvalho dos Reis; o Chanceler das<br />
Antigas Ordens Militares, General Vasco Joaquim<br />
Rocha Vieira; o Comandante-Geral da Guarda<br />
Nacional Republicana, Tenente-General Nelson dos<br />
Santos; e os Vice-Chefes dos Estados-Maiores dos<br />
Ramos, o Vice-Almirante Telles Palhinha, da Armada,<br />
o Tenente-General Oliveira Cardoso, do<br />
<strong>Exército</strong>, e o Tenente-General Palma de Figueiredo,<br />
da Força Aérea.<br />
Estando completa a Parada com a integração<br />
do Bloco de Estandartes, foi dada a vez a um dos<br />
momentos mais aguardados do dia que, pela sua<br />
importância, simbolismo e valor documental, vai<br />
integrado neste artigo do Jornal do <strong>Exército</strong>, transcrito<br />
na totalidade: a alocução do Chefe de Estado-<br />
Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />
Depois da imposição das condecorações Grã-<br />
Cruz da Ordem Militar de Avis: Tenente-General<br />
Mourato Nunes; Medalha de Serviços Distinto<br />
Grau Ouro: Coronel de Infantaria Fernandes<br />
Henriques; Medalha de Serviços Distintos Grau<br />
Prata: Coronel de Cavalaria Ferreira de Sousa;<br />
Medalha de Mérito Militar 4.ª Classe: Sargento-<br />
Ajudante Parracho Diniz; Medalha de D. Afonso<br />
Henriques – Mérito do <strong>Exército</strong> 4.ª Classe: Cabo-<br />
Adjunto Ramalheira Moreira; Medalha de D.<br />
Afonso Henriques – Mérito do <strong>Exército</strong> 4.ª Classe:<br />
Assistente Administrativa Especialista Maria<br />
Ermelinda Silva Moreno, deu-se início ao desfile<br />
das Forças em Parada, que concluiu a Cerimónia<br />
Militar Comemorativa do Dia do <strong>Exército</strong>. O Major-<br />
29
30<br />
General Pereira Agostinho, Comandante das Forças<br />
em Parada, colocando-se no início do dispositivo,<br />
deu a ordem de marcha, fazendo desfilar, perante a<br />
tribuna e o público expectante, a Banda do <strong>Exército</strong>,<br />
chefiada pelo Sargento-Chefe Rui Direitinho, o Bloco<br />
de Estandartes, comandado pelo Major Manuel<br />
Marchã, e uma Escolta de Honra, comandada pelo<br />
Capitão José Barradas; seguiram-se, integrados no<br />
Grupo de Comando, o Batalhão dos Estabelecimentos<br />
Militares de Ensino, comandados pelo aluno Ricardo<br />
Correia, do Colégio Militar, e o Batalhão de Alunos da<br />
Academia Militar, comandado pelo Tenente-Coronel<br />
Nunes Silva; depois, passou o Grupo de Carros de<br />
Combate, da Brigada Mecanizada, comandado pelo<br />
Tenente-Coronel Jorge Pedro, o 1.º Batalhão de<br />
Infantaria, da Brigada de Intervenção, comandado pelo<br />
Tenente-Coronel Fernando Teixeira, e um Batalhão da<br />
Brigada de Reacção Rápida, comandado pelo Tenente-<br />
Coronel José Ruivo; seguiu-se a Banda do <strong>Exército</strong>,<br />
comandada pelo Major Lemos Botelho. A Força<br />
Motorizada, comandada pelo Tenente-Coronel Carlos<br />
Godinho, fez-se representar por um Módulo de Apoio<br />
de Combate, de Fogos e de Comunicações, um<br />
Eucaristia presidida pelo Bispo das Forças Armadas e de<br />
Segurança, D. Januário Torgal Ferreira.<br />
Módulo de Engenharia, um Módulo Logístico e um<br />
grupo de Viaturas Tácticas. A encerrar o desfile,<br />
comandada pelo Coronel João Marquilhas, mostrouse<br />
uma força da Brigada de Reacção Rápida equipada<br />
para combate.<br />
Discurso do General Chefe<br />
de Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />
«Excelentíssimo Senhor General Ramalho Eanes.<br />
Meu General, a sua presença nas cerimónias<br />
que marcam o Dia do <strong>Exército</strong>, mantêm viva a<br />
imagem do antigo Presidente da República, antigo<br />
Comandante Supremo das Forças Armadas e,<br />
também, de antigo Chefe de Estado-Maior do<br />
<strong>Exército</strong>, em período especialmente difícil.<br />
Mas, mais do que isso, constitui oportunidade<br />
também para, os militares do <strong>Exército</strong> lhe<br />
manifestarem o muito respeito e admiração pelo<br />
exemplo, das mais elevadas virtudes militares, que<br />
para nós representa.<br />
Excelentíssimos Senhores Deputados da<br />
Assembleia da República.<br />
A presença de Vossas Excelências, que o <strong>Exército</strong><br />
agradece e aprecia, entende-as como uma manifestação<br />
de confiança que traduz o modo<br />
empenhado, aberto e convergente como a relação<br />
institucional entre o <strong>Exército</strong> e os seus responsáveis<br />
políticos directos se tem pautado na edificação das<br />
melhores soluções para o <strong>Exército</strong> e para a Defesa<br />
Nacional, na defesa dos interesses do Estado.<br />
Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara<br />
Municipal de Braga.
Excelentíssimo Senhor Governador Civil de Braga.<br />
Um agradecimento especial pela disponibilidade<br />
e apoio manifestados por Vossas Excelências, desde<br />
o momento da decisão de se realizarem em Braga as<br />
cerimónias do Dia do <strong>Exército</strong>, atitude que evidencia<br />
a excelência das relações de proximidade e de mútua<br />
parceria que aqui existem, entre o <strong>Exército</strong> e a cidade,<br />
as suas autoridades, entidades e população.<br />
Excelentíssimos Senhores Generais, antigos<br />
Chefes de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>.<br />
É muito grato ao Comandante do <strong>Exército</strong>, neste<br />
dia tão significativo para a nossa Instituição, ter a<br />
presença de Vossas Excelências, materializando não<br />
só um espírito de pertença, mas sobretudo de<br />
contínua observação e preocupação, pelos<br />
objectivos que perseguimos.<br />
Saúdo toda a obra realizada pelos meus<br />
antecessores, obra que constitui um legado de<br />
acção responsável, sempre marcada pelas vicissitudes<br />
do momento, mas sempre guiada pelos<br />
superiores objectivos e valores do <strong>Exército</strong> e ao<br />
serviço da Pátria.<br />
Excelentíssimo Senhor Tenente-General,<br />
Chefe da Casa Militar de Sua Excelência o<br />
Presidente da República.<br />
Excelentíssimo Senhor Chanceler das Antigas<br />
Ordens Militares.<br />
Excelentíssimo Senhor Tenente-General,<br />
Comandante da Guarda Nacional Republicana.<br />
Excelentíssimo Senhor Vice-Almirante, Vice-<br />
Chefe de Estado-Maior da Armada.<br />
Excelentíssimo Senhor Tenente-General, Vice-<br />
Chefe de Estado-Maior da Força Aérea.<br />
A presença de Vossas Excelências, que muito<br />
nos honra, é a expressão visível e pública da coesão<br />
das Forças Armadas, alicerçada nos seus valores,<br />
nas mesmas preocupações e objectivos de serviço<br />
ao País, mas também de grande camaradagem e<br />
solidariedade, que a Condição Militar nos transmite.<br />
Ilustres Autoridades e Entidades Convidadas.<br />
Oficiais Generais, Oficiais, Sargentos, Praças<br />
e Funcionários Civis do <strong>Exército</strong>.<br />
Minhas Senhoras e Meus Senhores.<br />
O dia 24 de Outubro marca a data da Tomada de<br />
Lisboa, efeméride assumida como Dia do <strong>Exército</strong>,<br />
em paralelo com a homenagem realizada ao nosso<br />
patrono, D. Afonso Henriques, primeiro Rei e<br />
primeiro Chefe Militar, a quem se deve a afirmação<br />
da Nação e da Pátria Portuguesa, nascida no Campo<br />
de Batalha de S. Mamede, em 1128.<br />
O <strong>Exército</strong> agradece a presença de Vossas<br />
Excelências nesta Cerimónia Militar que assinala<br />
mais um aniversário. A vossa presença constitui<br />
para nós o reconhecimento do insubstituível<br />
desempenho que homens e mulheres prestam no<br />
<strong>Exército</strong>, ao serviço de Portugal, afirmando o nosso<br />
País no quadro das Alianças e Organizações de<br />
que fazemos parte.<br />
O <strong>Exército</strong> afirmou-se nesse dia; é uma<br />
Instituição Nacional nascida com a Fundação da<br />
Nacionalidade, presente em todos os grandes<br />
momentos da nossa História, que sendo obra<br />
colectiva dos Portugueses, o é de modo destacado<br />
dos seus Soldados.<br />
Caracterizado pelo patriotismo, o esforço militar<br />
tem sido determinante na construção, na preservação<br />
e na afirmação da independência e da soberania<br />
de Portugal, realidade imortalizada na Carta de<br />
Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe Luís Filipe,<br />
ao afirmar que: “este Reino é obra de Soldados”.<br />
Revemo-nos nas acções dos nossos<br />
antepassados, na sua abnegação e patriotismo e<br />
fazemos desses valores, os fundamentos da<br />
personalidade colectiva da Instituição, do carácter<br />
individual dos seus Soldados e da afirmação dos<br />
nossos mais profundos valores castrenses,<br />
congregados na Condição Militar.<br />
Condição Militar que nos diferencia dos demais<br />
servidores do Estado, pela acrescida responsabilização,<br />
no quadro de deveres e de renúncia de<br />
direitos de cidadania, conscientemente assumidos,<br />
sem paralelo na sociedade nacional e que nos<br />
confere a legitimidade para comandar homens e<br />
31
32<br />
mulheres, nas situações de risco da própria vida e<br />
de, em conjunto, assumirmos os maiores sacrifícios,<br />
na defesa dos interesses nacionais.<br />
No cumprimento das missões do <strong>Exército</strong>, hoje<br />
como ontem, releva o elemento humano, centro de<br />
todas as realizações; o reconhecimento desta centralidade<br />
evidencia no <strong>Exército</strong> a sua dimensão abrangente<br />
que para além dos militares do activo integrantes<br />
dos Quadros Permanentes e do Regime de Voluntariado<br />
e de Contrato, engloba e se revê nos seus<br />
militares na Reserva e na Reforma, nos ex-combatentes<br />
e em todos quantos connosco cumpriram obrigações<br />
militares, ao serviço de Portugal.<br />
Presto sentida homenagem à memória de todos<br />
os militares que nos antecederam, em particular, aos<br />
que ao longo da História tombaram no campo da<br />
honra, no supremo sacrifício pela Pátria e a todos os<br />
Deficientes das Forças Armadas, credores do nosso<br />
respeito, apoio e solidariedade.<br />
Presto igualmente homenagem à Família Militar<br />
pelo generoso apoio de retaguarda, nem sempre<br />
reconhecido e que é indispensável factor moral e<br />
psicológico de coesão e disponibilidade do cidadão<br />
militar e afirmo também a responsabilidade inalienável<br />
do Comando do <strong>Exército</strong>, no que se refere ao apoio<br />
social que lhe é devido, assim como no acompanhamento<br />
da efectiva acção do IASFA, nesse domínio.<br />
Durante este último ano de actividade, o <strong>Exército</strong><br />
continuou a afirmar Portugal, contribuindo para a<br />
segurança e para a estabilidade internacionais através<br />
da sua participação em operações de Paz e<br />
Humanitárias na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo, no<br />
Líbano e no Afeganistão, para além das missões de<br />
Cooperação Técnico-Militar nos PALOP e em Timor,<br />
assim como assegurou uma presença permanente nas<br />
estruturas das Organizações Internacionais e Alianças,<br />
de que o País faz parte.<br />
No futuro próximo, o <strong>Exército</strong> vai reforçar a sua<br />
presença no Afeganistão com uma Companhia de<br />
Intervenção para a Reserva da ISAF e reforçar o<br />
Batalhão presente no Kosovo, com capacidades de<br />
Reconhecimento e de Operações Especiais.<br />
Saúdo assim todos os militares em missões fora<br />
de Portugal, nas Forças Nacionais Destacadas, nos<br />
Quartéis-Generais Multinacionais e em missões de<br />
observação, de ligação e em acções de cooperação<br />
técnico-militar, pelo seu profissionalismo, dedicação<br />
e patriotismo, como têm representado o <strong>Exército</strong> e<br />
dignificado o País.<br />
Somos hoje um <strong>Exército</strong> moderno, projectável, apto<br />
do ponto de vista operacional; um <strong>Exército</strong> que conta,<br />
no quadro internacional, no seio da OTAN, da União<br />
Europeia e também das Nações Unidas; é importante<br />
pois, que sejam garantidos através da Lei de<br />
Programação Militar e do Orçamento, os recursos<br />
Foto de Tenente-Coronel Bartolomeu<br />
necessários para que os militares, em especial os das<br />
Forças Nacionais Destacadas, disponham do<br />
equipamento que lhes é devido e do treino adequado<br />
às missões que irão desempenhar.<br />
Temos, no domínio da formação e do treino, os<br />
padrões mais elevados, constituindo para nós uma<br />
prioridade, como forma de garantir não só o êxito das<br />
missões atribuídas, mas também a segurança e a<br />
sobrevivência das Forças empregues; os resultados<br />
alcançados e o reconhecimento dos nossos Aliados<br />
e Parceiros, comprovam que estamos no caminho<br />
certo.<br />
É contudo no domínio dos recursos humanos que<br />
o <strong>Exército</strong> tem o seu primeiro e mais valioso recurso,<br />
sendo urgente a aprovação dos diplomas que<br />
concretizem o Regime de Contracto Especial, para os<br />
militares RV/RC e o relativo às Carreiras, como forma<br />
de dar coerência ao diploma publicado sobre os Novos<br />
Efectivos do Quadro Permanente.
