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JE589NOV09 - Exército

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PROPRIEDADE<br />

DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO<br />

Direcção, Redacção e Administração<br />

Largo de S. Sebastião da Pedreira<br />

1069-020 Lisboa<br />

Telef: 213 567 700<br />

Fax Civil: 213 567 791 Militar: 414 091<br />

E-mail: jornal.do.exercito@mail.exercito.pt<br />

E-mail: jornal.exercito@sapo.pt<br />

E-mail − Intranet: Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Home page: www.exercito.pt<br />

DIRECÇÃO<br />

Director<br />

Coronel de Infantaria<br />

José Custódio Madaleno Geraldo<br />

Secretária<br />

Ass Técnica Teresa Felicíssimo<br />

Soldado Condutor RC Pedro Ferreira<br />

REDACÇÃO<br />

Chefe<br />

Tenente-Coronel J. Pinto Bessa<br />

Redactores<br />

Tenente RC Paulo Moreira<br />

Tenente RC Rico dos Santos<br />

Alferes RC Nelson Cavaco<br />

1º Sargento Anjos das Neves<br />

Mauro Matias<br />

Operadoras Informáticas<br />

Ass Técnica Elisa Pio<br />

Ass Técnica Guiomar Brito<br />

CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO<br />

Chefe<br />

Major Augusto Correia<br />

Operadores Informáticos<br />

Ass Técnica Tânia Espírito Santo<br />

2.º Cabo Gonçalo Silva<br />

Biblioteca<br />

Ass Técnica Joana Moita<br />

SERVIÇOS ADMINISTRATIVOS<br />

Operador Informático<br />

Sargento-Ajudante João Belém<br />

Distribuição e Publicidade<br />

Sargento-Ajudante Luís Silva<br />

Ass Operacional Filomena Remédios<br />

SECRETARIA<br />

Sargento-Chefe Costa e Silva<br />

COLABORAÇÃO FOTOGRÁFICA<br />

Lusa - Agência de Notícias<br />

de Portugal, SA<br />

Centro de Audiovisuais do <strong>Exército</strong><br />

RCRPP/GabCEME<br />

EXECUÇÃO GRÁFICA<br />

Europress, Lda<br />

Rua João Saraiva, 10-A − 1700-249<br />

Lisboa<br />

Telef 218 444 340 − Fax 218 492 061<br />

Europress@mail.telepac.pt<br />

Tiragem − 6 000 exemplares<br />

Sumário<br />

Ano L - N.º 589 - Novembro de 2009<br />

Secções<br />

Hospital Militar Principal<br />

Um legado de 175 anos<br />

Alocução do Director 18<br />

Comemorações<br />

do Dia do <strong>Exército</strong> 24<br />

Exercício ORION 09 40<br />

Suplemento<br />

VII – D. João I<br />

e a Tomada de Ceuta<br />

Monumentos com História Militar – O Castelo de Braga – 4<br />

Editorial – 5<br />

Figuras e Factos – 8 a 17<br />

Uniformes Militares – 37 a 39<br />

Livros – 44 e 45<br />

Passatempos de outros tempos – 46<br />

Capa: Dia do <strong>Exército</strong> em Braga - Foto do Tenente Rico dos Santos<br />

Revisão de texto a cargo do Professor Doutor Eurico Gomes Dias<br />

Os artigos publicados com indicação de autor são da inteira responsabilidade dos mesmos, não reflectindo, necessariamente, o pensamento da Chefia do <strong>Exército</strong> Português<br />

Depósito Legal n.º 1465/82<br />

ISSN 0871/8598 ÓRGÃO DE INFORMAÇÃO, CULTURA E RECREIO DO EXÉRCITO PORTUGUÊS, CRIADO POR PORTARIA DE 14JUL60


4<br />

MONUMENTOS COM HISTÓRIA MILITAR<br />

O Castelo de Braga<br />

A<br />

actual Torre de Menagem, construída no século<br />

XIII, durante o reinado de D. Dinis (1279-1325), é o<br />

elemento arquitectónico que permaneceu até aos dias de<br />

hoje do antigo Castelo de Braga. Fruto de várias<br />

Foto do Regimento de Cavalaria n.º 5<br />

intervenções ao longo da História, foi graças a este século<br />

de intensa actividade construtiva militar que se edificou o<br />

único elemento vivo que comprova a existência do Castelo.<br />

A sua existência remonta ao século III, data em que se<br />

identificou uma estrutura defensiva a cercar a cidade durante<br />

o período da ocupação romana. A sua planta seria<br />

poligonal, com uma área de muralhas entre 40 e 50 hectares,<br />

reforçada por torreões de planta semi-circular.<br />

Durante o período que decorre até ao século XI, as<br />

informações existentes sobre a cidade não permitem<br />

conclusões sobre a sua evolução, sendo apontado que a<br />

estrutura apenas tenha sido mantida durante a ocupação<br />

dos Suevos, que escolheram Braga como capital do seu reino.<br />

No século XI sabe-se que uma segunda cerca estava em<br />

construção. Aproveitando a antiga construção romana,<br />

situada a Norte, esta nova fase estendia a cerca para Sul e<br />

Oeste, complementado a cerca existente.<br />

As alterações mais significativas aconteceram no século<br />

XIII, período em que se abandonou a antiga cerca romana a<br />

Norte e se deu um crescimento da urbe em torno da sua Sé-<br />

Catedral. D. Dinis foi o responsável pela construção de uma<br />

nova cerca, assim como a Torre de Menagem. Os relatos<br />

existentes demonstram que esta nova cerca não se revelou<br />

eficaz, permitindo a invasão da cidade por tropas de Castela<br />

na vigência do reinado de D. Fernando (1367-1383). Tendo<br />

em conta a defesa da cidade, nos dois séculos seguintes a<br />

muralha foi alvo de melhoramentos, sendo reforçada com<br />

várias torres de forma quadrangular. Do século XVI em diante<br />

a cidade foi perdendo a sua função defensiva, surgindo<br />

vários edifícios adossados à cerca pelo exterior.<br />

Actualmente, e após a demolição do castelo em 1906, a<br />

Torre de Menagem mantém vivo o testemunho do mesmo.<br />

Apresenta uma forma quadrada (12x12 metros), de estilo<br />

gótico e construída totalmente em granito, com cerca de 30<br />

metros de altura e 3 pisos interiores. Nela pode ver-se<br />

também as pedras de armas de D. Dinis, assim como uma<br />

janela geminada no topo e matacães nos vértices.<br />

Em 23 de Junho de 1910, a Torre de Menagem e alguns<br />

troços da muralha medieval foram classificados como<br />

Monumento Nacional.JE<br />

Alferes RC Nelson Cavaco


O<br />

Dia do <strong>Exército</strong> foi este ano comemorado em Braga. Esta bela e vetusta cidade é<br />

uma das mais antigas de Portugal e uma das cidades cristãs mais antigas do<br />

mundo, pois a sua fundação remonta ao tempo dos romanos como Bracara Augusta. Mais<br />

de dois milénios nos separam da sua criação. Tomando, provavelmente, a actual designação<br />

no século XI. É iniciada a construção da muralha da cidade e da Sé, por ordem do bispo D.<br />

Pedro de Braga, sobre restos de um antigo templo dedicado à deusa Isis [deusa da maternidade<br />

e da fertilidade]. A cidade desenvolveu-se então em torno da Sé, restringindo-se ao perímetro<br />

amuralhado. D. Afonso VI de Castela oferece Braga, como dote, à sua filha D. Teresa, por<br />

ocasião do seu casamento com D. Henrique de Borgonha, Conde portucalense.<br />

S. Geraldo foi Arcebispo de Braga entre 1096 e 1108. Em 1100 viajou até Roma para obter<br />

do Papa Pascoal II a dignidade metropolítica para a Sé de Braga a título definitivo. A autonomia<br />

eclesiástica de Braga face a Santiago de Compostela constituiria um bom augúrio para a<br />

independência do Condado Portucalense. No ano em que se celebram os nove séculos<br />

sobre o nascimento de D. Afonso I, o Rei Fundador de Portugal e Patrono do <strong>Exército</strong>, a<br />

oportunidade e a escolha desta cidade para as cerimónias comemorativas do Dia do <strong>Exército</strong><br />

são, na nossa modesta opinião, deveras óbvias e revestem-se de profundo significado<br />

histórico e patriótico.<br />

Quem esteve em Braga, ou quem teve oportunidade de acompanhar o evento pelos<br />

órgãos da comunicação social, tirá conclusões semelhantes. O povo português de Braga<br />

saiu à rua para apoiar, com admiração e respeito, o seu <strong>Exército</strong>, os seus soldados, os seus<br />

filhos, os seus irmãos, os seus familiares e amigos, numa palavra os seus patrícios, que<br />

juraram defender a Pátria de todos, mesmo com o sacrifício da própria vida! Ouviram-se<br />

várias vezes os aplausos da multidão que enchia a Avenida da parada militar, destacando-se<br />

dois momentos, após o Hino Nacional e durante o Desfile das Tropas. E aqui lembrámo-nos<br />

do célebre desfile das tropas aliadas, em que também desfilaram tropas portuguesas [400<br />

homens de Infantaria] sob o Arco do Triunfo, gloriosamente narrado, em poesia, por Lucien<br />

Boyer com adaptação do Capitão J. M. Galhardo, intitulado “O Regresso”. Este desfile deuse<br />

a 14 de Julho de 1919, após a assinatura do Armistício que pôs fim à I Guerra Mundial [às<br />

11 horas do 11.º mês de 1918]. Dedicamos o seguinte texto a todos os militares do <strong>Exército</strong><br />

Português e dos restantes Ramos das Forças Armadas de sempre, ao serviço de Portugal e<br />

da paz no Mundo:<br />

“Agora Senhor meu – disse Flambeau [...]<br />

Vão ali famosos regimentos,<br />

A glória militar, indómitos soldados!...”<br />

Cavaleiros, então avançam com ardor,<br />

E ele anunciou – “Desfilam os dragões!...”<br />

Estremecem no céu os áureos portões,<br />

Que a voz do povo era um estrídulo clamor,<br />

“-Mas isto nada é...”, Disse Flambeau atento.<br />

“Olhai a Artilharia!...” Em enorme alarido,<br />

Reboam saudações qual ciclone enfurecido,<br />

Ascendendo em rajada até ao firmamento. [...]<br />

“Agora Senhor meu - disse Flambeau ovante:<br />

Vereis quando passar a nobre Infantaria...<br />

Tenho medo que o Sol estoire e finde o dia.<br />

E a noite eterna envolva a Terra num instante.<br />

Serão aclamações estrondosas torrenciais [...]”<br />

Era uma corte altiva, os tantos que ali iam,<br />

Um grande, imenso mar de heróis que ali passava.<br />

As quentes saudações que a multidão soltou<br />

Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais<br />

O espanto avassalou as regiões siderais.<br />

E Flambeau, indignado, agreste se expressou:<br />

“Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?! [...]”<br />

Os Infantes, semi-deuses, heróis em gesta,<br />

Que a luz do Sol poente envolve e magnifica,<br />

Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado...<br />

Fremente, perturbada, a imensa multidão,<br />

Por um alto mandato ou estranha inspiração,<br />

Havia ajoelhado.”<br />

Também nós sentimos arrepios quando desfilam as Tropas Portuguesas!<br />

5


8<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Professor Doutor Augusto Santos Silva – Ministro da Defesa Nacional<br />

Nascido no Porto em 1956, casado, pai<br />

de 3 filhos. Augusto Santos Silva é<br />

doutorado em Sociologia, especialidade de<br />

Sociologia da Cultura e da Comunicação, pelo<br />

Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da<br />

Empresa (1992). Em 1999 é agregado em Ciências<br />

Sociais pela Faculdade de Economia da<br />

Universidade do Porto.<br />

Docente da Faculdade de Economia do Porto<br />

desde 1981, actualmente com a categoria de Professor<br />

Catedrático. Foi Presidente do conselho<br />

científico da Faculdade de Economia do Porto em<br />

1998-1999 e, simultaneamente, Pró-reitor da<br />

Universidade do Porto. Entre 1996 e 1999 foi membro do<br />

Conselho Nacional de Educação e representante português no<br />

Projecto de Educação para a Cidadania Democrática do<br />

Conselho da Europa (1997-1999).<br />

É membro do Partido Socialista desde 1990, membro da sua<br />

Comissão Nacional (desde 1998), da Comissão Política Nacional<br />

XXXV Congresso Internacional de História Militar<br />

O<br />

XXXV Congresso Internacional de História Militar,<br />

iniciativa anual da Comissão Internacional de História<br />

Militar (CIHM), realizou-se no Centro de Congressos da<br />

Alfândega do Porto, entre 31 de Agosto e 4 de Setembro. Para<br />

o presente ano, a CIHM cometeu a organização do Congresso<br />

à Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), a qual<br />

contou com o apoio da Universidade do Porto e da Câmara<br />

Municipal do Porto.<br />

A cerimónia de abertura do Congresso, em 31 de Agosto,<br />

decorreu na Sala Infante do Centro de Congressos da Alfândega<br />

e foi presidida pelo Ministro da Defesa Nacional, contanto,<br />

igualmente, com a presença do Presidente da Câmara Municipal<br />

do Porto, do Reitor da Universidade do Porto, além, dos presidentes<br />

das CIHM e CPHM e de diversas autoridades civis e<br />

militares.<br />

Associando-se às comemorações do segundo centenário<br />

da 2.ª Invasão Francesa, o Congresso enquadrou-se no tema A<br />

guerra no tempo de Napoleão. Antecedentes, campanhas<br />

militares e impactos de longa duração, o qual haveria de se<br />

revelar como muito atraente, acabando, o Secretariado Científico<br />

do Congresso, por seleccionar 86 comunicações em<br />

representação de 30 países. No total, contando também com os<br />

congressistas que não apresentaram qualquer comunicação,<br />

estiveram presentes delegações de 40 países.<br />

A conferência inaugural, inserida na cerimónia de abertura,<br />

foi proferida pelo Professor Doutor Luís António de Oliveira<br />

Ramos, professor jubilado da Universidade do Porto e seu ex-<br />

Reitor, a qual versou o tema A Europa contemporânea e as<br />

campanhas napoleónicas.<br />

No último dia do congresso, em 4 de Setembro, realizou-se<br />

uma conferência de encerramento, proferida pelo Professor<br />

Charles Esdaile, da Universidade de Liverpool, subordinada ao<br />

(2002-2005, desde 2006) e do Secretariado<br />

Nacional (desde 1998). Entre 2002 e 2005 foi<br />

Coordenador do Grupo Parlamentar do PS para<br />

as áreas de Cultura, Ciência e Ensino Superior e<br />

Director da Acção Socialista (2002-2005).<br />

No seu curriculum conta ainda com diversos<br />

livros publicados e foi colunista no Jornal<br />

Público (1992-1999, 2002-2005), Cronista da TSF-<br />

Rádio Jornal (1997-1998) e colaborador da<br />

Página Cultural do Jornal de Notícias (1978-<br />

1986).<br />

Ministro da Defesa Nacional do XVIII<br />

Governo Constitucional desde 26 de Novembro<br />

de 2009. Anteriormente, foi membro do XIV Governo<br />

Constitucional, inicialmente como Secretário de Estado da<br />

Administração Educativa (1999-2000), depois como Ministro<br />

da Educação (2000-2001) e, por último, como Ministro da Cultura<br />

(2001-2002). Entre 2005 e 2009 desempenhou o cargo de Ministro<br />

dos Assuntos Parlamentares do XVII Governo Constitucional.<br />

http://www.mdn.gov.pt/mdn/pt/mdn/mdn/<br />

tema: As Guerras Napoleónicas num contexto global.<br />

Paralelamente ao programa académico, desenvolveu-se um<br />

programa de carácter turístico destinado aos acompanhantes,<br />

programa esse que, além de dar a conhecer a cidade do Porto,<br />

levou este grupo à Área Militar de S. Jacinto à cidade de Aveiro<br />

e a um cruzeiro no rio Douro. Na quarta-feira, dia 2 de Setembro,<br />

como é tradicional, a totalidade dos congressistas foram em<br />

viagem pelo Minho, visitando Guimarães e Ponte de Lima. O<br />

programa foi completado com recepções nocturnas oferecidas<br />

pela CPHM (Serra do Pilar), pela Câmara Municipal do Porto e<br />

pelo <strong>Exército</strong> Português (no quartel de Santo Ovídio), com um<br />

jantar numa das caves de Vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia,<br />

encerrando-se a parte social do congresso com um jantar de<br />

despedida, na Sala Arquivo da Alfândega do Porto.<br />

Em regime opcional, o programa do Congresso prosseguiu<br />

no sábado, dia 5 de Setembro, com dois “tours” pós-congresso,<br />

um no rio Douro e outro com termo em Lisboa, visitando,<br />

entre outras localidades, Buçaco, Coimbra, Fátima, Mosteiro<br />

da Batalha e Campo de S. Jorge, Alcobaça, Mafra e Évora.


FIGURAS e FACTOS<br />

Seminário de Política Europeia de Segurança e Defesa<br />

Enquadrado na iniciativa europeia “Erasmus Militar”,<br />

decorreu em Lisboa, entre 7 e 11 de Setembro, o<br />

primeiro Seminário de Política Europeia de Segurança e<br />

Defesa (PESD) destinado a alunos e docentes das Academias<br />

Militares dos Estados-membros da União Europeia (UE). O<br />

seminário, coordenado pela Academia Militar, foi realizado<br />

em regime de cooperação académica com a Escola Naval e a<br />

Academia da Força Aérea, tendo tido ainda o apoio do<br />

Colégio Europeu de Segurança e Defesa.<br />

A iniciativa teve a sua origem no segundo semestre de<br />

2008 sob a presidência francesa da União, que à data lançou<br />

o desafio de realização de um “Erasmus Militar”. Neste<br />

âmbito, no primeiro semestre de 2009, Portugal − através do<br />

Ministério da Defesa Nacional − propôs-se organizar o cursopiloto<br />

para o qual convidou dois alunos por estado-membro,<br />

iniciativa que veio a merecer o acolhimento de grande parte<br />

dos países da UE, bem como o apoio do Alto-Representante<br />

para a Politica Externa e de Segurança Comum, Javier Solana.<br />

A cerimónia de abertura foi presidida pelo Ministro da<br />

Defesa Nacional, tendo contado com a presença de<br />

embaixadores e adidos de defesa dos estados-membros da<br />

União Europeia acreditados em Portugal, altas<br />

individualidades militares e ainda representantes das<br />

comunidades académicas de ensino superior nacional.<br />

A presente iniciativa designada “Erasmus Militar” pode<br />

vir a constituir o embrião de um importante programa<br />

formativo no âmbito do reforço e desenvolvimento da<br />

21.º Aniversário do Regimento de Artilharia Antiaérea N.º1<br />

Decorreu no dia 1 de Outubro, a cerimónia<br />

comemorativa do 21.º aniversário do Regimento de<br />

Artilharia Antiaérea N.º1 (RAAA1), em Queluz.<br />

A cerimónia foi presidida pelo Tenente-General Artur Neves<br />

Pina Monteiro, Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, contando<br />

com a presença do Major-General Martins Ferreira, Comandante<br />

da Brigada de Intervenção, entre outros ilustres convidados<br />

militares e civis, tais como o General Loureiro dos Santos e o<br />

Dr. Fernando Seara, Presidente da Câmara de Sintra.<br />

O dia do RAAA1 decorreu com a habitual cerimónia militar,<br />

destacando-se: a continência das forças em parada; a integração<br />

do Estandarte Nacional; a homenagem aos militares mortos em<br />

defesa da Pátria; imposição de condecorações; desfile das forças<br />

em parada e os habituais discursos alusivos à cerimónia.<br />

O Coronel Morgado Baptista, Comandante do RAAA1, na<br />

sua alocução efectuou um balanço do ano transacto, realçando<br />

os exercícios efectuados e a formação desenvolvida. Referiu a<br />

importância de substituir os sistemas de artilharia antiaérea,<br />

bem como a necessidade de adquirir um sistema de Comando e<br />

Controlo Integrado.<br />

O Tenente-General Pina Monteiro, na sua alocução enalteceu<br />

a importância do RAAA1, descrevendo algumas das suas<br />

importantes tarefas. Realçou a necessidade para reequipar o<br />

identidade europeia dos Oficiais das Forças Armadas dos<br />

estados-membros da UE. É de relevar o facto de Portugal<br />

ter sido o país organizador do primeiro curso-piloto, neste<br />

caso, sob a temática da Política Europeia de Segurança e<br />

Defesa, o que muito orgulha todos aqueles que têm<br />

encontrado no Ensino Superior Militar um dos importantes<br />

suportes estruturais do prestígio internacional que o<br />

<strong>Exército</strong> Português tem evidenciado ao longo de sucessivas<br />

gerações.<br />

RAAA1 de modo a actualizar o seu equipamento.<br />

Após a actuação da Banda do <strong>Exército</strong>, seguiu-se a<br />

inauguração e visita à exposição sobre “A Artilharia Antiaérea<br />

e as suas capacidades”, no parque Felício Loureiro. Antes do<br />

almoço de convívio ainda houve tempo para visitar a exposição<br />

de viaturas militares, na Parada General Themudo Barata.<br />

9


10<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Dia do Regimento de Cavalaria N.º 3<br />

