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Esse projeto se insere numa dinâmica mais complexa e mais ampla, um projeto maior da
sociedade do conhecimento, das tecnologias de informação, da instantaneidade — enfim, da
globalização, para além da dimensão econômica, envolvendo a modernidade e a pósmodernidade
com os seus “processos líquidos” de que fala Bauman 38 . De outra perspectiva,
porém concorrente para a mesma análise, com a verve poética inspirada de sempre e,
sobretudo, com sábia simplicidade, o poeta Mario Quintana, bem definiu esses tempos
modernos:
FELICIDADE REALISTA
A princípio, bastaria ter saúde, dinheiro e amor, o que já é um
pacote louvável, mas nossos desejos são ainda mais complexos.
Não basta que a gente esteja sem febre: queremos, além de
saúde, ser magérrimos, sarados, irresistíveis.
Dinheiro? Não basta termos para pagar o aluguel, a comida e o
cinema: queremos a piscina olímpica e uma temporada num spa
cinco estrelas.
E quanto ao amor? Ah, o amor. Não basta termos alguém com
quem podemos conversar, dividir uma pizza e fazer sexo de vez
em quando. Isso é pensar pequeno: queremos AMOR, todinho
maiúsculo.
Queremos estar visceralmente apaixonados, queremos ser
surpreendidos por declarações e presentes inesperados,
queremos jantar à luz de velas de segunda a domingo,
Queremos sexo selvagem e diário, queremos ser felizes assim e
não de outro jeito.
Ainda em fase de pré compreensão do fenômeno da medicalização, merece destaque uma
extensão do conceito de iatrogenia que, sinteticamente, corresponde à designação atribuída à
doença ou alteração patológica decorrente de medicamento ou tratamento médico. Os estudos
de Ivan Illich acerca da medicalização, apesar de algum extremismo, constituem importante
contribuição principalmente pela ampliação do conceito de iatrogênese para abranger também
os processos dispersos e sub liminares que se associam à medicalização da sociedade.
Dessa perspectiva, esse autor identifica três tipos de iatrogênese: clínica, mais difundida,
decorrente da utilização da tecnologia médica, diagnóstica e terapêutica; social derivada do
38
Zygmunt Bauman, sociólogo polonês, estudou as conexões sociais contemporâneas, a partir do que se
convencionou denominar modernidade e pós-modernidade. Dedicando atenção às relações afetivas, refletiu
sobre as frustrações presentes nos sentimentos humanos, instigadas pelo açodamento em encontrar o parceiro
idealizado — quase sempre divorciado da realidade. Assim, buscam-se relacionamentos abertos, deixando
sempre uma rota de fuga para novos encontros, elaborando uma afetividade vazia e a busca incessante de seu
preenchimento, porém sem qualquer comprometimento. É o que Bauman denomina amor líquido. O aspecto
líquido, fluido, frouxo, das relações, das sensações, das situações e, enfim, das circunstâncias que permeiam a
modernidade e a pós modernidade é mapeado por Bauman que proclama que as certezas da modernidade sólida
se esvaíram e, com isso, a utopia do controle sobre os mundos social, econômico e natural desmoronou.
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