Só desta forma será possível propiciar um<br />
desenvolvimento equilibrado entre QP/RV-RC, que<br />
garanta o enquadramento e a operacionalidade do<br />
Sistema de Forças Nacional, a par de uma normal<br />
progressão de carreira dos Oficiais e Sargentos do<br />
Quadro Permanente.<br />
Como forma de estimular o recrutamento e corrigir<br />
assimetrias, relativas a outras carreiras de referência,<br />
é igualmente necessário proceder-se à publicação do<br />
diploma dos Suplementos Remuneratórios e a uma<br />
reavaliação do Sistema Remuneratório, que valorize,<br />
decididamente, a Condição Militar e as Carreiras de<br />
Oficial e Sargento.<br />
O <strong>Exército</strong> tem vindo a colaborar na qualificação<br />
dos cidadãos e na validação e melhoria das competências<br />
profissionais e académicas, através do seu<br />
Centro de Novas Oportunidades definindo o processo<br />
de ajustamento dos referenciais de curso,<br />
estabelecendo mecanismos que permitam o<br />
reconhecimento de equivalências com os sistemas<br />
nacionais de formação e qualificação, garantindo a<br />
validação da qualidade da formação ministrada no<br />
<strong>Exército</strong> e, simultaneamente, alargando o leque de<br />
oportunidades profissionais aos militares voluntários<br />
e contratados.<br />
Prosseguiu-se na acreditação de toda a estrutura<br />
de Formação do <strong>Exército</strong> e o trabalho de ajustamento<br />
dos cursos militares ao Catálogo Nacional de<br />
Qualificações que se constitui como instrumento de<br />
oferta formativa de dupla certificação, para os cursos<br />
de nível não superior, num quadro de formação modular,<br />
abrindo-se desta forma o <strong>Exército</strong> às necessidades<br />
da sociedade actual.<br />
No domínio do ensino <strong>Exército</strong> assume e<br />
acompanha com grande proximidade a missão dos<br />
seus Estabelecimentos Militares de Ensino – o<br />
Instituto de Odivelas, o Colégio Militar e o Instituto<br />
Militar dos Pupilos do <strong>Exército</strong>, como instituições de<br />
reconhecida qualidade, alicerçada por um quadro de<br />
valores e de princípios que servem a Sociedade.<br />
No âmbito estrutural o <strong>Exército</strong> considera<br />
concluído o processo de optimização da Força Operacional,<br />
com a organização equilibrada das Brigadas<br />
Mecanizada, de Intervenção e de Reacção Rápida,<br />
materializando uma opção possível entre forças mais<br />
pesadas, com maior poder de fogo e protecção e forças<br />
ligeiras, altamente projectáveis e com grande<br />
capacidade de empenhamento em combate.<br />
As Brigadas poderão receber meios adicionais de<br />
Força, a partir das Unidades de Apoio Geral, ampliando<br />
o seu apoio de fogos, de combate e de serviços, assim<br />
como a garantia de apoios específicos provenientes<br />
do Batalhão ISTAR (em levantamento), do Elemento<br />
de Defesa Biológico-Químico e do Elemento de Guerra<br />
da Informação.<br />
É uma Força Operacional apta para o emprego<br />
efectivo em todo o espectro da conflitualidade actual<br />
e para fazer face às novas ameaças, constituindo uma<br />
opção estruturante, que corresponde, de facto, a<br />
critérios de necessidade, utilidade e proporcionalidade<br />
33
34<br />
face à realidade e às expectativas, constituindo a única<br />
garantia da possibilidade de ajustamento a alterações<br />
de um cenário de emprego mais provável, para um<br />
cenário operacional mais exigente.<br />
De uma forma realista é necessário ter presente<br />
que, no quadro das actuais restrições orçamentais,<br />
capacidades eliminadas, dificilmente serão reconstituídas<br />
e nunca no curto prazo, quer no domínio dos<br />
sistemas de armas, quer na preparação e aptidão dos<br />
recursos humanos, quer ainda na própria doutrina de<br />
emprego.<br />
No domínio da Segurança, o resultado final das<br />
situações conflituais onde temos Forças Nacionais<br />
Destacadas, joga-se nos Teatros de Operações<br />
Terrestres, para o que concorrem também as acções<br />
no âmbito do Desenvolvimento e da Boa Governação.<br />
É indispensável o apoio aéreo às operações<br />
terrestres, assim como é indispensável a utilização<br />
das Linhas de Comunicações Marítimas; é contudo<br />
no terreno, com efectivos, material e treino adequados,<br />
que as Forças Terrestres combatem a insurreição<br />
e a violência directa, actuando cada vez mais no seio<br />
das populações e num ambiente urbano.<br />
É assim necessária uma visão político-militar<br />
esclarecida para orientar investimentos, no âmbito na<br />
Lei de Programação Militar, para projectos que<br />
possibilitem às Forças Terrestres ampliar a sua<br />
capacidade de Comando e Controlo, Mobilidade<br />
Táctica, quer aeromóvel quer com protecção blindada,<br />
poder de fogo, capacidade de intervenção,<br />
sobrevivência e protecção no campo de batalha.<br />
Para a Revisão da Lei de Programação Militar, o<br />
<strong>Exército</strong> mantém a coerência das suas opções no<br />
domínio da modernização e do reequipamento,<br />
enunciadas para o triénio 2007/2009 – o Comando e<br />
Controlo, a Interoperabilidade, a Projecção de Forças<br />
e a Sustentação Logística; paralelamente, mantêm-se<br />
os nichos de excelência, nas Forças Especiais, na<br />
Defesa Biológica e Química e na Guerra de Informação.<br />
Os Objectivos de Forças da OTAN, em coerência<br />
com as exigências da conflitualidade actual e os<br />
aspectos concretos de modernização expressos pelo<br />
<strong>Exército</strong>, reconhecidos também pela Aliança,<br />
justificam um esforço adicional de reorganização e<br />
racionalização das Unidades Operacionais de<br />
Engenharia, reagrupando-as num Batalhão de Apoio<br />
Geral e a optimização e rendimento dos vários<br />
sensores existentes e previstos para a componente<br />
operacional, no Batalhão ISTAR.<br />
A determinação e responsabilidade do <strong>Exército</strong><br />
constata-se na mais elevada taxa de execução da LPM<br />
dos últimos anos e na utilização total dos recursos<br />
disponibilizados no âmbito do PIDDAC, como<br />
resultado da inovação de processos e procedimentos<br />
logísticos, conseguidos através da implementação de<br />
adequados sistemas de informação e controlo que,<br />
permitindo gerar economias, possibilitaram também o<br />
arranque do ciclo de renovação do parque de viaturas<br />
tácticas e administrativas do exército, cuja idade e<br />
estado de uso há muito o exigiam.<br />
Está igualmente estabilizado o Dispositivo Territorial<br />
no Continente e Ilhas, com o assumir pleno das<br />
respectivas responsabilidades territoriais, administrativas,<br />
operacionais e de instrução, pela Escola<br />
Prática de Infantaria, que recebeu o Centro de<br />
Formação Geral de Praças, pelo Centro de Tropas<br />
Comando, que foi transferido para a Carregueira e<br />
pelo Regimento de Infantaria n.º 1, sedeado em Tavira.<br />
Não será possível transformar a organização e o<br />
funcionamento do <strong>Exército</strong> sem a requalificação das<br />
suas infra-estruturas. Com a publicação da Resolução<br />
do Conselho de Ministros n.º 58/2009, de 18 de Junho,<br />
estão criadas as condições para se concretizar o<br />
projecto de racionalização do Comando do <strong>Exército</strong><br />
(COSEX), projecto estruturante reactivado em<br />
Dezembro de 2006, que se materializará com a<br />
deslocalização para a Amadora, de todos os<br />
Comandos Funcionais do <strong>Exército</strong>, libertando um<br />
número significativo de Prédios Militares em Lisboa<br />
e no Porto.<br />
Constituem projectos estruturantes e integrados<br />
no mesmo conceito de racionalização e modernização,<br />
a transferência do Regimento de Lanceiros N.º 2 para<br />
a área da Unidade de Apoio Amadora-Sintra e a<br />
transferência, para infra-estrutura a construir e a<br />
disponibilizar ao <strong>Exército</strong>, na modalidade “Chave na
mão”, das Oficinas Gerais de Material de Engenharia,<br />
para junto do Depósito Geral de Material de Guerra,<br />
em Benavente.<br />
No quadro da Transformação e Modernização do<br />
<strong>Exército</strong> o Exercício ORION 2009 testou e consolidou<br />
os desenvolvimentos alcançados, quer com vista à<br />
certificação de um Comando de Brigada para a OTAN<br />
e UE, neste caso, da Brigada de Intervenção, quer o<br />
nível de digitalização do <strong>Exército</strong>, através da utilização,<br />
pela primeira vez, do Centro de Operações Terrestres,<br />
totalmente automatizado e projectável.<br />
Paralelamente, testou-se o emprego do Elemento<br />
de Guerra de Informação, com a sua valência táctica<br />
no quadro da “cyber-war”; do elemento de Defesa<br />
Biológica-Química, associado à capacidade de<br />
Inactivação de Engenhos Explosivos e ao Hospital<br />
Militar de Campanha, unidade fundamental da<br />
medicina operacional, recentemente reorganizada e<br />
potenciada, através da aquisição de modernos<br />
módulos que o habilitam a cumprir as missões de role<br />
2 que lhe forem determinadas.<br />
Militares do <strong>Exército</strong>.<br />
A realidade dos actuais conflitos, o seu carácter<br />
urbano, inter-estatal e o seu envolvimento com as<br />
populações, obriga a que os <strong>Exército</strong>s treinem e se<br />
organizem como se prospectiva que combatam e que<br />
sejam capazes de lidar com a surpresa e a incerteza – é<br />
necessário habilitar as tropas e os Comandantes dos<br />
baixos escalões, a lidar com a ambiguidade e a fomentar<br />
o espírito de iniciativa e de autonomia de decisão, no<br />
quadro do objectivo final das operações e das<br />
campanhas.<br />
É indispensável continuar a estimular a competência,<br />
o profissionalismo, o rigor e os valores castrenses<br />
dos nossos quadros e tropas, pois o adversário<br />
continuará, como sempre, a tirar partido e a capitalizar<br />
na nossa fraqueza humana e material e nos nossos<br />
erros, designadamente naqueles que possam provocar<br />
danos colaterais, potenciando a sua acção.<br />
É importante e necessário que a Formação e o<br />
Treino se desenvolvam neste quadro de violência,<br />
mas que não se perca de vista a experiência acumulada<br />
pelo <strong>Exército</strong>, em treze anos de guerra subversiva<br />
nos Teatros Africanos, a par da recentemente adquirida<br />
nos Teatros Europeus dos Balcãs.<br />
Tem de ser feita a síntese entre estas experiências<br />
e as lições aprendidas, a par da recuperação dos<br />
fundamentos da Táctica e dos Princípios da Guerra,<br />
adaptando-os à nova realidade conflitual. Continuam<br />
a ser verdades incontornáveis: só há manobra com<br />
apoio de fogos; só há sincronização das operações,<br />
com efectivo Comando e Controlo; face à compressão<br />
dos níveis de decisão e de actuação estratégica,<br />
operacional e táctica, os erros tácticos podem<br />
comprometer uma campanha.<br />
Constituem desafios para o <strong>Exército</strong>, no curto<br />
prazo, o projecto de reestruturação das Oficinas Gerais<br />
de Fardamento e Equipamento e da Manutenção<br />
Militar; a dinamização das estruturas de Recrutamento<br />
que permitam atrair e ampliar o universo de Voluntários<br />
e Contratados, designadamente em Praças, assim<br />
como estimular a sua permanência nas fileiras; a<br />
concretização dos projectos estruturantes de<br />
Reequipamento, que conferem coerência ao Sistema<br />
de Forças Nacional e os que materializam os requisitos<br />
operacionais urgentes para as Forças Nacionais<br />
Destacadas.<br />
Relativamente à integração no Comando da<br />
Logística das Oficinas Gerais de Fardamento e<br />
Equipamento e da Manutenção Militar, a alteração<br />
estrutural que isso representa e a necessidade de<br />
manter o apoio que aqueles órgãos fornecem<br />
diariamente ao <strong>Exército</strong>, implica que, previamente, se<br />
resolvam as questões financeiras e legais que se<br />
relacionam, quer com o passivo existente, quer com o<br />
futuro dos trabalhadores civis e ainda com o fluxo<br />
normal de contratação de pessoal civil e de bens e<br />
serviços que será necessário garantir no futuro, a par<br />
do reforço orçamental para as actividades de operação,<br />
manutenção e investimento, que não eram suportados<br />
pelo <strong>Exército</strong>.<br />
Quanto ao Recrutamento, subsistem dificuldades<br />
com a motivação de jovens para ingressar nas fileiras,<br />
em Regime de Voluntariado e de Contrato, que<br />