“<br />

Ao longo dos últimos seis séculos, Estremoz e a região<br />

envolvente foram palco de importantíssimos<br />

acontecimentos militares decisivos para o curso histórico de<br />

Portugal. As Batalhas de Atoleiros no séc. XIV, Linhas de Elvas,<br />

Ameixial e Montes Claros no séc. XVII são exemplo do quão<br />

importante foi a acção militar na região.<br />

Na Praça Marquês do Pombal, no coração de Estremoz,<br />

onde Nuno Álvares Pereira reuniu as suas tropas antes de<br />

marchar para Atoleiros, em 1384, foi realizada a Parada militar<br />

comemorativa dos 302 anos do Regimento de Cavalaria N.º3<br />

(RC3), junto do povo estremocense.”<br />

(Extracto do discurso do Comandante do RC N.º 3)<br />

A data de 15 de Setembro evoca o combate de Fuente de<br />

Cantos, travado a 15 de Setembro de 1810, no período final das<br />

Invasões Francesas, onde os militares portugueses pertencentes<br />

ao RC N.º3 se distinguiram de forma notável, merecendo um<br />

especial elogio do Marechal Beresford, publicado na Ordem do<br />

Dia de 3 de Novembro de 1811, segundo a qual, “Raríssimas<br />

vezes acontece haver na guerra uma conduta mais brilhante”,<br />

frase que passou a constituir o lema do Regimento.<br />

De acordo com as palavras do Comandante, Coronel Pedro<br />

Miguel da Fonseca Lopes, ao longo do último ano, o saber e a<br />

dedicação dos militares e civis do Regimento incidiu nas duas<br />

tarefas essenciais da sua Missão: “aprontar um Esquadrão de<br />

Reconhecimento e formar militares na área da condução”.<br />

Paralelamente, tanto no campo das tradições e evocação<br />

histórica, de onde sobressaiu a presença de forças do Regimento<br />

nas comemorações das Batalhas das Linhas de Elvas, Atoleiros,<br />

Albuera e Montes Claros, e da Liga dos Combatentes, como<br />

nas vertentes cultural e desportiva, ou na constante interacção<br />

com a sociedade civil local, em todas estas actividades, a<br />

participação dos militares do RC N.º3 trouxe resultados<br />

dignificantes para a imagem da Arma de Cavalaria, do <strong>Exército</strong> e<br />

da Instituição Militar.<br />

O Esquadrão de Reconhecimento da Brigada de Reacção<br />

Rápida, componente operacional da Unidade, constituiu a<br />

primeira prioridade, face à necessidade de o manter pronto para<br />

actuar em qualquer Teatro de Operações adequado às suas<br />

características ou da necessidade do seu emprego efectivo nos<br />

exercícios ou cerimónias militares, como foi, por exemplo, o Dia<br />

de Portugal, em Santarém.<br />

Foi sublinhado o enorme esforço deste Esquadrão, como<br />

consequência da recente entrega das viaturas M 11 para o<br />

contingente nacional que, em Janeiro de 2010, partirá para o<br />

Afeganistão, somadas às 18 VBL M11 desta Unidade que, desde<br />

Março de 2005, se encontram no Kosovo.<br />

No âmbito da formação, o RC N.º 3 deu ao <strong>Exército</strong>, desde<br />

Setembro do ano passado, 850 novos condutores repartidos<br />

pelas categorias “A” (motos), “B” (ligeiros e viaturas de todoo-terreno)<br />

e “C” (pesados), habilitados com certificado de<br />

condução, o que espelha a dimensão da tarefa e a inerente<br />

responsabilidade. No total, as viaturas de instrução percorreram<br />

cerca de 80 mil km sem registo de acidentes.<br />

Ainda no capítulo da formação e no âmbito da interacção<br />

com a sociedade civil, merece realce o estabelecimento de<br />

protocolos com a Associação para o Desenvolvimento do<br />

Alentejo, Inovação e Valorização (INOVAL) para um curso de<br />

carpintaria de 15 meses, a decorrer no Regimento, e com a Escola<br />

Secundária Rainha Santa Isabel de Estremoz, através da recente<br />

cedência de infra-estruturas do Regimento para a frequência de<br />

aulas a três turmas dos 10.º ao 12.º anos, e Cursos de Formação<br />

Profissional de nível III durante o presente ano lectivo. De<br />

salientar igualmente a ligação com o Centro de Novas<br />

Oportunidades de Estremoz, que permitiu aos militares e civis<br />

do Regimento o registo de 60 inscrições para obtenção de diplomas<br />

do 9.º e 12.º anos de escolaridade.<br />

Destaque também para a componente de apoio social,<br />

através do incremento da hipoterapia, com aulas ministradas a<br />

crianças deficientes de Escolas de Estremoz e de Sousel, e uma<br />

representação na Semana Equestre Militar, em Mafra.<br />

Na área funcional da logística foi relevada a resposta do<br />

escalão superior às persistentes solicitações do Regimento,<br />

contribuindo ao longo do ano para a modernização de<br />

equipamentos informáticos, prioritariamente atribuídos à<br />

formação, para o aumento de viaturas tácticas destinadas à<br />

condução TT e para a preservação das infra-estruturas básicas<br />

do Regimento, com reflexos directos no moral dos militares.<br />

Já no campo desportivo, de referir o grande dinamismo e a<br />

diversidade de modalidades praticadas, objecto da organização<br />

de torneios, provas ou campeonatos, alguns abertos à<br />

participação de civis, como passeios de todo terreno, BTT ou<br />

orientação, e a digna participação das equipas do Regimento<br />

nos Campeonatos Desportivos Militares do CID, ocupando o<br />

1.º lugar isolado, depois de realizadas as provas de orientação,<br />

tiro, triatlo e pentatlo militar.<br />

Em relação ao futuro próximo, o Regimento de Cavalaria<br />

N.º3 continuará a dirigir o seu esforço para manter o Esquadrão<br />

de Reconhecimanto bem treinado e equipado, com capacidade<br />

para intervir, quando solicitado, no quadro dos nossos<br />

compromissos internacionais, capaz de motivar os seus<br />

soldados e de incentivar o recrutamento de novos militares<br />

para as suas fileiras. Neste sentido, aguarda-se com intensa<br />

expectativa a inclusão dos militares desta subunidade na FND<br />

que em Março próximo iniciará o seu aprontamento para integrar<br />

a Kosovo Force (KFOR) no TO do KOSOVO.<br />

Coronel Fonseca Lopes


Lançamento do Livro “Alcácer Quibir<br />

−1578. Visão ou Delírio de um Rei?”<br />

Decorreu a 6 de Outubro nas Caves Manuelinas do<br />

Museu Militar, em Lisboa, a apresentação pública<br />

da obra “Alcácer Quibir - 1578. Visão ou Delírio de um Rei?”,<br />

da autoria do Dr.º Luís Costa e Sousa. A apresentação do<br />

livro coube ao Professor Doutor Dias Farinha, contando<br />

com a presença do Doutor Pedro de Avillez, editor da Tribuna.<br />

Entre os distintos presentes, militares e civis, relevo para<br />

a presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />

José Luís Pinto Ramalho.<br />

O livro problematiza os pormenores inerentes à Batalha<br />

de Alcácer Quibir, contextuando o panorama do norte de<br />

África na ofensiva de D. Sebastião.<br />

Apresentação do ponto de situação<br />

da Directiva de Comando<br />

Decorreu dia 7 de Outubro na Escola de Sargentos<br />

do <strong>Exército</strong> (ESE) a apresentação do ponto de<br />

situação da Directiva de Comando do General José Luís Pinto<br />

Ramalho, Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), aos<br />

adjuntos do Comando das Unidades, Estabelecimentos e<br />

Órgãos (U/E/O) do <strong>Exército</strong>.<br />

A referida apresentação decorreu no auditório da ESE<br />

durante cerca de uma hora e foi feita pelo próprio CEME.<br />

Estiveram presentes para a apresentação cerca de 100<br />

Sargentos-Mor/Sargentos-Chefe das diversas U/E/O do<br />

<strong>Exército</strong>.<br />

Dia da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong><br />

R ealizou-se dia 7 de Outubro, no Salão Nobre do<br />

Palácio Vilalva, em Lisboa, a Cerimónia Comemorativa<br />

do Dia Festivo da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong> (IGE).<br />

A Cerimónia foi presidida pelo Tenente-General Vaz<br />

Antunes, Inspector-Geral do <strong>Exército</strong>.<br />

A Cerimónia contou com a leitura da resenha histórica<br />

da IGE, a alocução do Inspector-Geral e a Imposição de<br />

Condecorações. A Cerimónia encontrou o seu terminus com<br />

o habitual porto de honra.<br />

A escolha do Dia Festivo da Inspecção-Geral do <strong>Exército</strong>,<br />

decorre da publicação em 7 de Outubro de 1959, do Dec.-Lei<br />

n.º 42564 que estabelece a organização geral do Ministério<br />

do <strong>Exército</strong> e que integra, pela primeira vez, a Inspecção-<br />

Geral do <strong>Exército</strong>.<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

11


12<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

Homenagem ao Alferes Henrique Ferreira de Almeida<br />

O Alferes Henrique Ferreira de Almeida é o segundo à direita<br />

“…foi chamado a exercer o comando da Companhia,<br />

funções que desempenhou com notável acerto, espírito de<br />

sacrifício, lealdade e fé inquebrável no cumprimento da<br />

missão.”<br />

(in Resenha Histórico-Militar das Campanhas de<br />

África (1961-1974);5º Volume, Tomo IV, pág.57; Comissão<br />

para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974),<br />

Direcção de História e Cultura Militar, Lisboa 1994)<br />

O<br />

<strong>Exército</strong> Português, juntamente com os camaradas<br />

de curso do Alferes Henrique Ferreira de Almeida,<br />

prestaram homenagem em sua memória numa cerimónia<br />

celebrada na Abrunhosa, concelho de Sátão, em 3 de<br />

Outubro.<br />

“Jovem, mas de marcada personalidade…”, “elevado<br />

espírito de missão”, “tenacidade”, “coragem”, entre<br />

outros, são alguns dos adjectivos que se podem encontrar<br />

em documentos militares para definir um militar que, a<br />

título póstumo, foi condecorado com a Cruz de Guerra de<br />

2.ª Classe.<br />

Iniciou a sua comissão na Guiné em 26 de Janeiro de<br />

1968, desempenhando as funções de adjunto de Comandante<br />

de Companhia e, cerca de 3 meses depois, passou a comandar<br />

a Companhia − por ferimento do respectivo comandante −<br />

aquando do apoio da sua unidade à construção do<br />

aquartelamento Gandembel. Finda a missão, deslocou-se para<br />

Cabedú, onde a 13 de Julho de 1968 ocorreu o fatídico ataque<br />

ao aquartelamento que resultou no seu falecimento ao serviço<br />

da Pátria. O ataque do inimigo iniciou-se cerca das 24h,<br />

descrito como vigoroso e com um grande potencial de fogo,<br />

durando aproximadamente 15 minutos. Durante o mesmo,<br />

sabe-se que o homenageado se mostrou incansável no<br />

incentivo ao seu pessoal, pelo que o seu louvor demonstra<br />

claramente o seu espírito de comando: “… dirigiu-se debaixo<br />

de fogo a todos os locais mais ameaçados, incitando e<br />

orientando o seu pessoal e, com palavras esclarecedoras,<br />

conseguiu incutir em todos um espírito agressivo e uma<br />

vontade férrea de pôr termo ao ataque, acção esta que fez<br />

com que o fogo inimigo diminuísse francamente de<br />

intensidade.” O ataque acabou por se revelar fatal, falecendo<br />

aos primeiros minutos do dia 14 de Julho dentro do abrigo<br />

do posto de comunicações.<br />

No decorrer da cerimónia foi lido um discurso do<br />

Coronel José Pereira da Costa, no qual incorreu pela<br />

biografia e pelas memórias que mantém presentes da sua<br />

vivência com o Alferes Ferreira de Almeida, relembrando<br />

que “Traz-nos aqui a vontade de conservarmos a memória<br />

de um jovem que morreu com um sofrimento que nem a<br />

ciência consegue descrever. Os técnicos podem especular,<br />

mas não são capazes de nos dizer inequivocamente o que<br />

se sente naquelas alturas”.<br />

A cerimónia registou a presença de várias entidades<br />

militares, assim como o Presidente da Câmara Municipal<br />

de Sátão, Dr. Alexandre Vaz, sendo presidida pelo Chefe<br />

do Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), General José Luís<br />

Pinto Ramalho, que recebeu as honras militares das tropas<br />

destacadas para o local. Terminada a leitura do discurso,<br />

o CEME descerrou a placa de homenagem colocada na<br />

fachada da habitação onde a 10 de Janeiro de 1947 havia<br />

nascido o Alferes Ferreira de Almeida. Seguidamente, foi<br />

descerrada uma segunda placa, numa homenagem que a<br />

Câmara Municipal de Sátão efectuou ao atribuir o nome<br />

do Alferes Ferreira de Almeida a uma das ruas da<br />

localidade.<br />

A colocação de uma coroa de flores no cemitério de São<br />

Miguel de Vila Boa, onde está a campa do homenageado,<br />

uma acção que contou com a presença do Capelão Chefe do<br />

<strong>Exército</strong>, Cláudio Correia Ferreira, concluiu a cerimónia<br />

dedicada a “um oficial de quem muito havia a esperar e que<br />

pela sua acção muito prestigiou a sua Unidade e o <strong>Exército</strong>”,<br />

conforme se pode ler no seu louvor.


FIGURAS e FACTOS<br />

Inauguração do Centro de Simulação Médica do <strong>Exército</strong><br />

Inserido no 175.º aniversário do Hospital Militar (HMP),<br />

foi inaugurado pelo Chefe do Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, o Centro de<br />

Simulação Médica do <strong>Exército</strong>.<br />

A valência recentemente adquirida pelo <strong>Exército</strong> foi<br />

apresentada com a “colaboração” de um boneco que foi<br />

apelidado de Simão. Este simulador imita as funções vitais<br />

dos seres humanos, respirando, pulsando, sangrando,<br />

possibilitando o seu entubamento e, como qualquer outro<br />

paciente, pode também ser sujeito a intervenções críticas e à<br />

administração de medicamentos. O erro aqui não se paga<br />

caro, pelo contrário, serve de lição para futuras simulações,<br />

dado que tudo o que se faz é registado pelo sistema que<br />

permite, a posteriori, analisar os resultados.<br />

O sistema é uma poderosa ferramenta para a preparação<br />

de equipas médicas para ambientes de campanha, simulando<br />

acontecimentos clínicos sob a forma de cenários<br />

interactivos que podem variar desde procedimentos<br />

evasivos, até casos mais complexos que implicam a tomada<br />

de decisão e liderança.<br />

Este sistema é dos mais sofisticados que existem sendo<br />

idêntico ao que as Forças Armadas Americanas utilizam para<br />

preparar as suas equipas médicas, constituindo um suporte<br />

essencial para o treino dos profissionais de saúde militar. A<br />

medicina operacional do <strong>Exército</strong> − militares do serviço de<br />

saúde prontos para actuar em qualquer teatro de operações<br />

e a qualquer momento −, obtém uma mais-valia que forma e<br />

treina, individualmente ou em equipa, militares para futuro<br />

emprego em contexto operacional e/ou situações críticas e Hospital de Campanha. Este recurso responsável pelo apoio<br />

complexas.<br />

médico à distância vai permitir que os profissionais de saúde<br />

Com o objectivo de melhorar os Hospitais de Campanha, nos teatros de operações tenham acesso à estrutura<br />

este inovador Centro de Simulação Médica, associa-se hospitalar da retaguarda para aconselhamento e<br />

também à Telemedicina, uma valência não disponível no acompanhamento de situações.<br />

Academia Militar promove Seminário sobre Defesa<br />

A<br />

Academia Militar promoveu o seminário “Collaboration:<br />

Building Network-Enabled Communities”, que<br />

decorreu do dia 12 a 14 de Outubro, integrado nas<br />

iniciativas associadas aos estudos pós-graduados em<br />

Guerra de Informação/Competitive Intelligence.<br />

Proferido pelos Phd Margaret Daly Hayes e Phd Richard<br />

E. Hayes, especialistas dos E.U.A., o seminário abordou<br />

temas vocacionados para questões de defesa face a<br />

situações de emergência, desastres, manutenção da paz e<br />

operações de estabilização, assim como relações de<br />

colaboração entre entidades civis e militares<br />

Os palestrantes abordaram os temas na perspectiva da<br />

globalização e a necessidade de colaboração entre as<br />

referidas entidades, recorrendo à apresentação de case<br />

studies e à realização de exercícios em pequenos grupos<br />

13


14<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

R ealizou-se dia 28 de Outubro, na sala do conselho<br />

académico da Academia Militar, em Lisboa, o<br />

Lançamento do Livro “Em Nome da Pátria”<br />

lançamento do livro “Em Nome da Pátria”, da autoria do<br />

Tenente-Coronel João José Brandão Ferreira.<br />

A apresentação da obra coube ao Professor Doutor<br />

Adriano Moreira, contando com a presença da editora Dom<br />

Quixote, da Dr.ª Maria João Costa, e o Comandante da<br />

Academia Militar, o Tenente-General Fernando Manuel<br />

Paiva Monteiro.<br />

O livro procura responder à questão da sustentabilidade<br />

da guerra do Ultramar e às questões inerentes à sua<br />

desistência, englobando o enquadramento geopolítico e<br />

geoestratégico de Portugal na altura.<br />

Antes da apresentação se dar por concluída, o cantor<br />

João Campos e Sousa encantou a superlotada sala de<br />

conselho com três músicas que se enquadraram na perfeição<br />

com o espírito do livro.<br />

A apresentação contou com a presença dos mais<br />

ilustres convidados militares e civis, destacando-se a<br />

presença do Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General<br />

José Luís Pinto Ramalho.<br />

Inauguração do Museu Militar de Elvas<br />

A<br />

cidade de Elvas acolheu o novo espaço museológico<br />

do <strong>Exército</strong> Português, inaugurado pelo Chefe do<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong> (CEME), General José Luís Pinto<br />

Ramalho, numa cerimónia decorrida em 30 de Outubro.<br />

O museu alberga um conjunto de espaços onde se insere<br />

o Convento de São Domingos, a Muralha Fernandina e as<br />

Muralhas Abaluartadas da Cidade, que atestam a forte<br />

presença militar que a cidade sempre conheceu ao longo da<br />

sua história.<br />

Elvas, ao longo de muitos séculos, foi apelidada de<br />

“Claves Regnii”, pela sua importância estratégico-militar, e<br />

tem o seu nome associado a momentos marcantes como a<br />

Batalha de Linhas de Elvas, as Cortes de Elvas, a Batalha do<br />

Salado e, entre outras, revestiu-se de grande importância na<br />

Guerra da Restauração (1640 - 1668).<br />

A abertura do museu militar preserva a importância militar<br />

da cidade de Elvas, que albergou diversas unidades militares<br />

desde a construção do Quartel do Casarão em 1767. Aí<br />

aquartelaram Regimentos de Cavalaria e de Lanceiros,<br />

Regimentos de Infantaria, tropas de Artilharia e funcionou<br />

um Centro de Instrução de Condução Auto.<br />

O Regimento de Infantaria n.º 8 − última unidade que<br />

aquartelou em Elvas −, encerrou em 2007 e, em Janeiro de<br />

2008, por Despacho do General CEME, determinou-se a<br />

criação do Museu Militar de Elvas.<br />

Fruto do legado histórico-militar de Elvas, o <strong>Exército</strong><br />

Português cria um museu que permite mostrar parte do<br />

acervo museológico e patrimonial nas temáticas da “História<br />

do Serviço de Saúde do <strong>Exército</strong>”, “Viaturas do <strong>Exército</strong>” e<br />

“Hipomóveis e Arreios Militares no <strong>Exército</strong>”. Ficou<br />

igualmente decidida a criação de duas áreas de estudo e<br />

investigação: o Centro de Estudos sobre a Fortificação de<br />

Elvas e o Centro de Interpretação sobre a Guerra do Ultramar<br />

Português.<br />

Na sua colecção pode encontrar-se o primeiro carro de<br />

combate do país, uma cozinha de campanha de 1948 e uma<br />

mesa de operações do período de 1950, entre outras peças<br />

expostas.<br />

A cerimónia contou com a presença de altas entidades<br />

militares e civis e contemplou uma Homenagem aos Mortos<br />

das unidades que estiveram aquarteladas em Elvas, uma<br />

sessão solene, o descerramento da placa de inauguração<br />

pelo General CEME, uma visita às exposições e terminou<br />

com a assinatura do Livro de Honra.


4º Torneio de Golfe do <strong>Exército</strong><br />

Português<br />

No âmbito das comemorações do Dia do <strong>Exército</strong>,<br />

decorreu no Belas Clube de Campo, no dia 31 de<br />

Outubro, o 4º Torneio de Golfe do <strong>Exército</strong> Português.<br />

A cerimónia foi presidida pelo Chefe do Estado-Maior<br />

do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />

Seguiu-se a cerimónia de entrega de prémios da ordem<br />

de mérito do clube de golfe do <strong>Exército</strong> 2009, tendo como<br />

primeiro classificado do Gross, o Coronel Ormonde Mendes<br />

e como primeiro classificado do Net, o Coronel Santos<br />

Matias.<br />

Os vencedores do 4.º torneio de Golfe do <strong>Exército</strong> foram:<br />

1.º Gross <strong>Exército</strong>, Tenente-Coronel José Domingos Silva.<br />

1.º Net <strong>Exército</strong>, Tenente-Coronel José Carlos Augusto.<br />

1.º Gross Convidados, Patricia Vasconcelos.<br />

Longest Drive, Doutor António Sobral.<br />

Nearest to The Pin, Major David Gaspar.<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

15


16<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

“Warm Up Orion” no Comando Operacional das Forças Terrestres<br />

O<br />

Centro de Operações do Comando Operacional das<br />

Forças Terrestres (COFT), apresentou em 9 de Outubro,<br />

o “Warm Up Orion”, enquadrado no Exercício “Orion 09”.<br />

A apresentação, realizada a partir do Centro de Operações,<br />

Abertura do Curso de Defesa Nacional<br />

que tem como tarefas gerais, conduzir as actividades de<br />

preparação e treino operacional das Forças Terrestres, supervisionar<br />

a execução dos planos e ordens, entre outras, serviu<br />

para demonstrar o modus operandi do referido centro, colocando<br />

em contacto simultâneo os comandos das Forças Nacionais<br />

Destacadas no Kosovo, Afeganistão e Líbano, assim como os<br />

comandos das brigadas e zonas militares dos Açores e Madeira.<br />

Foi, deste modo, apresentado perante o Chefe do Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, o Vice-<br />

Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Mário de<br />

Oliveira Cardoso e o Comandante Operacional do <strong>Exército</strong>, Artur<br />

Neves Pina Monteiro, o plano de acção do exercício “Orion<br />

09”, cujos objectivos passam por exercitar o Centro de Operações<br />

Terrestres e pelo treino dos militares na execução de missões<br />

integrando uma Força Multinacional.<br />

Como finalidade, o “Orion 09” pretende “testar as capacidades<br />

da componente operacional do sistema de Forças Nacional<br />

− <strong>Exército</strong>, no âmbito de uma operação de resposta a crises.”<br />

Cerimónia de Apresentação dos<br />

Novos Oficiais ao <strong>Exército</strong> Português<br />

Decorreu no dia 1 de Outubro, no Museu Militar, em<br />

Lisboa, a Cerimónia de Apresentação dos Oficiais que<br />

terminaram os cursos da Academia Militar e da Escola Superior<br />

Politécnica do <strong>Exército</strong> que agora ingressam no Quadro<br />

Permanente como Oficiais do <strong>Exército</strong>.<br />

A cerimónia foi presidida pelo o Chefe do Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho, tendo como objectivo<br />

assinalar o ingresso no Quadro Permanente dos 72 novos<br />

oficiais, através da entrega da respectiva espada, símbolo do<br />

Comando que materializa a responsabilidade de que são investidos.<br />

Este acto solene ocorreu perante a Estrutura Superior do<br />

<strong>Exército</strong> e teve como testemunhas os familiares e amigos dos<br />

novos Oficiais que se fizeram sentir, como é habito, em grande<br />

número, neste momento marcante da vida destes Oficiais.<br />

O<br />

Professor Doutor Augusto Santos Silva, novo<br />

ministro da Defesa, presidiu à sessão solene de<br />

abertura do Curso de Defesa Nacional no dia 2 de Novembro,<br />

garantindo que as reformas no sector da Defesa, iniciadas pelo<br />

anterior Governo, são para continuar.<br />

No seu primeiro discurso oficial apelou a um consenso sóciopolítico<br />

nas questões de Defesa e elogiou os militares pela sua<br />

capacidade de inovação e modernização.<br />

Na tribuna estiveram os antigos presidentes da República<br />

General Ramalho Eanes e Dr. Jorge Sampaio, o Chefe do Estado-<br />

Maior das Forças Armadas, General Luís Valença Pinto, o<br />

Tenente-General Cabral Couto, o Director do Instituto de Defesa<br />

Nacional Professor Doutor António Telo.


