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universidade federal fluminense escola de serviço social programa ...

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efeito danoso da medicina sobre a socieda<strong>de</strong>, provocado pela <strong>de</strong>sarnonia entre o indivíduo e<br />

seu grupo, prescrevendo para o indivíduo uma conduta pusilânime inteiramente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte<br />

da autorida<strong>de</strong> médica; por fim, uma iatrogênese cultural que <strong>de</strong>terminaria o <strong>de</strong>sprezo <strong>de</strong> todo<br />

o potencial cultural enquanto instrumento eficaz para administrar autonomamente situações<br />

<strong>de</strong> dor, doença e morte.<br />

A partir <strong>de</strong>sse complexo quadro, infere-se um círculo vicioso: as facilida<strong>de</strong>s da vida<br />

mo<strong>de</strong>rna, a rápida “resolução” <strong>de</strong> todos os problemas <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pela utilização maciça <strong>de</strong><br />

procedimentos médicos e <strong>de</strong> medicamentos cada vez mais sofisticados, incensados por um<br />

po<strong>de</strong>roso marketing, não raramente induzem à doença como resultado do remédio: seja pela<br />

automedicação; pelo uso indiscriminado <strong>de</strong> antibióticos; pela propensão <strong>de</strong> médicos a receitar,<br />

às vezes <strong>de</strong>terminada pela própria cobrança da socieda<strong>de</strong>, que, não raro, ainda avalia o<br />

<strong>de</strong>sempenho <strong>de</strong> um médico pelo tamanho da lista <strong>de</strong> medicamentos prescritos, sequer se<br />

cogitando a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sair <strong>de</strong> uma consulta sem uma receita.<br />

De uma ótica essencialmente pragmática, antes <strong>de</strong> percutir o tema central <strong>de</strong>ste tópico ─<br />

a Política Nacional <strong>de</strong> Medicamentos ─ é imperativo ter em conta que há um modismo, uma<br />

cultura <strong>de</strong> medicalização que impõe <strong>de</strong>snecessários dispêndios <strong>de</strong> recursos na aquisição <strong>de</strong><br />

drogas que, com frequência, se constituem em exemplos paradigmáticos do que Illich<br />

<strong>de</strong>nomina contraprodutivida<strong>de</strong> 39 .<br />

Ainda <strong>de</strong>ssa perspectiva do mundo globalizado, da informação instantânea e do po<strong>de</strong>r<br />

transnacional da po<strong>de</strong>rosa indústria farmacêutica, não se po<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> ter em conta a<br />

capacida<strong>de</strong> que têm <strong>de</strong> incutir no imaginário das pessoas, pela via <strong>de</strong> envolventes recursos<br />

publicitários, a “necessida<strong>de</strong>” da medicalização.<br />

3.2 O direito fundamental <strong>social</strong> à assistência farmacêutica. A Política Nacional <strong>de</strong><br />

Medicamentos<br />

Como já se afirmou, a partir da Constituição <strong>de</strong> 1988, o direito <strong>social</strong> à saú<strong>de</strong> adquiriu um<br />

status privilegiado na or<strong>de</strong>m jurídica brasileira, <strong>de</strong>vendo ser ressaltado que esse direito já foi<br />

<strong>de</strong>finido em consonância com o mo<strong>de</strong>rno conceito <strong>de</strong> saú<strong>de</strong>, nos termos em que comenta<br />

BUSS (2000):<br />

A nova concepção <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> importa uma visão afirmativa, que<br />

a i<strong>de</strong>ntifica com bem-estar e qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida, e não<br />

simplesmente com ausência <strong>de</strong> doença. A saú<strong>de</strong> <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser um<br />

39<br />

Ivan Illich em sua obra “A Expropriação da Saú<strong>de</strong>: Nêmesis da Medicina” estabeleceu o conceito <strong>de</strong><br />

contraprodutivida<strong>de</strong> para <strong>de</strong>signar um instrumento que produz resultados opostos à finalida<strong>de</strong> para qual foi<br />

criado. Um exemplo <strong>de</strong> contraprodutivida<strong>de</strong> can<strong>de</strong>nte da realida<strong>de</strong> brasileira: os atrasos nos vôos que tornam as<br />

viagens <strong>de</strong> carro mais rápidas que as <strong>de</strong> avião; ou o hospital que produz a doença; ou, ainda, a diversão que mata,<br />

o remédio que só produz os efeitos colaterais, etc<br />

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