decorrem da pouca atracção do Regulamento de<br />
Incentivos à prestação do Serviço Militar naqueles<br />
regimes, designadamente na alteração restritiva,<br />
introduzida pelo Decreto-Lei 320/2007, assim como<br />
uma maior dificuldade no ingresso nos serviços e<br />
organismos da administração central, regional e local,<br />
incluindo os serviços centrais do Ministério da Defesa<br />
Nacional.<br />
De igual modo, considera-se ser do interesse<br />
nacional, a reintrodução do regime de exclusividade<br />
dos candidatos militares, aos concursos para ingresso<br />
na Guarda Nacional Republicana e a afectação de<br />
cotas de preferência mais alargadas para ingresso na<br />
Policia de Segurança Pública e Serviços Prisionais.<br />
Por último, no domínio do Reequipamento, constituem-se<br />
como lacunas mais urgentes: a concretização<br />
da capacidade aeromóvel e a definição dos dez<br />
helicópteros ligeiros para o <strong>Exército</strong>; as viaturas<br />
blindadas 4X4; a arma ligeira; a opção contratual<br />
relativa às 33 viaturas MGS 105 mm; os meios de<br />
Vigilância do Campo de Batalha e de protecção<br />
Antiaérea e a capacidade de Comando e Controlo,<br />
esta última ainda insuficiente para garantir os<br />
objectivos de “Ligação em Rede” e da completa<br />
digitalização dos sistemas de informação em todo o<br />
<strong>Exército</strong>.<br />
35
36<br />
Ilustres Convidados.<br />
Militares e Funcionários Civis do <strong>Exército</strong>.<br />
Minhas Senhoras e meus Senhores.<br />
O Estado resulta da conjugação de múltiplos<br />
factores e define-se por múltiplas dimensões. Mas<br />
não há Estado sem Território e sem População.<br />
É por referência aos espaços da nova soberania e<br />
aos cidadãos nacionais, que se identificam e<br />
constroem os objectivos supremos de Segurança e<br />
Defesa que dão missão ao <strong>Exército</strong>.<br />
O <strong>Exército</strong> é uma Instituição Nacional antiga de<br />
mais de oito séculos, mas assume-se, na actualidade,<br />
como uma organização, flexível, moderna,<br />
internacional e com padrões de funcionamento<br />
extremamente exigentes e elevados. Produzimos<br />
Segurança, Defesa e Paz.<br />
Somos uma referência de estabilidade e segurança,<br />
pronta e disponível no plano nacional, na<br />
resposta às novas ameaças, projectando para as novas<br />
fronteiras estratégicas as capacidades operacionais,<br />
na defesa dos interesses nacionais, afirmando<br />
Portugal na cena internacional.<br />
Contribuímos para o desenvolvimento e para a<br />
coesão nacional, através das Outras Missões de Interesse<br />
Público; Temos presença efectiva no Continente,<br />
nas Ilhas e em mais de vinte países, com os nossos<br />
Adidos Militares, nos Quartéis-Generais Internacionais<br />
e com as nossas Forças Nacionais Destacadas.<br />
Para produzir mais Segurança e Defesa, esta Instituição<br />
modernizou-se; dispomos de melhor tecnologia,<br />
temos uma estrutura adequada e apostamos na<br />
qualidade a nossa primeira prioridade e o treino.<br />
Temos, em permanência, Oficiais e Sargentos em<br />
formação no Estrangeiro. Reforçamos assim o valor<br />
da Força que colocamos ao serviço do País.<br />
Para além da nossa missão constitucional, estamos<br />
sempre disponíveis para apoiar os portugueses,<br />
cooperando nas emergências e nas catástrofes,<br />
realizamos acções culturais e cívicas.<br />
Colaboramos na afirmação e na garantia da<br />
identidade nacional, colocando as nossas capacidades<br />
ao serviço dos portugueses; contamos para isso<br />
com pessoal altamente qualificado e motivado e por<br />
isso afirmamos – os Militares e os Funcionários Civis<br />
do <strong>Exército</strong>, são a nossa Força.<br />
Como uma Instituição Nacional única, garantimos<br />
a defesa militar da Pátria e construímos a Paz e o<br />
Desenvolvimento noutros países, com as nossas<br />
Forças Nacionais Destacadas e com a Cooperação<br />
Técnico-Militar.<br />
Este é o <strong>Exército</strong> de Portugal.<br />
Estamos ao serviço de todos os Portugueses.<br />
Ao terminar, o Comandante do <strong>Exército</strong> agradece,<br />
reconhecidamente, em nome de todos os seus militares<br />
à população de Braga, que com a sua presença e<br />
Mensagem do General CEMGFA<br />
Mensagem de Sua Excelência o General Chefe do<br />
Estado-Maior-General das Forças Armadas, por<br />
ocasião do Dia do <strong>Exército</strong> Português, em 24 de<br />
Outubro de 2009.<br />
“Na qualidade de Chefe do Estado-Maior-<br />
General das Forças Armadas, felicito o <strong>Exército</strong><br />
Português pela comemoração do seu dia festivo<br />
saudando todos quantos, militares, militarizados e<br />
civis, servindo nesta secular instituição, servem<br />
Portugal.<br />
Envio uma mensagem de saudação e incentivo<br />
pelo valioso contributo, dedicação e espírito de<br />
bem servir, que ao longo de gerações tem caracterizado<br />
este Ramo das Forças Armadas.<br />
No âmbito da execução de missões fora do<br />
território nacional, é de enaltecer o serviço prestado<br />
pelas mulheres e homens do ramo que, em<br />
diversos Teatros de Operações, como o Afeganistão,<br />
Líbano, Kosovo, Bósnia-herzegovina, Timorleste,<br />
República Democrática do Congo ou Guiné-<br />
Bissau, mantêm a valorosa e histórica contribuição<br />
portuguesa para a promoção da paz e segurança<br />
internacionais, sempre honrando a nossa Pátria.<br />
Seja cumprindo as suas importantes missões<br />
regulares ou extravasando a tarefa essencialmente<br />
militar, executando outras missões de interesse publico,<br />
de que são exemplo os relevantes serviços<br />
prestados por militares do Ramo em prol do<br />
combate a incêndios, tem o <strong>Exército</strong> prestado, ao<br />
País, serviços relevantes e distintos, reforçando a<br />
desejada e profícua ligação com a sociedade em<br />
que nos inserimos e a quem temos a vocação de<br />
servir.<br />
Institucionalmente e também em meu nome<br />
pessoal, associo-me às comemorações do Dia do<br />
<strong>Exército</strong> e expresso o meu apreço e reconhecimento<br />
pelo trabalho desenvolvido, exortando-vos a servir<br />
Portugal e as Forças Armadas com o mesmo profissionalismo<br />
e dedicação que tem sido apanágio do<br />
<strong>Exército</strong>.”<br />
O Chefe de Estado-Maior-General das Forças<br />
Armadas Luís Valença Pinto, General.<br />
(Transcrição da Msg de 25Out09 do General CEMGFA)<br />
demais manifestações de apoio e carinho, participou<br />
nas comemorações do seu <strong>Exército</strong>, dando acrescido<br />
incentivo à forma como diariamente cumprimos a nossa<br />
Missão.JE<br />
Fotos do Tenente João Santos, com excepção de<br />
algumas assinaladas no artigo.
Pedro Soares Branco *<br />
O Uniforme de 1895 para Oficiais de Cavalaria<br />
Em 1895, a cavalaria portuguesa era constituída por<br />
uma Direcção Geral, pelo Estado-Maior da Arma, pela<br />
sua Escola Prática e por dez regimentos: dois de Lanceiros, com<br />
os números 1 e 2 e os restantes de Caçadores a cavalo, com os<br />
números 3 a 10. Alguns destes regimentos eram portadores<br />
de títulos honoríficos, quase sempre associados a um<br />
comandante honorário. Era o caso do regimento de cavalaria<br />
n.º 1, “lanceiros de Victor Manuel”, do n.º 2, “lanceiros de<br />
El-Rei”, do n.º 4, “do Imperador Guilherme II da Alemanha” e<br />
do n.º 8, “do Príncipe Real”. A estes veio juntar-se, em 1901, o<br />
regimento de cavalaria n.º 3 “do Rei Eduardo VII de Inglaterra”.<br />
Ao longo de todo o século XIX, os uniformes militares<br />
sofreram constantes alterações e a cavalaria não foi excepção.<br />
Até mesmo o plano de uniformes de 1885, que se pretendia<br />
duradouro, tinha acabado por sofrer o mesmo destino dos<br />
seus antecessores. Sujeito desde o início a uma série de<br />
modificações, acabou por ser abolido em 1892, com a adopção<br />
dum novo plano de uniformes. Este sofreu por sua vez diversas<br />
alterações, uma das quais, respeitante aos uniformes da<br />
cavalaria, foi aprovada por decreto de 6 de Junho de 1895,<br />
publicado na Ordem do <strong>Exército</strong> n.º 11, de 7 de Junho do<br />
mesmo ano.<br />
Desde 1892, o capacete dos oficiais de Lanceiros era de<br />
couro, com cimeira de marroquim e couro, aplicações de metal<br />
dourado, distintivos em metal prateado, laço nacional em seda,<br />
cordão em seda e penacho branco em “sedas de búfalo” (ou<br />
seja, pelo de iaque). O capacete dos oficiais de caçadores a<br />
Figura 1: capacetes para oficial de cavalaria, modelos de 1895.<br />
Ambos os capacetes apresentam o guarda-nuca guarnecido com uma<br />
virola de metal dourado. Notem-se as diferenças entre o capacete de<br />
oficial do regimento de cavalaria n.º 1, “lanceiros de Victor Manuel”<br />
(à esquerda) e o de oficial de caçadores a cavalo colocado no estadomaior<br />
de cavalaria (à direita), com o novo “descanso de penacho”<br />
adoptado em 1895. Os penachos eram usados em grande uniforme.<br />
UNIFORMES MILITARES<br />
cavalo era também de couro, com aplicações de metal dourado,<br />
distintivos em metal prateado, laço nacional em seda e penacho<br />
preto em “sedas de búfalo”. Em 1895, ambos os capacetes<br />
foram guarnecidos com uma virola de metal dourado no<br />
guarda-nuca. O capacete dos oficiais de lanceiros recebeu,<br />
além disso, um novo cordão “de oiro” (ou seja, de fio dourado)<br />
e o dos oficiais de caçadores a cavalo um elemento adicional<br />
para suporte do penacho, que passou a ser branco, em “sedas<br />
de búfalo” (figura 1).<br />
Para além das alterações nos capacetes foram adoptados,<br />
para oficiais de lanceiros e caçadores a cavalo, dois novos<br />
barretes, designados como “primeiro” e “segundo”. O<br />
“primeiro barrete” do modelo de 1895 (figura 2) era de pano<br />
azul ferrete, cor tradicional do exército português, guarnecido<br />
com duas listas de pano encarnado. Pano da mesma cor era<br />
também usado para os vivos e para o revestimento dum botão<br />
colocado no centro do tampo. Tinha pala de polimento preto e<br />
francalete de “trancelim de oiro” (ou seja, de cordão dourado)<br />
fixo com dois botões pequenos de metal dourado (figura 3). O<br />
emblema era de metal dourado e prateado e os distintivos<br />
(como o número do regimento ou a cifra do estado-maior) de<br />
Figura 2: “primeiro barrete” para oficial de cavalaria, modelo<br />
de 1895<br />
Este exemplar, identificável pelo<br />
padrão dos botões e pela letra<br />
“R” colocada sobre o emblema,<br />
pertenceu a um oficial de<br />
lanceiros na reserva. A partir de<br />
1902, a pala do primeiro barrete<br />
dos oficiais superiores de<br />
cavalaria passou a ter a orla<br />
decorada com um bordado a ouro.<br />
Figura 3: botões para oficial<br />
de cavalaria do modelo em<br />
uso em 1895.<br />
Os botões usados pelos oficiais de<br />
cavalaria a partir de 1885 deram<br />
continuidade aos modelos usados<br />
antes dessa data. Os botões dos<br />
oficiais de lanceiros ostentavam<br />
a legenda “morte” (simbolizada<br />
pela caveira sobre dois fémures<br />
cruzados) “ou glória”.<br />
37
38<br />
UNIFORMES MILITARES<br />
Figura 4: “segundo barrete” para oficial de cavalaria do<br />
modelo de 1895.<br />
Pormenor das estampas anexas<br />
ao decreto de 6 de Junho de 1895,<br />
publicadas na Ordem do <strong>Exército</strong><br />
n.º 11, de 7 de Junho do mesmo<br />
ano. A indicação precisa das<br />
medidas destinava-se à melhor<br />
orientação dos fabricantes.<br />
metal prateado. O “segundo barrete” (figura 4) destinava-se<br />
apenas a ser usado com o “segundo dolman”, no quartel, em<br />
bivaques ou em manobras. Era de pano ou tecido de malha<br />
azul ferrete, agaloado a seda preta, com laço nacional em cordão<br />
de seda e distintivo em metal que o regulamento original<br />
descreve como “branco” mas que era provavelmente prateado.<br />
As modificações introduzidas em 1895 incluíram também<br />
dois novos dolmans, designados como “primeiro” e<br />
“segundo”. O “primeiro dolman” (figura 5) era confeccionado<br />
em pano azul ferrete. Apertava ao meio do peito e possuía seis<br />
Figura 5: “primeiro dolman” para tenente de caçadores a cavalo,<br />
modelo de 1895.<br />
Das três abotoaduras, apenas a central servia efectivamente para<br />
abotoar. Para além da gola, o primeiro dolman dos oficiais de caçadores<br />
a cavalo distinguia-se do dos oficiais de lanceiros pelo padrão dos<br />