Abertura do Ano Lectivo do Colégio Militar<br />

O<br />

Colégio Militar realizou em, 16 de Outubro, a<br />

Cerimónia da Abertura Solene do ano lectivo 2009/<br />

2010.<br />

A cerimónia teve início nos Claustros, onde o Batalhão<br />

Colegial se apresentou ao Comandante de Instrução e Doutrina<br />

do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Maia de Mascarenhas.<br />

Seguiu-se a integração do Estandarte Nacional, a imposição<br />

de condecorações e a apresentação dos novos alunos do<br />

Colégio.<br />

De acordo com a tradição, o aluno Comandante do Batalhão<br />

Colegial fica encarregue de desejar as boas vindas aos novos<br />

alunos, numa alocução que faz antes da cerimónia atingir o seu<br />

ponto alto: o abraço do aluno do Batalhãozinho. Este tradicional<br />

abraço é precedido pela entrega do símbolo de comando, a<br />

réplica da espada do Rei D. Carlos, e serve para vincar o desejo<br />

de boas vindas aos novos alunos do colégio, o espírito de<br />

camaradagem e o sentido de protecção com que podem contar<br />

por parte dos alunos mais velhos.<br />

As entidades militares e civis que assistiram à cerimónia<br />

presenciaram, ainda, ao desfile do Batalhão Colegial na Parada<br />

Nova.<br />

Abertura do Ano Lectivo da Academia Militar<br />

O<br />

Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, General José<br />

Luís Pinto Ramalho, presidiu à Cerimónia de<br />

Abertura do Ano Lectivo 2009-2010, na Academia Militar,<br />

no dia 5 de Novembro.<br />

De índole essencialmente académica, apresenta um<br />

balanço do ano lectivo transacto e enuncia as linhas<br />

orientadoras para o novo ano.<br />

A cerimónia decorreu no auditório principal da instituição<br />

com a realização do Cortejo Académico e a Sessão Solene que<br />

contou com a alocução do Comandante da Academia Militar,<br />

Tenente-General Fernando Manuel Paiva Monteiro.<br />

Seguidamente, o Tenente-Coronel Mendes Dias proferiu a<br />

Lição Inaugural subordinada ao tema “Geopolítica e o Espaço<br />

Exterior”. Seguiu-se a entrega das Cartas de Curso e Diplomas,<br />

dos Prémios Escolares e dos diplomas do Curso de Pós-<br />

Graduação em Guerra da Informação/Competitive Intelligence.<br />

Estiveram presentes altas entidades militares e os titulares<br />

de instituições de ensino superior universitário e militar<br />

nacional.<br />

TABELA DE PREÇOS PARA 2009<br />

FIGURAS e FACTOS<br />

A cerimónia terminou com um Porto de Honra no átrio do<br />

edifício dos auditórios.<br />

PREÇO DE CAPA • 2,00<br />

ASSINATURA ANUAL (11 números)<br />

VIA SUPERFÍCIE - Portugal Cont. Madeira e Açores • 20.00<br />

VIA AÉREA - Países europeus • 45,00; Restantes Países • 65,00<br />

NOTA: As assinaturas devem ser pagas antecipadamente<br />

NÚMEROS ATRASADOS - 1960 a 1969 • 4,00; 1970 a 1979 • 4,00; 1980 a 1989 • 3,00; 1990 a 2001 • 2,50; 2002 a 2008 • 2,00<br />

Os preços incluem IVA à taxa de 5%<br />

N.B.: Os pedidos de envio pelos CTT serão acrescidos de portes segundo os códigos postais: 1000/2000 • 4,21; 3000/8000 • 5,79; Açores e Madeira • 6,56.<br />

17


texto e fotos do Major-General<br />

Esmeraldo Alfarroba<br />

No passado dia 6 de Outubro comemoraramse<br />

175 anos sobre o início da actividade<br />

hospitalar no Hospital Militar Principal.<br />

A distância histórica a que estamos desse ano<br />

de 1834, em que foi internado o primeiro doente,<br />

revela só por si a persistência, esforço e bom<br />

desempenho que permitiram a manutenção desta<br />

estrutura de saúde do <strong>Exército</strong> ao longo dos vários<br />

contextos políticos, militares e sociais do passado.<br />

18<br />

Talvez não fosse de todo alheio o facto do Hospital<br />

ter sido edificado sobre dois bastiões de<br />

tradição milenária: a Igreja que primeiro lhe<br />

emprestou a casa, a abnegação e a caridade e depois<br />

a Instituição Militar, onde o Hospital revê a sua<br />

identidade e acção presente.<br />

A Saúde Militar em Portugal tem a sua origem<br />

mais precisa nos monges de S. João de Deus,<br />

notabilizados na Guerra da Restauração.


Em 1851, a acção assistencial concentrou-se na área da Estrela<br />

Consolidou-se após a Guerra Peninsular com<br />

diversas estruturas que foram alicerces deste Hospital,<br />

desenvolvidas em tempos difíceis, onde pouco<br />

mais se podia fazer do que humanizar condições<br />

precárias, de recursos terapêuticos e económicos<br />

limitadíssimos.<br />

Para além destas actividades, actualmente, um<br />

Hospital Militar tem de atender outras vertentes,<br />

determinadas pelas novas tecnologias.<br />

É inútil afirmar o propósito de desenvolver aturado<br />

esforço no sentido de potenciar a criação ou, melhor,<br />

manter e desenvolver adequada massa crítica, a partir<br />

da qual se possam produzir sinergias entre todas as<br />

áreas funcionais do Hospital, com vista a eliminar em<br />

permanência qualquer quebra de sinergia ou “ruptura<br />

estrutural”.<br />

A teoria e a experiência ensinam que toda a<br />

Instituição tem uma elasticidade orgânica que não<br />

pode ser excedida. Quando se atinge o limite da<br />

elasticidade orgânica significa que os recursos se<br />

esgotaram e, quando os recursos se esgotam, a missão<br />

termina.<br />

O Hospital Militar é uma organização hierarquizada,<br />

flexível, ágil e hábil, criativa e empreendedora, baseada<br />

na indispensável participação activa de quantos aqui<br />

servem e impulsionado pela Missão fixada superiormente,<br />

e respectivos objectivos explícitos e deduzidos.<br />

A preparação, o planeamento e a condução do<br />

Hospital Militar não podem dispensar tecnologias<br />

permanentemente actualizadas como recurso-chave,<br />

e não residual, atenta a probabilidade de, no quadro<br />

A mensagem<br />

deste artigo é<br />

em especial para<br />

os mais novos, herdeiros<br />

de um legado que vindo<br />

de trás procuramos<br />

preservar, para que<br />

se mantenha toda<br />

a energia e frescura<br />

da sua Essência.<br />

da defesa dos interesses nacionais, o nosso País,<br />

como vem acontecendo, ter que projectar forças-tarefa<br />

para missões em ambiente de conflitos assimétricos,<br />

ou para realização e, ou incrementação de tarefas<br />

de cooperação, nomeadamente com os Estados do<br />

19


20<br />

O CEME General José Luis Pinto Ramalho presidiu às<br />

cerimónias.<br />

grande espaço da lusofonia, de que queremos ser<br />

parte activa no sentido da sua consolidação,<br />

aprofundamento e desenvolvimento.<br />

Acrescem as tarefas de tempo de paz, também<br />

elas imprescindíveis, como já vimos, a saúde dos<br />

militares no activo e das suas famílias e, bem assim,<br />

dos militares na reserva ou na reforma e respectivos<br />

familiares, sem esquecer, antes relevando o dever de<br />

significativo esforço que temos de continuar a manter<br />

e incrementar com os deficientes em combate nos<br />

Teatros de Operações das derradeiras Campanhas de<br />

África, tanto mais sabemos que as Guerras só terminam<br />

quando morre o último homem que nelas participou.<br />

A saúde indispensável e decisiva para o moral e<br />

bem-estar das tropas, integra-se no princípio de<br />

coesão imprescindível à Instituição militar, sendo, por<br />

isso mesmo, um factor crítico do potencial de combate.<br />

A abrangência indiscriminada dos cuidados de<br />

saúde às famílias dos militares no activo e aos militares<br />

na reserva e na reforma e respectivos familiares<br />

constitui um multiplicador do moral e bem-estar das<br />

tropas activas, e, por conseguinte, do potencial de<br />

combate, tornando-as totalmente disponíveis para as<br />

difíceis ou muito difíceis tarefas operacionais, na exacta<br />

medida em que as liberta psicologicamente de<br />

preocupações e ameaças de constrangimentos<br />

presentes e futuros, pelo menos, quanto à doença.<br />

Hoje em dia, e em rápido crescendo, qualquer<br />

organização não baseada em inovações tecnológicas<br />

constantemente actualizadas, torna-se obsoleta e, por<br />

isso, inapta para actuar em ambiente de decisão sob<br />

incerteza, isto é, onde a ausência de informação acerca<br />

de determinada acção, é quase uma certeza.<br />

Sabemos que as necessidades em bens de saúde<br />

crescem, quantitativa e qualitativamente, a um ritmo<br />

mais do que proporcional aos recursos disponíveis, o<br />

que necessariamente impõe rigorosa observância do<br />

princípio da economia de meios, apelando, por<br />

conseguinte, ao aumento da produtividade para um<br />

dado nível de meios disponíveis.<br />

Estamos a falar nos chamados ganhos de<br />

produtividade que, de entre outros, resultam de<br />

factores ligados à alteração na organização do<br />

trabalho, ao aumento da qualificação dos recursos<br />

humanos, através da formação formal e informal<br />

(formação na função), da duração dos equipamentos<br />

através da aturada manutenção e da sua<br />

modernização.<br />

Dos ganhos de produtividade resultam<br />

necessariamente maior eficiência, eficácia e<br />

efectividade, traduzindo-se, pois, em benefícios<br />

qualitativa e quantitativamente acrescidos.<br />

Sendo a análise da situação do Hospital um<br />

processo diário, semanal, mensal, e com outras<br />

periodicidades, não podemos, deixar de, fazer a breve<br />

síntese da situação, recente e actual, abordando a<br />

preparação, o planeamento, os objectivos e os<br />

resultados alcançados, que para nós apenas<br />

constituem um degrau, ou base segura do upgrading<br />

que queremos e temos de atingir.<br />

Nesse sentido, dos profissionais de saúde<br />

militares do Hospital de Campanha, espera-se<br />

excelência no desempenho, pois vão acorrer aos que<br />

tudo dão pela Pátria.<br />

Apesar do Hospital de Campanha estar atribuído<br />

ao HMP a prontidão só é possível por ter em Ordem<br />

de Batalha elementos de todos os outros Hospitais<br />

Militares e Centros de Saúde do <strong>Exército</strong>, numa<br />

distribuição regrada e equilibrada.<br />

A presença próxima dos Shelters de Bloco<br />

Operatório e Unidade de Cuidados Intensivos neste<br />

HMP permitiu aprontá-los, podendo o <strong>Exército</strong> e o<br />

País contar com esta Unidade que pode acorrer a<br />

qualquer situação de campanha, mas também ser<br />

preciosa em caso de qualquer calamidade que afecte<br />

a população ou em operações de apoio à paz ou a<br />

desalojados.<br />

Os meios de formação e treino prévios ao<br />

desempenho das Unidades e Células Sanitárias foram<br />

também acautelados através do Centro de Simulação<br />

Médica do <strong>Exército</strong>.<br />

Finalmente, a Telemedicina, expoente das novas<br />

tecnologias facilitadoras do contacto entre equipas<br />

médicas ou cirúrgicas à distância, na frente ou em<br />

locais isolados, para obviar à falta de especialistas<br />

nas diversas áreas, permitindo o contacto com o<br />

Centro Hospitalar, socorrendo-se dos elementos em<br />

serviço na Urgência ou de chamada.<br />

Esta é de facto a nossa Luta, que nos absorve e<br />

mobiliza por inteiro.<br />

Àqueles que têm por missão o nosso Comando e<br />

orientação doutrinária sensibilizamos para a atenção<br />

e cuidado no apoio a um sistema por vezes tão frágil.<br />

Estarão assim criadas as bases estruturais de um<br />

novo conceito de Hospital, seremos, pois, mais uma<br />

vez, Hospital Militar Principal.<br />

O Serviço de Cardiologia é um Serviço onde<br />

também se realizam muitos exames complementares<br />

de Diagnóstico, maioritariamente, electrocardiogramas<br />

mas também outros, tal como se pode avaliar pela<br />

análise da Figura 4.


Por último, relativamente<br />

ao internamento hospitalar, a<br />

Figura 5 mostra-nos a distribuição<br />

dos 5.062 doentes<br />

internados no mesmo período<br />

de um ano atrás referido.<br />

É nosso orgulho e não<br />

imodéstia, o reconhecimento<br />

de quem nos procura e motivo<br />

de estímulo que nos leva<br />

sempre a continuar.<br />

Mas o Hospital Militar tem<br />

outras componentes que<br />

cumpre pôr em relevo, pois a<br />

Medicina Castrense encontra<br />

aqui o terreno propício à sua<br />

praxis:<br />

- A Medicina de Avaliação,<br />

traduzida nas Juntas Médicas,<br />

para estimativa de capacidade<br />

física e mental em ordem às<br />

promoções, cursos para Forças<br />

Especiais, avaliação do dano<br />

corporal após acidentes em<br />

serviço e outros.<br />

- Outra área a considerar é<br />

a relacionada com os Deficientes<br />

das Forças Armadas,<br />

resultado de 13 anos de guerra<br />

em África, para onde a juventude<br />

há 48 anos atrás foi chamada<br />

e acorreu de forma<br />

generosa, lutando denodadamente<br />

por aquilo que era<br />

considerado interesses nacionais.<br />

- Depois, no âmbito da<br />

Cooperação Técnico-Militar, a<br />

excelência assistencial dos<br />

Serviços e das instalações<br />

permite dar resposta a quem<br />

nos procura, e o levantamento<br />

recente do Serviço de Saúde<br />

de Moçambique feito por<br />

elementos do nosso Hospital,<br />

bem como o que se perspectiva<br />

para Angola, poderão concretizar,<br />

em breve, projectos<br />

que consubstanciam todo o<br />

espírito de solidariedade e<br />

fraternidade que nos anima.<br />

Na Figura 1 podemos<br />

observar a distribuição por<br />

especialidades médicas das<br />

79.826 consultas efectuadas<br />

no período dos últimos 12 meses.<br />

A Figura 2 representa a distribuição por<br />

subsistemas dos doentes que procuraram o HMP no<br />

mesmo período.<br />

A Figura 3 discrimina os tipos de exames efectuados<br />

no Serviço de Imagiologia, no mesmo período de 1 de<br />

Outubro de 2008 a 1 de Outubro de 2009.<br />

Mentes esclarecidas, de largos horizontes,<br />

edificaram, por fim, um novo Bloco Hospitalar de 12<br />

andares, inaugurado em 1973, moderno e mais<br />

confortável para os doentes.<br />

Se a todos os títulos se tratou de uma obra<br />

fascinante, em que os critérios de Engenharia<br />

Hospitalar andaram de braço dado com as<br />

necessidades assistenciais, o nome com que o<br />

designaram é pleno de significado - chamaram-lhe Casa<br />

de Saúde da Família Militar.<br />

Estávamos, de novo, em guerra e a saúde dos<br />

militares e dos seus familiares exigia redobrados<br />

cuidados.<br />

Equipas médicas desenvolveram a Medicina e a<br />

Missa de Acção de Graças<br />

integrada nas Cerimónias<br />

do Dia do HMP<br />

Q uis Sua Ex cia Reverendíssima o Senhor<br />

D. Januário, Bispo das Forças Armadas,<br />

presidir à habitual Missa que integrou as<br />

cerimónias do 175.º aniversário do Hospital<br />

Militar Principal, para rezar por todos os doentes<br />

e pessoal de saúde e os que os antecederam,<br />

nesse “local de grande sofrimento para todos<br />

os militares”, tal como mencionou.<br />

O Director do HMP frisou “Estamos cientes<br />

da impossibilidade de curar todas as doenças,<br />

mas continuaremos com humildade e<br />

perseverança a tratar doentes, numa luta<br />

permanente contra a morte e a dor, em que<br />

tantas vezes saímos vencidos.<br />

Vencidos, mas não derrotados, porque logo<br />

adiante, mais alguém precisa e espera por nós”.<br />

21


22<br />

Cirurgia, outros desenvolveram<br />

a preciosa Reabilitação.<br />

Fazendo um balanço<br />

retrospectivo, ressalta o<br />

pioneirismo neste Hospital,<br />

de algumas técnicas como<br />

a angiografia, a ecografia e<br />

mais recentemente a cirurgia<br />

laparoscópica.<br />

Actualmente localizado<br />

numa zona distinta e de<br />

fáceis acessos em Lisboa,<br />

detentor de uma grande área, permitindo optimização,<br />

urge adequar as acessibilidades entre as diversas<br />

áreas funcionais.<br />

Mas ao longo das últimas décadas criaram-se<br />

raízes, constituíram-se equipas que se pretendem<br />

eficazes e coesas, interagindo de forma harmónica,<br />

permitindo a melhoria da qualidade assistencial e<br />

implicitamente dignificando a Saúde Militar.<br />

De facto, foi possível preservar e fazer crescer<br />

uma identidade muito própria, herança de quem nos<br />

precedeu e é com gosto que, na cerimónia solene do<br />

dia do Hospital se registou a presença de antigos<br />

Directores, pilares que formaram esta vontade de ser<br />

e existir.<br />

Sentimo-nos honrados e orgulhosos, convictos<br />

de que os objectivos só são atingidos com esforço e<br />

trabalho de equipa, para prosseguimos esta acção,<br />

actualizando de forma permanente os meios, as<br />

pessoas e os fins deste legado histórico, que<br />

pretendemos preservar, mantendo o quotidiano que<br />

nos orgulha e justifica.<br />

Foi a uma malha diversificada de profissionais,<br />

não abundantes em número, que ficou a dever-se a<br />

resolução qualificada dos problemas próprios da<br />

complexidade do Hospital.<br />

Salientamos o esforço dos jovens socorristas<br />

e demais soldados, que há muito nos habituaram<br />

à sua generosidade, altruísmo e boa vontade.<br />

Nos últimos anos, recebemos o contributo de<br />

pessoal feminino, que, conjuntamente com as<br />

auxiliares de acção médica, elas também maioritariamente<br />

mulheres, acrescentam uma jovialidade<br />

e carinho muito próprios nos cuidados prestados<br />

aos nossos doentes.<br />

Os enfermeiros e técnicos de diagnóstico e<br />

terapêutica, detentores de bons conhecimentos,<br />

mantiveram uma permanência e acompanhamento<br />

em que ressaltou o brio e a boa qualidade dos<br />

procedimentos.<br />

Os médicos e farmacêuticos,<br />

de excelente e inexcedível<br />

competência, efectuam o<br />

melhor e mais correcto seguimento<br />

dos pacientes a seu<br />

cargo.<br />

Finalmente o enquadramento<br />

militar, com a colaboração<br />

de elementos civis<br />

numa integração equilibrada,<br />

é, em regra, levado a cabo por<br />

pessoal empenhado,<br />

zeloso e célere<br />

na resolução<br />

dos<br />

problemas.<br />

Deste<br />

modo é possível<br />

uma<br />

gestão dos<br />

recursos humanos e materiais optimizada, saudando,<br />

também, de forma amiga, todos aqueles que nos<br />

vêm ajudando com a sua palavra e a sua acção,<br />

por integrarem, de uma forma activa, o Hospital na<br />

comunidade em que está inserido.<br />

É na total identificação com o querer comum,<br />

que nos fundimos com o mais humilde daqueles<br />

que trabalham no HMP, misturando-nos com a<br />

parcela e contributo do esforço e da luta que nos<br />

coube, mas é com orgulho que mostramos o que<br />

todos fizemos e nos propusemos fazer.<br />

Ser arauto e tornar público a Obra de tantos é<br />

responsabilidade acrescida, mas é também<br />

desafio e Obrigação, pelo que apresentamos, de<br />

forma resumida, as nossas actividades e<br />

resultados.<br />

Já bem consolidado como Hospital Geral e<br />

Principal do nosso <strong>Exército</strong>, suportou os anos<br />

difíceis das evacuações da frente da Flandres na<br />

I Grande Guerra.<br />

Longe iam já os dias esquecidos das<br />

enfermarias e dos monges de S. João de Deus<br />

quando o advento dos antibióticos criou em<br />

todos uma euforia de vitória, possibilitando a


individualização dos diversos Serviços Clínicos,<br />

de acordo com a evolução da Medicina e da<br />

Cirurgia.<br />

Médicos de grande prestígio estão ligados a<br />

este Hospital: Lembro Guilherme Enes, Carlos<br />

França, Sacadura Botte, Batista de Sousa, Diogo<br />

Furtado, Barata Salgueiro, Mário Moutinho,<br />

Henrique Moutinho, Carlos Champalimaud,<br />

Ricardo Horta, Sousa Caixeiro, Freire de Andrade,<br />

Rocha da Silva, Ferreira Ribeiro, Manuel Henrique<br />

Botelho e, mais recentemente, Carrilho Ribeiro,<br />

para só citar estes.<br />

O Hospital, neste pólo da Estrela era<br />

inicialmente dividido em duas partes, a Principal<br />

(em que se encontra a magnífica Capela) e a Cerca,<br />

envolvendo as traseiras da Basílica.<br />

Em meados do Século XX, ocorreu a cedência<br />

da Alameda entre os Pavilhões da Cerca para<br />

rasgar a Av. Infante Santo, dividindo a Cerca em<br />

duas partes, o que, com o aumento do trânsito<br />

automóvel, transformou os fáceis acessos do<br />

passado em dificuldade actual acrescida.<br />

JE<br />

A usente da cerimónia, por doença, o<br />

Major-General Director de Saúde (DS)<br />

foi referido, pelo seu colega e camarada Director<br />

do HMP, do seguinte modo:<br />

“O Ex mo Senhor Major-General DS, Professor<br />

Doutor Lopes Henriques fez connosco a sua<br />

carreira, de Interno a Cirurgião, de Tenente<br />

Médico a Major-General, e quis ser tratado na<br />

doença no seu Hospital.<br />

É timbre dos nossos grandes Generais na<br />

necessidade de se submeterem a intervenções<br />

médico-cirúrgicas, dizerem:<br />

“Se é aqui, no Hospital Militar, onde os meus<br />

soldados são tratados, aqui será o meu local<br />

de tratamento”.<br />

Esta elevação de cumplicidade de intenções<br />

e de vida, dá-nos a dimensão da grandeza de<br />

alma de quem dirige a Saúde do <strong>Exército</strong>”.<br />

23


“Como uma Instituição Nacional única,<br />

garantimos a defesa militar da Pátria<br />

e construímos a Paz e o Desenvolvimento<br />

noutros países, com as nossas Forças Nacionais<br />

Destacadas e com a Cooperação Técnico-Militar.<br />

Este é o <strong>Exército</strong> de Portugal.<br />

Estamos ao serviço de todos os Portugueses.”<br />

General José Luís Pinto Ramalho<br />

Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />

25


26<br />

Tenente RC Paulo Moreira<br />

D<br />

. Afonso Henriques, Patrono do <strong>Exército</strong>,<br />

nasceu há 900 anos no Condado de seu pai,<br />

Henrique de Borgonha, Conde de Portucale, súbdito<br />

do Reino de Leão. Provavelmente, nasceu e cresceu<br />

em Guimarães. Com ele, que desde cedo se mostrou<br />

grande demais para as fronteiras do condado e para o<br />

jugo leonês, nasceu também a primeira ideia de Portugal.<br />

Em 1143, após algumas acaloradas batalhas pela<br />

independência, é reconhecido, no Tratado de Zamora,<br />

como Rei de Portugal, e é já nessa condição que,<br />

quatro anos mais tarde, entra triunfante em Lisboa,<br />

depois de derrotar os ocupantes mouros.<br />

Estas datas e estes episódios foram determinantes<br />

para que, neste ano de 2009, Braga fosse a cidade<br />

escolhida para acolher as comemorações do Dia do<br />

<strong>Exército</strong>, celebrado a 25 de Outubro. Para a decisão<br />

contribuiu ainda, com significativo peso, a evocação<br />

dos 300 anos do Regimento de Cavalaria n.º 6, sediado<br />

naquela cidade.<br />

Evocação e Homenagem<br />

a D. Afonso Henriques<br />

Em Coimbra, na Igreja de Santa Cruz, teve lugar, a<br />

24 de Outubro, a Evocação e Homenagem a D. Afonso<br />

Henriques. Nesta igreja, que ele próprio fundou em<br />

28 de Julho de 1131, repousam os seus restos mortais,<br />

de frente para o túmulo do seu filho, D. Sancho I.<br />

Ambos os túmulos foram para ali trasladados no<br />

séc. XVI, durante o reinado de D. Manuel I. Foi,<br />

aliás, no acto da trasladação – que ocorreu a 25 de<br />

Outubro de 1515 ou a 16 de Julho de 1520, segundo<br />

a Crónica dos Cónegos Regrantes de Santo<br />

Foto: CAVE<br />

Agostinho de D. Nicolau de Santa Maria ou a opinião<br />

de D. Timóteo dos Mártires –, entre a pompa da época,<br />

que se achou incorrupto o corpo do rei e igualmente<br />

preservadas as suas vestes.<br />

O Fundador foi ali lembrado, numa eucaristia<br />

presidida pelo Bispo das Forças Armadas e de Segurança,<br />

D. Januário Torgal Ferreira, à qual compareceram<br />

as mais altas entidades, militares e civis, que se<br />

associaram a estas comemorações. Entre os presentes<br />

encontravam-se o Chefe de Estado-Maior do<br />

Foto: CAVE


<strong>Exército</strong>, General Pinto Ramalho, o Vice-Chefe de<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, Tenente-General Oliveira<br />

