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universidade federal fluminense escola de serviço social programa ...

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3. A POLÍTICA NACIONAL DE MEDICAMENTOS. A VIA JUDICIAL.<br />

3.1 A medicalização da socieda<strong>de</strong>: a expansão da medicina e a contraprodutivida<strong>de</strong>.<br />

Como questão <strong>de</strong> incidência vertical sobre a complexa logística <strong>de</strong> suprimento <strong>de</strong><br />

medicamentos pelo Estado, impõe-se, ainda que <strong>de</strong> forma propedêutica, abordar a questão da<br />

medicalização da socieda<strong>de</strong>.<br />

Conquanto tenha apresentado maior visibilida<strong>de</strong> na atualida<strong>de</strong>, trata-se <strong>de</strong> fenômeno<br />

que já se configurava no século XIX. Barboza (2010, p. 113) traça os contornos <strong>de</strong>ssa<br />

evolução:<br />

Na verda<strong>de</strong>, se constata que no século XIX teve início a<br />

instauração daquilo que hoje se <strong>de</strong>nomina “fenômeno da<br />

medicalização” da vida ou da socieda<strong>de</strong>, o qual se intensificou<br />

no século XX, época em que se chega ao healthism, movimento<br />

que promove a saú<strong>de</strong> como principal preocupação <strong>social</strong>, e<br />

torna a ausência <strong>de</strong> doenças e a manutenção do vigor físico um<br />

<strong>de</strong>ver <strong>de</strong> todos.<br />

Um dos reflexos mais visíveis da evolução da Medicina é o seu empo<strong>de</strong>ramento,<br />

expandindo-se pelos mais diversos segmentos da socieda<strong>de</strong>, configurando um processo <strong>de</strong><br />

dominação que transforma quase todas as questões em problemas <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m biológica. Uma<br />

po<strong>de</strong>rosa indústria farmacêutica, <strong>de</strong>sfilando com o mo<strong>de</strong>lo da economia globalizada,<br />

dissolveu as fronteiras dos Estados nacionais e impôs os padrões da i<strong>de</strong>ologia do mercado.<br />

Nesse contexto, tudo é medicalizado — afinal, tudo é biológico: as emoções, o processo<br />

ensino-aprendizagem, os comportamentos e, enfim, qualquer questão <strong>social</strong>, em princípio,<br />

po<strong>de</strong> ser medicalizada.<br />

A expressão “medicalização da socieda<strong>de</strong>” tem sido utilizada para representar uma<br />

tendência, típica do mundo oci<strong>de</strong>ntal, segundo a qual existiria um <strong>serviço</strong> médico ou um<br />

medicamento para cada um dos males, físicos ou psíquicos, que aflija, ou venha a afligir, o ser<br />

humano. Dessa perspectiva, a dor, por menor que seja, não po<strong>de</strong> ser tolerada. Assim, a insônia<br />

se resolve com o “rivotril”; a obesida<strong>de</strong> com a “sibutramina”; o <strong>de</strong>sempenho sexual do jovem<br />

— ainda que absolutamente normal — <strong>de</strong>ve ser potencializado com o “Viagra”; a ruga,<br />

removida com o “botox”; a ausência <strong>de</strong> um glúteo <strong>de</strong>finido, com um implante <strong>de</strong> silicone...<br />

Nesse sentido, mesmo as ativida<strong>de</strong>s humanas mais prosaicas passam a ser alvo <strong>de</strong>sse<br />

processo. Barboza (2010, p. 113) observa o fenômeno:<br />

Ações consi<strong>de</strong>radas “naturais” como comer, dormir, reproduzir,<br />

envelhecer, praticar sexo, e muitas outras situações cotidianas<br />

encontram-se, em maior ou menor grau, medicalizadas, isto é,<br />

explicadas, controladas e justificadas pela medicina.<br />

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