botões. A guarnição das costas, muito elaborada, apresentava dois<br />
botões grandes, semelhantes aos das abotoaduras do peito.<br />
Figura 6: S.M. El-Rei D. Manuel II, 1910.<br />
Fotografado nos estúdios Lazarus, em Lisboa, em 19 de Junho de<br />
1910, D. Manuel enverga o grande uniforme de coronel do regimento<br />
de cavalaria n.º 2, lanceiros de El-Rei. Note-se o “primeiro dolman”<br />
do modelo de 1895, com as casas de galão “fechadas” na gola e o<br />
calção de mescla azul clara com duas listas encarnadas do modelo de<br />
1892. Deste uniforme sobreviveu apenas o capacete, que se conserva<br />
no paço ducal de Vila Viçosa.<br />
alamares de cordão de torçal de seda preta com três fileiras de<br />
botões grandes de metal dourado. Nas costas e nas mangas<br />
apresentava guarnições de cordão igual ao dos alamares. A<br />
gola era de pano encarnado, com vivos encarnados e casa de<br />
galão dourado “fechada” para lanceiros e com vivos azul<br />
ferrete e casa de galão dourado “aberta” para caçadores a<br />
cavalo. Os canhões eram de pano encarnado com os<br />
distintivos da patente, tendo cada um dois botões pequenos<br />
de metal dourado e os bordos anterior, inferior e as aberturas<br />
laterais eram avivados de pano encarnado. O “primeiro<br />
dolman”, cuja adopção foi claramente influenciada pela moda<br />
militar europeia da época, foi sem dúvida um dos mais<br />
elegantes artigos de uniforme alguma vez usados no <strong>Exército</strong><br />
Português (figura 6). O “segundo dolman” ou “dolman de
Figura 7: Tenente de caçadores a cavalo, circa 1903.<br />
O Tenente Jayme Raul de Brito Carvalho da Silva, enverga o “segundo<br />
dólman” do modelo de 1895 e as calças de mescla azul-clara com duas<br />
listas encarnadas do modelo de 1892. Como ajudante-de-campo do director<br />
geral da secretaria da guerra, usa também cordões e agulhetas pendentes<br />
do ombro esquerdo. Sobre a gola, ostenta casas de galão “abertas” e traz,<br />
sobre o barrete, a capa branca para uso na "estação calmosa".<br />
flanela” do modelo de 1895 (figura 7) era confeccionado em<br />
flanela azul ferrete e apresentava algumas diferenças<br />
relativamente ao modelo em uso desde 1892, entre as quais se<br />
destacava a gola, que passou a ter casas de galão dourado<br />
iguais às do “primeiro dolman”.<br />
O talim adoptado em 1895 era de “polimento branco” (ou<br />
seja, cabedal tingido de branco) e dispunha de passadores<br />
para fixação de dois francaletes, do mesmo material, destinados<br />
a suspender a bainha da espada, também ela modificada em<br />
1895. Mais tarde, o talim foi adaptado à espada do modelo de<br />
1902, que era suspensa através de uma corrente metálica (figura<br />
8). O mesmo sistema continuou a ser usado após a adopção da<br />
espada do modelo de 1905.<br />
A bandoleira e a cartucheira eram do modelo adoptado em<br />
1892. A bandoleira, de “polimento branco” com 5 cm de largura,<br />
era usada a tiracolo, passando sobre o ombro esquerdo. A<br />
cartucheira (figura 9) era de “polimento preto” com aplicações<br />
UNIFORMES MILITARES<br />
Figura 8: talim com espada e coldre, circa 1902.<br />
Em 1902, o talim passou a ter apenas um passador, que se destinava a<br />
fixar uma corrente metálica para suspensão da espada. O botão do fiador<br />
permite atribuir este conjunto<br />
a um oficial de<br />
caçadores a cavalo. O coldre<br />
do revólver “Abadie”<br />
era de “polimento preto”.<br />
O talim era colocado<br />
por cima do dolman<br />
sempre que o oficial usava<br />
revólver.<br />
Figura 9: cartucheira para oficial de caçadores a cavalo, modelo<br />
de 1892.<br />
O emblema da cartucheira,<br />
colocado entre a grinalda e a<br />
coroa real, era diferente para os<br />
caçadores a cavalo e para os<br />
lanceiros, que usavam respectivamente<br />
duas espadas (com os<br />
copos para baixo e para fora) ou<br />
duas lanças cruzadas.<br />
Figura 10: charlateiras para<br />
oficial de caçadores a cavalo,<br />
modelo de 1892.<br />
As charlateiras dos oficiais de<br />
cavalaria eram de metal dourado,<br />
com seis escamas, assentes sobre<br />
pano encarnado. Os botões eram<br />
do padrão adoptado para os<br />
caçadores a cavalo (caso destes<br />
exemplares) ou para os lanceiros.<br />
de metal dourado. A bandoleira e a cartucheira constituíam um<br />
distintivo de serviço e faziam ainda parte do grande uniforme.<br />
As charlateiras (figura 10), usadas com o “primeiro dolman”,<br />
eram também do modelo adoptado em 1895.JE<br />
Fotografias: Jaime Regalado (Colecção Particular)<br />
* Médico. Membro da Academia Nacional de Belas Artes. Consultor<br />
do Museu Militar.<br />
Bibliografia:<br />
Almanach do <strong>Exército</strong> referido a 31 de Dezembro de 1905,<br />
Imprensa Nacional, Lisboa, 1906.<br />
Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1885, edição da<br />
Revista Militar, 1885.<br />
Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1892, edição da<br />
Revista Militar, 1892.<br />
Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1895, 1.ª Série,<br />
Imprensa Nacional, Lisboa, 1896.<br />
Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1902, 1.ª Série,<br />
Imprensa Nacional, Lisboa, 1902.<br />
Kube, Jan K., Militaria − A study of German Helmets & Uniforms<br />
1729-1918, Schiffer Military History, 1990.<br />
Nobre, Eduardo: Família Real. Álbum de Fotografias. Quimera,<br />
2002.<br />
Regalado, Jaime: Cuamatos, 1907. Tribuna da História, 2004.<br />
Soares Branco, Pedro, Coberturas Militares Portuguesas, 1740-<br />
1918. Inapa, 2000.<br />
Soares Branco, Pedro, Portugal Militar, 1740-1918. Inapa, 2003.<br />
39
40<br />
Tenente-Coronel Manuel Maria Barreto Rosa<br />
Comando Operacional<br />
“Estamos no bom caminho. O <strong>Exército</strong> Português,<br />
em termos internacionais, no seio da NATO e União<br />
Europeia, é um <strong>Exército</strong> a caminho da excelência”.<br />
Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />
General Pinto Ramalho.<br />
Entre 8 e 16 de Outubro de 2009, decorreu o<br />
principal exercício anual do <strong>Exército</strong> −<br />
ORION 09, planeado e conduzido com a finalidade<br />
de exercitar e testar as capacidades das unidades da<br />
Força Operacional Permanente do <strong>Exército</strong>. Comandado<br />
a partir de um Centro de Operações renovado<br />
e modernizado, localizado no Comando Operacional<br />
do <strong>Exército</strong> em Oeiras, o exercício decorreu na<br />
modalidade de CPX e envolveu toda a estrutura do<br />
<strong>Exército</strong>, com principal destaque para as forças das<br />
Brigadas Mecanizada, Intervenção e Reacção Rápida<br />
e algumas das forças de Apoio Geral, que se constituíram<br />
como audiências primárias de treino e participaram<br />
com forças na modalidade LIVEX.<br />
Para o exercício ORION 09 foram determinados<br />
dois grandes objectivos: executar o treino dos planos<br />
de segurança e de defesa das unidades, estabelecimentos<br />
e órgãos do <strong>Exército</strong>; treinar a Força Opera-<br />
cional Permanente do <strong>Exército</strong> na condução de operações<br />
de contenção de acções terroristas, envolvendo<br />
acções de estabilização, de natureza humanitária e<br />
operações de alta intensidade associadas a operações<br />
de informação centradas em rede, no âmbito de<br />
uma Operação de Resposta a Crises.<br />
Para o efeito foi criado um cenário fictício que<br />
transformou a Península Ibérica em Península de<br />
Condelândia e Portugal em Condugal. Com fronteiras<br />
terrestres a Norte e Este com um país designado<br />
por Castelão e limitado a Sul e Oeste pelo Mar Oceano,<br />
Condugal vive num ambiente de guerra civil<br />
que envolve duas etnias: os Cernes e os Alares. O<br />
cenário de possível alastramento do conflito aos<br />
países vizinhos determinou a necessidade da<br />
implementação de uma missão multinacional de<br />
imposição de paz em Condugal, a United Nations<br />
Mission in Condugal (UNMICOND) e, consequentemente,<br />
a projecção para Condugal de uma força<br />
militar com a finalidade de fazer cumprir a Resolução<br />
das Nações Unidas e impor a paz no território. A<br />
Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)<br />
aceitou o convite das Nações Unidas para assumir<br />
a componente militar da operação tendo, inicialmente,<br />
a força militar sido designada por Condugal Im-
plementation Force (CONDIFOR). Com o evoluir<br />
da situação a organização da componente militar<br />
foi revista e a CONDIFOR rendida pela Condugal<br />
Stabilization Force (CONDSFOR), encontrando-se<br />
o Comando da Componente Terrestre desta força<br />
sob liderança nacional e as unidades da Força<br />
Operacional Permanente do <strong>Exército</strong> enquadradas<br />
na estrutura da Componente.<br />
À data de início do exercício, todas as forças se<br />
encontravam em território nacional, em aprontamento<br />
para a missão e a conduzirem todas as tarefas<br />
inerentes à projecção da força para CONDUGAL.<br />
Durante este período, membros mais radicais das<br />
duas etnias assumiram uma posição de forte<br />
contestação à decisão politica nacional de contribuir<br />
com forças para a CONDSFOR e iniciaram um<br />
conjunto actos de terrorismo, tumultos, sabotagens<br />
a áreas sensíveis e infiltrações em unidades militares<br />
nacionais, com vista a destabilizar e desacreditar a<br />
capacidade militar nacional. Foi com base neste<br />
cenário inicial que foram testados os planos de<br />
segurança e de defesa das unidades, estabelecimentos<br />
e órgãos do <strong>Exército</strong>, através da alteração<br />
gradual dos estados de segurança e da simulação<br />
de incidentes específicos. Nesta fase do exercício,<br />
estiveram envolvidas todas as unidades do Sistema<br />
de Forças Nacional - <strong>Exército</strong> tendo, durante a<br />
implementação do Estado de Alerta DELTA, sido<br />
empenhados cerca de 16500 militares.<br />
Após esta fase inicial, de modo a concretizar o<br />
objectivo de treinar a Força Operacional Permanente<br />
do <strong>Exército</strong> no quadro de uma Operação de Resposta<br />
a Crises, o cenário colocou todas as forças militares<br />
nacionais da CONDSFOR no Teatro de Operações<br />
de CONDUGAL.<br />
Para a condução da Operação de Estabilização o<br />
território foi dividido em três sectores: o sector Norte<br />
foi atribuído à Brigada de Intervenção, o sector Centro<br />
à Brigada Mecanizada e sector Sul a uma Brigada<br />
Italiana. À Brigada de Reacção Rápida foi atribuída a<br />
missão de reserva e o comando das operações foi<br />
exercido a partir do Comando da Componente Terrestre,<br />
localizado no Comando Operacional do <strong>Exército</strong> em<br />
Oeiras. Durante esta fase do exercício, as principais<br />
acções decorreram nas regiões de Figueira da Foz,<br />
Tancos e Santa Margarida, onde ficou bem<br />
evidenciada a capacidade do <strong>Exército</strong> para responder<br />
a todo o espectro de missões: acções de estabilização,<br />
acções de apoio às populações, acções de interposição<br />
e acções de carácter convencional. Para além do treino<br />
de procedimentos nos postos de comando das forças<br />
que participaram no exercício e da tomada de decisão<br />
dos comandantes aos vários níveis, merecem particular<br />
destaque todas as acções que permitiram<br />
consolidar a implementação de novas capacidades<br />
41
42<br />
O General José Luís Pinto Ramalho manifestou a sua satisfação com o<br />
cumprimento dos objectivos definidos para o exercício.<br />
no <strong>Exército</strong>, nomeadamente:<br />
- Exercer o comando e controlo da Componente<br />
Terrestre a partir do Centro de Operações Terrestres<br />
do Comando Operacional do <strong>Exército</strong> e monitorizar<br />
em tempo real a situação das Brigadas e das Zonas<br />
Militares. Para atingir este objectivo de primordial<br />
importância, foram utilizadas as novas funcionalidades<br />
de Comunicações e Sistemas de Informação<br />
(CIS) do Centro de Operações Terrestres (COT) e o<br />
Sistema de Informação, Comando e Controlo do<br />
<strong>Exército</strong> (SICCE).<br />
- Testar um Comando de Brigada com a finalidade<br />
de garantir a prazo a sua certificação OTAN e seu<br />
posterior empenhamento operacional.<br />
Para o efeito foi projectado<br />
para a região da Figueira de Foz o<br />
QG da Brigada de Intervenção e<br />