Cardoso, e o Presidente da Câmara Municipal de<br />

Coimbra, Dr. Carlos Manuel de Sousa Encarnação.<br />

Braga<br />

O palco das comemorações de mais um aniversário<br />

de uma das mais antigas instituições nacionais<br />

foi, este ano, a cidade mais antiga de Portugal e uma<br />

das cidades cristãs mais antigas do mundo, com cerca<br />

de dois mil anos de história – Braga.<br />

No Vale do Cávado repousam indícios de aglomerados<br />

humanos que remontam ao Neolítico, embora<br />

os mais evidentes datem já da Idade do Bronze e da<br />

Idade do Ferro, altura em que ali foram construídos os<br />

primeiros castros, nos pontos mais elevados do relevo<br />

minhoto. Antes da chegada dos Romanos à península,<br />

habitaram por ali os Brácaros, um povo de cultura<br />

celta, de cuja linguística parece ter derivado o próprio<br />

nome da cidade, evoluindo a partir do elemento –<br />

briga que significava “povoado fortificado”. Por volta<br />

de 16 a.C., com a expansão do Império Romano até<br />

àquelas paragens, começa a ser ali edificada Brácara<br />

Augusta, a mando e em honra de César Augusto. Já<br />

sob domínio suevo, realizou-se ali, entre os anos de<br />

561 a 563, o Concílio de Braga, de onde resultou a<br />

abolição de termos pagãos da língua comum, como a<br />

designação dos dias da semana, sendo assim Lunae<br />

dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris<br />

dies, Saturni dies e Solis dies substituídos por Feria<br />

secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta,<br />

Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies. Depois,<br />

passaram por lá os Godos e, em 716, chegaram os<br />

Mouros que, considerando a relevância religiosa da<br />

cidade, lhe causaram uma devastadora destruição. Foi<br />

só com Afonso III, Rei das Astúrias, que a região<br />

regressou a mãos cristãs, tendo entretanto<br />

atravessado um longo período de guerras. Mais tarde,<br />

Afonso VI de Leão e Castela oferece Braga, como<br />

dote da sua filha, D. Teresa, pelo seu casamento com<br />

D. Henrique de Borgonha, os pais de D. Afonso<br />

Henriques. Braga foi ainda cenário de alguns conflitos<br />

durante as Invasões Francesas, destacando-se o<br />

episódio da Batalha do Carvalho d’Este, quando o<br />

General José António Botelho de Sousa a recupera<br />

para o poder português.<br />

Com o decorrer do tempo e das tradições, Braga<br />

foi sendo conhecida por vários cognomes, nascidos<br />

de características particulares da cidade e que bem<br />

ilustram, não só a sua importância histórica e cultural,<br />

como também a sua diversidade e abertura: a Cidade<br />

dos Arcebispos, a Cidade Romana ou a Roma<br />

Portuguesa, a Cidade Barroca, a Capital do Minho<br />

ou o Coração do Minho e a Cidade dos Três Sacro-<br />

Montes. Todas estas designações têm por trás uma<br />

história que, com certeza, vale a pena descobrir.<br />

As Comemorações<br />

Sendo, naturalmente, o dia 25 de Outubro o ponto<br />

alto das comemorações do Dia do <strong>Exército</strong>, o evento<br />

marcou presença em Braga desde o dia 19,<br />

desdobrando-se em actividades e iniciativas de grande<br />

visibilidade, nas mais diversas áreas da cultura e em<br />

vários pontos da cidade. As várias iniciativas levadas<br />

a cabo procuraram ser a face visível da modernidade e<br />

operacionalidade, da força, da determinação e da<br />

excelência da instituição. O Presidente da Câmara<br />

Municipal de Braga, Eng.º Mesquita Machado,<br />

acolheu com satisfação estas comemorações,<br />

associando-se ao evento desde o início, confiante na<br />

adesão participativa dos seus munícipes.<br />

27


28<br />

No âmbito do Programa D. Afonso Henriques<br />

esteve patente na Biblioteca Lúcio Craveiro Alves,<br />

entre os dias 19 e 24 de Outubro, uma exposição<br />

colectiva de pintura subordinada ao tema “O <strong>Exército</strong><br />

e as Artes”. Inaugurada pelo Tenente-General Lima<br />

Pinto, Comandante do Pessoal, a exposição contou<br />

com a participação de 16 artistas, na sua maioria<br />

militares, quer no activo, quer nas situações de reserva<br />

ou reforma, alguns já com um vasto curriculum.<br />

Também em exposição, entre 21 e 25 de Outubro,<br />

estiveram alguns materiais, equipamentos e os Pólos<br />

de Excelência do <strong>Exército</strong>. Assim, na Avenida Central<br />

da cidade, foi possível encontrar e, em alguns casos,<br />

experimentar várias actividades demonstrativas da<br />

diversidade de acção e da qualidade técnica dos<br />

profissionais militares ao serviço de Portugal e da<br />

população. Ali estavam presentes, entre outros, o<br />

Centro de Psicologia Aplicada do <strong>Exército</strong>, o Instituto<br />

Geográfico do <strong>Exército</strong> e a Direcção de Saúde, diversas<br />

viaturas militares, a Torre Multiusos e um stand de<br />

Foto: CAVE<br />

Recrutamento, onde os mais jovens puderam<br />

esclarecer dúvidas e satisfazer curiosidades sobre a<br />

especificidade das carreiras militares e as formas de<br />

prestação de serviço no <strong>Exército</strong>. Ainda na Avenida<br />

Central, no dia 24 de Outubro, teve lugar a<br />

Demonstração de Capacidades e Meios, onde<br />

participou, especialmente, a Associação Napoleónica<br />

Portuguesa, no âmbito das Comemorações do Bicentenário<br />

das Guerras Peninsulares. Os bracarenses puderam<br />

ali assistir a uma actuação da Banda Militar do<br />

Porto, a uma demonstração gímnica e de mesa alemã,<br />

a uma actividade de cinotecnia, à demonstração de<br />

uma Força Auto-comandada e de uma actividade<br />

operacional, e a saltos de Pára-quedismo. Infelizmente,<br />

devido ao mau tempo que se fez sentir, não foi<br />

possível, no dia 23, a actuação da Reprise do <strong>Exército</strong>,<br />

que teria oferecido aos presentes, como é seu<br />

apanágio, um belíssimo espectáculo equestre.<br />

Numa vertente mais académica, realizaram-se, no<br />

dia 23, no Campus de Gualtar da Universidade do<br />

Minho, fruto de uma parceria entre esta instituição e a<br />

Academia Militar, as Jornadas Académicas, nesta<br />

ocasião abordando o tema da «Guerra da Informação».<br />

As Jornadas Académicas ficaram ilustradas com uma<br />

exposição subordinada ao mesmo assunto em<br />

discussão.


No dia 24 de Outubro, à noite, no Theatro Circo<br />

de Braga, acturam, em conjunto, a Banda Sinfónica<br />

do <strong>Exército</strong>, com 105 elementos em naipes de cordas,<br />

percussão e sopro, e o quarteto de cordas Corvos. As<br />

entradas foram gratuitas, registando-se que os<br />

ingressos e a sala de espectáculos não foram<br />

suficientes para acolher todos os que desejavam<br />

presenciar a actuação. Os aplausos e os elogios que<br />

marcaram a noite, dentro e fora do Theatro, foram<br />

prova da satisfação geral e da excelência da iniciativa.<br />

O apogeu das Comemorações do Dia do <strong>Exército</strong><br />

chegou, finalmente, no dia 25 de Outubro. Pelas 10<br />

horas da manhã, na Sé Catedral de Braga, foi<br />

celebrada uma eucaristia, ministrada pelo Bispo das<br />

Forças Armadas e de Segurança, D. Januário Torgal<br />

Ferreira, transmitida em directo pela RTP. Às 11h05<br />

já se ouvia, na Avenida da Liberdade, o Toque de<br />

Formar para as Forças em Parada, aguardando-se,<br />

a partir das 11h30, a chegada dos convidados e das<br />

Altas Entidades. Ali receberam Honras Militares o<br />

General Ramalho Eanes; o Chefe da Casa Militar da<br />

Presidência da República, Tenente-General Carlos<br />

Alberto de Carvalho dos Reis; o Chanceler das<br />

Antigas Ordens Militares, General Vasco Joaquim<br />

Rocha Vieira; o Comandante-Geral da Guarda<br />

Nacional Republicana, Tenente-General Nelson dos<br />

Santos; e os Vice-Chefes dos Estados-Maiores dos<br />

Ramos, o Vice-Almirante Telles Palhinha, da Armada,<br />

o Tenente-General Oliveira Cardoso, do<br />

<strong>Exército</strong>, e o Tenente-General Palma de Figueiredo,<br />

da Força Aérea.<br />

Estando completa a Parada com a integração<br />

do Bloco de Estandartes, foi dada a vez a um dos<br />

momentos mais aguardados do dia que, pela sua<br />

importância, simbolismo e valor documental, vai<br />

integrado neste artigo do Jornal do <strong>Exército</strong>, transcrito<br />

na totalidade: a alocução do Chefe de Estado-<br />

Maior do <strong>Exército</strong>, General José Luís Pinto Ramalho.<br />

Depois da imposição das condecorações Grã-<br />

Cruz da Ordem Militar de Avis: Tenente-General<br />

Mourato Nunes; Medalha de Serviços Distinto<br />

Grau Ouro: Coronel de Infantaria Fernandes<br />

Henriques; Medalha de Serviços Distintos Grau<br />

Prata: Coronel de Cavalaria Ferreira de Sousa;<br />

Medalha de Mérito Militar 4.ª Classe: Sargento-<br />

Ajudante Parracho Diniz; Medalha de D. Afonso<br />

Henriques – Mérito do <strong>Exército</strong> 4.ª Classe: Cabo-<br />

Adjunto Ramalheira Moreira; Medalha de D.<br />

Afonso Henriques – Mérito do <strong>Exército</strong> 4.ª Classe:<br />

Assistente Administrativa Especialista Maria<br />

Ermelinda Silva Moreno, deu-se início ao desfile<br />

das Forças em Parada, que concluiu a Cerimónia<br />

Militar Comemorativa do Dia do <strong>Exército</strong>. O Major-<br />

29


30<br />

General Pereira Agostinho, Comandante das Forças<br />

em Parada, colocando-se no início do dispositivo,<br />

deu a ordem de marcha, fazendo desfilar, perante a<br />

tribuna e o público expectante, a Banda do <strong>Exército</strong>,<br />

chefiada pelo Sargento-Chefe Rui Direitinho, o Bloco<br />

de Estandartes, comandado pelo Major Manuel<br />

Marchã, e uma Escolta de Honra, comandada pelo<br />

Capitão José Barradas; seguiram-se, integrados no<br />

Grupo de Comando, o Batalhão dos Estabelecimentos<br />

Militares de Ensino, comandados pelo aluno Ricardo<br />

Correia, do Colégio Militar, e o Batalhão de Alunos da<br />

Academia Militar, comandado pelo Tenente-Coronel<br />

Nunes Silva; depois, passou o Grupo de Carros de<br />

Combate, da Brigada Mecanizada, comandado pelo<br />

Tenente-Coronel Jorge Pedro, o 1.º Batalhão de<br />

Infantaria, da Brigada de Intervenção, comandado pelo<br />

Tenente-Coronel Fernando Teixeira, e um Batalhão da<br />

Brigada de Reacção Rápida, comandado pelo Tenente-<br />

Coronel José Ruivo; seguiu-se a Banda do <strong>Exército</strong>,<br />

comandada pelo Major Lemos Botelho. A Força<br />

Motorizada, comandada pelo Tenente-Coronel Carlos<br />

Godinho, fez-se representar por um Módulo de Apoio<br />

de Combate, de Fogos e de Comunicações, um<br />

Eucaristia presidida pelo Bispo das Forças Armadas e de<br />

Segurança, D. Januário Torgal Ferreira.<br />

Módulo de Engenharia, um Módulo Logístico e um<br />

grupo de Viaturas Tácticas. A encerrar o desfile,<br />

comandada pelo Coronel João Marquilhas, mostrouse<br />

uma força da Brigada de Reacção Rápida equipada<br />

para combate.<br />

Discurso do General Chefe<br />

de Estado-Maior do <strong>Exército</strong><br />

«Excelentíssimo Senhor General Ramalho Eanes.<br />

Meu General, a sua presença nas cerimónias<br />

que marcam o Dia do <strong>Exército</strong>, mantêm viva a<br />

imagem do antigo Presidente da República, antigo<br />

Comandante Supremo das Forças Armadas e,<br />

também, de antigo Chefe de Estado-Maior do<br />

<strong>Exército</strong>, em período especialmente difícil.<br />

Mas, mais do que isso, constitui oportunidade<br />

também para, os militares do <strong>Exército</strong> lhe<br />

manifestarem o muito respeito e admiração pelo<br />

exemplo, das mais elevadas virtudes militares, que<br />

para nós representa.<br />

Excelentíssimos Senhores Deputados da<br />

Assembleia da República.<br />

A presença de Vossas Excelências, que o <strong>Exército</strong><br />

agradece e aprecia, entende-as como uma manifestação<br />

de confiança que traduz o modo<br />

empenhado, aberto e convergente como a relação<br />

institucional entre o <strong>Exército</strong> e os seus responsáveis<br />

políticos directos se tem pautado na edificação das<br />

melhores soluções para o <strong>Exército</strong> e para a Defesa<br />

Nacional, na defesa dos interesses do Estado.<br />

Excelentíssimo Senhor Presidente da Câmara<br />

Municipal de Braga.


Excelentíssimo Senhor Governador Civil de Braga.<br />

Um agradecimento especial pela disponibilidade<br />

e apoio manifestados por Vossas Excelências, desde<br />

o momento da decisão de se realizarem em Braga as<br />

cerimónias do Dia do <strong>Exército</strong>, atitude que evidencia<br />

a excelência das relações de proximidade e de mútua<br />

parceria que aqui existem, entre o <strong>Exército</strong> e a cidade,<br />

as suas autoridades, entidades e população.<br />

Excelentíssimos Senhores Generais, antigos<br />

Chefes de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>.<br />

É muito grato ao Comandante do <strong>Exército</strong>, neste<br />

dia tão significativo para a nossa Instituição, ter a<br />

presença de Vossas Excelências, materializando não<br />

só um espírito de pertença, mas sobretudo de<br />

contínua observação e preocupação, pelos<br />

objectivos que perseguimos.<br />

Saúdo toda a obra realizada pelos meus<br />

antecessores, obra que constitui um legado de<br />

acção responsável, sempre marcada pelas vicissitudes<br />

do momento, mas sempre guiada pelos<br />

superiores objectivos e valores do <strong>Exército</strong> e ao<br />

serviço da Pátria.<br />

Excelentíssimo Senhor Tenente-General,<br />

Chefe da Casa Militar de Sua Excelência o<br />

Presidente da República.<br />

Excelentíssimo Senhor Chanceler das Antigas<br />

Ordens Militares.<br />

Excelentíssimo Senhor Tenente-General,<br />

Comandante da Guarda Nacional Republicana.<br />

Excelentíssimo Senhor Vice-Almirante, Vice-<br />

Chefe de Estado-Maior da Armada.<br />

Excelentíssimo Senhor Tenente-General, Vice-<br />

Chefe de Estado-Maior da Força Aérea.<br />

A presença de Vossas Excelências, que muito<br />

nos honra, é a expressão visível e pública da coesão<br />

das Forças Armadas, alicerçada nos seus valores,<br />

nas mesmas preocupações e objectivos de serviço<br />

ao País, mas também de grande camaradagem e<br />

solidariedade, que a Condição Militar nos transmite.<br />

Ilustres Autoridades e Entidades Convidadas.<br />

Oficiais Generais, Oficiais, Sargentos, Praças<br />

e Funcionários Civis do <strong>Exército</strong>.<br />

Minhas Senhoras e Meus Senhores.<br />

O dia 24 de Outubro marca a data da Tomada de<br />

Lisboa, efeméride assumida como Dia do <strong>Exército</strong>,<br />

em paralelo com a homenagem realizada ao nosso<br />

patrono, D. Afonso Henriques, primeiro Rei e<br />

primeiro Chefe Militar, a quem se deve a afirmação<br />

da Nação e da Pátria Portuguesa, nascida no Campo<br />

de Batalha de S. Mamede, em 1128.<br />

O <strong>Exército</strong> agradece a presença de Vossas<br />

Excelências nesta Cerimónia Militar que assinala<br />

mais um aniversário. A vossa presença constitui<br />

para nós o reconhecimento do insubstituível<br />

desempenho que homens e mulheres prestam no<br />

<strong>Exército</strong>, ao serviço de Portugal, afirmando o nosso<br />

País no quadro das Alianças e Organizações de<br />

que fazemos parte.<br />

O <strong>Exército</strong> afirmou-se nesse dia; é uma<br />

Instituição Nacional nascida com a Fundação da<br />

Nacionalidade, presente em todos os grandes<br />

momentos da nossa História, que sendo obra<br />

colectiva dos Portugueses, o é de modo destacado<br />

dos seus Soldados.<br />

Caracterizado pelo patriotismo, o esforço militar<br />

tem sido determinante na construção, na preservação<br />

e na afirmação da independência e da soberania<br />

de Portugal, realidade imortalizada na Carta de<br />

Mouzinho de Albuquerque ao Príncipe Luís Filipe,<br />

ao afirmar que: “este Reino é obra de Soldados”.<br />

Revemo-nos nas acções dos nossos<br />

antepassados, na sua abnegação e patriotismo e<br />

fazemos desses valores, os fundamentos da<br />

personalidade colectiva da Instituição, do carácter<br />

individual dos seus Soldados e da afirmação dos<br />

nossos mais profundos valores castrenses,<br />

congregados na Condição Militar.<br />

Condição Militar que nos diferencia dos demais<br />

servidores do Estado, pela acrescida responsabilização,<br />

no quadro de deveres e de renúncia de<br />

direitos de cidadania, conscientemente assumidos,<br />

sem paralelo na sociedade nacional e que nos<br />

confere a legitimidade para comandar homens e<br />

31


32<br />

mulheres, nas situações de risco da própria vida e<br />

de, em conjunto, assumirmos os maiores sacrifícios,<br />

na defesa dos interesses nacionais.<br />

No cumprimento das missões do <strong>Exército</strong>, hoje<br />

como ontem, releva o elemento humano, centro de<br />

todas as realizações; o reconhecimento desta centralidade<br />

evidencia no <strong>Exército</strong> a sua dimensão abrangente<br />

que para além dos militares do activo integrantes<br />

dos Quadros Permanentes e do Regime de Voluntariado<br />

e de Contrato, engloba e se revê nos seus<br />

militares na Reserva e na Reforma, nos ex-combatentes<br />

e em todos quantos connosco cumpriram obrigações<br />

militares, ao serviço de Portugal.<br />

Presto sentida homenagem à memória de todos<br />

os militares que nos antecederam, em particular, aos<br />

que ao longo da História tombaram no campo da<br />

honra, no supremo sacrifício pela Pátria e a todos os<br />

Deficientes das Forças Armadas, credores do nosso<br />

respeito, apoio e solidariedade.<br />

Presto igualmente homenagem à Família Militar<br />

pelo generoso apoio de retaguarda, nem sempre<br />

reconhecido e que é indispensável factor moral e<br />

psicológico de coesão e disponibilidade do cidadão<br />

militar e afirmo também a responsabilidade inalienável<br />

do Comando do <strong>Exército</strong>, no que se refere ao apoio<br />

social que lhe é devido, assim como no acompanhamento<br />

da efectiva acção do IASFA, nesse domínio.<br />

Durante este último ano de actividade, o <strong>Exército</strong><br />

continuou a afirmar Portugal, contribuindo para a<br />

segurança e para a estabilidade internacionais através<br />

da sua participação em operações de Paz e<br />

Humanitárias na Bósnia-Herzegovina, no Kosovo, no<br />

Líbano e no Afeganistão, para além das missões de<br />

Cooperação Técnico-Militar nos PALOP e em Timor,<br />

assim como assegurou uma presença permanente nas<br />

estruturas das Organizações Internacionais e Alianças,<br />

de que o País faz parte.<br />

No futuro próximo, o <strong>Exército</strong> vai reforçar a sua<br />

presença no Afeganistão com uma Companhia de<br />

Intervenção para a Reserva da ISAF e reforçar o<br />

Batalhão presente no Kosovo, com capacidades de<br />

Reconhecimento e de Operações Especiais.<br />

Saúdo assim todos os militares em missões fora<br />

de Portugal, nas Forças Nacionais Destacadas, nos<br />

Quartéis-Generais Multinacionais e em missões de<br />

observação, de ligação e em acções de cooperação<br />

técnico-militar, pelo seu profissionalismo, dedicação<br />

e patriotismo, como têm representado o <strong>Exército</strong> e<br />

dignificado o País.<br />

Somos hoje um <strong>Exército</strong> moderno, projectável, apto<br />

do ponto de vista operacional; um <strong>Exército</strong> que conta,<br />

no quadro internacional, no seio da OTAN, da União<br />

Europeia e também das Nações Unidas; é importante<br />

pois, que sejam garantidos através da Lei de<br />

Programação Militar e do Orçamento, os recursos<br />

Foto de Tenente-Coronel Bartolomeu<br />

necessários para que os militares, em especial os das<br />

Forças Nacionais Destacadas, disponham do<br />

equipamento que lhes é devido e do treino adequado<br />

às missões que irão desempenhar.<br />

Temos, no domínio da formação e do treino, os<br />

padrões mais elevados, constituindo para nós uma<br />

prioridade, como forma de garantir não só o êxito das<br />

missões atribuídas, mas também a segurança e a<br />

sobrevivência das Forças empregues; os resultados<br />

alcançados e o reconhecimento dos nossos Aliados<br />

e Parceiros, comprovam que estamos no caminho<br />

certo.<br />

É contudo no domínio dos recursos humanos que<br />

o <strong>Exército</strong> tem o seu primeiro e mais valioso recurso,<br />

sendo urgente a aprovação dos diplomas que<br />

concretizem o Regime de Contracto Especial, para os<br />

militares RV/RC e o relativo às Carreiras, como forma<br />

de dar coerência ao diploma publicado sobre os Novos<br />

Efectivos do Quadro Permanente.


Só desta forma será possível propiciar um<br />

desenvolvimento equilibrado entre QP/RV-RC, que<br />

garanta o enquadramento e a operacionalidade do<br />

Sistema de Forças Nacional, a par de uma normal<br />

progressão de carreira dos Oficiais e Sargentos do<br />

Quadro Permanente.<br />

Como forma de estimular o recrutamento e corrigir<br />

assimetrias, relativas a outras carreiras de referência,<br />

é igualmente necessário proceder-se à publicação do<br />

diploma dos Suplementos Remuneratórios e a uma<br />

reavaliação do Sistema Remuneratório, que valorize,<br />

decididamente, a Condição Militar e as Carreiras de<br />

Oficial e Sargento.<br />

O <strong>Exército</strong> tem vindo a colaborar na qualificação<br />

dos cidadãos e na validação e melhoria das competências<br />

profissionais e académicas, através do seu<br />

Centro de Novas Oportunidades definindo o processo<br />

de ajustamento dos referenciais de curso,<br />

estabelecendo mecanismos que permitam o<br />

reconhecimento de equivalências com os sistemas<br />

nacionais de formação e qualificação, garantindo a<br />

validação da qualidade da formação ministrada no<br />

<strong>Exército</strong> e, simultaneamente, alargando o leque de<br />

oportunidades profissionais aos militares voluntários<br />

e contratados.<br />

Prosseguiu-se na acreditação de toda a estrutura<br />

de Formação do <strong>Exército</strong> e o trabalho de ajustamento<br />

dos cursos militares ao Catálogo Nacional de<br />

Qualificações que se constitui como instrumento de<br />

oferta formativa de dupla certificação, para os cursos<br />

de nível não superior, num quadro de formação modular,<br />

abrindo-se desta forma o <strong>Exército</strong> às necessidades<br />

da sociedade actual.<br />

No domínio do ensino <strong>Exército</strong> assume e<br />

acompanha com grande proximidade a missão dos<br />

seus Estabelecimentos Militares de Ensino – o<br />

Instituto de Odivelas, o Colégio Militar e o Instituto<br />

Militar dos Pupilos do <strong>Exército</strong>, como instituições de<br />

reconhecida qualidade, alicerçada por um quadro de<br />

valores e de princípios que servem a Sociedade.<br />

No âmbito estrutural o <strong>Exército</strong> considera<br />

concluído o processo de optimização da Força Operacional,<br />

com a organização equilibrada das Brigadas<br />

Mecanizada, de Intervenção e de Reacção Rápida,<br />

materializando uma opção possível entre forças mais<br />

pesadas, com maior poder de fogo e protecção e forças<br />

ligeiras, altamente projectáveis e com grande<br />

capacidade de empenhamento em combate.<br />

As Brigadas poderão receber meios adicionais de<br />

Força, a partir das Unidades de Apoio Geral, ampliando<br />

o seu apoio de fogos, de combate e de serviços, assim<br />

como a garantia de apoios específicos provenientes<br />

do Batalhão ISTAR (em levantamento), do Elemento<br />

de Defesa Biológico-Químico e do Elemento de Guerra<br />

da Informação.<br />

É uma Força Operacional apta para o emprego<br />

efectivo em todo o espectro da conflitualidade actual<br />

e para fazer face às novas ameaças, constituindo uma<br />

opção estruturante, que corresponde, de facto, a<br />

critérios de necessidade, utilidade e proporcionalidade<br />

33


34<br />

face à realidade e às expectativas, constituindo a única<br />

garantia da possibilidade de ajustamento a alterações<br />

de um cenário de emprego mais provável, para um<br />

cenário operacional mais exigente.<br />

De uma forma realista é necessário ter presente<br />

que, no quadro das actuais restrições orçamentais,<br />

capacidades eliminadas, dificilmente serão reconstituídas<br />

e nunca no curto prazo, quer no domínio dos<br />

sistemas de armas, quer na preparação e aptidão dos<br />

recursos humanos, quer ainda na própria doutrina de<br />

emprego.<br />

No domínio da Segurança, o resultado final das<br />

situações conflituais onde temos Forças Nacionais<br />

Destacadas, joga-se nos Teatros de Operações<br />

Terrestres, para o que concorrem também as acções<br />

no âmbito do Desenvolvimento e da Boa Governação.<br />

É indispensável o apoio aéreo às operações<br />

terrestres, assim como é indispensável a utilização<br />

das Linhas de Comunicações Marítimas; é contudo<br />

no terreno, com efectivos, material e treino adequados,<br />

que as Forças Terrestres combatem a insurreição<br />

e a violência directa, actuando cada vez mais no seio<br />

das populações e num ambiente urbano.<br />

É assim necessária uma visão político-militar<br />

esclarecida para orientar investimentos, no âmbito na<br />

Lei de Programação Militar, para projectos que<br />

possibilitem às Forças Terrestres ampliar a sua<br />

capacidade de Comando e Controlo, Mobilidade<br />

Táctica, quer aeromóvel quer com protecção blindada,<br />

poder de fogo, capacidade de intervenção,<br />

sobrevivência e protecção no campo de batalha.<br />

Para a Revisão da Lei de Programação Militar, o<br />

<strong>Exército</strong> mantém a coerência das suas opções no<br />

domínio da modernização e do reequipamento,<br />

enunciadas para o triénio 2007/2009 – o Comando e<br />

Controlo, a Interoperabilidade, a Projecção de Forças<br />

e a Sustentação Logística; paralelamente, mantêm-se<br />

os nichos de excelência, nas Forças Especiais, na<br />

Defesa Biológica e Química e na Guerra de Informação.<br />

Os Objectivos de Forças da OTAN, em coerência<br />

com as exigências da conflitualidade actual e os<br />

aspectos concretos de modernização expressos pelo<br />

<strong>Exército</strong>, reconhecidos também pela Aliança,<br />

justificam um esforço adicional de reorganização e<br />

racionalização das Unidades Operacionais de<br />

Engenharia, reagrupando-as num Batalhão de Apoio<br />

Geral e a optimização e rendimento dos vários<br />

sensores existentes e previstos para a componente<br />

operacional, no Batalhão ISTAR.<br />

A determinação e responsabilidade do <strong>Exército</strong><br />

constata-se na mais elevada taxa de execução da LPM<br />

dos últimos anos e na utilização total dos recursos<br />

disponibilizados no âmbito do PIDDAC, como<br />

resultado da inovação de processos e procedimentos<br />

logísticos, conseguidos através da implementação de<br />

adequados sistemas de informação e controlo que,<br />

permitindo gerar economias, possibilitaram também o<br />

arranque do ciclo de renovação do parque de viaturas<br />

tácticas e administrativas do exército, cuja idade e<br />

estado de uso há muito o exigiam.<br />

Está igualmente estabilizado o Dispositivo Territorial<br />

no Continente e Ilhas, com o assumir pleno das<br />

respectivas responsabilidades territoriais, administrativas,<br />

operacionais e de instrução, pela Escola<br />

Prática de Infantaria, que recebeu o Centro de<br />

Formação Geral de Praças, pelo Centro de Tropas<br />

Comando, que foi transferido para a Carregueira e<br />

pelo Regimento de Infantaria n.º 1, sedeado em Tavira.<br />

Não será possível transformar a organização e o<br />

funcionamento do <strong>Exército</strong> sem a requalificação das<br />

suas infra-estruturas. Com a publicação da Resolução<br />

do Conselho de Ministros n.º 58/2009, de 18 de Junho,<br />

estão criadas as condições para se concretizar o<br />

projecto de racionalização do Comando do <strong>Exército</strong><br />

(COSEX), projecto estruturante reactivado em<br />

Dezembro de 2006, que se materializará com a<br />

deslocalização para a Amadora, de todos os<br />

Comandos Funcionais do <strong>Exército</strong>, libertando um<br />

número significativo de Prédios Militares em Lisboa<br />

e no Porto.<br />

Constituem projectos estruturantes e integrados<br />

no mesmo conceito de racionalização e modernização,<br />

a transferência do Regimento de Lanceiros N.º 2 para<br />

a área da Unidade de Apoio Amadora-Sintra e a<br />

transferência, para infra-estrutura a construir e a<br />

disponibilizar ao <strong>Exército</strong>, na modalidade “Chave na


mão”, das Oficinas Gerais de Material de Engenharia,<br />

para junto do Depósito Geral de Material de Guerra,<br />

em Benavente.<br />

No quadro da Transformação e Modernização do<br />

<strong>Exército</strong> o Exercício ORION 2009 testou e consolidou<br />

os desenvolvimentos alcançados, quer com vista à<br />

certificação de um Comando de Brigada para a OTAN<br />

e UE, neste caso, da Brigada de Intervenção, quer o<br />

nível de digitalização do <strong>Exército</strong>, através da utilização,<br />

pela primeira vez, do Centro de Operações Terrestres,<br />

totalmente automatizado e projectável.<br />

Paralelamente, testou-se o emprego do Elemento<br />

de Guerra de Informação, com a sua valência táctica<br />

no quadro da “cyber-war”; do elemento de Defesa<br />

Biológica-Química, associado à capacidade de<br />

Inactivação de Engenhos Explosivos e ao Hospital<br />

Militar de Campanha, unidade fundamental da<br />

medicina operacional, recentemente reorganizada e<br />

potenciada, através da aquisição de modernos<br />

módulos que o habilitam a cumprir as missões de role<br />

2 que lhe forem determinadas.<br />

Militares do <strong>Exército</strong>.<br />

A realidade dos actuais conflitos, o seu carácter<br />

urbano, inter-estatal e o seu envolvimento com as<br />

populações, obriga a que os <strong>Exército</strong>s treinem e se<br />

organizem como se prospectiva que combatam e que<br />

sejam capazes de lidar com a surpresa e a incerteza – é<br />

necessário habilitar as tropas e os Comandantes dos<br />

baixos escalões, a lidar com a ambiguidade e a fomentar<br />

o espírito de iniciativa e de autonomia de decisão, no<br />

quadro do objectivo final das operações e das<br />

campanhas.<br />

É indispensável continuar a estimular a competência,<br />

o profissionalismo, o rigor e os valores castrenses<br />

dos nossos quadros e tropas, pois o adversário<br />

continuará, como sempre, a tirar partido e a capitalizar<br />

na nossa fraqueza humana e material e nos nossos<br />

erros, designadamente naqueles que possam provocar<br />

danos colaterais, potenciando a sua acção.<br />

É importante e necessário que a Formação e o<br />

Treino se desenvolvam neste quadro de violência,<br />

mas que não se perca de vista a experiência acumulada<br />

pelo <strong>Exército</strong>, em treze anos de guerra subversiva<br />

nos Teatros Africanos, a par da recentemente adquirida<br />

nos Teatros Europeus dos Balcãs.<br />

Tem de ser feita a síntese entre estas experiências<br />

e as lições aprendidas, a par da recuperação dos<br />

fundamentos da Táctica e dos Princípios da Guerra,<br />

adaptando-os à nova realidade conflitual. Continuam<br />

a ser verdades incontornáveis: só há manobra com<br />

apoio de fogos; só há sincronização das operações,<br />

com efectivo Comando e Controlo; face à compressão<br />

dos níveis de decisão e de actuação estratégica,<br />

operacional e táctica, os erros tácticos podem<br />

comprometer uma campanha.<br />

Constituem desafios para o <strong>Exército</strong>, no curto<br />

prazo, o projecto de reestruturação das Oficinas Gerais<br />

de Fardamento e Equipamento e da Manutenção<br />

Militar; a dinamização das estruturas de Recrutamento<br />

que permitam atrair e ampliar o universo de Voluntários<br />

e Contratados, designadamente em Praças, assim<br />

como estimular a sua permanência nas fileiras; a<br />

concretização dos projectos estruturantes de<br />

Reequipamento, que conferem coerência ao Sistema<br />

de Forças Nacional e os que materializam os requisitos<br />

operacionais urgentes para as Forças Nacionais<br />

Destacadas.<br />

Relativamente à integração no Comando da<br />

Logística das Oficinas Gerais de Fardamento e<br />

Equipamento e da Manutenção Militar, a alteração<br />

estrutural que isso representa e a necessidade de<br />

manter o apoio que aqueles órgãos fornecem<br />

diariamente ao <strong>Exército</strong>, implica que, previamente, se<br />

resolvam as questões financeiras e legais que se<br />

relacionam, quer com o passivo existente, quer com o<br />

futuro dos trabalhadores civis e ainda com o fluxo<br />

normal de contratação de pessoal civil e de bens e<br />

serviços que será necessário garantir no futuro, a par<br />

do reforço orçamental para as actividades de operação,<br />

manutenção e investimento, que não eram suportados<br />

pelo <strong>Exército</strong>.<br />

Quanto ao Recrutamento, subsistem dificuldades<br />

com a motivação de jovens para ingressar nas fileiras,<br />

em Regime de Voluntariado e de Contrato, que<br />

decorrem da pouca atracção do Regulamento de<br />

Incentivos à prestação do Serviço Militar naqueles<br />

regimes, designadamente na alteração restritiva,<br />

introduzida pelo Decreto-Lei 320/2007, assim como<br />

uma maior dificuldade no ingresso nos serviços e<br />

organismos da administração central, regional e local,<br />

incluindo os serviços centrais do Ministério da Defesa<br />

Nacional.<br />

De igual modo, considera-se ser do interesse<br />

nacional, a reintrodução do regime de exclusividade<br />

dos candidatos militares, aos concursos para ingresso<br />

na Guarda Nacional Republicana e a afectação de<br />

cotas de preferência mais alargadas para ingresso na<br />

Policia de Segurança Pública e Serviços Prisionais.<br />

Por último, no domínio do Reequipamento, constituem-se<br />

como lacunas mais urgentes: a concretização<br />

da capacidade aeromóvel e a definição dos dez<br />

helicópteros ligeiros para o <strong>Exército</strong>; as viaturas<br />

blindadas 4X4; a arma ligeira; a opção contratual<br />

relativa às 33 viaturas MGS 105 mm; os meios de<br />

Vigilância do Campo de Batalha e de protecção<br />

Antiaérea e a capacidade de Comando e Controlo,<br />

esta última ainda insuficiente para garantir os<br />

objectivos de “Ligação em Rede” e da completa<br />

digitalização dos sistemas de informação em todo o<br />

<strong>Exército</strong>.<br />

35


36<br />

Ilustres Convidados.<br />

Militares e Funcionários Civis do <strong>Exército</strong>.<br />

Minhas Senhoras e meus Senhores.<br />

O Estado resulta da conjugação de múltiplos<br />

factores e define-se por múltiplas dimensões. Mas<br />

não há Estado sem Território e sem População.<br />

É por referência aos espaços da nova soberania e<br />

aos cidadãos nacionais, que se identificam e<br />

constroem os objectivos supremos de Segurança e<br />

Defesa que dão missão ao <strong>Exército</strong>.<br />

O <strong>Exército</strong> é uma Instituição Nacional antiga de<br />

mais de oito séculos, mas assume-se, na actualidade,<br />

como uma organização, flexível, moderna,<br />

internacional e com padrões de funcionamento<br />

extremamente exigentes e elevados. Produzimos<br />

Segurança, Defesa e Paz.<br />

Somos uma referência de estabilidade e segurança,<br />

pronta e disponível no plano nacional, na<br />

resposta às novas ameaças, projectando para as novas<br />

fronteiras estratégicas as capacidades operacionais,<br />

na defesa dos interesses nacionais, afirmando<br />

Portugal na cena internacional.<br />

Contribuímos para o desenvolvimento e para a<br />

coesão nacional, através das Outras Missões de Interesse<br />

Público; Temos presença efectiva no Continente,<br />

nas Ilhas e em mais de vinte países, com os nossos<br />

Adidos Militares, nos Quartéis-Generais Internacionais<br />

e com as nossas Forças Nacionais Destacadas.<br />

Para produzir mais Segurança e Defesa, esta Instituição<br />

modernizou-se; dispomos de melhor tecnologia,<br />

temos uma estrutura adequada e apostamos na<br />

qualidade a nossa primeira prioridade e o treino.<br />

Temos, em permanência, Oficiais e Sargentos em<br />

formação no Estrangeiro. Reforçamos assim o valor<br />

da Força que colocamos ao serviço do País.<br />

Para além da nossa missão constitucional, estamos<br />

sempre disponíveis para apoiar os portugueses,<br />

cooperando nas emergências e nas catástrofes,<br />

realizamos acções culturais e cívicas.<br />

Colaboramos na afirmação e na garantia da<br />

identidade nacional, colocando as nossas capacidades<br />

ao serviço dos portugueses; contamos para isso<br />

com pessoal altamente qualificado e motivado e por<br />

isso afirmamos – os Militares e os Funcionários Civis<br />

do <strong>Exército</strong>, são a nossa Força.<br />

Como uma Instituição Nacional única, garantimos<br />

a defesa militar da Pátria e construímos a Paz e o<br />

Desenvolvimento noutros países, com as nossas<br />

Forças Nacionais Destacadas e com a Cooperação<br />

Técnico-Militar.<br />

Este é o <strong>Exército</strong> de Portugal.<br />

Estamos ao serviço de todos os Portugueses.<br />

Ao terminar, o Comandante do <strong>Exército</strong> agradece,<br />

reconhecidamente, em nome de todos os seus militares<br />

à população de Braga, que com a sua presença e<br />

Mensagem do General CEMGFA<br />

Mensagem de Sua Excelência o General Chefe do<br />

Estado-Maior-General das Forças Armadas, por<br />

ocasião do Dia do <strong>Exército</strong> Português, em 24 de<br />

Outubro de 2009.<br />

“Na qualidade de Chefe do Estado-Maior-<br />

General das Forças Armadas, felicito o <strong>Exército</strong><br />

Português pela comemoração do seu dia festivo<br />

saudando todos quantos, militares, militarizados e<br />

civis, servindo nesta secular instituição, servem<br />

Portugal.<br />

Envio uma mensagem de saudação e incentivo<br />

pelo valioso contributo, dedicação e espírito de<br />

bem servir, que ao longo de gerações tem caracterizado<br />

este Ramo das Forças Armadas.<br />

No âmbito da execução de missões fora do<br />

território nacional, é de enaltecer o serviço prestado<br />

pelas mulheres e homens do ramo que, em<br />

diversos Teatros de Operações, como o Afeganistão,<br />

Líbano, Kosovo, Bósnia-herzegovina, Timorleste,<br />

República Democrática do Congo ou Guiné-<br />

Bissau, mantêm a valorosa e histórica contribuição<br />

portuguesa para a promoção da paz e segurança<br />

internacionais, sempre honrando a nossa Pátria.<br />

Seja cumprindo as suas importantes missões<br />

regulares ou extravasando a tarefa essencialmente<br />

militar, executando outras missões de interesse publico,<br />

de que são exemplo os relevantes serviços<br />

prestados por militares do Ramo em prol do<br />

combate a incêndios, tem o <strong>Exército</strong> prestado, ao<br />

País, serviços relevantes e distintos, reforçando a<br />

desejada e profícua ligação com a sociedade em<br />

que nos inserimos e a quem temos a vocação de<br />

servir.<br />

Institucionalmente e também em meu nome<br />

pessoal, associo-me às comemorações do Dia do<br />

<strong>Exército</strong> e expresso o meu apreço e reconhecimento<br />

pelo trabalho desenvolvido, exortando-vos a servir<br />

Portugal e as Forças Armadas com o mesmo profissionalismo<br />

e dedicação que tem sido apanágio do<br />

<strong>Exército</strong>.”<br />

O Chefe de Estado-Maior-General das Forças<br />

Armadas Luís Valença Pinto, General.<br />

(Transcrição da Msg de 25Out09 do General CEMGFA)<br />

demais manifestações de apoio e carinho, participou<br />

nas comemorações do seu <strong>Exército</strong>, dando acrescido<br />

incentivo à forma como diariamente cumprimos a nossa<br />

Missão.JE<br />

Fotos do Tenente João Santos, com excepção de<br />

algumas assinaladas no artigo.