testado o seu funcionamento<br />
utilizando o Sistema de Informação<br />
e Comunicações Táctico (SIC-T),<br />
com equipamentos interoperáveis e<br />
capacidade de ligação em rede.<br />
- Testar as recém levantadas<br />
capacidades no domínio Intelligence,<br />
Surveillance, Target Aquisition<br />
and Reconnaissance (ISTAR),<br />
para apoiar uma unidade de escalão<br />
Brigada. Para concretizar este<br />
objectivo foram colocados no<br />
terreno, sob controlo operacional<br />
da Brigada de Intervenção, o<br />
Comando do Batalhão ISTAR,<br />
meios de aquisição de objectivos e<br />
meios de guerra electrónica com capacidade de<br />
radiolocalização móvel, meios de guerra de informação,<br />
unidades de reconhecimento e operações<br />
especiais.<br />
- O Elemento da Guerra de Informação foi<br />
empregue pela primeira vez nos exercícios da série<br />
ORION, nas suas componentes de Elemento Coordenador<br />
das Operações de Informação (Info Ops)<br />
e de Computer Incident Response Capability (CIRC),<br />
visando a obtenção da superioridade de informação<br />
no campo de batalha a todas as unidades da força.<br />
- Testar a capacidade do Elemento de Defesa<br />
Biológica e Química (BQ) em acções de<br />
reconhecimento e identificação de um possível<br />
agente químico e acções de descontaminação.<br />
- Exercitar o emprego das Forças de Operações<br />
Especiais em missões de reconhecimento especial<br />
e de acção directa para captura de um líder terrorista.<br />
Durante o exercício ORION 09, o General José Luís<br />
Pinto Ramalho, Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />
visitou o Comando da Componente Terrestre em<br />
Oeiras, nos dias 9 e 14 de Outubro; acompanhado<br />
pelo grupo de adidos militares acreditadas em Portugal<br />
e alguns órgãos comunicação sociais nacionais e<br />
o Comando das Brigadas Mecanizada, Intervenção e<br />
Reacção Rápida, em 15 de Outubro, acompanhado<br />
por entidades civis e militares.<br />
Numa breve alocução realizada no decurso da<br />
visita realizada às Brigadas, o General Chefe do<br />
Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, manifestou a sua<br />
satisfação com o cumprimento dos objectivos<br />
definidos para o exercício e o produto final atingido<br />
em todas as acções desenvolvidas durante o mesmo.<br />
Durante a sua intervenção, pediu a todos que<br />
reflectissem “… no que foram os exercícios Orion em
2008 e 2009, e a verificarem os projectos em que o<br />
<strong>Exército</strong> se envolveu e concretizou, durante o último<br />
ano” .<br />
Outras linhas de força do seu discurso foram a<br />
do “… salto qualitativo verificado em áreas como o<br />
Comando e Controle, a Guerra da Informação, …”,<br />
“…o esforço que foi feito na Brigada de Intervenção<br />
para colocar no terreno um QG pronto para certificação<br />
nacional e emprego operacional fora do território<br />
nacional…”, e “… que a excelência do produto<br />
final atingido em todas as actividades em que o<br />
<strong>Exército</strong> participa, em Território Nacional ou no exterior<br />
do mesmo, só é possível atingir devido à<br />
prioridade colocada pelo <strong>Exército</strong> na formação e no<br />
treino, e com a dedicação e profissionalismo de todos<br />
os militares que servem no <strong>Exército</strong>…”.<br />
Com o final de mais um exercício da série ORION,<br />
que correspondeu ao culminar de um ciclo de treino<br />
operacional destinado a integrar as várias capacidades<br />
das unidades operacionais do <strong>Exército</strong>, ficou<br />
demonstrada a capacidade do <strong>Exército</strong> para actuar<br />
em todo o espectro da conflitualidade e para responder<br />
com prontidão às solicitações do presente<br />
e aos desafios do futuro.JE<br />
Fotos de CAVE<br />
43
44<br />
Livros<br />
João José Brandão Ferreira − “Em<br />
Nome da Pátria”<br />
Dulce et decorum est pro patria mori, citado de<br />
Horácio nas suas Odes, poderia ser um outro título<br />
para este livro, cujo tema é, só por si, extremamente apelativo<br />
e glorioso, porque nada é mais sagrado em termos humanos<br />
do que aquela que consiste na mui nobre e séria arte de<br />
fazer a guerra, na defesa da Pátria.<br />
Brandão Ferreira descreve, de uma forma muito clara e<br />
desinibida, numa obra com 588 páginas, o que foi e é Portugal,<br />
cuja História foi feita muitas vezes com sangue derramado,<br />
para que se pudesse cumprir. A primeira parte do livro faznos<br />
recordar a História do séc. XX, acompanhada pelos<br />
números que, pela sua objectividade, não enganam.<br />
Portugal soube sempre estar na comunidade internacional,<br />
muitas vezes contra os ventos que sopravam, alguns<br />
violentos, contra a sua posição no mundo do pós-guerra,<br />
onde tínhamos conseguido manter aquilo que na História<br />
foi designado por territórios de além-mar, por colónias, por<br />
províncias ultramarinas, e por Império no Estado Novo.<br />
Mas esse Estado já vinha de longe. Estivemos envolvidos<br />
em guerras nos finais do séc. XVI e quase todo o século<br />
XVII. Portugal conseguia manter o seu estatuto de grande<br />
País, cuja primeira fractura só ocorre com a perda do Brasil,em<br />
1822, por iniciativa portuguesa.<br />
O século XX começa mal, com as campanhas ultramarinas<br />
face ao ultimato inglês, que nos obriga a ocupar e combater<br />
em África. A 1.ª Grande Guerra, com os seus milhares de<br />
mortos envolvidos nos teatros de operações em França e<br />
Àfrica, contribuiram, apesar de tudo, para a vitória dos<br />
Aliados, e o seu reconhecimento internacional no desfil da<br />
vitória. A 2.ª Guerra passa-nos ao lado, mercê da extraordinária<br />
actividade diplomática de Oliveira Salazar que, no final do<br />
conflito, é um vencedor, sendo Portugal um dos países<br />
fundadores da NATO, em 1949, e admitido nas Nações Unidas<br />
em 1955.<br />
Mas os ventos da História estavam a mudar e, com as<br />
descolonizações do pós-guerra, depois da conferência de<br />
Bandung, o inimigo era Portugal, que se atrevia a deter as<br />
suas posições em África e na Índia! Era tudo uma questão<br />
de tempo. Cai a Índia em1961 e, nesse mesmo ano, começa o<br />
terrorismo em Angola, espalhando-se posteriormente por<br />
Moçambique e pela Guiné. Mas, desta vez, as Forças Armadas<br />
estavam preparadas para aquele que foi considerado o mais<br />
longo teatro de operações alguma vez percorrido por um<br />
país com pouco mais de nove milhões de habitantes, que<br />
conseguiu, a determinada altura, ter quase 240 mil homens<br />
disseminados por todo o Império.<br />
O Tenente-Coronel Brandão Ferreira desmonta, com uma<br />
clareza esmagadora, os principais mitos que se criaram,<br />
designadamente a insustentabilidade da guerra, a solidão<br />
de Portugal face ao mundo, a durabilidade da guerra, a<br />
vontade de independência das populações etc., etc.<br />
Mas o facto mais determinante e fracturante do século<br />
XX é o golpe de estado do 25 de Abril de 1974, já lá vão 35<br />
anos, que mudou o mundo em que vivíamos, que acelerou a<br />
Guerra Fria e desencadeou fenómenos incontroláveis<br />
naqueles territórios que detínhamos há 550 anos.<br />
O que não se pode negar, de modo algum, é o facto mais<br />
do que provado de que as nossas Forças Armadas souberam,<br />
com denodo, coragem, abnegação, generosidade e<br />
grandiosidade, cumprir Portugal até ao dia em que o poder<br />
político emergente da revolução e os ventos da História as<br />
obrigaram a desistir.<br />
Brandão Ferreira escreveu um livro notável pelo tema e<br />
pela história que nos dignifica e que demonstra, tal como o<br />
signatário, sentir uma enorme honra por pertencer à mais<br />
antiga instituição portuguesa, repositório das mais antigas<br />
e nobres tradições.<br />
Para as novas gerações, um livro de História Portuguesa,<br />
para as mais antigas é uma recordação daquilo que<br />
fomos no mundo.<br />
Tenente-Coronel Pinto Bessa<br />
FERREIRA, João José Brandão, Em Nome da Pátria, Livros<br />
d`Hoje, Publicações D. Quixote, Mirandela, 2009, 588 páginas. Preço<br />
15,00Euros
“As Transmissões Militares − da<br />
Guerra Peninsular ao 25 de Abril”, da<br />
Comissão Portuguesa de História<br />
Militar<br />
“<br />
As transmissões são tão velhas como as guerras, que<br />
são tão velhas como a humanidade. A Arma de<br />
Transmissões é a mais jovem do <strong>Exército</strong> Português. Foi<br />
criada para a guerra colonial e nela se desenvolveu<br />
cumprindo bem as missões que lhe competiam. Esteve<br />
presente nos alvores de Abril. Foi decisiva na madrugada<br />
libertadora.”<br />
Nestas brevíssimas, mas tão profundas ideias, se<br />
condensou um projecto que resultou agora em livro. Em As<br />
Transmissões Militares − da Guerra Peninsular ao 25 de<br />
Abril, a Comissão da História das Transmissões (criada adhoc<br />
em 2006) propôs-se a investigar a história da Arma de<br />
Transmissões, desde a génese das comunicações militares<br />
até aos tempos modernos, demorando-se, no entanto, em<br />
três importantes marcos do séc. XX português: a Primeira<br />
Livros<br />
Guerra Mundial, a<br />
Guerra Colonial e o 25<br />
de Abril de 1974. Os<br />
autores, militares do<br />
25 de Abril, traziam<br />
ainda com eles um<br />
alargado e experiente<br />
conhecimento do período<br />
abordado, sobretudo<br />
desde a década<br />
de 50 daquele<br />
século, ao que se aliou<br />
um fecundo espírito<br />
de missão e capacidade<br />
de trabalho,<br />
de onde germinou<br />
esta obra.<br />
Pelo seu conteúdo,<br />
mesmo tendo em conta a delimitação do tema, o livro<br />
constitui um relevante documento de estudo e de interesse<br />
para eruditos, historiadores e especialistas de várias<br />
disciplinas.<br />
AFONSO, Aniceto (Coord.), As Transmissões Militares − da<br />
Guerra Peninsular ao 25 de Abril, Edição da Comissão Portuguesa de<br />
História Militar, Lisboa, 2008.<br />
Nuno Álvares Pereira<br />
Nuno Álvares Pereira<br />
nasceu em<br />
Cernache do Bonjardim no<br />
dia 24 de Julho de 1360,<br />
décimo terceiro filho do prior<br />
do Hospital, Álvaro Gonçalves<br />
Pereira e o primeiro<br />
de Iria Gonçalves do Carvalhal.<br />
Jaime Nogueira Pinto<br />
apresenta-nos, quase 600<br />
anos após a sua morte,<br />
uma biografia do homem e<br />
da época, revelando o seu<br />
carácter e o seu percurso<br />
na história de Portugal.<br />
A biografia actualizada do pajem, do cavaleiro, do chefe<br />
militar e do homem de fé que foi Nun`Alvares, vivida na<br />
Idade Média, uma época marcada por convulsões políticosociais<br />
e pela Guerra dos Cem Anos são o ponto de partida<br />
para a mesma, juntamente com documentos actualizados de<br />
fontes tradicionais.<br />
Foi Nuno Álvares Pereira quem guardou a nação<br />
independente, preparando-a para o novo tempo português<br />
de navegação e expansão além-mar.<br />
PINTO, Jaime Nogueira, Nuno Álvares Pereira, Esfera dos Livros.<br />
1ª Edição, Lisboa, 2009.<br />
45
46<br />
PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />
in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 12 de Dezembro de 1960<br />
Soluções deste número:<br />
1 - Planta à esquerda; 2 - Divisas do cabo; 3 - Boca do cabo; 4 - Terreno atrás do carro de combate; 5 - Tinta na lata; 6 - Arma do inimigo;<br />
7 - Polegar do homem à direita; 8 - Perna do homem à direita.<br />
Pretendo assinar o Jornal do <strong>Exército</strong><br />
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Cronologia<br />
1357 (11Abril) – Nasce<br />
em Lisboa.<br />
1364 – Armado cavaleiro<br />
por seu pai, o rei D.<br />
Pedro; preenche a vacatura<br />
do Mestrado da<br />
Ordem de Avis.<br />
1383 (Dezembro) –<br />
Mata o Conde Fernandes<br />
Andeiro; escolhido pelos<br />
cidadãos de Lisboa para<br />
regedor e defensor do<br />
reino de Portugal e do<br />
Algarve.<br />
1384 – Resiste em Lisboa<br />
ao apertado cerco desencadeado<br />
por João I de<br />
Castela (Maio-Setembro).<br />
1385 – É escolhido para<br />
rei nas Cortes de Coimbra<br />
(6 de Abril). Vence o<br />
<strong>Exército</strong> de Castela em<br />
Aljubarrota (14 de Agosto).<br />
1386 – Acordo de Ponte<br />
do Mouro com o Duque<br />
de Lencastre e acerto de<br />
casamento com D. Filipa.<br />
1389 – Cerca e toma Tui<br />
(Agosto-Outubro).<br />
1393 – Tréguas entre<br />
Portugal e Castela por 15<br />
anos (Maio).<br />
1396 – Ataca e toma<br />