Pedro Soares Branco *<br />

O Uniforme de 1895 para Oficiais de Cavalaria<br />

Em 1895, a cavalaria portuguesa era constituída por<br />

uma Direcção Geral, pelo Estado-Maior da Arma, pela<br />

sua Escola Prática e por dez regimentos: dois de Lanceiros, com<br />

os números 1 e 2 e os restantes de Caçadores a cavalo, com os<br />

números 3 a 10. Alguns destes regimentos eram portadores<br />

de títulos honoríficos, quase sempre associados a um<br />

comandante honorário. Era o caso do regimento de cavalaria<br />

n.º 1, “lanceiros de Victor Manuel”, do n.º 2, “lanceiros de<br />

El-Rei”, do n.º 4, “do Imperador Guilherme II da Alemanha” e<br />

do n.º 8, “do Príncipe Real”. A estes veio juntar-se, em 1901, o<br />

regimento de cavalaria n.º 3 “do Rei Eduardo VII de Inglaterra”.<br />

Ao longo de todo o século XIX, os uniformes militares<br />

sofreram constantes alterações e a cavalaria não foi excepção.<br />

Até mesmo o plano de uniformes de 1885, que se pretendia<br />

duradouro, tinha acabado por sofrer o mesmo destino dos<br />

seus antecessores. Sujeito desde o início a uma série de<br />

modificações, acabou por ser abolido em 1892, com a adopção<br />

dum novo plano de uniformes. Este sofreu por sua vez diversas<br />

alterações, uma das quais, respeitante aos uniformes da<br />

cavalaria, foi aprovada por decreto de 6 de Junho de 1895,<br />

publicado na Ordem do <strong>Exército</strong> n.º 11, de 7 de Junho do<br />

mesmo ano.<br />

Desde 1892, o capacete dos oficiais de Lanceiros era de<br />

couro, com cimeira de marroquim e couro, aplicações de metal<br />

dourado, distintivos em metal prateado, laço nacional em seda,<br />

cordão em seda e penacho branco em “sedas de búfalo” (ou<br />

seja, pelo de iaque). O capacete dos oficiais de caçadores a<br />

Figura 1: capacetes para oficial de cavalaria, modelos de 1895.<br />

Ambos os capacetes apresentam o guarda-nuca guarnecido com uma<br />

virola de metal dourado. Notem-se as diferenças entre o capacete de<br />

oficial do regimento de cavalaria n.º 1, “lanceiros de Victor Manuel”<br />

(à esquerda) e o de oficial de caçadores a cavalo colocado no estadomaior<br />

de cavalaria (à direita), com o novo “descanso de penacho”<br />

adoptado em 1895. Os penachos eram usados em grande uniforme.<br />

UNIFORMES MILITARES<br />

cavalo era também de couro, com aplicações de metal dourado,<br />

distintivos em metal prateado, laço nacional em seda e penacho<br />

preto em “sedas de búfalo”. Em 1895, ambos os capacetes<br />

foram guarnecidos com uma virola de metal dourado no<br />

guarda-nuca. O capacete dos oficiais de lanceiros recebeu,<br />

além disso, um novo cordão “de oiro” (ou seja, de fio dourado)<br />

e o dos oficiais de caçadores a cavalo um elemento adicional<br />

para suporte do penacho, que passou a ser branco, em “sedas<br />

de búfalo” (figura 1).<br />

Para além das alterações nos capacetes foram adoptados,<br />

para oficiais de lanceiros e caçadores a cavalo, dois novos<br />

barretes, designados como “primeiro” e “segundo”. O<br />

“primeiro barrete” do modelo de 1895 (figura 2) era de pano<br />

azul ferrete, cor tradicional do exército português, guarnecido<br />

com duas listas de pano encarnado. Pano da mesma cor era<br />

também usado para os vivos e para o revestimento dum botão<br />

colocado no centro do tampo. Tinha pala de polimento preto e<br />

francalete de “trancelim de oiro” (ou seja, de cordão dourado)<br />

fixo com dois botões pequenos de metal dourado (figura 3). O<br />

emblema era de metal dourado e prateado e os distintivos<br />

(como o número do regimento ou a cifra do estado-maior) de<br />

Figura 2: “primeiro barrete” para oficial de cavalaria, modelo<br />

de 1895<br />

Este exemplar, identificável pelo<br />

padrão dos botões e pela letra<br />

“R” colocada sobre o emblema,<br />

pertenceu a um oficial de<br />

lanceiros na reserva. A partir de<br />

1902, a pala do primeiro barrete<br />

dos oficiais superiores de<br />

cavalaria passou a ter a orla<br />

decorada com um bordado a ouro.<br />

Figura 3: botões para oficial<br />

de cavalaria do modelo em<br />

uso em 1895.<br />

Os botões usados pelos oficiais de<br />

cavalaria a partir de 1885 deram<br />

continuidade aos modelos usados<br />

antes dessa data. Os botões dos<br />

oficiais de lanceiros ostentavam<br />

a legenda “morte” (simbolizada<br />

pela caveira sobre dois fémures<br />

cruzados) “ou glória”.<br />

37


38<br />

UNIFORMES MILITARES<br />

Figura 4: “segundo barrete” para oficial de cavalaria do<br />

modelo de 1895.<br />

Pormenor das estampas anexas<br />

ao decreto de 6 de Junho de 1895,<br />

publicadas na Ordem do <strong>Exército</strong><br />

n.º 11, de 7 de Junho do mesmo<br />

ano. A indicação precisa das<br />

medidas destinava-se à melhor<br />

orientação dos fabricantes.<br />

metal prateado. O “segundo barrete” (figura 4) destinava-se<br />

apenas a ser usado com o “segundo dolman”, no quartel, em<br />

bivaques ou em manobras. Era de pano ou tecido de malha<br />

azul ferrete, agaloado a seda preta, com laço nacional em cordão<br />

de seda e distintivo em metal que o regulamento original<br />

descreve como “branco” mas que era provavelmente prateado.<br />

As modificações introduzidas em 1895 incluíram também<br />

dois novos dolmans, designados como “primeiro” e<br />

“segundo”. O “primeiro dolman” (figura 5) era confeccionado<br />

em pano azul ferrete. Apertava ao meio do peito e possuía seis<br />

Figura 5: “primeiro dolman” para tenente de caçadores a cavalo,<br />

modelo de 1895.<br />

Das três abotoaduras, apenas a central servia efectivamente para<br />

abotoar. Para além da gola, o primeiro dolman dos oficiais de caçadores<br />

a cavalo distinguia-se do dos oficiais de lanceiros pelo padrão dos<br />

botões. A guarnição das costas, muito elaborada, apresentava dois<br />

botões grandes, semelhantes aos das abotoaduras do peito.<br />

Figura 6: S.M. El-Rei D. Manuel II, 1910.<br />

Fotografado nos estúdios Lazarus, em Lisboa, em 19 de Junho de<br />

1910, D. Manuel enverga o grande uniforme de coronel do regimento<br />

de cavalaria n.º 2, lanceiros de El-Rei. Note-se o “primeiro dolman”<br />

do modelo de 1895, com as casas de galão “fechadas” na gola e o<br />

calção de mescla azul clara com duas listas encarnadas do modelo de<br />

1892. Deste uniforme sobreviveu apenas o capacete, que se conserva<br />

no paço ducal de Vila Viçosa.<br />

alamares de cordão de torçal de seda preta com três fileiras de<br />

botões grandes de metal dourado. Nas costas e nas mangas<br />

apresentava guarnições de cordão igual ao dos alamares. A<br />

gola era de pano encarnado, com vivos encarnados e casa de<br />

galão dourado “fechada” para lanceiros e com vivos azul<br />

ferrete e casa de galão dourado “aberta” para caçadores a<br />

cavalo. Os canhões eram de pano encarnado com os<br />

distintivos da patente, tendo cada um dois botões pequenos<br />

de metal dourado e os bordos anterior, inferior e as aberturas<br />

laterais eram avivados de pano encarnado. O “primeiro<br />

dolman”, cuja adopção foi claramente influenciada pela moda<br />

militar europeia da época, foi sem dúvida um dos mais<br />

elegantes artigos de uniforme alguma vez usados no <strong>Exército</strong><br />

Português (figura 6). O “segundo dolman” ou “dolman de


Figura 7: Tenente de caçadores a cavalo, circa 1903.<br />

O Tenente Jayme Raul de Brito Carvalho da Silva, enverga o “segundo<br />

dólman” do modelo de 1895 e as calças de mescla azul-clara com duas<br />

listas encarnadas do modelo de 1892. Como ajudante-de-campo do director<br />

geral da secretaria da guerra, usa também cordões e agulhetas pendentes<br />

do ombro esquerdo. Sobre a gola, ostenta casas de galão “abertas” e traz,<br />

sobre o barrete, a capa branca para uso na "estação calmosa".<br />

flanela” do modelo de 1895 (figura 7) era confeccionado em<br />

flanela azul ferrete e apresentava algumas diferenças<br />

relativamente ao modelo em uso desde 1892, entre as quais se<br />

destacava a gola, que passou a ter casas de galão dourado<br />

iguais às do “primeiro dolman”.<br />

O talim adoptado em 1895 era de “polimento branco” (ou<br />

seja, cabedal tingido de branco) e dispunha de passadores<br />

para fixação de dois francaletes, do mesmo material, destinados<br />

a suspender a bainha da espada, também ela modificada em<br />

1895. Mais tarde, o talim foi adaptado à espada do modelo de<br />

1902, que era suspensa através de uma corrente metálica (figura<br />

8). O mesmo sistema continuou a ser usado após a adopção da<br />

espada do modelo de 1905.<br />

A bandoleira e a cartucheira eram do modelo adoptado em<br />

1892. A bandoleira, de “polimento branco” com 5 cm de largura,<br />

era usada a tiracolo, passando sobre o ombro esquerdo. A<br />

cartucheira (figura 9) era de “polimento preto” com aplicações<br />

UNIFORMES MILITARES<br />

Figura 8: talim com espada e coldre, circa 1902.<br />

Em 1902, o talim passou a ter apenas um passador, que se destinava a<br />

fixar uma corrente metálica para suspensão da espada. O botão do fiador<br />

permite atribuir este conjunto<br />

a um oficial de<br />

caçadores a cavalo. O coldre<br />

do revólver “Abadie”<br />

era de “polimento preto”.<br />

O talim era colocado<br />

por cima do dolman<br />

sempre que o oficial usava<br />

revólver.<br />

Figura 9: cartucheira para oficial de caçadores a cavalo, modelo<br />

de 1892.<br />

O emblema da cartucheira,<br />

colocado entre a grinalda e a<br />

coroa real, era diferente para os<br />

caçadores a cavalo e para os<br />

lanceiros, que usavam respectivamente<br />

duas espadas (com os<br />

copos para baixo e para fora) ou<br />

duas lanças cruzadas.<br />

Figura 10: charlateiras para<br />

oficial de caçadores a cavalo,<br />

modelo de 1892.<br />

As charlateiras dos oficiais de<br />

cavalaria eram de metal dourado,<br />

com seis escamas, assentes sobre<br />

pano encarnado. Os botões eram<br />

do padrão adoptado para os<br />

caçadores a cavalo (caso destes<br />

exemplares) ou para os lanceiros.<br />

de metal dourado. A bandoleira e a cartucheira constituíam um<br />

distintivo de serviço e faziam ainda parte do grande uniforme.<br />

As charlateiras (figura 10), usadas com o “primeiro dolman”,<br />

eram também do modelo adoptado em 1895.JE<br />

Fotografias: Jaime Regalado (Colecção Particular)<br />

* Médico. Membro da Academia Nacional de Belas Artes. Consultor<br />

do Museu Militar.<br />

Bibliografia:<br />

Almanach do <strong>Exército</strong> referido a 31 de Dezembro de 1905,<br />

Imprensa Nacional, Lisboa, 1906.<br />

Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1885, edição da<br />

Revista Militar, 1885.<br />

Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1892, edição da<br />

Revista Militar, 1892.<br />

Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1895, 1.ª Série,<br />

Imprensa Nacional, Lisboa, 1896.<br />

Colecção das Ordens do <strong>Exército</strong> do Anno de 1902, 1.ª Série,<br />

Imprensa Nacional, Lisboa, 1902.<br />

Kube, Jan K., Militaria − A study of German Helmets & Uniforms<br />

1729-1918, Schiffer Military History, 1990.<br />

Nobre, Eduardo: Família Real. Álbum de Fotografias. Quimera,<br />

2002.<br />

Regalado, Jaime: Cuamatos, 1907. Tribuna da História, 2004.<br />

Soares Branco, Pedro, Coberturas Militares Portuguesas, 1740-<br />

1918. Inapa, 2000.<br />

Soares Branco, Pedro, Portugal Militar, 1740-1918. Inapa, 2003.<br />

39


40<br />

Tenente-Coronel Manuel Maria Barreto Rosa<br />

Comando Operacional<br />

“Estamos no bom caminho. O <strong>Exército</strong> Português,<br />

em termos internacionais, no seio da NATO e União<br />

Europeia, é um <strong>Exército</strong> a caminho da excelência”.<br />

Chefe de Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />

General Pinto Ramalho.<br />

Entre 8 e 16 de Outubro de 2009, decorreu o<br />

principal exercício anual do <strong>Exército</strong> −<br />

ORION 09, planeado e conduzido com a finalidade<br />

de exercitar e testar as capacidades das unidades da<br />

Força Operacional Permanente do <strong>Exército</strong>. Comandado<br />

a partir de um Centro de Operações renovado<br />

e modernizado, localizado no Comando Operacional<br />

do <strong>Exército</strong> em Oeiras, o exercício decorreu na<br />

modalidade de CPX e envolveu toda a estrutura do<br />

<strong>Exército</strong>, com principal destaque para as forças das<br />

Brigadas Mecanizada, Intervenção e Reacção Rápida<br />

e algumas das forças de Apoio Geral, que se constituíram<br />

como audiências primárias de treino e participaram<br />

com forças na modalidade LIVEX.<br />

Para o exercício ORION 09 foram determinados<br />

dois grandes objectivos: executar o treino dos planos<br />

de segurança e de defesa das unidades, estabelecimentos<br />

e órgãos do <strong>Exército</strong>; treinar a Força Opera-<br />

cional Permanente do <strong>Exército</strong> na condução de operações<br />

de contenção de acções terroristas, envolvendo<br />

acções de estabilização, de natureza humanitária e<br />

operações de alta intensidade associadas a operações<br />

de informação centradas em rede, no âmbito de<br />

uma Operação de Resposta a Crises.<br />

Para o efeito foi criado um cenário fictício que<br />

transformou a Península Ibérica em Península de<br />

Condelândia e Portugal em Condugal. Com fronteiras<br />

terrestres a Norte e Este com um país designado<br />

por Castelão e limitado a Sul e Oeste pelo Mar Oceano,<br />

Condugal vive num ambiente de guerra civil<br />

que envolve duas etnias: os Cernes e os Alares. O<br />

cenário de possível alastramento do conflito aos<br />

países vizinhos determinou a necessidade da<br />

implementação de uma missão multinacional de<br />

imposição de paz em Condugal, a United Nations<br />

Mission in Condugal (UNMICOND) e, consequentemente,<br />

a projecção para Condugal de uma força<br />

militar com a finalidade de fazer cumprir a Resolução<br />

das Nações Unidas e impor a paz no território. A<br />

Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN)<br />

aceitou o convite das Nações Unidas para assumir<br />

a componente militar da operação tendo, inicialmente,<br />

a força militar sido designada por Condugal Im-


plementation Force (CONDIFOR). Com o evoluir<br />

da situação a organização da componente militar<br />

foi revista e a CONDIFOR rendida pela Condugal<br />

Stabilization Force (CONDSFOR), encontrando-se<br />

o Comando da Componente Terrestre desta força<br />

sob liderança nacional e as unidades da Força<br />

Operacional Permanente do <strong>Exército</strong> enquadradas<br />

na estrutura da Componente.<br />

À data de início do exercício, todas as forças se<br />

encontravam em território nacional, em aprontamento<br />

para a missão e a conduzirem todas as tarefas<br />

inerentes à projecção da força para CONDUGAL.<br />

Durante este período, membros mais radicais das<br />

duas etnias assumiram uma posição de forte<br />

contestação à decisão politica nacional de contribuir<br />

com forças para a CONDSFOR e iniciaram um<br />

conjunto actos de terrorismo, tumultos, sabotagens<br />

a áreas sensíveis e infiltrações em unidades militares<br />

nacionais, com vista a destabilizar e desacreditar a<br />

capacidade militar nacional. Foi com base neste<br />

cenário inicial que foram testados os planos de<br />

segurança e de defesa das unidades, estabelecimentos<br />

e órgãos do <strong>Exército</strong>, através da alteração<br />

gradual dos estados de segurança e da simulação<br />

de incidentes específicos. Nesta fase do exercício,<br />

estiveram envolvidas todas as unidades do Sistema<br />

de Forças Nacional - <strong>Exército</strong> tendo, durante a<br />

implementação do Estado de Alerta DELTA, sido<br />

empenhados cerca de 16500 militares.<br />

Após esta fase inicial, de modo a concretizar o<br />

objectivo de treinar a Força Operacional Permanente<br />

do <strong>Exército</strong> no quadro de uma Operação de Resposta<br />

a Crises, o cenário colocou todas as forças militares<br />

nacionais da CONDSFOR no Teatro de Operações<br />

de CONDUGAL.<br />

Para a condução da Operação de Estabilização o<br />

território foi dividido em três sectores: o sector Norte<br />

foi atribuído à Brigada de Intervenção, o sector Centro<br />

à Brigada Mecanizada e sector Sul a uma Brigada<br />

Italiana. À Brigada de Reacção Rápida foi atribuída a<br />

missão de reserva e o comando das operações foi<br />

exercido a partir do Comando da Componente Terrestre,<br />

localizado no Comando Operacional do <strong>Exército</strong> em<br />

Oeiras. Durante esta fase do exercício, as principais<br />

acções decorreram nas regiões de Figueira da Foz,<br />

Tancos e Santa Margarida, onde ficou bem<br />

evidenciada a capacidade do <strong>Exército</strong> para responder<br />

a todo o espectro de missões: acções de estabilização,<br />

acções de apoio às populações, acções de interposição<br />

e acções de carácter convencional. Para além do treino<br />

de procedimentos nos postos de comando das forças<br />

que participaram no exercício e da tomada de decisão<br />

dos comandantes aos vários níveis, merecem particular<br />

destaque todas as acções que permitiram<br />

consolidar a implementação de novas capacidades<br />

41


42<br />

O General José Luís Pinto Ramalho manifestou a sua satisfação com o<br />

cumprimento dos objectivos definidos para o exercício.<br />

no <strong>Exército</strong>, nomeadamente:<br />

- Exercer o comando e controlo da Componente<br />

Terrestre a partir do Centro de Operações Terrestres<br />

do Comando Operacional do <strong>Exército</strong> e monitorizar<br />

em tempo real a situação das Brigadas e das Zonas<br />

Militares. Para atingir este objectivo de primordial<br />

importância, foram utilizadas as novas funcionalidades<br />

de Comunicações e Sistemas de Informação<br />

(CIS) do Centro de Operações Terrestres (COT) e o<br />

Sistema de Informação, Comando e Controlo do<br />

<strong>Exército</strong> (SICCE).<br />

- Testar um Comando de Brigada com a finalidade<br />

de garantir a prazo a sua certificação OTAN e seu<br />

posterior empenhamento operacional.<br />

Para o efeito foi projectado<br />

para a região da Figueira de Foz o<br />

QG da Brigada de Intervenção e<br />

testado o seu funcionamento<br />

utilizando o Sistema de Informação<br />

e Comunicações Táctico (SIC-T),<br />

com equipamentos interoperáveis e<br />

capacidade de ligação em rede.<br />

- Testar as recém levantadas<br />

capacidades no domínio Intelligence,<br />

Surveillance, Target Aquisition<br />

and Reconnaissance (ISTAR),<br />

para apoiar uma unidade de escalão<br />

Brigada. Para concretizar este<br />

objectivo foram colocados no<br />

terreno, sob controlo operacional<br />

da Brigada de Intervenção, o<br />

Comando do Batalhão ISTAR,<br />

meios de aquisição de objectivos e<br />

meios de guerra electrónica com capacidade de<br />

radiolocalização móvel, meios de guerra de informação,<br />

unidades de reconhecimento e operações<br />

especiais.<br />

- O Elemento da Guerra de Informação foi<br />

empregue pela primeira vez nos exercícios da série<br />

ORION, nas suas componentes de Elemento Coordenador<br />

das Operações de Informação (Info Ops)<br />

e de Computer Incident Response Capability (CIRC),<br />

visando a obtenção da superioridade de informação<br />

no campo de batalha a todas as unidades da força.<br />

- Testar a capacidade do Elemento de Defesa<br />

Biológica e Química (BQ) em acções de<br />

reconhecimento e identificação de um possível<br />

agente químico e acções de descontaminação.<br />

- Exercitar o emprego das Forças de Operações<br />

Especiais em missões de reconhecimento especial<br />

e de acção directa para captura de um líder terrorista.<br />

Durante o exercício ORION 09, o General José Luís<br />

Pinto Ramalho, Chefe do Estado-Maior do <strong>Exército</strong>,<br />

visitou o Comando da Componente Terrestre em<br />

Oeiras, nos dias 9 e 14 de Outubro; acompanhado<br />

pelo grupo de adidos militares acreditadas em Portugal<br />

e alguns órgãos comunicação sociais nacionais e<br />

o Comando das Brigadas Mecanizada, Intervenção e<br />

Reacção Rápida, em 15 de Outubro, acompanhado<br />

por entidades civis e militares.<br />

Numa breve alocução realizada no decurso da<br />

visita realizada às Brigadas, o General Chefe do<br />

Estado-Maior do <strong>Exército</strong>, manifestou a sua<br />

satisfação com o cumprimento dos objectivos<br />

definidos para o exercício e o produto final atingido<br />

em todas as acções desenvolvidas durante o mesmo.<br />

Durante a sua intervenção, pediu a todos que<br />

reflectissem “… no que foram os exercícios Orion em


2008 e 2009, e a verificarem os projectos em que o<br />

<strong>Exército</strong> se envolveu e concretizou, durante o último<br />

ano” .<br />

Outras linhas de força do seu discurso foram a<br />

do “… salto qualitativo verificado em áreas como o<br />

Comando e Controle, a Guerra da Informação, …”,<br />

“…o esforço que foi feito na Brigada de Intervenção<br />

para colocar no terreno um QG pronto para certificação<br />

nacional e emprego operacional fora do território<br />

nacional…”, e “… que a excelência do produto<br />

final atingido em todas as actividades em que o<br />

<strong>Exército</strong> participa, em Território Nacional ou no exterior<br />

do mesmo, só é possível atingir devido à<br />

prioridade colocada pelo <strong>Exército</strong> na formação e no<br />

treino, e com a dedicação e profissionalismo de todos<br />

os militares que servem no <strong>Exército</strong>…”.<br />

Com o final de mais um exercício da série ORION,<br />

que correspondeu ao culminar de um ciclo de treino<br />

operacional destinado a integrar as várias capacidades<br />

das unidades operacionais do <strong>Exército</strong>, ficou<br />

demonstrada a capacidade do <strong>Exército</strong> para actuar<br />

em todo o espectro da conflitualidade e para responder<br />

com prontidão às solicitações do presente<br />

e aos desafios do futuro.JE<br />

Fotos de CAVE<br />

43


44<br />

Livros<br />

João José Brandão Ferreira − “Em<br />

Nome da Pátria”<br />

Dulce et decorum est pro patria mori, citado de<br />

Horácio nas suas Odes, poderia ser um outro título<br />

para este livro, cujo tema é, só por si, extremamente apelativo<br />

e glorioso, porque nada é mais sagrado em termos humanos<br />

do que aquela que consiste na mui nobre e séria arte de<br />

fazer a guerra, na defesa da Pátria.<br />

Brandão Ferreira descreve, de uma forma muito clara e<br />

desinibida, numa obra com 588 páginas, o que foi e é Portugal,<br />

cuja História foi feita muitas vezes com sangue derramado,<br />

para que se pudesse cumprir. A primeira parte do livro faznos<br />

recordar a História do séc. XX, acompanhada pelos<br />

números que, pela sua objectividade, não enganam.<br />

Portugal soube sempre estar na comunidade internacional,<br />

muitas vezes contra os ventos que sopravam, alguns<br />

violentos, contra a sua posição no mundo do pós-guerra,<br />

onde tínhamos conseguido manter aquilo que na História<br />

foi designado por territórios de além-mar, por colónias, por<br />

províncias ultramarinas, e por Império no Estado Novo.<br />

Mas esse Estado já vinha de longe. Estivemos envolvidos<br />

em guerras nos finais do séc. XVI e quase todo o século<br />

XVII. Portugal conseguia manter o seu estatuto de grande<br />

País, cuja primeira fractura só ocorre com a perda do Brasil,em<br />

1822, por iniciativa portuguesa.<br />

O século XX começa mal, com as campanhas ultramarinas<br />

face ao ultimato inglês, que nos obriga a ocupar e combater<br />

em África. A 1.ª Grande Guerra, com os seus milhares de<br />

mortos envolvidos nos teatros de operações em França e<br />

Àfrica, contribuiram, apesar de tudo, para a vitória dos<br />

Aliados, e o seu reconhecimento internacional no desfil da<br />

vitória. A 2.ª Guerra passa-nos ao lado, mercê da extraordinária<br />

actividade diplomática de Oliveira Salazar que, no final do<br />

conflito, é um vencedor, sendo Portugal um dos países<br />

fundadores da NATO, em 1949, e admitido nas Nações Unidas<br />

em 1955.<br />

Mas os ventos da História estavam a mudar e, com as<br />

descolonizações do pós-guerra, depois da conferência de<br />

Bandung, o inimigo era Portugal, que se atrevia a deter as<br />

suas posições em África e na Índia! Era tudo uma questão<br />

de tempo. Cai a Índia em1961 e, nesse mesmo ano, começa o<br />

terrorismo em Angola, espalhando-se posteriormente por<br />

Moçambique e pela Guiné. Mas, desta vez, as Forças Armadas<br />

estavam preparadas para aquele que foi considerado o mais<br />

longo teatro de operações alguma vez percorrido por um<br />

país com pouco mais de nove milhões de habitantes, que<br />

conseguiu, a determinada altura, ter quase 240 mil homens<br />

disseminados por todo o Império.<br />

O Tenente-Coronel Brandão Ferreira desmonta, com uma<br />

clareza esmagadora, os principais mitos que se criaram,<br />

designadamente a insustentabilidade da guerra, a solidão<br />

de Portugal face ao mundo, a durabilidade da guerra, a<br />

vontade de independência das populações etc., etc.<br />

Mas o facto mais determinante e fracturante do século<br />

XX é o golpe de estado do 25 de Abril de 1974, já lá vão 35<br />

anos, que mudou o mundo em que vivíamos, que acelerou a<br />

Guerra Fria e desencadeou fenómenos incontroláveis<br />

naqueles territórios que detínhamos há 550 anos.<br />

O que não se pode negar, de modo algum, é o facto mais<br />

do que provado de que as nossas Forças Armadas souberam,<br />

com denodo, coragem, abnegação, generosidade e<br />

grandiosidade, cumprir Portugal até ao dia em que o poder<br />

político emergente da revolução e os ventos da História as<br />

obrigaram a desistir.<br />

Brandão Ferreira escreveu um livro notável pelo tema e<br />

pela história que nos dignifica e que demonstra, tal como o<br />

signatário, sentir uma enorme honra por pertencer à mais<br />

antiga instituição portuguesa, repositório das mais antigas<br />

e nobres tradições.<br />

Para as novas gerações, um livro de História Portuguesa,<br />

para as mais antigas é uma recordação daquilo que<br />

fomos no mundo.<br />

Tenente-Coronel Pinto Bessa<br />

FERREIRA, João José Brandão, Em Nome da Pátria, Livros<br />

d`Hoje, Publicações D. Quixote, Mirandela, 2009, 588 páginas. Preço<br />

15,00Euros


“As Transmissões Militares − da<br />

Guerra Peninsular ao 25 de Abril”, da<br />

Comissão Portuguesa de História<br />

Militar<br />

“<br />

As transmissões são tão velhas como as guerras, que<br />

são tão velhas como a humanidade. A Arma de<br />

Transmissões é a mais jovem do <strong>Exército</strong> Português. Foi<br />

criada para a guerra colonial e nela se desenvolveu<br />

cumprindo bem as missões que lhe competiam. Esteve<br />

presente nos alvores de Abril. Foi decisiva na madrugada<br />

libertadora.”<br />

Nestas brevíssimas, mas tão profundas ideias, se<br />

condensou um projecto que resultou agora em livro. Em As<br />

Transmissões Militares − da Guerra Peninsular ao 25 de<br />

Abril, a Comissão da História das Transmissões (criada adhoc<br />

em 2006) propôs-se a investigar a história da Arma de<br />

Transmissões, desde a génese das comunicações militares<br />

até aos tempos modernos, demorando-se, no entanto, em<br />

três importantes marcos do séc. XX português: a Primeira<br />

Livros<br />

Guerra Mundial, a<br />

Guerra Colonial e o 25<br />

de Abril de 1974. Os<br />

autores, militares do<br />

25 de Abril, traziam<br />

ainda com eles um<br />

alargado e experiente<br />

conhecimento do período<br />

abordado, sobretudo<br />

desde a década<br />

de 50 daquele<br />

século, ao que se aliou<br />

um fecundo espírito<br />

de missão e capacidade<br />

de trabalho,<br />

de onde germinou<br />

esta obra.<br />

Pelo seu conteúdo,<br />

mesmo tendo em conta a delimitação do tema, o livro<br />

constitui um relevante documento de estudo e de interesse<br />

para eruditos, historiadores e especialistas de várias<br />

disciplinas.<br />

AFONSO, Aniceto (Coord.), As Transmissões Militares − da<br />

Guerra Peninsular ao 25 de Abril, Edição da Comissão Portuguesa de<br />

História Militar, Lisboa, 2008.<br />

Nuno Álvares Pereira<br />

Nuno Álvares Pereira<br />

nasceu em<br />

Cernache do Bonjardim no<br />

dia 24 de Julho de 1360,<br />

décimo terceiro filho do prior<br />

do Hospital, Álvaro Gonçalves<br />

Pereira e o primeiro<br />

de Iria Gonçalves do Carvalhal.<br />

Jaime Nogueira Pinto<br />

apresenta-nos, quase 600<br />

anos após a sua morte,<br />

uma biografia do homem e<br />

da época, revelando o seu<br />

carácter e o seu percurso<br />

na história de Portugal.<br />

A biografia actualizada do pajem, do cavaleiro, do chefe<br />

militar e do homem de fé que foi Nun`Alvares, vivida na<br />

Idade Média, uma época marcada por convulsões políticosociais<br />

e pela Guerra dos Cem Anos são o ponto de partida<br />

para a mesma, juntamente com documentos actualizados de<br />

fontes tradicionais.<br />

Foi Nuno Álvares Pereira quem guardou a nação<br />

independente, preparando-a para o novo tempo português<br />

de navegação e expansão além-mar.<br />

PINTO, Jaime Nogueira, Nuno Álvares Pereira, Esfera dos Livros.<br />

1ª Edição, Lisboa, 2009.<br />

45


46<br />

PASSATEMPOS DE OUTROS TEMPOS<br />

in Jornal do <strong>Exército</strong> n.º 12 de Dezembro de 1960<br />

Soluções deste número:<br />

1 - Planta à esquerda; 2 - Divisas do cabo; 3 - Boca do cabo; 4 - Terreno atrás do carro de combate; 5 - Tinta na lata; 6 - Arma do inimigo;<br />

7 - Polegar do homem à direita; 8 - Perna do homem à direita.<br />

Pretendo assinar o Jornal do <strong>Exército</strong><br />

Para encomendar basta fotocopiar o cupão e enviar para ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO – Secção de<br />

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VALE POSTAL: junto envio o vale postal n.º ______________ no valor de ___________________________