Badajoz (12 de Maio).<br />
1411 – Tratado de Paz de<br />
Ayllón-Segóvia, com<br />
Castela (31 de Outubro).<br />
1415 – Desembarque<br />
em Ceuta e tomada da<br />
Praça (21 de Agosto);<br />
início da Expansão<br />
Portuguesa.<br />
1418-1427 – Reconhecimento<br />
do arquipélago da<br />
Madeira e descobrimento<br />
das ilhas açorianas.<br />
1432 – Assina o Tratado<br />
de Medina del Campo,<br />
de paz perpétua, com<br />
Castela (27 de Janeiro).<br />
1433 (14 de Agosto) –<br />
Morte de D. João I<br />
(calendário religioso).<br />
D. João I e a Tomada de Ceuta<br />
O Comandante<br />
Aos 11 dias do mês de Abril de 1357, presume-se,<br />
nascia em Lisboa o pequeno<br />
João, filho ilegítimo do rei D. Pedro e de uma<br />
dama galega de nome Teresa Lourenço. Desde<br />
cedo entregue aos cuidados do Mestre da<br />
Ordem de Cristo, Nuno Freire de Andrade, com o<br />
desígnio de ser orientado para a carreira<br />
monástica militar, cresceu a pisar o tavolado da<br />
casa de Avis, pois com apenas sete anos<br />
preenche a vacatura do mestrado da ordem, por<br />
morte de D. Martim de Avelar. Educado, então,<br />
para dirigir uma das mais importantes ordens<br />
religioso-militares, recebeu instrução aprimorada<br />
que, além de conhecimentos da doutrina da<br />
Igreja, compreendia noções de direito canónico,<br />
de administração pública e, naturalmente, da<br />
prática militar inerente à ordem.<br />
Fundador da Dinastia de Avis, foi aclamado<br />
regedor e defensor do reino pelo povo de Lisboa<br />
na crise da sucessão de D. Fernando (1383),<br />
tendo mais tarde, em 1385, sido eleito rei de<br />
Portugal nas Cortes de Coimbra, depois de João<br />
das Regras ter habilmente provado a ilegitimidade<br />
dos filhos de Inês de Castro e argumentado que<br />
dos filhos de D. Pedro I só o Mestre de Avis<br />
tinha direito ao trono. Aliás, D. João I teve o<br />
mérito de se rodear de homens de elevado valor:<br />
o próprio João das Regras, expedito e astucioso<br />
jurisconsulto, e o padrasto deste, Álvaro Pais,<br />
grande mentor da revolta, além do ilustre Nuno<br />
Álvares Pereira, homem de espada firme e<br />
convicções profundas.<br />
Segundo consta, a prudência (que alguns<br />
erradamente apelidam de pusilanimidade) era a<br />
sua principal característica; demonstrou-a como<br />
mestre e rei, desde o cerco de Lisboa e<br />
Aljubarrota a Ceuta, contribuindo para o clima de<br />
paz que então Portugal atravessou, no meio de<br />
uma profunda crise económica e demográfica e de<br />
um enorme descalabro financeiro. Evidenciando,<br />
no início, pouca apetência para a chefia,<br />
aumentou e consolidou a sua autoridade ao<br />
longo do reinado, em resultado das suas<br />
competências na coisa pública, da elevada<br />
capacidade de aprendizagem e da firmeza de<br />
carácter, cioso em conservar o poder junto de si e<br />
pouco atreito a contraditórios nas suas decisões.<br />
Elevado à condição de herói militar pelos feitos<br />
Autores<br />
D. João I (estátua no Campo Grande, Lisboa).<br />
em Aljubarrota e Ceuta, foi esta última que lhe<br />
garantiu fama em toda a cristandade. Foi um<br />
combatente que sempre condicionou as suas<br />
batalhas a imperativos de ordem moral e de<br />
interesse do Estado: durante o seu reinado, não<br />
só se consolidou definitivamente a<br />
independência, como se deu à Europa, pelo<br />
exemplo português, uma nova imagem de<br />
legitimidade do poder real; iniciaram-se as<br />
navegações e as conquistas; Portugal tornou-se<br />
respeitado em todas as cortes; criaram-se novas<br />
estruturas sociais e mobilizou-se um povo inteiro<br />
para a construção do futuro, numa união<br />
exemplar entre a nação e o seu líder.<br />
D. João I morre a 14 de Agosto de 1433 com 76<br />
anos de idade, precisamente 48 anos após a<br />
batalha de Aljubarrota, deixando um legado de<br />
“boa memória” (o seu cognome). Rei justo,<br />
vitorioso, devoto e culto, legou o projecto da<br />
portugalidade na Ínclita Geração, os filhos do<br />
seu casamento com D. Filipa de Lencastre, que<br />
garantiram o devir da Nação.<br />
61
62<br />
Enquadramento<br />
Político – Estratégico da Época<br />
Contextualizar a batalha de Ceuta no período<br />
correspondente ao final da Idade Média resulta<br />
num exercício complexo, pois as inúmeras variáveis<br />
em presença – de carácter político, estratégico,<br />
económico e social –, e a distância temporal<br />
dos acontecimentos, associada às variadas<br />
interpretações históricas, dificultam uma análise<br />
que se pretende sucinta. Para a clareza necessária,<br />
interessa perceber lógicas nos espaços<br />
europeu, ibérico e norte-africano vincando,<br />
naturalmente, o espaço nacional, prima facie no<br />
que concerne às razões da opção africana.<br />
Na Europa, a conjuntura de então era marcada<br />
por uma recessão económica com causas diversas,<br />
como a peste negra, a fome, a falta de mãode-obra,<br />
a crise agrícola, o arrefecimento climático<br />
e, principalmente, a Guerra dos Cem Anos, conflito<br />
entre a França e a Inglaterra, que envolveu o<br />
continente e atingiu transversalmente todas as<br />
classes, provocando profundas transformações<br />
na vida social, política e económica. Além dos<br />
escravos, necessários para suprir a falta de mãode-obra,<br />
importantes matérias-primas escasseavam<br />
– como o ouro, a prata, o trigo de África e<br />
especiarias orientais –, aumentando exageradamente<br />
o seu preço; a necessidade urgente de<br />
adquirir directamente a riqueza nos mercados<br />
internacionais estava limitada pelo monopólio<br />
das rotas das especiarias e do ouro, detido pelos<br />
mercadores italianos; havia enorme dificuldade<br />
em atingir a Rota da Seda, que os àrabes fecharam<br />
ao comércio cristão. Apesar de alguma experiência<br />
de navegação no Mediterrâneo e de instrumentos<br />
que já permitiam navegação astronómica,<br />
faltava aprofundar os conhecimentos técnicos e a<br />
construção naval que permitisse sulcar o oceano<br />
e, assim, aceder às fontes de riqueza que se sabia<br />
existirem no interior de África, nas Índias e no<br />
Extremo Oriente.<br />
Em território marroquino, no reino de Fez, sede do<br />
império almóada da dinastia Marinida, vivia-se<br />
também um período de recessão económica,<br />
agravada pela decadência política iniciada com a<br />
derrota na batalha do Salado (já tratada neste<br />
Jornal); é um reino fragmentado e enfraquecido<br />
pela ausência de unidade, em que cidades como<br />
Fez, Ceuta, Tânger ou Marraquexe rivalizam entre<br />
si. À época, Ceuta – uma das Colunas de<br />
Hércules, a par de Gibraltar – era uma cidade de<br />
elevada importância religiosa, económica e militar,<br />
com inúmeras madrassas, um excelente porto,<br />
terrenos agrícolas férteis, uma grande capacidade<br />
defensiva e, fundamentalmente, uma enorme<br />
importância estratégica em relação ao controlo do<br />
estreito de Gibraltar.<br />
No âmbito peninsular, após mais um período de<br />
guerra ocorrido entre 1396-1398, as relações de<br />
Portugal com Castela são marcadas por um<br />
período de paz (Tratado de 1411) que, por um<br />
lado, permitia retomar o espírito da reconquista<br />
em favor de um ideal religioso comum e, por<br />
outro, possibilitava à Monarquia Portuguesa<br />
orientar os esforços na demanda de outros<br />
horizontes, procurando, definitivamente, marcar<br />
a sua individualidade e prestígio, enquanto<br />
Nação importante da Europa cristã. Ainda na<br />
Península, os muçulmanos iam conseguindo<br />
sustentar o reino de Granada e, apesar de<br />
perderem influência no território, controlavam o<br />
estreito de Gibraltar, asfixiando a navegação<br />
cristã no Mediterrâneo e no Atlântico.<br />
Encravado entre os reinos da península e o<br />
imenso «mar oceano», a localização privilegiada<br />
de Portugal proporciona-lhe uma série de<br />
vantagens que urgia aproveitar. Com a sua<br />
enorme costa a Oeste e a Sul, o reino era ponto<br />
de afluência de trajectórias comerciais de<br />
diversa origem, desde a costa setentrional<br />
africana ao Báltico, associando mercados<br />
italianos, árabes e europeus. Paralelamente, a<br />
sua relação com o mar permitia a Portugal deter<br />
uma notável infra-estrutura de construção naval,<br />
apoiada por importantes conhecimentos de<br />
navegação e respectivos instrumentos,<br />
cartografia e astronomia, aprendidos no<br />
contacto com comerciantes e marinheiros das<br />
diversas proveniências e na própria experiência.<br />
Eixo natural de expansão, o mar afigurava-se<br />
como factor de identidade talassocrático e, ao<br />
mesmo tempo, de diferenciação em relação aos<br />
outros reinos da Península, incorporando<br />
plenamente a ideia de que um país que tem um<br />
mar nunca é pequeno!<br />
Das razões da opção africana (atlântica),<br />
realçamos as de carácter político, religioso, social,<br />
militar e económico que, no seu conjunto,<br />
enformam os objectivos estratégicos de então.<br />
Politicamente, interessava cunhar definitivamente<br />
a soberania no contexto peninsular e granjear<br />
prestígio internacional junto de outros reinos e<br />
da Santa Sé, melhorando a imagem de um reino<br />
pobre e periférico, marcado pela conturbada<br />
subida ao trono de um rei bastardo. No âmbito<br />
religioso, os argumentos da luta aos infiéis, da<br />
expansão da fé cristã e o apoio à expulsão dos<br />
mouros da península, sustentam o desejo e a
Rotas comerciais na África do Norte e do Centro no século XV.<br />
necessidade de deter possessões no Norte de<br />
África, prolongando o ideal da reconquista ao<br />
aniquilar os mouros no seu próprio território. No<br />
quadro social, a burguesia, a nobreza e o clero<br />
partilhavam interesses económicos, religiosos e<br />
militares, associando a já referida expansão da fé<br />
cristã, as oportunidades de comércio em Ceuta e<br />
a ocupação de uma nobreza guerreira em período<br />
de paz com Castela, permitindo também saldar a<br />
persistente aspiração dos príncipes em serem<br />
armados cavaleiros em combate. Militarmente, o<br />
controlo do estreito de Gibraltar e das vias<br />
marítimas, o combate à pirataria e a posse de uma<br />
testa-de-ponte em África, que facilitasse<br />
eventuais acções ulteriores em direcção ao<br />
continente africano ou mesmo em direcção à<br />
própria Península, eram objectivos úteis,<br />
Nova História Militar de Portugal, Vol. III<br />
possíveis e galvanizadores do aparelho militar.<br />
Do ponto de vista da economia interessava,<br />
fundamentalmente, diversificar as fontes de<br />
matérias-primas e de produção e aceder e<br />
controlar novas rotas de comércio, mitigando<br />
assim a recessão económica que então se vivia.<br />
Para tal, Ceuta, afigurava-se uma óptima<br />
oportunidade, não só porque aí abundavam<br />
cereais (de que Portugal estava muito carente),<br />
gado, peixe, minérios e têxteis, mas também<br />
porque constituía um cobiçado centro de<br />
afluência e passagem das rotas mercantis<br />
oriundas do interior do continente africano –<br />
principalmente do ouro e escravos que Portugal e<br />
a Europa tanto necessitavam – e permitia<br />
importantes receitas dos serviços de frete<br />
envolvidos nas rotas comerciais.<br />
63
64<br />
Duas naus (séc. XIV e XV) e uma galé (séc. XIV e XV).<br />
Arte da Guerra<br />
e Aparelhos Militares<br />
A arte da guerra e a componente terrestre do<br />
aparelho militar português percebidas em 1415<br />
não diferem muito dos anos precedentes, já<br />
caracterizadas aquando da batalha de Atoleiros.<br />
Interessa, por isso, aprofundar as<br />
particularidades da época no que concerne à<br />
componente naval. Os navios que existiam no<br />
início do século XV – galés, galeotas, pinácias,<br />
caravelas, barcas, urcas e naus – possuíam<br />
características e finalidades diversas, desde o<br />
combate ao apoio logístico. Como mais utilizados<br />
nos combates permaneciam ainda as galés,<br />
impulsionadas a remos, apesar de algumas já<br />
disporem de uma pequena vela; as mais<br />
possantes eram as de três andares de remadores<br />
– os trirremes – mas também as havia de um só<br />
andar, as galeotas. As naus, maiores e com um<br />
velame mais desenvolvido, desempenhavam um<br />
papel fundamental no âmbito do transporte<br />
operacional e logístico. As restantes<br />
embarcações serviam de apoio ou constituíam-se<br />