Cronologia<br />

1357 (11Abril) – Nasce<br />

em Lisboa.<br />

1364 – Armado cavaleiro<br />

por seu pai, o rei D.<br />

Pedro; preenche a vacatura<br />

do Mestrado da<br />

Ordem de Avis.<br />

1383 (Dezembro) –<br />

Mata o Conde Fernandes<br />

Andeiro; escolhido pelos<br />

cidadãos de Lisboa para<br />

regedor e defensor do<br />

reino de Portugal e do<br />

Algarve.<br />

1384 – Resiste em Lisboa<br />

ao apertado cerco desencadeado<br />

por João I de<br />

Castela (Maio-Setembro).<br />

1385 – É escolhido para<br />

rei nas Cortes de Coimbra<br />

(6 de Abril). Vence o<br />

<strong>Exército</strong> de Castela em<br />

Aljubarrota (14 de Agosto).<br />

1386 – Acordo de Ponte<br />

do Mouro com o Duque<br />

de Lencastre e acerto de<br />

casamento com D. Filipa.<br />

1389 – Cerca e toma Tui<br />

(Agosto-Outubro).<br />

1393 – Tréguas entre<br />

Portugal e Castela por 15<br />

anos (Maio).<br />

1396 – Ataca e toma<br />

Badajoz (12 de Maio).<br />

1411 – Tratado de Paz de<br />

Ayllón-Segóvia, com<br />

Castela (31 de Outubro).<br />

1415 – Desembarque<br />

em Ceuta e tomada da<br />

Praça (21 de Agosto);<br />

início da Expansão<br />

Portuguesa.<br />

1418-1427 – Reconhecimento<br />

do arquipélago da<br />

Madeira e descobrimento<br />

das ilhas açorianas.<br />

1432 – Assina o Tratado<br />

de Medina del Campo,<br />

de paz perpétua, com<br />

Castela (27 de Janeiro).<br />

1433 (14 de Agosto) –<br />

Morte de D. João I<br />

(calendário religioso).<br />

D. João I e a Tomada de Ceuta<br />

O Comandante<br />

Aos 11 dias do mês de Abril de 1357, presume-se,<br />

nascia em Lisboa o pequeno<br />

João, filho ilegítimo do rei D. Pedro e de uma<br />

dama galega de nome Teresa Lourenço. Desde<br />

cedo entregue aos cuidados do Mestre da<br />

Ordem de Cristo, Nuno Freire de Andrade, com o<br />

desígnio de ser orientado para a carreira<br />

monástica militar, cresceu a pisar o tavolado da<br />

casa de Avis, pois com apenas sete anos<br />

preenche a vacatura do mestrado da ordem, por<br />

morte de D. Martim de Avelar. Educado, então,<br />

para dirigir uma das mais importantes ordens<br />

religioso-militares, recebeu instrução aprimorada<br />

que, além de conhecimentos da doutrina da<br />

Igreja, compreendia noções de direito canónico,<br />

de administração pública e, naturalmente, da<br />

prática militar inerente à ordem.<br />

Fundador da Dinastia de Avis, foi aclamado<br />

regedor e defensor do reino pelo povo de Lisboa<br />

na crise da sucessão de D. Fernando (1383),<br />

tendo mais tarde, em 1385, sido eleito rei de<br />

Portugal nas Cortes de Coimbra, depois de João<br />

das Regras ter habilmente provado a ilegitimidade<br />

dos filhos de Inês de Castro e argumentado que<br />

dos filhos de D. Pedro I só o Mestre de Avis<br />

tinha direito ao trono. Aliás, D. João I teve o<br />

mérito de se rodear de homens de elevado valor:<br />

o próprio João das Regras, expedito e astucioso<br />

jurisconsulto, e o padrasto deste, Álvaro Pais,<br />

grande mentor da revolta, além do ilustre Nuno<br />

Álvares Pereira, homem de espada firme e<br />

convicções profundas.<br />

Segundo consta, a prudência (que alguns<br />

erradamente apelidam de pusilanimidade) era a<br />

sua principal característica; demonstrou-a como<br />

mestre e rei, desde o cerco de Lisboa e<br />

Aljubarrota a Ceuta, contribuindo para o clima de<br />

paz que então Portugal atravessou, no meio de<br />

uma profunda crise económica e demográfica e de<br />

um enorme descalabro financeiro. Evidenciando,<br />

no início, pouca apetência para a chefia,<br />

aumentou e consolidou a sua autoridade ao<br />

longo do reinado, em resultado das suas<br />

competências na coisa pública, da elevada<br />

capacidade de aprendizagem e da firmeza de<br />

carácter, cioso em conservar o poder junto de si e<br />

pouco atreito a contraditórios nas suas decisões.<br />

Elevado à condição de herói militar pelos feitos<br />

Autores<br />

D. João I (estátua no Campo Grande, Lisboa).<br />

em Aljubarrota e Ceuta, foi esta última que lhe<br />

garantiu fama em toda a cristandade. Foi um<br />

combatente que sempre condicionou as suas<br />

batalhas a imperativos de ordem moral e de<br />

interesse do Estado: durante o seu reinado, não<br />

só se consolidou definitivamente a<br />

independência, como se deu à Europa, pelo<br />

exemplo português, uma nova imagem de<br />

legitimidade do poder real; iniciaram-se as<br />

navegações e as conquistas; Portugal tornou-se<br />

respeitado em todas as cortes; criaram-se novas<br />

estruturas sociais e mobilizou-se um povo inteiro<br />

para a construção do futuro, numa união<br />

exemplar entre a nação e o seu líder.<br />

D. João I morre a 14 de Agosto de 1433 com 76<br />

anos de idade, precisamente 48 anos após a<br />

batalha de Aljubarrota, deixando um legado de<br />

“boa memória” (o seu cognome). Rei justo,<br />

vitorioso, devoto e culto, legou o projecto da<br />

portugalidade na Ínclita Geração, os filhos do<br />

seu casamento com D. Filipa de Lencastre, que<br />

garantiram o devir da Nação.<br />

61


62<br />

Enquadramento<br />

Político – Estratégico da Época<br />

Contextualizar a batalha de Ceuta no período<br />

correspondente ao final da Idade Média resulta<br />

num exercício complexo, pois as inúmeras variáveis<br />

em presença – de carácter político, estratégico,<br />

económico e social –, e a distância temporal<br />

dos acontecimentos, associada às variadas<br />

interpretações históricas, dificultam uma análise<br />

que se pretende sucinta. Para a clareza necessária,<br />

interessa perceber lógicas nos espaços<br />

europeu, ibérico e norte-africano vincando,<br />

naturalmente, o espaço nacional, prima facie no<br />

que concerne às razões da opção africana.<br />

Na Europa, a conjuntura de então era marcada<br />

por uma recessão económica com causas diversas,<br />

como a peste negra, a fome, a falta de mãode-obra,<br />

a crise agrícola, o arrefecimento climático<br />

e, principalmente, a Guerra dos Cem Anos, conflito<br />

entre a França e a Inglaterra, que envolveu o<br />

continente e atingiu transversalmente todas as<br />

classes, provocando profundas transformações<br />

na vida social, política e económica. Além dos<br />

escravos, necessários para suprir a falta de mãode-obra,<br />

importantes matérias-primas escasseavam<br />

– como o ouro, a prata, o trigo de África e<br />

especiarias orientais –, aumentando exageradamente<br />

o seu preço; a necessidade urgente de<br />

adquirir directamente a riqueza nos mercados<br />

internacionais estava limitada pelo monopólio<br />

das rotas das especiarias e do ouro, detido pelos<br />

mercadores italianos; havia enorme dificuldade<br />

em atingir a Rota da Seda, que os àrabes fecharam<br />

ao comércio cristão. Apesar de alguma experiência<br />

de navegação no Mediterrâneo e de instrumentos<br />

que já permitiam navegação astronómica,<br />

faltava aprofundar os conhecimentos técnicos e a<br />

construção naval que permitisse sulcar o oceano<br />

e, assim, aceder às fontes de riqueza que se sabia<br />

existirem no interior de África, nas Índias e no<br />

Extremo Oriente.<br />

Em território marroquino, no reino de Fez, sede do<br />

império almóada da dinastia Marinida, vivia-se<br />

também um período de recessão económica,<br />

agravada pela decadência política iniciada com a<br />

derrota na batalha do Salado (já tratada neste<br />

Jornal); é um reino fragmentado e enfraquecido<br />

pela ausência de unidade, em que cidades como<br />

Fez, Ceuta, Tânger ou Marraquexe rivalizam entre<br />

si. À época, Ceuta – uma das Colunas de<br />

Hércules, a par de Gibraltar – era uma cidade de<br />

elevada importância religiosa, económica e militar,<br />

com inúmeras madrassas, um excelente porto,<br />

terrenos agrícolas férteis, uma grande capacidade<br />

defensiva e, fundamentalmente, uma enorme<br />

importância estratégica em relação ao controlo do<br />

estreito de Gibraltar.<br />

No âmbito peninsular, após mais um período de<br />

guerra ocorrido entre 1396-1398, as relações de<br />

Portugal com Castela são marcadas por um<br />

período de paz (Tratado de 1411) que, por um<br />

lado, permitia retomar o espírito da reconquista<br />

em favor de um ideal religioso comum e, por<br />

outro, possibilitava à Monarquia Portuguesa<br />

orientar os esforços na demanda de outros<br />

horizontes, procurando, definitivamente, marcar<br />

a sua individualidade e prestígio, enquanto<br />

Nação importante da Europa cristã. Ainda na<br />

Península, os muçulmanos iam conseguindo<br />

sustentar o reino de Granada e, apesar de<br />

perderem influência no território, controlavam o<br />

estreito de Gibraltar, asfixiando a navegação<br />

cristã no Mediterrâneo e no Atlântico.<br />

Encravado entre os reinos da península e o<br />

imenso «mar oceano», a localização privilegiada<br />

de Portugal proporciona-lhe uma série de<br />

vantagens que urgia aproveitar. Com a sua<br />

enorme costa a Oeste e a Sul, o reino era ponto<br />

de afluência de trajectórias comerciais de<br />

diversa origem, desde a costa setentrional<br />

africana ao Báltico, associando mercados<br />

italianos, árabes e europeus. Paralelamente, a<br />

sua relação com o mar permitia a Portugal deter<br />

uma notável infra-estrutura de construção naval,<br />

apoiada por importantes conhecimentos de<br />

navegação e respectivos instrumentos,<br />

cartografia e astronomia, aprendidos no<br />

contacto com comerciantes e marinheiros das<br />

diversas proveniências e na própria experiência.<br />

Eixo natural de expansão, o mar afigurava-se<br />

como factor de identidade talassocrático e, ao<br />

mesmo tempo, de diferenciação em relação aos<br />

outros reinos da Península, incorporando<br />

plenamente a ideia de que um país que tem um<br />

mar nunca é pequeno!<br />

Das razões da opção africana (atlântica),<br />

realçamos as de carácter político, religioso, social,<br />

militar e económico que, no seu conjunto,<br />

enformam os objectivos estratégicos de então.<br />

Politicamente, interessava cunhar definitivamente<br />

a soberania no contexto peninsular e granjear<br />

prestígio internacional junto de outros reinos e<br />

da Santa Sé, melhorando a imagem de um reino<br />

pobre e periférico, marcado pela conturbada<br />

subida ao trono de um rei bastardo. No âmbito<br />

religioso, os argumentos da luta aos infiéis, da<br />

expansão da fé cristã e o apoio à expulsão dos<br />

mouros da península, sustentam o desejo e a


Rotas comerciais na África do Norte e do Centro no século XV.<br />

necessidade de deter possessões no Norte de<br />

África, prolongando o ideal da reconquista ao<br />

aniquilar os mouros no seu próprio território. No<br />

quadro social, a burguesia, a nobreza e o clero<br />

partilhavam interesses económicos, religiosos e<br />

militares, associando a já referida expansão da fé<br />

cristã, as oportunidades de comércio em Ceuta e<br />

a ocupação de uma nobreza guerreira em período<br />

de paz com Castela, permitindo também saldar a<br />

persistente aspiração dos príncipes em serem<br />

armados cavaleiros em combate. Militarmente, o<br />

controlo do estreito de Gibraltar e das vias<br />

marítimas, o combate à pirataria e a posse de uma<br />

testa-de-ponte em África, que facilitasse<br />

eventuais acções ulteriores em direcção ao<br />

continente africano ou mesmo em direcção à<br />

própria Península, eram objectivos úteis,<br />

Nova História Militar de Portugal, Vol. III<br />

possíveis e galvanizadores do aparelho militar.<br />

Do ponto de vista da economia interessava,<br />

fundamentalmente, diversificar as fontes de<br />

matérias-primas e de produção e aceder e<br />

controlar novas rotas de comércio, mitigando<br />

assim a recessão económica que então se vivia.<br />

Para tal, Ceuta, afigurava-se uma óptima<br />

oportunidade, não só porque aí abundavam<br />

cereais (de que Portugal estava muito carente),<br />

gado, peixe, minérios e têxteis, mas também<br />

porque constituía um cobiçado centro de<br />

afluência e passagem das rotas mercantis<br />

oriundas do interior do continente africano –<br />

principalmente do ouro e escravos que Portugal e<br />

a Europa tanto necessitavam – e permitia<br />

importantes receitas dos serviços de frete<br />

envolvidos nas rotas comerciais.<br />

63


64<br />

Duas naus (séc. XIV e XV) e uma galé (séc. XIV e XV).<br />

Arte da Guerra<br />

e Aparelhos Militares<br />

A arte da guerra e a componente terrestre do<br />

aparelho militar português percebidas em 1415<br />

não diferem muito dos anos precedentes, já<br />

caracterizadas aquando da batalha de Atoleiros.<br />

Interessa, por isso, aprofundar as<br />

particularidades da época no que concerne à<br />

componente naval. Os navios que existiam no<br />

início do século XV – galés, galeotas, pinácias,<br />

caravelas, barcas, urcas e naus – possuíam<br />

características e finalidades diversas, desde o<br />

combate ao apoio logístico. Como mais utilizados<br />

nos combates permaneciam ainda as galés,<br />

impulsionadas a remos, apesar de algumas já<br />

disporem de uma pequena vela; as mais<br />

possantes eram as de três andares de remadores<br />

– os trirremes – mas também as havia de um só<br />

andar, as galeotas. As naus, maiores e com um<br />

velame mais desenvolvido, desempenhavam um<br />

papel fundamental no âmbito do transporte<br />

operacional e logístico. As restantes<br />

embarcações serviam de apoio ou constituíam-se<br />

como elementos de ligação. As principais<br />

actividades militares dos meios navais<br />

consistiam, em grande medida, no prolongamento<br />

da componente terrestre, compreendendo o<br />

transporte de exércitos, o bloqueio a portos e as<br />

operações de pirataria ou de defesa dos piratas.<br />

O processo de recrutamento para operar os meios<br />

navais – remadores e marujos – era paralelo e<br />

semelhante ao das tropas terrestres (a “gente de<br />

guerra”, besteiros e infantes destinados ao<br />

combate, que provinham dos concelhos), sendo a<br />

sua base os chamados marinheiros do conto,<br />

www.geocities.com/martinsbarata/naval/naviosCeuta.htm<br />

homens que eram tirados dos barqueiros e<br />

pescadores, encontrando-se todos matriculados<br />

na organização designada por vintenas do mar,<br />

assim chamada porque, quando as galés se<br />

armavam, de cada vinte homens, um destinava-se<br />

ao remo. Da responsabilidade do vintaneiro, o<br />

recrutamento naval era um processo, nem sempre<br />

fácil e por vezes violento, pois as condições<br />

adversas a bordo e os enormes riscos inerentes à<br />

navegação não favoreciam o voluntariado.<br />

Também por isso, se recorreu amiúde à<br />

convocação de indivíduos castigados ou fugidos<br />

à justiça, parecendo certo que em Ceuta<br />

participaram muitos homiziados, ao abrigo de<br />

uma amnistia prometida por D. João I.<br />

Caracterizada a componente naval, importa<br />

abordar a dimensão táctica das operações de<br />

cerco, uma constante da guerra medieval, já que o<br />

domínio de um território implicava geralmente a<br />

rendição das praças, numa altura em que as<br />

fortificações expressavam o domínio sobre um<br />

território e que a sua conquista apenas era<br />

possível mediante a construção, ocupação ou<br />

destruição dos seus castelos ou fortificações.<br />

Dada a superioridade que os meios defensivos<br />

tinham sobre os meios ofensivos, os assédios a<br />

praças fortificadas tornavam-se frequentemente<br />

numa operação difícil e prolongada, exigindo uma<br />

programação cuidadosa. As formas que revestiam<br />

essas operações podiam variar de uma forma<br />

considerável, num raio que ia desde o assalto<br />

rápido, subversivo, até ao bloqueio de larga<br />

duração, com toda uma série de possibilidades<br />

intermédias; de tal forma que as tácticas e<br />

técnicas de expugnação e, sobretudo a<br />

combinação delas, permitiam um amplo leque de<br />

possibilidades. As três principais técnicas de


cerco eram o bloqueio, a expugnação “a furto”e à<br />

força. Tendo em conta os riscos e limitações<br />

técnicas dos assaltantes e as vantagens físicas<br />

dos defensores, não é de estranhar que os chefes<br />

militares procurassem fórmulas alternativas ao<br />

assalto e à confrontação directa. Assim, o<br />

objectivo do bloqueio era isolar a fortaleza do<br />

exterior, impedir as saídas e entradas da mesma e<br />

cortar as linhas de abastecimento e apoio externo.<br />

O que se pretendia não era que a guarnição ou os<br />

habitantes da cidade morressem de fome, mas sim<br />

convencê-los de uma tripla realidade: nenhum<br />

socorro, nem militar ou material, lhes podia<br />

Bacinete de D. João I.<br />

chegar do exterior; por isso, a capitulação era<br />

uma questão de tempo; e que os sitiantes tinham<br />

tempo. A expugnação “a furto” (operação que se<br />

assemelha a um golpe de mão), era uma operação<br />

Existente no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota.<br />

em que pequenos grupos de combatentes,<br />

conhecedores do terreno, actuavam em períodos<br />

de visibilidade reduzida, com instrumentos e<br />

técnicas de expugnação rudimentares, como<br />

escadas de madeira. Era uma operação rápida e<br />

como tal exigia pouco financiamento. Na<br />

expugnação à força, realizava-se um ataque<br />

frontal com todos os meios que se tivessem à<br />

disposição, sendo considerado um modo de<br />

expugnação rápido. O custo em vidas humanas<br />

para os assaltantes podia ser muito alto, pelo<br />

menos em relação à duração da operação mas, em<br />

contrapartida, poupava-os do sofrimento de um<br />

cerco prolongado e prevenia, em caso de<br />

sucesso, contra a possibilidade de os defensores<br />

puderem contar com um auxílio exterior. Era,<br />

porém, difícil de executar e eram elevadas as<br />

possibilidades de fracasso. A maioria dos cercos<br />

tinha lugar durante a época de Verão, uma vez<br />

que nessa altura os campos ofereciam maiores<br />

possibilidades de sustento aos atacantes, ao<br />

mesmo tempo que a secagem dos rios e das<br />

fontes complicava a vida àqueles que defendiam.<br />

Ceuta não foi excepção.<br />

De acordo com diversas fontes, das que se realça<br />

a análise efectuada pelo General Loureiro dos<br />

Santos, a expedição militar que partiu para Ceuta<br />

estava organizada em duas frotas, a do Porto e a<br />

de Lisboa. O comandante-chefe era D. João I e o<br />

segundo comandante era o príncipe herdeiro, D.<br />

Duarte. A frota do Porto era capitaneada pelo<br />

Infante D. Henrique e contava com sete galés e<br />

um número desconhecido de naus e galeotas; a<br />

de Lisboa era capitaneada pelo Infante D. Pedro,<br />

tinha oito galés e também diversas naus e<br />

galeotas. Em ambas as frotas seguiam<br />

importantes fidalgos do reino (como o<br />

Condestável, D. Nuno Álvares Pereira), que se<br />

dividiam em funções de comando ou “estadomaior”.<br />

O total dos navios rondaria os 240, dos<br />

quais 15 eram galés, 5 galeotas e 88 naus; tinham<br />

guarnições variáveis, com as galés necessitando<br />

de mais gente (172 remadores por galé e 60 por<br />

galeota). Muitos autores indicam um total de<br />

cerca de 20.000 homens envolvidos na operação,<br />

em que metade se destinaria ao desembarque.<br />

Além do pessoal e dos abastecimentos,<br />

transportava-se o armamento da época,<br />

individual e colectivo, como os aparelhos de<br />

cerco e artilharia (bombardas e trons). Apesar de<br />

se levarem cavalos a bordo, julga-se que não<br />

foram utilizados, sendo que os homens de armas<br />

nobres (a cavalaria) combateram apeados. De<br />

entre os restantes combatentes encontravam-se<br />

vassalos do rei, besteiros, escudeiros e lanças.<br />

65


68<br />

Descrição da Batalha<br />

Tomada a decisão da conquista de Ceuta,<br />

importava preparar a expedição de forma<br />

adequada e com o sigilo possível. Com grande<br />

antecedência, convocaram-se tropas, produziramse<br />

e reuniram-se mantimentos e munições,<br />

aparelharam-se os navios, divulgaram-se<br />

destinos e objectivos falsos para encobrir a<br />

empresa e, a pretexto de uma embaixada à Sicília,<br />

foi feito um reconhecimento à praça de Ceuta com<br />

o propósito de analisar as condições de<br />

desembarque e suas vulnerabilidades defensivas.<br />

Apesar da morte da Rainha uns dias antes, a 25<br />

de Julho, dia de Santiago e da Batalha de<br />

Ourique, larga do Tejo uma armada com cerca de<br />

240 navios (consoante as fontes, os números<br />

variam entre 190 e 270), dividida em duas<br />

capitanias – a das galés (ou navios armados), sob<br />

comando do rei, e a das naus (ou embarcações de<br />

transporte), comandadas pelo Infante D. Pedro.<br />

Realiza uma primeira escala em Lagos, onde faz<br />

aguada e os homens são finalmente informados<br />

do destino e da finalidade da expedição; após<br />

mais duas escalas, em Algeciras e Tarifa, a armada<br />

avança incompleta sobre a baía de Ceuta, a 12 de<br />

Agosto, pois devido a um intenso nevoeiro e às<br />

fortes correntes alguns navios foram arrastados<br />

na direcção de Málaga.<br />

Os mouros, ao avistarem o que restava da armada<br />

portuguesa, começaram a disparar trons e tiros de<br />

bestas, sem no entanto a atingirem, e pediram<br />

reforços às cidades vizinhas; alguns portugueses<br />

desembarcaram na praia, iniciando-se pequenas<br />

escaramuças com os defensores. D. João I,<br />

impaciente com a demora das restantes naus,<br />

decide mandar reunir toda a frota no outro lado<br />

da cidade, frente à zona de Barbaçote, local<br />

inicialmente escolhido para lançar o ataque.<br />

Entretanto, a 15 de Agosto, levanta-se uma<br />

grande tempestade que durou três dias,<br />

dispersando novamente a frota, que só se<br />

voltaria a juntar no dia 19 de Agosto, junto de<br />

Algeciras, desperdiçando o efeito de surpresa e<br />

baixando significativamente o moral das tropas. O<br />

governador de Ceuta, Salah ben Salah, julgando<br />

que a armada lusa debandaria com a tormenta,<br />

ordenou aos reforços dos povos vizinhos, que<br />

entretanto tinham acudido em seu favor, para<br />

regressar às suas origens, diminuindo<br />

significativamente a sua capacidade defensiva.<br />

Reunido o conselho em Algeciras, as opiniões<br />

dividiram-se entre regressar a Portugal, avançar<br />

sobre Gibraltar ou manter o objectivo de Ceuta.<br />

Decidindo por esta última opção, o rei dá o seu<br />

Esquema da Batalha.<br />

Adaptado de Santos, 2002<br />

conceito de operação: o Infante D. Henrique, com<br />

a frota proveniente do Porto, lançaria âncora em<br />

frente a Almina, uma enseada a Oeste de Ceuta;<br />

então, D. João I simularia um ataque em frente à<br />

cidade para iludir os mouros quanto à localização<br />

do ataque principal e, em resposta a um sinal<br />

combinado, D. Henrique desembarcava e<br />

conquistaria uma cabeça de praia;<br />

posteriormente, o resto das tropas juntar-se-lheia<br />

continuando o ataque em direcção à alcáçova<br />

(castelo) do governador. Refira-se, de acordo com<br />

Zurara, que este conceito não contava com o<br />

apoio da maioria dos conselheiros, que pretendia<br />

atacar por Leste, cortando eventuais reforços<br />

vindos do continente.<br />

E, assim, ao raiar de 21 de Agosto, iniciava-se o<br />

ataque a Ceuta. O desembarque não foi realizado<br />

de forma ordenada, conforme pretendia D. João I,<br />

pois alguns homens precipitaram o desembarque<br />

na praia ao avistarem os mouros “fazendo suas<br />

maneiras, pelas quais punham grande alvoroço<br />

na gente que estava em nos navios”, conforme<br />

descreve Zurara. Imediatamente se lhe seguiram<br />

outros em seu apoio, nomeadamente o Infante D.<br />

Henrique acompanhado de mais alguns homens,<br />

que avançam sem o sinal do rei, para reforçar o<br />

contingente e manter o ímpeto. E assim, em<br />

pouco tempo, havia já no areal cerca de 150<br />

portugueses, que repeliram os mouros para<br />

dentro da porta de Almina.<br />

Com cerca de 300 homens já desembarcados,<br />

incluindo o infante D. Duarte, a progressão faz-se<br />

rapidamente chegando junto às portas da cidade<br />

onde, de acordo com o plano inicialmente gizado,<br />

se deveria consolidar a cabeça de praia e<br />

aguardar por D. João I. No entanto, devido a uma


Combate à porta de Ceuta.<br />

fraca resistência e percepcionando uma<br />

vulnerabilidade que urgia ser explorada, o Infante<br />

D. Henrique, aconselhado por D. Duarte, decide<br />

continuar o ataque; com o ritmo de desembarque<br />

a aumentar, os portugueses entram nas muralhas<br />

e combatem rua a rua, ganhando progressivamente<br />

terreno até chegarem a uma elevação, onde<br />

consolidam as posições conquistadas e se<br />

reorganizam. Sob intensa pressão, os mouros<br />

retiram e Salah-ben-Salah, percebendo como<br />

rapidamente se passou de escaramuças na praia<br />

para um verdadeiro morticínio nas ruas da cidade,<br />

mandou recolher ao castelo.<br />

Confirmada a presença dos portugueses no<br />

interior das muralhas, D. João I desembarca com<br />

o grosso da expedição, iniciando-se a derradeira<br />

fase da batalha, o assalto ao castelo, na qual o rei<br />

participou directamente. Assiste-se a intensos<br />

combates nas ruas e, no final do dia, os<br />

portugueses ocupam toda a cidade até ao muro<br />

que a separava do reduto do castelo. Salah ben<br />

Salah reconhecendo que não tinha hipóteses de<br />

sucesso, resolve abandonar a cidade.<br />

Constatada a debandada da liderança moura, D.<br />

Lith. da Comp. Nac. Editora<br />

João I ordenou o derrube das portas do castelo e<br />

o assalto imediato. No entanto, no interior das<br />

muralhas, um biscainho e um genovês confirmam<br />

que a fortaleza está deserta e que eles próprios<br />

abririam as portas, não sendo necessário<br />

“quebrá-las”. D. João ordenou, então, a João Vaz<br />

de Almada que tomasse posse simbólica da<br />

cidade, içando a bandeira de São Vicente na torre<br />

do castelo. Travaram-se as últimas escaramuças e<br />

iniciaram-se as normais actividades de saque. De<br />

acordo com Zurara, os mortos da parte<br />

muçulmana foram em número muito elevado, não<br />

apenas durante os combates mas também<br />

aquando do saque e da chacina; da parte<br />

portuguesa, teriam sido apenas oito.<br />

Enfim, os muçulmanos eram expulsos da sua terra<br />

e de imediato eram enviados diversos emissários<br />

dando conta do enorme sucesso da coroa<br />

portuguesa. Quatro dias depois do final da operação,<br />

dia 25, realizou-se a bênção da mesquita<br />

maior; sagrada como igreja, estava pronta para o<br />

acto mais esperado: a cerimónia em que os<br />

infantes D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique foram<br />

armados cavaleiros por seu pai, o rei D. João I.<br />

69


70<br />

Análise da Batalha<br />

Qualquer análise deve ser enformada por dados<br />

relevantes e suficientes, abrangendo as<br />

diversas partes envolvidas. A falta de relatos<br />

da parte muçulmana – por exemplo,<br />

relacionados com a não utilização da sua<br />

Infante D. Henrique na conquista de Ceuta.<br />

marinha – sendo uma lacuna impossível de<br />

colmatar não deve retirar, no entanto, o mérito e<br />

brilhantismo português no planeamento e<br />

execução desta acção militar.<br />

Desde logo, na fase de planeamento, é de<br />

realçar a forma como se organizou toda a<br />

expedição. A preparação exímia e atempada das<br />

duas frotas, uma em Lisboa outra no Porto,<br />

demonstra uma enorme capacidade de<br />

organização, em que se conseguiram reunir a<br />

galvanizar muitos recursos críticos, numa<br />

época marcada por enormes dificuldades e<br />

constrangimentos financeiros e tecnológicos.<br />

O secretismo que foi posto na preparação e,<br />

fundamentalmente, o modo como se conseguiu<br />

mantê-lo, revela bem o engenho da liderança de<br />

então, aliando elementos de contra-informação<br />

à protecção dos Elementos Essenciais de<br />

Informação das Forças Amigas (EEFI, Essential<br />

Elements of Friendly Information). O<br />

reconhecimento feito ao terreno, com o<br />

propósito de analisar as condições de<br />

desembarque e as vulnerabilidades defensivas<br />

do inimigo, permite concluir que os estrategas<br />

de então possuíam já uma noção avançada e<br />

clara da necessidade da preparação do campo<br />

de batalha através das Informações (IPB,<br />

Intelligence Preparation of Battlefield).<br />

Na fase de conduta, fica patente a excelente<br />

capacidade de comando e liderança dos<br />

responsáveis lusos. Apesar de as condições<br />

meteorológicas terem dividido a frota e anulado<br />

o efeito surpresa, a arte e o génio militar de D.<br />

João I ficam indubitavelmente demonstrados na<br />

forma como foi guisado o plano alternativo.<br />

Maximizando o<br />

princípio da<br />

decepção ao simular<br />

o ataque numa zona<br />

diferente, conseguiu<br />

manipular a<br />

percepção do<br />

inimigo, garantir a<br />

segurança do grosso<br />

da força e influenciar<br />

significativamente a<br />

modalidade de acção<br />

do adversário, pois<br />

este, ao deslocar<br />

forças de um lado<br />

para outro, criou um<br />

ponto fraco no seu<br />

Azulejos na Estação de S. Bento, Porto.<br />

dispositivo.<br />

Associado a este<br />

princípio, também o<br />

facto de escolher um único ponto de<br />

desembarque, em Almina, demonstra bem a<br />

utilização hábil do preceito ofensivo da<br />

concentração de forças, ao conseguir penetrar<br />

nas defesas onde estas eram mais fracas e<br />

onde o terreno oferecia melhores condições.<br />

Não menos importantes, a rapidez, o ímpeto e a<br />

acção agressiva, contribuíram decisivamente<br />

para a segurança da força atacante, mantiveram<br />

o inimigo em desequilíbrio e degradaram a sua<br />

capacidade de reacção, impossibilitando-lhe o<br />

acompanhando do ritmo das operações. Um<br />

momento chave da vitória portuguesa foi<br />

também a oportuna decisão do Infante D.<br />

Henrique junto às portas de Ceuta que,<br />

interpretando correctamente a fraca resistência<br />

e percepcionando uma vulnerabilidade que<br />

deveria ser explorada agressivamente,<br />

demonstrou uma audácia destinada apenas a<br />

grandes líderes, corroborada posteriormente na<br />

epopeia dos descobrimentos.<br />

Enfim, foi talvez a primeira operação nacional<br />

verdadeiramente conjunta, realizando e<br />

maximizando o planeamento e a utilização<br />

simultânea dos meios terrestres e navais com<br />

elevada eficácia e mestria, permitindo assim<br />

alcançar os objectivos definidos.


Padrão dos Descobrimentos, Lisboa.<br />

Consequências da Batalha<br />

Com a ponta da lança cravada em África, Ceuta<br />

simboliza a chave das novas portas que se<br />

abriram a um mundo novo, iniciando-se o tão<br />

actual e propalado processo de globalização,<br />

liderado pelo génio empreendedor português e<br />

daí resultando a possibilidade de impor valores<br />

ocidentais a outras civilizações.<br />

Efectivamente, Ceuta é um marco fundamental da<br />

identidade portuguesa. O seu domínio trouxe-lhe<br />

enorme prestígio e importância em diversas<br />

vertentes. No quadro da cristandade europeia de<br />

então, reforçou claramente o seu poder inter<br />

pares em relação a outras potências (com<br />

expressão nas muitas bulas de privilégios<br />

dirigidos pelo Papa Martinho V), mormente a rival<br />

Castela, em que a vitória de Ceuta ampliava e<br />

redimensionava Aljubarrota; perante ingleses,<br />

aragoneses e italianos, Portugal passou a ser<br />

considerado um actor fundamental e<br />

incontornável pelo seu enorme peso geopolítico<br />

no controlo do Mediterrâneo, até então couto<br />

quase privado de catalães, genoveses e<br />

venezianos; serviu ainda para legitimar a nova<br />

dinastia de Aviz e o reino de Portugal, afirmandoo<br />

definitivamente no concerto da Nações.<br />

De carácter mais estratégico e securitário, Ceuta<br />

passou a constituir uma base a partir da qual se<br />

poderia atacar e combater o inimigo da fé cristã,<br />

em África ou no reino de Granada (que ainda<br />

resistia à reconquista) e, concomitantemente,<br />

negar aos muçulmanos o seu tradicional eixo de<br />

invasão e de reforço na Península, além de mitigar<br />

Autores<br />

as actividades corsárias muçulmanas na região.<br />

Do ponto de vista económico, Ceuta não foi<br />

aquilo que se esperava e, uma vez conquistada a<br />

cidade, os mercadores árabes jogaram no boicote<br />

e desviaram o tráfego para outras paragens.<br />

Assim, as despesas inerentes à defesa e<br />

conservação da praça tornaram-se demasiado<br />

pesadas e sem contrapartida. Apesar de tudo,<br />

Ceuta foi mantida e a ideia de uma expansão<br />

militar no Norte de África foi uma das constantes<br />

da política portuguesa até finais do século XVI.<br />

Por fim, interessa realçar a importância de Ceuta<br />

no âmbito do conhecimento, constituindo uma<br />

verdadeira escola prática. Desta nova actividade<br />

e do frequente contacto com os intrépidos<br />

marinheiros mouros, com os seus conhecimentos<br />

náuticos, com a sua arte de navegar, com os seus<br />

vários tipos de navios, resultaram os primeiros<br />

progressos reais para a rude marinha do Infante.<br />

Às conhecidas e rotineiras naus, galés, galeotas,<br />

fustas, barcas e bergantins, que os portugueses<br />

usavam no mar, vinham juntar-se novos tipos,<br />

barinéis, alaúdes, zavras, caravelas, albetoças<br />

mais veleiros, mais maneiros, de exíguo porte e<br />

guarnição reduzida, como convinha às arriscadas<br />

empresas a que se destinavam. Por sua vez, se a<br />

defesa de Ceuta permitia aos homens de armas<br />

exercitarem as práticas de combate, a expedição<br />

constituiu uma escola de larga e excepcional<br />

aprendizagem náutica, possibilitando o<br />

conhecimento de base para a empresa das<br />

descobertas e para a epopeia dos capitães e<br />

fronteiros de África, que se prolongaria por mais<br />

de três séculos.<br />

71


72<br />

Curiosidades<br />

Como em qualquer feito histórico significativo na<br />

história de um povo, à época da batalha de Ceuta,<br />

não faltam curiosidades relacionadas com as<br />

pessoas ou com os acontecimentos.<br />

Associados à figura de D. João I, são de realçar<br />

diversos episódios e factos interessantes. Um<br />

deles, ligado à mistificação da sua figura, é o<br />

episódio em que no dia em que arma cavaleiro D.<br />

João I, seu pai, D. Pedro, refere que “cá a mim<br />

disseram que eu tenho um filho João, que há-de<br />

montar muito alto, e por que o reino de Portugal<br />

há-de haver mui grande honra”. Tendo dúvidas<br />

de qual dos seus dois filhos João seria o da<br />

profecia, esclarece-as quando refere que teve um<br />

sonho em que “via todo Portugal arder em fogo,<br />

de guisa que todo o reino parecia uma fogueira, e<br />

estando assim espantado vendo tal coisa, vinha<br />

este meu filho João, com uma vara na mão, e com<br />

ela apagava aquele fogo todo”. D. João I foi o<br />

autor de um Livro da Montaria, obra literária<br />

notável do nosso século XV, composto depois de<br />

1415. Aí, além do conhecimento perfeito da<br />

técnica de montar e caçar a cavalo, o livro permite<br />

inferir do carácter e da cultura que o rei possuía,<br />

manifestados no conhecimento profundo de<br />

diversas obras e autores importantes à época e o<br />

seu gosto por variadas formas de divertimento e<br />

de exercício físico, desde a montaria e a luta<br />

corpo a corpo até à dança, jogos, música e xadrez.<br />

Acrescente-se, ainda, que D. João I – o eleito do<br />

povo e o mais nacional de todos os nossos reis,<br />

como refere Almeida Garrett – foi um forte<br />

impulsionador da língua portuguesa, mandando<br />

usar dela em todos os actos e instrumentos<br />

públicos, que até então se faziam em latim.<br />

Zurara conta muitas peripécias e factos<br />

interessantes que ocorreram no âmbito da<br />

campanha a Ceuta. De entre eles realçamos apenas<br />

Bandeira e Escudo de Ceuta.<br />

Autores:<br />

Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, Professor de História Militar do IESM.<br />

Major Luís Falcão Escorrega, Professor de Estratégia do IESM.<br />

Major António Cordeiro Menezes, Professor de Táctica do IESM.<br />

http://gospain.about.com<br />

alguns como aquele em que durante a batalha o<br />

Infante D. Henrique foi dado como morto; quando<br />

D. João foi informado do facto respondeu que não<br />

se importava muito, “pois que morrera em seu<br />

ofício”! Um outro episódio é aquele em que a<br />

expedição esteve para ser abortada devido à peste,<br />

a um sinistro acinzentar do Sol e à morte da<br />

Rainha, em 19 de Julho. Reunido o conselho, o<br />

resultado foi um empate (o Condestável, D. Nuno<br />

Álvares Pereira estava contra), tendo o rei D. João<br />

I acabado por decidir favoravelmente, com a<br />

armada a partir a 25 de Julho.<br />

Um aspecto significativo prende-se com a<br />

influência portuguesa em Ceuta, que ainda hoje<br />

se faz sentir na sua bandeira. Apesar de ter<br />

passado para administração espanhola em 1668,<br />

com o Tratado de Lisboa, que pôs fim à guerra<br />

da Restauração, a cidade decidiu manter a<br />

bandeira de São Vicente, à semelhança da de<br />

Lisboa, ostentando ao centro o escudo<br />

português, apenas com pequenas diferenças.<br />

A enorme importância do feito em Ceuta<br />

mereceu destaque e menção nos Lusíadas. O<br />

seu autor, como é sabido, ficaria profundamente<br />

marcado por essa praça pois aí, por volta de<br />

1550, se bateu como soldado e, em combate,<br />

perdeu o olho direito.<br />

Bibliografia de Referência<br />

– COELHO, Maria Helena da Cruz, D. João I, o que recolheu Boa Memória, Lisboa, Círculo de Leitores, 2005.<br />

– DUARTE, Luis Miguel, África, in Nova História Militar de Portugal (dir. Manuel Themudo Barata e Nuno<br />

Severiano Teixeira), Lisboa, Círculo de Leitores, Vol. III, 2004.<br />

– MARQUES, A.H Oliveira, JOÃO I, D. (1357-1433), in Dicionário de História de Portugal (dirigido por Joel<br />

Serrão), Lisboa, Iniciativas Editoriais, Vol. III, 1963-1971.<br />

– SANTOS, José Loureiro, Ceuta, 1415: a Conquista, Lisboa, Prefácio, 2002.<br />

– SELVAGEM, Carlos, Portugal Militar, Lisboa, INCM, 2006.<br />

– ZURARA, Gomes Eanes, Crónica da Tomada de Ceuta, Mem Martins, Publicações Europa-América, 1992

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