como elementos de ligação. As principais<br />
actividades militares dos meios navais<br />
consistiam, em grande medida, no prolongamento<br />
da componente terrestre, compreendendo o<br />
transporte de exércitos, o bloqueio a portos e as<br />
operações de pirataria ou de defesa dos piratas.<br />
O processo de recrutamento para operar os meios<br />
navais – remadores e marujos – era paralelo e<br />
semelhante ao das tropas terrestres (a “gente de<br />
guerra”, besteiros e infantes destinados ao<br />
combate, que provinham dos concelhos), sendo a<br />
sua base os chamados marinheiros do conto,<br />
www.geocities.com/martinsbarata/naval/naviosCeuta.htm<br />
homens que eram tirados dos barqueiros e<br />
pescadores, encontrando-se todos matriculados<br />
na organização designada por vintenas do mar,<br />
assim chamada porque, quando as galés se<br />
armavam, de cada vinte homens, um destinava-se<br />
ao remo. Da responsabilidade do vintaneiro, o<br />
recrutamento naval era um processo, nem sempre<br />
fácil e por vezes violento, pois as condições<br />
adversas a bordo e os enormes riscos inerentes à<br />
navegação não favoreciam o voluntariado.<br />
Também por isso, se recorreu amiúde à<br />
convocação de indivíduos castigados ou fugidos<br />
à justiça, parecendo certo que em Ceuta<br />
participaram muitos homiziados, ao abrigo de<br />
uma amnistia prometida por D. João I.<br />
Caracterizada a componente naval, importa<br />
abordar a dimensão táctica das operações de<br />
cerco, uma constante da guerra medieval, já que o<br />
domínio de um território implicava geralmente a<br />
rendição das praças, numa altura em que as<br />
fortificações expressavam o domínio sobre um<br />
território e que a sua conquista apenas era<br />
possível mediante a construção, ocupação ou<br />
destruição dos seus castelos ou fortificações.<br />
Dada a superioridade que os meios defensivos<br />
tinham sobre os meios ofensivos, os assédios a<br />
praças fortificadas tornavam-se frequentemente<br />
numa operação difícil e prolongada, exigindo uma<br />
programação cuidadosa. As formas que revestiam<br />
essas operações podiam variar de uma forma<br />
considerável, num raio que ia desde o assalto<br />
rápido, subversivo, até ao bloqueio de larga<br />
duração, com toda uma série de possibilidades<br />
intermédias; de tal forma que as tácticas e<br />
técnicas de expugnação e, sobretudo a<br />
combinação delas, permitiam um amplo leque de<br />
possibilidades. As três principais técnicas de
cerco eram o bloqueio, a expugnação “a furto”e à<br />
força. Tendo em conta os riscos e limitações<br />
técnicas dos assaltantes e as vantagens físicas<br />
dos defensores, não é de estranhar que os chefes<br />
militares procurassem fórmulas alternativas ao<br />
assalto e à confrontação directa. Assim, o<br />
objectivo do bloqueio era isolar a fortaleza do<br />
exterior, impedir as saídas e entradas da mesma e<br />
cortar as linhas de abastecimento e apoio externo.<br />
O que se pretendia não era que a guarnição ou os<br />
habitantes da cidade morressem de fome, mas sim<br />
convencê-los de uma tripla realidade: nenhum<br />
socorro, nem militar ou material, lhes podia<br />
Bacinete de D. João I.<br />
chegar do exterior; por isso, a capitulação era<br />
uma questão de tempo; e que os sitiantes tinham<br />
tempo. A expugnação “a furto” (operação que se<br />
assemelha a um golpe de mão), era uma operação<br />
Existente no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.<br />
em que pequenos grupos de combatentes,<br />
conhecedores do terreno, actuavam em períodos<br />
de visibilidade reduzida, com instrumentos e<br />
técnicas de expugnação rudimentares, como<br />
escadas de madeira. Era uma operação rápida e<br />
como tal exigia pouco financiamento. Na<br />
expugnação à força, realizava-se um ataque<br />
frontal com todos os meios que se tivessem à<br />
disposição, sendo considerado um modo de<br />
expugnação rápido. O custo em vidas humanas<br />
para os assaltantes podia ser muito alto, pelo<br />
menos em relação à duração da operação mas, em<br />
contrapartida, poupava-os do sofrimento de um<br />
cerco prolongado e prevenia, em caso de<br />
sucesso, contra a possibilidade de os defensores<br />
puderem contar com um auxílio exterior. Era,<br />
porém, difícil de executar e eram elevadas as<br />
possibilidades de fracasso. A maioria dos cercos<br />
tinha lugar durante a época de Verão, uma vez<br />
que nessa altura os campos ofereciam maiores<br />
possibilidades de sustento aos atacantes, ao<br />
mesmo tempo que a secagem dos rios e das<br />
fontes complicava a vida àqueles que defendiam.<br />
Ceuta não foi excepção.<br />
De acordo com diversas fontes, das que se realça<br />
a análise efectuada pelo General Loureiro dos<br />
Santos, a expedição militar que partiu para Ceuta<br />
estava organizada em duas frotas, a do Porto e a<br />
de Lisboa. O comandante-chefe era D. João I e o<br />
segundo comandante era o príncipe herdeiro, D.<br />
Duarte. A frota do Porto era capitaneada pelo<br />
Infante D. Henrique e contava com sete galés e<br />
um número desconhecido de naus e galeotas; a<br />
de Lisboa era capitaneada pelo Infante D. Pedro,<br />
tinha oito galés e também diversas naus e<br />
galeotas. Em ambas as frotas seguiam<br />
importantes fidalgos do reino (como o<br />
Condestável, D. Nuno Álvares Pereira), que se<br />
dividiam em funções de comando ou “estadomaior”.<br />
O total dos navios rondaria os 240, dos<br />
quais 15 eram galés, 5 galeotas e 88 naus; tinham<br />
guarnições variáveis, com as galés necessitando<br />
de mais gente (172 remadores por galé e 60 por<br />
galeota). Muitos autores indicam um total de<br />
cerca de 20.000 homens envolvidos na operação,<br />
em que metade se destinaria ao desembarque.<br />
Além do pessoal e dos abastecimentos,<br />
transportava-se o armamento da época,<br />
individual e colectivo, como os aparelhos de<br />
cerco e artilharia (bombardas e trons). Apesar de<br />
se levarem cavalos a bordo, julga-se que não<br />
foram utilizados, sendo que os homens de armas<br />
nobres (a cavalaria) combateram apeados. De<br />
entre os restantes combatentes encontravam-se<br />
vassalos do rei, besteiros, escudeiros e lanças.<br />
65
68<br />
Descrição da Batalha<br />
Tomada a decisão da conquista de Ceuta,<br />
importava preparar a expedição de forma<br />
adequada e com o sigilo possível. Com grande<br />
antecedência, convocaram-se tropas, produziramse<br />
e reuniram-se mantimentos e munições,<br />
aparelharam-se os navios, divulgaram-se<br />
destinos e objectivos falsos para encobrir a<br />
empresa e, a pretexto de uma embaixada à Sicília,<br />
foi feito um reconhecimento à praça de Ceuta com<br />
o propósito de analisar as condições de<br />
desembarque e suas vulnerabilidades defensivas.<br />
Apesar da morte da Rainha uns dias antes, a 25<br />
de Julho, dia de Santiago e da Batalha de<br />
Ourique, larga do Tejo uma armada com cerca de<br />
240 navios (consoante as fontes, os números<br />
variam entre 190 e 270), dividida em duas<br />
capitanias – a das galés (ou navios armados), sob<br />
comando do rei, e a das naus (ou embarcações de<br />
transporte), comandadas pelo Infante D. Pedro.<br />
Realiza uma primeira escala em Lagos, onde faz<br />
aguada e os homens são finalmente informados<br />
do destino e da finalidade da expedição; após<br />
mais duas escalas, em Algeciras e Tarifa, a armada<br />
avança incompleta sobre a baía de Ceuta, a 12 de<br />
Agosto, pois devido a um intenso nevoeiro e às<br />
fortes correntes alguns navios foram arrastados<br />
na direcção de Málaga.<br />
Os mouros, ao avistarem o que restava da armada<br />
portuguesa, começaram a disparar trons e tiros de<br />
bestas, sem no entanto a atingirem, e pediram<br />
reforços às cidades vizinhas; alguns portugueses<br />
desembarcaram na praia, iniciando-se pequenas<br />
escaramuças com os defensores. D. João I,<br />
impaciente com a demora das restantes naus,<br />
decide mandar reunir toda a frota no outro lado<br />
da cidade, frente à zona de Barbaçote, local<br />
inicialmente escolhido para lançar o ataque.<br />
Entretanto, a 15 de Agosto, levanta-se uma<br />
grande tempestade que durou três dias,<br />
dispersando novamente a frota, que só se<br />
voltaria a juntar no dia 19 de Agosto, junto de<br />
Algeciras, desperdiçando o efeito de surpresa e<br />
baixando significativamente o moral das tropas. O<br />
governador de Ceuta, Salah ben Salah, julgando<br />
que a armada lusa debandaria com a tormenta,<br />
ordenou aos reforços dos povos vizinhos, que<br />
entretanto tinham acudido em seu favor, para<br />
regressar às suas origens, diminuindo<br />
significativamente a sua capacidade defensiva.<br />
Reunido o conselho em Algeciras, as opiniões<br />
dividiram-se entre regressar a Portugal, avançar<br />
sobre Gibraltar ou manter o objectivo de Ceuta.<br />
Decidindo por esta última opção, o rei dá o seu<br />
Esquema da Batalha.<br />
Adaptado de Santos, 2002<br />
conceito de operação: o Infante D. Henrique, com<br />
a frota proveniente do Porto, lançaria âncora em<br />
frente a Almina, uma enseada a Oeste de Ceuta;<br />
então, D. João I simularia um ataque em frente à<br />
cidade para iludir os mouros quanto à localização<br />
do ataque principal e, em resposta a um sinal<br />
combinado, D. Henrique desembarcava e<br />
conquistaria uma cabeça de praia;<br />
posteriormente, o resto das tropas juntar-se-lheia<br />
continuando o ataque em direcção à alcáçova<br />
(castelo) do governador. Refira-se, de acordo com<br />
Zurara, que este conceito não contava com o<br />
apoio da maioria dos conselheiros, que pretendia<br />
atacar por Leste, cortando eventuais reforços<br />
vindos do continente.<br />
E, assim, ao raiar de 21 de Agosto, iniciava-se o<br />
ataque a Ceuta. O desembarque não foi realizado<br />
de forma ordenada, conforme pretendia D. João I,<br />
pois alguns homens precipitaram o desembarque<br />
na praia ao avistarem os mouros “fazendo suas<br />
maneiras, pelas quais punham grande alvoroço<br />
na gente que estava em nos navios”, conforme<br />
descreve Zurara. Imediatamente se lhe seguiram<br />
outros em seu apoio, nomeadamente o Infante D.<br />
Henrique acompanhado de mais alguns homens,<br />
que avançam sem o sinal do rei, para reforçar o<br />
contingente e manter o ímpeto. E assim, em<br />
pouco tempo, havia já no areal cerca de 150<br />
portugueses, que repeliram os mouros para<br />
dentro da porta de Almina.<br />
Com cerca de 300 homens já desembarcados,<br />
incluindo o infante D. Duarte, a progressão faz-se<br />
rapidamente chegando junto às portas da cidade<br />
onde, de acordo com o plano inicialmente gizado,<br />
se deveria consolidar a cabeça de praia e<br />
aguardar por D. João I. No entanto, devido a uma
Combate à porta de Ceuta.<br />
fraca resistência e percepcionando uma<br />
vulnerabilidade que urgia ser explorada, o Infante<br />
D. Henrique, aconselhado por D. Duarte, decide<br />
continuar o ataque; com o ritmo de desembarque<br />
a aumentar, os portugueses entram nas muralhas<br />
e combatem rua a rua, ganhando progressivamente<br />
terreno até chegarem a uma elevação, onde<br />
consolidam as posições conquistadas e se<br />
reorganizam. Sob intensa pressão, os mouros<br />
retiram e Salah-ben-Salah, percebendo como<br />
rapidamente se passou de escaramuças na praia<br />
para um verdadeiro morticínio nas ruas da cidade,<br />
mandou recolher ao castelo.<br />
Confirmada a presença dos portugueses no<br />
interior das muralhas, D. João I desembarca com<br />
o grosso da expedição, iniciando-se a derradeira<br />
fase da batalha, o assalto ao castelo, na qual o rei<br />
participou directamente. Assiste-se a intensos<br />
combates nas ruas e, no final do dia, os<br />
portugueses ocupam toda a cidade até ao muro<br />
que a separava do reduto do castelo. Salah ben<br />
Salah reconhecendo que não tinha hipóteses de<br />
sucesso, resolve abandonar a cidade.<br />
Constatada a debandada da liderança moura, D.<br />
Lith. da Comp. Nac. Editora<br />
João I ordenou o derrube das portas do castelo e<br />
o assalto imediato. No entanto, no interior das<br />
muralhas, um biscainho e um genovês confirmam<br />
que a fortaleza está deserta e que eles próprios<br />
abririam as portas, não sendo necessário<br />
“quebrá-las”. D. João ordenou, então, a João Vaz<br />
de Almada que tomasse posse simbólica da<br />
cidade, içando a bandeira de São Vicente na torre<br />
do castelo. Travaram-se as últimas escaramuças e<br />
iniciaram-se as normais actividades de saque. De<br />
acordo com Zurara, os mortos da parte<br />
muçulmana foram em número muito elevado, não<br />
apenas durante os combates mas também<br />
aquando do saque e da chacina; da parte<br />
portuguesa, teriam sido apenas oito.<br />
Enfim, os muçulmanos eram expulsos da sua terra<br />
e de imediato eram enviados diversos emissários<br />
dando conta do enorme sucesso da coroa<br />
portuguesa. Quatro dias depois do final da operação,<br />
dia 25, realizou-se a bênção da mesquita<br />
maior; sagrada como igreja, estava pronta para o<br />
acto mais esperado: a cerimónia em que os<br />
infantes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique foram<br />
armados cavaleiros por seu pai, o rei D. João I.<br />
69
70<br />
Análise da Batalha<br />
Qualquer análise deve ser enformada por dados<br />
relevantes e suficientes, abrangendo as<br />
diversas partes envolvidas. A falta de relatos<br />
da parte muçulmana – por exemplo,<br />
relacionados com a não utilização da sua<br />
Infante D. Henrique na conquista de Ceuta.<br />
marinha – sendo uma lacuna impossível de<br />
colmatar não deve retirar, no entanto, o mérito e<br />
brilhantismo português no planeamento e<br />
execução desta acção militar.<br />
Desde logo, na fase de planeamento, é de<br />
realçar a forma como se organizou toda a<br />
expedição. A preparação exímia e atempada das<br />
duas frotas, uma em Lisboa outra no Porto,<br />
demonstra uma enorme capacidade de<br />
organização, em que se conseguiram reunir a<br />
galvanizar muitos recursos críticos, numa<br />
época marcada por enormes dificuldades e<br />
constrangimentos financeiros e tecnológicos.<br />
O secretismo que foi posto na preparação e,<br />
fundamentalmente, o modo como se conseguiu<br />
mantê-lo, revela bem o engenho da liderança de<br />
então, aliando elementos de contra-informação<br />
à protecção dos Elementos Essenciais de<br />
Informação das Forças Amigas (EEFI, Essential<br />
Elements of Friendly Information). O<br />
reconhecimento feito ao terreno, com o<br />
propósito de analisar as condições de<br />
desembarque e as vulnerabilidades defensivas<br />
do inimigo, permite concluir que os estrategas<br />
de então possuíam já uma noção avançada e<br />
clara da necessidade da preparação do campo<br />
de batalha através das Informações (IPB,<br />
Intelligence Preparation of Battlefield).<br />
Na fase de conduta, fica patente a excelente<br />
capacidade de comando e liderança dos<br />
responsáveis lusos. Apesar de as condições<br />
meteorológicas terem dividido a frota e anulado<br />
o efeito surpresa, a arte e o génio militar de D.<br />
João I ficam indubitavelmente demonstrados na<br />
forma como foi guisado o plano alternativo.<br />
Maximizando o<br />
princípio da<br />
decepção ao simular<br />
o ataque numa zona<br />
diferente, conseguiu<br />
manipular a<br />
percepção do<br />
inimigo, garantir a<br />
segurança do grosso<br />
da força e influenciar<br />
significativamente a<br />
modalidade de acção<br />
do adversário, pois<br />
este, ao deslocar<br />
forças de um lado<br />
para outro, criou um<br />
ponto fraco no seu<br />
Azulejos na Estação de S. Bento, Porto.<br />
dispositivo.<br />
Associado a este<br />
princípio, também o<br />
facto de escolher um único ponto de<br />
desembarque, em Almina, demonstra bem a<br />
utilização hábil do preceito ofensivo da<br />
concentração de forças, ao conseguir penetrar<br />
nas defesas onde estas eram mais fracas e<br />
onde o terreno oferecia melhores condições.<br />
Não menos importantes, a rapidez, o ímpeto e a<br />
acção agressiva, contribuíram decisivamente<br />
para a segurança da força atacante, mantiveram<br />
o inimigo em desequilíbrio e degradaram a sua<br />
capacidade de reacção, impossibilitando-lhe o<br />
acompanhando do ritmo das operações. Um<br />
momento chave da vitória portuguesa foi<br />
também a oportuna decisão do Infante D.<br />
Henrique junto às portas de Ceuta que,<br />
interpretando correctamente a fraca resistência<br />
e percepcionando uma vulnerabilidade que<br />
deveria ser explorada agressivamente,<br />
demonstrou uma audácia destinada apenas a<br />
grandes líderes, corroborada posteriormente na<br />
epopeia dos descobrimentos.<br />
Enfim, foi talvez a primeira operação nacional<br />
verdadeiramente conjunta, realizando e<br />
maximizando o planeamento e a utilização<br />
simultânea dos meios terrestres e navais com<br />
elevada eficácia e mestria, permitindo assim<br />
alcançar os objectivos definidos.
Padrão dos Descobrimentos, Lisboa.<br />
Consequências da Batalha<br />
Com a ponta da lança cravada em África, Ceuta<br />
simboliza a chave das novas portas que se<br />
abriram a um mundo novo, iniciando-se o tão<br />
actual e propalado processo de globalização,<br />
liderado pelo génio empreendedor português e<br />
daí resultando a possibilidade de impor valores<br />
ocidentais a outras civilizações.<br />
Efectivamente, Ceuta é um marco fundamental da<br />
identidade portuguesa. O seu domínio trouxe-lhe<br />
enorme prestígio e importância em diversas<br />
vertentes. No quadro da cristandade europeia de<br />
então, reforçou claramente o seu poder inter<br />
pares em relação a outras potências (com<br />
expressão nas muitas bulas de privilégios<br />
dirigidos pelo Papa Martinho V), mormente a rival<br />
Castela, em que a vitória de Ceuta ampliava e<br />
redimensionava Aljubarrota; perante ingleses,<br />
aragoneses e italianos, Portugal passou a ser<br />
considerado um actor fundamental e<br />
incontornável pelo seu enorme peso geopolítico<br />
no controlo do Mediterrâneo, até então couto<br />
quase privado de catalães, genoveses e<br />
venezianos; serviu ainda para legitimar a nova<br />
dinastia de Aviz e o reino de Portugal, afirmandoo<br />
definitivamente no concerto da Nações.<br />
De carácter mais estratégico e securitário, Ceuta<br />
passou a constituir uma base a partir da qual se<br />
poderia atacar e combater o inimigo da fé cristã,<br />
em África ou no reino de Granada (que ainda<br />
resistia à reconquista) e, concomitantemente,<br />
negar aos muçulmanos o seu tradicional eixo de<br />
invasão e de reforço na Península, além de mitigar<br />
Autores<br />
as actividades corsárias muçulmanas na região.<br />
Do ponto de vista económico, Ceuta não foi<br />
aquilo que se esperava e, uma vez conquistada a<br />
cidade, os mercadores árabes jogaram no boicote<br />
e desviaram o tráfego para outras paragens.<br />
Assim, as despesas inerentes à defesa e<br />
conservação da praça tornaram-se demasiado<br />
pesadas e sem contrapartida. Apesar de tudo,<br />
Ceuta foi mantida e a ideia de uma expansão<br />
militar no Norte de África foi uma das constantes<br />
da política portuguesa até finais do século XVI.<br />
Por fim, interessa realçar a importância de Ceuta<br />
no âmbito do conhecimento, constituindo uma<br />
verdadeira escola prática. Desta nova actividade<br />
e do frequente contacto com os intrépidos<br />
marinheiros mouros, com os seus conhecimentos<br />
náuticos, com a sua arte de navegar, com os seus<br />
vários tipos de navios, resultaram os primeiros<br />
progressos reais para a rude marinha do Infante.<br />
Às conhecidas e rotineiras naus, galés, galeotas,<br />
fustas, barcas e bergantins, que os portugueses<br />
usavam no mar, vinham juntar-se novos tipos,<br />
barinéis, alaúdes, zavras, caravelas, albetoças<br />
mais veleiros, mais maneiros, de exíguo porte e<br />
guarnição reduzida, como convinha às arriscadas<br />
empresas a que se destinavam. Por sua vez, se a<br />
defesa de Ceuta permitia aos homens de armas<br />
exercitarem as práticas de combate, a expedição<br />
constituiu uma escola de larga e excepcional<br />
aprendizagem náutica, possibilitando o<br />
conhecimento de base para a empresa das<br />
descobertas e para a epopeia dos capitães e<br />
fronteiros de África, que se prolongaria por mais<br />
de três séculos.<br />
71
72<br />
Curiosidades<br />
Como em qualquer feito histórico significativo na<br />
história de um povo, à época da batalha de Ceuta,<br />
não faltam curiosidades relacionadas com as<br />
pessoas ou com os acontecimentos.<br />
Associados à figura de D. João I, são de realçar<br />
diversos episódios e factos interessantes. Um<br />
deles, ligado à mistificação da sua figura, é o<br />
episódio em que no dia em que arma cavaleiro D.<br />
João I, seu pai, D. Pedro, refere que “cá a mim<br />
disseram que eu tenho um filho João, que há-de<br />
montar muito alto, e por que o reino de Portugal<br />
há-de haver mui grande honra”. Tendo dúvidas<br />
de qual dos seus dois filhos João seria o da<br />
profecia, esclarece-as quando refere que teve um<br />
sonho em que “via todo Portugal arder em fogo,<br />
de guisa que todo o reino parecia uma fogueira, e<br />
estando assim espantado vendo tal coisa, vinha<br />
este meu filho João, com uma vara na mão, e com<br />
ela apagava aquele fogo todo”. D. João I foi o<br />
autor de um Livro da Montaria, obra literária<br />
notável do nosso século XV, composto depois de<br />
1415. Aí, além do conhecimento perfeito da<br />
técnica de montar e caçar a cavalo, o livro permite<br />
inferir do carácter e da cultura que o rei possuía,<br />
manifestados no conhecimento profundo de<br />
diversas obras e autores importantes à época e o<br />
seu gosto por variadas formas de divertimento e<br />
de exercício físico, desde a montaria e a luta<br />
corpo a corpo até à dança, jogos, música e xadrez.<br />
Acrescente-se, ainda, que D. João I – o eleito do<br />
povo e o mais nacional de todos os nossos reis,<br />
como refere Almeida Garrett – foi um forte<br />
impulsionador da língua portuguesa, mandando<br />
usar dela em todos os actos e instrumentos<br />
públicos, que até então se faziam em latim.<br />
Zurara conta muitas peripécias e factos<br />
interessantes que ocorreram no âmbito da<br />
campanha a Ceuta. De entre eles realçamos apenas<br />
Bandeira e Escudo de Ceuta.<br />
Autores:<br />
Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, Professor de História Militar do IESM.<br />
Major Luís Falcão Escorrega, Professor de Estratégia do IESM.<br />
Major António Cordeiro Menezes, Professor de Táctica do IESM.<br />
http://gospain.about.com<br />
alguns como aquele em que durante a batalha o<br />
Infante D. Henrique foi dado como morto; quando<br />
D. João foi informado do facto respondeu que não<br />
se importava muito, “pois que morrera em seu<br />
ofício”! Um outro episódio é aquele em que a<br />
expedição esteve para ser abortada devido à peste,<br />
a um sinistro acinzentar do Sol e à morte da<br />
Rainha, em 19 de Julho. Reunido o conselho, o<br />
resultado foi um empate (o Condestável, D. Nuno<br />
Álvares Pereira estava contra), tendo o rei D. João<br />
I acabado por decidir favoravelmente, com a<br />
armada a partir a 25 de Julho.<br />
Um aspecto significativo prende-se com a<br />
influência portuguesa em Ceuta, que ainda hoje<br />
se faz sentir na sua bandeira. Apesar de ter<br />
passado para administração espanhola em 1668,<br />
com o Tratado de Lisboa, que pôs fim à guerra<br />
da Restauração, a cidade decidiu manter a<br />
bandeira de São Vicente, à semelhança da de<br />
Lisboa, ostentando ao centro o escudo<br />
português, apenas com pequenas diferenças.<br />
A enorme importância do feito em Ceuta<br />
mereceu destaque e menção nos Lusíadas. O<br />
seu autor, como é sabido, ficaria profundamente<br />
marcado por essa praça pois aí, por volta de<br />
1550, se bateu como soldado e, em combate,<br />
perdeu o olho direito.<br />
Bibliografia de Referência<br />
– COELHO, Maria Helena da Cruz, D. João I, o que recolheu Boa Memória, Lisboa, Círculo de Leitores, 2005.<br />
– DUARTE, Luis Miguel, África, in Nova História Militar de Portugal (dir. Manuel Themudo Barata e Nuno<br />
Severiano Teixeira), Lisboa, Círculo de Leitores, Vol. III, 2004.<br />
– MARQUES, A.H Oliveira, JOÃO I, D. (1357-1433), in Dicionário de História de Portugal (dirigido por Joel<br />
Serrão), Lisboa, Iniciativas Editoriais, Vol. III, 1963-1971.<br />
– SANTOS, José Loureiro, Ceuta, 1415: a Conquista, Lisboa, Prefácio, 2002.<br />
– SELVAGEM, Carlos, Portugal Militar, Lisboa, INCM, 2006.<br />
– ZURARA, Gomes Eanes, Crónica da Tomada de Ceuta, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1992